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ANSEIOS



    Geraldo Ráiss




               1ª Edição


Câmara Brasileira de Jovens Escritores
Copyright©Geraldo Ráiss




       Câmara Brasileira de Jovens Escritores
      Rua Crundiúba 71/201F - Cep 21931-500
                Rio de Janeiro - RJ
               Tel.: (21) 3393-2163
             www.camarabrasileira.com
                 cbje@globo.com


                     Abril de 2009


                    Primeira Edição




        Coordenação editorial: Gláucia Helena
              Editor: Georges Martins
        Produção gráfica: Alexandre Campos
                Revisão: do autor




É proibida a reprodução total ou parcial desta obra, por
 qualquer meio e para qualquer fim, sem a autorização
              prévia, por escrito, do autor.
      Obra protegida pela Lei de Direitos Autorais
Geraldo Ráiss




ANSEIOS




      Abril de 2009


 Rio de Janeiro - Brasil
ÍNDICE

Introdução
Ausência
Poetas são mesmo assim
Claustro
Solidão
Uma flor para o destino
Ah se eu pudesse voar.
O mar e o pescador
O deus que em mim habita
Engano pensarmos que somos um
Sei que sou repetitivo
Tristeza de poeta
Predição de um Tratado
Ao que me resta
Devaneio
O que ninguém nos rouba, e nunca saberá
O tudo é o que se mata em vida.
Corpo fechado
Inimigo meu
Minha alma, meu refúgio
Não importa de onde eu vim
Apenas um gesto bastaria
Atarantado
Depois do funeral
E o tempo me espera
Hipotética é a mente
Era...de aquário
Os deuses sabem o que fazem
O sopro da vida
Resposta a um amigo
Os passos são passos
Os olhos não mentem
Culpa
O vaso
Gigante sem voz
Este livro é dedicado aos meus amigos das noites boemias,
             lembrando que quase todo boêmio é um poeta.
Agradecimentos especiais

                        Ao artista plástico Márcio José Banéga,
        pelas ilustrações em aquarela, que enriqueceram o livro,

À Beatriz Aparecida Rodrigueiro, que com sua sensibilidade de
                     poetisa soube captar a essência da obra.
Geraldo Ráiss




Prova 01
 CBJE           10
ANSEIOS




                        Introdução

        Anseio. Substantivo masculino, aqui no plural,
ANSEIOS. Ou talvez verbo transitivo direto, não importa, já
que nós seres humanos ansiamos por tantas coisas, até por
nós mesmos. Quem sabe uma palavra amiga do nosso espe-
lho, ou talvez um espelho novo, quem sabe?
        Os poemas das páginas seguintes foram escritos
entre os anos de 1999 e 2001, muitas vezes brotaram de
conversações íntimas com o espelho, espelho esse planta-
do em um coração ansioso pelo conhecimento de si pró-
prio, e um pouco pelo entendimento do espelho alheio,
tarefa árdua já que nem sempre é fácil transformar senti-
mentos em palavras.
        ANSEIOS não é um livro de propostas, tampouco de
soluções, mas é talvez um Tratado interior dos vários “eus”
residentes em nós, e que muitas vezes são acionados na tenta-
tiva de estancar feridas causadas por decepções e desilusões, e
outras vezes festejar as alegrias da vida. Espero que alguns
dos seus “eus” se identifiquem com alguns dos meus “eus”.




                              11
Geraldo Ráiss




Prova 01
 CBJE           12
ANSEIOS




                           Ausência

Ausência é arrebatar-se do corpo, em busca da liberdade
É sentir necessidade até da palavra saudade
Quão miserável é o ser que nem a tem pra sentir....
E quando a tem se ausenta por medo!
... medo que se tem da total entrega
E quando se entrega faz brotar no ser, o desejo dessa ausência
O que nos faz pensar que é necessária essa dualidade de sentimentos
Que move o Homem, e o faz caminhar para sua própria ausência!

A felicidade em sua plenitude é ausente.
Qual o ser que a tem por domínio?
A luz sempre se afasta a dar lugar para sua ausência.
E a noite toma seu lugar, e tudo parece mais ausente...
Mas nos deleitamos com ela!

O amor também é, às vezes, ausente
Quantas vezes precisamos dele, e nesse momento não está presente...
E é ai que o reconhecemos e o valorizamos!
E em tudo que é ausente nos encontramos
Até no mais errante nos vemos, por lhe faltar o que temos
E termos demais o que lhe falta.
E nessa dualidade caminhamos, e crescemos,
Tudo faz parte de nós




                                 13
Geraldo Ráiss




      Ser ou não ser não é mais a questão
      E sim a insensatez de não percebermos
      A ausência dos nossos próprios sentimentos!
      Ausência não é vazio, é desafio.
      E o Homem se alimenta disso para continuar vivendo,
      Pois na ausência da ausência,
      O perfeito se torna enfadonho em sua própria plenitude.
      Imagino o clamor de um anjo: sou perfeito, e então?




Prova 01
 CBJE                           14
ANSEIOS




   Poetas são mesmo assim

Poetas falam de amor
...de outros, e dos seus.
Às vezes falam do horror,
e às vezes de Deus
E eu, que nem me acho tão poeta assim,
às vezes falo de mim
Mas nem sempre palavras falam,
noutras vezes podem até parecer banais,
assim como o Homem
...muitas vezes é!

Não tenho o hábito de reler o que escrevo
...entretanto acontece
E é quando percebo o quão distante fiquei
...de mim,
E chego a pensar se realmente fui eu,
quem escreveu

Contudo, não me causa deslumbre,
pois ví que mudei...
Não creiam por isso que sou louco,
pois todo poeta
de todos tem um pouco
Falo de coisas que vejo,
e muitas vezes do que não vejo,
poetas são mesmo assim,
falam pouco, mas muito vêem!

                   15
Geraldo Ráiss




Prova 01
 CBJE           16
ANSEIOS




                    Claustro

Pouco a dizer da vida, pois muito já foi dito
A não ser falar da minha, mas quem se importaria?
O mundo - esse lá fora - causa dor e agonia
Ficarei então no meu, embebido do romântico

Esgarçando a pele em fios, sussurrando desatinos
Que só a mim não são ocultos
Ninguém precisa saber do que é feito meu peito
Torno o mudo, para o mundo

O que quero faço ao meu redor
Estou atrás do meu muro
Empobreço até os versos

Não importa. Lá não seria melhor.
E se algum dia me cobrarem um lampejo
Direi não ser eu, posto que nada vejo.




                         17
Geraldo Ráiss




                       Solidão

           Solidão.
           Às vezes ela vem
           E arrebata-me do lugar comum
           Arrastando-me ao oco de mim
           De onde procuro estar arredado

           Manifesta-se crua, nua
           Mostra-se impiedosa
           Faz-se tempestade
           Forçando-me a revirar em mim
           Feito a fúria de um furacão

           Solidão.
           Quantas vezes não peço aos céus
           Que de uma árvore, uma folha caia
           A me fazer companhia...
           Por compaixão




Prova 01
 CBJE                      18
ANSEIOS




   Uma flor para o destino

O meu peito se abre ao vento
E leva consigo a flor do destino
Princípio inverso do lamento
Que me guia pelo tempo indiscutido

Rei dos meus próprios sonhos
Sou eu o Rei, tolerante de mim mesmo
Que flameja a luz sob meus passos
Caminhando ardente, nu, ao vento

Sou aquele que busca a altura
Que muda a história, que muda vidas
E ao contrário, não muda a sua

Sou aquele que muda o curso
Dos rios barrentos, das noites vazias
E que leva ao vento o peito turvo

Rei da alegria de outros, à procura da sua
Vivo no tempo, silencioso como bruma




                    19
Geraldo Ráiss




Prova 01
 CBJE           20
ANSEIOS




   Ah se eu pudesse voar!
Mais intrigante do que o mar, sou eu.
Vivo a me perguntar,
se confio nisso ou naquilo,
e a despeito disso ou daquilo
passa-se o tempo...
e não fiz nem isso, nem aquilo
Ah se eu pudesse ser como os pássaros,
que apenas voam,
não importa pra onde,
apenas vão....
Não têm que pensar nisso ou naquilo,
sabem que vão...
sem hora ou destino,
assaz confiantes, apenas cumprindo
ligeiros instintos.
Ah se eu pudesse ser como os pássaros!
Viver pelos campos
sorrindo e cantando,
apenas sonhando, voando.....
sem ter que pensar,
pois quando penso não sonho,
e se não sonho não vivo,
e se não vivo não posso ser um pássaro,
e não o sendo me privo,
não sobrevôo o mar...

