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Curso Ciência e Fé
Módulo XI – Milagres e Ciência
© Bernardo Motta
bmotta@observit.pt
http://espectadores.blogspot.com
Curso Ciência e Fé
I – Introdução
II – Filosofia Grega e Cosmologia Grega
III – Filosofia Medieval e Ciência Medieval
IV – Inquisição e Ciência
V e VI – O Caso Galileu
VII – A Revolução Científica
VIII – Darwin e a Igreja Católica
IX – Os Argumentos Cosmológico e Teleológico
X – Filosofia da Mente e Inteligência Artificial
XI – Milagres e Ciência
XII – Concordância entre Cristianismo e Ciência
3
1. Introdução
2. Leis da natureza
3. As aparições em Fátima
4. O milagre do Sol
5. As testemunhas oculares
6. As explicações
7. Conclusão
Índice
3
Causas naturais mas desconhecidas
Ilusão (o fenómeno não aconteceu)
Farsa (o fenómeno foi simulado)
Filosofia materialista
Só há matéria: o sobrenatural é irreal
Logo, não há causas sobrenaturais
Filosofia cristã
A realidade é natural e sobrenatural
Logo, há causas naturais e sobrenaturais
Fenómeno sem explicação natural Fenómeno sem explicação natural
Causas naturais mas desconhecidas
Causas sobrenaturais
Ilusão (o fenómeno não aconteceu)
Farsa (o fenómeno foi simulado)
Introdução
4
Os conceitos de “lei natural” e de “milagre” só fazem sentido num
Universo com “leis gerais” e no contexto de uma teologia de um Deus fiel!
Introdução
O que é um milagre (do latim “miraculum”, “admirar”)?
É um acontecimento empírico (os milagres são fenómenos sensoriais)
É um acontecimento imprevisível e inexplicável pelas “causas segundas” (naturais)
É uma decisão voluntária e livre de Deus, que é a causa do “ser” de tudo o que existe
Como se descobrem as “leis” da Natureza?
1. Hipótese: supor “leis” gerais que expliquem certos fenómenos empíricos
2. Dedução: deduzir resultados empíricos decorrentes dessas hipotéticas “leis” gerais
3. Experimentação: preparar experiências que corroborem ou refutem a hipótese original
O método hipotético-dedutivo não dá verdade absoluta a uma “lei”, mas sim verosimilhança
Mas esse método permite, por falsificação, refutar com certeza uma suposta (hipotética) “lei”
É impossível a ocorrência de fenómenos que não se enquadram nas “leis” da Natureza?
As “leis” da Natureza dependem de como a Natureza é: e ela poderia ser diferente do que é
Baseiam-se num número finito de observações: não é possível provar que são universais
Teologicamente, a regularidade dessas “leis” decorre da vontade divina
O Antigo Testamento (p.ex., Salmos) associa a estabilidade da Criação à aliança de Deus
Milagres
5
Vários tipos de milagre
Co-natural: catalisar ou provocar um processo natural que seria lento ou com baixa probabilidade
Por exemplo, Cristo curar um doente
Contra-natural: alterar localmente a dinâmica de um sistema natural contrariando o seu curso
Por exemplo, Cristo caminhar sobre as águas
Sobre-natural: causar um fenómeno que nenhuma causa natural poderia provocar
Por exemplo, Cristo ressuscitar um morto
Será correcto dizer que um milagre é uma “violação de leis naturais”?
Na Natureza, verificamos que há regularidades que nos parecem universais:
Corpos com massa atraem-se na proporção directa do produto das suas massas
Corpos com massa atraem-se na proporção inversa do quadrado das suas distâncias
As “leis naturais” são representações matemáticas das regularidades na Natureza
Num milagre, uma ou mais dessas regularidades não se verifica num determinado local
Um milagre implica a suspensão local de uma regularidade natural
Essa suspensão deve-se a uma causa sobrenatural, senão a regularidade permaneceria
Introdução
Deus não está obrigado a seguir as “leis” que nós extraímos das
regularidades naturais que Ele sustém, e que resultam da Sua vontade!
6
Os milagres resultam de decisões livres e pessoais de Deus
Os efeitos de um milagre são sempre naturais, mas a causa é sobrenatural e pessoal
Deus é um agente livre, e as Suas decisões não são cientificamente analisáveis
As decisões de qualquer agente livre não são cientificamente analisáveis, senão não seriam livres
Introdução
Veículo de 540 Kg de peso, 3,4 m de
comprimento, motor de 4 cilindros em
bloco, caixa epicicloidal de 2 mudanças,
2894 cm3 e 20 cv (15kW) de potência.
Ford Modelo T (1908-1927) Explicação científica (natural)
Explicação pessoal (decisão livre)
Henry Ford (1863-1947)
7
Uma explicação pessoal é irredutível a uma explicação científica!
Rudolph Bultmann (1884-1976), teólogo luterano, contra os milagres
Bultmann apenas aceita a Ressurreição como facto sobrenatural, suficiente para a fé cristã
Parte do método histórico (que não admite explicações miraculosas) para a rejeição dos milagres
Considera mitológicos os relatos miraculosos do Novo Testamento, o legado de uma era pré-
científica
Mas um historiador rejeita explicações miraculosas por questão de método, e não porque não existam
É defensável que o historiador rejeite explicações miraculosas: os milagres são raros e difíceis de aferir
Mas nenhum conhecimento científico, do passado ou do presente, justifica a crença de Bultmann
Introdução
8
«O método histórico inclui o pressuposto de que a história é uma
unidade no sentido de um contínuo fechado de efeitos nos quais
eventos individuais estão ligados pela sucessão de causa e efeito.
[Este contínuo, para mais,] não pode ser rasgado pela interferência de
poderes sobrenaturais e transcendentes.»
«(...) é impossível usar a luz eléctrica e [a tecnologia] sem fios e
socorrermo-nos das modernas descobertas médicas e cirúrgicas, e ao
mesmo tempo, acreditar no mundo neotestamentário de espíritos e
milagres.»
A física clássica é incompatível com milagres?
Isaac Newton (1642-1727), físico, matemático, astrónomo, mas também teólogo
Newton não só defendia a ocorrência de milagres mas também a intervenção
rotineira de Deus para “retocar” as órbitas dos planetas e resolver irregularidades:
As leis da física clássica pressupõem sistemas fechados ou isolados de causas externas
Qualquer acção externa sobre um sistema físico altera a energia ou o momento desse sistema
Um milagre é uma acção externa sobre um sistema que, por essa razão, não está isolado nem fechado!
Física clássica
Lei da conservação do momento: se nenhuma força externa actua sobre um sistema fechado, então o
momento (produto da massa pela velocidade) total do sistema mantém-se constante
Lei da conservação da energia: a energia total de um sistema fechado (isolado) mantém-se constante
Introdução
«Pois enquanto os cometas se movem em órbitas muito excêntricas em todo o tipo
de posições, o destino cego nunca conseguiria fazer mover os planetas de uma
só forma em órbitas concêntricas, salvo irregularidades desprezáveis que podem
resultar da acção mútua entre cometas e planetas, e que tendem a aumentar, até
que este sistema precise de uma reforma.»
É um erro afirmar que os milagres contradizem as leis da física clássica! 9
A tese metafísica de Pierre-Simon Laplace (1749-1827)
Introdução
«Devemos então ver o estado presente do universo como o efeito do seu
estado anterior, e como a causa do que vem a seguir. Uma inteligência que,
para um dado instante, conhecesse todas as forças das quais a natureza está
animada, e a situação respectiva dos seres que a compõem, se ela fosse
suficientemente vasta para submeter estes dados à análise, abraçaria na
mesma fórmula os movimentos dos maiores corpos do universo e os do mais
leve átomo: nada seria incerto para ela, e o futuro como o passado, seria
[como] o presente aos seus olhos.»
Para além de ser uma tese duvidosa, poderá vir a ser falsificada pela MQ!
Será esta tese de Laplace compatível com a ocorrência de milagres?
Não é compatível: Laplace vê o Universo como uma máquina fechada e determinística
Se o estado do Universo num instante é totalmente determinado (causado) pelo estado anterior...
... não há qualquer espaço para intervenções causais de Deus
Mas porque é que seria verdadeira esta a tese metafísica? Ele não a demonstrou...
Como se poderá alguma vez demonstrar cientificamente que o Universo é um sistema fechado?
E para mais, a Mecânica Quântica permite interpretações indeterministas!
10
David Hume (1711-1776), filósofo escocês, contra os milagres
O argumento de Hume é falacioso (petição de princípio) e circular:
Rejeita os milagres de forma apriorística: “[há] experiência uniforme contra todo o evento miraculoso”
Os milagres não são reais porque não há testemunhos credíveis de milagres
Não há testemunhos credíveis de milagres porque os milagres não são reais
A confiança de Hume na inviolabilidade das leis da Natureza é contradita pelo próprio, quando Hume
procura refutar um argumento para a existência de Deus a partir da grandeza e racionalidade do Cosmos,
dizendo que “vários mundos poderiam ter sido [criados] defeituosos ou ineptos, por toda uma eternidade”
Introdução
«Um milagre é uma violação das leis da natureza. (…) Nada é tido como
milagre, se ocorre no decorrer comum da natureza. (…) Mas é um milagre
que um homem morto possa voltar à vida, porque tal nunca foi observado
em época ou país algum. Deve, então, existir uma experiência uniforme
contra todo o evento miraculoso, ou então o evento não mereceria esse
epíteto… (…) Quando alguém me diz que viu um homem morto voltar à
vida, eu imediatamente tomo em consideração se será mais provável que
essa pessoa esteja enganada ou a querer enganar, ou se o facto que ele
relata poderia realmente ter acontecido.»
11
Haldane e a imutabilidade das leis da Natureza
John Burdon Sanderson Haldane (1892-1964), geneticista britânico:
Haldane era marxista e materialista, convencido da imutabilidade e do determinismo das leis naturais
Mas entendeu que esse materialismo determinista minava os conceitos de verdade e conhecimento
Quando o ser humano toma decisões livres, viola as leis da Natureza?
Qual é a lei (ou leis) da Natureza que determina que eu vou levantar o meu braço aqui e agora?
Qual é a lei (ou leis) da Natureza que determina as minhas convicções?
Mas se negamos o livre arbítrio, se as nossas decisões nunca fossem livres…
Tudo o que faríamos seria determinado pelas leis naturais, pelo nosso passado e pelas coisas à nossa volta
Mesmo as nossas convicções e ideias estariam pré-determinadas
Logo, não poderíamos saber se o livre arbítrio é verdadeiro ou falso!
Introdução
12
«Se os meus processos mentais estão determinados totalmente
pelo movimento de átomos no meu cérebro, eu não tenho razões
para supor que as minhas crenças são verdadeiras. Elas podem
ser quimicamente consistentes, mas isso não as torna
logicamente consistentes. E então, eu não tenho qualquer razão
para supor que o meu cérebro seja composto por átomos.»
Stokes e a imutabilidade das leis da Natureza
Sir George Gabriel Stokes (1819-1903), matemático e físico britânico
Leccionou de 1849 a 1903 a cátedra lucasiana de Matemáticas em Cambridge
Entre 1891 e 1893, Stokes leccionou as Gifford Lectures
As Gifford Lectures, dedicadas à Teologia Natural, tiveram início em 1888
Stokes tinha uma ideia teológica correcta acerca da Criação
Stokes sabia que o Deus pessoal do cristianismo criou tudo a partir do nada (“ex nihilo”) e sustém tudo
Apenas com esta visão correcta acerca da criação é possível compreender:
Que as leis da natureza são expressão da vontade (“lei”) divina
Que os milagres são expressão dessa mesma vontade divina
Que um milagre implica a suspensão local e temporária das leis naturais, e não a sua violação
Introdução
13
«Admita-se a existência de um Deus, de um Deus pessoal, e a
possibilidade de milagres decorre imediatamente. (...) se as leis da
natureza são mantidas de acordo com a Sua [de Deus] vontade,
Aquele que as quis pode querer a sua suspensão.» - Stokes, Natural
Theology
1. Introdução
2. Leis da natureza
3. As aparições em Fátima
4. O milagre do Sol
5. As testemunhas oculares
6. As explicações
7. Conclusão
Índice
14
Robert Boyle (1627-1691) e o fundamento teológico das “leis” da Natureza
Os primeiros cientistas da era moderna eram quase todos cristãos
Explicaram teologicamente as regularidades da Natureza pela constância da vontade de Deus
Por basearem essas regularidades na vontade constante de Deus, chamaram-lhes “leis”
Assim, o termo “lei da Natureza” nasce de um postulado teológico
Esse postulado tem, também, uma vertente moral
Assim, a vontade de Deus, supremo legislador, traduzida em “leis divinas”, dá origem a:
“Leis” científicas, às quais a Natureza “obedece” por não ter liberdade para “desobedecer”
”Leis” morais, às quais o Homem deve obedecer, mas sendo livre, pode não obedecer
Leis da natureza
«Deus [é] o Autor do universo, e o livre Estabelecedor das Leis
do movimento, cujo geral Concurso é necessário para a
conservação e Eficácia de cada Agente Físico em particular.»
«A natureza deste ou daquele corpo não é mais do que a lei de
Deus prescrita a ele [e] falando propriamente, uma lei não é mais
do que uma regra nocional de agir de acordo com a vontade
declarada de um superior.»
Robert Boyle (1627-1691)
15
Stephen Hawking e Leonard Mlodinow: leis que criam universos...
Este livro está repleto de erros filosóficos graves: são mesmo muitos!
Uma lei da natureza é uma formalização matemática ("ens rationis")
que representa regularidades observadas ou medidas na natureza
Por isso, as leis da natureza não têm poderes causais: a lei da gravidade não pode criar nada!
A lei da gravidade existe porque corpos com massa se atraem de forma regular
Uma coisa não se cria a ela mesma, senão teria que existir antes de existir, o que é absurdo
Do nada, nada vem: é uma verdade metafísica elementar!
Deus não é necessário apenas para explicar como um Cosmos racional surge do nada...
A vontade de Deus também explica como é que o Cosmos se mantém em existência!
Leis da natureza
«Porque há uma lei como a da gravidade, o universo pode, e irá,
criar-se do nada (...). A criação espontânea é a razão pela qual
há algo em vez de nada, pela qual universo existe, pela qual nós
existimos. Não é necessário invocar Deus para acender o rastilho
e colocar o universo em marcha.», p. 180
16
Palestra de Bento XVI na Aula Magna de Ratisbona,
12 de Setembro de 2006: "Fé, Razão e Universidade":
"(...) a razão moderna (...) tem simplesmente de
aceitar a estrutura racional da matéria e a
correspondência entre o nosso espírito e as
estruturas racionais operativas na natureza
como um dado de facto, sobre o qual se baseia o
seu percurso metódico"
"Mas a pergunta sobre o porquê deste dado de
facto existe e deve ser confiada pelas ciências
naturais a outros níveis e modos do pensar – à
filosofia e à teologia"
 Quais são os pressupostos
da Ciência moderna?
A existência de leis da natureza e a capacidade humana para as
descobrir pressupõem um Cosmos estável, racional e inteligível!
Leis da natureza
17
As principais explicações filosóficas para o seu fundamento
Regularista
As leis da natureza apenas descrevem regularidades observadas no Universo
Essas regularidades são um facto bruto: não têm nem requerem nenhuma explicação
Não explica o carácter contra-factual das leis da natureza
Destrói a confiança na indução: como se podem retirar leis universais de meras regularidades?
Necessitarista
As leis da natureza reflectem relações necessárias entre universais, quantificadas em funções
Para chegar a uma lei funcional, escolhe-se a função mais simples que se adapta aos dados
Mas porquê a função mais simples? Qual a base filosófica para escolher a mais simples?
Platónica (axiárquica, ou seja, baseada em valores)
A razão pela qual o Universo é regular e hierarquicamente ordenado é porque isso é bom
O conceito de Bem (ou Bom) impede a existência de Universos irregulares ou desordenados
Teísta
As regularidades descritas pelas leis da natureza assentam na vontade racional de Deus
Desdobra-se em duas hipóteses teológicas:
Deus criou e sustém directa e permanentemente essas regularidades
Deus criou e sustém coisas naturais cujo comportamento regular se deve às suas
formas substanciais (tese aristotélico-tomista, assente em causas finais e formais)
Se Deus criou o intelecto humano, é expectável que este detecte as regularidades naturais
Leis da natureza
18
19
1. Introdução
2. Leis da natureza
3. As aparições em Fátima
4. O milagre do Sol
5. As testemunhas oculares
6. As explicações
7. Conclusão
Índice
As aparições em Fátima
Lúcia de Jesus dos Santos (1907-2005), Francisco Marto (1908-1919) e Jacinta Marto (1910-1920)
Os videntes
20
As aparições em Fátima
1915: Lúcia de Jesus, com 7 anos, recebe a guarda do rebanho da família
Escolhe três companheiras de pastoreio: Teresa e Maria Rosa Matias, e Maria Justino
Dirige o rebanho para a encosta norte do monte do Cabeço
Por volta do meio-dia, come a merenda com as companheiras, e depois rezam o terço
Vêem “como que suspensa no ar, sobre o arvoredo, uma figura como se fosse uma estátua de neve
que os raios do Sol tornavam algo transparente”
Lúcia diz a sua mãe: “Parecia uma pessoa embrulhada em um lençol”
Esta visão repete-se mais duas vezes a estas raparigas em dias diferentes
1916: Francisco e Jacinta Marto pedem e obtêm dos pais licença para guardar o rebanho
Lúcia passa a pastorear juntamente com os seus primos
Um dia, num monte da propriedade dos pais de Lúcia, no olival de Anastácio, padrinho de Lúcia…
Comeram a merenda e rezaram o terço apressadamente, na ânsia de ir brincar…
Primeiras visões
«Vemos, então, que sobre o olival se encaminha para nós a tal figura de que já falei. A Jacinta e o
Francisco ainda nunca a tinham visto, nem eu Ihes havia falado nela. À maneira que se aproximava, íamos
divisando as feições: um jovem dos seus 14 a 15 anos, mais branco que se fora de neve, que o sol tornava
transparente como se fora de cristal e duma grande beleza.»
