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0021-7557/04/80-05-Supl/S155
              Jornal de Pediatria
              Copyright © 2004 by Sociedade Brasileira de Pediatria
                                                                                                                       ARTIGO       DE   REVISÃO




           Manejo clínico das disfunções orais na amamentação
                                 Clinical management of oral disorders in breastfeeding

                                                        Maria Teresa C. Sanches*


Resumo                                                                           Abstract
    Objetivo: Abordar os aspectos relacionados com a detecção                        Objective: To address aspects associated with the early detection
precoce e o manejo clínico das disfunções orais na amamentação.                  and clinical management of oral disorders in breastfeeding.
     Fontes de dados: Revisão bibliográfica com enfoque no manejo                     Source of data: Review of bibliographic sources (research
clínico das disfunções orais em crianças amamentadas, utilizando                 articles, technical books, dissertations and national and international
artigos científicos, livros técnicos, teses e publicações nacionais e            publications) focused on the clinical management of oral disorders in
internacionais.                                                                  breastfed babies.
    Síntese dos dados: As disfunções orais (desordens da sucção do                    Summary of the findings: Suction disorders may lead to
bebê), se não corrigidas precocemente, podem gerar ações inadequa-               inadequate actions that can compromise the mother/baby relation
das, prejudicando o desempenho satisfatório entre mãe e bebê na                  during breastfeeding. Healthcare professionals may have an important
mamada. Os profissionais de saúde podem contribuir nesses casos,                 role in these cases, as they can early detect such disorders. For that
reconhecendo e intervindo precocemente através de capacitação para               end, they must be able to assess breastfeeding and be prepared to
a avaliação da mamada e para o manejo clínico adequado das disfun-               manage oral disorders clinically. In the clinical management of
ções orais. No manejo clínico para bebês com dificuldades na amamen-             babies with breastfeeding difficulties significant aspects of the oral
tação, devem ser considerados os aspectos relevantes da fisiologia oral          physiology and breastfeeding observation should be considered. We
e observação da amamentação para essa prática. Destaca-se a impor-               stress the importance of an interdisciplinary team work and the need
tância do trabalho de uma equipe interdisciplinar e das precauções               for oral training and specialized care in most complex cases.
necessárias quanto ao treino oral desses bebês, bem como a necessi-                  Conclusion: The baby’s oral disorders in breastfeeding can be
dade de acompanhamento por especialista treinado nos casos mais                  corrected if they were early detected. Healthcare professionals may
complexos.                                                                       help mothers and babies to overcome these problems if they have
    Conclusão: As disfunções orais do bebê na amamentação podem                  knowledge that enable them to perform right clinical procedures.
ser corrigidas, desde que identificadas precocemente. Os profissio-
nais de saúde podem auxiliar mães e bebês a superar essa dificulda-
de, capacitando-se para realizar uma prática clínica adequada na
amamentação.

    J Pediatr (Rio J). 2004;80(5 Supl):S155-S162: Amamentação,                      J Pediatr (Rio J). 2004;80(5 Supl):S155-S162: Breastfeeding,
recém-nascido, comportamento de sucção.                                          newborn, suction behavior.




Introdução
    Recém-nascidos (RN) e lactentes saudáveis, sem                               transitórias do próprio funcionamento oral, ou mesmo de
intercorrências que interfiram na amamentação, ocasio-                           algumas características individuais anatômicas que difi-
nalmente apresentam movimentos orais atípicos (disfun-                           cultam o encaixe adequado entre a boca do bebê e a
ções orais) durante a mamada, os quais podem causar                              mama de sua mãe, ou, ainda, de fatores iatrogênicos. As
dificuldades na amamentação decorrentes de alterações                            disfunções orais encontram-se entre os vários fatores
                                                                                 interferentes para o estabelecimento do aleitamento
                                                                                 materno relacionados ao bebê e podem gerar traumas
                                                                                 mamilares, pouco ganho de peso do bebê e até desmame
* Mestre e doutoranda em Saúde Pública, Faculdade de Saúde Pública,              precoce 1-4.
  Universidade de São Paulo (USP). Fonoaudióloga e pesquisadora inte-
  grante do Instituto de Saúde, Secretaria de Estado da Saúde de São                Embora as disfunções orais sejam passíveis de serem
  Paulo. Aperfeiçoamento e Conselheira em Amamentação.                           revertidas precocemente, as ações entre mãe/bebê nas
  Como citar este artigo: Sanches MTC. Manejo clínico das disfunções             primeiras mamadas rapidamente se tornam hábitos bem
  orais na amamentação. J Pediatr (Rio J). 2004;80(5 Supl):S155-S162.
                                                                                 estabelecidos, difíceis de mudar, principalmente em relação


                                                                          S155
S156 Jornal de Pediatria - Vol. 80, Nº5(supl), 2004                             Manejo clínico das disfunções orais – Sanches MTC



ao padrão de sucção do RN. Por esse motivo, a avaliação         mediante o toque na região interna das gengivas), vômito
detalhada da mamada e ações específicas para a correção         (desencadeado pelo estímulo na ponta da língua quando
de alterações são muito importantes logo no início da           há negação total da deglutição) e tosse 7 . Após o quarto ou
amamentação2,5.                                                 quinto mês, com o crescimento das estruturas orais, o
    A seguir são abordados aspectos da fisiologia da ama-       amadurecimento do sistema nervoso e as possibilidades
mentação e avaliação da mamada, destacando-se aspectos          de experimentação oral adequada da criança, essa condi-
do funcionamento oral e identificação de resoluções das         ção basicamente reflexa vai se modificando, sendo subs-
principais disfunções orais, com o intuito de contribuir para   tituída por um padrão voluntário de movimentação oral8 .
o diagnóstico e a prática dos profissionais de saúde no             Apesar de a sucção ser um ato reflexo, a ordenha, ou
manejo clínico dessas alterações orais.                         seja, a extração do leite do peito não é, o que exige do
                                                                bebê aprender a retirar o leite, adaptando suas condições
                                                                orais anatômicas para o encaixe na mama de sua mãe
Fisiologia da sucção (ordenha) na amamentação                   (pega); nem sempre esse encaixe é fácil, e podem ocorrer
    Desde o período embrionário, o feto prepara-se para         algumas dificuldades no decorrer do processo 5,11,12 .
exercer as atividades de sugar, deglutir, respirar e chorar,    Bu’Lock et al. 13 salientam a importância da pega correta
que irão possibilitar sua sobrevivência ao nascer. Para         na amamentação, tendo como base estudos que utiliza-
tanto, é munido dos reflexos orais, que garantem sua            ram cinerradiografias, datados a partir de 1950, e confir-
alimentação nessa fase inicial do desenvolvimento, e apre-      mados posteriormente com estudos de imagens ultra-
senta características anatômicas diferenciadas, que facili-     sonográficas, a partir da década de 1980 14 , possibilitando
tarão a alimentação no período neonatal6,7.                     a compreensão dos movimentos da língua dentro da boca
                                                                do bebê.
    Devido ao pequeno crescimento mandibular no período
neonatal (retração mandibular fisiológica), a língua se apóia       Na pega correta, o bebê realiza uma abertura ampla da
sobre a gengiva ou lábio inferior, numa posição anterioriza-    boca, abocanhando não apenas o mamilo, mas também
da e rebaixada, ocasionando um espaço aéreo-faríngeo que        parte da aréola, e formando um lacre perfeito entre as
obriga à respiração nasal, a qual ocorre em todo RN. O          estruturas orais e a mama. Para a formação desse lacre, na
volume aumentado da língua, maior que a estrutura óssea         parte anterior os lábios estão virados para fora, (sendo que
que a suporta (mandíbula), está ligado à sua função na          o lábio superior e a língua são os principais responsáveis por
alimentação, já que o contato com o lábio inferior permite      um vedamento adequado), e a língua se apóia na gengiva
uma postura adequada para a amamentação6,8. Na parte            inferior, curvando-se para cima (canolamento), em contato
posterior da boca, a base da língua encontra-se bem             com a mama. A finalidade do lacre consiste na formação do
próxima à epiglote, em razão do posicionamento mais alto        vácuo intra-oral (com a presença de pressão negativa),
que a laringe do RN ocupa (bem próximo ao palato mole) até      formado por movimentos da mandíbula associados a movi-
o terceiro ou quarto mês, com função de proteção das vias       mentos dos lábios, bochechas e coxins de gordura. Os
aéreas inferiores durante a deglutição, facilitando também      coxins de gordura ou sucking pads são bolsões de gordura
o acesso do alimento9. Essas diferenças anatômicas do RN        localizados entre a pele e a musculatura das bochechas,
são importantes porque o sistema oral infantil ainda não        com a finalidade de auxiliar na sustentação das estruturas
está tão estruturado e eficiente quanto no adulto para          orais para o acoplamento perfeito ao peito.
coordenar sucção, deglutição e respiração.
                                                                    A mandíbula se apóia sobre os seios lactíferos (onde
   As estruturas anatômicas importantes para o funcio-          o leite fica armazenado), e o bebê abocanha o mamilo e
namento oral do RN incluem cavidade oral, lábios, língua,       aproximadamente 2 a 3 cm de aréola. Na parte posterior
bochechas, mandíbula, palato duro e mole, osso hióide,          da boca, a língua se eleva e funciona como um mecanismo
cartilagem tireóide, epiglote, musculaturas facial e peri-      oclusivo contra o palato mole, estabelecendo, assim, a
oral e músculos constritores da faringe, além de outros 40      pressão intra-oral negativa (juntamente com o vedamen-
músculos que envolvem a movimentação de todo o siste-           to anterior). Essa pressão mantém a mama (mamilo +
ma oral. Os pares dos nervos cranianos responsáveis pela        aréola) dentro da boca do bebê, apesar de sua natureza
inervação dessa musculatura são: I - olfativo; V - trigê-       retrátil. Desta forma, o mamilo e parte da aréola são
meo; VII - facial; IX - glossofaríngeo; X - vago; e XII -       deslocados para o interior da boca, sendo que o bico do
hipoglosso6,10 .                                                peito toca a região de transição entre o palato duro e o
    Os reflexos orais do RN garantem sua alimentação            palato mole, facilitando a extração do leite e a deglutição.
nessa fase inicial do desenvolvimento e são os seguintes:       A mandíbula realiza um ciclo de movimentos, iniciando
busca ou procura (ativado mediante toque na bochecha e,         com o abaixamento para a abertura da boca (com a
principalmente, nos quatro pontos cardeais dos lábios),         participação dos músculos abaixadores da mandíbula,
cuja função consiste em localizar o peito; sucção (desen-       supra- e infra-hióideos, miloióideo, genoióideo e digástri-
cadeado pelo toque na ponta da língua e papila palatina),       co). Posteriormente, ocorre a protrusão (anteriorização)
sendo sua função a retirada do leite; e deglutição (obtido      mandibular, que tem por objetivo alcançar a mama,
mediante estímulo do leite na região posterior da língua,       principalmente os seios lactíferos (com ação dos múscu-
palato mole, faringe e epiglote). Há, ainda, os seguintes       los pterigóideos mediais, masseter e pterigóideos late-
reflexos de proteção da deglutição: mordida (obtido             rais). Prosseguindo, a mandíbula realiza uma elevação
Manejo clínico das disfunções orais – Sanches MTC                      Jornal de Pediatria - Vol. 80, Nº5(Supl), 2004 S157


