1. Augusto de Franco
E=R 07/11/2011
A Escola-de-Redes surgiu em junho de 2008. A plataforma
Ning que utilizamos como ferramenta de netweaving da
E=R foi instalada nos meses de novembro e dezembro de
2008. Esta plataforma conta hoje (às 07h00 de 07/11/11)
com 7.100 pessoas conectadas.
Quando a E=R começou escrevi um texto intitulado Articule
você também uma Escola de Redes. A idéia básica desse
texto era exatamente aquela indicada pelo seu título.
Reproduzo abaixo dois trechos do velho artigo:
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2. “Não, não se trata de uma nova organização se
expandindo. Trata-se de uma idéia-força se
disseminando. Cada nodo da Escola-de-Redes é a
própria escola. A rigor, cada nodo é uma escola
diferente. O slogan „A escola é a rede‟ significa que as
escolas são redes. E, simultaneamente, que cada rede
(distribuída) que organizamos será uma escola
diferente [...]
Na verdade, uma escola (ou um nodo de uma escola)
de redes é apenas uma comunidade de aprendizagem
(na visão: "a escola é a rede"). Para articulá-la basta
um grupo de pessoas interessadas em compartilhar
conhecimentos, tecnologias e opiniões por meio da
conversação e da troca de livros, textos, vídeos ou
outros materiais sobre redes. E dispostas a formular
uma agenda de eventos, que podem ser conferências,
seminários, encontros, palestras, cursos ou,
simplesmente, reuniões para bater-papo sobre o
assunto. É claro que desse estudo, dessa interação e
reflexão coletivas, poderão surgir muitas iniciativas
inovadoras, organizadas já segundo um padrão de
rede distribuída. Mas não é necessário ter alguém
"encarregado" da burocracia, nem mesmo da
secretaria, simplesmente porque não há (ou não
deveria haver, em redes distribuídas) qualquer
burocracia ou secretaria. Portanto, mesmo que você
seja ou esteja agora muito ocupado, é possível, sim,
articular uma escola de redes.
Você pode estar se perguntando: mas para quê, afinal,
devo fazer esse esforço? Ora, antes de qualquer coisa,
se você considerar que isso um “esforço” – no sentido
de sofrimento por ter que carregar mais um fardo, e
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3. não um prazer – é melhor deixar pra lá. Os propósitos,
porém, são muito claros, óbvios mesmo:
a) para entender melhor o mundo que se avizinha. E
para se antecipar às mudanças que virão, em todos os
setores;
b) para adotar um novo padrão organizativo naquelas
iniciativas sociais, culturais, empresariais ou políticas
com as quais você está envolvido;
c) mas, fundamentalmente, porque a transição do
padrão hierárquico para o padrão de rede é um
imperativo – na verdade, creio que poderíamos dizer:
é o imperativo – da sustentabilidade em qualquer
campo. Assim, por exemplo, se você está interessado
em colocar sua organização (social, política ou
empresarial) no caminho da sustentabilidade, não há
como escapar disso: se tudo que é sustentável tem o
padrão de rede, você tem que entender do assunto.”
Com o tempo, porém, fomos abandonando a proposta dos
nodos locais (comunidades da E=R formadas em
localidades). Mas não abandonamos a idéia central de que
a E=R (esta Escola-de-Redes iniciada em 2008 por mim e
alguns outros) é uma possível composição fractal de muitas
não-escolas de redes. E podemos até ter esquecido, mas
também nunca abandonamos a idéia de que várias
combinações podem ser possíveis.
Passados já cerca de 35 meses (pelo menos de atividade na
plataforma http://escoladeredes.ning.com), imagino que é
possível dar mais alguns passos na rede social que foi
configurada com o nome de Escola-de-Redes (e que é, na
verdade, uma não-escola).
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4. NOVAS COMBINAÇÕES
Penso que está na hora de ensaiarmos novas combinações.
A plataforma Ning continuará, com seus nodos-pessoas
interagindo de modo distribuído. Continuará sendo
construída nossa biblioteca (hoje com mais de 800 textos),
assim como continuarão funcionando os fóruns, os blogs,
vídeos, fotos e todas as funcionalidades da plataforma.
Continuarão, sobretudo, os grupos e a timeline (que,
juntos, constituem o coração da plataforma).