21
As aparições em Fátima
Lúcia diz que “passado bastante tempo, em um dia de Verão”, estavam os três no poço do quinta do
Arneiro, quando voltam a ver o Anjo:
A mensagem do Anjo
«Ao chegar junto de nós, disse: “Não temais! Sou o Anjo da Paz. Orai comigo.” E ajoelhando em terra,
curvou a fronte até ao chão e fez-nos repetir três vezes estas palavras: “Meu Deus! Eu creio, adoro,
espero e amo-Vos. Peço-Vos perdão para os que não crêem, não adoram, não esperam e Vos não amam.”
Depois, erguendo-se, disse: “Orai assim. Os Corações de Jesus e Maria estão atentos à voz das vossas
súplicas.”»
«De repente, vemos junto de nós a mesma figura ou Anjo, como me parece que era, e diz: “Que fazeis?
Orai, orai muito. Os Corações Santíssimos de Jesus e Maria têm sobre vós desígnios de misericórdia.
Oferecei constantemente, ao Altíssimo, orações e sacrifícios.” – “Como nos havemos de sacrificar?”,
perguntei. “De tudo que puderdes, oferecei a Deus sacrifício em acto de reparação pelos pecados com que
Ele é ofendido e súplica pela conversão dos pecadores. Atraí assim, sobre a vossa Pátria, a paz. Eu sou o
Anjo da sua guarda, o Anjo de Portugal. Sobretudo, aceitai e suportai, com submissão, o sofrimento que o
Senhor vos enviar.”»
22
As aparições em Fátima
Segundo Lúcia, “passou-se bastante tempo” até que os três voltaram a ver, e pela última vez, o Anjo
Surge de novo numa encosta do monte do Cabeço, pouco acima de Valinhos, no olival da Prégueira:
A mensagem do Anjo
«Logo que aí chegámos, de joelhos, com os rostos em terra, começámos a repetir a oração do Anjo: Meu
Deus! Eu creio, adoro, espero e amo-Vos, etc. Não sei quantas vezes tínhamos repetido esta oração,
quando vemos que sobre nós brilha uma luz desconhecida. Erguemo-nos para ver o que se passava e
vemos o Anjo tendo em a mão esquerda um Cálix, sobre o qual está suspensa uma Hóstia, da qual caem
algumas gotas de Sangue dentro do Cálix. O Anjo deixa suspenso no ar o Cálix, ajoelha junto de nós, e faz-
nos repetir três vezes: “Santíssima Trindade, Padre, Filho, Espírito Santo, (adoro-Vos profundamente e)
ofereço-Vos o preciosíssimo Corpo, Sangue, Alma e Divindade de Jesus Cristo, presente em todos os
Sacrários da terra, em reparação dos ultrajes, sacrilégios e indiferenças com que Ele mesmo é ofendido. E
pelos méritos infinitos do Seu Santíssimo Coração e do Coração Imaculado de Maria, peço-Vos a conversão
dos pobres pecadores.” Depois levanta-se, toma em suas mãos o Cálix e a Hóstia. Dá-me a Sagrada Hóstia
a mim e o Sangue do Cálix divide-O pela Jacinta e o Francisco dizendo ao mesmo tempo: “Tomai e bebei o
Corpo e Sangue de Jesus Cristo, horrivelmente ultrajado pelos homens ingratos. Reparai os seus crimes e
consolai o vosso Deus.” E prostrando-se de novo em terra, repetiu connosco outras três vezes a mesma
oração: Santíssima Trindade... etc., e desapareceu. Nós permanecemos na mesma atitude, repetindo
sempre as mesmas palavras; e quando nos erguemos, vimos que era noite e, por isso, horas de virmos para
casa.»
23
As aparições em Fátima
13 de Maio: primeira aparição de Maria sobre a azinheira:
Sempre segundo Lúcia, esta dialoga com Nossa Senhora:
Lúcia perguntam se os três irão para o Céu, e Maria responde que sim
Maria pergunta se eles querem oferecer os seus sofrimentos em reparação pelos pecados
cometidos contra Deus e em súplica pela conversão dos pecadores
Lúcia responde que sim
Maria pede-lhes que rezem o terço todos os dias pela paz no Mundo e pelo fim da Guerra
As aparições de 1917
«Era uma Senhora vestida de branco e mais brilhante que o Sol,
espargindo luz mais clara e intensa que um copo de cristal cheio de água
cristalina, atravessado pelos raios do sol mais ardente. A sua face,
indescritivelmente bela não era nem triste, nem alegre, mas séria, com
ar de suave censura. As mãos juntas, como a rezar, apoiadas no peito e
voltadas para cima. Da mão direita pendia um rosário. As vestes
pareciam feitas só de luz. A túnica era branca e branco o manto, orlado
de ouro que cobria a cabeça da Virgem e lhe descia até aos pés. Não se
Lhe viam os cabelos nem as orelhas.»
24
As aparições em Fátima
13 de Junho: segunda aparição de Maria sobre a azinheira
Acompanhavam os pastorinhos cerca de 50 a 70 pessoas curiosas
Depois, relata Lúcia:
As aparições de 1917
«Lúcia: - Vossemecê que me quer? Nossa Senhora: - Quero que venhais aqui no dia 13 do mês que vem,
que rezeis o terço todos os dias e que aprendam a ler. Depois, direi o que quero. Lúcia pediu a cura de um
doente. - Se se converter, curar-se-á durante o ano. - Queria pedir-Lhe para nos levar para o Céu. - Sim, a
Jacinta e o Francisco levo-os em breve. Mas tu ficas cá mais algum tempo. Jesus quer servir-se de ti para
Me fazer conhecer e amar. Ele quer estabelecer no mundo a devoção ao meu Imaculado Coração. A quem
a abraçar, prometo a salvação e serão queridas de Deus estas almas, como flores postas por Mim a
adornar o seu trono. - Fico cá sozinha? - Não, filha. E tu sofres muito? Não desanimes. Eu nunca te
deixarei. O meu Imaculado Coração será o teu refúgio e o caminho que te conduzirá até Deus.»
«Foi no momento que disse estas últimas palavras que abriu as mãos e nos comunicou, pela segunda vez, o reflexo
dessa luz imensa. Nela nos víamos como que submergidos em Deus. A Jacinta e o Francisco pareciam estar na
parte dessa luz que se elevava para o céu e eu na que se espargia sobre a terra. À frente da palma da mão direita
de Nossa Senhora estava um coração cercado de espinhos que parecia estarem-lhe cravados. Compreendemos
que era o Imaculado Coração de Maria ultrajado pelos pecados da humanidade que queria reparação. Quando se
desvaneceu esta visão, a Senhora, envolta ainda na luz que d'Ela irradiava, elevou-se da arvorezinha sem esforço,
suavemente na direcção do leste até desaparecer de todo.»
25
As aparições em Fátima
A mãe de Lúcia não acredita nas visões da filha
Leva-a ao Prior de Fátima, o Padre Manuel Marques Ferreira, e avisa-a:
Lúcia mantém-se firme no testemunho; é bem tratada pelo Padre Ferreira, que se mostra céptico
O Padre Ferreira desconfia de que a aparição seja de origem demoníaca, e di-lo a Lúcia
Com dúvidas, Lúcia decide não ir ao local das aparições na véspera de 13 de Julho
No próprio dia, Lúcia acaba por decidir ir à Cova da Iria; estão lá cerca de duas mil pessoas
Maria reforça o pedido de continuarem a vir nos dias 13 e rezar o terço todos os dias pela Paz
Lúcia pede a Nossa Senhora um milagre para que acreditem neles, e pede várias curas
Maria responde que fará um milagre em Outubro
Maria revela o “segredo”: a visão do Inferno, a devoção ao Sagrado Coração de Maria como forma
de salvar almas e evitar uma segunda Guerra, e a visão do “Bispo vestido de branco”
As aparições de 1917
«Não me rales mais! Agora diz ao Senhor Prior que mentiste, para que ele
possa, no Domingo, dizer na Igreja que foi mentira e assim acabar tudo. Isto
tem lá jeito! Toda a gente a correr para a Cova de Iria, a rezar diante duma
carrasqueira!»
26
As aparições em Fátima
Artur de Oliveira Santos (1884-1955), Administrador de Ourém, maçon e anticlerical, rapta os três
pastorinhos na manhã de 13 de Agosto e leva-os para sua casa para os convencer a negar tudo
No entretanto, entre cinco e vinte mil pessoas esperavam pelos pastorinhos na Cova da Iria
Fenómenos no local: trovoada e relâmpago, nuvem de fumo sobre a azinheira, paisagem multicolor
Pelas 10 horas de 14 de Agosto, são de novo interrogados na Administração do Concelho
O Administrador tenta que as crianças lhe digam qual o Padre por detrás das “mistificações”
No dia seguinte, 15 de Agosto, são de novo interrogados na Administração do Concelho
Desta vez, são ameaçadas de morte (serem fervidas em óleo) e chamadas uma a uma: no entanto,
nem esta estratégia funciona, porque as crianças mantêm a história e não cedem à chantagem:
A acção de Oliveira Santos revela-se um fiasco, e ele liberta as crianças no dia 15 de Agosto
19 de Agosto: quarta aparição de Maria: as crianças estão sozinhas
Maria surge no campo dos Valinhos, pelas 16 horas, por cima de uma azinheira mais alta
Maria promete um milagre para Outubro, sem revelar a natureza deste milagre
Maria promete que, em Outubro, eles verão São José com o menino ao colo
Maria pede que eles continuem a rezar muito pelos pecadores, sobretudo rezando o terço
As aparições de 1917
«Quando, depois de nos terem separado, voltaram a juntar-nos em uma sala da cadeia, dizendo que dentro em
pouco nos vinham buscar para nos fritar, a Jacinta afastou-se para junto duma janela que dava para a feira do gado.
Julguei, a principio, que se estaria a distrair com as vistas; mas não tardei a reconhecer que chorava.»
27
As aparições em Fátima
Fátima, em 1917, pertencia ao Patriarcado de Lisboa: D. João Evangelista de Lima Vidal, à frente
do Patriarcado durante o desterro do Patriarca, “dera ordens terminantes para que nenhum
sacerdote interviesse, fosse de que maneira fosse, nos acontecimentos em marcha, proibindo-os
mesmo de comparecerem na Cova da Iria ainda que em mera atitude de curiosos” – C. Brochado
O Padre Ferreira (de Fátima) duvidou das aparições desde o início
O Prior do Olival (Vigário da Vara de Ourém), Padre Faustino José Jacinto Ferreira, também
duvidou, e motivou os colegas, em nome do Patriarcado a não se envolverem no caso
O pároco de Santa Catarina da Serra chegou a advertir os paroquianos a não irem à Cova da Iria
Na manhã de 13 de Agosto, o Administrador de Ourém, antes de os raptar, interrogou os videntes
em casa do Prior de Fátima, Padre Ferreira, o que gerou fortes antipatias do povo contra o Padre
22 de Agosto: o Padre Ferreira pede a publicação de uma carta no Mensageiro de Leiria:
As aparições de 1917
«Com toda a repulsão do coração de padre católico, venho tornar patente e asseverar perante todos os que tiveram
conhecimento ou o possam vir a ter do boato tanto mais infamante e repelente quanto mais perigoso para a minha
existência [o Prior temia ser linchado pela população] e dignidade paroquial, de que fui cúmplice no brusco
arrebatamento das criancinhas, que dizem ver Nossa Senhora, à autoridade de seus pais (...) O administrador não
me confiou o segredo das suas intenções (...) Escolheu a minha casa com que fim? Para se furtar às iras que seu
acto iria promover? Para que o povo se amotinasse, como se amotinou, contra mim, como cúmplice? (...)»
A atitude do Prior de Fátima revela o alheamento inicial das autoridades da Igreja
Católica face aos acontecimentos da Cova da Iria 28
As aparições em Fátima
13 de Setembro: data da quinta aparição de Maria sobre a azinheira
Cerca de dez mil pessoas estão presentes na Cova da Iria perto do local das aparições
Inácio António Marques, funcionário dos Correios em Lisboa, numa carta ao Promotor da Fé datada
de 23 de Novembro de 1922, relata o que viu nesse dia:
Inácio Marques foi operado ao estômago em Lisboa no dia 18 de Dezembro de 1917
Foi considerado sem recuperação possível: segundo os médicos, morreria em breve de pneumonia
Enquanto lutava pela sobrevivência, Inácio Marques rezou à Nossa Senhora do Rosário de Fátima
No dia seguinte, estava curado
As aparições de 1917
«Lúcia recitou o rosário à hora indicada. Seguiu-se a sua conversa com a Senhora e assim que ela [Lúcia] disse “Lá
vai ela”, o Sol escureceu ao ponto de a Lua e as estrelas aparecerem no firmamento. O calor diminuiu e uma brisa
passou pelas nossas frontes. Entretanto surgiram, bem alto no ar, de este para oeste, pequenos bocados muito
pequenos como se fossem flocos de neve. Alguns pensaram que eram pombas brancas, mas podia-se ver
perfeitamente que não eram pássaros. De pé bem perto de mim estava o Rev. Padre Joaquim Ferreira Gonçalves
das Neves, pároco de Santa Catarina da Serra. Ao ver que ele olhava sem nada ver, virei-me para ele e perguntei-
lhe se ele via alguma coisa; ele respondeu que não via nada. Indiquei-lhe uma direcção e ele imediatamente me
disse que agora via [os bocados brancos]. Quando o fenómeno terminou, vi o mesmo padre de joelhos a recitar o
rosário. Parece-me que ele foi o primeiro eclesiástico a recitar o rosário juntamente com os outros naquele local
sagrado.»
29
30
As aparições em Fátima
31
1. Introdução
2. Leis da natureza
3. As aparições em Fátima
4. O milagre do Sol
5. As testemunhas oculares
6. As explicações
7. Conclusão
Índice
O milagre do Sol – 13 de Outubro de 1917
Avelino de Almeida, jornalista de “O Século”
Fora seminarista na sua juventude, mas não seguiu essa vocação
Com 44 anos na altura dos acontecimentos, Avelino não era o típico jornalista
anticlerical, como era frequente na imprensa laica do tempo
No início de Outubro, corriam rumores por todo o país acerca do milagre
previsto para o dia 13, que explicam a multidão desse dia na Cova da Iria
Num artigo, escrito antes, que sai na edição de Sábado dia 13 d’”O Século”,
Avelino vaticina um fiasco, doloroso para os crentes, para esse Sábado:
O artigo é escrito num tom céptico e algo trocista, por vezes paternalista
Avelino, nesse artigo, teme (e censura) a exploração comercial da situação
Avelino vai para a Cova da Iria com o objectivo de obter um “furo” jornalístico
Chega à estação de comboios de Chão de Maçãs por volta das 16 horas de Sexta-feira dia 12
Faz-se acompanhar do fotógrafo Judah Ruah, sobrinho do famoso olissipógrafo Joshua Benoliel
Uma inesperada testemunha do 13 de Outubro
«EM PLENO SOBRENATURAL! AS APARIÇÕES DE FÁTIMA.
Milhares de pessoas concorrem a uma charneca nos arredores de Ourém
por vêrem e ouvirem a Virgem Maria.»
32
Edição de Segunda-feira dia 15 de Outubro de 1917, jornal ”O Século”
«(...)
E assiste-se então a um espectáculo unico e inacreditavel para quem não foi testemunha d'ele. Do
cimo da estrada, onde se aglomeram os carros e se conservam muitas centenas de pessoas, a
quem escasseou valor para se meter à terra barrenta, vê-se toda a imensa multidão voltar-se para
o sol, que se mostra liberto de nuvens, no zenit. O astro lembra uma placa de prata fosca e é
possivel fitar-lhe o disco sem o minimo esforço. Não queima, não cega. Dir-se-hia estar-se
realisando um eclipse. Mas eis que um alarido colossal se levanta, e aos espectadores que se
encontram mais perto se ouve gritar:
- Milagre, milagre! Maravilha, maravilha!
Aos olhos deslumbrados d'aquele povo, cuja atitude nos transporta aos tempos biblicos e que,
palido de assombro, com a cabeça descoberta, encara o azul, o sol tremeu, o sol teve nunca
vistos movimentos bruscos fóra de todas as leis cosmicas - o sol «bailou», segundo a tipica
expressão dos camponeses...
(...)»