para imprimir o fechamento da boca e a compressão dos        mamilares, dor e desconforto para a mãe, dificultando
seios lactíferos (músculos masseter, pterigóideo medial e    inclusive a continuidade do aleitamento, caso não seja
temporal) e, em seguida, o movimento de retrusão (pos-       devidamente corrigida 11,12,18,23-26.
teriorização) para a extração efetiva do leite (ação das         Independentemente da posição que a mãe e seu filho
fibras oblíquas e horizontais dos músculos temporal e        assumam na amamentação, é imprescindível que ambos
digástrico e das fibras superiores do músculo pterigóideo    se sintam confortáveis e que a mãe possa facilitar os
lateral). Esses movimentos mandibulares trazem estímu-       reflexos orais do bebê, ajudando-o a abocanhar uma
los importantes para o crescimento da articulação têmpo-     porção adequada da mama (pega ótima). Assim, e com o
ro-mandibular e, conseqüentemente, para o crescimento        bebê bem apoiado, ele pode remover o leite efetivamen-
harmônico da face do bebê 8,14-17.                           te, deglutir e respirar livremente. Durante a ordenha do
    Durante a amamentação, a língua eleva suas bordas        peito, é importante que os RN, que estão em fase de
lateralmente (musculaturas transversal e vertical), jun-     aprendizagem, fiquem com seu corpo sempre voltado
tamente com a ponta, formando uma concha, que levará         para o corpo da mãe e próximos do mesmo, com susten-
o leite para ser deglutido na orofaringe14-16 . Quando o     tação do quadril, de forma que a boca permaneça na
leite se deposita sobre a língua, na região posterior da     altura do mamilo e da aréola. O posicionamento inade-
boca, entra em ação um movimento peristáltico rítmico,       quado pode tornar a mamada ineficiente, dificultando a
direcionando-se da ponta da língua para a orofaringe, que    transferência do leite posterior (do final da mamada),
comprime suavemente o mamilo por inteiro e termina o         mais rico em energia. Como conseqüência, pode haver
processo de extração de leite para início da deglutição. A   desconforto da mãe e esforço excessivo do bebê, fazendo
ponta da língua se mantém na região anterior durante         com que ele se canse rápido e adormeça ou permaneça
todo o processo, garantindo o vedamento da boca. Desta       agitado, com fome, querendo mamar com muita freqüên-
forma, o leite é extraído suavemente, sem a utilização de    cia, demonstrando-se irritado e choroso. Esse quadro
mecanismos de força, o que poderia causar atrito e           pode culminar com o bebê “brigando” com a mama, ou
esfolamento dos mamilos14-17 .                               mesmo recusando o peito, interferindo negativamente no
                                                             seu ganho de peso, vindo a reforçar a idéia errônea da
                                                             mãe e de familiares de que o leite é insuficiente ou fraco
                                                             e gerando conflitos, frustração e dúvidas na mãe quanto
Avaliação da mamada
                                                             à sua capacidade de alimentar o bebê5,11,12,18,25,27,28 .
    Considerando-se que rotinas hospitalares e práticas de
                                                                 Em relação à pega e à ordenha do bebê, é importante
profissionais de saúde podem facilitar o estabelecimento e
                                                             observar como se desencadeiam os reflexos orais, se o bebê
a duração do aleitamento materno, a Organização Mundial
de Saúde (OMS) e o Fundo das Nações Unidas para a            demonstra sinais de fome e procura e se está alerta e
Infância (UNICEF) centram esforços para a instituição de     organizado para a mamada. Quanto à pega, é importante
uma política pública de incentivo à amamentação desde a      verificar se o queixo toca a mama, se os lábios estão
                                                             voltados para fora, realizando um correto selamento labial,
década de 80. Em 1991, foi lançada a Iniciativa Hospital
                                                             e se uma área maior de aréola é visível acima, e não abaixo,
Amigo da Criança (IHAC), a qual propõe modificações nas
                                                             da boca do bebê. Deve-se observar também se a língua
rotinas das maternidades para atender os Dez passos para
o sucesso do aleitamento materno18-21. Um desses passos      envolve inferiormente o complexo aréolo-mamilar durante
– o de número 2 – sugere que todos os profissionais da       a sucção. Os movimentos de ordenha da mandíbula devem
equipe que prestam assistência às mães e aos bebês sejam     ser suaves, coordenados com o ritmo de deglutição e
                                                             respiração, sem a participação do músculo bucinador (au-
treinados adequadamente no manejo clínico da amamenta-
                                                             sência de covinhas), e as sucções devem ser lentas e
ção. Esse treinamento é feito por meio de cursos que
                                                             profundas, com pausas5,11,12,25.
enfatizam a avaliação da mamada por meio de protocolo
específico (formulário de observação e avaliação da mama-         É importante também que os profissionais de saúde
da), com observação da postura corporal da mãe/bebê,         estejam atentos para as condições gerais das mamas e
respostas do bebê (comportamento global), vínculo emoci-     mamilos, observando ingurgitamento e traumas mamila-
onal entre mãe/bebê, anatomia da mama, aspectos da           res, situações que dificultam sobremaneira a amamenta-
sucção e funcionamento oral. O objetivo primordial do        ção18,28. Também é importante observar vínculo entre mãe
treinamento da avaliação da mamada é o de identificar        e filho pela forma de segurar o bebê, toques físicos durante
problemas no início da amamentação e verificar qual grupo    a mamada e contato visual. Numa avaliação efetiva da
de mães/RN apresenta necessidades especiais e requer         mamada, deve-se observar a dupla antes, durante e depois
apoio para um início bem-sucedido21,22.                      da mamada, com o objetivo de conferir o grau de satisfação
   Na avaliação da mamada, é importante observar dois        do bebê e de conforto (ausência de dor) da mãe12,18,22,27.
pontos-chave: posicionamento e pega. A posição inade-           O período puerperal é um momento delicado, uma vez
quada da mãe e/ou do bebê na amamentação dificulta o         que requer aprendizagem e observação da mãe para
posicionamento correto da boca do bebê em relação ao         compreender e satisfazer às necessidades do seu bebê,
complexo aréolo-mamilar, resultando no que se denomi-        bem como habilidades deste para demonstrar suas prefe-
na de má pega. Esta, por sua vez, interfere na dinâmica      rências, comportamento e até dificuldades 29 . Desta for-
de sucção e extração de leite, podendo gerar traumas         ma, exige atenção e cuidados especiais da equipe de
S158 Jornal de Pediatria - Vol. 80, Nº5(supl), 2004                          Manejo clínico das disfunções orais – Sanches MTC



saúde, bem como uma avaliação mais criteriosa da ama-       início de interação importante, que exige intimidade entre
mentação12,22,27,30.                                        mãe e filho 12,29,31,32 .

    Alguns estudos têm demonstrado aspectos críticos            Widström & Thingström-Paulsson33 salientam a ne-
relacionados às dificuldades iniciais no estabelecimento    cessidade de se respeitar a organização global, oral e o
da amamentação. Carvalhaes & Correa22 aplicaram a 50        comportamento do bebê para que este responda adequa-
duplas de mães/RN o protocolo sugerido pelo UNICEF18        damente, utilizando da melhor maneira os reflexos de
(Formulário de observação e avaliação da mamada) em         procura e sucção na amamentação. Em estudo realizado
uma maternidade de Botucatu (SP). As autoras observa-       com 11 RN saudáveis, nascidos a termo de parto vaginal,
ram que 18 a 34% das duplas mães/bebês apresentaram         com o objetivo de detectar a posição da língua na cavida-
alguma dificuldade com o início da amamentação em uma       de oral durante a estimulação dos reflexos orais antes da
das áreas avaliadas: postura corporal da mãe/bebê,          primeira sucção do RN, diagnosticou-se inadequação
respostas do bebê (comportamento global), vínculo emo-      quando o bebê permanecia chorando. Quando os bebês
cional entre mãe/bebê, anatomia da mama e aspectos da       são forçados a mamar sem que tenham demonstrado
sucção e funcionamento oral. Essas dificuldades foram       sinais de fome, geralmente respondem com choro e a
mais freqüentes quando as mães foram submetidas à           língua se levanta, podendo dificultar a pega.
cesariana e quando eram oferecidos suplementos aos
neonatos.

