SlideShare une entreprise Scribd logo
1  sur  4
O fim da sangria – Implante permite
suspender a menstruação
Por: Fabiano Ferreira – DiárioWeb
Coutinho: “Me sinto orgulhoso por ter erguido essa bandeira.”
“Nem tudo que é natural é bom.”
As doenças e a morte, por exemplo, são ocorrências naturais e nem por isso as
consideramos boas”.
Pela frase acima dá para imaginar o quão polêmico é o médico baiano Elsimar
Coutinho. Suas críticas à recusa da Igreja Católica aos métodos contraceptivos ou à falta
de programas governamentais de planejamento familiar ficam longe da repercussão de
sua principal bandeira na medicina: o fim da menstruação. Coutinho é autor do livro
“Menstruação – A Sangria Inútil” (Editora Gente), obra que já está na 6ª edição e se
propõe a ensinar as mulheres a não menstruar para fugir das dores e complicações
causadas pelo sangramento. O ginecologista estuda métodos de supressão da
menstruação desde a década de 60, mas suas teses só ganharam repercussão a partir de
1996, quando seu livro foi lançado nos Estados Unidos e na Europa.
Contrariando os médicos que consideram a menstruação algo natural, necessário para
“limpar” o organismo feminino,
Coutinho condena o sangramento apontando-o como principal responsável por doenças
como a endometriose, câncer, anemia e diversos problemas causados pela Tensão Pré-
Menstrual, a temida TPM. Entre os métodos propostos pelo ginecologista para evitar a
menstruação está a utilização do AMP, um anticoncepcional injetável que teria o
mesmo efeito da contracepção cirúrgica. Trata-se de uma injeção intramuscular aplicada
no braço para que a mulher fique sem menstruar por pelo menos seis meses. “O líquido
injetado é um progestínio, que funciona como se a mulher ficasse grávida sem ter o
filho”, explica Coutinho em entrevista ao Diário.
Considerado um dos maiores expoentes na endocrinologia da reprodução humana, o
ginecologista não pestaneja ao afirmar que a menstruação é um castigo para a mulher.
“É como se ela fosse obrigada a viver um aborto todos os meses”, diz. Segundo
Coutinho, quando a mulher ovula já está grávida do ponto de vista da endocrinologia do
seu organismo. A presença do espermatozóide só vai dar continuidade a essa gravidez.
“Quando isso não acontece, a mulher tem de abortar e perder o mais precioso dos
líquidos, o sangue”, afirma. De acordo com o médico, mais de 50% das mulheres
sofrem com a menstruação e mesmo assim a consideram característica indissociável da
feminilidade, fertilidade e juventude. Coutinho diz que seus métodos não pretendem
mostrar que a natureza está errada, mas sim colocar à disposição das mulheres mais um
dos benefícios proporcionados pela ciência.
O médico garante que a mulher que opta por suprimir a menstruação pode engravidar
normalmente. “Basta parar de tomar a medicação para ovular e engravidar sem nenhum
problema”. A possibilidade de não menstruar representa para as mulheres mais um
passo rumo à emancipação total. Se num primeiro momento a pílula anticoncepcional
foi símbolo de liberdade para decidir entre engravidar ou não, o método para não
menstruar coloca a mulher em condição de controle absoluto sobre o corpo e, sobretudo,
em relação à saúde. A única contra-indicação para a supressão da menstruação, segundo
Coutinho, é a existência de uma doença hereditária chamada hemocromatose (excesso
de sangue). Neste caso, se a mulher parar de menstruar terá de fazer sangrias regulares.
Pílula do homem
Como diretor do CEPARH (Centro de Pesquisa e Assistência em Reprodução Humana),
Elsimar Coutinho também é criador de uma pílula anticoncepcional masculina que
ainda não está disponível no mercado, mas já foi submetida à aprovação pelo Ministério
da Saúde. A novidade inibe a espermatogênese, não permitindo que o espermatozóide
seja produzido pelo organismo masculino. “Os espermatozóides são gerados a partir de
células da parede do testículo, chamadas de espermatozoneas. O anticoncepcional
interfere nesse processo celular e inibe a produção de espermatozóides”, explica. O mais
moderno método de contracepção e supressão da menstruação disponível no Brasil é o
Elmetrin, desenvolvido pela equipe médica do ginecologista Elsimar Coutinho, diretor
do Centro de Pesquisa e Assistência em Reprodução Humana (Ceparh), em Salvador.
Durante seis meses, o implante, que pode ser colocado no braço ou nas nádegas, inibe a
ovulação e, por conseqüência, evita a menstruação e a gravidez. Já o Uniplant,
desenvolvido na Universidade Federal da Bahia, também proporciona a contracepção,
por até um ano, mas as mulheres que o adotam sangram regularmente e só se livram da
TPM. Coutinho estuda e aplica estes e outros recursos para suspender a menstruação e
evitar a gravidez há 30 anos, mas só recentemente está colhendo os frutos de suas
descobertas. Atualmente, o médico se divide em atendimentos nos estados da Bahia,
São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Distrito Federal. Na semana passada foi
eleito presidente da Sociedade Brasileira de Ginecologia Endócrina e está prestes a
participar da próxima edição do Congresso Mundial de Ginecologia, no Chile.
Coutinho deu a seguinte entrevista ao jornalista Fabiano Ferreira:
Existe alguma contra-indicação à opção de não menstruar?
Coutinho – Se a mulher está tentando engravidar, precisa ovular. Então, a contra-
indicação é só para mulheres que estão tentando engravidar. Se houvesse contra-
indicação para não menstruar haveria mulheres que não poderiam entrar na menopausa.
Só não deve parar de menstruar a mulher que tem uma doença hereditária chamada
hemocromatose, que provoca excesso de ferro no sangue. Se ela suprime as regras tem
de proceder como os homens com essa doença, que precisam fazer sangria
regularmente. Idade ou estado de saúde, em geral, não são contra-indicações para a
mulher que deseja parar de menstruar. Desde a mulher mais jovem à madura podem
interromper a menstruação.
O senhor acha que o implante é o melhor método para não menstruar?
Coutinho – Acho que ele é o mais prático e o que tem menos efeitos colaterais. Os
implantes, em geral, oferecem à mulher exatamente o que ela precisa, de acordo com
suas condições de saúde e hábitos sexuais, impedindo a gravidez com efeitos mínimos.