Continuará valendo o nosso propósito de ser “uma rede de
pessoas dedicadas à investigação sobre redes sociais e à
criação [ou co-criação] e transferência de tecnologias de
netweaving”.
Continuarão vigendo todas as nossas “regras” ou acordos
de convivência; enfim, com as necessárias atualizações,
tudo que está lá registrado na página Sobre a constituição
da Escola-de-Redes.
E continuarão sendo realizadas as nossas atividades
virtuais e presenciais (os encontros inclusive, sobretudo os
simpósios e as conferências que pessoas da Escola-de-
Redes propõem e realizam anualmente).
Mas nada disso impede que iniciemos outras atividades.
Acho que está na hora da Escola-de-Redes ter os seus
lugares físicos, como foi pensado inicialmente. Imagino
esses lugares não como sedes, filiais ou qualquer coisa que
caracterize padrões descentralizados de organização. Nada
disso; pelo contrário, estou pensando em “estruturas-
apache”.
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5. Nosso desafio, é bom relembrar, nunca foi o de aumentar o
número de registrados na plataforma (que, de resto, cresce
por si mesmo, a partir de convites feitos pelos que já estão
registrados, na razão de mais de 2 mil pessoas/ano) e sim
aumentar o número de agendas compartilhadas (ou seja,
de grupos ou comunidades conformadas por pessoas
fazendo coisas juntas, seja virtual ou presencialmente,
investigando, produzindo conhecimento novo, inovando,
co-criando, empreendendo e aprendendo com tudo isso).
Agora, porém, trata-se de acrescentar um novo desafio: a
glocalização da E=R. É o que estou propondo neste texto.
A GLOCALIZAÇÃO DA E=R
Não estou propondo que abandonemos a plataforma e as
atividades virtuais, mas que levemos a sério o que
aprendemos nestes quase três anos de experiência na E=R,
ou seja, que o site da rede não é a rede. Estou propondo
mais atividades presenciais, em rede. Estou propondo
escolas-não-escolas físicas, localizadas e altamente
conectadas, para dentro e para fora (e, portanto,
globalizadas), em rede. Cada local será o (um) mundo
(todo): este é o sentido de „glocal‟.
Estou propondo que a Escola-de-Redes se fragmente ou se
esporalize, para brotar em muitos lugares físicos, como
uma rede miceliana, uma floresta de clones fúngicos
subterrânea, toda interligada por hifas, é claro. Estou
propondo, simplesmente, imitar a vida, que, como
percebeu Lynn Margulis (1998), é “uma holarquia, uma
rede fractal aninhada de seres interdependentes” (1).
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6. Nessa proposta, o local, o lugar físico, passa a ser
extremamente importante.
Lugares freqüentados pelos mesmos emaranhados (as
pessoas que – carregando sempre consigo suas conexões –
comparecem recorrentemente nesses lugares) geram
redemoinhos no espaço-tempo dos fluxos, sulcam veredas
no território urbano e instalam programas organizadores de
cosmos sociais. Ou seja, criam mundos!
Sim, acho que está na hora da Escola-de-Redes ter seus
lugares. É para estabelecer uma congruência com os Highly
Connected Worlds que estão emergindo neste dealbar do
terceiro milênio.
Pode ser uma sala, saleta, salão, casa, galpão, escritório,
auditório, até uma mesa de padaria... Pode ser como
aquele bar onde, segundo a lenda, Miguel de Unamuno
escrevia suas obras e pagava uma bebida a todos os
presentes quando conseguia botar um ponto final em seus
generosos parágrafos. Desde que seja, durante um período
ao menos, um lugar, o mesmo lugar.
Pode ser um lugar onde se realizam atividades lucrativas
para seus empreendedores. Não, não há nada de errado
em fazer negócio, ganhar dinheiro. Errado é não ter como
sobreviver. Ou viver à custa do trabalho alheio.
Só não pode ser – e esta é a única condição, não inventada
agora por mim, mas para manter coerência com as
disposições constitutivas da Escola-de-Redes – uma escola
como burocracia do ensinamento baseada em uma
hierarquia do conhecimento. E nem, na verdade, qualquer
burocracia, baseada em qualquer hierarquia.
