1. UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA – UNEB
DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO – CAMPUS VII
TIANA SOUZA GONÇALVES SILVA
QUEM É O ALFABETIZADOR QUE ATUA NO PROGRAMA
TOPA – TODOS PELA ALFABETIZAÇÃO?
SENHOR DO BONFIM – BA
2011
2. 1
TIANA SOUZA GONÇALVES SILVA
QUEM É O ALFABETIZADOR QUE ATUA NO PROGRAMA
TOPA – TODOS PELA ALFABETIZAÇÃO?
Trabalho apresentado a Banca
Examinadora da Universidade Estadual
da Bahia – UNEB, como exigência para
obtenção do título de Licenciado em
Pedagogia, sob a orientação da
professora Norma Leite Martins de
Carvalho
SENHOR DO BONFIM – BA
2011
3. 2
TIANA SOUZA GONÇALVES SILVA
QUEM É O ALFABETIZADOR QUE ATUA NO PROGRAMA
TOPA – TODOS PELA ALFABETIZAÇÃO?
Aprovada em ____________/____________/____________
BANCA EXAMINADORA:
___________________________ __________________________
Prof. Beatriz Barros Prof. Sandra Fabiana
Avaliadora Avaliadora
___________________________________________________________
Norma Leite Martins de Carvalho (Orientadora)
4. 3
A minha mãe Esmeralda e meu pai Norberto que
são referência na minha vida. Sou eternamente
grata por todo acalento, educação, amor, orações
incentivo e apoio.
Ao meu querido e amado esposo, por toda
compreensão, paciência e estímulo.
As minhas filhas, razões da minha luta e
persistência, que por tantas vezes tiveram que
conviver com a minha ausência.
5. 4
AGRADECIMENTOS
A Santíssima Trindade: Pai, Filho e Espírito Santo por todas as bênçãos
derramadas em minha vida e por permitir a conclusão das minhas atividades.
A todos os meus familiares que contribuíram direta ou indiretamente em
especial a minha tia Rosa e o tio Farias que me compreenderam e me estimularam
de estímulo e coragem quando eu mais precisava.
Aos meus sujeitos da pesquisa com os quais consegui aprender muito.
A minha Professora e amiga Norma Leite Martins de Carvalho, minha
orientadora, pelo entusiasmo, colaboração e apoio.
A professora Simone Wanderley minha co-orientadora pela atenção que me
concedeu dedicação, paciência e a sua valiosa contribuição neste trabalho.
A todos os professores da Universidade do Estado da Bahia – Campus VII,
que contribuíram para a minha formação acadêmica.
As minhas colegas e amigas em especial Aurenice, Anailma, Ana,
Andresa, Cristina, Jailde, Josilene, Madalena que dividiram comigo alegrias e
tristezas e por toda troca de experiência durante todo o curso.
6. 5
De tudo ficaram três coisas: a certeza de que estava
sempre começando. A certeza que era preciso
continuar e a certeza de que seria interrompido
antes de terminar. Fazer da interrupção um caminho
novo. Fazer da queda, um passo de dança, do
medo, uma escada, do sonho, uma ponte, da
procura, um encontro.
(FERNANDO PESSOA)
7. 6
RESUMO
Este estudo, tem como objetivo conhecer o professor/alfabetizador, o seu perfil e o
que pensa sobre o seu papel na alfabetização de jovens e adultos, do programa
TOPA, no município de Campo Formoso-BA. A implantação do referido Programa é
fruto da parceria entre Estado e Município. Lançado em Maio de 2007, o programa
Brasil Alfabetizado/TOPA do PDE (Plano de Desenvolvimento da educação) prevê a
erradicação do analfabetismo e o progressivo atendimento a jovens e adultos no
primeiro segmento da educação. O Programa atende a jovens, adultos e idosos
pertencentes às camadas populares, publico excluído da cultura letrada. A temática
em estudo emerge da necessidade de identificar o “voluntário” alfabetizador popular
que é responsável por assegurar o processo de aprendizagem a essa clientela que
por tanto tempo ficou fora da escola. A abordagem metodológica adotada foi
norteada pela pesquisa qualitativa; utilizamos como instrumentos de coleta de dados
a entrevista semi-estruturada e o questionário fechado. Os sujeitos da pesquisa
foram doze alfabetizadores que atuam nos espaços educativos da sede e interior do
município. O referencial teórico que norteou nosso trabalho de campo foi: Freire
(1996) Paiva (1987) Oliveira (1999), Pinto (2000), Soares (2003), Arroyo (2005)
Brasil (2002) Cagliari (2006) Vieira (2004) dentre outros. Os resultados apontam
para uma visão ingênua sobre alfabetização e uma prática embasada no senso
comum e na experiência de vida do alfabetizador.
Palavras-chave: Alfabetização, Professor/Alfabetizador, Programa TOPA.
.
8. 7
LISTA DE SIGLAS
EJA Educação de Jovens e Adultos
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
LDB Lei de Diretrizes e Bases
MEC Ministério da Educação
MOBRAL Movimento Brasileiro de Alfabetização
PNAD Pesquisa Nacional por Domicílio
SECAD Secretaria de Educação Continuada Alfabetização e Diversidade
TOPA Todos pela Alfabetização
UF Unidade Formadora
9. 8
LISTA DE FIGURAS
Figura 01 – percentual quanto ao gênero
Figura 02 – percentual quanto à faixa etária
Figura 03 – percentual quanto ao nível de escolaridade
Figura 04 – percentual quanto a Curso de capacitação oferecido pelo TOPA
Figura 05 – percentual quanto a Curso de capacitação oferecido na área de EJA
Figura 06 – percentual quanto a exercer outra função
Figura 07 – percentual quanto a outras ocupações exercidas
Figura 08 – percentual quanto a renda familiar
10. 9
LISTA DE TABELAS
Tabela 01 – dados de analfabetismo no Brasil
Tabela 02 – realidade do Programa TOPA no município de Campo Formoso
11. 10
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ............................................................................................................12
CAPITULO I.................................................................................................................14
1.1 Problematizando a Temática .............................................................................14
CAPÍTULO II................................................................................................................19
2.1 Alfabetização de jovens e adultos .....................................................................19
2.1.1 Conceituando alfabetização ...........................................................................20
2.1.2 Um breve histórico sobre Alfabetização de Jovens e Adultos ...................22
2.2 Professor Alfabetizador .....................................................................................25
2.3.1 Proposta Pedagógica..................................................................................30
2.3.2 Unidades Formadoras ................................................................................33
CAPITULO III...............................................................................................................36
PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS ...................................................................36
3.1 A opção pelo paradigma qualitativo ..................................................................36
3.2 Instrumentos da Coleta de dados .....................................................................37
3.2.1 Questionário fechado ..................................................................................37
3.2.2 Entrevista semi-estruturada ........................................................................38
3.3 Lócus de pesquisa .............................................................................................39
3.4 Sujeitos da pesquisa .........................................................................................39
3.5 Análise e interpretação dos dados ....................................................................39
CAPITULO IV ..............................................................................................................40
ANÁLISE DE DADOS .................................................................................................40
4.1 Identificando o perfil ..........................................................................................40
4.1.1 Gênero dos sujeitos ....................................................................................40
4.1.2 Faixa etária .................................................................................................41
4.1.3 Nível de escolaridade .................................................................................41
4.1.4 Curso de formação oferecido pela Universidade do Estado da Bahia para os
envolvidos no Programa TOPA ...............................................................................43
4.1.5 Cursos de capacitação na área de EJA .........................................................43
4.1.6 Outra ocupação profissional além de atuar no programa TOPA ...................45
4.1.7 Renda familiar.................................................................................................46
4.1.8 Satisfação com o valor da bolsa auxílio .........................................................47
12. 11
4.2.1 Quem sou eu? ............................................................................................48
4.2.2 Tenho fundamentos teóricos/ metodológicos do contexto em que atuo? ..50
4.2.3 Como me vejo? ...........................................................................................52
4.2.4 O que penso e sei sobre alfabetização? ....................................................54
4.2.5 Dificuldades encontradas............................................................................55
CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................................57
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS............................................................................59
APÊNDICE ..................................................................................................................62
UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA – UNEB ...................................................63
UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA – UNEB ...................................................65
13. 12
INTRODUÇÃO
Todas as pessoas têm direito a uma educação de qualidade. Entretanto,
apesar do reconhecimento desse direito durante muito tempo ele foi negado
principalmente ao público jovem e adulto.
Após décadas de muitas lutas e intensas mudanças ocorridas ao longo do
tempo na sociedade, a Educação de jovens e adultos passou a ser reconhecida
como modalidade de ensino, buscando favorecer aquele adulto analfabeto que não
teve oportunidade de cursar seus estudos e/ou por diversos fatores não concluiu o
processo de alfabetização.
A temática sobre a alfabetização de pessoas jovens e adultas, no cenário
atual, vem sendo bastante discutida nas pautas das políticas educacionais, pela sua
importância no contexto social, pois ler e escrever são uma necessidade para o
individuo adentrar o mundo letrado e participar da sociedade em que vive exercendo
a sua cidadania.
Observa-se hoje, que o Estado baiano tem apostado em Programas de
Alfabetização de curta duração para efetivar e assegurar o processo de
alfabetização dessa clientela que ficou por tanto tempo excluída de atividades
sociais. Ficando a cargo de pessoas “voluntárias” o alfabetizador popular promover
este processo de aprendizagem.
No decorrer deste trabalho, buscou-se conhecer os alfabetizadores que
participam da 4º etapa do Programa TOPA.
Visando uma melhor compreensão, este trabalho será dividido em quatro
capítulos, a saber:
Capítulo I: É apresentada uma síntese da situação da Educação de Jovens e
Adultos no Brasil.
14. 13
Capítulo II: Neste capítulo, apresentam-se os teóricos que nortearam esta
produção, acerca de alfabetização de jovens e adultos, professor/alfabetizador e
Programa TOPA.
Capítulo III: São apresentados os procedimentos metodológicos, os
instrumentos utilizados para recolhimento de dados e elaboração deste estudo.
Capítulo IV: Serão apresentados os dados coletados, analisados e
interpretados, mostrando o resultado da pesquisa.
Na Conclusão apresentamos algumas considerações referente à elaboração
da presente monografia e uma breve análise do alfabetizador que atual no Programa
TOPA – Todos pela Alfabetização.
