SlideShare une entreprise Scribd logo
1  sur  6
Télécharger pour lire hors ligne
Akrópolis, Umuarama, v. 18, n. 2, p. 109-114, abr./jun. 2010 109
POR QUE HEIDEGGER E A POESIA?
WHY HEIDEGGER AND THE POETRY?
Elnora Gondim1
Osvaldino Marra Rodrigues2
1
Mestre em Filosofia/PUCSP. Douto-
randa em Filosofia/PUCRS. Professora
de Filosofia/UFPI.
2
Mestrando em Filosofia/UFPI.
Recebido em Janeiro/2010
Aceito em Março/2010
GODIM, E. RODRIGUES, O. M. Por que heidegger e a poesia?.
Akrópolis Umuarama, v. 18, n. 2, p. 109-114, abr./jun. 2010.
Resumo: Para Heidegger, a linguagem e, mais precisamente, a poe-
sia são entendidas como o lugar privilegiado de manifestação do Ser.
Neste sentido, Hölderlin é, para Heidegger, o grande poeta, e a relação
entre os dois é a mesma que aquela entre a filosofia do Ser e a poesia.
Assim, Hölderlin abre poeticamente o lado oculto da historia ocidental
no sentido da sua verdade mais velada. E Heidegger vê na obra de
Hölderlin um impulso para a linguagem elevar-se de um sentido coti-
diano (o do discurso) tornando-se, desta forma, um lugar privilegiado
de manifestação do Ser.
Palavras-chave: Heidegger; Hölderlin; Poesia; Ser; Sentido.
Abstract: For Heidegger, language and, more specifically, poetry is
perceived as the privileged place of manifestation of Being. In this sen-
se, is Hölderlin for Heidegger, the great poet and the relationship be-
tween the two is the same as that between philosophy of Being and
poetry. Thus, Hölderlin poetically opens the hidden side of history in the
Western sense of its truth more covert. And Heidegger sees the work of
Hölderlin a push to raise the language is an everyday sense (the spee-
ch) making it this way, a privileged place of manifestation of Being.
Keywords: Heidegger; Hölderlin; Poetry; Being; Meaningless.
Akrópolis, Umuarama, v. 18, n. 2, p. 109-114, abr./jun. 2010110
GODIM, E. RODRIGUES, O. M.
1. Heidegger e a Poesia
1.1. Visão panorâmica
A pergunta fundamental da filosofia de
Heidegger é aquela sobre o sentido do Ser. As-
sim, a questão maior não é o homem, mas o Ser
em ser conjunto. Ele é que torna possível a aber-
tura para a compreensão da existência humana,
porque habita a linguagem poética e criadora.
Nesta perspectiva, o Ser não é um ente; é sinô-
nimo de responsabilidade pela linguagem. Ele,
porquanto podemos identificá-lo com o nada,
não pode ser compreendido a partir de nenhum
ente, por este motivo o Ser é transcendente em
relação ao ente.
Sob esta ótica, compreender a filosofia
de Heidegger é mudar o sentido da orientação
do olhar e da escuta, é fazer uma ligação primei-
ra entre o pensar, o Ser, o homem e a linguagem.
Assim sendo, na poesia se encontra as mensa-
gens do Ser. Nela ecoa a sua voz, por isto, o
homem antes da fala, deve escutar o apelo do
Ser. Desta forma, será a palavra resgatada da
sua essência. A poesia, então, está relacionada
com a questão do sentido do Ser e da verdade e
o poeta é aquele que escuta todas as vibrações
do vazio.
Neste sentido, Heidegger conclama o
poeta que encarna a essência da poesia. O poe-
ta heideggeriano vive em um tempo que ocorre
entre a geração decadente e a geração que es-
tão por nascer. Viver entre o celeste e o terres-
tre e entre o passado e o futuro. Ele é uma voz
que significa uma alerta. Neste sentido, audição
é aqui prioridade. Ela nos faz ver o mundo em
uma múltipla diversidade interior, porque os sons
permanecem eternamente nos homens, assim,
o poema é a morada do poeta ou o poeta é a
morada do poema. Porém, o diferencial entre o
poeta e o poema é que este dura para sempre.
É somente através, e pela poesia, que
Hölderlin tem uma proximidade com o Ser e o
faz, porquanto toma o sentido de uma linguagem
mais radical como, também, nesta perspectiva,
celebra a natureza que é vista como os bosques,
as aves, o céu, os homens e deus.
Heidegger vê na poesia de Hölderlin a
escuta do chamamento do Ser. Para ele, este
poeta é mensageiro do divino, canta a terra, a
palavra do Ser e transporta com ele uma proxi-
midade com os deuses e com as coisas fundan-
do o que permanece.
1.2. Quem foi Hölderlin?
Por que se torna importante e necessá-
rio aqui se falar da biografia de Hölderlin? No
poeta de Lauffen, a poesia e a vida formam um
organismo no qual as partes compõem a figura
plena. Não se pode compreender Hölderlin sem
compreender sua vida. Isto é imiscuído ao seu
pensar poético que às vezes é trágico e lírico.
Portanto, a poesia de Hölderlin retrata, fielmen-
te, o que a sua própria vida significou.
Friedrich Hölderlin nasceu a 20 de
Março de 1770 em Lauffen, junto ao rio Neckar
e faleceu a 7 de Junho de 1843, em Tübingen.
Durante todo o século XIX ficou praticamente
esquecido. Friedrich Nietzsche, porém, resgata
sua poesia e chama-o o seu “liebling Dichter.”
Heidegger, leitor de Nietzsche, encontrou em
Hölderlin o manancial de água viva com a qual
embebia suas reflexões. Por intermédio de Hei-
degger, Hölderlin retornou ao mundo dos vivos
e atualmente é considerado um dos maiores po-
etas líricos da poesia alemã. Existem aspectos
controversos em sua vida como, por exemplo,
em 1807, ano em que Hölderlin enlouqueceu e
desde então até a morte, a sua poesia é a sua
loucura e a sua loucura é a sua poesia.
Friedrich Hölderlin estudou teologia no
seminário luterano Stift, em Tübingen, juntamen-
te com  Hegel e Friedrich Schelling. Através da
ajuda de Hegel, Hölderlin consegue trabalho na
casa do banqueiro Jakob Gontard, em Frank-
furt, onde lá se apaixonou por Susette Gontard,
esposa do banqueiro. O amor de Hölderlin e
Susette é recíproco, mas a situação se torna in-
sustentável. Por este motivo, Hölderlin abando-
na Frankfurt e vai refugiar-se em Homburg. No
entanto, Hölderlin tem uma forte crise depressi-
va em Bordéus e, em virtude dessa, atravessa a
fronteira da França a pé, ao saber da morte de
Susette Gontard - a “Diotima” de seus poemas.
Nos próximos 36 anos, até a data da sua morte,
a 7 de Junho de 1843 , Hölderlin permanece aos
cuidados de um dos seus grandes admiradores,
o carpinteiro Ernst Zimmers.
1.2.1. Amostragem da poesia de Hölderlin
Para compreendermos qual tipo de po-
esia Heidegger se refere, aqui apresentaremos
uma pequena amostragem do trabalho de Höl-
derlin:
Akrópolis, Umuarama, v. 18, n. 2, p. 109-114, abr./jun. 2010 111
Por que Heidegger...
“ Natur und Kunst oder Saturn und Jupiter”
(Natureza e Arte ou Saturno e Júpiter)
Tu governas sobre o dia e a tua lei floresce!
Tu seguras a balança, oh filho de Saturno!
E repartes os destinos e descansas, alegre,
Na glória da imortal arte de reinar.
Porém, os cantores dizem, para si, que outrora
Desterraste o santo pai, o teu próprio pai, para
O fundo do precipício, e lá em baixo, lá, onde
Reconheces todos os direitos aos selvagens,
O deus da idade do ouro lamenta-se, há tanto
tempo:
Outrora, quando ainda não proferia mandamen-
tos,
Nem nenhum dos mortais o tratava por nome,
Ele era, sem qualquer esforço, tão poderoso
como tu.
Para baixo então! Ou não te envergonhes de
agradecer!
Se queres ficar, serve o ancião, e concede-lhe,
de boa
Vontade, que seja nomeado pelos cantores
Diante de deuses e homens!
Abre os olhos! Pois assim como o teu relâmpa-
go
Vem das nuvens, também dele vem tudo quan-
to é teu.
E assim testemunha perante ele tudo quanto
lhe roubaste,
E que da paz de Saturno todo o poder cresceu.
E tenha eu no coração um sensação viva
E escureça tudo quanto tu moldaste
E que o tempo de mudança haja adormecido,
Para meu belo prazer, no berço dela:
Então reconheço-te, filho de Cronos! Então
escuto-te,
Sábio mestre, que tal como nós, filho do tempo,
Decretas leis, e , ao mesmo tempo, anuncias
O que o santo crepúsculo esconde.
ANDENKEN (Lembrança)
O vento de nordeste sopra,
o mais querido entre os ventos,
para mim, porque,
com espírito fogoso,
promete boa viagem aos navegantes.
Agora, vai e saúda o belo Garona
E os jardins de Bordéus,
Além, onde na margem estreita
há um pontão, e o ribeiro se
afunda na corrente; mas lá do cimo
um nobre par de castanheiros
e álamos brancos observa o mundo.
como bem me lembro
da floresta de ulmeiros  dobrando
o extenso cume, por sobre os moinhos.
No pátio, porém, cresce uma figueira.
Aos feriados, mulheres
Bronzeadas seguem
por caminhos de seda,
Até ao tempo de Março,
Quando o dia é igual à noite,
E em cima de vagarosos pontões,
Pesados como sonhos de oiro,
correm ventos harmoniosos .
Basta que me estendam,
Repleta de luz,
Uma das aromáticas taças
Para que possa descansar; pois doce
É a sombra do dormitar.
Porém não é bom,
Que, sem compaixão, se pense
nos mortos; mas é bom
Conversar-se e dizer-se o que nos
Vai no coração e ouvir muitas coisas
Sobre o dia do amor
E dos feitos que aconteceram.
Mas onde estão os amigos? Belarmino
com os companheiros? Alguns
Têm receio de descer à fonte;
A riqueza começa no mar.
Eles, como os pintores,
juntam a beleza da terra
e não receiam as asas da guerra,
e não temem viver sozinhos,  anos
e anos, debaixo do mastro glabro, onde os
feriados da cidade não iluminam a noite,
nem se ouve o toque das cordas,
 nem os nativos dançam.
 