33
O milagre do Sol – 13 de Outubro de 1917
Avelino de Almeida, ”Ilustração Portugueza”, 29 de Outubro de 1917, p. 353 e 356
34
O milagre do Sol – 13 de Outubro de 1917
Avelino de Almeida, ”Ilustração Portugueza”, 29 de Outubro de 1917, pp. 354-355
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O milagre do Sol – 13 de Outubro de 1917
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O milagre do Sol – 13 de Outubro de 1917
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O milagre do Sol – 13 de Outubro de 1917
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O milagre do Sol – 13 de Outubro de 1917
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O milagre do Sol – 13 de Outubro de 1917
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O milagre do Sol – 13 de Outubro de 1917
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O milagre do Sol – 13 de Outubro de 1917
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O milagre do Sol – 13 de Outubro de 1917
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O milagre do Sol – 13 de Outubro de 1917
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O milagre do Sol – 13 de Outubro de 1917
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O milagre do Sol – 13 de Outubro de 1917
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O milagre do Sol – 13 de Outubro de 1917
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O milagre do Sol – 13 de Outubro de 1917
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O milagre do Sol – 13 de Outubro de 1917
1. Introdução
2. Leis da natureza
3. As aparições em Fátima
4. O milagre do Sol
5. As testemunhas oculares
6. As explicações
7. Conclusão
Índice
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As testemunhas oculares
Testemunhas oculares do milagre de 13 de Outubro de 1917
Avelino de Almeida, jornalista, artigos n’“O Século”, 15-10-1917 e na “Ilustração Portugueza”, 29-10-1917
Correspondente do Diário de Notícias em Ourém
Cónego Manuel Nunes Formigão
Domingos Pinto Coelho, advogado
Carlos Silva
Maria Madalena de Martel Patrício (mulher do juiz António Maria Pereira)
Anónimo, “O Caso de Fátima”, jornal “A Beira Baixa”, 20-10-1917
Padre José António Marques da Cruz Curado, de Penacova
“uma estimável senhora” (Maria Joaquina Proença de Almeida Garrett?), jornal “A Ordem”
António dos Ramos Mira, residente em Reguengo do Fetal
Romano dos Santos
Maria da Conceição Stokler Parente, carta a um padre do Porto, 16-10-1917
Joaquim Gregório Tavares, funcionário dos Correios em Tomar
Maria José de Lemos Queirós, no “Jornal da Beira”, 30-10-1917
Dr. Nascimento e Sousa, advogado de Alcobaça, carta de 31-10-1917
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As testemunhas oculares
Testemunhas oculares do milagre de 13 de Outubro de 1917
Ana Maria e Antónia Rafaela da Câmara, testemunho sob juramento, 3-11-1917
João Maria Lúcio Serra, jornal “A Ordem”, 21-11-1917
Maria Augusta Saraiva Vieira de Campos, “A minha peregrinação a Fátima”, Novembro de 1917
Gonçalo Xavier de Almeida Garrett, 3-12-1917
José Maria Proença de Almeida Garrett, antes de 18-12-1917, única testemunha que teria binóculos
Dr. Luís António Vieira de Magalhães e Vasconcelos (Alvaiázere), licenciado em Direito (Coimbra)
Dr. Luís Andrade e Silva, padre, licenciado em Direito (Coimbra)
Maria Caminha, residente na Trav. da Fábrica dos Pentes (Lisboa), jornal “A Guarda” (Porto, 12-1-1918)
Manuel Gonçalves Júnior, local, depoimento feito a 31-12-1917
Jacinto de Almeida Lopes, depoimento feito a 20-12-1917
Olívia Mendes, residente em Leiria, carta ao Bispo de Leiria, 5-6-1922
Manuel da Costa Pereira, carta escrita de Salvaterra de Magos, 3-1-1924, ”A Voz de Fátima” (13-3-1923)
Anónimo, publicada n’”A Voz de Fátima” (13-9-1924), acerca dos acontecimentos de 13 de Agosto
Maria Carreira (“Maria da Capelinha”)
Maria do Carmo da Cruz Menezes
Alfredo da Silva Santos, lisboeta
51
As testemunhas oculares
Testemunhas oculares do milagre de 13 de Outubro de 1917
Mariana Pinto Coelho, em carta a sua Tia, a Marquesa da Ribeira Grande, Outubro de 1917: “Vi o sol
descer à terra de uma maneira extraordinária, chegando a incomodar o calor; vi-o andar à roda com velocidade,
como as rodinhas de fogo preso”
Dr. Nascimento e Sousa, advogado em Alcobaça, em carta de 31 de Outubro de 1917: “Nunca mais
passarei momentos tão agradáveis (...) Em face do fenómeno solar que vi, acredito e acredito que houve na
Fátima, no dia 13 de Outubro de 1917, um caso tão extraordinário que enquanto a ciência mo não explicar é única
e exclusivamente obra de Deus”
Dr. Cortês Pinto e sua mulher
Maria Augusta Saraiva Vieira de Campos: “A Minha Peregrinação a Fátima”, Coimbra, Outubro de 1917
Dr. Luís António Vieira de Magalhães (Barão de Alvaiázere), oficial do Registo Civil em Vila Nova de
Ourém, foi à Cova da Iria como descrente: “Recordei, então, como por vezes já tinha recordado, aquele
princípio de Gustavo le Bon que se resume em que o indivíduo numa colectividade não consegue fugir à corrente
hipnótica que o domina. Era preciso precaver-me, não me deixar influenciar. (...) Sei apenas que gritei: creio, creio
creio! E que as lágrimas caíram dos meus olhos maravilhado, extasiado, perante essa manifestação do poder
divino. (...) Então estes fenómenos escapam à previsão da ciência e não escapam à previsão de umas pastorinhas
da serra, que os anunciam com uma precisão verdadeiramente matemática?”
52
As testemunhas oculares
Testemunhas oculares do milagre de 13 de Outubro de 1917
No dia 15 de Outubro, o Prior de Fátima escreve ao Rev.º Arcebispo de Mitilene, então à frente do
Patriarcado de Lisboa: “Careço e imploro de V. Exa. Rev.ma urgentes e acertados conselhos para o
governo desta freguesia”
A 3 de Novembro, recebe a resposta: o Prior deve “proceder a um inquérito consciencioso sobre os
factos ocorridos nessa paróquia a seu cargo, no dia 13 do mês passado, ouvindo testemunhas fidedignas,
e principalmente as crianças que se dizem favorecidas de graças singulares do Céu”
O Patriarcado pediu o mesmo ao Arcipreste de Ourém e ao Vigário de Porto de Mós
Este último, o Padre Joaquim Vieira da Rosa, esclarece num ofício de 11 de Novembro de 1917:
“Consultei muitas pessoas sobre o assunto e todas elas confirmam o mesmo que disseram as testemunhas
constantes do mesmo documento, e por isso me abstive de mandar escrever os seus depoimentos. O que
actualmente tem resfriado um pouco a fé de algumas pessoas é uma das pastoras ter dito que a guerra acabaria
naquele dia mesmo ou na noite seguinte, e ela ainda continua com todo o incremento”
De seguida, o Padre de Porto de Mós relata os depoimentos das testemunhas inquiridas:
António dos Ramos Mira, casado, da Freguesia do Reguengo do Fetal: “[o sol] tinha sinais
desusados, girando sobre si, tremendo, observando ao mesmo tempo que em volta dele aparecera uma
cor amarelo-vermelha que se reflectiu em toda a multidão e no horizonte, havendo ao mesmo tempo
afrouxamento de luz e aumento de temperatura” 53
As testemunhas oculares
Testemunhas oculares do milagre de 13 de Outubro de 1917
Mais depoimentos das testemunhas inquiridas pelo Padre Joaquim Vieira da Rosa:
Angelino Francisco Mira, casado, do Reguengo do Fetal: “viu o sol girando como uma roda de fogo
e que se aproximou da grande multidão (...) e viu também diferentes cores no povo e no horizonte”
Manuel Ribeiro de Carvalho, casado, proprietário, da mesma freguesia: “viu que o sol girou sobre si
mesmo, aproximando-se do povo, e que lançou bastante calor, e ao mesmo tempo observou a cor azul
e encarnada no horizonte”
António Maria Menita, proprietário, da mesma freguesia, viu “mais ou menos como o anterior”
Romano dos Santos, de Alqueidão da Serra, a quem o sol parecia “girando como uma roda de
fogo”
Manuel João Sénior, da mesma freguesia, “olhou perfeitamente para o sol sem incómodo algum para
a vista, e viu-o por três vezes girar como uma roda de fogo, aproximando-se, à hora marcada pelos
pastores”
João Vieira Gomes, da mesma freguesia, “viu o sol girar como uma roda de foto, fitando o sol sem
incómodo para o órgão visual, tremendo ele e gritando toda a multidão por Nossa Senhora”
Manuel Carvalho, da mesma freguesia, “viu o sol baixar, segundo o seu entender, revestiu-se de
várias cores, girando como uma roda de fogo de artifício e que se podia sem incómodo ver”
Domingos Pedro, da mesma freguesia, “viu o sol girar como uma roda de fogo e baixar, segundo o 54
As testemunhas oculares
Testemunhas oculares do milagre de 13 de Outubro de 1917
Gonçalo Xavier de Almeida Garrett (1841-1925), Professor de Matemáticas (Univ. de Coimbra)
A Biblioteca Nacional contém três referências a obras suas de astronomia:
Theses ex adplicata mathesi quas in conimbricensi academia propugnandes [Tese de
Doutoramento, nas áreas de Mecânica Celeste e Astronomia], Imprensa da Universidade de
Coimbra, 1869
A questão dos planetas intra-mercuriaes, Imprensa da Universidade de Coimbra, 1869
Estudo sôbre o plano invariavel do systema solar, Imprensa da Universidade de Coimbra, 1870
Os registos da Universidade de Coimbra para o ano lectivo de 1908-09 dão-no como professor de:
Álgebra avançada
Geometria analítica a duas e três dimensões
Trigonometria esférica
Em 1917, já com 75 anos, o Prof. Gonçalo Xavier de Almeida Garrett estava reformado
O seu filho, o advogado José Maria Proença de Almeida Garrett, estava com ele no dia 13
55
As testemunhas oculares
O Cónego Formigão conheceu o Prof. Gonçalo Almeida Garrett e sua mulher no dia 13 de Outubro
Pouco depois, ele pede-lhe um testemunho escrito acerca do que ele presenciou nesse dia
O Professor deixa o seu testemunho numa carta ao Cónego datada de 3 de Dezembro de 1917
A carta é extremamente concisa e objectiva, relatando os factos de forma numerada:
1. O fenómeno [do Sol ao meio-dia] durou entre oito e dez minutos
2. O Sol perdeu o seu brilho encandeante, tomando o aspecto da Lua, podendo ser olhado com
facilidade
3. Durante este período, o Sol por três vezes exibiu um movimento de rotação na [sua]
circunferência, lançando faíscas de luz da borda, tal como uma bem conhecida roda de fogo
4. Este movimento rotativo da borda do Sol, três vezes manifestado e três vezes interrompido, foi
rápido e durou entre oito e dez minutos, ou menos
5. De seguida, o Sol tomou uma cor violeta, e depois laranja, espalhando estas cores por todo o
lado. Finalmente recuperou ou seu brilho e esplendor, impossível de ser observado a olho nu
6. Foi pouco depois do meio-dia [hora solar, uma e meia hora na hora legal] e [com o Sol] perto do
[seu] zénite (o que é da maior importância) que estes eventos tiveram lugar
O testemunho do Prof. Gonçalo Xavier de Almeida Garrett (1841-1925)
56
As testemunhas oculares
O testemunho do Dr. José Maria Proença de Almeida Garrett
«Vou relatar de uma maneira breve e concisa, sem frases que velem a verdade, o que vi em Fátima no dia
13 de Outubro de 1917. As horas a que me referirei são as que nessa época marcavam oficialmente o
tempo segundo a determinação do governo que unificara a nossa hora com a dos países beligerantes.
Faço isto para maior verdade, pois não me era fácil designar com precisão o momento em que o sol
alcançou o zenith.
Cheguei ao meio-dia. A chuva que desde manhã caía miúda e persistente, tocada de um vento agreste,
prosseguia, irritante, na ameaça de querer tudo liquefazer. O céu baço e pesado tinha uma cor pardacenta
prenhe de água, prenúncio de chuva abundante e de longa duração.
Quedei-me na estrada, ao abrigo da capota do automóvel e um pouco sobranceiro ao local que diziam ser
o da aparição, não ousando meter-me ao lamaçal barrento e pegajoso do campo frescamente lavrado.
Estaria a pouco mais de cem metros dos elevados postes que uma tosca cruz encimava, vendo
distintamente em redor deles o largo círculo de gente que, com os guardas-chuvas abertos, parecia um
vasto sobrado de broquéis.
Pouco depois da uma hora chegaram a este sítio as crianças a quem a Virgem (garantiam elas) marcara
lugar, dia e hora da aparição. Ouviam-se os cânticos entoados pelo povo que as cercava.
Numa determinada altura esta larga massa, confusa e compacta, fechou os guardas-chuvas e descobriu-
se num gesto que devia ser de humildade ou respeito mas que me deixou surpreso e admirado, porque a
chuva, numa continuidade cega, molhava agora cabeças, encharcava e ensopava. Disseram-me depois
que esta gente, que acabou por ajoelhar na lama, tinha obedecido à voz de uma criança.
57
As testemunhas oculares
O testemunho do Dr. José Maria Proença de Almeida Garrett
«Devia ser uma e meia (treze e meia) quando se ergueu, no local preciso onde estavam as crianças, uma
coluna de fumo, delgada, ténue e azulada, que subiu direita até dois metros, talvez, acima das cabeças
para nessa altura se esvair. Durou este fenómeno, perfeitamente visível a olho nu, alguns segundos. Não
tendo marcado o tempo da duração, não posso afirmar se foi mais ou menos de um minuto. Dissipou-se
bruscamente o fumo, e passado algum tempo voltou a repetir-se o fenómeno, uma segunda e uma terceira
vez. Das três vezes, e sobretudo da última, destacaram-se nitidamente os postes esguios na atmosfera
cinzenta. Dirigi para lá o binóculo. Nada consegui ver além das colunas de fumo, mas convencido fiquei de
que eram produzidas por algum turíbulo, não agitado, em que se queimava incenso. Depois pessoas
dignas de fé afirmaram-me que era uso produzir-se o acontecimento nos dias treze dos cinco meses
anteriores, e que nesses dias, como neste, nunca ali se queimara nada nem se fizera fogo.
Continuando a olhar o lugar da aparição, numa espectativa serena e fria e com uma curiosidade que ia
amortecendo, porque o tempo decorrera longo e vagaroso sem que nada activasse a minha atenção, ouvi
o bruaá de milhares de vozes e vi aquela multidão, espraiada pelo largo campo que se estendia a meus
pés, ou concentrada em vagas compactas em redor dos madeiros erguidos, ou sobre os baixos socalcos
que retinham as terras, voltar as costas ao ponto para o qual até então convergiam os desejos e ânsias e
olhar o céu do lado oposto.
Eram quase duas horas. O sol, momentos antes, tinha rompido ovante a densa camada de nuvens que o
tivera escondido, para brilhar clara e intensamente. Voltei-me para este imã que atraía todos os olhares e
pude vê-lo semelhante a um disco de bordo nítido e aresta viva, luminosa e luzente, mas sem magoar.
58
As testemunhas oculares
O testemunho do Dr. José Maria Proença de Almeida Garrett
«Não me pareceu bem a comparação, que ainda em Fátima ouvi fazer, de um disco de prata fosca. Era
uma cor mais clara, activa e rica, e com cambiantes, tendo como que o oriente de uma pérola. Em nada se
assemelhava à lua em noite transparente e pura, porque se via e sentia-se ser um astro vivo.
Não era, como a lua, esférica, não tinha a mesma tonalidade nem os claros-escuros. Parecia uma rodela
brunida cortada no nácar de uma concha. Isto não é uma comparação banal de poesia barata. Os meus
olhos viram assim; também se não confundia com o sol encarado através de nevoeiro (que aliás não havia
àquele tempo), porque não era opaco, difuso e velado. Em Fátima tinha luz e calor e desenhava-se nítido
e com a borda cortada em aresta, como uma tábua de jogo.
A abóbada celeste estava enevoada de cirrus leves, tendo frestas de azul aqui e acolá, mas o sol algumas
vezes se destacou em rasgões de céu limpo. As nuvens que corriam ligeiras de poente para oriente não
empanavam a luz (que não feria) do sol, dando a impressão facilmente compreensível e explicável de
passar por detrás, mas por vezes esses flocos que vinham brancos, pareciam tomar, deslizando ante o sol,
uma tonalidade rosa ou azul diáfana.
Maravilhoso é que, durante longo tempo, se pudesse fixar o astro, labareda de luz e brasa de calor, sem
uma dor nos olhos e sem um deslumbramento na retina, que cegasse.
Este fenómeno, com duas breves interrupções, em que o sol bravio arremessou os seus raios mais
coruscantes e refulgentes, e que obrigaram a desviar o olhar, devia ter durado cerca de dez minutos.
Este disco nacarado tinha a vertigem do movimento. Não era a cintilação de um astro em plena vida.
Girava sobre si mesmo numa velocidade arrebatada.