15. 14
CAPITULO I
1.1 Problematizando a Temática
Quatro coisas há no mundo, que eu desejava saber: Era dançar, tocar
viola, jogar pau e saber ler. (JOSÉ LEITE DE VASCONCELOS)
Inúmeros são os discursos que trazem em seu bojo a efetivação de um
modelo educacional democratizado, que atenda as mais variadas clientelas, para
deste feito garantir educação a toda à população; No entanto nota-se no panorama
educacional um déficit em relação á essa questão, aja visto os alarmantes índices
de analfabetismo, que segundo os dados da Pesquisa Nacional por Domicilio
(PNAD) de 2010, divulgadas pelo IBGE, o Brasil tem atualmente cerca de 14,6
milhões de pessoas de 15 anos ou mais não alfabetizado.
Tal fundamentação justifica os atuais indicadores econômicos, que
apresentam populações desiguais e/ou polarizadas, onde em um extremo
concentra-se a riqueza e outro, no entanto comporta a grande massa de indivíduos
com condições básicas de vida deterioradas ou quase inexistente.
Intervindo nessa problemática cabe às esferas governamentais (Federal,
Estadual e municipal) um importante papel frente ao povo: a obrigação de
planejamento e execução de políticas educacionais que atendam as classes
populares.
Quando falamos em indicadores econômicos, planejamento e
desenvolvimento social nos remetemos a cobrar um investimento sério e
comprometido, por parte do Estado na Educação. Pois, “Se pensarmos um projeto
de desenvolvimento sem considerarmos a educação como um dos pilares
fundamentais desse processo é o mesmo que tentar „jorrar água de uma fonte que já
secou‟.” (REIS, 2004, p.70).
16. 15
Reconhecemos que o problema referente ao analfabetismo faz parte de um
conjunto maior de elementos que vão desde a economia á política social. Batista
(2004, p.03) aponta que: o “o problema do analfabetismo, na escola ou fora dela, é
parte de um problema maior e de natureza política. É o problema da desigualdade
social, da injustiça, da exclusão social”.
Essa problemática se acentua quando analisamos o público de pessoas
jovens e adultas, que tradicionalmente na história do nosso país sempre teve as
propostas voltadas para a educação e erradicação do analfabetismo com modelos
compensatórios e de caráter assistencialista e não como um direito fundamental.
Acreditamos que a Educação de Jovens e Adultos deve ser tratada juntamente com
outras políticas públicas.
Embora a Constituição Federal de 1988, no art. 208, estabeleça o direito ao
Ensino Fundamental a todos os brasileiros independente da idade. E reconheçamos
que a lei 9394/96 foi um marco importante para e Educação de jovens e adultos,
deixando de ser vista apenas como um “ensino supletivo” e passando a ser uma
Educação direcionada para atender o público jovem e adulto.
Mesmo reconhecendo a disposição do governo em estabelecer uma política
ampla para EJA, especialistas apontam a desarticulação entre as ações de
alfabetização e de EJA, questionando o tempo destinado à alfabetização e à
questão da formação do educador. A prioridade concedida ao programa
recoloca a educação de jovens e adultos no debate da agenda das políticas
públicas, reafirmando, portanto, o direito constitucional ao ensino
fundamental, independente da idade (VIEIRA, 2004, p. 85-86).
Apesar de inegáveis avanços nas áreas social, econômica e educacional
nesta última década, o Brasil ainda apresenta uma dívida secular com milhões de
brasileiros, particularmente jovens e adultos que nunca estudaram ou tiveram pouco
contato com a educação formal.
Ressaltamos que o analfabeto ainda não é reconhecido e valorizado por seus
saberes e a capacidade que ele tem de viver, mesmo sem saber ler e escrever.
Como afirma Soares (2003):
17. 16
O analfabeto é aquele que não pode exercer em toda a sua plenitude os
seus direitos de cidadão, é aquele que a sociedade marginaliza, é aquele
que não tem acesso aos bens culturais de uma sociedade letrada (p.20).
No mundo da cultura letrada, da sociedade da informação, e do avanço
tecnológico, o mercado de trabalho vem exigindo mais conhecimentos e habilidades,
e mão de obra alfabetizada. Assim esses adultos analfabetos são impossibilitados
de se integrarem a cultura letrada de forma devida, excluídos de maiores atividades
sociais.
Diante desse quadro, teóricos e educadores, preocupados com o
analfabetismo no Brasil e as questões tocantes às camadas populares da educação,
empreenderam estudos a fim de entender e apresentar soluções para essa grave
questão. Para Freire (1990), O analfabetismo não é meramente a incapacidade de
ler e escrever; é também um indicador cultural para nomear formas de diferenças
dentro da lógica da privação cultural.
Nesse sentido, faz-se necessário uma revisão na concepção do
analfabetismo, entendido preconceituosamente por muitos, como condição inerente
ao próprio sujeito, passando a ser compreendido numa visão mais crítica, como
problema social. Ou seja, tal compreensão desmistifica a noção de alfabetização
enquanto simples fato de oferecer o acesso à leitura, à escrita e à numeração,
ampliando para a alfabetização enquanto política cultural e a escola como espaço
para o fomento da cidadania emancipada.
É nesse contexto e diante da urgência de alfabetizar o jovem e adulto que
estão excluídos do meio social que o nosso estudo focaliza-se para as propostas e
programas de alfabetização na Bahia, que têm como meta reduzir a um digito o
analfabetismo de jovens e adultos no estado.
Observamos hoje, que apesar de um aumento expressivo na oferta de
programas de alfabetização para jovens e adultos, ainda há muito a avançar nos
formatos que realmente atendam satisfatoriamente a esse público. Garantia de
acesso, não é necessariamente garantia de qualidade de ensino e discutir a
qualidade do ensino está diretamente ligada à preparação do professor, pois ele é
18. 17
muito importante para o sucesso da aprendizagem por ser capaz de identificar o
potencial de cada aluno.
Percebemos que os projetos empreendidos na ultimas décadas responderam
desarticuladamente aos maiores interessados: o público analfabeto, pois o
alfabetizador ainda não aprendeu a considerar a importante bagagem trazida por
esses alfabetizandos e também não contemplam a valorização de todos os saberes
e potências que esses adultos carregam consigo. Essas pessoas precisam ser
reconhecidas como homens e mulheres produtivos, que possuem uma cultura.
Segundo Oliveira (1999)
O adulto está inserido no mundo do trabalho e das relações interpessoais
de um modo diferente daquela criança e adolescente. Traz consigo uma
história mais longa de experiências, conhecimentos acumulados e reflexões
sobre o mundo externo sobre si mesmo e sobre as outras pessoas. (p.12)
Observa-se hoje, um grande percentual de jovens e adultos que se
matriculam e freqüentam os programas de alfabetização e as salas da modalidade
de EJA. Embora se note, por exemplo, a dificuldade que eles apresentam na
adaptação de horários, nos conteúdos, nas avaliações propostas. Também
percebemos que nos programas de alfabetização a qualidade do ensino depende
muito da relação professor/educando.
Diante disso, os elevados índices de evasão e repetência nos programas de
alfabetização de jovens e adultos indicam além do fator socioeconômico que impede
a dedicação aos estudos, a falta de sintonia entre o que o alfabetizador propõe e o
que alfabetizando espera.
Vale ainda ressaltar que os jovens, adultos e idosos inseridos nessa
modalidade de ensino já possuem saberes que o alfabetizador ainda não valoriza no
processo de ensino e aprendizagem. Esses alfabetizandos precisam ser
reconhecidos cidadãos produtivos e criativos, capazes de aprender, donos de uma
importante bagagem cultural que pode ser enriquecida continuamente.
19. 18
Nesse sentido, faz-se necessário uma revisão nas ações dos docentes que
estão inseridos nos programas, pois para atuar é preciso formação adequada. É
indispensável lembrar que a formação do alfabetizador não é um acontecimento
isolado e promovido apenas por instituições formadoras, mas é uma trajetória
pessoal, um processo contínuo. Na visão de Candau (1997),
A formação continuada não pode ser concebida como meio de acumulação
(de cursos, palestras, seminários de conhecimentos ou técnicas), mas
através de um trabalho de reflexibilidade critica sobre as práticas de (re)
construção permanente de uma identidade pessoal e profissional em
interação mútua. (p.64)
E assim, diante de transformações tão intensas que a sociedade vem
enfrentando num cenário de conflitos sociais e econômicos temos a alfabetização de
jovens e adultos que precisa e merece atenção especial, principalmente no que diz
respeito a formação do alfabetizador, pois, este é um dos sustentáculos assim como
outros elementos importantes (as condições de trabalho, o material disponível o
tempo que se dispõe para alfabetizar, o tempo dos alfabetizandos...) para a
realização de um trabalho de qualidade e para o êxito do programa.
Assim, mediante a problemática abordada e por entendermos que o processo
da alfabetização é multifacetado, envolvendo diversos sujeitos e contextos,
buscamos neste estudo conhecer o professor/alfabetizador, o seu perfil e o que
pensa sobre o seu papel na alfabetização de jovens e adultos, do programa TOPA,
no município de Campo Formoso – BA.
Assim, os nossos objetivos são:
Identificar o perfil do alfabetizador do Programa TOPA.
Conhecer a visão do alfabetizador sobre o programa de alfabetização de
jovens e adultos que atua.
20. 19
CAPÍTULO II
2.1 Alfabetização de jovens e adultos
É aqui neste capítulo, reservado à construção do quadro teórico, onde se
embasa este estudo. Os elementos discorridos mostram-se de grande importância
para o aprofundamento do problema pesquisado.
Sabemos que a educação é o instrumento que permite às pessoas uma
melhor qualidade de vida, capacitando-as para competir no mercado de trabalho e
exercer plenamente sua cidadania. Os programas de Alfabetização de pessoas
jovens e adultas são propostas de ensino que visam atender as pessoas que não
puderam cursar seus estudos na época apropriada. Pensando assim, a
alfabetização constitui-se em direito fundamental do direito à educação. É
responsabilidade das Instituições públicas promoverem um amplo processo de
alfabetização, na perspectiva de assegurar a afirmação do trabalhador e o direito ao
trabalho. Segundo Paulo Freire, a alfabetização deve ser compreendida com leitura
crítica da palavra e do mundo fortalecendo, assim, a dignidade humana, a condição
de cidadão, a auto-estima, a autonomia, ampliando suas possibilidades de
apropriação do capital social, cultural e econômico.