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7. Mas vejam que tudo isso é fluido, são ramadas de
neurônios programados para morrer (ou melhor:
desprogramados para tentar superviver protegendo-se do
atrito fortuito da interação). Não, não é para a vida toda,
não é para criar raízes e sim para lançar antenas. Não é
como construir muros e sim como tecer membranas
pervasivas. São zonas autônomas temporárias (como
aquelas aventadas por Hakim Bey em 1984). Tudo isso,
assim, quando conectado, poderia ser encarado como uma
espécie de Rede do Fluzz.
Toda rede distribuída é uma escola de redes. A escola é a
rede – nosso lema – é uma proposição transitiva: a rede é
a escola. Escola-não-escola significa que não é uma
burocracia do ensinamento, baseada em uma hierarquia do
conhecimento, e sim uma diversidade de ambientes sociais
de livre-aprendizagem. Toda livre-aprendizagem é
desensino. Se libertada do ensinismo, qualquer
aprendizagem coletiva é co-criação, então os lugares da
Escola-de-Redes são campos de co-creation.
Faz pouco tempo alguns de nós, conectados à Escola-de-
Redes, propusemos a criação do Dojo Net: um campo de
co-creation e learning journeys. Uma proposta simples que
combina co-criação com jornadas de aprendizagem por
meio de uma nova plataforma interativa e de um espaço
físico superconfigurado para impulsionar a interação.
Na plataforma interativa de crowdsourcing-em-rede, as
pessoas podem inscrever suas idéias e polinizá-las com
outras idéias. No espaço físico elas podem exercitar a co-
criação para transformar essas idéias já modificadas em
projetos concretos que poderão ser financiados por
crowdfunding ou por outros meios.
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8. As jornadas de aprendizagem compreendem cursos,
descursos ou percursos e vários outros processos de livre
aprendizagem (desensino). Na plataforma as pessoas vão
dizer o que querem aprender e o que podem compartilhar
(em processos de communityschooling na linha de
unschooling). Tais atividades educativas ocorrerão à
distância e no espaço físico.
Todas essas atividades podem ser financiadas por
patrocinadores, apoiadores ou parceiros ou, ainda, pelos
próprios freqüentadores do lugar, por meio de
mensalidades ou outras contribuições regulares, matrículas,
taxas de inscrição ou ingressos para as atividades.
O Dojo é para ser um empreendimento independente,
gerido autonomamente pelas pessoas que o compõem,
observados alguns princípios compatíveis com a
constituição da Escola-de-Redes. Ele pode, inclusive, ser
organizado no formato de um negócio-em-rede, quer dizer,
como uma empresa-não-hierárquica (2).
O Dojo Net que foi proposto é apenas uma possibilidade,
um exemplo de lugar da Escola-de-Redes. Outras
possibilidades estão abertas. Todas serão escolas de redes
e aquelas que quiserem poderão se conectar entre si para
compor uma nova dimensão da Escola-de-Redes.
A PROPOSTA
Esta é a proposta: monte um lugar na sua cidade ou no seu
bairro (podem existir vários locais em uma mesma cidade).
Um lugar onde ocorrerão atividades e onde uma rede de
pessoas vai compartilhar agendas de aprendizagem.
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9. Se for uma rede distribuída de pessoas, esse lugar será
uma escola de redes, mesmo que os temas programados
não sejam diretamente relacionados ao estudo (teórico)
das redes sociais, conquanto isso soe mais conforme aos
nossos objetivos iniciais. Mas a experimentação de redes
distribuídas já é uma investigação (prática) e, portanto,
cabe no nosso escopo.
Estou propondo que sejam ambientes de co-criação e de
formação de comunidades de aprendizagem. Como
ninguém vive de vento e manter um lugar (mesmo
emprestado) implica sempre algum custo, sugiro que se
pense no financiamento e na remuneração das pessoas que
empregarão seu tempo empreendendo, administrando e
trabalhando no empreendimento.
As atividades de aprendizagem podem, portanto, ser
cobradas (de quem pode pagar), desde que não se sub-
remunere quem trabalha para (alguém) se apropriar de um
sobrevalor, posto que isso centraliza, cria escassez e, em
conseqüência, impede que se cumpra a condição básica de
distribuição da rede. Mas quem trabalha precisa ganhar por
seu trabalho (2).
Boas novas! Algumas pessoas conectadas à E=R estão
construindo neste momento uma plataforma de localização
(ou de glocalização) que pode ajudar muito nesses
empreendimentos. Outras pessoas, também conectadas à
E=R, estão começando a projetar uma plataforma de
crowdlearning que também pode ajudar. Essas duas
plataformas, integradas ou usadas simultaneamente,
podem oferecer uma solução tecnológica ótima para tudo
isso.