59
As testemunhas oculares
O testemunho do Dr. José Maria Proença de Almeida Garrett
A certa altura, o advogado fornece detalhes meteorológicos muito importantes:
Presença de nuvens de tipo cirro (feitas de cristais de gelo, formam-se a altas altitudes)
Vento de Poente para Oriente que arrastava as nuvens em frente ao Sol
O advogado diz que, por vezes, essas nuvens pareciam passar por detrás do Sol
Este detalhe é fundamental:
Mostra que a imagem aparente do Sol foi formada na atmosfera e abaixo das nuvens
Mostra que a imagem aparente do Sol foi afectada por essas nuvens
Este testemunho não é o único que contém detalhes meteorológicos, mas é dos melhores
«A abóbada celeste estava enevoada de cirrus leves, tendo frestas de azul aqui e
acolá, mas o sol algumas vezes se destacou em rasgões de céu limpo. As nuvens que
corriam ligeiras de poente para oriente não empanavam a luz (que não feria) do sol,
dando a impressão facilmente compreensível e explicável de passar por detrás, mas
por vezes esses flocos que vinham brancos, pareciam tomar, deslizando ante o sol,
uma tonalidade rosa ou azul diáfana.»
60
As testemunhas oculares
O testemunho do Dr. José Maria Proença de Almeida Garrett
«De repente ouve-se um clamor, como que um grito de angústia de todo aquele povo. O sol, conservando
a celeridade da sua rotação, destaca-se do firmamento e sanguíneo avança sobre a terra ameaçando
esmagar-nos com o peso da sua ígnea e ingente mó. São segundos de impressão terrífica.
Durante o acidente solar, que detalhadamente tenho vindo a descrever, houve na atmosfera coloridos
impressionantes. Não posso precisar bem a ocasião, porque já lá vão dois meses passados e eu não
tomei notas. Lembra-me que não foi logo no princípio e antes creio que foi para o fim. Estando a fixar o sol,
notei que tudo escurecia à minha volta. Olhei o que estava perto e alonguei a vista até ao extremo
horizonte e vi tudo cor de ametista. Os objectos, o céu e a camada atmosférica tinham a mesma cor. Uma
carvalheira arroxeada, que se erguia na minha frente, lançava sobre a terra uma sombra carregada.
Receando ter sofrido uma afecção de retina, hipótese pouco provável, porque, dado este caso, não devia
ver as coisas de roxo, voltei-me, cerrei as pálpebras e retive-as com as mãos para interceptar a luz. Ainda
de costas abri os olhos e reconheci que, como antes, a paisagem e o ar continuavam da mesma cor roxa.
A impressão que se tinha não era de eclipse. Vi um eclipse do sol, que em Viseu, onde eu estava, foi total.
À medida que a lua marcha a esconder o sol, a luz vai-se acinzentando até que tudo se torna baço e
negro. A vista alcança um pequeno circo, para lá do qual os objectos se vão tornando cada vez mais
confusos até que se perdem no negrume. Baixa a temperatura consideravelmente e dir-se-á que a vida da
terra se extinguiu. Em Fátima, a atmosfera, embora roxa, permaneceu transparente até nos confins do
horizonte que se distingue e vê claramente, e eu não tive a sensação de uma paragem de energia
universal.
61
As testemunhas oculares
O testemunho do Dr. José Maria Proença de Almeida Garrett
«Continuando a olhar o sol, reparei que o ambiente tinha aclarado. Logo depois ouvi um campónio que
cerca de mim estava a dizer com voz de pasmo: “esta senhora está amarela!”
De facto tudo agora mudara, perto e distante, tomando a cor de velhos damascos amarelos. As pessoas
pareciam doentias e com icterícia. Sorri-me de as achar francamente feias e desairosas. Ouviram-se risos.
A minha mão tinha o mesmo tom amarelo. Dias depois fiz a experiência de fixar o sol uns breves instantes.
Retirada a vista, vi, após alguns momentos, manchas amarelas, irregulares na forma.
Não se vê tudo de uma cor uniforme, como se no ar se tivesse volatilizado um topázio, mas nódoas ou
malhas que com o movimento do olhar se deslocam. Todos estes fenómenos que citei e descrevi observei-
os eu sossegada e serenamente sem uma emoção ou sobressalto.
A outros cumpre-os explicá-los ou interpretá-los.
Para terminar devo fazer a afirmação de que nunca, nem antes, nem depois do dia 13 de Outubro, vi iguais
fenómenos solares ou atmosféricos»
62
As testemunhas oculares
Afirmações comuns a quase todos os testemunhos oculares
Manhã de chuva, céu muito carregado, Sol totalmente coberto, lamaçal na Cova da Iria
Por volta da uma e meia (meio-dia solar), a chuva pára
Por três vezes, eleva-se uma coluna de fumo perto das crianças (nada arde no local)
Lúcia avisa a multidão de que esta deve olhar para o céu: fecham-se os chapéus de chuva
O Sol torna-se claramente visível e com forma nítida mas o céu não está limpo
É possível olhar para o Sol sem ferir a vista ou prejudicar a retina
O contorno do Sol (e não o Sol todo) dá a impressão de girar sobre si mesmo, "faiscando"
Este fenómeno é multicolor, e as várias cores afectam a cor dos objectos e das pessoas no solo
A certa altura, o Sol dá a impressão de aumentar de tamanho, como se fosse cair sobre a Terra
Este fenómeno repete-se algumas vezes, lançando o terror sobre as pessoas
O Sol volta ao seu estado normal, descoberto, e nesta fase já não é possível olhar para ele
Várias pessoas relatam que as suas roupas, antes molhadas, ficaram subitamente secas
63
64
1. Introdução
2. Leis da natureza
3. As aparições em Fátima
4. O milagre do Sol
5. As testemunhas oculares
6. As explicações
7. Conclusão
Índice
64
As explicações
Alucinação colectiva?
O poeta Afonso Lopes Vieira (1878-1946) viu o fenómeno da sua varanda em São Pedro de Moel
Distância em linha recta de São Pedro de Moel ao local das aparições: 33,7 Km
«Nesse dia 13 de Outubro de 1917, eu, que não me lembrava da predição dos pastorinhos, fiquei
encantado com um espectáculo deslumbrante diante de mim, para mim inteiramente inédito, a que
assisti dessa varanda» - 20 de Outubro de 1935
A sua mulher Helena e a sua sogra também o viram
A 12 de Agosto de 1929, inaugurou uma capela junto
de sua casa, dedicada a Nossa Senhora de Fátima
65
As explicações
Alucinação colectiva?
O testemunho de Inácio Lourenço Pereira, rapaz de Alburitel, com nove anos em 1917
O seu irmão Joaquim Lourenço (1905-1963), com doze anos, também testemunhou o fenómeno
Inácio seguiria o sacerdócio, ingressando no Seminário de São José em Mangalore (Índia)
A pedido do Bispo, redige um primeiro depoimento a 13 de Julho de 1931
O depoimento é publicado na edição de Julho de 1931 do Catholic Register de Meliapore:
«Tinha então apenas 9 anos e frequentava a escola de primeiras letras da minha aldeia... Era meio dia
mais ou menos quando fomos sobressaltados pelos gritos e exclamações de alguns homens e mulheres
que passavam na rua diante da nossa escola. A professora, senhora muito boa e piedosa, mais facilmente
impressionável e excessivamente tímida, foi a primeira a correr para a rua, sem poder impedir que todas
as crianças corressem atrás dela. Na rua o povo chorava e gritava, apontando para o sol, sem atender às
perguntas que aflitíssima lhe fazia a nossa professora. Era o grande Milagre, que se via distintissimamente
do alto do monte, onde fica situada a minha terra: era o Milagre do sol, com todos os seus fenómenos
extraordinários.
Sinto-me incapaz de o descrever, como o vi e senti então. Eu olhava fixamente para o sol, e parecia-me
pálido de modo que não cegava os olhos: era como um globo de neve a rodar sobre si mesmo. Depois, de
repente, pareceu que baixava em zig-zag ameaçando cair sobre a terra. Aterrado, corri a meter-me no
meio da gente. Todos choravam aguardando de um instante para o outro o fim do mundo.»
66
As explicações
Alucinação colectiva?
O Padre Inácio faria novo depoimento em 1952:
«Junto de nós estava um incrédulo, sem religião, que tinha passado a manhã a mofar dos simplórios que
faziam toda aquela caminhada da Fátima para irem ver uma rapariga. Olhei para ele: estava como
paralisado, assombrado, com os olhos fitos no sol. Depois vi-o tremer dos pés à cabeça, e levantando as
mãos ao céu, caiu de joelhos na lama, gritando: - Nossa Senhora! Nossa Senhora!
Entretanto, a gente continuava a gritar e a chorar pedindo a Deus perdão dos próprios pecados... Depois
corremos para as duas capelas da aldeia, que em poucos instantes ficaram repletas... Durante estes
longos minutos do fenómeno solar... os objectos à volta de nós reflectiam todas as cores do arco-íris.
Olhando uns para os outros, um parecia azul, outro amarelo, outro vermelho, etc... Todos estes estranhos
fenómenos, aumentavam o terror do povo. Passados uns dez minutos, o sol voltou ao seu lugar, do
mesmo modo como tinha descido, pálido ainda e sem esplendor... Quando a gente se persuadiu de que o
perigo tinha desaparecido, foi uma explosão de alegria. Todos prorromperam num coro de acção de
graças: - Milagre! Milagre! Bendita seja Nossa Senhora!»
«Frequentei a escola elementar de Alburitel no Concelho de Vila Nova de Ourém. Naquele dia de 13 de
Outubro de 1917, os meus pais foram a Fátima, como fizeram outras pessoas da região, porque havia
rumores de que Nossa Senhora tinha anunciado um milagre para esse dia. Eu era um rapaz novo e na
noite anterior eu tinha feito umas asneiras na plantação de melão de um vizinho. Como castigo os meus
pais não me levaram. Estava na escola e lembro-me distintamente de que chovia fortemente.»
67
As explicações
Alucinação colectiva?
«De repente a chuva parou e ouvimos pessoas a gritar lá fora. A professora não nos conseguiu conter. Na
rua, a multidão, eu diria mesmo a maioria da aldeia, apontava para o céu. Por momentos vimos um tipo de
clarabóia muito brilhante por entre as nuvens negras, como se fosse uma abertura no céu. Raios do sol
projectados através dessa abertura como se fossem várias fitas caindo através dessa abertura baixa, e no
meio dela [da clarabóia], mesmo no topo, bem mais alto, o sol começava a perder o seu brilho. No entanto,
não cegava. Era como uma roda de fogo, muito grande e avermelhada. Um minuto depois (cerca de um
minuto, não sei), “aquela roda” começou a rodar sobre si mesma a grande velocidade, lançando chamas
de várias cores. Alguns disseram: “Parece a mó do moinho de Verdasca” (havia um moinho mecânico
perto de Ourém). As cores do céu reflectiam-se nas caras das pessoas. Algumas diziam, “Estás amarelo”.
Outras, “Estás vermelho” (todas as cores do arco-íris). E todos desataram em pranto, “É o fim do mundo!
Nossa Senhora nos salve!”. Entretanto muitos largaram as ferramentas que transportavam e correram para
a capela para rezar em voz alta.
Pouco depois o sol começou a descer, em zig-zag, através da abertura da clarabóia, de tal forma que
apareceu mesmo acima do topo da torre da igreja. Ficou ali por dois ou três minutos. O povo ajoelhou-se
na lama. Então o sol começou a subir, sempre para cima, e a rodar. Mais um momento e depois a
gigantesca roda de fogo tornou-se no sol normal, e a cegar-nos como de costume quando tentamos olhar
para ele.»
68
69
As testemunhas oculares
Testemunhas fora da Cova da Iria
As explicações
Uma fotografia enganadora?
Esta fotografia circula pela Internet, referenciada como “fotografia original” do milagre do Sol
Consta que foi publicada pelo jornal “L’Osservatore Romano” em 1951 (não pude confirmar)
Mesmo que tenha sido tirada nesse dia, foi ao pôr-do-sol, e não ao meio-dia solar (zénite)
70
As explicações
As explicações possíveis
O fenómeno não ocorreu
1. Farsa: as testemunhas inventaram os seus testemunhos
X Testemunhas neutras ou cépticas: Avelino de Almeida, Barão de Alvaiázere, etc.
2. Alucinação colectiva: as testemunhas julgaram ver algo que não aconteceu
X Testemunhas fora da Cova da Iria: Afonso Lopes Vieira, Inácio Lourenço Pereira, etc.
O fenómeno ocorreu
3. Astronómico: o Sol moveu-se
X Nada de irregular acerca do Sol foi registado em qualquer observatório astronómico
4. Extraterrestre: um OVNI estaria na origem do fenómeno
X É mais difícil de fundamentar do que o próprio fenómeno, e além disso não explica a previsão
Atmosférico: o Sol não se moveu, as testemunhas viram distorções atmosféricas
5. Natural: um raro e belo fenómeno ocorreu, mas tem explicação natural
X Os pastorinhos previram com antecedência o dia, a hora e o local
6. Sobrenatural: o fenómeno não se explica inteiramente por via natural
 A explicação sobrenatural é a mais consistente e racional 71
As explicações
Uma explicação natural?
Não há explicação natural para a previsão do fenómeno por parte dos pastorinhos
Mas pode haver explicação natural para o fenómeno em si mesmo
Fenómenos atmosféricos que alteram a aparência do Sol são bem conhecidos, apesar de raros
No entanto, o fenómeno de 13 de Outubro de 1917 apresenta propriedades bem mais complexas
Telephoto photograph obtained 2 min after that in Fig. 2, showing different iridescence effects and a broad, red aureole as the Sun
ind the Oquirrh Mountain Range in northern Utah.
Iridescência rara em nuvens de tipo cirro
Montanha Oquirrh, no norte do Utah (EUA)
25 de Novembro de 1998
Raro halo solar criado por cristais de gelo
Estação do Pólo Sul
21 de Dezembro de 1980 72
As explicações
A explicação do Padre Stanley Jaki (1924-2009)
A imagem (aparente) do Sol formou-se dentro de nuvens de tipo cirro (feitas de cristais de gelo)
Isso explicaria a alusão de algumas testemunhas à impressão de ver nuvens atrás do Sol
Nuvens de vapor de água ou de cristais de gelo podem explicar o “filtro” translúcido que deu
opacidade ao Sol, permitindo que este fosse observado sem esforço ou sem impressionar a retina
As cores amarela, vermelha e púrpura ocupam uma parte importante do espectro visível:
Surgem naturalmente pela refracção dos raios solares nas gotas de água ou nos cristais de gelo
A refracção da luz solar é mais intensa ao pôr-do-sol, o que torna o milagre do Sol mais exótico
Nuvens de cristais de gelo podem actuar como lentes, ampliando a imagem (aparente) do Sol
A rotação destas “lentes” por acção do vento, pode explicar o efeito “roda de fogo”
Um fenómeno de inversão térmica, com correntes de ar quente descendente, pode explicar:
O calor relatado pelas testemunhas e a secagem estranhamente rápida das suas roupas
A ilusão de que o Sol se aproximava da Terra, pela descida das “lentes” de cristais de gelo
Esta explicação natural não afecta o carácter miraculoso da previsão!
73
74
1. Introdução
2. Leis da natureza
3. As aparições em Fátima
4. O milagre do Sol
5. As testemunhas oculares
6. As explicações
7. Conclusão
Índice
74
Conclusão
Uma questão de proporção...
O cepticismo acerca dos milagres resulta de uma ideia errada acerca das “leis” da Natureza
O cepticismo acerca dos milagres resulta de uma deficiente teologia da Criação
Necessidade de coerência: se Jesus atravessa portas fechadas (cfr. São João 20), então o
Seu nascimento não afectou com a virgindade perpétua de Maria (doutrina “de fide”)
«O milagre da concepção física de Cristo pode ser, fisicamente
falando, nada mais do que a criação de uma célula haplóide
masculina, com o seu conjunto de cromossomas, para fertilizar
uma célula haplóide feminina (óvulo) no ventre de Maria. (...)
Por isso, desde que se atribua a existência do universo (...) a
Deus, que o criou do nada, a introdução milagrosa daquela célula
haplóide masculina no ventre de Maria apenas deveria criar
problemas para aqueles que perderam o sentido da proporção.
O que devemos pensar acerca daquele bioquímico que acha difícil
aceitar que Jesus não teve pai humano, quando ele, como
Católico, não acha difícil admitir a criação do universo?» - Pe. Jaki Padre Stanley Jaki (1924-2009)
75
Conclusão
Para saber mais...
“Documentação crítica de Fátima”, Santuário de Fátima, 1992-...