Um implante que se chama Elmetrin, aprovado pelo Ministério da Saúde, pode ser
usado até na lactação, pois funciona como anticoncepcional. Ele é eliminado pelo leite,
mas não faz mal à criança. O efeito colateral é não menstruar, um efeito esperado pela
mulher que o adota.
Está sendo lançado nos Estados Unidos um anticoncepcional trimestral. Qual a
diferença dele em relação aos demais?
Coutinho – Já existe no mercado brasileiro um medicamento chamado Lovelle, que é de
uso vaginal contínuo para não menstruar, durante vários meses ou o ano inteiro, por
exemplo. Esse produto tem a mesma composição do que está sendo lançado nos Estados
Unidos com o nome de Sazonale. Ele é usado a cada estação, por isso a mulher só
menstrua quatro vezes por ano. O Sazonale ainda não está disponível no Brasil, mas
qualquer outro anticoncepcional eficiente pode ter o mesmo efeito se usado sem
interrupção.
As mulheres reclamam da menstruação por causa da
Tensão Pré-Menstrual. Quando não menstrua, a mulher fica isenta da TPM?
Coutinho – Sim, exceto nas histerectomizadas. Esta operação é indicada quando
ocorrem hemorragias muito intensas. Nesse procedimento, ela pode continuar tendo a
TPM porque o problema está mais ligado aos ovários do que ao útero. Se a mulher retira
o útero, mas deixa o ovário continua com a TPM mesmo sem menstruar. É uma espécie
de TPM seca, sem sangramento.
Se adota um método para não menstruar, a mulher passa pela tensão?
Coutinho – Nos primeiros dias depois do implante ela não sangra, mas ainda tem TPM.
Isso porque ela já ovulou e as transformações que se passam no organismo e geram a
tensão ocorrem independente da menstruação. A TPM é algo que antecede a
menstruação e não que ocorre durante a menstruação. Então, a supressão da
menstruação representa o fim da TPM. Os inibidores da ovulação, os anticoncepcionais,
acabam com a TPM. Eu prefiro usar implantes de progestínio ou injetáveis, que têm
efeito de seis meses ou um ano. Eles suprimem a menstruação e a Tensão Pré-
Menstrual.
As mulheres que suprimem a ovulação podem engravidar normalmente?
Coutinho – Sim. É só suspender o método e engravidar. Pode-se engravidar até com a
primeira evolução após a suspensão do método. Nesse caso a mulher não menstrua
porque ela emenda o período de não menstruação com a própria gravidez. Ela passa da
amenorréia gerada pela medicação para a amenorréia da gestação.
Quais os reflexos no organismo da mulher quando ela pára de menstruar?
Coutinho – Quando a mulher pára de menstruar adotando um esteróide (composto
usado em pílulas anticoncepcionais) ela não sente efeito nenhum. A não ser em casos de
esteróides com propriedades particulares como a gestrinona, um dos esteróides que eu
uso e que é anabolizante de proteína. Neste caso, as mulheres ficam com mais músculos
do que gordura (indicado para mulher atleta). Mas quem usa um implante que não tem
anabolizante continua com o mesmo corpo. Depende dos efeitos de cada um dos
medicamentos utilizados para inibir a ovulação. Em geral, eles não trazem reflexos.
Quais os principais mitos que ainda existem em torno da menstruação?
Coutinho – O primeiro mito é de que a menstruação é natural. O segundo é de que ela é
boa para a saúde, o que não é verdade. Pelo menos em metade das mulheres ela provoca
doenças como anemia, endometriose neumatóide e aumenta o risco de câncer. Por
último, existe o mito de que a menstruação não pode ser evitada, mas já estamos
acabando com isso. Há também crendices de que durante a menstruação a mulher não
pode lavar a cabeça ou tomar sorvete. Infelizmente ainda tem gente que acredita, o que
é muita ingenuidade.
A sociedade e a mulher, em especial, consideram a menstruação natural. Será que
é por isso que sua tese ainda causa tanta polêmica?
Coutinho – As pessoas associam algo natural a uma coisa boa. Na realidade, isso não é
verdade. Há muita coisa natural que não é boa. A doença, causada por bactérias, por
exemplo, é natural e no entanto não é boa. A violência também é natural, pois um bicho
come o outro para sobreviver. O bom e o ruim se aplicam de formas diferentes ao
conceito de natural.
O senhor acredita que a possibilidade de pôr um fim à menstruação é mais uma
conquista da mulher rumo à emancipação total?
Coutinho – Absolutamente. A mulher tinha uma conquista importante que era a pílula
anticoncepcional, que a permite, como o homem, transar sem engravidar. Isso deu
enorme liberdade à mulher. Acho que o homem é quem não gostou muito dessas
inovações. Menstruar só quando se quer é algo ainda novo para a mulher e me sinto
orgulhoso por ter erguido essa bandeira.
Como o senhor reage às críticas da Igreja Católica sobre seus métodos
contraceptivos?
Coutinho – A Igreja já cometeu erros graves e se opor ao uso da contracepção é só mais
um deles. É um erro grave querer se envolver com uma questão que diz respeito
somente à pessoa. Durante 400 anos, a Igreja Católica teve um poder enorme e, como as
pessoas têm fé, aceitam tudo o que prega. É absurdo se opor ao uso da camisinha,
porque está se opondo à saúde pública. Isso é anacrônico. O pior é alguém ainda prestar
atenção nisso. A maioria dos católicos continua usando anticoncepcionais injetáveis e
camisinha. Eles fazem isso porque se tiverem filhos a Igreja vai tomar conta deles? Não
vai né?
Na sua opinião, o governo é omisso em relação ao planejamento familiar?
Coutinho – Sim. O governo brasileiro sempre foi omisso e é muito influenciado pela
Igreja. Dentro do Ministério da Saúde tem muita gente da Igreja que ainda opina com
mais poder de fogo do que qualquer médico. A CNBB (Conferência Nacional dos
Bispos do Brasil) é sempre ouvida nesses assuntos. A única coisa que o governo faz de
bom é não se meter nas iniciativas privadas para promover o uso da contracepção no
planejamento familiar. Mas há governos municipais que colaboram muito. Na Bahia,
por exemplo, há um programa que conta com um veículo que vai à periferia para prestar
assistência. Graças à iniciativa privada é que estamos conseguindo que haja uma
desacelaração no crescimento populacional no Brasil. Infelizmente, hoje só quem tem
poder aquisitivo faz planejamento familiar.