    Sanches27 realizou um estudo fonoaudiológico de         Disfunções orais
observação da mamada em 409 binômios mães/RN a                  De um modo geral, vários fatores podem causar
termo, saudáveis, na maternidade do Hospital Guilherme      alterações na sucção do bebê na mamada, tais como
Álvaro, em Santos (SP), credenciado como Hospital Ami-      intercorrências clínicas, baixo peso ao nascer (em espe-
go da Criança (UNICEF/1993). Com o objetivo de estudar      cial prematuridade), distúrbios metabólicos, alterações
fatores associados às dificuldades iniciais da amamenta-    neurológicas, síndromes e anomalias congênitas (fissu-
ção, o autor identificou 13% de dificuldades iniciais na    ras labiopalatais, fissuras submucosas, anquiloglossia e
mamada, apesar de tratar-se de uma população com            laringomalacia). Algumas práticas clínicas relacionadas
condições orgânicas, psíquicas e funcionais favoráveis      ao tratamento de bebês prematuros, como, por exemplo,
para a amamentação. Entre diversas variáveis estuda-        intubação prolongada e uso sondas oro- ou nasogástricas
das, as que permaneceram associadas à mamada insatis-       também podem interferir no desenvolvimento normal da
fatória após análise multivariada foram comportamento       coordenação sucção/deglutição/respiração, bem como
do bebê na mamada, para o tipo barracudas, hiperexcita-     ocasionar problemas respiratórios, devido ao refluxo
dos e gulosos (OR = 7,08; IC = 3,30-15,05) e sucção débil   gastresofágico e aspiração 1,2,11-14,25,34.
(OR = 7,70; IC = 3,66-16,16). O comportamento dos               Além dos fatores já mencionados, podem ocorrer trans-
bebês na alimentação foi descrito inicialmente por Barnes   tornos de sucção mais específicos em bebês a termo,
et al.31 , em 1953, que apontou cinco tipos diferentes:     saudáveis e sem intercorrências clínicas, denominados
barracudas, excitados inefetivos, procrastinadores, gulo-   disfunções motoras-orais. Estas são conseqüência de ima-
sos e tranqüilos. O tipo barracudas mostra grande inte-     turidade neurológica do RN, dor facial (como a decorrente
resse na sucção e, assim, que colocado no peito, suga       do uso de fórceps), características anatômicas individuais e
vigorosamente. Os “excitados inefetivos” são bebês mui-     fatores iatrogênicos, como o uso de bicos artificiais1,2,5,35,36.
to excitados e hiperativos que não conseguem, no início,    Logo após o nascimento, alguns RN apresentam incoorde-
estabelecer um ritmo constante para a sucção. Já os         nação dos reflexos orais, necessitando de alguns dias para
bebês tipo “procrastinadores” adiam a sucção por até 4-     desenvolver um padrão mais maduro, o que pode ocorrer
5 dias após o parto e geralmente esperam a apojadura        simultaneamente ao processo de apojadura, no terceiro ou
(descida do leite). Ao contrário dos barracudas, não        quarto dia pós-parto. Podem ocorrer, ainda, alterações de
mostram interesse particular nem habilidade na sucção       natureza anatômica no funcionamento oral tanto do bebê
nos primeiros dias. Os bebês “gulosos” insistem em          (palato mais alto, mandíbula mais retraída ou freio lingual
degustar, saboreando um pouco de leite antes de mamar,      encurtado ou totalmente fixo – anquiloglossia –, apresen-
cheirando e aproveitando o contato com o peito, tudo em     tando, assim, maior dificuldade de pega) como da mãe
ritmo lento.                                                (mamilos pouco elásticos, planos, invertidos ou excessiva-
    O comportamento dos bebês deve ser considerado na       mente longos). Nesses casos, torna-se necessário intervir
avaliação da mamada, pois pode interferir no seu desem-     para auxiliar os bebês a realizarem adequadamente a pega
penho. Orientações específicas devem ser oferecidas         e a extração de leite da mama de suas mães3,5,36.
para que cada mãe compreenda a singularidade de seu            Outro fator que pode gerar disfunção oral é o fenôme-
filho, facilitando o processo. Exemplificando, bebês mais   no denominado “confusão de bicos”, devido ao contato
agitados, como os “excitados inefetivos”, precisam ser      precoce do neonato com bicos artificiais, sejam de mama-
acolhidos e acalmados antes de serem colocados ao peito.    deira, chupeta ou protetores de mamilos em geral. Devido
Outros bebês, como os “gulosos”, precisam de um período     à habilidade limitada do neonato de adaptar-se a diversas
de tempo maior, antes de começarem a sugar, pois            configurações orais, pode surgir essa alteração, que, se
precisam estimular todos os sentidos. Isso traduz um        persistente, poderá acarretar desmame precoce 3.
Manejo clínico das disfunções orais – Sanches MTC                       Jornal de Pediatria - Vol. 80, Nº5(Supl), 2004 S159


    Observa-se, na prática clínica, que os RN que apre-       a se repetir, tanto para mãe quanto para o bebê5,34 . Se
sentam disfunções orais requerem muita habilidade e           houver alguma disfunção, esta deverá ser corrigida pre-
aprendizagem para ordenhar o peito de suas mães. Esses        cocemente, mediante avaliação motora oral do RN, já que
bebês podem necessitar de manobras não usuais e exer-         é possível modificar a dinâmica de sucção. Estima-se que
cícios orofaciais, além de acompanhamento por um espe-        5 a 6% dos bebês a termo, eutróficos e sem intercorrên-
cialista consultor em aleitamento materno, com bastante       cias clínicas apresentam disfunções orais e necessitam de
experiência prática, ou fonoaudiólogo atuante em neona-       manobras especiais para obter sucesso na amamenta-
tologia, em programas de aleitamento materno. Freqüen-        ção 27,35 .
temente, esses exercícios são conhecidos como “treino de         Na presença de disfunção oral, é indispensável uma
sucção” 12,35,36 .                                            anamnese específica que aborde história da mãe, gravi-
    Righard et al.26, avaliando a técnica de amamentação na   dez, condições de nascimento, condições de lactação e da
primeira semana de vida, demonstraram que a técnica           amamentação atual e prévias. Outros aspectos, além de
correta de sucção tem forte influência sobre a duração do     observação da sucção não-nutritiva e avaliação detalhada
aleitamento materno. Os autores estudaram 82 pares mãe/       da mamada, incluem número de sucções por pausa e força
RN na Suécia com técnica inadequada de sucção (exclusiva      de sucção. Aspectos como interação mãe/filho e compor-
do mamilo), dividindo a população em dois grupos, um no       tamento do RN devem ser incluídos tanto na observação
qual a sucção foi corrigida e outro no qual não foi, compa-   como na atuação, devido à relação destes com a amamen-
rando-se posteriormente os resultados de ambos quanto ao      tação 12,22,26,27,35 .
aleitamento materno. Os autores constataram que a proba-          Para a observação da sucção não-nutritiva, o exami-
bilidade de desmame precoce e de introdução da mamadei-       nador deve introduzir o dedo mínimo enluvado na boca do
ra no primeiro mês de vida foi 10 vezes maior no grupo de     RN, para facilitar a percepção dos movimentos da língua.
sucção não corrigida. Observou-se que as taxas de ama-        Pressiona-se o palato duro contra com a polpa do dedo
mentação exclusiva e parcial foram mais elevadas no grupo     (unha para baixo), de forma a estimular o reflexo de
que teve a sucção corrigida.                                  sucção. Em resposta, na sucção vigorosa e adequada, a
    Andrade & Gulo4, ao observar 30 mães e seus RN a          língua deve envolver o dedo, ultrapassando a gengiva
termo, sem intercorrências clínicas ou malformações que       inferior, executando um movimento ondulatório, da ponta
dificultassem o aleitamento materno, verificaram associ-      para a base, sendo que a ponta permanece projetada na
ação entre padrão oral alterado e fissura mamilar. Apon-      parte anterior da boca. Os lábios devem estar relaxados
taram como principais alterações orais a inadequação dos      e permanecer abertos, sem tensão 1,2,35.
lábios e músculos orbiculares orais (ao redor dos lábios),        Na literatura especializada, são poucos os trabalhos
que não permitiam a preensão adequada do mamilo, e            científicos que referem condutas específicas para o acerto
também os movimentos de “mastigação do mamilo”                das disfunções orais na amamentação. A maioria se refere
durante a sucção em vez de movimentos de anterioriza-         a problemas de manejo clínico do aleitamento materno
ção e elevação, sendo esta apontada como a principal          como um todo, com correções do posicionamento e pega, já
causa de traumas do mamilo.                                   que, em geral, os casos de bebês a termo, saudáveis, com
    No estudo de Sanches 27 , já descrito anteriormente,      pega inadequada estão relacionados a erro de posição mãe/
entre os 409 RN a termo, saudáveis, avaliados nas             bebê e, desta forma, obtém-se melhora com o manejo
primeiras 24-48 horas, 134 (33%) apresentaram mama-           clínico básico da amamentação5,15,27,36.
da insatisfatória, sendo 71 casos (17% do total da amos-          No manejo clínico das disfunções orais, recorre-se
tra) relacionados à forma incorreta do RN de abocanhar        com freqüência ao treino oral da sucção, que consiste na
a aréola. Desses, 43 tinham tensão labial excessiva, e 20,    estimulação do reflexo de sucção, repetidamente, de
tensão diminuída. Em relação à ordenha da mama, foi           modo sincrônico com o ritmo do bebê, conforme descrito
diagnosticada mamada insatisfatória em 95 bebês (23%          na técnica de sucção não-nutritiva 1,35 . Todos os exercí-
do total da amostra) devido a movimentos mandibulares         cios que envolvem estimulação oral devem ser realizados
de “mastigação do mamilo – padrão mordedor” (91               sempre antes da mamada, aproveitando-se a prontidão e
casos), alteração do ritmo de ordenha, com ritmo muito        a fome do bebê. Cuidados na aplicação dos exercícios
rápido ou muito lento (59 casos), e ausência de ritmo         orofaciais referem-se ao tipo e grau de gravidade das
estabelecido (29 casos). Observou-se, ainda, em relação       alterações orais, estado de consciência e comportamento
à ordenha, 69 casos (17% do total da amostra) com             global do bebê, relação e vínculo com os pais, tempo e uso
movimentos inadequados da língua (língua pouco poste-         dos exercícios e condições para retorno e seguimento, se
riorizada e sem canolamento durante a ordenha) e 14           necessário9,34,36,37 . Deve-se atuar com o bebê em esta-
casos (3%) com língua totalmente posteriorizada.              do de alerta 32 , de forma organizada, e sugere-se utilizar
                                                              aproximadamente 2 a 5 minutos para estimulação, não
                                                              ultrapassando esse tempo para não correr o risco de
Manejo clínico da amamentação na vigência de                  cansar e gerar estresse no bebê.
disfunções orais                                                 A Tabela 1 apresenta manobras e exercícios orofaciais
   As experiências que ocorrem nas primeiras mamadas          empregados em disfunções orais simples, freqüentemente
rapidamente se tornam padrões bem definidos e tendem          encontradas na prática clínica1,2,33,36,38-41.
S160 Jornal de Pediatria - Vol. 80, Nº5(supl), 2004                                   Manejo clínico das disfunções orais – Sanches MTC