Ao longo dos anos esta temática vem ganhando espaço nas pautas das
políticas educacionais pela sua importância no contexto social, pois ler e escrever
são necessidades do indivíduo para adentrar o mundo letrado e participar
ativamente da sociedade em que vive.
Nesse processo, os governos Federal, Estadual e Municipal articulados com
os Movimentos Sociais, as Universidades e outras Instituições promovem uma
ampla mobilização no Estado para reduzir significativamente os índices atuais de
analfabetismo na Bahia.
21. 20
2.1.1 Conceituando alfabetização
Segundo Cagliari, (1989) Alfabetização é o processo pelo qual as pessoas
aprendem a ler e a escrever. No entanto, esse aprendizado vai muito além de
transcrever a linguagem oral para a linguagem escrita. Alfabetizar-se é muito mais
do que reconhecer as letras e saber decifrar palavras. Aprender a ler e a escrever é
apropriar-se do código lingüístico-gráfico e tornar-se, de fato, um usuário da leitura e
da escrita.
É pertinente a contribuição de Freire (1990) quando afirma que a
alfabetização:
é parte do processo pelo qual alguém se torna autocrítico a respeito da
natureza historicamente construída de sua própria experiência. Ser capaz
de nomear a própria experiência é a parte do que significa “ler” o mundo e
começar a compreender a natureza política dos limites bem como das
possibilidades que caracterizam a sociedade mais ampla. (p. 35)
O processo de alfabetização não deve ser tratado como adquirir habilidades
técnicas de leitura e escrita, mas como uma ação de construção da liberdade. Ainda
baseando-se em Paulo Freire (1983):
O processo de alfabetização é dinâmico e ativo, quando o homem é sujeito
de suas ações, reflete criticamente sobre sua situação e seu ambiente
concreto, pois qualquer que seja o momento histórico em que esteja a
sociedade, seja o do viável ou do inviável histórico, o papel do trabalhador
social que optou pela mudança não pode ser outro se não o de atuar e
refletir com os indivíduos com quem trabalha para conscientizar-se junto
com eles das reais dificuldades da sua sociedade. (p.55).
Atualmente ser alfabetizado, isto é, saber ler e escrever é uma condição
insuficiente para responder adequadamente as exigências da sociedade em que
vivemos.
O ato de aprender a ler e escrever deve começar a partir de uma
compreensão muito abrangente do ato de ler o mundo, coisa que os seres
humanos fazem antes de ler a palavra. Até mesmo historicamente, os seres
humanos primeiro mudaram o mundo, depois revelaram o mundo a seguir
escreveram as palavras. Esses são momentos da história. Os seres
humanos não começam por nomear A! F! N! começam por liberar a mão e
apossar-se do mundo (FREIRE &MACÊDO, 1990;P.32).
22. 21
É preciso entender o significado e uso das palavras em diferentes situações,
não somente decodificar letras e sons. Para Soares um sujeito alfabetizado é
“aquele que sabe usar a leitura e a escrita para exercer uma prática social em que a
escrita é necessária” (2003, p.10).
Na verdade não há um consenso quanto ao conceito de alfabetização. Paulo
Freire (1991) afirma que:
Se antes a alfabetização de adultos era tratada e realizada de forma
autoritária, centrada na compreensão mágica da palavra doada pelo
educador aos analfabetos, se antes os textos geralmente oferecidos como
leitura aos alunos, escondiam muito mais do que desvelavam a realidade,
agora, pelo contrário a alfabetização como ato criador e como ato político é
uma espaço de leitura do mundo e da palavra(p. 32).
O adulto analfabeto leva para a sala de aula uma bagagem muito ampla de
conhecimentos que sendo considerada pelo alfabetizador tornaria as aulas bem
mais atrativas e dinâmicas, pois estaria tratando de questões bastante interessantes
para eles, por estarem relacionadas às vivências dos alfabetizandos. Assim, a partir
de um processo dinâmico de alfabetização, onde alfabetizandos e alfabetizadores,
juntos, possam construir conhecimentos significativos, com certeza estariam
contribuindo para a formação de uma sociedade mais justa para todos.
De acordo Paulo Freire, (1991), é preciso que a alfabetização esteja a serviço
da formação de um povo que tenha sua história nas mãos. Fazer a História e estar
presente nela e não simplesmente nela estar representado.
Pode-se dizer que quem refletiu pioneiramente de forma contextualizada o
processo de alfabetização foi Paulo Freire, para quem o conceito de alfabetização
inclui o mundo do alfabetizando como um dado determinante na relação
alfabetizador e alfabetizando. Rompe-se assim o círculo da dominação, á prática
corriqueira na sociedade, sugerindo o diálogo como fator indispensável na
alfabetização de adultos, incluindo uma reflexão sobre o homem, sua sociedade e
sua cultura. Sendo assim, alfabetizar-se é adquirir a língua na modalidade escrita
através de um processo de construção do conhecimento tendo uma visão crítica da
realidade.
23. 22
A alfabetização deve ser construída tendo como base o diálogo e a
democratização, onde alfabetizadores e alfabetizando se completam, trocam
saberes, crescem se humanizam superando qualquer relação de dominação entre
eles. “A dialogação implica na responsabilidade social e política do homem. Implica
num mínimo de consciência transitiva, que não se desenvolve nas condições
oferecidas pelo grande domínio” (FREIRE 1979 p.78)
Ainda segundo Freire (1979), o diálogo é uma relação horizontal de A com B
que nasce de uma matriz crítica e gera criticidade. E isso se fortalece com o amor, a
humildade da esperança, da fé, e da confiança. Portanto, só o dialogo gera
comunicação e entendemos que este é fundamental para o processo de
aprendizagem do alfabetizando.
2.1.2 Um breve histórico sobre Alfabetização de Jovens e Adultos
As primeiras notícias acerca do ensino noturno datam do período imperial.
Segundo Neves (2003), em 1840 surge o ensino das primeiras letras ao adulto nos
cursos de ensino profissionalizante. Em 1869, com a finalidade de adiantar o
processo de escolarização, atendendo a um maior número possível de analfabetos,
foram criadas escolas noturnas.
Segundo Moacyr (1936), dados mostram que entre 1869 e 1886, escolas
noturnas para adultos funcionavam em diversas províncias do país. Essas escolas
foram às primeiras formas de organização do ensino noturno, ao reconhecer-se a
necessidade de escolarizar aquelas pessoas que não podiam estudar no horário
diurno, ficando a cargo do poder público brasileiro garantir a escolarização a esses
alunos.
Desde a Monarquia até a constituição da República, há indícios de
reconhecimento da importância do ensino noturno. No entanto, esse
reconhecimento sempre foi e ainda é marcado por um tratamento
diferenciado do que se dá ao ensino diurno. (Arcoverde, 2006p. 10)
24. 23
Já naquela época estes cursos estavam relacionados aos adultos
analfabetos, assim o ensino noturno era oferecido e direcionado para o jovem-adulto
que, como afirma Oliveira (1999),
É aquele migrante que chega ás grandes metrópoles proveniente de áreas
rurais empobrecidas, filho de trabalhadores rurais não qualificados e com
baixo nível de instrução escolar, ele próprio com uma passagem curta e não
sistemática pela escola e trabalhando em ocupações urbanas não
qualificadas, após experiência no trabalho rural na infância e na
adolescência, que busca a escola tardiamente para alfabetizar-se.(p.59)
Diante disso, historicamente o país foi se constituindo a partir de modelos
excludentes, em todas as variáveis: étnica, de gênero e de educação. Tais fatores
contribuíram para os déficits da escolarização em todas as faixas etárias e alargou o
analfabetismo não somente entre os idosos, mas também entre os jovens. Como as
intensas transformações na sociedade brasileira eram bastante acentuadas e a
urgência de escolarizar o povo adulto era uma necessidade básica, já que o índice
de analfabetos no Brasil era altíssimo, surge a implantação dos programas de
alfabetização do governo que traçam diretrizes educacionais e determinam estados
e municípios responsáveis por esta educação.
Com a criação da Campanha da Educação de adultos em 1947, deu-se
espaço a formação de grupos de estudo de campo teórico-pedagógico, onde foram
desenvolvidas discussões sobre o analfabetismo e a Educação de Adultos no Brasil.
No final da década de 50, a Campanha encontrava-se deficiente, financeiramente e
administrativamente quanto nas questões pedagógica, acreditava-se que o tempo
destinado à aprendizagem era curto e os métodos utilizados eram inadequados à
realidade dos adultos.
Com isso, surge uma nova postura na educação de jovens e adulto, baseado
no método do educador Paulo Freire. Ele foi o principal inspirador dos vários
programas de alfabetização na década de 60, sendo seu principal objetivo além de
ensinar a ler e escrever, desenvolver a conscientização política dos adultos
analfabetos, pois o fio condutor do seu método é a alfabetização visando à
libertação. Antes apontado como causa da pobreza e da marginalização, o
analfabetismo agora passava a ser interpretado como efeito da situação de pobreza
25. 24
gerada por uma estrutura social não igualitária. Mas, anos mais tarde a circulação
das ideias desse educador passou a ser proibidas aqui no Brasil.
E, em 1967, nasce o MOBRAL (Movimento Brasileiro da Alfabetização) foi
lançado com iniciativas do governo que passou a controlar os grupos que foram
reprimidos da alfabetização de jovens e adultos após o golpe militar de 64. E após
18 anos de autonomia e experiências desacreditados nos meios políticos e
educacionais foi extinto em 1985, sendo substituído pela Fundação Educar. Para
Sauner (2002): “uma das causas do fracasso do MOBRAL no seu trabalho de
alfabetização do jovem e do adulto brasileiro está relacionada aos recursos
humanos: despreparo dos monitores a quem era entregue a tarefa de alfabetizar” (p.
59).
Vários foram os Programas de alfabetização que surgiram no Brasil, cujo
objetivo voltado para o estudo da Educação Popular e Educação de adultos.
Percebemos que até então, os programas desenvolvidos pelo governo para
contemplar o público jovem e adulto e erradicar o analfabetismo estavam restritos ao
ensino das “primeiras letras” e não a uma alfabetização ampla e de qualidade.