E mais intrigante do que o mar, sou eu,
que ao meio do caminho me fecho,
e em mim não consigo nem confiar.
Ah se eu pudesse voar!

                  21
Geraldo Ráiss




                   O mar e o pescador

           Das entranhas do mar
           pescam-se vidas,
           vidas caladas, e vidas ativas

           Para as profundezas do mar
           vão-se vidas,
           vidas ativas, que se tornam caladas

           Quando miro a beleza do mar, me fascina
           saber, que tal qual o pescador,
           os dois têm suas sinas...

           A sina de dar,
           e a sina de levar...
           ...vidas!




Prova 01
 CBJE                             22
ANSEIOS




  O deus que em mim habita

O deus que em mim habita
está cravado em minhas próprias marcas,
que se espalham no infindo,
navegando por estrelas
que anseiam indicar
a direção ao inacessível,
feito uma cabala

Esse deus que carrego comigo,
ora me alegra, ora me devora,
estou preso a ele em laço antigo,
e não importam meus passos, pois ignora!
Sequer haverá desprendimento
(sem ele não vivo)
e se na vida terrena é mortal,
imortal eu sei que é – no infinito




                    23
Geraldo Ráiss




           Engano pensarmos que somos um
             (pois um transcende o outro)

           De fato não sou um!
           Certeza (que tenho outro)
           Tolo, aquele que pensa ser o que vê
           (Pois nem a si percebe)
           Decididamente tenho outro,
           O que tem desejos inconcebíveis
           E que luta contra o que pensa ser
           O outro pede (a mim que se cumpra)
           E esse, quem penso ser, está preso, e no fundo luta
           Difícil é saber qual está certo
           Mas é certo que há batalha...
           É como se o outro e eu
           Partíssemos de dois pontos distantes,
           E que a vida nos levasse quase infinitamente
           Até um dia talvez, houvesse nosso encontro...
           E nesse instante já não seriam dois,
           Mas um único eu,
           A morar em mim




Prova 01
 CBJE                              24
ANSEIOS




     Sei que sou repetitivo

Repetitivo eu sei que sou
Muitas vezes sou, mas
Enquanto de minha boca sair
- Ou de minha mão o lápis deslizar
Para as mesmas coisas dizer (ou escrever)
- Quer dizer que ainda preciso dizer

O dia em que não mais repetir
Todos saberão que subtraí de mim
O que de incômodo me causava
(Mas quase tudo me incomoda...)
Acho que serei sempre repetitivo




                   25
Geraldo Ráiss




                   Tristeza de poeta

           Dizem que todo poeta é triste
           Assim o dizem!
           Se falasse eu de amor
           Seria eu menos triste?
           Falar de amor em dias de hoje (...)
           Onde andará? Porventura ainda existe?

           Menos ainda falar de outrora,
           Pois é já outra hora

           Amei no ontem
           E não sei se fui amado. Nunca o saberei.
           Fui entregue às fantasias do amor
           E só me fiz sentir agravos

           Um poeta já nasce triste,
           Não importa sobre o que fale
           Melhor seria não sê-lo,
           Mas se acaso outro jeito não houver,
           Que seja apenas poeta,
           Nada mais.

           E pouco importa falar de amor
           Ou do inverso amor do mundo,
           Pois em cada canto da Terra,
           Brasil, Portugal ou China,
           Onde existir a vida
Prova 01   Sempre haverá um poeta
 CBJE                         26
ANSEIOS




 Predição de um Tratado

O meu lar só tem a mim
E por todos os seus cantos
- onde vago,
existe um pouco de mim (só de mim!)

E aos amigos que perguntam,
o que de mim faço
respondo - dizendo
o que não faço

...Não faço me tornar preso,
em troca de abraços,
a dar alimento a laços,
que bem sei, tolhem-me espaço

No meu lar só tenho a mim!
Mas às vezes me interrogo
Se vale a pena (esse Tratado)
-pois no ocaso, o que será de mim?




                  27
Geraldo Ráiss




                Ao que me resta

           Eu rio dos meus dias, que foram
           Rios de às vezes claras águas,
           E vez ou outra, turvas,
           Tal o silêncio desses dias

           Eu rio. Passadas águas (...)
           Pensando sorrindo, ou lamentando
           Aquelas que ainda hão de vir

           Quem sabe do destino?
           Quem o saberá?
           Só me restou viver




Prova 01
 CBJE                     28
ANSEIOS




            Devaneio

Não se pode ver além do monte
Se não atingirmos o cimo
Miro o nada por instantes,
E percebo que no vazio
O nada não existe

Diante de mim, imagens
De coisas que ainda não vi,
Ou se vi não foi este quem viu!
Minha mente ferve
É tão confuso ver....

Penso no tempo...
Existe realmente o tempo?
Achei que ele que passava,
Mas vejo que não
(Eu passei por ele)

E deixei rastos de outrora
Que agora vejo...
O tempo sempre esteve lá
Guardado em meu peito
Trilhando meu caminho




                  29
Geraldo Ráiss




           Ele nunca se moveu
           Quem se move sou eu
           E se planto flores, sinto odores,
           Se não, tenho dores
           Pois quem plantou fui eu

           E do alto desse monte
           Miro o azul da cumeada (no horizonte)
           E entristeço ao perceber
           que o tempo não passou,
           Pois quem passou fui eu!




Prova 01
 CBJE                          30
ANSEIOS




    O que ninguém nos rouba,
         e nunca saberá
        (nossos sonhos)

Se eu quiser posso subir aos céus
Mas a quem devo indagar?
Se preferir, perseguirei estrelas
Mas para onde irão me levar?

O meu Eu, a tudo permite
Minha mente foge como raio, insanas fantasias
Sou o que quero, e como quero
Para ela já não há limites

O que seria de mim sem a noite?
Que me acolhe em braços macios
E nenhuma palavra me sopra,
E mesmo assim me conforta?

Olhos cerrados...
Parto para os mais altos vôos
Não há barreiras em meu sonho,
E assim desenho minha estória

Produzo sons, movimentos e cores,
Tudo é certo no meu mundo.
Esboço sorrisos de contentamento,
Afinal, tudo consigo em um segundo


                      31
Geraldo Ráiss




           Não sei o quanto viajo
           Perco a noção do tempo
           Sinto o fim quando imagens embaralham,
           E travo batalhas comigo mesmo

           No meu sonho tudo é possível
           Até deixar de ser eu...
           É como um segredo que me ronda,
           Sem nenhum acesso, e que ninguém me rouba.




Prova 01
 CBJE                          32
ANSEIOS




       O tudo é o que se mata em vida

Creio na vida quando me sinto livre,
Livre a caminhar pela rua, sem medo.
Creio na vida quando não vejo o futuro,
O futuro nas ruas, em busca do nada.