Mas agora, os homens
foram ter com os índios, além,
Junto ao ventoso pico, nos vinhedos,
onde o Dordonha desce
e junto com o Garona,
largo como um mar,
Akrópolis, Umuarama, v. 18, n. 2, p. 109-114, abr./jun. 2010112
GODIM, E. RODRIGUES, O. M.
dispersa a corrente. E o mar
tanto dá como recebe lembranças,
e o amor também se pega aos olhos
mas o que fica,
é fundado pelos poetas.3
1.3. Por que Hölderlin exerce tanta fascina-
ção na filosofia heideggeriana?
Em ampla medida, pois não é possível
esgotar tal tema aqui, propõe-se apontar uma
resposta para a indagação que, sempre, as pes-
soas fazem ao se defrontarem com o pensamen-
to tardio heideggeriano: por que Hölderlin exer-
ce tanta fascinação na filosofia heideggeriana?
É conveniente lembrar que Heidegger escreve,
entre 1936 e 1968, um livro intitulado “Aclaracio-
nes A La Poesia De Holderlin”. Já no Prólogo,
ele esclarece a razão pela qual Hölderlin ocu-
pou um lugar privilegiado em seu pensamento:
‘Dichas aclaraciones forman parte de un diálogo
entre un pensar y un poetizar cuya singularidad
histórica nunca podrá ser demostrada por la his-
toria de la literatura, pero sí por ese diálogo pen-
sante’4
.
Assim sendo, Heidegger ao começar a
pensar a história do Ser, sua trajetória foi intrin-
secamente unida à poesia de Hölderlin. Portan-
to, Heidegger (2005, p. 217) afirma:
La aclaración del poema debe de tratar vol-
verse superflua precisamente en pro de lo
poetizado. Pero el último y también el más
dificil paso de toda interpretación consiste en
eclipsarse con sus aclaraciones  ante el puro
alzarse ahí delante del poema. El poema que
así se alza en medio de su propia ley arroja
ya de suyo y de modo inmediato una luz so-
bre el resto de poemas,
E, em ampla medida, para compreender-
mos a posição da poesia de Hölderlin no pensa-
mento tardio de Heidegger, nada melhor do que
citarmos Gadamer (1981, p. 145):
Y ciertamente Heidegger, en un punto deci-
sivo de su pensamiento, el punto de la “vuel-
ta” (Kehre), se arriesgo conscientemente a
incorporar el lenguaje poetico de Holderlin
a la conciencia linguistica de su próprio pen-
sar. Lo que de este modo le fue posible decir,
constituye, para ese preguntar suyo que se
remonta por detras de la metafisica, el firme
suelo y fundamento sobre el cual encuentra
positiva satisfaccion su critica del lenguaje de
la metafisica y explicita toda destruccion de
los conceptos tradicionales
1.3.1. Heidegger e a aniquilação da coisa
O que angustiou Heidegger para que o
fizesse buscar uma saída mediante a poesia?
Para Heidegger, a ciência moderna aniquilou a
coisa. A coisidade da coisa, desta forma, vem
sendo aniquilada, permanecendo esquecida.
Assim, ficou oculto o sentido e a verdade do Ser
dos entes. Então, a coisidade da coisa não che-
ga a ser mostrada nem a ser falada. Porém, este
fato aconteceu com e na ciência moderna em
virtude da herança deixada pela metafísica gre-
ga, onde o ente foi tratado como presentidade.
Desde Platão até Kant os entes são tra-
tados como aquilo sobre o que se julga e não
como coisas. Na filosofia kantiana, por exemplo,
através da lógica transcendental será colocado
um conceito de Ser que pode ser definido por
meio dos juízos sintéticos a priori. Assim, tudo
é dito como objetividade, ou seja, o homem é
quem impõe as suas categorias e intuições aos
objetos. Desta maneira, Kant preencheu as lacu-
nas que a filosofia grega deixou, isto é, a filosofia
grega não elaborou com precisão de que forma
as coisas seriam determinadas, apenas deter-
minava a constituição ontológica dos entes pela
constituição dos juízos. Kant, através de sua re-
volução copernicana, supriu esta lacuna deixa-
da pelos gregos e, com isto, o modo de acessar
os entes recebeu a formulação que caracteriza
a época moderna. Aqui, o ser humano ocupa o
centro de tudo e é ele quem imprime as condi-
ções de possibilidade para toda experiência pos-
sível através das formas, de maneira a priori e
transcendental.
Heidegger, contudo, buscando superar a
estrutura ontológica da estrutura lógica dos juí-
zos, tem como solução buscar uma articulação
do sentido no mundo da vida. Assim, a verdade
transcendental heideggeriana é o mundo en-
quanto clareira para o Dasein, onde este é con-
dição de possibilidade existencial ontológica da
manifestação dos entes.
Desta forma, Heidegger abandona o lo-
3
Tradução de Luís Costa, do livro: Hölderlin “Sämtliche Gedichte“, Deutsche Klassiker Verlag, 1992
4
Para maiores informações: HEIDEGGER MARTIN, Aclaraciones A La Poesia De Holderlin. Editora: ALIANZA
Akrópolis, Umuarama, v. 18, n. 2, p. 109-114, abr./jun. 2010 113
Por que Heidegger...
gocentrismo kantiano, embora permanecendo
com a sua transcendentalidade. Portanto, o que
a filosofia heideggeriana nega é a centralização
da verdade no juízo, ou seja, nos princípios do
entendimento. O que permanece na teoria de
Heidegger, como resquícios da filosofia kantia-
na, é a noção do a priori no sentido de que o ho-
mem é o fundamento existencial – ontológico das
descobertas do ente, enquanto ente e de todas
as suas determinação ônticas. Neste sentido, na
filosofa heideggeriana, o lugar do juízo passa a
ser ocupado pelo mundo vivido e concreto.
Nas conferências dos anos 30, Heideg-
ger lança a questão sobre a coisa e levanta o
problema de como as coisas podem ser vistas
tendo dois parâmetros diferentes; o do senso co-
mum e o da ciência.
Heidegger coloca três sentidos para a
palavra coisa, são eles:
1 - o Ser simplesmente dado.
2 - o Ser dado mais acontecimentos.
3 - um algo que não seja nada;
Quando Heidegger se pergunta “o que é
uma coisa”, responde de uma forma negativa di-
zendo: ela não é uma proposição.
A coisa é uma mudança de questiona-
mento e avaliação. Coisa é algo que reúne a
quadratura, ou seja, terra, céu, deuses e mortais
e o poeta é a voz da própria coisidade da coisa
que é chegada até o homem.
Neste sentido, o mundo é um agitado
jogo de espelhos destes quatro itens. Desta for-
ma, Heidegger não trata de presentidade, mas
de coisas. Assim, os quatro elementos perten-
cem uns aos outros unificados nesta quantida-
de. E, somente, desta forma pode-se falar no
Ser coisa da coisa.
É nesta perspectiva que, segundo Heide-
gger, Hölderlin recebe um ditame. Por este moti-
vo, o poeta não foi o autor dos seus hinos. O que
ele fez foi ouvir as palavras do Ser, pois os hi-
nos de Hölderlin são as manifestações de algo.
Eles não são nem crianças nem imaginação e
nem representações. Eles falam sobre o espaço
e o tempo do Ser, formando a própria manifes-
tação do invisível. Assim, o poeta é aquele que
é fundante e, por este motivo Hölderlin capta a
ressonância das coisas onde elas não são con-
ceitualizadas, onde nada encaminha e, somen-
te, indica. A poesia é, então, ditada onde a pala-
vra é um ditame indicativo. Assim, Hölderlin está
exposto a dominância do Ser que é um suporte
vital e não descritivo.
Heidegger, desta forma, influenciado por
Hölderlin, afirma que tem que mudar a relação
do homem com a linguagem, porquanto a pa-
lavra precisa ser escutada e é neste momento
que o dizer poético funda o Ser. Nele a natureza
é instaurada e ocorre o poder essencial da tota-
lidade.
Dessa forma, os poetas são mensagei-
ros, sentinelas e observadores de tudo o que
ocorre no mundo. Eles captam os sinais, escu-
tam a voz silenciosa do Ser e, por este motivo,
eles estão entre os homens e os deuses. Assim,
a poesia é dádiva e os poetas são os fundadores
do Ser.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Mas, então, como ocorre a ligação de
Heidegger e a poesia? Para se entender a se-
gunda fase do pensamento de Heidegger, se-
gundo Loparic (2005, p.217), é necessário que
se saiba que:
A partir de 1930, esse panorama muda e
Heidegger começa a perceber que o que
caracteriza a nossa época não é o cotidiano
caseiro, analisado em Ser e Tempo, mas a
técnica, (...) A leitura de Jünger levou Heide-
gger às seguintes conclusões: 1) que a sua
fenomenologia da facticidade (do cotidiano)
de 1927 é ainda ingênua, 2) que ela não re-
presenta um ponto de partida adequado para
formular a questão do ser nos dias de hoje,
3) que a técnica moderna, pensada no hori-
zonte da metafísica nietzschiana da vontade
de poder, é o sentido do ser que prevalece,
4) que, portanto, Nietzsche é o pensador de-
cisivo a ser consultado em qualquer tentativa
de compreender e ultrapassar esse sentido
do ser. Essas conclusões levaram Heidegger
a constatar o fracasso do projeto de repensar
o sentido de ser em termos da ontologia fun-
damental, exposta em Ser e tempo.
Todavia, o abandono da analítica existen-
cial do Dasein significa que Heidegger percebeu
que através da analítica dos modos do Dasein
não se pode dar conta da questão do Ser. Por
isto mesmo, Heidegger opera um giro em seu
pensamento: a noção de linguagem eleva-se
de um sentido cotidiano (o de discurso) para se
tornar um lugar privilegiado de manifestação do
Ser, isto é, passa-se da pergunta pelo sentido do
Ser para aquela sobre a verdade do Ser.
Assim, a partir das conferências dos
Akrópolis, Umuarama, v. 18, n. 2, p. 109-114, abr./jun. 2010114
GODIM, E. RODRIGUES, O. M.
anos 30 ocorre uma reviravolta (Kehre) no pen-
samento de Heidegger. Nesta perspectiva, após
constatar que a ênfase na técnica resultou no
abandono do Ser, Heidegger, então, lança a
questão sobre a coisa e levanta o problema de
como as coisas podem ser vistas. É neste sen-
tido que Heidegger propõe a poesia como um
caminho para o retorno à experiência original
do pensamento. Ou seja, a linguagem e, mais
precisamente, a poesia, são entendidas como o
lugar privilegiado de manifestação do Ser.
Neste sentido, Hölderlin é para Heideg-
ger o grande poeta e a relação entre os dois é
a mesma que aquela entre a filosofia do Ser e
a poesia. Assim, Hölderlin abre poeticamente o
lado oculto da história ocidental no sentido da
sua verdade mais velada. Desta forma, Heide-
gger vê na obra de Hölderlin um impulso para a
linguagem elevar-se de um sentido cotidiano (o
do discurso) tornando-se, desta forma, um lugar
privilegiado de manifestação do Ser.
Então, de que maneira o homem forma
uma relação com o Ser? A resposta, de acordo
com Beaini (1981. p.80), seria:
A primeira relação para com a linguagem
(que é a de ouvir antes de falar, o dizer silen-
cioso do ser – condição de possibilidade para
todo o falar humano) é obtida pelo pensador
e pelo poeta, que, assumindo-se, captam a
dimensão de seu existir-no-mundo. Esta, ina-
cessível aos homens que não estão prontos
a ouvir o apelo do ser. (...) A missão do ho-
mem no mundo é a de, ouvindo o apelo do
ser, torná-lo palavra, no ato mesmo de fazer
nascer o mundo e as coisas.
No entanto, o homem não sabe ouvir o
silêncio, porquanto este está velado pela técni-
ca. Para Heidegger, a técnica sempre impõe e
determina o nosso agir, pensar e conduzir. Ela
nos substitui em nossas decisões, porquanto nos
oferece tudo delimitado. Como resposta para tal
situação de aniquilamento e manipulação, Hei-
degger propõe que sejamos “pastores do Ser”,
“cuidadores do Ser” e para tanto:
A abertura ao inaudito, a passagem pelo si-
lêncio, a ausência de referências do novo
possível significam, em última instância, a
reintegração da mais essencial determinação
do nosso ser, a reintegração da posse de nós
mesmos, da nossa condição de encarrega-
dos pelo ser. Que a técnica nos auxilie, mas
não nos retire de nós mesmos.5
BIBLIOGRAFIA
BEAINI, T. C. À escuta do silêncio: um estudo
sobre a linguagem no pensamento de Heidegger.
São Paulo: Cortes/Autores Associados, 1981.
CRITELLI, D. Martin Heidegger e a essência da
técnica. São Paulo: Margem, 2002.
GADAMER, G. Hegel y Heidegger. In: La dialéc-
tica de Hegel. Madrid: Ediciones Cátedra, 1981.
GIODANI, M. C. Iniciação ao existencialismo.
Petrópolis: Vozes, 1997.
GONDIM, E.; RODRIGUES, O. M. O transcen-
dentalismo de Heidegger. Madrid: El Gênio Ma-
ligno, 2009.
HEIDEGGER, M. Ser e tempo. Petrópolis: Vo-
zes, 1997.
______. Identidade e diferença. Portugal: Livra-
ria duas cidades, 1887.
______. Ensaios e conferências. Petrópolis:
Vozes, 2006.
______. Aclaraciones a la poesia de Holder-
lin. Madrid: Alianza, 2005.
JASPERS, K. Iniciação filosófica. Tradução
Manuela Pinto dos Santos. Lisboa: Guimarães,
1987.
LOPARIC, Z. Da representação das coisas as
coisas mesmas. Representaciones, v. 1, 2008.
RESWEBER, J. P. O pensamento de Martin
Heidegger. Coimbra: Almedina, 1971.
WERLE, M. A. Poesia e pensamento em Höl-
derlin e Heidegger. São Paulo: UNESP, 2005.
Poesias de Hölderlin. Tradução Luís Costa do
livro: Hölderlin “Sämtliche Gedichte“, Deutsche
Klassiker Verlag, 1992.
5
Para maiores esclarecimentos: CRITELLI, Dulce. Martin Heidegger e a essência da técnica. MARGEM, SÃO PAULO, No
16, p.-89.