Nesse sentido, faz-se necessário revisão nas ações e na metodologia
adotada pelos programas de alfabetização de pessoas adultas, respeitando a cultura
do povo, capacitando-os para o trabalho e a convivência na sociedade letrada,
garantido-lhes o conhecimento necessário para o exercício da cidadania.
O MEC realiza, desde 2003, o Programa Brasil Alfabetizado (PBA), voltado
para a alfabetização de jovens, adultos e idosos. O programa é uma porta de acesso
à cidadania e o despertar do interesse pela elevação da escolaridade. O Brasil
Alfabetizado é desenvolvido em todo o território nacional, com o atendimento
prioritário a 1.928 municípios que apresentam taxa de analfabetismo igual ou
superior a 25%. Desse total, 90% localizam-se na região Nordeste. Esses
municípios recebem apoio técnico na implementação das ações do programa,
visando garantir a continuidade dos estudos aos alfabetizandos. (PORTAL
MEC,2011)
26. 25
Especificamente na Bahia, as ações e experiências com os programas e
projetos voltados para a erradicação do analfabetismo datam de 1992, com o BB
Educar em parceria com o Banco do Brasil, em 1996 a Alfabetização Solidária
(ALFASOL) em 2003/2004 o AJA Bahia e atualmente o programa Brasil
Alfabetizado, que em 2007 foi lançado no estado baiano como TOPA (Todos pela
Alfabetização).
2.2 Professor Alfabetizador
Definir o conceito, características e funções do professor alfabetizador é
essencial para um maior aprofundamento do presente estudo, a partir do nosso
problema de pesquisa e objetivos propostos.
Entende-se sob o olhar de alguns autores que o professor é aquele que sabe
usar os conteúdos cognitivos que adiquiriu em sua formação para melhorar a sua
prática, assim percebe-se que a experiência aliada ao conhecimento é que torna o
professor um bom profissional . Tardif (2002) afirma que:
O saber dos professores não é um conjunto de conteúdos cognitivos
definidos de uma vez por todas, mas um processo de construção ao longo
de uma carreira profissional no qual o professor aprende progressivamente
a dominar seu ambiente de trabalho, ao mesmo tempo em que se insre nele
e o interioriza por meio de regras de ação que se torna parte integrante de
sua consciência prática. (p.89).
Entendemos que o alfabetizador popular assim como o professor professa um
saber , ministra aula e é capaz de ensinar e contextualizar conteúdos.
O alfabetizador é considerado por Freire (1996) como um planejador, um
pesquisador que assume importante papel no processo de alfabetização. É
considerado também um agente político responsável pela transformação da
consciência da população e o meio social, mesmo diante de suas dificuldades e
limitações no tocante a formação profissional.
É de suma importancia o alfabetizador estar preparado e qualificado para
atuar em diferentes contextos e com diversos sujeitos. Segundo Pinto (2000):
27. 26
Compete ao professor, além de incrementar seus conhecimentos e atualizá-
los, esforçar-se por praticar os métodos mais adequados em seu ensino,
proceder a uma análise de sua própria realidade pessoal como educador,
examinar com autoconsciência crítica sua conduta e seu desempenho, com
a intenção de ver se está cumprindo aquilo que sua consciência crítica da
realidade nacional lhe assinala como sua correta atividade. (p. 113).
Particularizamos neste estudo aquele que atua com as pessoas jovens e
adultas e que para isso além de dominar a metodologia de ensino escolhida, precisa
ter a capacidade de mobilizar e incentivar constantemente o alfabetizando em sala
de aula.
O educador deve ser portador da consciência mais avançada de seu meio.
Necessita possuir antes de tudo a noção critica de seu papel isto é, refletir
sobre o significado da sua missão profissional, sobre as circunstâncias que
a determinam e a influenciam, e sobre as finalidades de sua ação (PINTO,
2007, p.48).
Sendo assim o professor precisa de conhecimentos que possibilitem uma
atenção que atenda ás diversidades dos alfabetizandos; trabalhar baseado em
situações-problema para que os alunos busquem a solução; acolher os alunos;
compreender que a prática é a referência da teoria, a teoria é o alimento de uma
prática qualitativamente superior, ser membro atuante de uma equipe que exercita o
trabalho coletivo, discutindo e socializando suas experiências (LIBÂNEO, 2000).
É preciso também que os alfabetizadores estejam capacitados e
comprometidos com sua formação continuada para o exercício da docência.
A educação de jovens e adultos requer do educador conhecimentos
específicos no que diz respeito ao conteúdo, metodologia, avaliação,
atendimento, entre outros, para trabalhar com essa clientela heterogênea e
tão diversificada culturalmente (ARBACHE, 2001, p. 19).
A alfabetização de jovens e adultos tem sido um desafio permanente para o
professor/alfabetizador, pois mesmo diante de aulas bem preparadas e dinâmicas
alegres e envolventes existe ainda o risco da não construção dos saberes
planejados como também a evasão. Por isso se faz tão necessário a sintonia entre
alfabetizador e alfabetizando. Segundo Freire (2002) a relação educador-educando
deve ser:
28. 27
Para ser um ato de conhecimento o processo de alfabetização de adultos
demanda entre educadores e educandos, uma relação de autêntico diálogo.
Aquela em que os sujeitos do ato de conhecer (educador-educando,
educando-educador) se encontra mediatizados pelo objeto a ser conhecido.
Nesta perspectiva, portanto, os alfabetizandos assumem, desde o começo
mesmo da ação, o papel de sujeitos criadores (p. 58).
Portanto, se o alfabetizador dispõe de conhecimentos que lhe permitam a
partir de sua prática extrair as necessidades específicas dos alfabetizandos, poderá
ter mais sucesso na efetivação de suas atividades.
Nesse sentido Freire (1996) lembra que “como professor preciso me mover
com clareza na minha prática. Preciso conhecer as diferentes dimensões que
caracterizam a essência da prática, o que me pode tornar mais seguro no meu
desempenho” (p.68).
Malglaive, (1995), pontua que ensinar envolve articulação entre saberes
estranhos com conhecimentos anteriores, ou seja, é preciso considerar a realidade
do aluno para que esse aprenda significativamente e isso envolve trazer à prática
educativa seus conhecimentos de mundo para introduzir conhecimentos científicos,
estabelecendo relação entre o que se estuda e o que se vivencia.
Ainda nas discussões apresentadas por Freire (1996) percebemos como o
mesmo coloca o papel pedagógico do alfabetizador de proporcionar aos
alfabetizandos os saberes necessários da leitura e da escrita e mostrando como a
apropriação desse saberes são desencadeadores de novos conhecimentos. Como
também ressalta que o alfabetizador tem o dever de politizar a educação fazendo
uma leitura critica da realidade e buscando elementos necessários para intervenção
no meio social.
Fica claro que é realmente necessário ao alfabetizador ser também um
profissional especializado na elaboração de recursos didáticos adequados ao
processo de alfabetização.
A formação dos professores e das professoras devia insistir na construção
deste saber necessário e que me faz certo desta coisa óbvia, que é a
importância inegável que tem sobre nós o contorno ecológico, social e
econômico em que vivemos. E ao saber teórico – desta influência teríamos
29. 28
que juntar o saber teórico-prático da realidade concreta em que os
professores trabalham” (FREIRE, 1996, p. 155).
No entanto como afirma Gatti no tocante a formação:
(...) dos professores-alfabetizadores que atuam na educação de adultos de
14 anos em diante não tem recebido atenção necessária, pelo contrário,
tem sido relegada cada vez mais a deterioração,pois eles estão ausentes de
boa parte do debate a respeito das políticas públicas centradas na questão
das relações entre escola e sociedade(1991,p.21).
Diante de leituras críticas e nos apoiando em vários autores entendemos que
ensinar é desenvolver estratégias de aprendizagem baseada na realidade e nas
vivências do educando considerando as condições históricas, sociais e culturais que
contribuem para o conhecimento e significados do mundo que os alunos trazem para
a escola. E não apenas se utilizar da “educação bancária” onde o professor
“deposita” conhecimentos pré-determinados e acredita que está educando e
capacitando os alunos; Pois, Paulo Freire (1982) afirmou que: “o educador já não é o
que apenas educa, mas o que, enquanto educa, é educado, em diálogo com o
educando que, ao ser educado, também educa” (p. 78).
Assim podemos entender que o processo de alfabetização começa muito
antes de ler e escrever, e que se faz necessário uma ponte entre o saber empírico
com o saber formal e assim o aluno aprende com o seu grupo social e com o
alfabetizador, ao tempo que constrói os elementos integrantes para o seu
conhecimento.
2.3 O Programa TOPA
O Programa TOPA (Todos pela Alfabetização), foi implantado na Bahia em 09
de maio de 2007 destinado a alfabetização de jovens e adultos. Nasceu com a meta
do governo de alfabetizar um milhão de jovens, adultos e idosos das camadas mais
carentes. Objetivando assegurar o direito de acesso e permanência ao público
analfabeto na escola garantindo e oportunizando à aquisição da leitura e da escrita.
O Brasil Alfabetizado/TOPA, segundo o Ministério da Educação (MEC), é
caracterizado como um “portal de entrada na cidadania, articulado diretamente com
30. 29
o aumento da escolarização de jovens e adultos e promovendo o acesso à
educação como um direito de todos em qualquer momento da vida”.
Esse Programa prevê a celebração de convênios entre a Secretaria de
Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade - SECAD, do Ministério da
Educação, e os Estados, e os Municípios ou Entidades Organizadas da Sociedade
Civil, que se responsabilizam pela proposição e pela realização de projetos de
Alfabetização de Jovens e Adultos, e também de ações de capacitação de
alfabetizadores (FONSECA; GOMES; LOPES, 2007).