Creio na vida quando tenho sonhos,
Sonhos que um dia sei ... poderão vingar.
Creio na vida quando vejo nosso passado,
Passado em nossos velhos, respeitado.

Creio na vida quando vejo um povo,
Um povo unido pelo mesmo ideal.
Creio na vida quando posso partilhar,
Partilhar da fauna e flora, sem vê-las de mim se amedrontar.

Deixo de viver quando a cada dia,
A cada dia ao abrir os olhos, um dos meus sonhos se vai.
Deixo de viver quando meus lábios sentem falta,
A falta de um costumeiro sorriso, que antes se espalhava.

Começo a morrer quando percebo que em vão,
Em vão é meu esforço para manterem eretos meus ombros.
Meus ombros cansados, que aos poucos caem mais e mais,
E mais distantes ainda ficaram meus ideais.




                             33
Geraldo Ráiss




           Morro, quando não consigo ser quem sou,
           E quem sou não é assim tão mal
           É quando soa o desencanto,
           Dos encantos do meu sonho temporal.

           Cada lua que da minha vida é subtraída,
           Subtraída também é a certeza,
           De que se morre somente na carne,
           A carne, essa sim já é morta estando ainda em vida.




Prova 01
 CBJE                              34
ANSEIOS




      Corpo fechado

O amor me visitou,
...e no momento seguinte
me abandonou.
Causou um vácuo visceral,
...e com requintes
me apunhalou.
 Deixou aberta em mim, latejando,
 uma ferida sem fim,
...que bem sei, ainda não fechou.
Essa dor que meu peito dói,
e que corrói
...é certo que levarei
E não passará um dia sequer
sem que dela lembrarei,
...e sofrerei.
E se mais tarde, quem sabe
(eu) houver sido visitado
...pelo amor, ou a dor,
empunharei o meu corpo fechado.




               35
Geraldo Ráiss




                        Inimigo meu

      Inimigo meu,
      que transitas em minhas paragens,
      empertigado em toda sua intrepidez,
      diga-me ...qual meu espelho,
      onde devo começar.
      Onde tenho eu errado, pra poder me emendar?
      Sê meu aliado, para que eu possa nessa vida
      expiar alguns males meus,
      e quem sabe um dia reparar.
      Não penses que a mim fazes sofrer.
      ...Ao contrário,
      tuas observações só bem me trazem,
      com elas meu repouso é minha ronda,
      e meu espírito nelas se compraz.
      E até que possas me avistar como amigo,
      que sejas tu meu anjo que meus olhos abres,
      pois saibas, és mais meu amigo do que meu maior amigo,
      que para me proteger não ousa me ferir.
      Não que eu não o ame (pois amo)
      Mas agradeço a ti que sem entender,
      e mesmo sem querer, levas a me conhecer.




Prova 01
 CBJE                           36
ANSEIOS




  Minha alma, meu refúgio

Oh alma que me acerca contra ti
Minha razão, que é minha busca
Meu âmago que me aperta,
E me arrasta por todos os rumos.

Acerca-te de mim
No envolto de teu abraço
Faça-me sentir parte de ti
Envolva-me com teu laço.

Não te percas de mim oh raio
Não te faças assim fulgás
Sê de mim meus passos,
E no outono te aqueces em meus lábios.

Arrasta-me por todos os rumos
No envolto de teu laço
Envolva-me com teu abraço,
Para que no inverno aqueças meus lábios.




                    37
Geraldo Ráiss




           Não importa (de onde eu vim)

           Alguns dizem que vim
           de um certo Adão
           (A quem não fui apresentado)
           Outros, de além mundo
           (Que não me lembro ter estado)
           Há os que sugerem - do barro
           Pode ser...todo dia sou quebrado
           Não importa donde vim
           Ou de quem vim
           Se alguém me pôs
           Apenas me pôs...

           E deixou-me
           Áptero, quebrantado,
           A volver-me em um labirinto de sonhos,
           desejos, e anseios sem fim.
           Quem me pôs ofereceu-me o mundo,
           mas esqueceu de apresentá-lo a mim,
           Ofereceu-me sonhos,
           mas não alertou-me
           de que era apenas pra sonhar,
           Deu-me um coração,
           Mas não disse que poderia amarfanhar.




Prova 01
 CBJE                           38
ANSEIOS




Deu-me a vida!
De Adão, do Universo, do barro,
- Não importa!
O que incomoda
é o fato de sentir-me só,
em um emaranhado sem evidências
Tendo a cada dia que suscitar em mim
respostas vagas
sobre o que um dia foi,
e no outro poderá vir a ser.
Não, não importa de onde vim.




                   39
Geraldo Ráiss




Prova 01
 CBJE           40
ANSEIOS




         Apenas um gesto bastaria

Apenas um gesto, um olhar
(Se puderes me dar...)
Não te cobro o falar
Apenas um olhar
Para que possas ver em mim
Um risco de ti. Apenas um risco.

Talvez um pouco do teu passado...
Quem sabe, migalhas do meu presente!
Sinta-me algo quase teu - vindo de ti
Cries traços teus (em meus traços).
Não te cobro o falar - senão um olhar
Não te peço que fiques comigo pra sempre
Mas que fiques enquanto durar teu olhar

Tão meu... - o teu olhar

Por um instante não cales tuas mãos
Antes, percorra meus cabelos...
E que deslize até minha face
Tão exausta quanto a tua!

Navegues por mim, em mim
E me deixe sentir a tua presença
Antes que ela se vá (de mim)
E talvez nunca mais eu possa chamar-te -“pai”!


                           41
Geraldo Ráiss




                   Atarantado

           Ando trateado com o mundo
           Que tem várias faces
           E me torno intratável,
           Atarantado, trêfego
           E já não consigo sequer trautear




Prova 01
 CBJE                     42
ANSEIOS




       Depois do funeral

Há alguns passos,
Atrás do último,
Observo o féretro,
A caminho do túmulo

Rostos pálidos - lá se vão
Com olhos úmidos,
Contando os passos
Do amigo ao lado

Aperto os meus,
E ouço cochichos
De senhoras de preto
Falando do morto – tão nobre, tão bom!

Há também curiosos,
Que como eu
Só querem saber quem passou
Desta pra melhor, ou quem sabe lá...

A verdade é uma só,
Ataúde baixado
Dobra-se a esquina,
Seca-se os olhos,
Cuida-se da vida,
E espera-se pelo próximo.


                    43
Geraldo Ráiss




              ...E o tempo me espera

           Um rosto dentro de mim se abate,
           e me delata
           Já não tenho mais tempo
           – esse não cessa.

           Corro contra ele,
           querendo encontrar seu fim,
           mas em vão
           – ele não cessa.

           Não hei de dizer
           o que vai de mim
           – mas ele me delata           (o rosto)

           Arrasta-me contra o outro,
           que muito maroto, me espera
           – porque esse não cessa     (o tempo)




Prova 01
 CBJE                         44
ANSEIOS




Hipotética é a mente sem a emoção

Hipoteticamente
darei asas à imaginação
Hipoteticamente
poderei idear uma grande canção

Hipoteticamente
viverei - nos dias que virão
Hipoteticamente
está certo - o sim e o não

Por hora, o que sei
não ser hipotético,
é o agora

O exato momento
em que fala o meu coração,
é quando não uso minha razão!




                          45
Geraldo Ráiss




               Era... De Aquário

           Espaçonave, satélite, computador
           Ciência, doença e dor
           Rios, mares e falta de amor
           E o Homem mudou?

           Ecologia, anemia, hipocrisia
           Política, preconceito e carestia
           Profetas, líderes, donos da verdade
           E o Homem mudou?

           Almas vendidas, paternalismo
           Crianças na rua
           Fobia e craque
           Aquário na esquina....que sina!