Contenu connexe

Tendances

Intertextualidade e linguagem Catia Delatorre
Intertextualidade e linguagem   Catia DelatorreIntertextualidade e linguagem   Catia Delatorre
Intertextualidade e linguagem Catia DelatorreCatia Delatorre
 
Intertextualidade
IntertextualidadeIntertextualidade
Intertextualidadevanysouza
 
INTERTEXTUALIDADE
INTERTEXTUALIDADEINTERTEXTUALIDADE
INTERTEXTUALIDADESCMARQUES
 
Intertextualidade na Canção e Poesia
Intertextualidade na Canção e PoesiaIntertextualidade na Canção e Poesia
Intertextualidade na Canção e PoesiaAdilson P Motta Motta
 
Exercícios sobre intertextualidades
Exercícios sobre intertextualidadesExercícios sobre intertextualidades
Exercícios sobre intertextualidadesma.no.el.ne.ves
 
Revisando o trovadorismo, 01
Revisando o trovadorismo, 01Revisando o trovadorismo, 01
Revisando o trovadorismo, 01ma.no.el.ne.ves
 
Intertextualidade 2020
Intertextualidade 2020Intertextualidade 2020
Intertextualidade 2020Marcia Facelli
 
A intertextualidade: micro-aula
A intertextualidade: micro-aulaA intertextualidade: micro-aula
A intertextualidade: micro-aulaMiquéias Vitorino
 
Intertextualidade e Paráfrase
Intertextualidade e ParáfraseIntertextualidade e Paráfrase
Intertextualidade e ParáfraseJomari
 
Antologia poética (século XX e XXI)
 Antologia poética  (século XX e XXI) Antologia poética  (século XX e XXI)
Antologia poética (século XX e XXI)Laryssa Prudencio
 
Análise do poema: Procura da poesia - Carlos Drummond de Andrade
Análise do poema: Procura da poesia - Carlos Drummond de AndradeAnálise do poema: Procura da poesia - Carlos Drummond de Andrade
Análise do poema: Procura da poesia - Carlos Drummond de AndradeLeonardo Silva Coelho
 
Avaliaçãoii unidade
Avaliaçãoii unidadeAvaliaçãoii unidade
Avaliaçãoii unidadeManu Dias
 
Oficina de texto - Intertextualidades
Oficina de texto - IntertextualidadesOficina de texto - Intertextualidades
Oficina de texto - IntertextualidadesVera Lucia Paganini
 

Tendances (20)

Análise de poemas
Análise de poemasAnálise de poemas
Análise de poemas
 
Intertextualidade
IntertextualidadeIntertextualidade
Intertextualidade
 
Intertextualidade
IntertextualidadeIntertextualidade
Intertextualidade
 
Aula intertextualidade
Aula intertextualidadeAula intertextualidade
Aula intertextualidade
 
Intertextualidade e linguagem Catia Delatorre
Intertextualidade e linguagem   Catia DelatorreIntertextualidade e linguagem   Catia Delatorre
Intertextualidade e linguagem Catia Delatorre
 
Intertextualidade
IntertextualidadeIntertextualidade
Intertextualidade
 
INTERTEXTUALIDADE
INTERTEXTUALIDADEINTERTEXTUALIDADE
INTERTEXTUALIDADE
 
Slides Paráfrase
Slides Paráfrase Slides Paráfrase
Slides Paráfrase
 
Intertextualidade
IntertextualidadeIntertextualidade
Intertextualidade
 
Intertextualidade na Canção e Poesia
Intertextualidade na Canção e PoesiaIntertextualidade na Canção e Poesia
Intertextualidade na Canção e Poesia
 
Exercícios sobre intertextualidades
Exercícios sobre intertextualidadesExercícios sobre intertextualidades
Exercícios sobre intertextualidades
 
Revisando o trovadorismo, 01
Revisando o trovadorismo, 01Revisando o trovadorismo, 01
Revisando o trovadorismo, 01
 
Intertextualidade 2020
Intertextualidade 2020Intertextualidade 2020
Intertextualidade 2020
 
A intertextualidade: micro-aula
A intertextualidade: micro-aulaA intertextualidade: micro-aula
A intertextualidade: micro-aula
 
Intertextualidade e Paráfrase
Intertextualidade e ParáfraseIntertextualidade e Paráfrase
Intertextualidade e Paráfrase
 
Eugénio de andrade
Eugénio de andradeEugénio de andrade
Eugénio de andrade
 
Antologia poética (século XX e XXI)
 Antologia poética  (século XX e XXI) Antologia poética  (século XX e XXI)
Antologia poética (século XX e XXI)
 
Análise do poema: Procura da poesia - Carlos Drummond de Andrade
Análise do poema: Procura da poesia - Carlos Drummond de AndradeAnálise do poema: Procura da poesia - Carlos Drummond de Andrade
Análise do poema: Procura da poesia - Carlos Drummond de Andrade
 