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10. Mas é bom não ficar esperando. Já temos a plataforma da
Escola-de-Redes onde grupos podem ser abertos para tal
propósito. Três pessoas e uma sala com uma agenda de
encontros e atividades de aprendizagem já é suficiente para
começar.
Podemos montar, por exemplo, agências de encontros
sobre redes e temas correlatos, convidar palestrantes e
cobrar ingressos das pessoas interessadas. Se houver uma
boa divulgação nas empresas, nas instituições e nas
entidades sociais e um programa consistente e atrativo, é
bem provável que a atividade consiga se sustentar e
remunerar as pessoas envolvidas (inclusive os palestrantes
convidados: convém nunca esquecer).
Podemos instalar processos de co-creation para bolar
soluções em rede para vários processos empresariais,
governamentais e sociais e depois vender ou cobrar pela
aplicação de tais soluções.
Podemos captar recursos de instituições interessadas em
financiar esses tipos de atividades extremamente
inovadoras que são a co-criação e as jornadas de
aprendizagem.
Enfim... cada grupo que se formar inventará seus modos,
criará suas formas, inaugurando, assim, o processo de co-
creation que queremos disseminar e que constitui o coração
da presente proposta.
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11. (1) Como observou Lynn Margulis (1998) em O que é a vida?, "os
fungos são organismos realmente fractais", que fazem sexo por
conexão ou conjugação de hifas (que são tubos que se assemelham
aos cabos de rede que utilizamos hoje em dia para conectar nossos
computadores) e existem "em extensas redes inacessíveis à visão,
situadas abaixo do solo. Grandes micélios de hifas que saem em
busca de alimentos prosperam sob as árvores das florestas. Os
filamentos vivos chamados hifas tendem a se fundir. Depois de
"praticar o sexo", acabam formando cogumelos ou tecidos bolorentos
que, por sua vez, sofrem meiose e formam esporos... Toda rede
miceliana é um clone fúngico, o filho distante de uma única linhagem
genética. Acima do solo, os fungos produzem esporos que flutuam no
ar, alguns dos quais você por certo está inalando neste momento.
Quando pousam, os esporos crescem onde quer que seja possível.
Fazendo brotar redes tubulares, as hifas, no substrato úmido,
novamente os fungos produzem quantidades copiosas de esporos, os
quais se disseminam, espalhando sua estranha carne pelo solo que
ajudam a criar".
(2) Se o formato for o de um negócio-em-rede ou uma empresa-não-
hierárquica, as disposições atuais da E=R não dão conta de
normatizá-lo, mas facilmente pode-se chegar a um conjunto básico
de orientações como as sugeridas pelas cinco disposições seguintes:
1) Não há chefes, CEOs, presidentes, vicepresidentes, diretores,
gerentes, coordenadores, facilitadores ou assemelhados. 2) A
remuneração dos membros será negociada de acordo com seu
empenho, trabalho, esforço, dedicação etc, segundo critérios
definidos pelas próprias comunidades (de comum acordo: não deveria
ser admitido o uso de votação ou outros modos de regulação de
conflitos que gerem artificialmente escassez); 3) Ninguém, a pretexto
de ressarcir custos de infra-estrutura, administrativos, operacionais,
remuneração do conhecimento, do capital ou do risco ou, ainda, de
outras despesas ordinárias ou extraordinárias, pode se apropriar de
sobrevalor extraído do trabalho alheio. Abatidos os custos dos
empreendimentos (que deverão ser bancados pelos empreendedores
associados para sua realização), os seus resultados financeiros,
positivos ou negativos, devem ser distribuídos ou arcados por todos
os membros das suas comunidades, segundo os critérios
estabelecidos por essas próprias comunidades. 4) Não há – por parte
da E=R ou de qualquer outra organização – nenhuma ingerência
centralizada sobre a vida das comunidades (que aglomeram pessoas
11
12. dedicadas ao empreendimento) e nenhum mecanismo de comando-e-
controle que possa interferir em seu funcionamento. 5) Cada
comunidade é responsável por prover os requisitos legais para seu
funcionamento (registros, documentos, notas fiscais etc), se
necessário for.
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