           Que nada,
           Transcendente é a mente
           Que sente!
           Que mente!

           Homem decadente
           Emergente do nada
           Primata caricata,
           Aquário é piada



Prova 01
 CBJE                      46
ANSEIOS




Mundo novo à vista?
Imperialistas, poetas, terroristas,
Fome, Timor, rancor,
Nova era... transcende... letras, letras, letras....

                                          Atitude!




                         47
Geraldo Ráiss




Prova 01
 CBJE           48
ANSEIOS




   Os deuses sabem o que fazem

Os deuses sabem o que fazem
Pensais vós o contrário?
Achais que tudo está a se perder?
Então digo-vos: não sabeis o que dizeis,
Pois os deuses sabem o que fazem!
Porventura achais que à vossa porta
anda a bater a solidão?
Refletis então: o que é a solidão?
Não sabeis pois, ser um estado em transição?
Quereis fazer dela, morbidez?
Engana-vos, porquanto também ela se move,
e acima de vós tudo se renova.
Reclamai-vos de, aos deuses não ver,
então devo provocar-vos: - e o ar, podeis ver?
É certo que não, mas ele é,
e no entanto vós o percebeis na face
(quando ele se renova)
Pois a todo segundo ele também é outro,
e nem por isso, sente-se só!
Se a vós fosseis concedido o poder de vê-lo,
veríeis que não há lamento
...então por que achais estar só?
Não o tem como estimulo a se renovar?
Quereis ainda respirar àquele que já passou?
Pois esse não vos serve mais!



                        49
Geraldo Ráiss




           Vigiais: a solidão não existe se há renovação!
           Não haveis inquietai-vos com o estar só,
           ...pois não está
           Os deuses sabem o que fazem!




Prova 01
 CBJE                           50
ANSEIOS




             O sopro da vida

Imaginas andando por uma estrada,
e de repente, um forte vento
vem ao teu encontro
forçando-te a diminuir os passos
induzindo-te a uma parada brusca!

Algumas vezes a vida é como o vento,
sopra quando quer, onde quer,
na velocidade que aprazar,
e noutras vezes dá-nos a impressão de não soprar,
tal o seu estado apático

Mas enganas,
pois nesse momento ela está vindo
ao teu encontro,
e tal é sua força,
que te faz pensar estar parado!

Mas digo-te que,
se tu não caminhares
mais lentamente nesse instante,
não terás força suficiente,
logo à frente.




                       51
Geraldo Ráiss




           Sê sensato, e espere,
           pois o vento que veio do Norte,
           certamente virá do Sul,
           impulsionando a ti,
           e tudo que está a tua volta.

           E pensarás então
           que mudaste a direção.
           Mas não...
           continuarás caminhando para frente.

           Não fosse assim, não suportarias
           O grande sopro que é a vida!




Prova 01
 CBJE                       52
ANSEIOS




        Resposta a um amigo
         (inclinação suicida)

Quanto às horas a fio de trabalho,
Devo dizer que:
- Não é bom que se tente penetrar
No que ainda é impenetrável,
Pois a busca frenética, às vezes
Pode se tornar patética
Aos olhos de quem vê!
Saiba que a ti não é dado ver tudo - por hora,
Prudente é que retomes a calma,
E cuide bem do presente,
Pois como há de querer ver à frente
Se hoje não sabes ao menos o que sentes?
Não é justo que a ti te percas,
E nem que te percas dos teus,
Pois pensas que sabes,
Mas não tens idéia nenhuma
Do que é perder-se em alucinações e palpitações,
Desejar voltar atrás, e não poder!
Procures ficar em paz,
Andes apenas aonde a ti é permitido pisar,
Ademais ...deixe o tempo se encarregar.




                       53
Geraldo Ráiss




                   Os passos são passos

           Deixe que teus passos o levem
           aonde quer que eles te levem.
           Levante o cenho, e tente
           ...Tente ver o que está à frente.
           Veja (...)
           A própria palavra diz: “passo”
           ...Já passou!
           Outros vêm atrás de ti
           e seguem teus passos
           Deixe que estes os apaguem
           Segue tu, as pegadas dos que estão à tua frente.

           Da flor que ficou para trás,
           Ainda restou a semente
           - aquela que um dia tu plantaste,
           E embora não percebas hoje,
           Caíram, e germinaram
           na depressão causada pelos teus passos.
           Deixa, pois, que teu passo direito
           Leve o teu esquerdo,
           São apenas passos.




Prova 01
 CBJE                            54
ANSEIOS




    Os olhos não mentem

Antes de dizer palavras,
certifiques de que vêm
de dentro do coração.
Já é tempo de não te enganar,
saias pois, do mundo da ilusão,
os olhos não mentem!

De todos os sentidos,
que porventura te possam iludir,
e a outros confundir,
há um a que não podes fugir: a visão,
pois os olhos não mentem!

Procures sempre dizer a emoção,
não a encubras com a tua razão,
é melhor que mostres tua fragilidade
sem passar por ela,
a ficares vulnerável
aos tropeços da tua falta de visão.

Lembra-te,
podes até fugir da tua própria insensatez,
pois a conheces bem,
porém não esqueças de lembrar também
que os olhos não mentem!



                    55
Geraldo Ráiss




           Faze o entender e o agir
           dentro das leis do amor,
           para que no futuro
           evites tantos dissabores.




Prova 01
 CBJE                 56
ANSEIOS




              Culpa

Antes que o fogo da mágoa,
seja atiçado em teu coração...
Perdoe!
Perdoe o ontem e o hoje,
quantas vezes forem precisas

A fim de evitares
que a brasa da culpa
permuta partes de ti,
e enverede teu ser
a um permanente estado de fuga

Fuga de ti mesmo,
- da tua própria culpa,
por sentires incapaz
de transgredir as invioláveis verdades,
que a ti mesmo impuseste.

Cuida para que o teu amanhecer
seja claro e límpido
E fertilize com a compreensão,
os jardins do teu coração.




                  57
Geraldo Ráiss




                      O vaso

           O vaso está ali,
           Logo ali...
           Sobre aquela mesa.
           Passo por ele hora e outra,
           Admiro sua beleza,
           Imagino as mãos do oleiro
           Manipulando suas curvas

           Até que um dia, por descuido,
           Ele cai, e se quebra!
           Na vida é assim,
           Tudo tem um fim

           E ainda que
           aquele vaso eu substitua
           por outro parecido,
           não será o mesmo.
           Não mais verei aquelas curvas,
           pois já serão outras, as mãos.




Prova 01
 CBJE                     58
ANSEIOS




             Gigante sem voz

Que terra é essa, que já nasceu dividida
Desprendendo-se em Continente
A dar origem uma imensa riqueza
Em tons verdes, ouro e prata?

Que acolhe toda raça
Num só abraço, ardente,
E encena a cada passo um novo ato,
A se propor em força que anima.

Dos mananciais aos áridos - antagonistas
Que ferem toda uma gente
(Que pensa ser protagonista)
De uma história, que por condição lhe fora imposta

Que terra é essa, que em meio a tanto tesouro
Golpeia feito serpente
Olhares assustados e famintos,
A espera da hora a promulgar?




                        59
Geraldo Ráiss




       E no cantar de um pássaro, clama o sertão
       A todo ser ausente
       Que lhe foi dito a buscar
       Numa esperança, que chega a lhe atormentar

       Quisera eu falar de flores, encantos e recantos,
       E bradar sons em tons poeticamente,
       Em cada canto declarar o meu amor
       Em versos e rimas, a esta terra com louvor

       Este solo que abriga a arte ...
       (de viver modestamente)
       Dá asas a Lobatos e Jorges
       Para que alcemos vôos de toda sorte

       E assim a temos como morada
       E dela colhemos intensamente
       Todo fruto do futuro que há de vir,
       E que esse fruto doe voz a esse gigante chamado Brasil!