Centro de Estudos de História Religiosa da UCP
Serviço de Estudos e Difusão do Santuário, Pe. Luciano Cristino
Vol. I: Interrogatórios aos Videntes (1917)
Vol. II: Processo Canónico Diocesano (1922-1930)
Vol. III: Das Aparições ao Processo Canónico Diocesano 1 (1917-1918)
Vol. III: Das Aparições ao Processo Canónico Diocesano 2 (1918-1920)
Vol. III: Das Aparições ao Processo Canónico Diocesano 3 (1920-1922)
Vol. IV: Do início do processo canónico diocesano à criação da capelania
1 (3 Mai.-12 Out. 1922)
Vol. IV: Do início do processo canónico diocesano à criação da capelania 2 (13 Out. 1922 - 12 Out. 1924)
Vol. IV: Do início do processo canónico diocesano à criação da capelania 3 (13 Out. 1924 - 31 Dez 1925)
Vol. IV: Do início do processo canónico diocesano à criação da capelania 4 (1 Jan. 1926 - 12 Jul. 1927)
Vol. V: Da criação da Capelania à Carta Pastoral de D. José 1 (13 Jul. 1927 - 31 Dez. 1928)
Vol. V: Da criação da Capelania à Carta Pastoral de D. José 2 (1 de Janeiro a 30 de Junho de 1929)
Vol. V: Da criação da Capelania à Carta Pastoral de D. José 3 (1 de Julho a 31 de Dezembro de 1929)
Vol. V: Da criação da Capelania à Carta Pastoral de D. José 4 (1 de Janeiro a 30 de Abril de 1930) 76

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Milagres e Ciência

  • 1. Curso Ciência e Fé Módulo XI – Milagres e Ciência © Bernardo Motta bmotta@observit.pt http://espectadores.blogspot.com
  • 2. Curso Ciência e Fé I – Introdução II – Filosofia Grega e Cosmologia Grega III – Filosofia Medieval e Ciência Medieval IV – Inquisição e Ciência V e VI – O Caso Galileu VII – A Revolução Científica VIII – Darwin e a Igreja Católica IX – Os Argumentos Cosmológico e Teleológico X – Filosofia da Mente e Inteligência Artificial XI – Milagres e Ciência XII – Concordância entre Cristianismo e Ciência
  • 3. 3 1. Introdução 2. Leis da natureza 3. As aparições em Fátima 4. O milagre do Sol 5. As testemunhas oculares 6. As explicações 7. Conclusão Índice 3
  • 4. Causas naturais mas desconhecidas Ilusão (o fenómeno não aconteceu) Farsa (o fenómeno foi simulado) Filosofia materialista Só há matéria: o sobrenatural é irreal Logo, não há causas sobrenaturais Filosofia cristã A realidade é natural e sobrenatural Logo, há causas naturais e sobrenaturais Fenómeno sem explicação natural Fenómeno sem explicação natural Causas naturais mas desconhecidas Causas sobrenaturais Ilusão (o fenómeno não aconteceu) Farsa (o fenómeno foi simulado) Introdução 4
  • 5. Os conceitos de “lei natural” e de “milagre” só fazem sentido num Universo com “leis gerais” e no contexto de uma teologia de um Deus fiel! Introdução O que é um milagre (do latim “miraculum”, “admirar”)? É um acontecimento empírico (os milagres são fenómenos sensoriais) É um acontecimento imprevisível e inexplicável pelas “causas segundas” (naturais) É uma decisão voluntária e livre de Deus, que é a causa do “ser” de tudo o que existe Como se descobrem as “leis” da Natureza? 1. Hipótese: supor “leis” gerais que expliquem certos fenómenos empíricos 2. Dedução: deduzir resultados empíricos decorrentes dessas hipotéticas “leis” gerais 3. Experimentação: preparar experiências que corroborem ou refutem a hipótese original O método hipotético-dedutivo não dá verdade absoluta a uma “lei”, mas sim verosimilhança Mas esse método permite, por falsificação, refutar com certeza uma suposta (hipotética) “lei” É impossível a ocorrência de fenómenos que não se enquadram nas “leis” da Natureza? As “leis” da Natureza dependem de como a Natureza é: e ela poderia ser diferente do que é Baseiam-se num número finito de observações: não é possível provar que são universais Teologicamente, a regularidade dessas “leis” decorre da vontade divina O Antigo Testamento (p.ex., Salmos) associa a estabilidade da Criação à aliança de Deus Milagres 5
  • 6. Vários tipos de milagre Co-natural: catalisar ou provocar um processo natural que seria lento ou com baixa probabilidade Por exemplo, Cristo curar um doente Contra-natural: alterar localmente a dinâmica de um sistema natural contrariando o seu curso Por exemplo, Cristo caminhar sobre as águas Sobre-natural: causar um fenómeno que nenhuma causa natural poderia provocar Por exemplo, Cristo ressuscitar um morto Será correcto dizer que um milagre é uma “violação de leis naturais”? Na Natureza, verificamos que há regularidades que nos parecem universais: Corpos com massa atraem-se na proporção directa do produto das suas massas Corpos com massa atraem-se na proporção inversa do quadrado das suas distâncias As “leis naturais” são representações matemáticas das regularidades na Natureza Num milagre, uma ou mais dessas regularidades não se verifica num determinado local Um milagre implica a suspensão local de uma regularidade natural Essa suspensão deve-se a uma causa sobrenatural, senão a regularidade permaneceria Introdução Deus não está obrigado a seguir as “leis” que nós extraímos das regularidades naturais que Ele sustém, e que resultam da Sua vontade! 6
  • 7. Os milagres resultam de decisões livres e pessoais de Deus Os efeitos de um milagre são sempre naturais, mas a causa é sobrenatural e pessoal Deus é um agente livre, e as Suas decisões não são cientificamente analisáveis As decisões de qualquer agente livre não são cientificamente analisáveis, senão não seriam livres Introdução Veículo de 540 Kg de peso, 3,4 m de comprimento, motor de 4 cilindros em bloco, caixa epicicloidal de 2 mudanças, 2894 cm3 e 20 cv (15kW) de potência. Ford Modelo T (1908-1927) Explicação científica (natural) Explicação pessoal (decisão livre) Henry Ford (1863-1947) 7 Uma explicação pessoal é irredutível a uma explicação científica!
  • 8. Rudolph Bultmann (1884-1976), teólogo luterano, contra os milagres Bultmann apenas aceita a Ressurreição como facto sobrenatural, suficiente para a fé cristã Parte do método histórico (que não admite explicações miraculosas) para a rejeição dos milagres Considera mitológicos os relatos miraculosos do Novo Testamento, o legado de uma era pré- científica Mas um historiador rejeita explicações miraculosas por questão de método, e não porque não existam É defensável que o historiador rejeite explicações miraculosas: os milagres são raros e difíceis de aferir Mas nenhum conhecimento científico, do passado ou do presente, justifica a crença de Bultmann Introdução 8 «O método histórico inclui o pressuposto de que a história é uma unidade no sentido de um contínuo fechado de efeitos nos quais eventos individuais estão ligados pela sucessão de causa e efeito. [Este contínuo, para mais,] não pode ser rasgado pela interferência de poderes sobrenaturais e transcendentes.» «(...) é impossível usar a luz eléctrica e [a tecnologia] sem fios e socorrermo-nos das modernas descobertas médicas e cirúrgicas, e ao mesmo tempo, acreditar no mundo neotestamentário de espíritos e milagres.»
  • 9. A física clássica é incompatível com milagres? Isaac Newton (1642-1727), físico, matemático, astrónomo, mas também teólogo Newton não só defendia a ocorrência de milagres mas também a intervenção rotineira de Deus para “retocar” as órbitas dos planetas e resolver irregularidades: As leis da física clássica pressupõem sistemas fechados ou isolados de causas externas Qualquer acção externa sobre um sistema físico altera a energia ou o momento desse sistema Um milagre é uma acção externa sobre um sistema que, por essa razão, não está isolado nem fechado! Física clássica Lei da conservação do momento: se nenhuma força externa actua sobre um sistema fechado, então o momento (produto da massa pela velocidade) total do sistema mantém-se constante Lei da conservação da energia: a energia total de um sistema fechado (isolado) mantém-se constante Introdução «Pois enquanto os cometas se movem em órbitas muito excêntricas em todo o tipo de posições, o destino cego nunca conseguiria fazer mover os planetas de uma só forma em órbitas concêntricas, salvo irregularidades desprezáveis que podem resultar da acção mútua entre cometas e planetas, e que tendem a aumentar, até que este sistema precise de uma reforma.» É um erro afirmar que os milagres contradizem as leis da física clássica! 9
  • 10. A tese metafísica de Pierre-Simon Laplace (1749-1827) Introdução «Devemos então ver o estado presente do universo como o efeito do seu estado anterior, e como a causa do que vem a seguir. Uma inteligência que, para um dado instante, conhecesse todas as forças das quais a natureza está animada, e a situação respectiva dos seres que a compõem, se ela fosse suficientemente vasta para submeter estes dados à análise, abraçaria na mesma fórmula os movimentos dos maiores corpos do universo e os do mais leve átomo: nada seria incerto para ela, e o futuro como o passado, seria [como] o presente aos seus olhos.» Para além de ser uma tese duvidosa, poderá vir a ser falsificada pela MQ! Será esta tese de Laplace compatível com a ocorrência de milagres? Não é compatível: Laplace vê o Universo como uma máquina fechada e determinística Se o estado do Universo num instante é totalmente determinado (causado) pelo estado anterior... ... não há qualquer espaço para intervenções causais de Deus Mas porque é que seria verdadeira esta a tese metafísica? Ele não a demonstrou... Como se poderá alguma vez demonstrar cientificamente que o Universo é um sistema fechado? E para mais, a Mecânica Quântica permite interpretações indeterministas! 10
  • 11. David Hume (1711-1776), filósofo escocês, contra os milagres O argumento de Hume é falacioso (petição de princípio) e circular: Rejeita os milagres de forma apriorística: “[há] experiência uniforme contra todo o evento miraculoso” Os milagres não são reais porque não há testemunhos credíveis de milagres Não há testemunhos credíveis de milagres porque os milagres não são reais A confiança de Hume na inviolabilidade das leis da Natureza é contradita pelo próprio, quando Hume procura refutar um argumento para a existência de Deus a partir da grandeza e racionalidade do Cosmos, dizendo que “vários mundos poderiam ter sido [criados] defeituosos ou ineptos, por toda uma eternidade” Introdução «Um milagre é uma violação das leis da natureza. (…) Nada é tido como milagre, se ocorre no decorrer comum da natureza. (…) Mas é um milagre que um homem morto possa voltar à vida, porque tal nunca foi observado em época ou país algum. Deve, então, existir uma experiência uniforme contra todo o evento miraculoso, ou então o evento não mereceria esse epíteto… (…) Quando alguém me diz que viu um homem morto voltar à vida, eu imediatamente tomo em consideração se será mais provável que essa pessoa esteja enganada ou a querer enganar, ou se o facto que ele relata poderia realmente ter acontecido.» 11
  • 12. Haldane e a imutabilidade das leis da Natureza John Burdon Sanderson Haldane (1892-1964), geneticista britânico: Haldane era marxista e materialista, convencido da imutabilidade e do determinismo das leis naturais Mas entendeu que esse materialismo determinista minava os conceitos de verdade e conhecimento Quando o ser humano toma decisões livres, viola as leis da Natureza? Qual é a lei (ou leis) da Natureza que determina que eu vou levantar o meu braço aqui e agora? Qual é a lei (ou leis) da Natureza que determina as minhas convicções? Mas se negamos o livre arbítrio, se as nossas decisões nunca fossem livres… Tudo o que faríamos seria determinado pelas leis naturais, pelo nosso passado e pelas coisas à nossa volta Mesmo as nossas convicções e ideias estariam pré-determinadas Logo, não poderíamos saber se o livre arbítrio é verdadeiro ou falso! Introdução 12 «Se os meus processos mentais estão determinados totalmente pelo movimento de átomos no meu cérebro, eu não tenho razões para supor que as minhas crenças são verdadeiras. Elas podem ser quimicamente consistentes, mas isso não as torna logicamente consistentes. E então, eu não tenho qualquer razão para supor que o meu cérebro seja composto por átomos.»
  • 13. Stokes e a imutabilidade das leis da Natureza Sir George Gabriel Stokes (1819-1903), matemático e físico britânico Leccionou de 1849 a 1903 a cátedra lucasiana de Matemáticas em Cambridge Entre 1891 e 1893, Stokes leccionou as Gifford Lectures As Gifford Lectures, dedicadas à Teologia Natural, tiveram início em 1888 Stokes tinha uma ideia teológica correcta acerca da Criação Stokes sabia que o Deus pessoal do cristianismo criou tudo a partir do nada (“ex nihilo”) e sustém tudo Apenas com esta visão correcta acerca da criação é possível compreender: Que as leis da natureza são expressão da vontade (“lei”) divina Que os milagres são expressão dessa mesma vontade divina Que um milagre implica a suspensão local e temporária das leis naturais, e não a sua violação Introdução 13 «Admita-se a existência de um Deus, de um Deus pessoal, e a possibilidade de milagres decorre imediatamente. (...) se as leis da natureza são mantidas de acordo com a Sua [de Deus] vontade, Aquele que as quis pode querer a sua suspensão.» - Stokes, Natural Theology
  • 14. 1. Introdução 2. Leis da natureza 3. As aparições em Fátima 4. O milagre do Sol 5. As testemunhas oculares 6. As explicações 7. Conclusão Índice 14
  • 15. Robert Boyle (1627-1691) e o fundamento teológico das “leis” da Natureza Os primeiros cientistas da era moderna eram quase todos cristãos Explicaram teologicamente as regularidades da Natureza pela constância da vontade de Deus Por basearem essas regularidades na vontade constante de Deus, chamaram-lhes “leis” Assim, o termo “lei da Natureza” nasce de um postulado teológico Esse postulado tem, também, uma vertente moral Assim, a vontade de Deus, supremo legislador, traduzida em “leis divinas”, dá origem a: “Leis” científicas, às quais a Natureza “obedece” por não ter liberdade para “desobedecer” ”Leis” morais, às quais o Homem deve obedecer, mas sendo livre, pode não obedecer Leis da natureza «Deus [é] o Autor do universo, e o livre Estabelecedor das Leis do movimento, cujo geral Concurso é necessário para a conservação e Eficácia de cada Agente Físico em particular.» «A natureza deste ou daquele corpo não é mais do que a lei de Deus prescrita a ele [e] falando propriamente, uma lei não é mais do que uma regra nocional de agir de acordo com a vontade declarada de um superior.» Robert Boyle (1627-1691) 15
  • 16. Stephen Hawking e Leonard Mlodinow: leis que criam universos... Este livro está repleto de erros filosóficos graves: são mesmo muitos! Uma lei da natureza é uma formalização matemática ("ens rationis") que representa regularidades observadas ou medidas na natureza Por isso, as leis da natureza não têm poderes causais: a lei da gravidade não pode criar nada! A lei da gravidade existe porque corpos com massa se atraem de forma regular Uma coisa não se cria a ela mesma, senão teria que existir antes de existir, o que é absurdo Do nada, nada vem: é uma verdade metafísica elementar! Deus não é necessário apenas para explicar como um Cosmos racional surge do nada... A vontade de Deus também explica como é que o Cosmos se mantém em existência! Leis da natureza «Porque há uma lei como a da gravidade, o universo pode, e irá, criar-se do nada (...). A criação espontânea é a razão pela qual há algo em vez de nada, pela qual universo existe, pela qual nós existimos. Não é necessário invocar Deus para acender o rastilho e colocar o universo em marcha.», p. 180 16
  • 17. Palestra de Bento XVI na Aula Magna de Ratisbona, 12 de Setembro de 2006: "Fé, Razão e Universidade": "(...) a razão moderna (...) tem simplesmente de aceitar a estrutura racional da matéria e a correspondência entre o nosso espírito e as estruturas racionais operativas na natureza como um dado de facto, sobre o qual se baseia o seu percurso metódico" "Mas a pergunta sobre o porquê deste dado de facto existe e deve ser confiada pelas ciências naturais a outros níveis e modos do pensar – à filosofia e à teologia"  Quais são os pressupostos da Ciência moderna? A existência de leis da natureza e a capacidade humana para as descobrir pressupõem um Cosmos estável, racional e inteligível! Leis da natureza 17
