2. É Natal
É Natal e por esse Mundo, Pedirei Paz para o Mundo
Quantos Corações sem Esperança Muito Amor para os
Quantas Lágrimas Rolando Pequeninos
Num Rostinho de Criança Alegria para os que Choram
E Pão para os Pobrezinhos
Quanta Criança Descalça,
Rotinha, Magra, Faminta, E Ajudando os que Sofrem
Apelando para o Mundo A Cada um Dando a Mão
Na Rua Estende a Mãozita... Passaremos um Natal
Com mais Paz no Coração
Ah se eu fosse Poderosa
Bem Mais do que um Simples Ser,
Não Haveria no Mundo Maria da Luz Pedrosa
Uma Criança a Sofrer
Por isso meu Bom Jesus
Quando o Sino Badalar
Vou fazer uma Oração
Tua Imagem Adorar
3. Hoje é dia de Natal
Mas o Menino Jesus
Nem sequer tem uma cama,
Dia de Natal
Dorme na palha onde o pus.
Recebi cinco brinquedos
Mais um casaco comprido.
Pobre Menino Jesus,
Faz anos e está despido.
Comi bacalhau e bolos,
Peru, pinhões e pudim.
Só ele não comeu nada
Do que me deram a mim.
Os reis de longe lhe trazem
Tesouro, incenso e mirra.
Se me dessem tais presentes,
Eu cá fazia uma birra.
Às escondidas de todos
Vou pegar-lhe pela mão
E sentá-lo no meu colo
Para ver televisão.
Luísa Ducla Soares
4. É Natal
É dia de ser bom. Pedido de Natal
É dia de passar a mão pelo rosto
das crianças,
de falar e de ouvir com mavioso
tom, No Pinheirinho de Natal
de abraçar toda a gente e de Com estrelinhas a brilhar
oferecer lembranças. Tantas, tantas prendinhas
É dia de pensar nos outros e, O Natal está a chegar
também, nos que padecem, Coloco o sapatinho
Junto Árvore de Natal
de perdoar aos nossos inimigos,
Pedi para ser um bom menino
mesmo aos que não merecem.
E não me portar mal.
António Gedeão
5. A palavra mais bela
Fui ver ao dicionário de sinónimos
A palavra mais bela sem igual
Perfeita como a nave dos Jerónimos...
E o dicionário disse-me NATAL.
Perguntei aos poetas que releio:
Gabriela, Régio, Goethe, Poe, Quental,
Lorca, Olegário... e a resposta veio:
Christmas... Noel... Natividad...Natal...
Interroguei o firmamento todo!
Cobras, formigas, pássaros, chacal!
O aço em chispa, o «pipe-line», o lodo!
E a voz das coisas respondeu NATAL.
Cânticos, sinos, lágrimas e versos:
Um N, um A, um T, um A, um L...
Perguntei a mim próprio e fiquei mudo...
Qual a mais bela das palavras, qual?
Para que perguntar se tudo, tudo,
Diz Natal, diz Natal, e diz Natal?!
Adolfo Simões Muller
6. Noite de Natal
Noite de natal
chego à porta e bato
vou meter prendinhas,
no vosso sapato
Pus o sapatinho,
junto à chaminé
E o Pai Natal deu-me um
chimpanzé.
Mas para alegrar
o meu caracol
O Pai Natal,
deu-me um guarda sol
Zangou-se comigo,
levou-se da breca
Puxou-me os cabelos,
e eu fiquei careca.
7. Natal Africano
Não há pinheiros nem há neve, Nem luz, nem cores, nem lembranças
Nada do que é convencional, Da hora única e imortal.
Nada daquilo que se escreve Somente o riso das crianças
Que em toda a parte é sempre igual.
Ou que se diz... Mas é Natal.
Que ar abafado! A chuva banha Não há pastores nem ovelhas,
A terra, morna e vertical. Nada do que é tradicional.
Plantas da flora mais estranha, As orações, porém, são velhas
Aves da fauna tropical. E a noite é Noite de Natal.
Cabral do Nascimento
8. «Quando a gente desta casa.
Fios brilhantes
Estiver toda deitada.
Aranhas, tendes licença.
O Natal já vinha perto.
De ir ver a árvore enfeitada.»
E, em casa, que confusão.
Toda a gente atarefada.
As aranhas, uma a uma.
Com a vassoura na mão.
Saíram lá do seu canto.
E as aranhas perseguidas.
E foram ver o pinheiro.
Fugiam a oito patas.
Que estava mesmo um encanto.
E iam esconder-se no sótão.
Mas, ao andarem pelos ramos,
Com os ratos e as baratas.
As pobres aranhas feias
Lá em cima, muito tristes.
Deixavam atrás de si
Lamentavam o seu mal:
Os fios cinzentos das teias!
O Deus Menino, porém.
- Ai, se ao menos nos deixassem.
Estendeu sua mão bendita.
Ver a árvore de Natal!
Transformando em fios de prata.
Mas, o Menino Jesus.
Os sinais dessa visita.
Mandou-lhes este recado,
Dizem que foi desde então,
Por uma estrela que brilhava.
Que se tornou habitual.
Entre as frestas do telhado.
Enfeitar com fios brilhantes.
As árvores de Natal.
Maria Isabel Mendonça Soares
9. A noite de Natal
Em a noite de Natal
Alegram-se os pequenitos;
Pois sabem que o bom Jesus
Costuma dar-lhes bonitos.
Vão se deitar os lindinhos
Mas nem dormem de contentes
.
E somente às dez horas
Adormecem inocentes.
Perguntam logo à criada
Quando acorde de manhã
Se Jesus lhes não deu nada
– Deu-lhes sim, muitos bonitos.
– Queremo-nos já levantar
Respondem os pequenitos.
Mário de Sá-Carneiro
10. NATAL
É urgente o amor
É urgente um barco no mar
É urgente destruir certas palavras,
Ódio, solidão e crueldade,
Alguns lamentos,
Muitas espadas.
É urgente inventar alegria,
Multiplicar os beijos, as searas,
É urgente descobrir rosas e rios
E manhãs claras.
Cai o silêncio nos ombros e a luz
Impura, até doer.
É urgente o amor, é urgente
Permanecer.
Eugénio de Andrade