Prova 01
 CBJE                             60
ANSEIOS




                           Final

       Hoje, ano 2009. Há dez anos atrás eu conversava com
meu espelho interior e outras vezes com o espelho alheio,
como foi dito na Introdução deste livro. Muitas das minhas
indagações foram dissolvidas nesses anos, e outras ainda es-
tão à baila, muitas mudanças se concretizaram, nada foi em
vão. Novos amigos foram feitos, antigas ilusões foram desfei-
tas, pois não passaram de ilusões, assim como os amores. A
vida transita, e o amadurecimento vai estilhaçando aos pou-
cos nossos espelhos até que eles se quebrem totalmente, res-
tando apenas nós. O claustro vai se iluminando e vamos tro-
cando de morada, o corpo fechado vai se abrindo deixando
alguns medos para trás, dando lugar ao novo, e a vida vai so-
prando a despeito das carências e ausências. Os anseios conti-
nuam, mas não são os mesmos, pois o poeta mudou com o
tempo, embora continue poeta, afinal somos mesmo assim.




                              61
Geraldo Ráiss
avieno@bol.com.br
Livro produzido pela
Câmara Brasileira de Jovens Escritores
      Rio de Janeiro - RJ - Brasil
   http://www.camarabrasileira.com
        E-mail: cbje@globo.com