  • 18. As principais explicações filosóficas para o seu fundamento Regularista As leis da natureza apenas descrevem regularidades observadas no Universo Essas regularidades são um facto bruto: não têm nem requerem nenhuma explicação Não explica o carácter contra-factual das leis da natureza Destrói a confiança na indução: como se podem retirar leis universais de meras regularidades? Necessitarista As leis da natureza reflectem relações necessárias entre universais, quantificadas em funções Para chegar a uma lei funcional, escolhe-se a função mais simples que se adapta aos dados Mas porquê a função mais simples? Qual a base filosófica para escolher a mais simples? Platónica (axiárquica, ou seja, baseada em valores) A razão pela qual o Universo é regular e hierarquicamente ordenado é porque isso é bom O conceito de Bem (ou Bom) impede a existência de Universos irregulares ou desordenados Teísta As regularidades descritas pelas leis da natureza assentam na vontade racional de Deus Desdobra-se em duas hipóteses teológicas: Deus criou e sustém directa e permanentemente essas regularidades Deus criou e sustém coisas naturais cujo comportamento regular se deve às suas formas substanciais (tese aristotélico-tomista, assente em causas finais e formais) Se Deus criou o intelecto humano, é expectável que este detecte as regularidades naturais Leis da natureza 18
  • 19. 19 1. Introdução 2. Leis da natureza 3. As aparições em Fátima 4. O milagre do Sol 5. As testemunhas oculares 6. As explicações 7. Conclusão Índice
  • 20. As aparições em Fátima Lúcia de Jesus dos Santos (1907-2005), Francisco Marto (1908-1919) e Jacinta Marto (1910-1920) Os videntes 20
  • 21. As aparições em Fátima 1915: Lúcia de Jesus, com 7 anos, recebe a guarda do rebanho da família Escolhe três companheiras de pastoreio: Teresa e Maria Rosa Matias, e Maria Justino Dirige o rebanho para a encosta norte do monte do Cabeço Por volta do meio-dia, come a merenda com as companheiras, e depois rezam o terço Vêem “como que suspensa no ar, sobre o arvoredo, uma figura como se fosse uma estátua de neve que os raios do Sol tornavam algo transparente” Lúcia diz a sua mãe: “Parecia uma pessoa embrulhada em um lençol” Esta visão repete-se mais duas vezes a estas raparigas em dias diferentes 1916: Francisco e Jacinta Marto pedem e obtêm dos pais licença para guardar o rebanho Lúcia passa a pastorear juntamente com os seus primos Um dia, num monte da propriedade dos pais de Lúcia, no olival de Anastácio, padrinho de Lúcia… Comeram a merenda e rezaram o terço apressadamente, na ânsia de ir brincar… Primeiras visões «Vemos, então, que sobre o olival se encaminha para nós a tal figura de que já falei. A Jacinta e o Francisco ainda nunca a tinham visto, nem eu Ihes havia falado nela. À maneira que se aproximava, íamos divisando as feições: um jovem dos seus 14 a 15 anos, mais branco que se fora de neve, que o sol tornava transparente como se fora de cristal e duma grande beleza.» 21
  • 22. As aparições em Fátima Lúcia diz que “passado bastante tempo, em um dia de Verão”, estavam os três no poço do quinta do Arneiro, quando voltam a ver o Anjo: A mensagem do Anjo «Ao chegar junto de nós, disse: “Não temais! Sou o Anjo da Paz. Orai comigo.” E ajoelhando em terra, curvou a fronte até ao chão e fez-nos repetir três vezes estas palavras: “Meu Deus! Eu creio, adoro, espero e amo-Vos. Peço-Vos perdão para os que não crêem, não adoram, não esperam e Vos não amam.” Depois, erguendo-se, disse: “Orai assim. Os Corações de Jesus e Maria estão atentos à voz das vossas súplicas.”» «De repente, vemos junto de nós a mesma figura ou Anjo, como me parece que era, e diz: “Que fazeis? Orai, orai muito. Os Corações Santíssimos de Jesus e Maria têm sobre vós desígnios de misericórdia. Oferecei constantemente, ao Altíssimo, orações e sacrifícios.” – “Como nos havemos de sacrificar?”, perguntei. “De tudo que puderdes, oferecei a Deus sacrifício em acto de reparação pelos pecados com que Ele é ofendido e súplica pela conversão dos pecadores. Atraí assim, sobre a vossa Pátria, a paz. Eu sou o Anjo da sua guarda, o Anjo de Portugal. Sobretudo, aceitai e suportai, com submissão, o sofrimento que o Senhor vos enviar.”» 22
  • 23. As aparições em Fátima Segundo Lúcia, “passou-se bastante tempo” até que os três voltaram a ver, e pela última vez, o Anjo Surge de novo numa encosta do monte do Cabeço, pouco acima de Valinhos, no olival da Prégueira: A mensagem do Anjo «Logo que aí chegámos, de joelhos, com os rostos em terra, começámos a repetir a oração do Anjo: Meu Deus! Eu creio, adoro, espero e amo-Vos, etc. Não sei quantas vezes tínhamos repetido esta oração, quando vemos que sobre nós brilha uma luz desconhecida. Erguemo-nos para ver o que se passava e vemos o Anjo tendo em a mão esquerda um Cálix, sobre o qual está suspensa uma Hóstia, da qual caem algumas gotas de Sangue dentro do Cálix. O Anjo deixa suspenso no ar o Cálix, ajoelha junto de nós, e faz- nos repetir três vezes: “Santíssima Trindade, Padre, Filho, Espírito Santo, (adoro-Vos profundamente e) ofereço-Vos o preciosíssimo Corpo, Sangue, Alma e Divindade de Jesus Cristo, presente em todos os Sacrários da terra, em reparação dos ultrajes, sacrilégios e indiferenças com que Ele mesmo é ofendido. E pelos méritos infinitos do Seu Santíssimo Coração e do Coração Imaculado de Maria, peço-Vos a conversão dos pobres pecadores.” Depois levanta-se, toma em suas mãos o Cálix e a Hóstia. Dá-me a Sagrada Hóstia a mim e o Sangue do Cálix divide-O pela Jacinta e o Francisco dizendo ao mesmo tempo: “Tomai e bebei o Corpo e Sangue de Jesus Cristo, horrivelmente ultrajado pelos homens ingratos. Reparai os seus crimes e consolai o vosso Deus.” E prostrando-se de novo em terra, repetiu connosco outras três vezes a mesma oração: Santíssima Trindade... etc., e desapareceu. Nós permanecemos na mesma atitude, repetindo sempre as mesmas palavras; e quando nos erguemos, vimos que era noite e, por isso, horas de virmos para casa.» 23
  • 24. As aparições em Fátima 13 de Maio: primeira aparição de Maria sobre a azinheira: Sempre segundo Lúcia, esta dialoga com Nossa Senhora: Lúcia perguntam se os três irão para o Céu, e Maria responde que sim Maria pergunta se eles querem oferecer os seus sofrimentos em reparação pelos pecados cometidos contra Deus e em súplica pela conversão dos pecadores Lúcia responde que sim Maria pede-lhes que rezem o terço todos os dias pela paz no Mundo e pelo fim da Guerra As aparições de 1917 «Era uma Senhora vestida de branco e mais brilhante que o Sol, espargindo luz mais clara e intensa que um copo de cristal cheio de água cristalina, atravessado pelos raios do sol mais ardente. A sua face, indescritivelmente bela não era nem triste, nem alegre, mas séria, com ar de suave censura. As mãos juntas, como a rezar, apoiadas no peito e voltadas para cima. Da mão direita pendia um rosário. As vestes pareciam feitas só de luz. A túnica era branca e branco o manto, orlado de ouro que cobria a cabeça da Virgem e lhe descia até aos pés. Não se Lhe viam os cabelos nem as orelhas.» 24
  • 25. As aparições em Fátima 13 de Junho: segunda aparição de Maria sobre a azinheira Acompanhavam os pastorinhos cerca de 50 a 70 pessoas curiosas Depois, relata Lúcia: As aparições de 1917 «Lúcia: - Vossemecê que me quer? Nossa Senhora: - Quero que venhais aqui no dia 13 do mês que vem, que rezeis o terço todos os dias e que aprendam a ler. Depois, direi o que quero. Lúcia pediu a cura de um doente. - Se se converter, curar-se-á durante o ano. - Queria pedir-Lhe para nos levar para o Céu. - Sim, a Jacinta e o Francisco levo-os em breve. Mas tu ficas cá mais algum tempo. Jesus quer servir-se de ti para Me fazer conhecer e amar. Ele quer estabelecer no mundo a devoção ao meu Imaculado Coração. A quem a abraçar, prometo a salvação e serão queridas de Deus estas almas, como flores postas por Mim a adornar o seu trono. - Fico cá sozinha? - Não, filha. E tu sofres muito? Não desanimes. Eu nunca te deixarei. O meu Imaculado Coração será o teu refúgio e o caminho que te conduzirá até Deus.» «Foi no momento que disse estas últimas palavras que abriu as mãos e nos comunicou, pela segunda vez, o reflexo dessa luz imensa. Nela nos víamos como que submergidos em Deus. A Jacinta e o Francisco pareciam estar na parte dessa luz que se elevava para o céu e eu na que se espargia sobre a terra. À frente da palma da mão direita de Nossa Senhora estava um coração cercado de espinhos que parecia estarem-lhe cravados. Compreendemos que era o Imaculado Coração de Maria ultrajado pelos pecados da humanidade que queria reparação. Quando se desvaneceu esta visão, a Senhora, envolta ainda na luz que d'Ela irradiava, elevou-se da arvorezinha sem esforço, suavemente na direcção do leste até desaparecer de todo.» 25
  • 26. As aparições em Fátima A mãe de Lúcia não acredita nas visões da filha Leva-a ao Prior de Fátima, o Padre Manuel Marques Ferreira, e avisa-a: Lúcia mantém-se firme no testemunho; é bem tratada pelo Padre Ferreira, que se mostra céptico O Padre Ferreira desconfia de que a aparição seja de origem demoníaca, e di-lo a Lúcia Com dúvidas, Lúcia decide não ir ao local das aparições na véspera de 13 de Julho No próprio dia, Lúcia acaba por decidir ir à Cova da Iria; estão lá cerca de duas mil pessoas Maria reforça o pedido de continuarem a vir nos dias 13 e rezar o terço todos os dias pela Paz Lúcia pede a Nossa Senhora um milagre para que acreditem neles, e pede várias curas Maria responde que fará um milagre em Outubro Maria revela o “segredo”: a visão do Inferno, a devoção ao Sagrado Coração de Maria como forma de salvar almas e evitar uma segunda Guerra, e a visão do “Bispo vestido de branco” As aparições de 1917 «Não me rales mais! Agora diz ao Senhor Prior que mentiste, para que ele possa, no Domingo, dizer na Igreja que foi mentira e assim acabar tudo. Isto tem lá jeito! Toda a gente a correr para a Cova de Iria, a rezar diante duma carrasqueira!» 26
  • 27. As aparições em Fátima Artur de Oliveira Santos (1884-1955), Administrador de Ourém, maçon e anticlerical, rapta os três pastorinhos na manhã de 13 de Agosto e leva-os para sua casa para os convencer a negar tudo No entretanto, entre cinco e vinte mil pessoas esperavam pelos pastorinhos na Cova da Iria Fenómenos no local: trovoada e relâmpago, nuvem de fumo sobre a azinheira, paisagem multicolor Pelas 10 horas de 14 de Agosto, são de novo interrogados na Administração do Concelho O Administrador tenta que as crianças lhe digam qual o Padre por detrás das “mistificações” No dia seguinte, 15 de Agosto, são de novo interrogados na Administração do Concelho Desta vez, são ameaçadas de morte (serem fervidas em óleo) e chamadas uma a uma: no entanto, nem esta estratégia funciona, porque as crianças mantêm a história e não cedem à chantagem: A acção de Oliveira Santos revela-se um fiasco, e ele liberta as crianças no dia 15 de Agosto 19 de Agosto: quarta aparição de Maria: as crianças estão sozinhas Maria surge no campo dos Valinhos, pelas 16 horas, por cima de uma azinheira mais alta Maria promete um milagre para Outubro, sem revelar a natureza deste milagre Maria promete que, em Outubro, eles verão São José com o menino ao colo Maria pede que eles continuem a rezar muito pelos pecadores, sobretudo rezando o terço As aparições de 1917 «Quando, depois de nos terem separado, voltaram a juntar-nos em uma sala da cadeia, dizendo que dentro em pouco nos vinham buscar para nos fritar, a Jacinta afastou-se para junto duma janela que dava para a feira do gado. Julguei, a principio, que se estaria a distrair com as vistas; mas não tardei a reconhecer que chorava.» 27
  • 28. As aparições em Fátima Fátima, em 1917, pertencia ao Patriarcado de Lisboa: D. João Evangelista de Lima Vidal, à frente do Patriarcado durante o desterro do Patriarca, “dera ordens terminantes para que nenhum sacerdote interviesse, fosse de que maneira fosse, nos acontecimentos em marcha, proibindo-os mesmo de comparecerem na Cova da Iria ainda que em mera atitude de curiosos” – C. Brochado O Padre Ferreira (de Fátima) duvidou das aparições desde o início O Prior do Olival (Vigário da Vara de Ourém), Padre Faustino José Jacinto Ferreira, também duvidou, e motivou os colegas, em nome do Patriarcado a não se envolverem no caso O pároco de Santa Catarina da Serra chegou a advertir os paroquianos a não irem à Cova da Iria Na manhã de 13 de Agosto, o Administrador de Ourém, antes de os raptar, interrogou os videntes em casa do Prior de Fátima, Padre Ferreira, o que gerou fortes antipatias do povo contra o Padre 22 de Agosto: o Padre Ferreira pede a publicação de uma carta no Mensageiro de Leiria: As aparições de 1917 «Com toda a repulsão do coração de padre católico, venho tornar patente e asseverar perante todos os que tiveram conhecimento ou o possam vir a ter do boato tanto mais infamante e repelente quanto mais perigoso para a minha existência [o Prior temia ser linchado pela população] e dignidade paroquial, de que fui cúmplice no brusco arrebatamento das criancinhas, que dizem ver Nossa Senhora, à autoridade de seus pais (...) O administrador não me confiou o segredo das suas intenções (...) Escolheu a minha casa com que fim? Para se furtar às iras que seu acto iria promover? Para que o povo se amotinasse, como se amotinou, contra mim, como cúmplice? (...)» A atitude do Prior de Fátima revela o alheamento inicial das autoridades da Igreja Católica face aos acontecimentos da Cova da Iria 28
  • 29. As aparições em Fátima 13 de Setembro: data da quinta aparição de Maria sobre a azinheira Cerca de dez mil pessoas estão presentes na Cova da Iria perto do local das aparições Inácio António Marques, funcionário dos Correios em Lisboa, numa carta ao Promotor da Fé datada de 23 de Novembro de 1922, relata o que viu nesse dia: Inácio Marques foi operado ao estômago em Lisboa no dia 18 de Dezembro de 1917 Foi considerado sem recuperação possível: segundo os médicos, morreria em breve de pneumonia Enquanto lutava pela sobrevivência, Inácio Marques rezou à Nossa Senhora do Rosário de Fátima No dia seguinte, estava curado As aparições de 1917 «Lúcia recitou o rosário à hora indicada. Seguiu-se a sua conversa com a Senhora e assim que ela [Lúcia] disse “Lá vai ela”, o Sol escureceu ao ponto de a Lua e as estrelas aparecerem no firmamento. O calor diminuiu e uma brisa passou pelas nossas frontes. Entretanto surgiram, bem alto no ar, de este para oeste, pequenos bocados muito pequenos como se fossem flocos de neve. Alguns pensaram que eram pombas brancas, mas podia-se ver perfeitamente que não eram pássaros. De pé bem perto de mim estava o Rev. Padre Joaquim Ferreira Gonçalves das Neves, pároco de Santa Catarina da Serra. Ao ver que ele olhava sem nada ver, virei-me para ele e perguntei- lhe se ele via alguma coisa; ele respondeu que não via nada. Indiquei-lhe uma direcção e ele imediatamente me disse que agora via [os bocados brancos]. Quando o fenómeno terminou, vi o mesmo padre de joelhos a recitar o rosário. Parece-me que ele foi o primeiro eclesiástico a recitar o rosário juntamente com os outros naquele local sagrado.» 29
  • 31. 31 1. Introdução 2. Leis da natureza 3. As aparições em Fátima 4. O milagre do Sol 5. As testemunhas oculares 6. As explicações 7. Conclusão Índice
  • 32. O milagre do Sol – 13 de Outubro de 1917 Avelino de Almeida, jornalista de “O Século” Fora seminarista na sua juventude, mas não seguiu essa vocação Com 44 anos na altura dos acontecimentos, Avelino não era o típico jornalista anticlerical, como era frequente na imprensa laica do tempo No início de Outubro, corriam rumores por todo o país acerca do milagre previsto para o dia 13, que explicam a multidão desse dia na Cova da Iria Num artigo, escrito antes, que sai na edição de Sábado dia 13 d’”O Século”, Avelino vaticina um fiasco, doloroso para os crentes, para esse Sábado: O artigo é escrito num tom céptico e algo trocista, por vezes paternalista Avelino, nesse artigo, teme (e censura) a exploração comercial da situação Avelino vai para a Cova da Iria com o objectivo de obter um “furo” jornalístico Chega à estação de comboios de Chão de Maçãs por volta das 16 horas de Sexta-feira dia 12 Faz-se acompanhar do fotógrafo Judah Ruah, sobrinho do famoso olissipógrafo Joshua Benoliel Uma inesperada testemunha do 13 de Outubro «EM PLENO SOBRENATURAL! AS APARIÇÕES DE FÁTIMA. Milhares de pessoas concorrem a uma charneca nos arredores de Ourém por vêrem e ouvirem a Virgem Maria.» 32