Avaliaçãoii unidade
Avaliaçãoii unidadeAvaliaçãoii unidade
Avaliaçãoii unidade
 
Oficina de texto - Intertextualidades
Oficina de texto - IntertextualidadesOficina de texto - Intertextualidades
Oficina de texto - Intertextualidades
 

Similaire à Por que Heidegger e a poesia? Elnora Gondim e Osvaldino Marra Rodrigues

Amor, Pois Que é Palavra Essencial; Carlos Drummond De Andrade
Amor, Pois Que é Palavra Essencial; Carlos Drummond De AndradeAmor, Pois Que é Palavra Essencial; Carlos Drummond De Andrade
Amor, Pois Que é Palavra Essencial; Carlos Drummond De Andradecatiasgs
 
A Caminho da Linguagem - Martin Heidegger.pdf
A Caminho da Linguagem - Martin Heidegger.pdfA Caminho da Linguagem - Martin Heidegger.pdf
A Caminho da Linguagem - Martin Heidegger.pdfizabela domingos
 
mitologiagrega-hesodoehomero-120409200244-phpapp01 (1).pdf
mitologiagrega-hesodoehomero-120409200244-phpapp01 (1).pdfmitologiagrega-hesodoehomero-120409200244-phpapp01 (1).pdf
mitologiagrega-hesodoehomero-120409200244-phpapp01 (1).pdfssuser8823ba1
 
Genero Textual Crônica - Colégio Objetivo.pptx
Genero Textual Crônica - Colégio Objetivo.pptxGenero Textual Crônica - Colégio Objetivo.pptx
Genero Textual Crônica - Colégio Objetivo.pptxMauroSchneider4
 
AULA 2 CONCORDÃNCIA VERBAL.pdf
AULA 2 CONCORDÃNCIA VERBAL.pdfAULA 2 CONCORDÃNCIA VERBAL.pdf
AULA 2 CONCORDÃNCIA VERBAL.pdfDamarisRocha7
 
GENEROS_LITERARIOS_ANGELICA_SOARES_1.pptx
GENEROS_LITERARIOS_ANGELICA_SOARES_1.pptxGENEROS_LITERARIOS_ANGELICA_SOARES_1.pptx
GENEROS_LITERARIOS_ANGELICA_SOARES_1.pptxMarlene Cunhada
 
Apresentação para décimo segundo ano de 2016 7, segunda aula de cábulas
Apresentação para décimo segundo ano de 2016 7, segunda aula de cábulasApresentação para décimo segundo ano de 2016 7, segunda aula de cábulas
Apresentação para décimo segundo ano de 2016 7, segunda aula de cábulasluisprista
 
Literatura e Movimentos Literários - uma introdução
Literatura e Movimentos Literários - uma introduçãoLiteratura e Movimentos Literários - uma introdução
Literatura e Movimentos Literários - uma introduçãoCarolina Matuck
 
Diapositivos dia da poesia
Diapositivos dia da poesiaDiapositivos dia da poesia
Diapositivos dia da poesiaLuci Cruz
 
teoriadaliteratura-100703164724-phpapp01.pptx
teoriadaliteratura-100703164724-phpapp01.pptxteoriadaliteratura-100703164724-phpapp01.pptx
teoriadaliteratura-100703164724-phpapp01.pptxMarluceBrum1
 
Crítica ao livro «A Pedra Que Chora Como Palavras» de João Ricardo Lopes
Crítica ao livro «A Pedra Que Chora Como Palavras» de João Ricardo LopesCrítica ao livro «A Pedra Que Chora Como Palavras» de João Ricardo Lopes
Crítica ao livro «A Pedra Que Chora Como Palavras» de João Ricardo LopesMadga Silva
 
Diapositivos dia da poesia
Diapositivos dia da poesiaDiapositivos dia da poesia
Diapositivos dia da poesiaguesta742e2e
 

Similaire à Por que Heidegger e a poesia? Elnora Gondim e Osvaldino Marra Rodrigues (20)

Amor, Pois Que é Palavra Essencial; Carlos Drummond De Andrade
Amor, Pois Que é Palavra Essencial; Carlos Drummond De AndradeAmor, Pois Que é Palavra Essencial; Carlos Drummond De Andrade
Amor, Pois Que é Palavra Essencial; Carlos Drummond De Andrade
 
A Caminho da Linguagem - Martin Heidegger.pdf
A Caminho da Linguagem - Martin Heidegger.pdfA Caminho da Linguagem - Martin Heidegger.pdf
A Caminho da Linguagem - Martin Heidegger.pdf
 
mitologiagrega-hesodoehomero-120409200244-phpapp01 (1).pdf
mitologiagrega-hesodoehomero-120409200244-phpapp01 (1).pdfmitologiagrega-hesodoehomero-120409200244-phpapp01 (1).pdf
mitologiagrega-hesodoehomero-120409200244-phpapp01 (1).pdf
 
Genero Textual Crônica - Colégio Objetivo.pptx
Genero Textual Crônica - Colégio Objetivo.pptxGenero Textual Crônica - Colégio Objetivo.pptx
Genero Textual Crônica - Colégio Objetivo.pptx
 
Trovadorismo I
Trovadorismo ITrovadorismo I
Trovadorismo I
 
Aula cursinho
Aula cursinhoAula cursinho
Aula cursinho
 
Eugénio de Andrade
Eugénio de AndradeEugénio de Andrade
Eugénio de Andrade
 
O que é literatura
O que é literaturaO que é literatura
O que é literatura
 
fernando pessoa
 fernando pessoa fernando pessoa
fernando pessoa
 
AULA 2 CONCORDÃNCIA VERBAL.pdf
AULA 2 CONCORDÃNCIA VERBAL.pdfAULA 2 CONCORDÃNCIA VERBAL.pdf
AULA 2 CONCORDÃNCIA VERBAL.pdf
 
GENEROS_LITERARIOS_ANGELICA_SOARES_1.pptx
GENEROS_LITERARIOS_ANGELICA_SOARES_1.pptxGENEROS_LITERARIOS_ANGELICA_SOARES_1.pptx
GENEROS_LITERARIOS_ANGELICA_SOARES_1.pptx
 
Apresentação para décimo segundo ano de 2016 7, segunda aula de cábulas
Apresentação para décimo segundo ano de 2016 7, segunda aula de cábulasApresentação para décimo segundo ano de 2016 7, segunda aula de cábulas
Apresentação para décimo segundo ano de 2016 7, segunda aula de cábulas
 
Carlos Drummond de Andrade
Carlos Drummond de AndradeCarlos Drummond de Andrade
Carlos Drummond de Andrade
 
Literatura e Movimentos Literários - uma introdução
Literatura e Movimentos Literários - uma introduçãoLiteratura e Movimentos Literários - uma introdução
Literatura e Movimentos Literários - uma introdução
 
Diapositivos dia da poesia
Diapositivos dia da poesiaDiapositivos dia da poesia
Diapositivos dia da poesia
 
Carlos Drummond de Andrade
Carlos Drummond de AndradeCarlos Drummond de Andrade
Carlos Drummond de Andrade
 
teoriadaliteratura-100703164724-phpapp01.pptx
teoriadaliteratura-100703164724-phpapp01.pptxteoriadaliteratura-100703164724-phpapp01.pptx
teoriadaliteratura-100703164724-phpapp01.pptx
 
O beijo de sangue
O beijo de sangue O beijo de sangue
O beijo de sangue
 
Crítica ao livro «A Pedra Que Chora Como Palavras» de João Ricardo Lopes
Crítica ao livro «A Pedra Que Chora Como Palavras» de João Ricardo LopesCrítica ao livro «A Pedra Que Chora Como Palavras» de João Ricardo Lopes
Crítica ao livro «A Pedra Que Chora Como Palavras» de João Ricardo Lopes
 
Diapositivos dia da poesia
Diapositivos dia da poesiaDiapositivos dia da poesia
Diapositivos dia da poesia
 

Plus de beherega

Fausto Goethe
Fausto GoetheFausto Goethe
Fausto Goethebeherega
 
A Chama de uma Vela - Bachelard, Gaston.
A Chama de uma Vela - Bachelard, Gaston. A Chama de uma Vela - Bachelard, Gaston.
A Chama de uma Vela - Bachelard, Gaston. beherega
 
Andar a pé - David Henry Thoreau
Andar a pé - David Henry ThoreauAndar a pé - David Henry Thoreau
Andar a pé - David Henry Thoreaubeherega
 
Adorno e a música: novos procedimentos para uma nova filosofia - Rafael Reis ...
Adorno e a música: novos procedimentos para uma nova filosofia - Rafael Reis ...Adorno e a música: novos procedimentos para uma nova filosofia - Rafael Reis ...
Adorno e a música: novos procedimentos para uma nova filosofia - Rafael Reis ...beherega
 
A divina-comedia-dante-alighieri
A divina-comedia-dante-alighieriA divina-comedia-dante-alighieri
A divina-comedia-dante-alighieribeherega
 
A importância do silêncio taoísmo
A importância do silêncio   taoísmoA importância do silêncio   taoísmo
A importância do silêncio taoísmobeherega
 
A imagem física do mundo: de Parmênides a Eistein - José Leite Lopes
A imagem física do mundo: de Parmênides a Eistein - José Leite LopesA imagem física do mundo: de Parmênides a Eistein - José Leite Lopes
A imagem física do mundo: de Parmênides a Eistein - José Leite Lopesbeherega
 
A filosofia trágica na época dos gregos nietzsche
A filosofia trágica na época dos gregos nietzscheA filosofia trágica na época dos gregos nietzsche
A filosofia trágica na época dos gregos nietzschebeherega
 
A alegoria na tessitura de filon de alexandria - Cesar Motta Rios
A alegoria na tessitura de filon de alexandria - Cesar Motta RiosA alegoria na tessitura de filon de alexandria - Cesar Motta Rios
A alegoria na tessitura de filon de alexandria - Cesar Motta Riosbeherega
 
A Representação da realidade social em The Big Lebowsky - Marcos Fuzita Murata
A Representação da realidade social em The Big Lebowsky - Marcos Fuzita MurataA Representação da realidade social em The Big Lebowsky - Marcos Fuzita Murata
A Representação da realidade social em The Big Lebowsky - Marcos Fuzita Muratabeherega
 
07 lisistrata aristófanes
07 lisistrata aristófanes07 lisistrata aristófanes
07 lisistrata aristófanesbeherega
 
03 as-nuvens aristófanes
03 as-nuvens aristófanes03 as-nuvens aristófanes
03 as-nuvens aristófanesbeherega
 
Sobre a Liberdade - Albert Einstein
Sobre a Liberdade - Albert  EinsteinSobre a Liberdade - Albert  Einstein
Sobre a Liberdade - Albert Einsteinbeherega
 

Plus de beherega (13)

Fausto Goethe
Fausto GoetheFausto Goethe
Fausto Goethe
 
A Chama de uma Vela - Bachelard, Gaston.
A Chama de uma Vela - Bachelard, Gaston. A Chama de uma Vela - Bachelard, Gaston.
A Chama de uma Vela - Bachelard, Gaston.
 