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ANSEIOS da alma

  • 1. ANSEIOS Geraldo Ráiss 1ª Edição Câmara Brasileira de Jovens Escritores
  • 2. Copyright©Geraldo Ráiss Câmara Brasileira de Jovens Escritores Rua Crundiúba 71/201F - Cep 21931-500 Rio de Janeiro - RJ Tel.: (21) 3393-2163 www.camarabrasileira.com cbje@globo.com Abril de 2009 Primeira Edição Coordenação editorial: Gláucia Helena Editor: Georges Martins Produção gráfica: Alexandre Campos Revisão: do autor É proibida a reprodução total ou parcial desta obra, por qualquer meio e para qualquer fim, sem a autorização prévia, por escrito, do autor. Obra protegida pela Lei de Direitos Autorais
  • 3. Geraldo Ráiss ANSEIOS Abril de 2009 Rio de Janeiro - Brasil
  • 4.
  • 5. ÍNDICE Introdução Ausência Poetas são mesmo assim Claustro Solidão Uma flor para o destino Ah se eu pudesse voar. O mar e o pescador O deus que em mim habita Engano pensarmos que somos um Sei que sou repetitivo Tristeza de poeta Predição de um Tratado Ao que me resta Devaneio O que ninguém nos rouba, e nunca saberá O tudo é o que se mata em vida. Corpo fechado Inimigo meu Minha alma, meu refúgio Não importa de onde eu vim Apenas um gesto bastaria Atarantado Depois do funeral E o tempo me espera Hipotética é a mente Era...de aquário Os deuses sabem o que fazem O sopro da vida Resposta a um amigo Os passos são passos Os olhos não mentem Culpa O vaso Gigante sem voz
  • 6.
  • 7. Este livro é dedicado aos meus amigos das noites boemias, lembrando que quase todo boêmio é um poeta.
  • 8.
  • 9. Agradecimentos especiais Ao artista plástico Márcio José Banéga, pelas ilustrações em aquarela, que enriqueceram o livro, À Beatriz Aparecida Rodrigueiro, que com sua sensibilidade de poetisa soube captar a essência da obra.
  • 11. ANSEIOS Introdução Anseio. Substantivo masculino, aqui no plural, ANSEIOS. Ou talvez verbo transitivo direto, não importa, já que nós seres humanos ansiamos por tantas coisas, até por nós mesmos. Quem sabe uma palavra amiga do nosso espe- lho, ou talvez um espelho novo, quem sabe? Os poemas das páginas seguintes foram escritos entre os anos de 1999 e 2001, muitas vezes brotaram de conversações íntimas com o espelho, espelho esse planta- do em um coração ansioso pelo conhecimento de si pró- prio, e um pouco pelo entendimento do espelho alheio, tarefa árdua já que nem sempre é fácil transformar senti- mentos em palavras. ANSEIOS não é um livro de propostas, tampouco de soluções, mas é talvez um Tratado interior dos vários “eus” residentes em nós, e que muitas vezes são acionados na tenta- tiva de estancar feridas causadas por decepções e desilusões, e outras vezes festejar as alegrias da vida. Espero que alguns dos seus “eus” se identifiquem com alguns dos meus “eus”. 11
  • 13. ANSEIOS Ausência Ausência é arrebatar-se do corpo, em busca da liberdade É sentir necessidade até da palavra saudade Quão miserável é o ser que nem a tem pra sentir.... E quando a tem se ausenta por medo! ... medo que se tem da total entrega E quando se entrega faz brotar no ser, o desejo dessa ausência O que nos faz pensar que é necessária essa dualidade de sentimentos Que move o Homem, e o faz caminhar para sua própria ausência! A felicidade em sua plenitude é ausente. Qual o ser que a tem por domínio? A luz sempre se afasta a dar lugar para sua ausência. E a noite toma seu lugar, e tudo parece mais ausente... Mas nos deleitamos com ela! O amor também é, às vezes, ausente Quantas vezes precisamos dele, e nesse momento não está presente... E é ai que o reconhecemos e o valorizamos! E em tudo que é ausente nos encontramos Até no mais errante nos vemos, por lhe faltar o que temos E termos demais o que lhe falta. E nessa dualidade caminhamos, e crescemos, Tudo faz parte de nós 13
  • 14. Geraldo Ráiss Ser ou não ser não é mais a questão E sim a insensatez de não percebermos A ausência dos nossos próprios sentimentos! Ausência não é vazio, é desafio. E o Homem se alimenta disso para continuar vivendo, Pois na ausência da ausência, O perfeito se torna enfadonho em sua própria plenitude. Imagino o clamor de um anjo: sou perfeito, e então? Prova 01 CBJE 14
  • 15. ANSEIOS Poetas são mesmo assim Poetas falam de amor ...de outros, e dos seus. Às vezes falam do horror, e às vezes de Deus E eu, que nem me acho tão poeta assim, às vezes falo de mim Mas nem sempre palavras falam, noutras vezes podem até parecer banais, assim como o Homem ...muitas vezes é! Não tenho o hábito de reler o que escrevo ...entretanto acontece E é quando percebo o quão distante fiquei ...de mim, E chego a pensar se realmente fui eu, quem escreveu Contudo, não me causa deslumbre, pois ví que mudei... Não creiam por isso que sou louco, pois todo poeta de todos tem um pouco Falo de coisas que vejo, e muitas vezes do que não vejo, poetas são mesmo assim, falam pouco, mas muito vêem! 15
  • 17. ANSEIOS Claustro Pouco a dizer da vida, pois muito já foi dito A não ser falar da minha, mas quem se importaria? O mundo - esse lá fora - causa dor e agonia Ficarei então no meu, embebido do romântico Esgarçando a pele em fios, sussurrando desatinos Que só a mim não são ocultos Ninguém precisa saber do que é feito meu peito Torno o mudo, para o mundo O que quero faço ao meu redor Estou atrás do meu muro Empobreço até os versos Não importa. Lá não seria melhor. E se algum dia me cobrarem um lampejo Direi não ser eu, posto que nada vejo. 17
  • 18. Geraldo Ráiss Solidão Solidão. Às vezes ela vem E arrebata-me do lugar comum Arrastando-me ao oco de mim De onde procuro estar arredado Manifesta-se crua, nua Mostra-se impiedosa Faz-se tempestade Forçando-me a revirar em mim Feito a fúria de um furacão Solidão. Quantas vezes não peço aos céus Que de uma árvore, uma folha caia A me fazer companhia... Por compaixão Prova 01 CBJE 18
  • 19. ANSEIOS Uma flor para o destino O meu peito se abre ao vento E leva consigo a flor do destino Princípio inverso do lamento Que me guia pelo tempo indiscutido Rei dos meus próprios sonhos Sou eu o Rei, tolerante de mim mesmo Que flameja a luz sob meus passos Caminhando ardente, nu, ao vento Sou aquele que busca a altura Que muda a história, que muda vidas E ao contrário, não muda a sua Sou aquele que muda o curso Dos rios barrentos, das noites vazias E que leva ao vento o peito turvo Rei da alegria de outros, à procura da sua Vivo no tempo, silencioso como bruma 19
  • 21. ANSEIOS Ah se eu pudesse voar! Mais intrigante do que o mar, sou eu. Vivo a me perguntar, se confio nisso ou naquilo, e a despeito disso ou daquilo passa-se o tempo... e não fiz nem isso, nem aquilo Ah se eu pudesse ser como os pássaros, que apenas voam, não importa pra onde, apenas vão.... Não têm que pensar nisso ou naquilo, sabem que vão... sem hora ou destino, assaz confiantes, apenas cumprindo ligeiros instintos. Ah se eu pudesse ser como os pássaros! Viver pelos campos sorrindo e cantando, apenas sonhando, voando..... sem ter que pensar, pois quando penso não sonho, e se não sonho não vivo, e se não vivo não posso ser um pássaro, e não o sendo me privo, não sobrevôo o mar... E mais intrigante do que o mar, sou eu, que ao meio do caminho me fecho, e em mim não consigo nem confiar. Ah se eu pudesse voar! 21
  • 22. Geraldo Ráiss O mar e o pescador Das entranhas do mar pescam-se vidas, vidas caladas, e vidas ativas Para as profundezas do mar vão-se vidas, vidas ativas, que se tornam caladas Quando miro a beleza do mar, me fascina saber, que tal qual o pescador, os dois têm suas sinas... A sina de dar, e a sina de levar... ...vidas! Prova 01 CBJE 22
  • 23. ANSEIOS O deus que em mim habita O deus que em mim habita está cravado em minhas próprias marcas, que se espalham no infindo, navegando por estrelas que anseiam indicar a direção ao inacessível, feito uma cabala Esse deus que carrego comigo, ora me alegra, ora me devora, estou preso a ele em laço antigo, e não importam meus passos, pois ignora! Sequer haverá desprendimento (sem ele não vivo) e se na vida terrena é mortal, imortal eu sei que é – no infinito 23
  • 24. Geraldo Ráiss Engano pensarmos que somos um (pois um transcende o outro) De fato não sou um! Certeza (que tenho outro) Tolo, aquele que pensa ser o que vê (Pois nem a si percebe) Decididamente tenho outro, O que tem desejos inconcebíveis E que luta contra o que pensa ser O outro pede (a mim que se cumpra) E esse, quem penso ser, está preso, e no fundo luta Difícil é saber qual está certo Mas é certo que há batalha... É como se o outro e eu Partíssemos de dois pontos distantes, E que a vida nos levasse quase infinitamente Até um dia talvez, houvesse nosso encontro... E nesse instante já não seriam dois, Mas um único eu, A morar em mim Prova 01 CBJE 24