  • 33. Edição de Segunda-feira dia 15 de Outubro de 1917, jornal ”O Século” «(...) E assiste-se então a um espectáculo unico e inacreditavel para quem não foi testemunha d'ele. Do cimo da estrada, onde se aglomeram os carros e se conservam muitas centenas de pessoas, a quem escasseou valor para se meter à terra barrenta, vê-se toda a imensa multidão voltar-se para o sol, que se mostra liberto de nuvens, no zenit. O astro lembra uma placa de prata fosca e é possivel fitar-lhe o disco sem o minimo esforço. Não queima, não cega. Dir-se-hia estar-se realisando um eclipse. Mas eis que um alarido colossal se levanta, e aos espectadores que se encontram mais perto se ouve gritar: - Milagre, milagre! Maravilha, maravilha! Aos olhos deslumbrados d'aquele povo, cuja atitude nos transporta aos tempos biblicos e que, palido de assombro, com a cabeça descoberta, encara o azul, o sol tremeu, o sol teve nunca vistos movimentos bruscos fóra de todas as leis cosmicas - o sol «bailou», segundo a tipica expressão dos camponeses... (...)» 33 O milagre do Sol – 13 de Outubro de 1917
  • 34. Avelino de Almeida, ”Ilustração Portugueza”, 29 de Outubro de 1917, p. 353 e 356 34 O milagre do Sol – 13 de Outubro de 1917
  • 35. Avelino de Almeida, ”Ilustração Portugueza”, 29 de Outubro de 1917, pp. 354-355 35 O milagre do Sol – 13 de Outubro de 1917
  • 36. 36 O milagre do Sol – 13 de Outubro de 1917
  • 37. 37 O milagre do Sol – 13 de Outubro de 1917
  • 38. 38 O milagre do Sol – 13 de Outubro de 1917
  • 39. 39 O milagre do Sol – 13 de Outubro de 1917
  • 40. 40 O milagre do Sol – 13 de Outubro de 1917
  • 41. 41 O milagre do Sol – 13 de Outubro de 1917
  • 42. 42 O milagre do Sol – 13 de Outubro de 1917
  • 43. 43 O milagre do Sol – 13 de Outubro de 1917
  • 44. 44 O milagre do Sol – 13 de Outubro de 1917
  • 45. 45 O milagre do Sol – 13 de Outubro de 1917
  • 46. 46 O milagre do Sol – 13 de Outubro de 1917
  • 47. 47 O milagre do Sol – 13 de Outubro de 1917
  • 48. 48 O milagre do Sol – 13 de Outubro de 1917
  • 49. 1. Introdução 2. Leis da natureza 3. As aparições em Fátima 4. O milagre do Sol 5. As testemunhas oculares 6. As explicações 7. Conclusão Índice 49
  • 50. As testemunhas oculares Testemunhas oculares do milagre de 13 de Outubro de 1917 Avelino de Almeida, jornalista, artigos n’“O Século”, 15-10-1917 e na “Ilustração Portugueza”, 29-10-1917 Correspondente do Diário de Notícias em Ourém Cónego Manuel Nunes Formigão Domingos Pinto Coelho, advogado Carlos Silva Maria Madalena de Martel Patrício (mulher do juiz António Maria Pereira) Anónimo, “O Caso de Fátima”, jornal “A Beira Baixa”, 20-10-1917 Padre José António Marques da Cruz Curado, de Penacova “uma estimável senhora” (Maria Joaquina Proença de Almeida Garrett?), jornal “A Ordem” António dos Ramos Mira, residente em Reguengo do Fetal Romano dos Santos Maria da Conceição Stokler Parente, carta a um padre do Porto, 16-10-1917 Joaquim Gregório Tavares, funcionário dos Correios em Tomar Maria José de Lemos Queirós, no “Jornal da Beira”, 30-10-1917 Dr. Nascimento e Sousa, advogado de Alcobaça, carta de 31-10-1917 50
  • 51. As testemunhas oculares Testemunhas oculares do milagre de 13 de Outubro de 1917 Ana Maria e Antónia Rafaela da Câmara, testemunho sob juramento, 3-11-1917 João Maria Lúcio Serra, jornal “A Ordem”, 21-11-1917 Maria Augusta Saraiva Vieira de Campos, “A minha peregrinação a Fátima”, Novembro de 1917 Gonçalo Xavier de Almeida Garrett, 3-12-1917 José Maria Proença de Almeida Garrett, antes de 18-12-1917, única testemunha que teria binóculos Dr. Luís António Vieira de Magalhães e Vasconcelos (Alvaiázere), licenciado em Direito (Coimbra) Dr. Luís Andrade e Silva, padre, licenciado em Direito (Coimbra) Maria Caminha, residente na Trav. da Fábrica dos Pentes (Lisboa), jornal “A Guarda” (Porto, 12-1-1918) Manuel Gonçalves Júnior, local, depoimento feito a 31-12-1917 Jacinto de Almeida Lopes, depoimento feito a 20-12-1917 Olívia Mendes, residente em Leiria, carta ao Bispo de Leiria, 5-6-1922 Manuel da Costa Pereira, carta escrita de Salvaterra de Magos, 3-1-1924, ”A Voz de Fátima” (13-3-1923) Anónimo, publicada n’”A Voz de Fátima” (13-9-1924), acerca dos acontecimentos de 13 de Agosto Maria Carreira (“Maria da Capelinha”) Maria do Carmo da Cruz Menezes Alfredo da Silva Santos, lisboeta 51
  • 52. As testemunhas oculares Testemunhas oculares do milagre de 13 de Outubro de 1917 Mariana Pinto Coelho, em carta a sua Tia, a Marquesa da Ribeira Grande, Outubro de 1917: “Vi o sol descer à terra de uma maneira extraordinária, chegando a incomodar o calor; vi-o andar à roda com velocidade, como as rodinhas de fogo preso” Dr. Nascimento e Sousa, advogado em Alcobaça, em carta de 31 de Outubro de 1917: “Nunca mais passarei momentos tão agradáveis (...) Em face do fenómeno solar que vi, acredito e acredito que houve na Fátima, no dia 13 de Outubro de 1917, um caso tão extraordinário que enquanto a ciência mo não explicar é única e exclusivamente obra de Deus” Dr. Cortês Pinto e sua mulher Maria Augusta Saraiva Vieira de Campos: “A Minha Peregrinação a Fátima”, Coimbra, Outubro de 1917 Dr. Luís António Vieira de Magalhães (Barão de Alvaiázere), oficial do Registo Civil em Vila Nova de Ourém, foi à Cova da Iria como descrente: “Recordei, então, como por vezes já tinha recordado, aquele princípio de Gustavo le Bon que se resume em que o indivíduo numa colectividade não consegue fugir à corrente hipnótica que o domina. Era preciso precaver-me, não me deixar influenciar. (...) Sei apenas que gritei: creio, creio creio! E que as lágrimas caíram dos meus olhos maravilhado, extasiado, perante essa manifestação do poder divino. (...) Então estes fenómenos escapam à previsão da ciência e não escapam à previsão de umas pastorinhas da serra, que os anunciam com uma precisão verdadeiramente matemática?” 52
  • 53. As testemunhas oculares Testemunhas oculares do milagre de 13 de Outubro de 1917 No dia 15 de Outubro, o Prior de Fátima escreve ao Rev.º Arcebispo de Mitilene, então à frente do Patriarcado de Lisboa: “Careço e imploro de V. Exa. Rev.ma urgentes e acertados conselhos para o governo desta freguesia” A 3 de Novembro, recebe a resposta: o Prior deve “proceder a um inquérito consciencioso sobre os factos ocorridos nessa paróquia a seu cargo, no dia 13 do mês passado, ouvindo testemunhas fidedignas, e principalmente as crianças que se dizem favorecidas de graças singulares do Céu” O Patriarcado pediu o mesmo ao Arcipreste de Ourém e ao Vigário de Porto de Mós Este último, o Padre Joaquim Vieira da Rosa, esclarece num ofício de 11 de Novembro de 1917: “Consultei muitas pessoas sobre o assunto e todas elas confirmam o mesmo que disseram as testemunhas constantes do mesmo documento, e por isso me abstive de mandar escrever os seus depoimentos. O que actualmente tem resfriado um pouco a fé de algumas pessoas é uma das pastoras ter dito que a guerra acabaria naquele dia mesmo ou na noite seguinte, e ela ainda continua com todo o incremento” De seguida, o Padre de Porto de Mós relata os depoimentos das testemunhas inquiridas: António dos Ramos Mira, casado, da Freguesia do Reguengo do Fetal: “[o sol] tinha sinais desusados, girando sobre si, tremendo, observando ao mesmo tempo que em volta dele aparecera uma cor amarelo-vermelha que se reflectiu em toda a multidão e no horizonte, havendo ao mesmo tempo afrouxamento de luz e aumento de temperatura” 53
  • 54. As testemunhas oculares Testemunhas oculares do milagre de 13 de Outubro de 1917 Mais depoimentos das testemunhas inquiridas pelo Padre Joaquim Vieira da Rosa: Angelino Francisco Mira, casado, do Reguengo do Fetal: “viu o sol girando como uma roda de fogo e que se aproximou da grande multidão (...) e viu também diferentes cores no povo e no horizonte” Manuel Ribeiro de Carvalho, casado, proprietário, da mesma freguesia: “viu que o sol girou sobre si mesmo, aproximando-se do povo, e que lançou bastante calor, e ao mesmo tempo observou a cor azul e encarnada no horizonte” António Maria Menita, proprietário, da mesma freguesia, viu “mais ou menos como o anterior” Romano dos Santos, de Alqueidão da Serra, a quem o sol parecia “girando como uma roda de fogo” Manuel João Sénior, da mesma freguesia, “olhou perfeitamente para o sol sem incómodo algum para a vista, e viu-o por três vezes girar como uma roda de fogo, aproximando-se, à hora marcada pelos pastores” João Vieira Gomes, da mesma freguesia, “viu o sol girar como uma roda de foto, fitando o sol sem incómodo para o órgão visual, tremendo ele e gritando toda a multidão por Nossa Senhora” Manuel Carvalho, da mesma freguesia, “viu o sol baixar, segundo o seu entender, revestiu-se de várias cores, girando como uma roda de fogo de artifício e que se podia sem incómodo ver” Domingos Pedro, da mesma freguesia, “viu o sol girar como uma roda de fogo e baixar, segundo o 54
  • 55. As testemunhas oculares Testemunhas oculares do milagre de 13 de Outubro de 1917 Gonçalo Xavier de Almeida Garrett (1841-1925), Professor de Matemáticas (Univ. de Coimbra) A Biblioteca Nacional contém três referências a obras suas de astronomia: Theses ex adplicata mathesi quas in conimbricensi academia propugnandes [Tese de Doutoramento, nas áreas de Mecânica Celeste e Astronomia], Imprensa da Universidade de Coimbra, 1869 A questão dos planetas intra-mercuriaes, Imprensa da Universidade de Coimbra, 1869 Estudo sôbre o plano invariavel do systema solar, Imprensa da Universidade de Coimbra, 1870 Os registos da Universidade de Coimbra para o ano lectivo de 1908-09 dão-no como professor de: Álgebra avançada Geometria analítica a duas e três dimensões Trigonometria esférica Em 1917, já com 75 anos, o Prof. Gonçalo Xavier de Almeida Garrett estava reformado O seu filho, o advogado José Maria Proença de Almeida Garrett, estava com ele no dia 13 55
  • 56. As testemunhas oculares O Cónego Formigão conheceu o Prof. Gonçalo Almeida Garrett e sua mulher no dia 13 de Outubro Pouco depois, ele pede-lhe um testemunho escrito acerca do que ele presenciou nesse dia O Professor deixa o seu testemunho numa carta ao Cónego datada de 3 de Dezembro de 1917 A carta é extremamente concisa e objectiva, relatando os factos de forma numerada: 1. O fenómeno [do Sol ao meio-dia] durou entre oito e dez minutos 2. O Sol perdeu o seu brilho encandeante, tomando o aspecto da Lua, podendo ser olhado com facilidade 3. Durante este período, o Sol por três vezes exibiu um movimento de rotação na [sua] circunferência, lançando faíscas de luz da borda, tal como uma bem conhecida roda de fogo 4. Este movimento rotativo da borda do Sol, três vezes manifestado e três vezes interrompido, foi rápido e durou entre oito e dez minutos, ou menos 5. De seguida, o Sol tomou uma cor violeta, e depois laranja, espalhando estas cores por todo o lado. Finalmente recuperou ou seu brilho e esplendor, impossível de ser observado a olho nu 6. Foi pouco depois do meio-dia [hora solar, uma e meia hora na hora legal] e [com o Sol] perto do [seu] zénite (o que é da maior importância) que estes eventos tiveram lugar O testemunho do Prof. Gonçalo Xavier de Almeida Garrett (1841-1925) 56
  • 57. As testemunhas oculares O testemunho do Dr. José Maria Proença de Almeida Garrett «Vou relatar de uma maneira breve e concisa, sem frases que velem a verdade, o que vi em Fátima no dia 13 de Outubro de 1917. As horas a que me referirei são as que nessa época marcavam oficialmente o tempo segundo a determinação do governo que unificara a nossa hora com a dos países beligerantes. Faço isto para maior verdade, pois não me era fácil designar com precisão o momento em que o sol alcançou o zenith. Cheguei ao meio-dia. A chuva que desde manhã caía miúda e persistente, tocada de um vento agreste, prosseguia, irritante, na ameaça de querer tudo liquefazer. O céu baço e pesado tinha uma cor pardacenta prenhe de água, prenúncio de chuva abundante e de longa duração. Quedei-me na estrada, ao abrigo da capota do automóvel e um pouco sobranceiro ao local que diziam ser o da aparição, não ousando meter-me ao lamaçal barrento e pegajoso do campo frescamente lavrado. Estaria a pouco mais de cem metros dos elevados postes que uma tosca cruz encimava, vendo distintamente em redor deles o largo círculo de gente que, com os guardas-chuvas abertos, parecia um vasto sobrado de broquéis. Pouco depois da uma hora chegaram a este sítio as crianças a quem a Virgem (garantiam elas) marcara lugar, dia e hora da aparição. Ouviam-se os cânticos entoados pelo povo que as cercava. Numa determinada altura esta larga massa, confusa e compacta, fechou os guardas-chuvas e descobriu- se num gesto que devia ser de humildade ou respeito mas que me deixou surpreso e admirado, porque a chuva, numa continuidade cega, molhava agora cabeças, encharcava e ensopava. Disseram-me depois que esta gente, que acabou por ajoelhar na lama, tinha obedecido à voz de uma criança. 57
  • 58. As testemunhas oculares O testemunho do Dr. José Maria Proença de Almeida Garrett «Devia ser uma e meia (treze e meia) quando se ergueu, no local preciso onde estavam as crianças, uma coluna de fumo, delgada, ténue e azulada, que subiu direita até dois metros, talvez, acima das cabeças para nessa altura se esvair. Durou este fenómeno, perfeitamente visível a olho nu, alguns segundos. Não tendo marcado o tempo da duração, não posso afirmar se foi mais ou menos de um minuto. Dissipou-se bruscamente o fumo, e passado algum tempo voltou a repetir-se o fenómeno, uma segunda e uma terceira vez. Das três vezes, e sobretudo da última, destacaram-se nitidamente os postes esguios na atmosfera cinzenta. Dirigi para lá o binóculo. Nada consegui ver além das colunas de fumo, mas convencido fiquei de que eram produzidas por algum turíbulo, não agitado, em que se queimava incenso. Depois pessoas dignas de fé afirmaram-me que era uso produzir-se o acontecimento nos dias treze dos cinco meses anteriores, e que nesses dias, como neste, nunca ali se queimara nada nem se fizera fogo. Continuando a olhar o lugar da aparição, numa espectativa serena e fria e com uma curiosidade que ia amortecendo, porque o tempo decorrera longo e vagaroso sem que nada activasse a minha atenção, ouvi o bruaá de milhares de vozes e vi aquela multidão, espraiada pelo largo campo que se estendia a meus pés, ou concentrada em vagas compactas em redor dos madeiros erguidos, ou sobre os baixos socalcos que retinham as terras, voltar as costas ao ponto para o qual até então convergiam os desejos e ânsias e olhar o céu do lado oposto. Eram quase duas horas. O sol, momentos antes, tinha rompido ovante a densa camada de nuvens que o tivera escondido, para brilhar clara e intensamente. Voltei-me para este imã que atraía todos os olhares e pude vê-lo semelhante a um disco de bordo nítido e aresta viva, luminosa e luzente, mas sem magoar. 58
  • 59. As testemunhas oculares O testemunho do Dr. José Maria Proença de Almeida Garrett «Não me pareceu bem a comparação, que ainda em Fátima ouvi fazer, de um disco de prata fosca. Era uma cor mais clara, activa e rica, e com cambiantes, tendo como que o oriente de uma pérola. Em nada se assemelhava à lua em noite transparente e pura, porque se via e sentia-se ser um astro vivo. Não era, como a lua, esférica, não tinha a mesma tonalidade nem os claros-escuros. Parecia uma rodela brunida cortada no nácar de uma concha. Isto não é uma comparação banal de poesia barata. Os meus olhos viram assim; também se não confundia com o sol encarado através de nevoeiro (que aliás não havia àquele tempo), porque não era opaco, difuso e velado. Em Fátima tinha luz e calor e desenhava-se nítido e com a borda cortada em aresta, como uma tábua de jogo. A abóbada celeste estava enevoada de cirrus leves, tendo frestas de azul aqui e acolá, mas o sol algumas vezes se destacou em rasgões de céu limpo. As nuvens que corriam ligeiras de poente para oriente não empanavam a luz (que não feria) do sol, dando a impressão facilmente compreensível e explicável de passar por detrás, mas por vezes esses flocos que vinham brancos, pareciam tomar, deslizando ante o sol, uma tonalidade rosa ou azul diáfana. Maravilhoso é que, durante longo tempo, se pudesse fixar o astro, labareda de luz e brasa de calor, sem uma dor nos olhos e sem um deslumbramento na retina, que cegasse. Este fenómeno, com duas breves interrupções, em que o sol bravio arremessou os seus raios mais coruscantes e refulgentes, e que obrigaram a desviar o olhar, devia ter durado cerca de dez minutos. Este disco nacarado tinha a vertigem do movimento. Não era a cintilação de um astro em plena vida. Girava sobre si mesmo numa velocidade arrebatada. 59