Andar a pé - David Henry Thoreau
Andar a pé - David Henry ThoreauAndar a pé - David Henry Thoreau
Andar a pé - David Henry Thoreau
 
Adorno e a música: novos procedimentos para uma nova filosofia - Rafael Reis ...
Adorno e a música: novos procedimentos para uma nova filosofia - Rafael Reis ...Adorno e a música: novos procedimentos para uma nova filosofia - Rafael Reis ...
Adorno e a música: novos procedimentos para uma nova filosofia - Rafael Reis ...
 
A divina-comedia-dante-alighieri
A divina-comedia-dante-alighieriA divina-comedia-dante-alighieri
A divina-comedia-dante-alighieri
 
A importância do silêncio taoísmo
A importância do silêncio   taoísmoA importância do silêncio   taoísmo
A importância do silêncio taoísmo
 
A imagem física do mundo: de Parmênides a Eistein - José Leite Lopes
A imagem física do mundo: de Parmênides a Eistein - José Leite LopesA imagem física do mundo: de Parmênides a Eistein - José Leite Lopes
A imagem física do mundo: de Parmênides a Eistein - José Leite Lopes
 
A filosofia trágica na época dos gregos nietzsche
A filosofia trágica na época dos gregos nietzscheA filosofia trágica na época dos gregos nietzsche
A filosofia trágica na época dos gregos nietzsche
 
A alegoria na tessitura de filon de alexandria - Cesar Motta Rios
A alegoria na tessitura de filon de alexandria - Cesar Motta RiosA alegoria na tessitura de filon de alexandria - Cesar Motta Rios
A alegoria na tessitura de filon de alexandria - Cesar Motta Rios
 
A Representação da realidade social em The Big Lebowsky - Marcos Fuzita Murata
A Representação da realidade social em The Big Lebowsky - Marcos Fuzita MurataA Representação da realidade social em The Big Lebowsky - Marcos Fuzita Murata
A Representação da realidade social em The Big Lebowsky - Marcos Fuzita Murata
 
07 lisistrata aristófanes
07 lisistrata aristófanes07 lisistrata aristófanes
07 lisistrata aristófanes
 
03 as-nuvens aristófanes
03 as-nuvens aristófanes03 as-nuvens aristófanes
03 as-nuvens aristófanes
 
Sobre a Liberdade - Albert Einstein
Sobre a Liberdade - Albert  EinsteinSobre a Liberdade - Albert  Einstein
Sobre a Liberdade - Albert Einstein
 

Dernier

DIA DO INDIO - FLIPBOOK PARA IMPRIMIR.pdf
DIA DO INDIO - FLIPBOOK PARA IMPRIMIR.pdfDIA DO INDIO - FLIPBOOK PARA IMPRIMIR.pdf
DIA DO INDIO - FLIPBOOK PARA IMPRIMIR.pdfIedaGoethe
 
Slides Lição 03, Central Gospel, O Arrebatamento, 1Tr24.pptx
Slides Lição 03, Central Gospel, O Arrebatamento, 1Tr24.pptxSlides Lição 03, Central Gospel, O Arrebatamento, 1Tr24.pptx
Slides Lição 03, Central Gospel, O Arrebatamento, 1Tr24.pptxLuizHenriquedeAlmeid6
 
HORA DO CONTO3_BECRE D. CARLOS I_2023_2024
HORA DO CONTO3_BECRE D. CARLOS I_2023_2024HORA DO CONTO3_BECRE D. CARLOS I_2023_2024
HORA DO CONTO3_BECRE D. CARLOS I_2023_2024Sandra Pratas
 
Prática de interpretação de imagens de satélite no QGIS
Prática de interpretação de imagens de satélite no QGISPrática de interpretação de imagens de satélite no QGIS
Prática de interpretação de imagens de satélite no QGISVitor Vieira Vasconcelos
 
UFCD_10392_Intervenção em populações de risco_índice .pdf
UFCD_10392_Intervenção em populações de risco_índice .pdfUFCD_10392_Intervenção em populações de risco_índice .pdf
UFCD_10392_Intervenção em populações de risco_índice .pdfManuais Formação
 
A Arte de Escrever Poemas - Dia das Mães
A Arte de Escrever Poemas - Dia das MãesA Arte de Escrever Poemas - Dia das Mães
A Arte de Escrever Poemas - Dia das MãesMary Alvarenga
 
BRASIL - DOMÍNIOS MORFOCLIMÁTICOS - Fund 2.pdf
BRASIL - DOMÍNIOS MORFOCLIMÁTICOS - Fund 2.pdfBRASIL - DOMÍNIOS MORFOCLIMÁTICOS - Fund 2.pdf
BRASIL - DOMÍNIOS MORFOCLIMÁTICOS - Fund 2.pdfHenrique Pontes
 
ALMANANHE DE BRINCADEIRAS - 500 atividades escolares
ALMANANHE DE BRINCADEIRAS - 500 atividades escolaresALMANANHE DE BRINCADEIRAS - 500 atividades escolares
ALMANANHE DE BRINCADEIRAS - 500 atividades escolaresLilianPiola
 
Modelos de Desenvolvimento Motor - Gallahue, Newell e Tani
Modelos de Desenvolvimento Motor - Gallahue, Newell e TaniModelos de Desenvolvimento Motor - Gallahue, Newell e Tani
Modelos de Desenvolvimento Motor - Gallahue, Newell e TaniCassio Meira Jr.
 
Simulado 1 Etapa - 2024 Proximo Passo.pdf
Simulado 1 Etapa - 2024 Proximo Passo.pdfSimulado 1 Etapa - 2024 Proximo Passo.pdf
Simulado 1 Etapa - 2024 Proximo Passo.pdfEditoraEnovus
 
HORA DO CONTO5_BECRE D. CARLOS I_2023_2024
HORA DO CONTO5_BECRE D. CARLOS I_2023_2024HORA DO CONTO5_BECRE D. CARLOS I_2023_2024
HORA DO CONTO5_BECRE D. CARLOS I_2023_2024Sandra Pratas
 
QUARTA - 1EM SOCIOLOGIA - Aprender a pesquisar.pptx
QUARTA - 1EM SOCIOLOGIA - Aprender a pesquisar.pptxQUARTA - 1EM SOCIOLOGIA - Aprender a pesquisar.pptx
QUARTA - 1EM SOCIOLOGIA - Aprender a pesquisar.pptxIsabellaGomes58
 
Slides Lição 4, CPAD, Como se Conduzir na Caminhada, 2Tr24.pptx
Slides Lição 4, CPAD, Como se Conduzir na Caminhada, 2Tr24.pptxSlides Lição 4, CPAD, Como se Conduzir na Caminhada, 2Tr24.pptx
Slides Lição 4, CPAD, Como se Conduzir na Caminhada, 2Tr24.pptxLuizHenriquedeAlmeid6
 
Aula - 2º Ano - Cultura e Sociedade - Conceitos-chave
Aula - 2º Ano - Cultura e Sociedade - Conceitos-chaveAula - 2º Ano - Cultura e Sociedade - Conceitos-chave
Aula - 2º Ano - Cultura e Sociedade - Conceitos-chaveaulasgege
 
Aula - 1º Ano - Émile Durkheim - Um dos clássicos da sociologia
Aula - 1º Ano - Émile Durkheim - Um dos clássicos da sociologiaAula - 1º Ano - Émile Durkheim - Um dos clássicos da sociologia
Aula - 1º Ano - Émile Durkheim - Um dos clássicos da sociologiaaulasgege
 
Investimentos. EDUCAÇÃO FINANCEIRA 8º ANO
Investimentos. EDUCAÇÃO FINANCEIRA 8º ANOInvestimentos. EDUCAÇÃO FINANCEIRA 8º ANO
Investimentos. EDUCAÇÃO FINANCEIRA 8º ANOMarcosViniciusLemesL
 
Aula 1, 2 Bacterias Características e Morfologia.pptx
Aula 1, 2  Bacterias Características e Morfologia.pptxAula 1, 2  Bacterias Características e Morfologia.pptx
Aula 1, 2 Bacterias Características e Morfologia.pptxpamelacastro71
 
Aula 13 8º Ano Cap.04 Revolução Francesa.pptx
Aula 13 8º Ano Cap.04 Revolução Francesa.pptxAula 13 8º Ano Cap.04 Revolução Francesa.pptx
Aula 13 8º Ano Cap.04 Revolução Francesa.pptxBiancaNogueira42
 
trabalho wanda rocha ditadura
trabalho wanda rocha ditaduratrabalho wanda rocha ditadura
trabalho wanda rocha ditaduraAdryan Luiz
 

Dernier (20)