    É importante ressaltar que as técnicas descritas na                  Da mesma forma, a técnica denominada de finger
Tabela 1 são ilustrativas e sintéticas, referentes aos               feeding, também originalmente utilizada em RN prematuros
inúmeros transtornos orais que podem ocorrer no proces-              e/ou neurologicamente comprometidos, atualmente é refe-
so da amamentação. Portanto, as técnicas devem ser                   rida no auxílio de bebês com dificuldades de sucção, para
utilizadas como mais um instrumento no manejo clínico                um funcionamento oral mais efetivo. Essa técnica consiste
das disfunções orais, não devendo ser consideradas como              na introdução do dedo enluvado na boca do bebê, no qual
um fim para a resolução de todos os problemas da                     é acoplada uma sonda por onde flui o leite durante o treino
amamentação.                                                         da sucção35,39. A outra extremidade da sonda é colocada
    Originalmente, muitos dos exercícios apresentados na             em um recipiente com leite materno ordenhado, leite de
Tabela 1 foram desenvolvidos para estimulação oral de                banco de leite ou fórmula láctea, de maneira que o bebê
bebês prematuros e/ou neurologicamente comprometi-                   recebe esse leite ao sugar a mama. Marmet & Shell39
dos9,34,40,41. Eles sofreram adaptações para o emprego em            salientam, porém, que se essa técnica for realizada inade-
bebês a termo e saudáveis, mas é necessário ter cautela na           quadamente, poderá reforçar comportamentos não produ-
sua utilização, além de conhecimento e prática por parte de          tivos para a amamentação. As autoras sugerem treinar a
profissionais experientes no manejo clínico do aleitamento           abertura da boca do RN anteriormente à utilização dessa
materno, a fim de se tornarem funcionais para bebês com              técnica e manutenção da amamentação, para que o bebê
dificuldades na amamentação.                                         não reforce padrões inadequados e desista do peito.




Tabela 1 - Manejo clínico das disfunções orais

Tipo de disfunção oral       Descrição do padrão oral inadequado         Intervenção para mãe/bebê


Reflexo de procura           Antes da mamada, os reflexos                Inicialmente, estimular suavemente o reflexo de procura,
e sucção débeis              mostram-se pouco ativos,                    tocando os lábios do bebê, principalmente o inferior, e as
                             irregulares, com força diminuída.           bochechas. Mediante a resposta de procura do bebê, estimular
                                                                         o reflexo de sucção, três a quatro vezes, antes da mamada.
                                                                         Em paralelo, esvaziar um pouco a mama e colocar o bebê
                                                                         no peito quando o reflexo de ejeção do leite já estiver ativado.
                                                                         Repetir a operação várias vezes, até que a sucção se fortaleça.


Lábios invertidos            Os lábios, principalmente o inferior,       Manobra de facilitação labial:
                             permanecem voltados para dentro,            – se a pega ocorrer no local correto, puxar delicadamente
                             mesmo após a resposta                         os lábios para fora. Se o bebê estiver mamando apenas
                             do reflexo de procura,                        no mamilo, é preciso reposicioná-lo e, então, acertar
                             quando o bebê abocanha o peito.               os lábios;
                                                                         – se o padrão inadequado persistir, manter a manobra
                                                                           labial durante toda a mamada, até que o bebê consiga
                                                                           fazê-lo sozinho.


Padrão mordedor              Ocorre quando a mandíbula realiza           Manobra de facilitação:
                             movimentos repetitivos de cima              – inicialmente, estimular o reflexo de procura do bebê
                             para baixo, causando abertura e               várias vezes e facilitar o encaixe adequado ao peito;
                             fechamento da boca, podendo levar           – durante a mamada, dar contenção à mandíbula,
                             ao contato traumático                         apoiando-a delicadamente, com o dedo indicador
                             das gengivas contra o mamilo.                 ou médio, reforçando a abertura da boca do bebê,
                                                                           de modo que este projete a língua na sucção.


Tensão oral                  A musculatura perioral apresenta            Estimular várias vezes o reflexo de procura do bebê
excessiva                    um aumento do tônus, dificultando           antes de colocá-lo no peito, até observar que este realiza
                             a abertura correta da boca,                 uma abertura ampla da boca e a musculatura perioral
                             bem como a manutenção                       ceder à tensão excessiva. Só então permitir que o bebê
                             dessa abertura.                             faça a pega corretamente. Se o padrão inadequado persistir,
                                                                         realizar a manobra citada no padrão mordedor.


Língua posteriorizada        Língua permanece na porção posterior        Utilizar a técnica do treino oral da sucção,
                             da cavidade oral durante a sucção.          puxando gentilmente a língua para a frente.


Língua hipertônica,          A língua permanece alta na cavidade         Delicadamente, introduzir o dedo mínimo enluvado na boca
em posição alta na           oral quando o peito é introduzido,          do bebê e abaixar a língua algumas vezes.
cavidade oral                formando uma barreira contra o peito.       Em seguida, utilizar a técnica do treino da sucção.
Manejo clínico das disfunções orais – Sanches MTC                            Jornal de Pediatria - Vol. 80, Nº5(Supl), 2004 S161


    A participação dos pais como agentes ativos do pro-         e observação minuciosa da mamada. Esses procedimen-
cesso é fundamental, observando e favorecendo as mo-            tos devem fazer parte do serviço das maternidades, e,
dificações, uma vez que essas intervenções são realiza-         para isso, sugere-se treinamento constante dos profis-
das no ambiente familiar até a adequação completa do            sionais (obrigatórios nos hospitais credenciados como
funcionamento oral na amamentação 2,36,39.                      Amigo da Criança – OMS/UNICEF) para a realização da
    A correção das disfunções orais pode ser fácil e ocorrer    avaliação da mamada e atuação da equipe interdiscipli-
em poucos dias, desde que os exercícios ou manobras             nar, incluindo fonoaudiólogo sempre que possível na
sejam aplicados de modo contínuo e a mãe ou familiares          rotina nas maternidades.
sejam bem orientados. Nos casos mais persistentes, pode             Para o manejo adequado das disfunções orais, faz-se
durar até semanas, e torna-se necessário atendimento            necessário conhecimento sobre anatomia e neurofisiolo-
especializado34 (fonoaudiológico com atuação em neona-          gia oral do RN, bem como experiência no manejo clínico
tologia e experiência em aleitamento materno ou especi-         da amamentação. Casos mais complexos e persistentes
alista em aleitamento materno), que se baseia na estimu-        requerem diagnóstico e seguimento com especialistas,
lação oral individualizada, envolvendo seqüência de exer-       que pode ser fonoaudiólogo com prática em aleitamento
cícios, incluindo manobras e ajustes, além de exercícios        materno ou especialista em amamentação.
orofaciais variados. É necessário rígido controle do tempo
e da quantidade de estímulos, mediante a observação
criteriosa das respostas e do comportamento do bebê 34,36.      Agradecimentos
Exercícios orofaciais utilizados indiscriminadamente po-           À Maria Lúcia de Faria Ferraz, bibliotecária da Facul-
dem agravar as disfunções orais, gerando ainda mais             dade de Saúde Pública/USP, pelo apoio e preciosa contri-
desorganização no funcionamento oral dos bebês. Além            buição na extensa revisão da literatura.
disso, o uso de tais exercícios em bebês intactos neuro-
logicamente tem sido controverso entre terapeutas, pois
eles podem ser muito fortes para o sistema neuromuscu-
lar do bebê a termo 35 . É imprescindível realizar quantos
                                                                      Referências
retornos forem necessários, mantendo o seguimento das
                                                                1.    Váldes V, Sanchez AP, Labbok M. Técnicas de amamentação. In:
duplas mães/bebês e acompanhando o desenvolvimento                    Váldes V, Sanchez AP, Labbok M, editores. Manejo clínico da
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                                                                2.    Sanches MTC. Amamentação-Enfoque fonoaudiológico. In:
     No caso da anquiloglossia, a indicação para frenectomia          Carvalho RT, Tamez RN, editores. Amamentação-bases científicas
é controversa e depende da resposta funcional da língua nos           para prática profissiona. 1ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara
                                                                      Koogan S.A.; 2002. p. 50-59.
movimentos para ordenha durante a mamada. Ballard et
                                                                3.    Neifert M, Lawrence R, Seacat J. Nipple confusion: toward a
al.42, pesquisando a anquiloglossia e sua repercussão na              formal definition. J Pediatr. 1995;126:125-9.
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                                                                      São Paulo. 1993;15:28-33.
Hospital Medical Center, Estados Unidos, e 273 em segui-        5.    Escott R. Positioning, attachment and milk transfer. Breastfeeding
mento ambulatorial com problemas na mamada por possí-                 Review 1989;5:31-7.
veis problemas decorrentes de anquiloglossia. Cada bebê         6.    Crelin E. cavidade oral e língua. In: Crelin E, editor. Anatomia
                                                                      do recém-nascido. São Paulo: Panamericana; 1988. p. 27-30.
foi observado durante a amamentação e avaliado com
                                                                7.    Douglas CR. Conceitos gerais sobre fisiologia bucal. In: Douglas
protocolo especial (Hazelbaker Assessment Tool for Lingual            CR, editor. Tratado de fisiologia aplicada às ciências da saúde.
Frenulum Function), que consiste em um método quantita-               São Paulo: Robe Editorial; 1994. p. 827-910.
                                                                8.    Segovia ML. Maduración de las praxias estomatológicas. In:
tivo para medir a função da língua e a aparência, facilitando         Segovia ML. Interrelaciones entre la odontoestomatologia y la
a identificação de bebês com grau importante de anquilo-              fonoaudiologia - la deglución atípica. 2ª ed. Buenos Aires:
glossia. Do total de 3.036 bebês em aleitamento materno,              Panamericana; 1988. p. 67-82.
                                                                9.    Morris SE, Klein MD. Pré-feeding skills: a comprehensive resource
foram identificados 88 casos (3,2%) entre os RN internados            for feeding development. Arizona: Communication Skill Builders;
e 35 (12,8%) entre os provenientes do ambulatório. Anqui-             1987.
loglossia importante foi responsável por problemas sérios       10.   Naylor JA. Development of oral function. In Developmental
                                                                      readiness of normal full term infants to progress from exclusive
na amamentação dos pacientes em seguimento ambulato-                  breastfeeding to introduction of complementary foods. Wellstart
rial. Após criteriosa avaliação da função da língua, na               International in collaboration with Linkages: breastfeeding;
                                                                      2001.
presença de anquiloglossia significativa a frenectomia mos-
                                                                11.   King FS. Como ajudar as mães a amamentar. Londrina:
trou ser um facilitador para a amamentação nos 123 casos              Universidade Estadual de Londrina; 1991.
com indicação cirúrgica. Conseqüentemente, observou-se          12.   Lawrence RA. Breastfeeding: A guide for the medical profession.
melhora no padrão de transferência de leite, bem como no              4th ed. Saint Louis: Mosby; 1994.
                                                                13.   Bu’Lock F, Woolridge MW, Baum JD. Development of co-
que diz respeito a problemas do mamilo da mãe e patologias
                                                                      ordination of sucking, swallowing and breathing: ultrasound
da mama.                                                              study of term and preterm infants. Dev Med Child Neurol.
                                                                      1990;32:669-78.
                                                                14.   Weber F, Woolridge MW, Baum JD. An ultrasonographic study of
                                                                      the organization of sucking and swallowing by newborn infants.
Considerações finais
                                                                      Dev Med Child Neurol. 1986;28:9-24.
  As disfunções orais podem ser identificadas precoce-          15.   Woolridge MW. Aetiology of sore nipples. Midwifery. 1986;2:
mente mediante anamnese dirigida, avaliação oral do RN                172-6.
S162 Jornal de Pediatria - Vol. 80, Nº5(supl), 2004                                     Manejo clínico das disfunções orais – Sanches MTC