  • 25. ANSEIOS Sei que sou repetitivo Repetitivo eu sei que sou Muitas vezes sou, mas Enquanto de minha boca sair - Ou de minha mão o lápis deslizar Para as mesmas coisas dizer (ou escrever) - Quer dizer que ainda preciso dizer O dia em que não mais repetir Todos saberão que subtraí de mim O que de incômodo me causava (Mas quase tudo me incomoda...) Acho que serei sempre repetitivo 25
  • 26. Geraldo Ráiss Tristeza de poeta Dizem que todo poeta é triste Assim o dizem! Se falasse eu de amor Seria eu menos triste? Falar de amor em dias de hoje (...) Onde andará? Porventura ainda existe? Menos ainda falar de outrora, Pois é já outra hora Amei no ontem E não sei se fui amado. Nunca o saberei. Fui entregue às fantasias do amor E só me fiz sentir agravos Um poeta já nasce triste, Não importa sobre o que fale Melhor seria não sê-lo, Mas se acaso outro jeito não houver, Que seja apenas poeta, Nada mais. E pouco importa falar de amor Ou do inverso amor do mundo, Pois em cada canto da Terra, Brasil, Portugal ou China, Onde existir a vida Prova 01 Sempre haverá um poeta CBJE 26
  • 27. ANSEIOS Predição de um Tratado O meu lar só tem a mim E por todos os seus cantos - onde vago, existe um pouco de mim (só de mim!) E aos amigos que perguntam, o que de mim faço respondo - dizendo o que não faço ...Não faço me tornar preso, em troca de abraços, a dar alimento a laços, que bem sei, tolhem-me espaço No meu lar só tenho a mim! Mas às vezes me interrogo Se vale a pena (esse Tratado) -pois no ocaso, o que será de mim? 27
  • 28. Geraldo Ráiss Ao que me resta Eu rio dos meus dias, que foram Rios de às vezes claras águas, E vez ou outra, turvas, Tal o silêncio desses dias Eu rio. Passadas águas (...) Pensando sorrindo, ou lamentando Aquelas que ainda hão de vir Quem sabe do destino? Quem o saberá? Só me restou viver Prova 01 CBJE 28
  • 29. ANSEIOS Devaneio Não se pode ver além do monte Se não atingirmos o cimo Miro o nada por instantes, E percebo que no vazio O nada não existe Diante de mim, imagens De coisas que ainda não vi, Ou se vi não foi este quem viu! Minha mente ferve É tão confuso ver.... Penso no tempo... Existe realmente o tempo? Achei que ele que passava, Mas vejo que não (Eu passei por ele) E deixei rastos de outrora Que agora vejo... O tempo sempre esteve lá Guardado em meu peito Trilhando meu caminho 29
  • 30. Geraldo Ráiss Ele nunca se moveu Quem se move sou eu E se planto flores, sinto odores, Se não, tenho dores Pois quem plantou fui eu E do alto desse monte Miro o azul da cumeada (no horizonte) E entristeço ao perceber que o tempo não passou, Pois quem passou fui eu! Prova 01 CBJE 30
  • 31. ANSEIOS O que ninguém nos rouba, e nunca saberá (nossos sonhos) Se eu quiser posso subir aos céus Mas a quem devo indagar? Se preferir, perseguirei estrelas Mas para onde irão me levar? O meu Eu, a tudo permite Minha mente foge como raio, insanas fantasias Sou o que quero, e como quero Para ela já não há limites O que seria de mim sem a noite? Que me acolhe em braços macios E nenhuma palavra me sopra, E mesmo assim me conforta? Olhos cerrados... Parto para os mais altos vôos Não há barreiras em meu sonho, E assim desenho minha estória Produzo sons, movimentos e cores, Tudo é certo no meu mundo. Esboço sorrisos de contentamento, Afinal, tudo consigo em um segundo 31
  • 32. Geraldo Ráiss Não sei o quanto viajo Perco a noção do tempo Sinto o fim quando imagens embaralham, E travo batalhas comigo mesmo No meu sonho tudo é possível Até deixar de ser eu... É como um segredo que me ronda, Sem nenhum acesso, e que ninguém me rouba. Prova 01 CBJE 32
  • 33. ANSEIOS O tudo é o que se mata em vida Creio na vida quando me sinto livre, Livre a caminhar pela rua, sem medo. Creio na vida quando não vejo o futuro, O futuro nas ruas, em busca do nada. Creio na vida quando tenho sonhos, Sonhos que um dia sei ... poderão vingar. Creio na vida quando vejo nosso passado, Passado em nossos velhos, respeitado. Creio na vida quando vejo um povo, Um povo unido pelo mesmo ideal. Creio na vida quando posso partilhar, Partilhar da fauna e flora, sem vê-las de mim se amedrontar. Deixo de viver quando a cada dia, A cada dia ao abrir os olhos, um dos meus sonhos se vai. Deixo de viver quando meus lábios sentem falta, A falta de um costumeiro sorriso, que antes se espalhava. Começo a morrer quando percebo que em vão, Em vão é meu esforço para manterem eretos meus ombros. Meus ombros cansados, que aos poucos caem mais e mais, E mais distantes ainda ficaram meus ideais. 33
  • 34. Geraldo Ráiss Morro, quando não consigo ser quem sou, E quem sou não é assim tão mal É quando soa o desencanto, Dos encantos do meu sonho temporal. Cada lua que da minha vida é subtraída, Subtraída também é a certeza, De que se morre somente na carne, A carne, essa sim já é morta estando ainda em vida. Prova 01 CBJE 34
  • 35. ANSEIOS Corpo fechado O amor me visitou, ...e no momento seguinte me abandonou. Causou um vácuo visceral, ...e com requintes me apunhalou. Deixou aberta em mim, latejando, uma ferida sem fim, ...que bem sei, ainda não fechou. Essa dor que meu peito dói, e que corrói ...é certo que levarei E não passará um dia sequer sem que dela lembrarei, ...e sofrerei. E se mais tarde, quem sabe (eu) houver sido visitado ...pelo amor, ou a dor, empunharei o meu corpo fechado. 35
  • 36. Geraldo Ráiss Inimigo meu Inimigo meu, que transitas em minhas paragens, empertigado em toda sua intrepidez, diga-me ...qual meu espelho, onde devo começar. Onde tenho eu errado, pra poder me emendar? Sê meu aliado, para que eu possa nessa vida expiar alguns males meus, e quem sabe um dia reparar. Não penses que a mim fazes sofrer. ...Ao contrário, tuas observações só bem me trazem, com elas meu repouso é minha ronda, e meu espírito nelas se compraz. E até que possas me avistar como amigo, que sejas tu meu anjo que meus olhos abres, pois saibas, és mais meu amigo do que meu maior amigo, que para me proteger não ousa me ferir. Não que eu não o ame (pois amo) Mas agradeço a ti que sem entender, e mesmo sem querer, levas a me conhecer. Prova 01 CBJE 36
  • 37. ANSEIOS Minha alma, meu refúgio Oh alma que me acerca contra ti Minha razão, que é minha busca Meu âmago que me aperta, E me arrasta por todos os rumos. Acerca-te de mim No envolto de teu abraço Faça-me sentir parte de ti Envolva-me com teu laço. Não te percas de mim oh raio Não te faças assim fulgás Sê de mim meus passos, E no outono te aqueces em meus lábios. Arrasta-me por todos os rumos No envolto de teu laço Envolva-me com teu abraço, Para que no inverno aqueças meus lábios. 37
  • 38. Geraldo Ráiss Não importa (de onde eu vim) Alguns dizem que vim de um certo Adão (A quem não fui apresentado) Outros, de além mundo (Que não me lembro ter estado) Há os que sugerem - do barro Pode ser...todo dia sou quebrado Não importa donde vim Ou de quem vim Se alguém me pôs Apenas me pôs... E deixou-me Áptero, quebrantado, A volver-me em um labirinto de sonhos, desejos, e anseios sem fim. Quem me pôs ofereceu-me o mundo, mas esqueceu de apresentá-lo a mim, Ofereceu-me sonhos, mas não alertou-me de que era apenas pra sonhar, Deu-me um coração, Mas não disse que poderia amarfanhar. Prova 01 CBJE 38
  • 39. ANSEIOS Deu-me a vida! De Adão, do Universo, do barro, - Não importa! O que incomoda é o fato de sentir-me só, em um emaranhado sem evidências Tendo a cada dia que suscitar em mim respostas vagas sobre o que um dia foi, e no outro poderá vir a ser. Não, não importa de onde vim. 39
  • 41. ANSEIOS Apenas um gesto bastaria Apenas um gesto, um olhar (Se puderes me dar...) Não te cobro o falar Apenas um olhar Para que possas ver em mim Um risco de ti. Apenas um risco. Talvez um pouco do teu passado... Quem sabe, migalhas do meu presente! Sinta-me algo quase teu - vindo de ti Cries traços teus (em meus traços). Não te cobro o falar - senão um olhar Não te peço que fiques comigo pra sempre Mas que fiques enquanto durar teu olhar Tão meu... - o teu olhar Por um instante não cales tuas mãos Antes, percorra meus cabelos... E que deslize até minha face Tão exausta quanto a tua! Navegues por mim, em mim E me deixe sentir a tua presença Antes que ela se vá (de mim) E talvez nunca mais eu possa chamar-te -“pai”! 41
  • 42. Geraldo Ráiss Atarantado Ando trateado com o mundo Que tem várias faces E me torno intratável, Atarantado, trêfego E já não consigo sequer trautear Prova 01 CBJE 42
  • 43. ANSEIOS Depois do funeral Há alguns passos, Atrás do último, Observo o féretro, A caminho do túmulo Rostos pálidos - lá se vão Com olhos úmidos, Contando os passos Do amigo ao lado Aperto os meus, E ouço cochichos De senhoras de preto Falando do morto – tão nobre, tão bom! Há também curiosos, Que como eu Só querem saber quem passou Desta pra melhor, ou quem sabe lá... A verdade é uma só, Ataúde baixado Dobra-se a esquina, Seca-se os olhos, Cuida-se da vida, E espera-se pelo próximo. 43