O Programa é executado pelo FNDE/MEC em parceria com a Secretaria de
Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade (SECAD) que analisa as
propostas e defini os benefícios, os municípios recebem os recursos por meio de
transferências diretas, de acordo com a resolução/FNDE/CD n°70 de 24 de
Dezembro de 2007. Essa Resolução nasce a partir da Lei nº 10.172, de 2001, que
institui o Plano Nacional de Educação, determinando “a erradicação do
analfabetismo e o progressivo atendimento a jovens e adultos no primeiro segmento
de Educação de jovens e adultos, em uma década;” tendo como objetivo “garantir
que as necessidades básicas de aprendizagem dos jovens sejam satisfeitas de
modo eqüitativo, por meio de acesso a programas de aprendizagem apropriados e
atingir, até 2015, 50% de melhoria nos níveis de alfabetização de adultos, em
particular para as mulheres, em conjunção com o acesso eqüitativo à educação
básica e continuação de adultos”; ampliando assim, “oportunidades educacionais
para jovens e adultos com 15 anos ou mais que não tiveram acesso ou permanência
na educação básica;”
O Programa TOPA – Todos pela Alfabetização prevê ações que deveriam ser
contempladas por forma dessa Resolução:
a) alfabetização de jovens e adultos;
b) formação inicial e continuada de alfabetizadores e de coordenadores de
turmas;
31. 30
c) a coordenação de turmas de alfabetização;
d) a tradução e interpretação de LIBRAS. (conforme o artigo 3º)
§ 3º Os tradutores interpretes de Língua Brasileira de Sinais deverão
promover a acessibilidade á comunicação em turmas que incluírem jovens, adultos e
idosos surdos e deverão apresentar certificado expedido pelo Instituto Nacional de
Estudos e Pesquisas Educacionais – INEP/ MEC ou entidade competente que
comprove sua proficiência para o desempenho desta atividade.
e) o transporte para o alfabetizando;
f) o apoio à aquisição de gêneros alimentícios destinados, exclusivamente ao
atendimento das necessidades de alimentação escolar dos alfabetizandos
cadastrados e freqüentes, em 2007, no âmbito do Programa;
g) a aquisição de material escolar;
h) a aquisição do material pedagógico;
A Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade (SECAD)
informa, ainda, que o Programa enfatiza a qualidade e o maior aproveitamento dos
recursos públicos investidos na Educação de Jovens e Adultos. O processo
acontece de 06 a 08 meses, contando com 10h semanais de alfabetização, havendo
avaliação cognitiva dos alfabetizandos no início e ao término do Programa.
2.3.1 Proposta Pedagógica.
Ao se pensar uma proposta pedagógica para programas de alfabetização em
tempo mínimo determinado, a coordenação do programa teve como base os
princípios do grande mestre Paulo Freire. A alfabetização deve ser concebida não
apenas como a aquisição do domínio da leitura e da escrita, mas como a
capacidade de usar essa habilidade no desenvolvimento pessoal e coletiva com
32. 31
vistas à construção de uma sociedade cidadã. É preciso, portanto que essa proposta
pedagógica contemple a plena formação do desenvolvimento da pessoa humana.
Objetivo Geral: Promover a alfabetização e a escolarização de Jovens e adultos no
Estado da Bahia.
Objetivos Específicos:
Oportunizar estudos a jovens e adultos que por motivos diversos não
tiveram acesso à escola;
Oportunizar a comunidade de estudos a jovens e adultos que por motivos
diversos não conseguiram concluir a educação básica;
Desenvolver processos efetivos de alfabetização letramento com base
numa metodologia que leve em conta a realidade e a formação política dos
educandos;
Aplicar metodologias que levem em conta a participação efetiva de
educandos e professores fundamentos em teorias e práticas que contemplem a
ampliação dos direitos de cidadania dos educandos;
Construir processos interativos de apropriação do saber, valorizando a
diversidade cultural dos educandos nos aspectos sociais, culturais, políticos e
econômicos de gênero geração e etnia.
Partindo dessa perspectiva a Secretaria de Educação de Campo Formoso –
BA, através do departamento de ensino incorporou ao seu sistema educacional a
Educação de Jovens e Adultos no ano de 1997, para atender uma considerável
parcela da população, não inserida no sistema formal de ensino e/ou escolarizada. E
seguindo as orientações teórico/pratica apresentadas pelos programas AJA BAHIA,
EDUCAÇÃO SOLIDÁRIA e o curso de ACELERAÇÃO I e II, a cidade de Campo
Formoso vem contribuindo para minimizar as taxas de analfabetismo do município e
tentar superar as dificuldades presentes na educação de jovens e adultos.
33. 32
Quanto ao analfabetismo, Campo Formoso apresenta uma das taxas mais
altas da Bahia, conforme tabela 01 abaixo:
DADOS DE ANALFABETISMO NO BRASIL
Brasil Bahia Campo Formoso
13.3% 15,39% 32,4%
FONTE: IBGE 2010
A grande maioria do alunado que compõem esses números é constituída por
indivíduos inseridos no mesmo contexto social: pessoas que cada vez mais
precocemente participam dos rendimentos econômicos da família, tomando até
mesmo a carga na sua totalidade, da responsabilidade dos seus domicílios, assim
tem que abrir mão dos estudos em favor da necessidade de trabalhar,
interrompendo-o antes do tempo apropriado; Pois a “escola é feita para os que não
precisam trabalhar e coloca exigências que os trabalhadores não têm tempo nem
condições de cumprir” (CECCON, 1998).
Nesse aspecto o programa Topa objetiva prioritariamente a diminuição do
analfabetismo no Estado da Bahia, e em Campo Formoso, que conforme dados
coletados nesse município, é perceptível que os índices são altíssimos, em especial
tomando como parâmetro a quantidade de habitantes.
Nesse sentido, a Secretaria Municipal de Educação de Campo Formoso tem
participado ativamente de Programas de Alfabetização, assumindo o compromisso
de alfabetizar um número maior de pessoas jovens e adultas.
Diante disso, o Programa Brasil Alfabetizado/TOPA – Todos pela
Alfabetização foi implantado na cidade de Campo Formoso em 2007, mediante
mobilização social realizada em todas as comunidades, objetivando conhecer e
diminuir o índice de analfabetismo no município, permitindo a inserção e
permanência das turmas de alfabetização para garantir o acesso de pessoas, não
escolarizadas, ao mundo da leitura e da escrita.
34. 33
TABELA 2 – REALIDADE DO PROGRAMA TOPA NO MUNICÍPIO DE CAMPO
FORMOSO
Alfabetizadores Alfabetizandos Coordenadores Ano
214 2.150 12 2007
319 2.980 19 2008
424 4.300 48 2009
228 1.980 24 2010
FONTE: Programa Topa. UNEB-BA.
O programa TOPA foi desenvolvido no município diante do contexto onde a
maioria dos jovens e adultos não escolarizados são trabalhadores que chegam a
escola noturna em precárias condições físicas e intelectuais (cansados e mal
alimentados) desafiando o seu potencial. Estes alfabetizandos estão inseridos num
processo educativo do qual fazem parte diversos espaços (família, trabalho,
comunidade, escola). O trabalho aparece para eles como fundamental.
Portanto, diante das leituras realizadas acreditamos que oportunizar cuidar da
alfabetização de jovens e adultos, excluídos do processo de aprendizagem é
oferecer a esses sujeitos condições de igualdade, possibilitando sua participação
responsável na família, na comunidade e no trabalho.
2.3.2 Unidades Formadoras
Para o cumprimento da meta de alfabetizar um milhão de pessoas, a SEC
conta com o apoio de entidades governamentais e não governamentais, dentre as
quais entidades de classe, sindicatos, associação de moradores, entidades
religiosas (os sujeitos/parceiros), além das instituições de ensino superior, que
atuam como Unidades Formadoras (UF). O papel dessas unidades formadoras é de
contribuir com a formação de profissionais que atuam no Programa como
alfabetizadores, coordenadores de turma, intérpretes de libras e sinais, além de
acompanhar e avaliar o trabalho destas pessoas nos municípios sob a sua
responsabilidade, visando assegurar a aplicação da proposta pedagógica e garantir
a alfabetização dos envolvidos.
35. 34
A Universidade do Estado da Bahia assume uma posição crítica, em relação à
responsabilidade das Instituições Públicas de Ensino Superior, em contribuir na
correção das distorções regionais, socioeconômicas e educacionais vigentes no
Brasil. Desta forma, a UNEB pensa e desenvolve uma política de extensão
articulada com o ensino e a pesquisa, procurando construir seu Projeto Pedagógico
dentro de uma perspectiva interdisciplinar, formadora de competências necessárias
a alunos e professores, na construção de saberes e estratégias, científicas,
profissionais e sócio-políticos que os capacitam ao diálogo e à intervenção regional,
na perspectiva do desenvolvimento e da qualidade de vida. Assegurando, assim, o
compromisso assumido pela UNEB no momento de efetivar parceria com a
Secretaria de Educação do Estado da Bahia, enquanto Unidade Formadora do
Programa Brasil Alfabetizado – TOPA – Todos pela Alfabetização, implantado em
2007 pelo Governo do Estado da Bahia.
A Universidade do Estado da Bahia assume no Território do Piemonte, região
administrativa da DIREC-28, a formação dos alfabetizadores e Coordenadores de
turma e interpretes de Libras, nos municípios de Andorinha, Antonio Gonçalves,
Campo Formoso, Filadélfia, Itiúba, Jaguarari, Pindobaçu, Ponto Novo, Senhor do
Bonfim, tendo como pólo núcleo o Departamento de Educação – Campus VII, em
Senhor do Bonfim.
Para garantir essa formação, a UNEB elaborou o Plano de Formação com
carga horária de 60 horas, partindo de pressupostos teóricos preconizados não
somente por Paulo Freire, mas por outros (as) pesquisadores (as), que não reduzem
o processo de alfabetização simplesmente ao fato de se adquirir uma tecnologia ou
codificar uma língua. A proposta elaborada defende a apropriação de escrita e de
leitura nas práticas sociais, considerando sempre o contexto histórico-social e as
vivências dos sujeitos como ponto de partida do processo ensino-aprendizagem.
Esse Plano de Formação, desenvolvido a partir dos sujeitos envolvidos, tem
como objetivo socializar estudos que lhes possibilitassem criar estratégias de
ensino, permitindo a jovens e adultos, do semi-árido baiano, em processos de
alfabetização, compreender e atribuir sentidos/interpretações aos múltiplos textos
que perpassam o seu cotidiano e atender as suas necessidades comunicativas, em
36. 35
consonância com os seus saberes, repertórios artístico-culturais e inserções no
mundo do trabalho. A UNEB acredita que a partir dessa perspectiva permitiu aos
sujeitos envolvidos (re) criar seu contexto, deslocando-se da mera repetição
mecânica de técnicas de alfabetização e de trabalho manuais para práticas
reflexivas, de modo que se autorizem na criação e (re)significação do ato de ensinar,
aprender, bem como na recriação de suas existências e, por conseguinte, de seu
cotidiano.