16. Woolridge MW. The anatomy of infant sucking. Midwifery.           32. Brazelton TB. O desenvolvimento do apego: uma família em
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    para prática profissiona. Rio de Janeiro: Revinter; 2002. p.          the first suckle. Acta Paediatr. 1993;82:281-3.
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    Universidade de São Paulo; 2000.                                      the neonatal intensive care environment. Phys Occup Thy
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26. Righard L, Alade MO. Sucking technique and its effect on              incidence, and effect of frenuloplasty on the breastfeeding
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                                                                      Correspondência:
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30. Nascimento LFC. Amamentação: influência de alguns fatores         Rua Santo Antônio, 590, 2o andar
    dos períodos pré-natal e perinatal. Pediatria Moderna.            CEP 01314-000 – São Paulo, SP
    2002;38:507-12.                                                   Fone/Fax: (11) 3293.2232
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Manejo ClíNico Das DisfunçõEs Orais Na AmamentaçãO

  • 1. 0021-7557/04/80-05-Supl/S155 Jornal de Pediatria Copyright © 2004 by Sociedade Brasileira de Pediatria ARTIGO DE REVISÃO Manejo clínico das disfunções orais na amamentação Clinical management of oral disorders in breastfeeding Maria Teresa C. Sanches* Resumo Abstract Objetivo: Abordar os aspectos relacionados com a detecção Objective: To address aspects associated with the early detection precoce e o manejo clínico das disfunções orais na amamentação. and clinical management of oral disorders in breastfeeding. Fontes de dados: Revisão bibliográfica com enfoque no manejo Source of data: Review of bibliographic sources (research clínico das disfunções orais em crianças amamentadas, utilizando articles, technical books, dissertations and national and international artigos científicos, livros técnicos, teses e publicações nacionais e publications) focused on the clinical management of oral disorders in internacionais. breastfed babies. Síntese dos dados: As disfunções orais (desordens da sucção do Summary of the findings: Suction disorders may lead to bebê), se não corrigidas precocemente, podem gerar ações inadequa- inadequate actions that can compromise the mother/baby relation das, prejudicando o desempenho satisfatório entre mãe e bebê na during breastfeeding. Healthcare professionals may have an important mamada. Os profissionais de saúde podem contribuir nesses casos, role in these cases, as they can early detect such disorders. For that reconhecendo e intervindo precocemente através de capacitação para end, they must be able to assess breastfeeding and be prepared to a avaliação da mamada e para o manejo clínico adequado das disfun- manage oral disorders clinically. In the clinical management of ções orais. No manejo clínico para bebês com dificuldades na amamen- babies with breastfeeding difficulties significant aspects of the oral tação, devem ser considerados os aspectos relevantes da fisiologia oral physiology and breastfeeding observation should be considered. We e observação da amamentação para essa prática. Destaca-se a impor- stress the importance of an interdisciplinary team work and the need tância do trabalho de uma equipe interdisciplinar e das precauções for oral training and specialized care in most complex cases. necessárias quanto ao treino oral desses bebês, bem como a necessi- Conclusion: The baby’s oral disorders in breastfeeding can be dade de acompanhamento por especialista treinado nos casos mais corrected if they were early detected. Healthcare professionals may complexos. help mothers and babies to overcome these problems if they have Conclusão: As disfunções orais do bebê na amamentação podem knowledge that enable them to perform right clinical procedures. ser corrigidas, desde que identificadas precocemente. Os profissio- nais de saúde podem auxiliar mães e bebês a superar essa dificulda- de, capacitando-se para realizar uma prática clínica adequada na amamentação. J Pediatr (Rio J). 2004;80(5 Supl):S155-S162: Amamentação, J Pediatr (Rio J). 2004;80(5 Supl):S155-S162: Breastfeeding, recém-nascido, comportamento de sucção. newborn, suction behavior. Introdução Recém-nascidos (RN) e lactentes saudáveis, sem transitórias do próprio funcionamento oral, ou mesmo de intercorrências que interfiram na amamentação, ocasio- algumas características individuais anatômicas que difi- nalmente apresentam movimentos orais atípicos (disfun- cultam o encaixe adequado entre a boca do bebê e a ções orais) durante a mamada, os quais podem causar mama de sua mãe, ou, ainda, de fatores iatrogênicos. As dificuldades na amamentação decorrentes de alterações disfunções orais encontram-se entre os vários fatores interferentes para o estabelecimento do aleitamento materno relacionados ao bebê e podem gerar traumas mamilares, pouco ganho de peso do bebê e até desmame * Mestre e doutoranda em Saúde Pública, Faculdade de Saúde Pública, precoce 1-4. Universidade de São Paulo (USP). Fonoaudióloga e pesquisadora inte- grante do Instituto de Saúde, Secretaria de Estado da Saúde de São Embora as disfunções orais sejam passíveis de serem Paulo. Aperfeiçoamento e Conselheira em Amamentação. revertidas precocemente, as ações entre mãe/bebê nas Como citar este artigo: Sanches MTC. Manejo clínico das disfunções primeiras mamadas rapidamente se tornam hábitos bem orais na amamentação. J Pediatr (Rio J). 2004;80(5 Supl):S155-S162. estabelecidos, difíceis de mudar, principalmente em relação S155
  • 2. S156 Jornal de Pediatria - Vol. 80, Nº5(supl), 2004 Manejo clínico das disfunções orais – Sanches MTC ao padrão de sucção do RN. Por esse motivo, a avaliação mediante o toque na região interna das gengivas), vômito detalhada da mamada e ações específicas para a correção (desencadeado pelo estímulo na ponta da língua quando de alterações são muito importantes logo no início da há negação total da deglutição) e tosse 7 . Após o quarto ou amamentação2,5. quinto mês, com o crescimento das estruturas orais, o A seguir são abordados aspectos da fisiologia da ama- amadurecimento do sistema nervoso e as possibilidades mentação e avaliação da mamada, destacando-se aspectos de experimentação oral adequada da criança, essa condi- do funcionamento oral e identificação de resoluções das ção basicamente reflexa vai se modificando, sendo subs- principais disfunções orais, com o intuito de contribuir para tituída por um padrão voluntário de movimentação oral8 . o diagnóstico e a prática dos profissionais de saúde no Apesar de a sucção ser um ato reflexo, a ordenha, ou manejo clínico dessas alterações orais. seja, a extração do leite do peito não é, o que exige do bebê aprender a retirar o leite, adaptando suas condições orais anatômicas para o encaixe na mama de sua mãe Fisiologia da sucção (ordenha) na amamentação (pega); nem sempre esse encaixe é fácil, e podem ocorrer Desde o período embrionário, o feto prepara-se para algumas dificuldades no decorrer do processo 5,11,12 . exercer as atividades de sugar, deglutir, respirar e chorar, Bu’Lock et al. 13 salientam a importância da pega correta que irão possibilitar sua sobrevivência ao nascer. Para na amamentação, tendo como base estudos que utiliza- tanto, é munido dos reflexos orais, que garantem sua ram cinerradiografias, datados a partir de 1950, e confir- alimentação nessa fase inicial do desenvolvimento, e apre- mados posteriormente com estudos de imagens ultra- senta características anatômicas diferenciadas, que facili- sonográficas, a partir da década de 1980 14 , possibilitando tarão a alimentação no período neonatal6,7. a compreensão dos movimentos da língua dentro da boca do bebê. Devido ao pequeno crescimento mandibular no período neonatal (retração mandibular fisiológica), a língua se apóia Na pega correta, o bebê realiza uma abertura ampla da sobre a gengiva ou lábio inferior, numa posição anterioriza- boca, abocanhando não apenas o mamilo, mas também da e rebaixada, ocasionando um espaço aéreo-faríngeo que parte da aréola, e formando um lacre perfeito entre as obriga à respiração nasal, a qual ocorre em todo RN. O estruturas orais e a mama. Para a formação desse lacre, na volume aumentado da língua, maior que a estrutura óssea parte anterior os lábios estão virados para fora, (sendo que que a suporta (mandíbula), está ligado à sua função na o lábio superior e a língua são os principais responsáveis por alimentação, já que o contato com o lábio inferior permite um vedamento adequado), e a língua se apóia na gengiva uma postura adequada para a amamentação6,8. Na parte inferior, curvando-se para cima (canolamento), em contato posterior da boca, a base da língua encontra-se bem com a mama. A finalidade do lacre consiste na formação do próxima à epiglote, em razão do posicionamento mais alto vácuo intra-oral (com a presença de pressão negativa), que a laringe do RN ocupa (bem próximo ao palato mole) até formado por movimentos da mandíbula associados a movi- o terceiro ou quarto mês, com função de proteção das vias mentos dos lábios, bochechas e coxins de gordura. Os aéreas inferiores durante a deglutição, facilitando também coxins de gordura ou sucking pads são bolsões de gordura o acesso do alimento9. Essas diferenças anatômicas do RN localizados entre a pele e a musculatura das bochechas, são importantes porque o sistema oral infantil ainda não com a finalidade de auxiliar na sustentação das estruturas está tão estruturado e eficiente quanto no adulto