  • 44. Geraldo Ráiss ...E o tempo me espera Um rosto dentro de mim se abate, e me delata Já não tenho mais tempo – esse não cessa. Corro contra ele, querendo encontrar seu fim, mas em vão – ele não cessa. Não hei de dizer o que vai de mim – mas ele me delata (o rosto) Arrasta-me contra o outro, que muito maroto, me espera – porque esse não cessa (o tempo) Prova 01 CBJE 44
  • 45. ANSEIOS Hipotética é a mente sem a emoção Hipoteticamente darei asas à imaginação Hipoteticamente poderei idear uma grande canção Hipoteticamente viverei - nos dias que virão Hipoteticamente está certo - o sim e o não Por hora, o que sei não ser hipotético, é o agora O exato momento em que fala o meu coração, é quando não uso minha razão! 45
  • 46. Geraldo Ráiss Era... De Aquário Espaçonave, satélite, computador Ciência, doença e dor Rios, mares e falta de amor E o Homem mudou? Ecologia, anemia, hipocrisia Política, preconceito e carestia Profetas, líderes, donos da verdade E o Homem mudou? Almas vendidas, paternalismo Crianças na rua Fobia e craque Aquário na esquina....que sina! Que nada, Transcendente é a mente Que sente! Que mente! Homem decadente Emergente do nada Primata caricata, Aquário é piada Prova 01 CBJE 46
  • 47. ANSEIOS Mundo novo à vista? Imperialistas, poetas, terroristas, Fome, Timor, rancor, Nova era... transcende... letras, letras, letras.... Atitude! 47
  • 49. ANSEIOS Os deuses sabem o que fazem Os deuses sabem o que fazem Pensais vós o contrário? Achais que tudo está a se perder? Então digo-vos: não sabeis o que dizeis, Pois os deuses sabem o que fazem! Porventura achais que à vossa porta anda a bater a solidão? Refletis então: o que é a solidão? Não sabeis pois, ser um estado em transição? Quereis fazer dela, morbidez? Engana-vos, porquanto também ela se move, e acima de vós tudo se renova. Reclamai-vos de, aos deuses não ver, então devo provocar-vos: - e o ar, podeis ver? É certo que não, mas ele é, e no entanto vós o percebeis na face (quando ele se renova) Pois a todo segundo ele também é outro, e nem por isso, sente-se só! Se a vós fosseis concedido o poder de vê-lo, veríeis que não há lamento ...então por que achais estar só? Não o tem como estimulo a se renovar? Quereis ainda respirar àquele que já passou? Pois esse não vos serve mais! 49
  • 50. Geraldo Ráiss Vigiais: a solidão não existe se há renovação! Não haveis inquietai-vos com o estar só, ...pois não está Os deuses sabem o que fazem! Prova 01 CBJE 50
  • 51. ANSEIOS O sopro da vida Imaginas andando por uma estrada, e de repente, um forte vento vem ao teu encontro forçando-te a diminuir os passos induzindo-te a uma parada brusca! Algumas vezes a vida é como o vento, sopra quando quer, onde quer, na velocidade que aprazar, e noutras vezes dá-nos a impressão de não soprar, tal o seu estado apático Mas enganas, pois nesse momento ela está vindo ao teu encontro, e tal é sua força, que te faz pensar estar parado! Mas digo-te que, se tu não caminhares mais lentamente nesse instante, não terás força suficiente, logo à frente. 51
  • 52. Geraldo Ráiss Sê sensato, e espere, pois o vento que veio do Norte, certamente virá do Sul, impulsionando a ti, e tudo que está a tua volta. E pensarás então que mudaste a direção. Mas não... continuarás caminhando para frente. Não fosse assim, não suportarias O grande sopro que é a vida! Prova 01 CBJE 52
  • 53. ANSEIOS Resposta a um amigo (inclinação suicida) Quanto às horas a fio de trabalho, Devo dizer que: - Não é bom que se tente penetrar No que ainda é impenetrável, Pois a busca frenética, às vezes Pode se tornar patética Aos olhos de quem vê! Saiba que a ti não é dado ver tudo - por hora, Prudente é que retomes a calma, E cuide bem do presente, Pois como há de querer ver à frente Se hoje não sabes ao menos o que sentes? Não é justo que a ti te percas, E nem que te percas dos teus, Pois pensas que sabes, Mas não tens idéia nenhuma Do que é perder-se em alucinações e palpitações, Desejar voltar atrás, e não poder! Procures ficar em paz, Andes apenas aonde a ti é permitido pisar, Ademais ...deixe o tempo se encarregar. 53
  • 54. Geraldo Ráiss Os passos são passos Deixe que teus passos o levem aonde quer que eles te levem. Levante o cenho, e tente ...Tente ver o que está à frente. Veja (...) A própria palavra diz: “passo” ...Já passou! Outros vêm atrás de ti e seguem teus passos Deixe que estes os apaguem Segue tu, as pegadas dos que estão à tua frente. Da flor que ficou para trás, Ainda restou a semente - aquela que um dia tu plantaste, E embora não percebas hoje, Caíram, e germinaram na depressão causada pelos teus passos. Deixa, pois, que teu passo direito Leve o teu esquerdo, São apenas passos. Prova 01 CBJE 54
  • 55. ANSEIOS Os olhos não mentem Antes de dizer palavras, certifiques de que vêm de dentro do coração. Já é tempo de não te enganar, saias pois, do mundo da ilusão, os olhos não mentem! De todos os sentidos, que porventura te possam iludir, e a outros confundir, há um a que não podes fugir: a visão, pois os olhos não mentem! Procures sempre dizer a emoção, não a encubras com a tua razão, é melhor que mostres tua fragilidade sem passar por ela, a ficares vulnerável aos tropeços da tua falta de visão. Lembra-te, podes até fugir da tua própria insensatez, pois a conheces bem, porém não esqueças de lembrar também que os olhos não mentem! 55
  • 56. Geraldo Ráiss Faze o entender e o agir dentro das leis do amor, para que no futuro evites tantos dissabores. Prova 01 CBJE 56
  • 57. ANSEIOS Culpa Antes que o fogo da mágoa, seja atiçado em teu coração... Perdoe! Perdoe o ontem e o hoje, quantas vezes forem precisas A fim de evitares que a brasa da culpa permuta partes de ti, e enverede teu ser a um permanente estado de fuga Fuga de ti mesmo, - da tua própria culpa, por sentires incapaz de transgredir as invioláveis verdades, que a ti mesmo impuseste. Cuida para que o teu amanhecer seja claro e límpido E fertilize com a compreensão, os jardins do teu coração. 57
  • 58. Geraldo Ráiss O vaso O vaso está ali, Logo ali... Sobre aquela mesa. Passo por ele hora e outra, Admiro sua beleza, Imagino as mãos do oleiro Manipulando suas curvas Até que um dia, por descuido, Ele cai, e se quebra! Na vida é assim, Tudo tem um fim E ainda que aquele vaso eu substitua por outro parecido, não será o mesmo. Não mais verei aquelas curvas, pois já serão outras, as mãos. Prova 01 CBJE 58
  • 59. ANSEIOS Gigante sem voz Que terra é essa, que já nasceu dividida Desprendendo-se em Continente A dar origem uma imensa riqueza Em tons verdes, ouro e prata? Que acolhe toda raça Num só abraço, ardente, E encena a cada passo um novo ato, A se propor em força que anima. Dos mananciais aos áridos - antagonistas Que ferem toda uma gente (Que pensa ser protagonista) De uma história, que por condição lhe fora imposta Que terra é essa, que em meio a tanto tesouro Golpeia feito serpente Olhares assustados e famintos, A espera da hora a promulgar? 59
  • 60. Geraldo Ráiss E no cantar de um pássaro, clama o sertão A todo ser ausente Que lhe foi dito a buscar Numa esperança, que chega a lhe atormentar Quisera eu falar de flores, encantos e recantos, E bradar sons em tons poeticamente, Em cada canto declarar o meu amor Em versos e rimas, a esta terra com louvor Este solo que abriga a arte ... (de viver modestamente) Dá asas a Lobatos e Jorges Para que alcemos vôos de toda sorte E assim a temos como morada E dela colhemos intensamente Todo fruto do futuro que há de vir, E que esse fruto doe voz a esse gigante chamado Brasil! Prova 01 CBJE 60
  • 61. ANSEIOS Final Hoje, ano 2009. Há dez anos atrás eu conversava com meu espelho interior e outras vezes com o espelho alheio, como foi dito na Introdução deste livro. Muitas das minhas indagações foram dissolvidas nesses anos, e outras ainda es- tão à baila, muitas mudanças se concretizaram, nada foi em vão. Novos amigos foram feitos, antigas ilusões foram desfei- tas, pois não passaram de ilusões, assim como os amores. A vida transita, e o amadurecimento vai estilhaçando aos pou- cos nossos espelhos até que eles se quebrem totalmente, res- tando apenas nós. O claustro vai se iluminando e vamos tro- cando de morada, o corpo fechado vai se abrindo deixando alguns medos para trás, dando lugar ao novo, e a vida vai so- prando a despeito das carências e ausências. Os anseios conti- nuam, mas não são os mesmos, pois o poeta mudou com o tempo, embora continue poeta, afinal somos mesmo assim. 61
  • 62.
  • 64. Livro produzido pela Câmara Brasileira de Jovens Escritores Rio de Janeiro - RJ - Brasil http://www.camarabrasileira.com E-mail: cbje@globo.com