37. 36
CAPITULO III
PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
Pesquiso para constatar, constatando, intervenho intervindo educo e me
educo. Pesquiso para conhecer o que ainda não conheço e comunicar ou
anunciar a novidade (FREIRE, 1997, p.32).
Neste capítulo apresentamos os procedimentos metodológicos utilizados para
a elaboração deste trabalho. Entendemos que a opção metodológica escolhida
numa pesquisa é fator decisivo para a elucidação do problema abordado. Segundo
Minayo (2003): a metodologia inclui concepções teóricas de abordagem, conjunto de
técnicas que possibilitam a construção da realidade e o sopro divino do potencial do
investigado. Nesta perspectiva, optamos neste trabalho pela abordagem qualitativa
por entender ser esta a mais consistente em elucidar a nossa questão.
3.1 A opção pelo paradigma qualitativo
Segundo Lakatos “a pesquisa é um procedimento formal, com método de
pensamento reflexivo que requer um tratamento científico e se constitui no caminho
para conhecer a realidade ou para descobrir verdades parciais” (1991, p.155).
A pesquisa qualitativa busca explicações sobre o social, sempre buscando
compreender o processo educacional da escola. Pesquisadores centram a atenção
no pluralismo cultural, na diversidade, no estereótipo ou na discriminação e em
outros aspectos sociais (Ludke, André 1986).
Quanto à conceituação da metodologia qualitativa, afirma Minayo:
[...] a metodologia qualitativa é aquela que incorpora a questão do
significado e da intencionalidade como inerentes aos atos, as relações e as
estruturas sociais. O estudo qualitativo pretende aprender a totalidade
coletada, visando em ultima instância, atingir o conhecimento de um
fenômeno histórico que é significativo em sua singularidade (1992, p.10).
Portanto, neste estudo que tem como foco desvendar o conhecimento de uma
proposta de alfabetização sob o olhar dos professores que atuam na mesma,
38. 37
avançando as percepções superficiais ou meramente estatísticas, acreditamos que
somente o enfoque qualitativo responde a questões muito peculiares e trabalha com
o universo de significados. Ainda referindo-se a pesquisa, Ludke (1986) afirma que:
A pesquisa qualitativa envolve a obtenção dos dados descritivos, obtidos no
contato direto do pesquisador com a situação estudada, enfatizando mais o
processo do que o produto, e se preocupar em retratar as perspectivas dos
participantes. (p.13).
Assim, esse tipo de pesquisa é muito eficiente quando se trata de problemas
da realidade sócio-econômico da sociedade. Pois, permite a análise dos resultados
sob uma ótica diferenciada.
3.2 Instrumentos da Coleta de dados
Para a efetivação da pesquisa foi necessário a utilização de instrumentos
adequados, ao objeto em estudo. Pois, uma pesquisa científica requer
procedimentos sistemáticos, com o objetivo de descobrir e interpretar os fatos de
uma determinada realidade. É preciso promover o confronto entre os dados
colhidos, as evidências, as informações coletadas sobre determinado assunto e o
conhecimento teórico acumulado a respeito dele. (LUDKE e ANDRÉ, 1986)
A Coleta de dados será realizada através do questionário fechado e entrevista
semi-estruturada.
3.2.1 Questionário fechado
Segundo Rodrigues (2006) o questionário é um instrumento de coleta de
dados, constituído por uma lista de questões relacionadas ao problema da pesquisa
e deve ser aplicado a um número de pessoas. Embora seja um instrumento
comumente utilizado na pesquisa de cunho quantitativo, entendemos que pode
também ser utilizado na abordagem qualitativa, a partir do tratamento de análise
dado.
O questionário fechado foi utilizado como um recurso para traçar o perfil dos
professores. Sendo assim Barros (2000) afirma que:
39. 38
O questionário é o instrumento mais usado para o levantamento de
informações. Não está restrito a uma determinada quantidade de questões,
porém aconselha-se que não seja muito exaustivo, desanimando o
pesquisador. É entregue escrito e também será respondido por escrito.
(p.90)
Para Marconi e Lakatos (1996) questionário fechado é: “perguntas fechadas
ou dicotômicas”. Também denominadas limitadas ou alternativas fixas, são aquelas
que o informante escolhe sua resposta entre duas opções: sim e não (p.91).
Assim, neste estudo foi condição mister conhecer o perfil dos sujeitos nos
seus aspectos sociais, econômicos e educacionais, o que foi possível com a
utilização do questionário fechado.
Como afirma Gressler (1989). Um questionário deve ser simples, direto e
rápido de responder, devendo assegurar aos utilizadores que os dados recolhidos
não serão cedidos a terceiros, sendo utilizado com sigilo as informações.
3.2.2 Entrevista semi-estruturada
A escolha da entrevista, justificou-se por ser um meio coerente para a
captação de informações desejadas. Segundo Lakatos (1991): entrevista é um
importante instrumento de trabalho do qual se servem constantemente os
pesquisadores em ciências sociais e psicológicas (p.196).
Ainda se tratando precisamente de entrevista semi-estruturada Trivinos
(1987), discorre que é:
Um dos principais meios que o investigador tem para realizar a coleta de
dados. Podemos entender por entrevista semi-estruturada em geral aquela
que parte de certos questionamentos básicos apoiados em teorias e
hipóteses, que interessam à pesquisa, e que em seguida, oferecem amplo
campo de interrogativas, fruto de novas hipóteses que vão surgindo a
medida que se recebem as respostas, do informante (p.146).
De fato esse tipo de entrevista é de fundamental importância para o
pesquisador, pois lhe dará as informações necessárias e coerentes para sua
pesquisa.
40. 39
Além disso, permite o contato direto com os sujeitos, levando ao pesquisador
captar aspectos mais subjetivos, que permitirão o aprofundamento da analise de
dados.
3.3 Lócus de pesquisa
O lócus do nosso estudo foi definido pela especificidade dos sujeitos de
pesquisa, definidos como os professores alfabetizadores atuantes no TOPA.
Assim, o referido programa é realizado no Território de Identidade do Norte do
Itapicuru em 09 municípios. Optamos pelo município de Campo Formoso, por ser o
nosso município de residência e atuação profissional.
3.4 Sujeitos da pesquisa
Os sujeitos da pesquisa foram 12 alfabetizadores do programa TOPA (Todos
pela alfabetização) da 4ª etapa do Programa, que iniciou em Abril de 2011 e encerra
em Novembro do mesmo ano, escolhidos aleatoriamente a partir do cadastro do
programa, fornecido pela Universidade do Estado da Bahia, unidade formadora do
território.
Inicialmente investimos num universo de 21 alfabetizadores, que foi reduzido
para 12, pela disponibilidade destes em colaborar com o nosso estudo.
3.5 Análise e interpretação dos dados
Essa etapa foi realizada a partir da reflexão critica dos instrumentos de coleta
de dados, com a posterior triangulação dos mesmos. Finalmente confrontamos com
o aporte teórico do estudo e elegemos categorias que configuravam os resultados
alcançados.
41. 40
CAPITULO IV
ANÁLISE DE DADOS
4.1 Identificando o perfil
Compreender a alfabetização de pessoas jovens e adultas como processo
histórico implica em concebê-la como um empreendimento eminentemente
estabelecido pela e para a sociedade, numa relação intrinsecamente correlacionada
com a realidade social e o modo como os sujeitos se relacionam. Com base nesses
aspectos metodológicos, a análise dos dados se alicerça na compreensão dos
significados atribuídos pelos sujeitos as suas ações.
4.1.1 Gênero dos sujeitos
Os sujeitos que participaram da pesquisa, apresentaram quanto ao gênero
um percentual de 92% feminino e 8%masculino. Percebemos com esse resultado a
preponderância do gênero feminino na atuação dos programas de alfabetização.
8%
92%
Masculino Feminino
Figura 01 – percentual quanto ao gênero
Fonte – Questionário aplicado
42. 41
4.1.2 Faixa etária
Os dados obtidos em relação a faixa etária nos mostram uma diversidade na
idade dos sujeitos. É perceptível no quadro que compõe o programa a
predominância de pessoas jovens que tem entre os 18 a 29 como ilustra o gráfico.
17,00%
8,00% 42,00%
33,00%
De 18 a 23 anos De 24 a 29 anos De 30 a 35 anos De 36 a 41 anos
Figura 02 – percentual quanto à faixa etária
Fonte – Questionário aplicado
Assim, os nossos dados revelam que nesse Programa de alfabetização há um
significativo número de alfabetizadores com idade inferior a 30 anos, que coincide
com pouca experiência profissional em trabalhos com a educação de jovens e
adultos e pouca qualificação, como confirmam os dados abaixo.
4.1.3 Nível de escolaridade
É sabido que para exercer a função da docência é necessário um nível
mínimo de escolaridade, que segundo a LDB 9394/96 Art. 62, “a formação de
docentes para atuar na educação básica far-se-á em nível superior, em curso de
licenciatura, de graduação plena, em universidades e institutos superiores de
educação [...]”. O percentual ilustrado no gráfico demonstra que a grande maioria
dos alfabetizadores do programa TOPA só possuem o ensino médio.
43. 42
17,00%
8,00%
75,00%
Ensino Médio Ensino Médio incompleto Superior incompleto
Figura 03 – percentual quanto ao nível de escolaridade
Fonte – Questionário aplicado
De acordo com a Resolução do FNDE, para atuar no Programa TOPA, o
alfabetizador deve ter formação universitária, no entanto, pela própria dificuldade
das distâncias e da falta de formação adequada, os alfabetizadores com o Ensino
Médio vêm contribuindo para diminuir o analfabetismo na Bahia. Para Paulo Freire
(1994):
A humildade nos ajuda a reconhecer esta coisa óbvia: ninguém sabe tudo,
ninguém ignora tudo. Todos sabemos algo, todos ignoramos algo. Sem
humildade dificilmente ouviremos com respeito a quem consideramos
demasiadamente longe de nosso nível de competência. É a humildade que
nos faz ouvir o considerado menos competente do que nós (p.30).
Assim, a postura humilde do alfabetizador encoraja o educando a perguntar, a
descobrir a necessidade de perguntar ao alfabetizador, aos colegas, a si mesmo e a
encontrar nele próprio as respostas criativas para as perguntas.
