O relatório analisa os dados de crédito de maio divulgados pelo Banco Central. O estoque total de crédito cresceu 1,5% no mês e 16,1% no ano, mas desacelerou frente ao ano passado. O crédito direcionado continuou impedindo uma desaceleração maior, com destaque para o crédito habitacional e do BNDES. Porém, a dependência do crédito direcionado e público para sustentar o crescimento acima de 16% é vista como inconsistente e preocupante.
Atividade: Erraticidade e Riscos | Comentários Diários de Economia e Negócios
Pine Flash Note: Dinâmica desfavorável para o crescimento
1. Pine Flash Note: Dinâmica desfavorável para o crescimento
25 de Junho de 2013
O Banco Central divulgou a nota à imprensa sobre Política Monetária e Operações de Crédito
do SFN referente a maio nesta terça-feira. O estoque total atingiu R$ 2.487 bilhões,
representando uma alta nominal mensal de 1,5% e anual de 16,1%; assim, frente ao ano
passado, continuamos a ver uma desaceleração do saldo total. O crédito direcionado, mais
uma vez, impediu um maior resfriamento do estoque (ver tabela abaixo). De qualquer forma,
segundo cálculos do BC, a relação crédito/PIB atingiu 54,7% no mês passado contra 50,3% em
maio/12; este é seu maior nível desde o início da nova série histórica.
Estoque de crédito: crescimento mensal e nominal
Fonte: Banco Central; elaboração: PINE Macro & Commodities Research
O saldo com recursos direcionados subiu 24,7% na comparação anual e 2,0% na margem,
ritmo superior ao saldo com recursos livres, que avançou 10,4% (% a/a) e 1,2% na margem. Os
destaques do crédito direcionado foram, mais uma vez, as elevações de 33,8% do crédito
habitacional e de 17,0% (% a/a) das operações do BNDES.
A moderação do crédito livre veio na esteira tanto do desaquecimento do crédito à pessoa
física (PF), que subiu apenas 8,6% (% a/a), quanto à PJ (+12,4% a/a). A desaceleração foi
liderada pelo recuo do saldo de crédito para veículos, pelo menor ímpeto do cheque especial
e pelo fraco avanço do saldo do cartão de crédito; da mesma forma, segue o abrandamento
do crédito para capital de giro.
Crédito com recursos livres e direcionados: clara discrepância
Fonte: Banco Central; elaboração: PINE Macro & Commodities Research
Reflexo do gráfico acima, os bancos públicos seguem ampliando seu market share. O fato
explica a redução da taxa de juros média cobrada nas operações de crédito a despeito da
elevação dos custos de captação dos bancos. De fato, mesmo com o início do ciclo de alta da
Selic e a manutenção da inadimplência em patamares altos, o spread voltou a ceder. No
curto prazo, a agressividade dos bancos públicos seguirá limitando o repasse do aumento de
custos para as taxas finais.
mar/13 abr/13 mai/13 mar/13 abr/13 mai/13
Estoque 1,8% 0,9% 1,5% 16,7% 16,3% 16,1%
Livre 1,5% 0,3% 1,2% 12,0% 10,9% 10,4%
Direcionado 2,2% 1,8% 2,0% 24,0% 24,5% 24,7%
m/m a/a
10
12
14
16
18
20
22
24
26
jan/12
abr/12
jul/12
out/12
jan/13
abr/13
(% a/a)
Recursos livres
Recursos direcionados
Total
2. No entanto, considerando de um lado a expectativa de continuidade do ciclo de alta da taxa
básica, que implica a elevação da taxa de captação e, de outro, a perspectiva de baixo
crescimento da economia, que sugere uma maior fragilidade de empresas e famílias, é
pertinente considerar uma ampliação das taxas de aplicações dos bancos e dos spreads ao
final do 2S13.
Agressividade dos bancos públicos e racionamento do crédito privado
Fonte: Banco Central; elaboração: PINE Macro & Commodities Research
Por falar em inadimplência, a taxa do crédito com recursos livres PF estabilizou em 7,5% em
maio depois de quatro quedas seguidas. Para a pessoa jurídica, a taxa permanece próxima à
máxima recente, em 3,7%. Para junho, a retomada das concessões foi mais favorável do que o
observado no início do ano, o que beneficia a solvência de empresas e famílias. De fato, em
maio, as concessões livres de crédito, depois de desacelerarem nos primeiros meses do ano,
voltaram a em maio (dados ponderados por dias úteis), com o maior impulsiono vindo da
pessoa jurídica.
Inadimplência (recursos livres): estabilização da melhora
Fonte: Banco Central; elaboração: PINE Macro & Commodities Research
10%
15%
20%
25%
30%
35%
40%
45%
50%
2003
2004
2005
2006
2007
2008
2009
2010
2011
2012
2013
Participação porcontrole de capital
Público Privado nacional Estrangeiro
3.0
3.3
3.7
4.0
6
7
8
9
mar/11
jun/11
set/11
dez/11
mar/12
jun/12
set/12
dez/12
mar/13
Inadimplência recursos livres
PF PJ (dir.)
-20%
-10%
0%
10%
20%
30%
40%
50%
2003
2004
2005
2006
2007
2008
2009
2010
2011
2012
2013
% a/a
Público Privado nacional Estrangeiro
3. Em suma, os dados divulgados em maio trazem sinais mistos: se de um lado o saldo continua
desacelerando e a inadimplência parou de cair, de outro o fluxo melhorou e as taxas/spreads
voltaram a recuar. A dependência do crédito direcionado e, de forma análoga, do crédito
público para sustentar o crescimento acima de 16% preocupa e sugere uma inconsistência
nesses níveis. Como argumentamos acima, o ciclo de alta da Selic conjugado com a
perspectiva de baixo crescimento da economia implica a ampliação dos spreads e, em um
segundo momento, da inadimplência ao final do 2S13. Sendo assim, mantemos nossa
expectativa de continuidade do desaquecimento do crédito livre.
Marco Antonio Maciel
Economista-chefe
Pine
Marco Antonio Caruso
Economista
Pine