para orais para o acoplamento perfeito ao peito. coordenar sucção, deglutição e respiração. A mandíbula se apóia sobre os seios lactíferos (onde As estruturas anatômicas importantes para o funcio- o leite fica armazenado), e o bebê abocanha o mamilo e namento oral do RN incluem cavidade oral, lábios, língua, aproximadamente 2 a 3 cm de aréola. Na parte posterior bochechas, mandíbula, palato duro e mole, osso hióide, da boca, a língua se eleva e funciona como um mecanismo cartilagem tireóide, epiglote, musculaturas facial e peri- oclusivo contra o palato mole, estabelecendo, assim, a oral e músculos constritores da faringe, além de outros 40 pressão intra-oral negativa (juntamente com o vedamen- músculos que envolvem a movimentação de todo o siste- to anterior). Essa pressão mantém a mama (mamilo + ma oral. Os pares dos nervos cranianos responsáveis pela aréola) dentro da boca do bebê, apesar de sua natureza inervação dessa musculatura são: I - olfativo; V - trigê- retrátil. Desta forma, o mamilo e parte da aréola são meo; VII - facial; IX - glossofaríngeo; X - vago; e XII - deslocados para o interior da boca, sendo que o bico do hipoglosso6,10 . peito toca a região de transição entre o palato duro e o Os reflexos orais do RN garantem sua alimentação palato mole, facilitando a extração do leite e a deglutição. nessa fase inicial do desenvolvimento e são os seguintes: A mandíbula realiza um ciclo de movimentos, iniciando busca ou procura (ativado mediante toque na bochecha e, com o abaixamento para a abertura da boca (com a principalmente, nos quatro pontos cardeais dos lábios), participação dos músculos abaixadores da mandíbula, cuja função consiste em localizar o peito; sucção (desen- supra- e infra-hióideos, miloióideo, genoióideo e digástri- cadeado pelo toque na ponta da língua e papila palatina), co). Posteriormente, ocorre a protrusão (anteriorização) sendo sua função a retirada do leite; e deglutição (obtido mandibular, que tem por objetivo alcançar a mama, mediante estímulo do leite na região posterior da língua, principalmente os seios lactíferos (com ação dos múscu- palato mole, faringe e epiglote). Há, ainda, os seguintes los pterigóideos mediais, masseter e pterigóideos late- reflexos de proteção da deglutição: mordida (obtido rais). Prosseguindo, a mandíbula realiza uma elevação
  • 3. Manejo clínico das disfunções orais – Sanches MTC Jornal de Pediatria - Vol. 80, Nº5(Supl), 2004 S157 para imprimir o fechamento da boca e a compressão dos mamilares, dor e desconforto para a mãe, dificultando seios lactíferos (músculos masseter, pterigóideo medial e inclusive a continuidade do aleitamento, caso não seja temporal) e, em seguida, o movimento de retrusão (pos- devidamente corrigida 11,12,18,23-26. teriorização) para a extração efetiva do leite (ação das Independentemente da posição que a mãe e seu filho fibras oblíquas e horizontais dos músculos temporal e assumam na amamentação, é imprescindível que ambos digástrico e das fibras superiores do músculo pterigóideo se sintam confortáveis e que a mãe possa facilitar os lateral). Esses movimentos mandibulares trazem estímu- reflexos orais do bebê, ajudando-o a abocanhar uma los importantes para o crescimento da articulação têmpo- porção adequada da mama (pega ótima). Assim, e com o ro-mandibular e, conseqüentemente, para o crescimento bebê bem apoiado, ele pode remover o leite efetivamen- harmônico da face do bebê 8,14-17. te, deglutir e respirar livremente. Durante a ordenha do Durante a amamentação, a língua eleva suas bordas peito, é importante que os RN, que estão em fase de lateralmente (musculaturas transversal e vertical), jun- aprendizagem, fiquem com seu corpo sempre voltado tamente com a ponta, formando uma concha, que levará para o corpo da mãe e próximos do mesmo, com susten- o leite para ser deglutido na orofaringe14-16 . Quando o tação do quadril, de forma que a boca permaneça na leite se deposita sobre a língua, na região posterior da altura do mamilo e da aréola. O posicionamento inade- boca, entra em ação um movimento peristáltico rítmico, quado pode tornar a mamada ineficiente, dificultando a direcionando-se da ponta da língua para a orofaringe, que transferência do leite posterior (do final da mamada), comprime suavemente o mamilo por inteiro e termina o mais rico em energia. Como conseqüência, pode haver processo de extração de leite para início da deglutição. A desconforto da mãe e esforço excessivo do bebê, fazendo ponta da língua se mantém na região anterior durante com que ele se canse rápido e adormeça ou permaneça todo o processo, garantindo o vedamento da boca. Desta agitado, com fome, querendo mamar com muita freqüên- forma, o leite é extraído suavemente, sem a utilização de cia, demonstrando-se irritado e choroso. Esse quadro mecanismos de força, o que poderia causar atrito e pode culminar com o bebê “brigando” com a mama, ou esfolamento dos mamilos14-17 . mesmo recusando o peito, interferindo negativamente no seu ganho de peso, vindo a reforçar a idéia errônea da mãe e de familiares de que o leite é insuficiente ou fraco e gerando conflitos, frustração e dúvidas na mãe quanto Avaliação da mamada à sua capacidade de alimentar o bebê5,11,12,18,25,27,28 . Considerando-se que rotinas hospitalares e práticas de Em relação à pega e à ordenha do bebê, é importante profissionais de saúde podem facilitar o estabelecimento e observar como se desencadeiam os reflexos orais, se o bebê a duração do aleitamento materno, a Organização Mundial de Saúde (OMS) e o Fundo das Nações Unidas para a demonstra sinais de fome e procura e se está alerta e Infância (UNICEF) centram esforços para a instituição de organizado para a mamada. Quanto à pega, é importante uma política pública de incentivo à amamentação desde a verificar se o queixo toca a mama, se os lábios estão voltados para fora, realizando um correto selamento labial, década de 80. Em 1991, foi lançada a Iniciativa Hospital e se uma área maior de aréola é visível acima, e não abaixo, Amigo da Criança (IHAC), a qual propõe modificações nas da boca do bebê. Deve-se observar também se a língua rotinas das maternidades para atender os Dez passos para o sucesso do aleitamento materno18-21. Um desses passos envolve inferiormente o complexo aréolo-mamilar durante – o de número 2 – sugere que todos os profissionais da a sucção. Os movimentos de ordenha da mandíbula devem equipe que prestam assistência às mães e aos bebês sejam ser suaves, coordenados com o ritmo de deglutição e respiração, sem a participação do músculo bucinador (au- treinados adequadamente no manejo clínico da amamenta- sência de covinhas), e as sucções devem ser lentas e ção. Esse treinamento é feito por meio de cursos que profundas, com pausas5,11,12,25. enfatizam a avaliação da mamada por meio de protocolo específico (formulário de observação e avaliação da mama- É importante também que os profissionais de saúde da), com observação da postura corporal da mãe/bebê, estejam atentos para as condições gerais das mamas e respostas do bebê (comportamento global), vínculo emoci- mamilos, observando ingurgitamento e traumas mamila- onal entre mãe/bebê, anatomia da mama, aspectos da res, situações que dificultam sobremaneira a amamenta- sucção e funcionamento oral. O objetivo primordial do ção18,28. Também é importante observar vínculo entre mãe treinamento da avaliação da mamada é o de identificar e filho pela forma de segurar o bebê, toques físicos durante problemas no início da amamentação e verificar qual grupo a mamada e contato visual. Numa avaliação efetiva da de mães/RN apresenta necessidades especiais e requer mamada, deve-se observar a dupla antes, durante e depois apoio para um início bem-sucedido21,22. da mamada, com o objetivo de conferir o grau de satisfação Na avaliação da mamada, é importante observar dois do bebê e de conforto (ausência de dor) da mãe12,18,22,27. pontos-chave: posicionamento e pega. A posição inade- O período puerperal é um momento delicado, uma vez quada da mãe e/ou do bebê na amamentação dificulta o que requer aprendizagem e observação da mãe para posicionamento correto da boca do bebê em relação ao compreender e satisfazer às necessidades do seu bebê, complexo aréolo-mamilar, resultando no que se denomi- bem como habilidades deste para demonstrar suas prefe- na de má pega. Esta, por sua vez, interfere na dinâmica rências, comportamento e até dificuldades 29 . Desta for- de sucção e extração de leite, podendo gerar traumas ma, exige atenção e cuidados especiais da equipe de