Entendemos que o educador na busca de melhorar a sua prática “vai
descobrir que precisa continuar estudando depois de formado, que precisa
pesquisar a realidade como é como se transforma” (MOURA, 2003, P.24).
Questionamos, entretanto se a deficiente formação acadêmica dos
alfabetizadores para atuar no programa, não afetaria os seus resultados.
44. 43
4.1.4 Curso de formação oferecido pela Universidade do Estado da Bahia para
os envolvidos no Programa TOPA
O percentual aqui apresentado nos permite perceber que a capacitação
inicial oferecida pelo programa contou com um número significante de participantes,
já que é imprescindível a formação de 60h para atuar no programa. Por motivos
diversos além do distanciamento entre as localidades e a falta de comunicação é
possível ainda encontrar aqueles que não presenciaram o treinamento.
9%
91%
Sim Não
Figura 04 – percentual quanto a Curso de capacitação oferecido pelo TOPA
Fonte – Questionário aplicado
4.1.5 Cursos de capacitação na área de EJA
Exercer a docência requer constante aprimoramento teórico e reflexão
sobre a prática. Os dados demonstram que apenas 17% dos alfabetizadores já
participaram de cursos voltados para educação de jovens e adultos, e 83% nunca
participaram de cursos na área.
45. 44
17%
83%
Participaram de curso da EJA Nunca participaram de cursi da EJA
Figura 05 – percentual quanto a Curso de capacitação na área de EJA
Fonte – Questionário aplicado
Conforme resultado acima, os alfabetizadores no TOPA, na sua grande
maioria não possuem formação direcionada à educação de jovens e adultos,
realidade que não difere de outros municípios brasileiros, tema esse que vem sendo
discutido em encontros de educadores versando esse assunto. Situando num
contexto regional, as Instituições de Ensino Superior, a exemplo a UNEB, não têm
oferecido cursos para a formação do educador de EJA, seja a nível de graduação,
especialização ou capacitação continuada, paradoxalmente esta mesma instituição é
coordenadora de Programas de Alfabetização, a exemplo do TOPA. Isso implica
dizer que falta, evidentemente, uma política que de fato, valorize essa modalidade
de ensino e a adote como prioridade.
Segundo Fonseca (2000), “a questão da profissionalização do educador de
adultos tem se tornado cada vez mais nuclear nas práticas educativas e nas
discussões teóricas da área”. E acrescenta, dentre outros argumentos nesse
sentido:
As Diretrizes Curriculares Nacionais para Educação de Jovens e Adultos, no
item VIII, referente à Formação Docente, que o preparo deste profissional
deve incluir, além das exigências formativas para todo e qualquer professor,
aquelas relativas à complexidade diferencial desta modalidade de ensino.
(FONSECA 2000, p.130).
46. 45
Nesse sentido percebemos o quanto é deficiente a oferta de cursos em
instituições superiores para contemplar toda especificidade e complexidade que
exige a formação do educador para trabalhar na EJA.
4.1.6 Outra ocupação profissional além de atuar no programa TOPA
42%
58%
Sim Não
Figura 06 – percentual quanto a exercer outra função
Fonte – Questionário aplicado
Conforme apresentamos no gráfico acima fica evidente que 42% dos
alfabetizadores têm outra ocupação além de atuar no programa. O que nos indica
que a participação no Programa, tem caráter de complementação salarial.
Percebemos também uma disparidade de identificação entre a atividade de
alfabetizador e as demais atividades apresentadas pelos pesquisados.
47. 46
20,00% 20,00%
20,00%
40,00%
Moto Taxi Manicure Cabeleireira Aux. Professor
Figura 07 – percentual quanto a outras ocupações exercidas
Fonte – Questionário aplicado
4.1.7 Renda familiar
Os dados obtidos nos mostram que 67% dos sujeitos da pesquisa sobrevivem
com até no máximo 1 salário mínino por domicílio, o que comprova a carência de
emprego com remuneração fixa e torna o TOPA uma alternativa de fonte de renda.
A minoria de 33% dispõe de 2 a 4 salários mínimos.
33%
67%
Até 1 salário mínimo De 2 a 4 salários mínimos
Figura 08 – percentual quanto à renda familiar
Fonte – Questionário aplicado
48. 47
4.1.8 Satisfação com o valor da bolsa auxílio
Para realizar a atividade de alfabetizador, no Programa TOPA, as Unidades
Formadoras oferecem uma bolsa-auxílio de 250,00 durante o período de 08 meses.
Essa bolsa é paga pelo Governo Federal através do Programa Brasil Alfabetizado, já
que o TOPA é um Programa que envolve parcerias dos três governos: federal,
estadual e municipal.
Conforme ilustra o gráfico, 59% dos alfabetizadores mostram-se insatisfeitos
com o valor destinado a bolsa - auxilio. 33% atribuíram o conceito bom e 8% dos
entrevistados responderam ruim. Acreditamos que a variedade de conceitos se
alicerça no cotidiano e necessidade de cada alfabetizador .
8,00%
33,00%
59,00%
Regular Boa Ruim
Figura 08 – percentual quanto à satisfação com a bolsa auxílio
Fonte – Questionário aplicado
4.2 Análise da Entrevista
Após analisarmos o perfil socioeconômico dos alfabetizadores, lançamos
algumas questões a respeito da concepção de cada um deles em relação à
Alfabetização de jovens, adultos e idosos no Programa TOPA. Norteamos as
perguntas e dividimos em categorias para melhor compreensão.
49. 48
Quem sou eu? O que faço? Como faço?
Os resultados apresentados aqui neste estudo foram obtidos através da
entrevista semi-estruturada aplicada aos alfabetizadores, que são os sujeitos da
pesquisa.
4.2.1 Quem sou eu?
Nesta categoria apresentamos os motivos que levaram os alfabetizadores a
atuar no Programa TOPA.
O fator financeiro foi predominante e apareceu em 60% das respostas dos
entrevistados como mostramos abaixo:
A41“Porque é uma oportunidade pra quem está desempregado”.
A8 “Pelo valor da bolsa. Necessidade”.
A11 “Pela necessidade ter algum dinheiro e também porque gosto de
ensinar”.
É evidente, pelo posicionamento dos nossos entrevistados que a carência
financeira foi fator motivante para a participação no Programa. Reforçamos a nossa
afirmação, quando confrontamos as falas acima, com o perfil sócio-econômico
apresentado nos dados do questionário fechado e percebemos que os mesmos são
pessoas com baixa ou sem qualquer renda fixa, trabalhadores informais, sem
atividade fixa remunerada. E embora o valor da bolsa auxílio seja menos que a
metade do salário mínimo em vigor no país (R$ 545,00), é uma alternativa para
sobrevivência ou para a complementação da renda familiar.
Percebemos também que está presente no discurso de alguns dos
alfabetizadores (cerca de 20%), que a motivação para a participação no programa,
não fica por conta apenas do valor da bolsa, mas também, por se identificar com a
função de ser alfabetizador e de estar alfabetizando pessoas, que em geral são seus
1
Em vista de manutenção do anonimato dos entrevistados atribuímos-lhes um código (A) acrescido
de algarismos arábicos (1, 2, 3...)
50. 49
familiares e pessoas da própria comunidade. Esses alfabetizadores são moradores
das comunidades onde as turmas estão inseridas.
A5 Gostei desse programa porque cada vez mais a gente tem vontade de
ensinar e ver o desenvolvimento deles.
A7 Me identifico. Porque sou muito dinâmica e gosto de fazer amizades.
A10 Me identifiquei porque eles têm interesse em aprender novas coisas.
Na nossa análise, percebemos que se por um lado a Resolução FNDE/CD
n°70 de 24 de Dezembro de 2007 determina que os alfabetizadores tenham a
formação, de no mínimo alunos de cursos de Graduação, por outro, não teríamos
essa possibilidade de alfabetizadores que tenham proximidade com a comunidade
que atuam, e que mesmo sem a formação adequada, sem experiência com
alfabetização, eles sentem- se comprometidos com o ato de ensinar.
Ainda aparece nessa categoria o sentido idealista e romântico, em relação à
docência, que filtramos na fala 30% dos nossos sujeitos:
A1“Pela necessidade de ajudar as pessoas da comunidade da qual atuo”.
A6 “Por que gosto de ajudar as pessoas. Vocação”.
A9 “Porque no nosso interior tem um número muito grande de analfabetos e
ser alfabetizador desse programa é muito gratificante”.
A fala dos alfabetizadores demonstra a preocupação em contribuir para
erradicar o analfabetismo, revelam que a sua inserção no programa é para ajudar
as pessoas da comunidade. Percebemos diante do exposto uma visão solidária e
também ingênua do que realmente é o processo de alfabetização.
Segundo Freire (1983) este discurso evidencia um caráter assistencialista, de
subserviência que perpetua a consciência mágica em detrimento da consciência
crítica. Além de representar um empecilho ao desenvolvimento do processo de
escolarização.
51. 50
Chama-nos atenção nesta análise que nenhum dos entrevistados, segundo
dados do questionário tem formação para a docência e não exercem esta atividade
fora do Programa.
4.2.2 Tenho fundamentos teóricos/ metodológicos do contexto em que atuo?
Nesta categoria, apresentamos a metodologia e fundamento que norteiam a
proposta educativa do programa e o conhecimento que o alfabetizador tem a cerca
do mesmo
Indagados sobre os seus conhecimentos acerca dos objetivos, metodologia e
resultados do Programa, percebemos que a maioria dos alfabetizadores
pesquisados, conhece apenas superficialmente o programa ao qual fazem parte,
apresentado “falas prontas”, como ilustramos nas falas abaixo:
A6 “Mais ou menos, o objetivo é acabar com o analfabetismo”.
A7 “Conheço. Aprendi na formação”.
Assim, quando solicitamos respostas mais específicas, estes não são
capazes de socializar de maneira clara sobre a temática.
Apenas um dos entrevistados deu pistas de que compreende a concepção da
proposta e sua efetiva operacionalização:
A1 “Os objetivos é alfabetizar, a metodologia está baseada no cotidiano de
cada um. Os resultados é alfabetizar a um dígito dos analfabetos baianos”
A concepção do programa a e a metodologia adotada para capacitar os
alfabetizadores é baseada na ideias do educador Paulo Freire, que pensa a
alfabetização de jovens, adultos e idosos como processo fundamental para
politização e libertação do homem e exercício da cidadania.