Orientação Técnico-Pedagógica EMBcae Nº 001, de 16 de abril de 2024
Orientação Técnico-Pedagógica EMBcae Nº 001, de 16 de abril de 2024Orientação Técnico-Pedagógica EMBcae Nº 001, de 16 de abril de 2024
Orientação Técnico-Pedagógica EMBcae Nº 001, de 16 de abril de 2024
 
DIA DO INDIO - FLIPBOOK PARA IMPRIMIR.pdf
DIA DO INDIO - FLIPBOOK PARA IMPRIMIR.pdfDIA DO INDIO - FLIPBOOK PARA IMPRIMIR.pdf
DIA DO INDIO - FLIPBOOK PARA IMPRIMIR.pdf
 
Slides Lição 03, Central Gospel, O Arrebatamento, 1Tr24.pptx
Slides Lição 03, Central Gospel, O Arrebatamento, 1Tr24.pptxSlides Lição 03, Central Gospel, O Arrebatamento, 1Tr24.pptx
Slides Lição 03, Central Gospel, O Arrebatamento, 1Tr24.pptx
 
HORA DO CONTO3_BECRE D. CARLOS I_2023_2024
HORA DO CONTO3_BECRE D. CARLOS I_2023_2024HORA DO CONTO3_BECRE D. CARLOS I_2023_2024
HORA DO CONTO3_BECRE D. CARLOS I_2023_2024
 
Prática de interpretação de imagens de satélite no QGIS
Prática de interpretação de imagens de satélite no QGISPrática de interpretação de imagens de satélite no QGIS
Prática de interpretação de imagens de satélite no QGIS
 
UFCD_10392_Intervenção em populações de risco_índice .pdf
UFCD_10392_Intervenção em populações de risco_índice .pdfUFCD_10392_Intervenção em populações de risco_índice .pdf
UFCD_10392_Intervenção em populações de risco_índice .pdf
 
A Arte de Escrever Poemas - Dia das Mães
A Arte de Escrever Poemas - Dia das MãesA Arte de Escrever Poemas - Dia das Mães
A Arte de Escrever Poemas - Dia das Mães
 
BRASIL - DOMÍNIOS MORFOCLIMÁTICOS - Fund 2.pdf
BRASIL - DOMÍNIOS MORFOCLIMÁTICOS - Fund 2.pdfBRASIL - DOMÍNIOS MORFOCLIMÁTICOS - Fund 2.pdf
BRASIL - DOMÍNIOS MORFOCLIMÁTICOS - Fund 2.pdf
 
ALMANANHE DE BRINCADEIRAS - 500 atividades escolares
ALMANANHE DE BRINCADEIRAS - 500 atividades escolaresALMANANHE DE BRINCADEIRAS - 500 atividades escolares
ALMANANHE DE BRINCADEIRAS - 500 atividades escolares
 
Modelos de Desenvolvimento Motor - Gallahue, Newell e Tani
Modelos de Desenvolvimento Motor - Gallahue, Newell e TaniModelos de Desenvolvimento Motor - Gallahue, Newell e Tani
Modelos de Desenvolvimento Motor - Gallahue, Newell e Tani
 
Simulado 1 Etapa - 2024 Proximo Passo.pdf
Simulado 1 Etapa - 2024 Proximo Passo.pdfSimulado 1 Etapa - 2024 Proximo Passo.pdf
Simulado 1 Etapa - 2024 Proximo Passo.pdf
 
HORA DO CONTO5_BECRE D. CARLOS I_2023_2024
HORA DO CONTO5_BECRE D. CARLOS I_2023_2024HORA DO CONTO5_BECRE D. CARLOS I_2023_2024
HORA DO CONTO5_BECRE D. CARLOS I_2023_2024
 
QUARTA - 1EM SOCIOLOGIA - Aprender a pesquisar.pptx
QUARTA - 1EM SOCIOLOGIA - Aprender a pesquisar.pptxQUARTA - 1EM SOCIOLOGIA - Aprender a pesquisar.pptx
QUARTA - 1EM SOCIOLOGIA - Aprender a pesquisar.pptx
 
Slides Lição 4, CPAD, Como se Conduzir na Caminhada, 2Tr24.pptx
Slides Lição 4, CPAD, Como se Conduzir na Caminhada, 2Tr24.pptxSlides Lição 4, CPAD, Como se Conduzir na Caminhada, 2Tr24.pptx
Slides Lição 4, CPAD, Como se Conduzir na Caminhada, 2Tr24.pptx
 
Aula - 2º Ano - Cultura e Sociedade - Conceitos-chave
Aula - 2º Ano - Cultura e Sociedade - Conceitos-chaveAula - 2º Ano - Cultura e Sociedade - Conceitos-chave
Aula - 2º Ano - Cultura e Sociedade - Conceitos-chave
 
Aula - 1º Ano - Émile Durkheim - Um dos clássicos da sociologia
Aula - 1º Ano - Émile Durkheim - Um dos clássicos da sociologiaAula - 1º Ano - Émile Durkheim - Um dos clássicos da sociologia
Aula - 1º Ano - Émile Durkheim - Um dos clássicos da sociologia
 
Investimentos. EDUCAÇÃO FINANCEIRA 8º ANO
Investimentos. EDUCAÇÃO FINANCEIRA 8º ANOInvestimentos. EDUCAÇÃO FINANCEIRA 8º ANO
Investimentos. EDUCAÇÃO FINANCEIRA 8º ANO
 
Aula 1, 2 Bacterias Características e Morfologia.pptx
Aula 1, 2  Bacterias Características e Morfologia.pptxAula 1, 2  Bacterias Características e Morfologia.pptx
Aula 1, 2 Bacterias Características e Morfologia.pptx
 
Aula 13 8º Ano Cap.04 Revolução Francesa.pptx
Aula 13 8º Ano Cap.04 Revolução Francesa.pptxAula 13 8º Ano Cap.04 Revolução Francesa.pptx
Aula 13 8º Ano Cap.04 Revolução Francesa.pptx
 
trabalho wanda rocha ditadura
trabalho wanda rocha ditaduratrabalho wanda rocha ditadura
trabalho wanda rocha ditadura
 