  • 4. S158 Jornal de Pediatria - Vol. 80, Nº5(supl), 2004 Manejo clínico das disfunções orais – Sanches MTC saúde, bem como uma avaliação mais criteriosa da ama- início de interação importante, que exige intimidade entre mentação12,22,27,30. mãe e filho 12,29,31,32 . Alguns estudos têm demonstrado aspectos críticos Widström & Thingström-Paulsson33 salientam a ne- relacionados às dificuldades iniciais no estabelecimento cessidade de se respeitar a organização global, oral e o da amamentação. Carvalhaes & Correa22 aplicaram a 50 comportamento do bebê para que este responda adequa- duplas de mães/RN o protocolo sugerido pelo UNICEF18 damente, utilizando da melhor maneira os reflexos de (Formulário de observação e avaliação da mamada) em procura e sucção na amamentação. Em estudo realizado uma maternidade de Botucatu (SP). As autoras observa- com 11 RN saudáveis, nascidos a termo de parto vaginal, ram que 18 a 34% das duplas mães/bebês apresentaram com o objetivo de detectar a posição da língua na cavida- alguma dificuldade com o início da amamentação em uma de oral durante a estimulação dos reflexos orais antes da das áreas avaliadas: postura corporal da mãe/bebê, primeira sucção do RN, diagnosticou-se inadequação respostas do bebê (comportamento global), vínculo emo- quando o bebê permanecia chorando. Quando os bebês cional entre mãe/bebê, anatomia da mama e aspectos da são forçados a mamar sem que tenham demonstrado sucção e funcionamento oral. Essas dificuldades foram sinais de fome, geralmente respondem com choro e a mais freqüentes quando as mães foram submetidas à língua se levanta, podendo dificultar a pega. cesariana e quando eram oferecidos suplementos aos neonatos. Sanches27 realizou um estudo fonoaudiológico de Disfunções orais observação da mamada em 409 binômios mães/RN a De um modo geral, vários fatores podem causar termo, saudáveis, na maternidade do Hospital Guilherme alterações na sucção do bebê na mamada, tais como Álvaro, em Santos (SP), credenciado como Hospital Ami- intercorrências clínicas, baixo peso ao nascer (em espe- go da Criança (UNICEF/1993). Com o objetivo de estudar cial prematuridade), distúrbios metabólicos, alterações fatores associados às dificuldades iniciais da amamenta- neurológicas, síndromes e anomalias congênitas (fissu- ção, o autor identificou 13% de dificuldades iniciais na ras labiopalatais, fissuras submucosas, anquiloglossia e mamada, apesar de tratar-se de uma população com laringomalacia). Algumas práticas clínicas relacionadas condições orgânicas, psíquicas e funcionais favoráveis ao tratamento de bebês prematuros, como, por exemplo, para a amamentação. Entre diversas variáveis estuda- intubação prolongada e uso sondas oro- ou nasogástricas das, as que permaneceram associadas à mamada insatis- também podem interferir no desenvolvimento normal da fatória após análise multivariada foram comportamento coordenação sucção/deglutição/respiração, bem como do bebê na mamada, para o tipo barracudas, hiperexcita- ocasionar problemas respiratórios, devido ao refluxo dos e gulosos (OR = 7,08; IC = 3,30-15,05) e sucção débil gastresofágico e aspiração 1,2,11-14,25,34. (OR = 7,70; IC = 3,66-16,16). O comportamento dos Além dos fatores já mencionados, podem ocorrer trans- bebês na alimentação foi descrito inicialmente por Barnes tornos de sucção mais específicos em bebês a termo, et al.31 , em 1953, que apontou cinco tipos diferentes: saudáveis e sem intercorrências clínicas, denominados barracudas, excitados inefetivos, procrastinadores, gulo- disfunções motoras-orais. Estas são conseqüência de ima- sos e tranqüilos. O tipo barracudas mostra grande inte- turidade neurológica do RN, dor facial (como a decorrente resse na sucção e, assim, que colocado no peito, suga do uso de fórceps), características anatômicas individuais e vigorosamente. Os “excitados inefetivos” são bebês mui- fatores iatrogênicos, como o uso de bicos artificiais1,2,5,35,36. to excitados e hiperativos que não conseguem, no início, Logo após o nascimento, alguns RN apresentam incoorde- estabelecer um ritmo constante para a sucção. Já os nação dos reflexos orais, necessitando de alguns dias para bebês tipo “procrastinadores” adiam a sucção por até 4- desenvolver um padrão mais maduro, o que pode ocorrer 5 dias após o parto e geralmente esperam a apojadura simultaneamente ao processo de apojadura, no terceiro ou (descida do leite). Ao contrário dos barracudas, não quarto dia pós-parto. Podem ocorrer, ainda, alterações de mostram interesse particular nem habilidade na sucção natureza anatômica no funcionamento oral tanto do bebê nos primeiros dias. Os bebês “gulosos” insistem em (palato mais alto, mandíbula mais retraída ou freio lingual degustar, saboreando um pouco de leite antes de mamar, encurtado ou totalmente fixo – anquiloglossia –, apresen- cheirando e aproveitando o contato com o peito, tudo em tando, assim, maior dificuldade de pega) como da mãe ritmo lento. (mamilos pouco elásticos, planos, invertidos ou excessiva- O comportamento dos bebês deve ser considerado na mente longos). Nesses casos, torna-se necessário intervir avaliação da mamada, pois pode interferir no seu desem- para auxiliar os bebês a realizarem adequadamente a pega penho. Orientações específicas devem ser oferecidas e a extração de leite da mama de suas mães3,5,36. para que cada mãe compreenda a singularidade de seu Outro fator que pode gerar disfunção oral é o fenôme- filho, facilitando o processo. Exemplificando, bebês mais no denominado “confusão de bicos”, devido ao contato agitados, como os “excitados inefetivos”, precisam ser precoce do neonato com bicos artificiais, sejam de mama- acolhidos e acalmados antes de serem colocados ao peito. deira, chupeta ou protetores de mamilos em geral. Devido Outros bebês, como os “gulosos”, precisam de um período à habilidade limitada do neonato de adaptar-se a diversas de tempo maior, antes de começarem a sugar, pois configurações orais, pode surgir essa alteração, que, se precisam estimular todos os sentidos. Isso traduz um persistente, poderá acarretar desmame precoce 3.
  • 5. Manejo clínico das disfunções orais – Sanches MTC Jornal de Pediatria - Vol. 80, Nº5(Supl), 2004 S159 Observa-se, na prática clínica, que os RN que apre- a se repetir, tanto para mãe quanto para o bebê5,34 . Se sentam disfunções orais requerem muita habilidade e houver alguma disfunção, esta deverá ser corrigida pre- aprendizagem para ordenhar o peito de suas mães. Esses cocemente, mediante avaliação motora oral do RN, já que bebês podem necessitar de manobras não usuais e exer- é possível modificar a dinâmica de sucção. Estima-se que cícios orofaciais, além de acompanhamento por um espe- 5 a 6% dos bebês a termo, eutróficos e sem intercorrên- cialista consultor em aleitamento materno, com bastante cias clínicas apresentam disfunções orais e necessitam de experiência prática, ou fonoaudiólogo atuante em neona- manobras especiais para obter sucesso na amamenta- tologia, em programas de aleitamento materno. Freqüen- ção 27,35 . temente, esses exercícios são conhecidos como “treino de Na presença de disfunção oral, é indispensável uma sucção” 12,35,36 . anamnese específica que aborde história da mãe, gravi- Righard et al.26, avaliando a técnica de amamentação na dez, condições de nascimento, condições de lactação e da primeira semana de vida, demonstraram que a técnica amamentação atual e prévias. Outros aspectos, além de correta de sucção tem forte influência sobre a duração do observação da sucção não-nutritiva e avaliação detalhada aleitamento materno. Os autores estudaram 82 pares mãe/ da mamada, incluem número de sucções por pausa e força RN na Suécia com técnica inadequada de sucção (exclusiva de sucção. Aspectos como interação mãe/filho e compor- do mamilo), dividindo a população em dois grupos, um no tamento do RN devem ser incluídos tanto na observação qual a sucção foi corrigida e outro no qual não foi, compa- como na atuação, devido à relação destes com a amamen- rando-se posteriormente os resultados de ambos quanto ao tação 12,22,26,27,35 . aleitamento materno. Os autores constataram que a proba- Para a observação da sucção não-nutritiva, o exami- bilidade de desmame precoce e de introdução da mamadei- nador deve introduzir o dedo mínimo enluvado na boca do ra no primeiro mês de vida foi 10 vezes maior no grupo de RN, para facilitar a percepção dos movimentos da língua. sucção não corrigida. Observou-se que as taxas de ama- Pressiona-se o palato duro contra com a polpa do dedo mentação exclusiva e parcial foram mais elevadas no grupo (unha para baixo), de forma a estimular o reflexo de que teve a sucção corrigida. sucção. Em resposta, na sucção vigorosa e adequada, a Andrade & Gulo4, ao observar 30 mães e seus RN a língua deve envolver o dedo, ultrapassando a gengiva termo, sem intercorrências clínicas ou malformações que inferior, executando um movimento ondulatório, da ponta dificultassem o aleitamento materno, verificaram associ- para a base, sendo que a ponta permanece projetada na ação entre padrão oral alterado e fissura mamilar. Apon- parte anterior da boca. Os lábios devem estar relaxados taram como principais alterações orais a inadequação dos e permanecer abertos, sem tensão 1,2,35. lábios e músculos orbiculares orais (ao redor dos lábios), Na literatura especializada, são poucos os trabalhos que não permitiam a preensão adequada do mamilo, e científicos que referem condutas específicas para o acerto também os movimentos de “mastigação do mamilo” das disfunções orais na amamentação. A maioria se refere durante a sucção em vez de movimentos de anterioriza- a problemas de manejo clínico do aleitamento materno ção e elevação, sendo esta apontada como a principal como um todo, com correções do posicionamento e pega, já causa de traumas do mamilo. que, em geral, os casos de bebês a termo, saudáveis, com No estudo de Sanches 27 , já descrito anteriormente, pega inadequada estão relacionados a erro de posição mãe/ entre os 409 RN a termo, saudáveis, avaliados nas bebê e, desta forma, obtém-se melhora com o manejo primeiras 24-48 horas, 134 (33%) apresentaram mama- clínico básico da amamentação5,15,27,36. da insatisfatória, sendo 71 casos (17% do total da amos- No manejo clínico das disfunções orais, recorre-se tra) relacionados à forma incorreta do RN de abocanhar com freqüência ao treino oral da sucção, que consiste na a aréola. Desses, 43 tinham tensão labial excessiva, e 20, estimulação do reflexo de sucção, repetidamente, de tensão diminuída. Em relação à ordenha da mama, foi modo sincrônico com o ritmo do bebê, conforme descrito diagnosticada mamada insatisfatória em 95 bebês (23% na técnica de sucção não-nutritiva 1,35 . Todos os exercí- do total da amostra) devido a movimentos mandibulares cios que envolvem estimulação oral devem ser realizados de “mastigação do mamilo – padrão mordedor” (91 sempre antes da mamada, aproveitando-se a prontidão e casos), alteração do ritmo de ordenha, com ritmo muito a fome do bebê. Cuidados na aplicação dos exercícios rápido ou muito lento (59 casos), e ausência de ritmo orofaciais referem-se ao tipo e grau de gravidade das estabelecido (29 casos). Observou-se, ainda, em relação alterações orais, estado de consciência e comportamento à ordenha, 69 casos (17% do total da amostra) com global do bebê, relação e vínculo com os pais, tempo e uso movimentos inadequados da língua (língua pouco poste- dos exercícios e condições para retorno e seguimento, se riorizada e sem canolamento durante a ordenha) e 14 necessário9,34,36,37 . Deve-se atuar com o bebê em esta- casos (3%) com língua totalmente posteriorizada. do de alerta 32 , de forma organizada, e sugere-se utilizar aproximadamente 2 a 5 minutos para estimulação, não ultrapassando esse tempo para não correr o risco de Manejo clínico da amamentação na vigência de cansar e gerar estresse no bebê. disfunções orais A Tabela 1 apresenta manobras e exercícios orofaciais As experiências que ocorrem nas primeiras mamadas empregados em disfunções orais simples, freqüentemente rapidamente se tornam padrões bem definidos e tendem encontradas na prática clínica1,2,33,36,38-41.