Ainda A1 diz que, a gente tem que começar de onde o aluno já sabe...
52. 51
De fato este requisito é imprescindível, trabalhar na perspectiva de conhecer
o educando e a sua realidade é fundamental para o processo de ensino e
aprendizagem. Na metodologia proposta pelo Programa TOPA, deve-se levar em
conta a realidade e a formação política dos educandos. Considerando a bagagem
trazida por estes sujeitos, pois estes são portadores do acúmulo de conhecimentos
adquiridos ao longo da vida.
Segundo a Proposta Curricular da educação de adultos o professor deve
valorizar os conhecimentos e as formas de expressões que cada aluno traz de suas
experiências de vida e dos grupos sociais e culturais a que estão inseridos, para que
o sucesso no processo de socialização possa ser um grande aliado na garantia da
permanência do jovem, do adulto e do idoso em sala de aula.
Nesse sentido, entender e valorizar o saber empírico do educando constitui o
primeiro passo para planejar e desenvolver a prática docente. Para Arroyo (2005):
Partir dos saberes, conhecimentos, interrogações e significados que
aprenderam em suas trajetórias de vida será um ponto de partida para uma
pedagogia que se paute pelo diálogo entre os saberes escolares e sociais.
Esse diálogo exigirá um trato sistemático desses saberes e significados,
alargando-os e propiciando o acesso aos saberes, conhecimentos,
significados e a cultura acumulada pela sociedade. (p.35).
Ainda sobre o processo de aquisição do embasamento teórico metodológico
para atuar no programa, pesquisamos sobre a importância do processo de
capacitação, para a preparação da sua prática.
Para 60% dos entrevistados a capacitação foi positiva e apresentaram como
dados relevantes os formadores que apresentaram sugestões de atividades práticas.
Como ilustram as falas abaixo:
A8 “Eu gostei, aprendi muita coisa. Aprendi como passar as atividades”.
A11 “A capacitação foi ótima a professora era excelente ensinou a passar
as atividades eu já tinha alguma experiência e aumentou bastante”.
A12 “A capacitação nos deu um pouco mais de segurança para atuar, pois
nós já tínhamos um pouco de conhecimento”.
53. 52
Segundo as orientações do programa TOPA, a capacitação busca
desenvolver no alfabetizador o espírito crítico- reflexivo, estabelecendo uma ponte
entre o conteúdo e a prática, a fim de permitir o embasamento ao alfabetizador para
dialogar com o universo do alfabetizando.
Porém, percebemos a partir do perfil socioeconômico dos nossos
pesquisados, que os alfabetizadores que compõem o programa no município de
Campo Formoso é formado por um grupo vasto e heterogêneo, com pessoas com o
nível de escolaridade variada e na maioria abaixo do estabelecido pelo programa, o
que dificulta o trabalho e o andamento da capacitação.
Sendo assim e diante das especificidades no perfil dos alfabetizadores, o
nosso estudo mostra que o curso de capacitação não tem condições em 60h de
contemplar aspectos tão complexos e necessários para a formação e prática de um
alfabetizador. “É nesse sentido que reinsisto em que formar é muito mais do que
puramente treinar” (FREIRE, 1997, p.15).
Entendemos ainda que a capacitação, apresenta um perfil de treinamento e
que a carga horária não é suficiente para “formar” esse alfabetizador popular, para
proporcionar uma compreensão mais ampla do conhecimento necessário para
trabalhar com a educação de jovens, adultos e idosos e sim, para treiná-los para
assumir a sala de aula e aplicar procedimentos voltados para a leitura e a escrita.
4.2.3 Como me vejo?
Nesta categoria, apresentamos a percepção profissional que os
alfabetizadores do TOPA tem de si mesmo.
Questionados como se vêem na sua prática obtivemos as seguintes
respostas:
A1 “Professor. Pois crio situações, atividades e desenvolvo os conteúdos¸
monitorando os resultados de cada alfabetizando”.
A3 “Eu me acho uma ótima educadora, pois sempre procuro me informar a
necessidade do aluno”.
54. 53
A6 “Professor porque procuro a melhor maneira de passar o assunto. Pois
cada aluno tem uma forma de aprender”.
A8 “Porque eu não sou formada, e porque o pouco que eu sei eu passo pra
eles”.
A grande maioria dos entrevistados percebe-se e se intitula professor, por
acreditar que desempenham funções e atividades a partir da necessidade do aluno.
Acreditamos que o papel do educador vai muito além, consiste em mediar a
aprendizagem articulando o processo de aprendizagem de seu alfabetizando,
sempre priorizando a bagagem de conhecimento trazida pelos mesmos. Para
Oliveira (1983):
O Educador, enquanto profissional do ensino, é aquele que tem docência
como base de sua identidade profissional domina o conhecimento
especifico de sua área, articulando ao conhecimento pedagógico, numa
perspectiva da totalidade do conhecimento socialmente produzido que lhe
permita perceber as relações existentes entre as atividades educacionais e
a totalidade das relações sociais, econômicas, políticas e culturais em que é
capaz de atuar como agente de transformação da realidade em que se
insere (p.13).
A fala de A1 quando diz que: “crio situações, atividades e desenvolvo os
conteúdos monitorando os resultados de cada alfabetizando”. O que pensa esse
alfabetizador leva em consideração o pensamento de Freire (1996) quando afirma
que: ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua
produção ou a sua construção (p. 22).
Somente um dos entrevistados percebe-se como monitora/alfabetizadora
A8 “Porque eu não sou formada, e porque o pouco que eu sei eu passo pra
eles”.
A alfabetizadora reconhece a falta de formação e nível de escolaridade
necessário ao professor.
Ainda A8 diz que, “aprende muito com seus alunos, porque eles já são mais
velho e tem muita informação também”.
55. 54
Sobre isso Freire (1996) afirma que “quem ensina aprende ao ensinar e quem
aprende ensina ao aprender” (1996, p.23). O que acontece é uma troca mútua de
conhecimento, mesmo o alfabetizador sem formação acadêmica e reconhecendo
que não tem saberes formais, mas que procura ensinar o que sabe e o que
aprendeu não só na capacitação, mas no cotidiano, ressalta a sabedoria e o
conhecimento empírico dos seus alunos que por serem mais “velhos” que ela
adquiriram muito conhecimento ao longo do tempo.
4.2.4 O que penso e sei sobre alfabetização?
Alfabetizar jovens, adultos e idosos não é apenas ensiná-los a ler e escrever
seu próprio nome. Entendemos que esse processo se estende a um estudo amplo
e de qualidade. A fim de garantir a apropriação de conhecimentos necessários para
sua inclusão social e econômica na comunidade em que vive. Para o educador
Paulo Freire (1996)
Alfabetização é aquisição da língua escrita, por um processo de construção
do conhecimento, que se dá num contexto discursivo de interlocução e
interação, através do desvelamento critico da realidade, como uma das
condições necessárias ao exercício da plena cidadania: exercer seus
direitos e deveres frente á sociedade global (p.59).
Na concepção dos alfabetizadores, alfabetizar jovens adultos e idosos é visto como:
A1 “Promover no indivíduo, totalmente cego, que ele enxergue e entenda
aquilo que está enxergando, ou seja, aprender a ler e interpretar”.
A4 “É como se a pessoa tivesse dando os primeiros passos”.
A5 “É ensinar o aluno a conhecer as letras os números que faz parte do
nosso dia a dia”.
A12 “Ensinar a ler e escrever”.
Analisando a fala dos alfabetizadores, percebemos que eles contrapõe ao
pensamento de Oliveira (1999), quando não consideram do jovem e adulto seus
conhecimentos e experiências acumulados ao longo do tempo não percebem que
eles trazem consigo a experiência de suas historias de vida.
56. 55
O adulto analfabeto é visto como aquele que nada sabe uma “página em branco”
que precisa ser preenchida. Sendo assim,
[...] a educação se torna um ato de depositar, em que os educandos são os
depositários e o educador o depositante. O educador será tanto melhor
educador quanto mais conseguir depositar nos educandos. Os educandos,
por sua vez, serão tanto melhores educados, quanto mais conseguirem
arquivar os depósitos feitos. (FREIRE, 1983, p. 66).
Esse processo de alfabetizar é negado por muitos pesquisadores, entre eles,
o grande Paulo Freire. Não considerando o analfabeto como ser capaz e produtivo,
o alfabetizador tende a ser apenas aquele que deposita e não aquele que tem o
dever de respeitar os conhecimentos trazidos pelos alfabetizandos
Ainda A.12 refere-se ao processo de alfabetização como “Ensinar a ler e a
escrever” contrapondo a idéia do Programa que diz que: Não basta ensinar a ler e a
escrever, é preciso respeitar o direito a cidadania, ao aprendizado e assegurar uma
educação de qualidade (SEC/TOPA).
O processo de alfabetização não deve ser reduzido somente ao domínio de
leitura e escrita. Entendemos que é a capacidade do educando fazer uso dessas
habilidades para então satisfazer suas necessidades sociais, políticas e culturais.
Como afirma Soares “saber usar a leitura e escrita para exercer uma prática social
em que a escrita é necessária” (2003, p.10).
O que percebemos, ao longo dessa análise, é que a maioria dos
entrevistados apresenta um conceito equivocado e simplista sobre o que seja
realmente alfabetizar.
4.2.5 Dificuldades encontradas
Em relação às dificuldades para trabalhar com a EJA, 100 % dos
alfabetizadores apontam a dificuldade de material para atender a clientela, como
explícita abaixo:
A2 “Falta de material didático e transporte para o alfabetizador”.
57. 56
A5 “A falta de material, que é uma coisa que ajuda muito”.
A9 “A falta de material e o local das aulas”.
Para 100% dos alfabetizadores entrevistados a falta de material tem
prejudicado o trabalho. Isso não poderia acontecer no Programa TOPA - Todos pela
Alfabetização, considerando que pela Resolução de Dezembro 2007 a
disponibilidade de todo o material é de responsabilidade do Estado, através da
DIREC-28 e pelas falas dos alfabetizadores esse material não têm chegado aos
espaços educativos. O Programa é uma parceria entre os governos Federal,
Estadual e Municipal, incluindo aí as Entidades que a partir da II Etapa passaram a
fazer parte. É uma Rede, e se alguém falha, o Programa tende ao fracasso.