Por que Heidegger e a poesia? Elnora Gondim e Osvaldino Marra Rodrigues

  • 1. Akrópolis, Umuarama, v. 18, n. 2, p. 109-114, abr./jun. 2010 109 POR QUE HEIDEGGER E A POESIA? WHY HEIDEGGER AND THE POETRY? Elnora Gondim1 Osvaldino Marra Rodrigues2 1 Mestre em Filosofia/PUCSP. Douto- randa em Filosofia/PUCRS. Professora de Filosofia/UFPI. 2 Mestrando em Filosofia/UFPI. Recebido em Janeiro/2010 Aceito em Março/2010 GODIM, E. RODRIGUES, O. M. Por que heidegger e a poesia?. Akrópolis Umuarama, v. 18, n. 2, p. 109-114, abr./jun. 2010. Resumo: Para Heidegger, a linguagem e, mais precisamente, a poe- sia são entendidas como o lugar privilegiado de manifestação do Ser. Neste sentido, Hölderlin é, para Heidegger, o grande poeta, e a relação entre os dois é a mesma que aquela entre a filosofia do Ser e a poesia. Assim, Hölderlin abre poeticamente o lado oculto da historia ocidental no sentido da sua verdade mais velada. E Heidegger vê na obra de Hölderlin um impulso para a linguagem elevar-se de um sentido coti- diano (o do discurso) tornando-se, desta forma, um lugar privilegiado de manifestação do Ser. Palavras-chave: Heidegger; Hölderlin; Poesia; Ser; Sentido. Abstract: For Heidegger, language and, more specifically, poetry is perceived as the privileged place of manifestation of Being. In this sen- se, is Hölderlin for Heidegger, the great poet and the relationship be- tween the two is the same as that between philosophy of Being and poetry. Thus, Hölderlin poetically opens the hidden side of history in the Western sense of its truth more covert. And Heidegger sees the work of Hölderlin a push to raise the language is an everyday sense (the spee- ch) making it this way, a privileged place of manifestation of Being. Keywords: Heidegger; Hölderlin; Poetry; Being; Meaningless.
  • 2. Akrópolis, Umuarama, v. 18, n. 2, p. 109-114, abr./jun. 2010110 GODIM, E. RODRIGUES, O. M. 1. Heidegger e a Poesia 1.1. Visão panorâmica A pergunta fundamental da filosofia de Heidegger é aquela sobre o sentido do Ser. As- sim, a questão maior não é o homem, mas o Ser em ser conjunto. Ele é que torna possível a aber- tura para a compreensão da existência humana, porque habita a linguagem poética e criadora. Nesta perspectiva, o Ser não é um ente; é sinô- nimo de responsabilidade pela linguagem. Ele, porquanto podemos identificá-lo com o nada, não pode ser compreendido a partir de nenhum ente, por este motivo o Ser é transcendente em relação ao ente. Sob esta ótica, compreender a filosofia de Heidegger é mudar o sentido da orientação do olhar e da escuta, é fazer uma ligação primei- ra entre o pensar, o Ser, o homem e a linguagem. Assim sendo, na poesia se encontra as mensa- gens do Ser. Nela ecoa a sua voz, por isto, o homem antes da fala, deve escutar o apelo do Ser. Desta forma, será a palavra resgatada da sua essência. A poesia, então, está relacionada com a questão do sentido do Ser e da verdade e o poeta é aquele que escuta todas as vibrações do vazio. Neste sentido, Heidegger conclama o poeta que encarna a essência da poesia. O poe- ta heideggeriano vive em um tempo que ocorre entre a geração decadente e a geração que es- tão por nascer. Viver entre o celeste e o terres- tre e entre o passado e o futuro. Ele é uma voz que significa uma alerta. Neste sentido, audição é aqui prioridade. Ela nos faz ver o mundo em uma múltipla diversidade interior, porque os sons permanecem eternamente nos homens, assim, o poema é a morada do poeta ou o poeta é a morada do poema. Porém, o diferencial entre o poeta e o poema é que este dura para sempre. É somente através, e pela poesia, que Hölderlin tem uma proximidade com o Ser e o faz, porquanto toma o sentido de uma linguagem mais radical como, também, nesta perspectiva, celebra a natureza que é vista como os bosques, as aves, o céu, os homens e deus. Heidegger vê na poesia de Hölderlin a escuta do chamamento do Ser. Para ele, este poeta é mensageiro do divino, canta a terra, a palavra do Ser e transporta com ele uma proxi- midade com os deuses e com as coisas fundan- do o que permanece. 1.2. Quem foi Hölderlin? Por que se torna importante e necessá- rio aqui se falar da biografia de Hölderlin? No poeta de Lauffen, a poesia e a vida formam um organismo no qual as partes compõem a figura plena. Não se pode compreender Hölderlin sem compreender sua vida. Isto é imiscuído ao seu pensar poético que às vezes é trágico e lírico. Portanto, a poesia de Hölderlin retrata, fielmen- te, o que a sua própria vida significou. Friedrich Hölderlin nasceu a 20 de Março de 1770 em Lauffen, junto ao rio Neckar e faleceu a 7 de Junho de 1843, em Tübingen. Durante todo o século XIX ficou praticamente esquecido. Friedrich Nietzsche, porém, resgata sua poesia e chama-o o seu “liebling Dichter.” Heidegger, leitor de Nietzsche, encontrou em Hölderlin o manancial de água viva com a qual embebia suas reflexões. Por intermédio de Hei- degger, Hölderlin retornou ao mundo dos vivos e atualmente é considerado um dos maiores po- etas líricos da poesia alemã. Existem aspectos controversos em sua vida como, por exemplo, em 1807, ano em que Hölderlin enlouqueceu e desde então até a morte, a sua poesia é a sua loucura e a sua loucura é a sua poesia. Friedrich Hölderlin estudou teologia no seminário luterano Stift, em Tübingen, juntamen- te com  Hegel e Friedrich Schelling. Através da ajuda de Hegel, Hölderlin consegue trabalho na casa do banqueiro Jakob Gontard, em Frank- furt, onde lá se apaixonou por Susette Gontard, esposa do banqueiro. O amor de Hölderlin e Susette é recíproco, mas a situação se torna in- sustentável. Por este motivo, Hölderlin abando- na Frankfurt e vai refugiar-se em Homburg. No entanto, Hölderlin tem uma forte crise depressi- va em Bordéus e, em virtude dessa, atravessa a fronteira da França a pé, ao saber da morte de Susette Gontard - a “Diotima” de seus poemas. Nos próximos 36 anos, até a data da sua morte, a 7 de Junho de 1843 , Hölderlin permanece aos cuidados de um dos seus grandes admiradores, o carpinteiro Ernst Zimmers. 1.2.1. Amostragem da poesia de Hölderlin Para compreendermos qual tipo de po- esia Heidegger se refere, aqui apresentaremos uma pequena amostragem do trabalho de Höl- derlin:
  • 3. Akrópolis, Umuarama, v. 18, n. 2, p. 109-114, abr./jun. 2010 111 Por que Heidegger... “ Natur und Kunst oder Saturn und Jupiter” (Natureza e Arte ou Saturno e Júpiter) Tu governas sobre o dia e a tua lei floresce! Tu seguras a balança, oh filho de Saturno! E repartes os destinos e descansas, alegre, Na glória da imortal arte de reinar. Porém, os cantores dizem, para si, que outrora Desterraste o santo pai, o teu próprio pai, para O fundo do precipício, e lá em baixo, lá, onde Reconheces todos os direitos aos selvagens, O deus da idade do ouro lamenta-se, há tanto tempo: Outrora, quando ainda não proferia mandamen- tos, Nem nenhum dos mortais o tratava por nome, Ele era, sem qualquer esforço, tão poderoso como tu. Para baixo então! Ou não te envergonhes de agradecer! Se queres ficar, serve o ancião, e concede-lhe, de boa Vontade, que seja nomeado pelos cantores Diante de deuses e homens! Abre os olhos! Pois assim como o teu relâmpa- go Vem das nuvens, também dele vem tudo quan- to é teu. E assim testemunha perante ele tudo quanto lhe roubaste, E que da paz de Saturno todo o poder cresceu. E tenha eu no coração um sensação viva E escureça tudo quanto tu moldaste E que o tempo de mudança haja adormecido, Para meu belo prazer, no berço dela: Então reconheço-te, filho de Cronos! Então escuto-te, Sábio mestre, que tal como nós, filho do tempo, Decretas leis, e , ao mesmo tempo, anuncias O que o santo crepúsculo esconde. ANDENKEN (Lembrança) O vento de nordeste sopra, o mais querido entre os ventos, para mim, porque, com espírito fogoso, promete boa viagem aos navegantes. Agora, vai e saúda o belo Garona E os jardins de Bordéus, Além, onde na margem estreita há um pontão, e o ribeiro se afunda na corrente; mas lá do cimo um nobre par de castanheiros e álamos brancos observa o mundo. como bem me lembro da floresta de ulmeiros  dobrando o extenso cume, por sobre os moinhos. No pátio, porém, cresce uma figueira. Aos feriados, mulheres Bronzeadas seguem por caminhos de seda, Até ao tempo de Março, Quando o dia é igual à noite, E em cima de vagarosos pontões, Pesados como sonhos de oiro, correm ventos harmoniosos . Basta que me estendam, Repleta de luz, Uma das aromáticas taças Para que possa descansar; pois doce É a sombra do dormitar. Porém não é bom, Que, sem compaixão, se pense nos mortos; mas é bom Conversar-se e dizer-se o que nos Vai no coração e ouvir muitas coisas Sobre o dia do amor E dos feitos que aconteceram. Mas onde estão os amigos? Belarmino com os companheiros? Alguns Têm receio de descer à fonte; A riqueza começa no mar. Eles, como os pintores, juntam a beleza da terra e não receiam as asas da guerra, e não temem viver sozinhos,  anos e anos, debaixo do mastro glabro, onde os feriados da cidade não iluminam a noite, nem se ouve o toque das cordas,  nem os nativos dançam.   Mas agora, os homens foram ter com os índios, além, Junto ao ventoso pico, nos vinhedos, onde o Dordonha desce e junto com o Garona, largo como um mar,
  • 4. Akrópolis, Umuarama, v. 18, n. 2, p. 109-114, abr./jun. 2010112 GODIM, E. RODRIGUES, O. M. dispersa a corrente. E o mar tanto dá como recebe lembranças, e o amor também se pega aos olhos mas o que fica, é fundado pelos poetas.3 1.3. Por que Hölderlin exerce tanta fascina- ção na filosofia heideggeriana? Em ampla medida, pois não é possível esgotar tal tema aqui, propõe-se apontar uma resposta para a indagação que, sempre, as pes- soas fazem ao se defrontarem com o pensamen- to tardio heideggeriano: por que Hölderlin exer- ce tanta fascinação na filosofia heideggeriana? É conveniente lembrar que Heidegger escreve, entre 1936 e 1968, um livro intitulado “Aclaracio- nes A La Poesia De Holderlin”. Já no Prólogo, ele esclarece a razão pela qual Hölderlin ocu- pou um lugar privilegiado em seu pensamento: ‘Dichas aclaraciones forman parte de un diálogo entre un pensar y un poetizar cuya singularidad histórica nunca podrá ser demostrada por la his- toria de la literatura, pero sí por ese diálogo pen- sante’4 . Assim sendo, Heidegger ao começar a pensar a história do Ser, sua trajetória foi intrin- secamente unida à poesia de Hölderlin. Portan- to, Heidegger (2005, p. 217) afirma: La aclaración del poema debe de tratar vol- verse superflua precisamente en pro de lo poetizado. Pero el último y también el más dificil paso de toda interpretación consiste en eclipsarse con sus aclaraciones  ante el puro alzarse ahí delante del poema. El poema que así se alza en medio de su propia ley arroja ya de suyo y de modo inmediato una luz so- bre el resto de poemas, E, em ampla medida, para compreender- mos a posição da poesia de Hölderlin no pensa- mento