  • 6. S160 Jornal de Pediatria - Vol. 80, Nº5(supl), 2004 Manejo clínico das disfunções orais – Sanches MTC É importante ressaltar que as técnicas descritas na Da mesma forma, a técnica denominada de finger Tabela 1 são ilustrativas e sintéticas, referentes aos feeding, também originalmente utilizada em RN prematuros inúmeros transtornos orais que podem ocorrer no proces- e/ou neurologicamente comprometidos, atualmente é refe- so da amamentação. Portanto, as técnicas devem ser rida no auxílio de bebês com dificuldades de sucção, para utilizadas como mais um instrumento no manejo clínico um funcionamento oral mais efetivo. Essa técnica consiste das disfunções orais, não devendo ser consideradas como na introdução do dedo enluvado na boca do bebê, no qual um fim para a resolução de todos os problemas da é acoplada uma sonda por onde flui o leite durante o treino amamentação. da sucção35,39. A outra extremidade da sonda é colocada Originalmente, muitos dos exercícios apresentados na em um recipiente com leite materno ordenhado, leite de Tabela 1 foram desenvolvidos para estimulação oral de banco de leite ou fórmula láctea, de maneira que o bebê bebês prematuros e/ou neurologicamente comprometi- recebe esse leite ao sugar a mama. Marmet & Shell39 dos9,34,40,41. Eles sofreram adaptações para o emprego em salientam, porém, que se essa técnica for realizada inade- bebês a termo e saudáveis, mas é necessário ter cautela na quadamente, poderá reforçar comportamentos não produ- sua utilização, além de conhecimento e prática por parte de tivos para a amamentação. As autoras sugerem treinar a profissionais experientes no manejo clínico do aleitamento abertura da boca do RN anteriormente à utilização dessa materno, a fim de se tornarem funcionais para bebês com técnica e manutenção da amamentação, para que o bebê dificuldades na amamentação. não reforce padrões inadequados e desista do peito. Tabela 1 - Manejo clínico das disfunções orais Tipo de disfunção oral Descrição do padrão oral inadequado Intervenção para mãe/bebê Reflexo de procura Antes da mamada, os reflexos Inicialmente, estimular suavemente o reflexo de procura, e sucção débeis mostram-se pouco ativos, tocando os lábios do bebê, principalmente o inferior, e as irregulares, com força diminuída. bochechas. Mediante a resposta de procura do bebê, estimular o reflexo de sucção, três a quatro vezes, antes da mamada. Em paralelo, esvaziar um pouco a mama e colocar o bebê no peito quando o reflexo de ejeção do leite já estiver ativado. Repetir a operação várias vezes, até que a sucção se fortaleça. Lábios invertidos Os lábios, principalmente o inferior, Manobra de facilitação labial: permanecem voltados para dentro, – se a pega ocorrer no local correto, puxar delicadamente mesmo após a resposta os lábios para fora. Se o bebê estiver mamando apenas do reflexo de procura, no mamilo, é preciso reposicioná-lo e, então, acertar quando o bebê abocanha o peito. os lábios; – se o padrão inadequado persistir, manter a manobra labial durante toda a mamada, até que o bebê consiga fazê-lo sozinho. Padrão mordedor Ocorre quando a mandíbula realiza Manobra de facilitação: movimentos repetitivos de cima – inicialmente, estimular o reflexo de procura do bebê para baixo, causando abertura e várias vezes e facilitar o encaixe adequado ao peito; fechamento da boca, podendo levar – durante a mamada, dar contenção à mandíbula, ao contato traumático apoiando-a delicadamente, com o dedo indicador das gengivas contra o mamilo. ou médio, reforçando a abertura da boca do bebê, de modo que este projete a língua na sucção. Tensão oral A musculatura perioral apresenta Estimular várias vezes o reflexo de procura do bebê excessiva um aumento do tônus, dificultando antes de colocá-lo no peito, até observar que este realiza a abertura correta da boca, uma abertura ampla da boca e a musculatura perioral bem como a manutenção ceder à tensão excessiva. Só então permitir que o bebê dessa abertura. faça a pega corretamente. Se o padrão inadequado persistir, realizar a manobra citada no padrão mordedor. Língua posteriorizada Língua permanece na porção posterior Utilizar a técnica do treino oral da sucção, da cavidade oral durante a sucção. puxando gentilmente a língua para a frente. Língua hipertônica, A língua permanece alta na cavidade Delicadamente, introduzir o dedo mínimo enluvado na boca em posição alta na oral quando o peito é introduzido, do bebê e abaixar a língua algumas vezes. cavidade oral formando uma barreira contra o peito. Em seguida, utilizar a técnica do treino da sucção.
  • 7. Manejo clínico das disfunções orais – Sanches MTC Jornal de Pediatria - Vol. 80, Nº5(Supl), 2004 S161 A participação dos pais como agentes ativos do pro- e observação minuciosa da mamada. Esses procedimen- cesso é fundamental, observando e favorecendo as mo- tos devem fazer parte do serviço das maternidades, e, dificações, uma vez que essas intervenções são realiza- para isso, sugere-se treinamento constante dos profis- das no ambiente familiar até a adequação completa do sionais (obrigatórios nos hospitais credenciados como funcionamento oral na amamentação 2,36,39. Amigo da Criança – OMS/UNICEF) para a realização da A correção das disfunções orais pode ser fácil e ocorrer avaliação da mamada e atuação da equipe interdiscipli- em poucos dias, desde que os exercícios ou manobras nar, incluindo fonoaudiólogo sempre que possível na sejam aplicados de modo contínuo e a mãe ou familiares rotina nas maternidades. sejam bem orientados. Nos casos mais persistentes, pode Para o manejo adequado das disfunções orais, faz-se durar até semanas, e torna-se necessário atendimento necessário conhecimento sobre anatomia e neurofisiolo- especializado34 (fonoaudiológico com atuação em neona- gia oral do RN, bem como experiência no manejo clínico tologia e experiência em aleitamento materno ou especi- da amamentação. Casos mais complexos e persistentes alista em aleitamento materno), que se baseia na estimu- requerem diagnóstico e seguimento com especialistas, lação oral individualizada, envolvendo seqüência de exer- que pode ser fonoaudiólogo com prática em aleitamento cícios, incluindo manobras e ajustes, além de exercícios materno ou especialista em amamentação. orofaciais variados. É necessário rígido controle do tempo e da quantidade de estímulos, mediante a observação criteriosa das respostas e do comportamento do bebê 34,36. Agradecimentos Exercícios orofaciais utilizados indiscriminadamente po- À Maria Lúcia de Faria Ferraz, bibliotecária da Facul- dem agravar as disfunções orais, gerando ainda mais dade de Saúde Pública/USP, pelo apoio e preciosa contri- desorganização no funcionamento oral dos bebês. Além buição na extensa revisão da literatura. disso, o uso de tais exercícios em bebês intactos neuro- logicamente tem sido controverso entre terapeutas, pois eles podem ser muito fortes para o sistema neuromuscu- lar do bebê a termo 35 . É imprescindível realizar quantos Referências retornos forem necessários, mantendo o seguimento das 1. Váldes V, Sanchez AP, Labbok M. Técnicas de amamentação. In: duplas mães/bebês e acompanhando o desenvolvimento Váldes V, Sanchez AP, Labbok M, editores. Manejo clínico da da amamentação2,34,36,39. amamentação. Rio de Janeiro: Revinter; 1996.p. 48-54. 2. Sanches MTC. Amamentação-Enfoque fonoaudiológico. In: No caso da anquiloglossia, a indicação para frenectomia Carvalho RT, Tamez RN, editores. Amamentação-bases científicas é controversa e depende da resposta funcional da língua nos para prática profissiona. 1ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan S.A.; 2002. p. 50-59. movimentos para ordenha durante a mamada. Ballard et 3. Neifert M, Lawrence R, Seacat J. Nipple confusion: toward a al.42, pesquisando a anquiloglossia e sua repercussão na formal definition. J Pediatr. 1995;126:125-9. amamentação, acompanharam 2.763 bebês a termo em 4. Andrade CF, Gullo AC. As alterações do sistema motor oral dos aleitamento materno internados no Cincinnati Children’s bebês como causa das fissuras/rachaduras mamilares. Pediatria São Paulo. 1993;15:28-33. Hospital Medical Center, Estados Unidos, e 273 em segui- 5. Escott R. Positioning, attachment and milk transfer. Breastfeeding mento ambulatorial com problemas na mamada por possí- Review 1989;5:31-7. veis problemas decorrentes de anquiloglossia. 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