  • 60. As testemunhas oculares O testemunho do Dr. José Maria Proença de Almeida Garrett A certa altura, o advogado fornece detalhes meteorológicos muito importantes: Presença de nuvens de tipo cirro (feitas de cristais de gelo, formam-se a altas altitudes) Vento de Poente para Oriente que arrastava as nuvens em frente ao Sol O advogado diz que, por vezes, essas nuvens pareciam passar por detrás do Sol Este detalhe é fundamental: Mostra que a imagem aparente do Sol foi formada na atmosfera e abaixo das nuvens Mostra que a imagem aparente do Sol foi afectada por essas nuvens Este testemunho não é o único que contém detalhes meteorológicos, mas é dos melhores «A abóbada celeste estava enevoada de cirrus leves, tendo frestas de azul aqui e acolá, mas o sol algumas vezes se destacou em rasgões de céu limpo. As nuvens que corriam ligeiras de poente para oriente não empanavam a luz (que não feria) do sol, dando a impressão facilmente compreensível e explicável de passar por detrás, mas por vezes esses flocos que vinham brancos, pareciam tomar, deslizando ante o sol, uma tonalidade rosa ou azul diáfana.» 60
  • 61. As testemunhas oculares O testemunho do Dr. José Maria Proença de Almeida Garrett «De repente ouve-se um clamor, como que um grito de angústia de todo aquele povo. O sol, conservando a celeridade da sua rotação, destaca-se do firmamento e sanguíneo avança sobre a terra ameaçando esmagar-nos com o peso da sua ígnea e ingente mó. São segundos de impressão terrífica. Durante o acidente solar, que detalhadamente tenho vindo a descrever, houve na atmosfera coloridos impressionantes. Não posso precisar bem a ocasião, porque já lá vão dois meses passados e eu não tomei notas. Lembra-me que não foi logo no princípio e antes creio que foi para o fim. Estando a fixar o sol, notei que tudo escurecia à minha volta. Olhei o que estava perto e alonguei a vista até ao extremo horizonte e vi tudo cor de ametista. Os objectos, o céu e a camada atmosférica tinham a mesma cor. Uma carvalheira arroxeada, que se erguia na minha frente, lançava sobre a terra uma sombra carregada. Receando ter sofrido uma afecção de retina, hipótese pouco provável, porque, dado este caso, não devia ver as coisas de roxo, voltei-me, cerrei as pálpebras e retive-as com as mãos para interceptar a luz. Ainda de costas abri os olhos e reconheci que, como antes, a paisagem e o ar continuavam da mesma cor roxa. A impressão que se tinha não era de eclipse. Vi um eclipse do sol, que em Viseu, onde eu estava, foi total. À medida que a lua marcha a esconder o sol, a luz vai-se acinzentando até que tudo se torna baço e negro. A vista alcança um pequeno circo, para lá do qual os objectos se vão tornando cada vez mais confusos até que se perdem no negrume. Baixa a temperatura consideravelmente e dir-se-á que a vida da terra se extinguiu. Em Fátima, a atmosfera, embora roxa, permaneceu transparente até nos confins do horizonte que se distingue e vê claramente, e eu não tive a sensação de uma paragem de energia universal. 61
  • 62. As testemunhas oculares O testemunho do Dr. José Maria Proença de Almeida Garrett «Continuando a olhar o sol, reparei que o ambiente tinha aclarado. Logo depois ouvi um campónio que cerca de mim estava a dizer com voz de pasmo: “esta senhora está amarela!” De facto tudo agora mudara, perto e distante, tomando a cor de velhos damascos amarelos. As pessoas pareciam doentias e com icterícia. Sorri-me de as achar francamente feias e desairosas. Ouviram-se risos. A minha mão tinha o mesmo tom amarelo. Dias depois fiz a experiência de fixar o sol uns breves instantes. Retirada a vista, vi, após alguns momentos, manchas amarelas, irregulares na forma. Não se vê tudo de uma cor uniforme, como se no ar se tivesse volatilizado um topázio, mas nódoas ou malhas que com o movimento do olhar se deslocam. Todos estes fenómenos que citei e descrevi observei- os eu sossegada e serenamente sem uma emoção ou sobressalto. A outros cumpre-os explicá-los ou interpretá-los. Para terminar devo fazer a afirmação de que nunca, nem antes, nem depois do dia 13 de Outubro, vi iguais fenómenos solares ou atmosféricos» 62
  • 63. As testemunhas oculares Afirmações comuns a quase todos os testemunhos oculares Manhã de chuva, céu muito carregado, Sol totalmente coberto, lamaçal na Cova da Iria Por volta da uma e meia (meio-dia solar), a chuva pára Por três vezes, eleva-se uma coluna de fumo perto das crianças (nada arde no local) Lúcia avisa a multidão de que esta deve olhar para o céu: fecham-se os chapéus de chuva O Sol torna-se claramente visível e com forma nítida mas o céu não está limpo É possível olhar para o Sol sem ferir a vista ou prejudicar a retina O contorno do Sol (e não o Sol todo) dá a impressão de girar sobre si mesmo, "faiscando" Este fenómeno é multicolor, e as várias cores afectam a cor dos objectos e das pessoas no solo A certa altura, o Sol dá a impressão de aumentar de tamanho, como se fosse cair sobre a Terra Este fenómeno repete-se algumas vezes, lançando o terror sobre as pessoas O Sol volta ao seu estado normal, descoberto, e nesta fase já não é possível olhar para ele Várias pessoas relatam que as suas roupas, antes molhadas, ficaram subitamente secas 63
  • 64. 64 1. Introdução 2. Leis da natureza 3. As aparições em Fátima 4. O milagre do Sol 5. As testemunhas oculares 6. As explicações 7. Conclusão Índice 64
  • 65. As explicações Alucinação colectiva? O poeta Afonso Lopes Vieira (1878-1946) viu o fenómeno da sua varanda em São Pedro de Moel Distância em linha recta de São Pedro de Moel ao local das aparições: 33,7 Km «Nesse dia 13 de Outubro de 1917, eu, que não me lembrava da predição dos pastorinhos, fiquei encantado com um espectáculo deslumbrante diante de mim, para mim inteiramente inédito, a que assisti dessa varanda» - 20 de Outubro de 1935 A sua mulher Helena e a sua sogra também o viram A 12 de Agosto de 1929, inaugurou uma capela junto de sua casa, dedicada a Nossa Senhora de Fátima 65
  • 66. As explicações Alucinação colectiva? O testemunho de Inácio Lourenço Pereira, rapaz de Alburitel, com nove anos em 1917 O seu irmão Joaquim Lourenço (1905-1963), com doze anos, também testemunhou o fenómeno Inácio seguiria o sacerdócio, ingressando no Seminário de São José em Mangalore (Índia) A pedido do Bispo, redige um primeiro depoimento a 13 de Julho de 1931 O depoimento é publicado na edição de Julho de 1931 do Catholic Register de Meliapore: «Tinha então apenas 9 anos e frequentava a escola de primeiras letras da minha aldeia... Era meio dia mais ou menos quando fomos sobressaltados pelos gritos e exclamações de alguns homens e mulheres que passavam na rua diante da nossa escola. A professora, senhora muito boa e piedosa, mais facilmente impressionável e excessivamente tímida, foi a primeira a correr para a rua, sem poder impedir que todas as crianças corressem atrás dela. Na rua o povo chorava e gritava, apontando para o sol, sem atender às perguntas que aflitíssima lhe fazia a nossa professora. Era o grande Milagre, que se via distintissimamente do alto do monte, onde fica situada a minha terra: era o Milagre do sol, com todos os seus fenómenos extraordinários. Sinto-me incapaz de o descrever, como o vi e senti então. Eu olhava fixamente para o sol, e parecia-me pálido de modo que não cegava os olhos: era como um globo de neve a rodar sobre si mesmo. Depois, de repente, pareceu que baixava em zig-zag ameaçando cair sobre a terra. Aterrado, corri a meter-me no meio da gente. Todos choravam aguardando de um instante para o outro o fim do mundo.» 66
  • 67. As explicações Alucinação colectiva? O Padre Inácio faria novo depoimento em 1952: «Junto de nós estava um incrédulo, sem religião, que tinha passado a manhã a mofar dos simplórios que faziam toda aquela caminhada da Fátima para irem ver uma rapariga. Olhei para ele: estava como paralisado, assombrado, com os olhos fitos no sol. Depois vi-o tremer dos pés à cabeça, e levantando as mãos ao céu, caiu de joelhos na lama, gritando: - Nossa Senhora! Nossa Senhora! Entretanto, a gente continuava a gritar e a chorar pedindo a Deus perdão dos próprios pecados... Depois corremos para as duas capelas da aldeia, que em poucos instantes ficaram repletas... Durante estes longos minutos do fenómeno solar... os objectos à volta de nós reflectiam todas as cores do arco-íris. Olhando uns para os outros, um parecia azul, outro amarelo, outro vermelho, etc... Todos estes estranhos fenómenos, aumentavam o terror do povo. Passados uns dez minutos, o sol voltou ao seu lugar, do mesmo modo como tinha descido, pálido ainda e sem esplendor... Quando a gente se persuadiu de que o perigo tinha desaparecido, foi uma explosão de alegria. Todos prorromperam num coro de acção de graças: - Milagre! Milagre! Bendita seja Nossa Senhora!» «Frequentei a escola elementar de Alburitel no Concelho de Vila Nova de Ourém. Naquele dia de 13 de Outubro de 1917, os meus pais foram a Fátima, como fizeram outras pessoas da região, porque havia rumores de que Nossa Senhora tinha anunciado um milagre para esse dia. Eu era um rapaz novo e na noite anterior eu tinha feito umas asneiras na plantação de melão de um vizinho. Como castigo os meus pais não me levaram. Estava na escola e lembro-me distintamente de que chovia fortemente.» 67
  • 68. As explicações Alucinação colectiva? «De repente a chuva parou e ouvimos pessoas a gritar lá fora. A professora não nos conseguiu conter. Na rua, a multidão, eu diria mesmo a maioria da aldeia, apontava para o céu. Por momentos vimos um tipo de clarabóia muito brilhante por entre as nuvens negras, como se fosse uma abertura no céu. Raios do sol projectados através dessa abertura como se fossem várias fitas caindo através dessa abertura baixa, e no meio dela [da clarabóia], mesmo no topo, bem mais alto, o sol começava a perder o seu brilho. No entanto, não cegava. Era como uma roda de fogo, muito grande e avermelhada. Um minuto depois (cerca de um minuto, não sei), “aquela roda” começou a rodar sobre si mesma a grande velocidade, lançando chamas de várias cores. Alguns disseram: “Parece a mó do moinho de Verdasca” (havia um moinho mecânico perto de Ourém). As cores do céu reflectiam-se nas caras das pessoas. Algumas diziam, “Estás amarelo”. Outras, “Estás vermelho” (todas as cores do arco-íris). E todos desataram em pranto, “É o fim do mundo! Nossa Senhora nos salve!”. Entretanto muitos largaram as ferramentas que transportavam e correram para a capela para rezar em voz alta. Pouco depois o sol começou a descer, em zig-zag, através da abertura da clarabóia, de tal forma que apareceu mesmo acima do topo da torre da igreja. Ficou ali por dois ou três minutos. O povo ajoelhou-se na lama. Então o sol começou a subir, sempre para cima, e a rodar. Mais um momento e depois a gigantesca roda de fogo tornou-se no sol normal, e a cegar-nos como de costume quando tentamos olhar para ele.» 68
  • 70. As explicações Uma fotografia enganadora? Esta fotografia circula pela Internet, referenciada como “fotografia original” do milagre do Sol Consta que foi publicada pelo jornal “L’Osservatore Romano” em 1951 (não pude confirmar) Mesmo que tenha sido tirada nesse dia, foi ao pôr-do-sol, e não ao meio-dia solar (zénite) 70
  • 71. As explicações As explicações possíveis O fenómeno não ocorreu 1. Farsa: as testemunhas inventaram os seus testemunhos X Testemunhas neutras ou cépticas: Avelino de Almeida, Barão de Alvaiázere, etc. 2. Alucinação colectiva: as testemunhas julgaram ver algo que não aconteceu X Testemunhas fora da Cova da Iria: Afonso Lopes Vieira, Inácio Lourenço Pereira, etc. O fenómeno ocorreu 3. Astronómico: o Sol moveu-se X Nada de irregular acerca do Sol foi registado em qualquer observatório astronómico 4. Extraterrestre: um OVNI estaria na origem do fenómeno X É mais difícil de fundamentar do que o próprio fenómeno, e além disso não explica a previsão Atmosférico: o Sol não se moveu, as testemunhas viram distorções atmosféricas 5. Natural: um raro e belo fenómeno ocorreu, mas tem explicação natural X Os pastorinhos previram com antecedência o dia, a hora e o local 6. Sobrenatural: o fenómeno não se explica inteiramente por via natural  A explicação sobrenatural é a mais consistente e racional 71
  • 72. As explicações Uma explicação natural? Não há explicação natural para a previsão do fenómeno por parte dos pastorinhos Mas pode haver explicação natural para o fenómeno em si mesmo Fenómenos atmosféricos que alteram a aparência do Sol são bem conhecidos, apesar de raros No entanto, o fenómeno de 13 de Outubro de 1917 apresenta propriedades bem mais complexas Telephoto photograph obtained 2 min after that in Fig. 2, showing different iridescence effects and a broad, red aureole as the Sun ind the Oquirrh Mountain Range in northern Utah. Iridescência rara em nuvens de tipo cirro Montanha Oquirrh, no norte do Utah (EUA) 25 de Novembro de 1998 Raro halo solar criado por cristais de gelo Estação do Pólo Sul 21 de Dezembro de 1980 72
  • 73. As explicações A explicação do Padre Stanley Jaki (1924-2009) A imagem (aparente) do Sol formou-se dentro de nuvens de tipo cirro (feitas de cristais de gelo) Isso explicaria a alusão de algumas testemunhas à impressão de ver nuvens atrás do Sol Nuvens de vapor de água ou de cristais de gelo podem explicar o “filtro” translúcido que deu opacidade ao Sol, permitindo que este fosse observado sem esforço ou sem impressionar a retina As cores amarela, vermelha e púrpura ocupam uma parte importante do espectro visível: Surgem naturalmente pela refracção dos raios solares nas gotas de água ou nos cristais de gelo A refracção da luz solar é mais intensa ao pôr-do-sol, o que torna o milagre do Sol mais exótico Nuvens de cristais de gelo podem actuar como lentes, ampliando a imagem (aparente) do Sol A rotação destas “lentes” por acção do vento, pode explicar o efeito “roda de fogo” Um fenómeno de inversão térmica, com correntes de ar quente descendente, pode explicar: O calor relatado pelas testemunhas e a secagem estranhamente rápida das suas roupas A ilusão de que o Sol se aproximava da Terra, pela descida das “lentes” de cristais de gelo Esta explicação natural não afecta o carácter miraculoso da previsão! 73
  • 74. 74 1. Introdução 2. Leis da natureza 3. As aparições em Fátima 4. O milagre do Sol 5. As testemunhas oculares 6. As explicações 7. Conclusão Índice 74
  • 75. Conclusão Uma questão de proporção... O cepticismo acerca dos milagres resulta de uma ideia errada acerca das “leis” da Natureza O cepticismo acerca dos milagres resulta de uma deficiente teologia da Criação Necessidade de coerência: se Jesus atravessa portas fechadas (cfr. São João 20), então o Seu nascimento não afectou com a virgindade perpétua de Maria (doutrina “de fide”) «O milagre da concepção física de Cristo pode ser, fisicamente falando, nada mais do que a criação de uma célula haplóide masculina, com o seu conjunto de cromossomas, para fertilizar uma célula haplóide feminina (óvulo) no ventre de Maria. (...) Por isso, desde que se atribua a existência do universo (...) a Deus, que o criou do nada, a introdução milagrosa daquela célula haplóide masculina no ventre de Maria apenas deveria criar problemas para aqueles que perderam o sentido da proporção. O que devemos pensar acerca daquele bioquímico que acha difícil aceitar que Jesus não teve pai humano, quando ele, como Católico, não acha difícil admitir a criação do universo?» - Pe. Jaki Padre Stanley Jaki (1924-2009) 75
  • 76. Conclusão Para saber mais... “Documentação crítica de Fátima”, Santuário de Fátima, 1992-... Centro de Estudos de História Religiosa da UCP Serviço de Estudos e Difusão do Santuário, Pe. Luciano Cristino Vol. I: Interrogatórios aos Videntes (1917) Vol. II: Processo Canónico Diocesano (1922-1930) Vol. III: Das Aparições ao Processo Canónico Diocesano 1 (1917-1918) Vol. III: Das Aparições ao Processo Canónico Diocesano 2 (1918-1920) Vol. III: Das Aparições ao Processo Canónico Diocesano 3 (1920-1922) Vol. IV: Do início do processo canónico diocesano à criação da capelania 1 (3 Mai.-12 Out. 1922) Vol. IV: Do início do processo canónico diocesano à criação da capelania 2 (13 Out. 1922 - 12 Out. 1924) Vol. IV: Do início do processo canónico diocesano à criação da capelania 3 (13 Out. 1924 - 31 Dez 1925) Vol. IV: Do início do processo canónico diocesano à criação da capelania 4 (1 Jan. 1926 - 12 Jul. 1927) Vol. V: Da criação da Capelania à Carta Pastoral de D. José 1 (13 Jul. 1927 - 31 Dez. 1928) Vol. V: Da criação da Capelania à Carta Pastoral de D. José 2 (1 de Janeiro a 30 de Junho de 1929) Vol. V: Da criação da Capelania à Carta Pastoral de D. José 3 (1 de Julho a 31 de Dezembro de 1929) Vol. V: Da criação da Capelania à Carta Pastoral de D. José 4 (1 de Janeiro a 30 de Abril de 1930) 76