tardio de Heidegger, nada melhor do que citarmos Gadamer (1981, p. 145): Y ciertamente Heidegger, en un punto deci- sivo de su pensamiento, el punto de la “vuel- ta” (Kehre), se arriesgo conscientemente a incorporar el lenguaje poetico de Holderlin a la conciencia linguistica de su próprio pen- sar. Lo que de este modo le fue posible decir, constituye, para ese preguntar suyo que se remonta por detras de la metafisica, el firme suelo y fundamento sobre el cual encuentra positiva satisfaccion su critica del lenguaje de la metafisica y explicita toda destruccion de los conceptos tradicionales 1.3.1. Heidegger e a aniquilação da coisa O que angustiou Heidegger para que o fizesse buscar uma saída mediante a poesia? Para Heidegger, a ciência moderna aniquilou a coisa. A coisidade da coisa, desta forma, vem sendo aniquilada, permanecendo esquecida. Assim, ficou oculto o sentido e a verdade do Ser dos entes. Então, a coisidade da coisa não che- ga a ser mostrada nem a ser falada. Porém, este fato aconteceu com e na ciência moderna em virtude da herança deixada pela metafísica gre- ga, onde o ente foi tratado como presentidade. Desde Platão até Kant os entes são tra- tados como aquilo sobre o que se julga e não como coisas. Na filosofia kantiana, por exemplo, através da lógica transcendental será colocado um conceito de Ser que pode ser definido por meio dos juízos sintéticos a priori. Assim, tudo é dito como objetividade, ou seja, o homem é quem impõe as suas categorias e intuições aos objetos. Desta maneira, Kant preencheu as lacu- nas que a filosofia grega deixou, isto é, a filosofia grega não elaborou com precisão de que forma as coisas seriam determinadas, apenas deter- minava a constituição ontológica dos entes pela constituição dos juízos. Kant, através de sua re- volução copernicana, supriu esta lacuna deixa- da pelos gregos e, com isto, o modo de acessar os entes recebeu a formulação que caracteriza a época moderna. Aqui, o ser humano ocupa o centro de tudo e é ele quem imprime as condi- ções de possibilidade para toda experiência pos- sível através das formas, de maneira a priori e transcendental. Heidegger, contudo, buscando superar a estrutura ontológica da estrutura lógica dos juí- zos, tem como solução buscar uma articulação do sentido no mundo da vida. Assim, a verdade transcendental heideggeriana é o mundo en- quanto clareira para o Dasein, onde este é con- dição de possibilidade existencial ontológica da manifestação dos entes. Desta forma, Heidegger abandona o lo- 3 Tradução de Luís Costa, do livro: Hölderlin “Sämtliche Gedichte“, Deutsche Klassiker Verlag, 1992 4 Para maiores informações: HEIDEGGER MARTIN, Aclaraciones A La Poesia De Holderlin. Editora: ALIANZA
  • 5. Akrópolis, Umuarama, v. 18, n. 2, p. 109-114, abr./jun. 2010 113 Por que Heidegger... gocentrismo kantiano, embora permanecendo com a sua transcendentalidade. Portanto, o que a filosofia heideggeriana nega é a centralização da verdade no juízo, ou seja, nos princípios do entendimento. O que permanece na teoria de Heidegger, como resquícios da filosofia kantia- na, é a noção do a priori no sentido de que o ho- mem é o fundamento existencial – ontológico das descobertas do ente, enquanto ente e de todas as suas determinação ônticas. Neste sentido, na filosofa heideggeriana, o lugar do juízo passa a ser ocupado pelo mundo vivido e concreto. Nas conferências dos anos 30, Heideg- ger lança a questão sobre a coisa e levanta o problema de como as coisas podem ser vistas tendo dois parâmetros diferentes; o do senso co- mum e o da ciência. Heidegger coloca três sentidos para a palavra coisa, são eles: 1 - o Ser simplesmente dado. 2 - o Ser dado mais acontecimentos. 3 - um algo que não seja nada; Quando Heidegger se pergunta “o que é uma coisa”, responde de uma forma negativa di- zendo: ela não é uma proposição. A coisa é uma mudança de questiona- mento e avaliação. Coisa é algo que reúne a quadratura, ou seja, terra, céu, deuses e mortais e o poeta é a voz da própria coisidade da coisa que é chegada até o homem. Neste sentido, o mundo é um agitado jogo de espelhos destes quatro itens. Desta for- ma, Heidegger não trata de presentidade, mas de coisas. Assim, os quatro elementos perten- cem uns aos outros unificados nesta quantida- de. E, somente, desta forma pode-se falar no Ser coisa da coisa. É nesta perspectiva que, segundo Heide- gger, Hölderlin recebe um ditame. Por este moti- vo, o poeta não foi o autor dos seus hinos. O que ele fez foi ouvir as palavras do Ser, pois os hi- nos de Hölderlin são as manifestações de algo. Eles não são nem crianças nem imaginação e nem representações. Eles falam sobre o espaço e o tempo do Ser, formando a própria manifes- tação do invisível. Assim, o poeta é aquele que é fundante e, por este motivo Hölderlin capta a ressonância das coisas onde elas não são con- ceitualizadas, onde nada encaminha e, somen- te, indica. A poesia é, então, ditada onde a pala- vra é um ditame indicativo. Assim, Hölderlin está exposto a dominância do Ser que é um suporte vital e não descritivo. Heidegger, desta forma, influenciado por Hölderlin, afirma que tem que mudar a relação do homem com a linguagem, porquanto a pa- lavra precisa ser escutada e é neste momento que o dizer poético funda o Ser. Nele a natureza é instaurada e ocorre o poder essencial da tota- lidade. Dessa forma, os poetas são mensagei- ros, sentinelas e observadores de tudo o que ocorre no mundo. Eles captam os sinais, escu- tam a voz silenciosa do Ser e, por este motivo, eles estão entre os homens e os deuses. Assim, a poesia é dádiva e os poetas são os fundadores do Ser. CONSIDERAÇÕES FINAIS Mas, então, como ocorre a ligação de Heidegger e a poesia? Para se entender a se- gunda fase do pensamento de Heidegger, se- gundo Loparic (2005, p.217), é necessário que se saiba que: A partir de 1930, esse panorama muda e Heidegger começa a perceber que o que caracteriza a nossa época não é o cotidiano caseiro, analisado em Ser e Tempo, mas a técnica, (...) A leitura de Jünger levou Heide- gger às seguintes conclusões: 1) que a sua fenomenologia da facticidade (do cotidiano) de 1927 é ainda ingênua, 2) que ela não re- presenta um ponto de partida adequado para formular a questão do ser nos dias de hoje, 3) que a técnica moderna, pensada no hori- zonte da metafísica nietzschiana da vontade de poder, é o sentido do ser que prevalece, 4) que, portanto, Nietzsche é o pensador de- cisivo a ser consultado em qualquer tentativa de compreender e ultrapassar esse sentido do ser. Essas conclusões levaram Heidegger a constatar o fracasso do projeto de repensar o sentido de ser em termos da ontologia fun- damental, exposta em Ser e tempo. Todavia, o abandono da analítica existen- cial do Dasein significa que Heidegger percebeu que através da analítica dos modos do Dasein não se pode dar conta da questão do Ser. Por isto mesmo, Heidegger opera um giro em seu pensamento: a noção de linguagem eleva-se de um sentido cotidiano (o de discurso) para se tornar um lugar privilegiado de manifestação do Ser, isto é, passa-se da pergunta pelo sentido do Ser para aquela sobre a verdade do Ser. Assim, a partir das conferências dos
  • 6. Akrópolis, Umuarama, v. 18, n. 2, p. 109-114, abr./jun. 2010114 GODIM, E. RODRIGUES, O. M. anos 30 ocorre uma reviravolta (Kehre) no pen- samento de Heidegger. Nesta perspectiva, após constatar que a ênfase na técnica resultou no abandono do Ser, Heidegger, então, lança a questão sobre a coisa e levanta o problema de como as coisas podem ser vistas. É neste sen- tido que Heidegger propõe a poesia como um caminho para o retorno à experiência original do pensamento. Ou seja, a linguagem e, mais precisamente, a poesia, são entendidas como o lugar privilegiado de manifestação do Ser. Neste sentido, Hölderlin é para Heideg- ger o grande poeta e a relação entre os dois é a mesma que aquela entre a filosofia do Ser e a poesia. Assim, Hölderlin abre poeticamente o lado oculto da história ocidental no sentido da sua verdade mais velada. Desta forma, Heide- gger vê na obra de Hölderlin um impulso para a linguagem elevar-se de um sentido cotidiano (o do discurso) tornando-se, desta forma, um lugar privilegiado de manifestação do Ser. Então, de que maneira o homem forma uma relação com o Ser? A resposta, de acordo com Beaini (1981. p.80), seria: A primeira relação para com a linguagem (que é a de ouvir antes de falar, o dizer silen- cioso do ser – condição de possibilidade para todo o falar humano) é obtida pelo pensador e pelo poeta, que, assumindo-se, captam a dimensão de seu existir-no-mundo. Esta, ina- cessível aos homens que não estão prontos a ouvir o apelo do ser. (...) A missão do ho- mem no mundo é a de, ouvindo o apelo do ser, torná-lo palavra, no ato mesmo de fazer nascer o mundo e as coisas. No entanto, o homem não sabe ouvir o silêncio, porquanto este está velado pela técni- ca. Para Heidegger, a técnica sempre impõe e determina o nosso agir, pensar e conduzir. Ela nos substitui em nossas decisões, porquanto nos oferece tudo delimitado. Como resposta para tal situação de aniquilamento e manipulação, Hei- degger propõe que sejamos “pastores do Ser”, “cuidadores do Ser” e para tanto: A abertura ao inaudito, a passagem pelo si- lêncio, a ausência de referências do novo possível significam, em última instância, a reintegração da mais essencial determinação do nosso ser, a reintegração da posse de nós mesmos, da nossa condição de encarrega- dos pelo ser. Que a técnica nos auxilie, mas não nos retire de nós mesmos.5 BIBLIOGRAFIA BEAINI, T. C. À escuta do silêncio: um estudo sobre a linguagem no pensamento de Heidegger. São Paulo: Cortes/Autores Associados, 1981. CRITELLI, D. Martin Heidegger e a essência da técnica. São Paulo: Margem, 2002. GADAMER, G. Hegel y Heidegger. In: La dialéc- tica de Hegel. Madrid: Ediciones Cátedra, 1981. GIODANI, M. C. Iniciação ao existencialismo. Petrópolis: Vozes, 1997. GONDIM, E.; RODRIGUES, O. M. O transcen- dentalismo de Heidegger. Madrid: El Gênio Ma- ligno, 2009. HEIDEGGER, M. Ser e tempo. Petrópolis: Vo- zes, 1997. ______. Identidade e diferença. Portugal: Livra- ria duas cidades, 1887. ______. Ensaios e conferências. Petrópolis: Vozes, 2006. ______. Aclaraciones a la poesia de Holder- lin. Madrid: Alianza, 2005. JASPERS, K. Iniciação filosófica. Tradução Manuela Pinto dos Santos. Lisboa: Guimarães, 1987. LOPARIC, Z. Da representação das coisas as coisas mesmas. Representaciones, v. 1, 2008. RESWEBER, J. P. O pensamento de Martin Heidegger. Coimbra: Almedina, 1971. WERLE, M. A. Poesia e pensamento em Höl- derlin e Heidegger. São Paulo: UNESP, 2005. Poesias de Hölderlin. Tradução Luís Costa do livro: Hölderlin “Sämtliche Gedichte“, Deutsche Klassiker Verlag, 1992. 5 Para maiores esclarecimentos: CRITELLI, Dulce. Martin Heidegger e a essência da técnica. MARGEM, SÃO PAULO, No 16, p.-89.