Contenu connexe

Tendances

Métodos contracetivos
Métodos contracetivosMétodos contracetivos
Métodos contracetivos
Gerson Melo
 
Métodos Contraceptivos Hormonais ou Químicos
Métodos Contraceptivos Hormonais ou QuímicosMétodos Contraceptivos Hormonais ou Químicos
Métodos Contraceptivos Hormonais ou Químicos
Inês Lucas
 
Metodos contracetivos
Metodos contracetivosMetodos contracetivos
Metodos contracetivos
davidjpereira
 
Aula Planejamento Familiar
Aula Planejamento FamiliarAula Planejamento Familiar
Aula Planejamento Familiar
Unis
 
Métodos contraceptivos
Métodos contraceptivosMétodos contraceptivos
Métodos contraceptivos
wagneripo
 
Métodos contraceptivos pilula
Métodos contraceptivos pilulaMétodos contraceptivos pilula
Métodos contraceptivos pilula
esas8e
 
Pilula anticoncepcional
Pilula anticoncepcionalPilula anticoncepcional
Pilula anticoncepcional
sidilusa
 

Tendances (20)

Estado atual do Planejamento Familiar no Brasil
Estado atual do Planejamento Familiar no BrasilEstado atual do Planejamento Familiar no Brasil
Estado atual do Planejamento Familiar no Brasil
 
Métodos contracetivos
Métodos contracetivosMétodos contracetivos
Métodos contracetivos
 
Métodos Contraceptivos Hormonais ou Químicos
Métodos Contraceptivos Hormonais ou QuímicosMétodos Contraceptivos Hormonais ou Químicos
Métodos Contraceptivos Hormonais ou Químicos
 
Sexualidade
SexualidadeSexualidade
Sexualidade
 
Metodos contracetivos
Metodos contracetivosMetodos contracetivos
Metodos contracetivos
 
Slides saude da mulher
Slides saude da mulherSlides saude da mulher
Slides saude da mulher
 
Trab Higiene Contrac 97 2003
Trab Higiene Contrac   97 2003Trab Higiene Contrac   97 2003
Trab Higiene Contrac 97 2003
 
Aula Planejamento Familiar
Aula Planejamento FamiliarAula Planejamento Familiar
Aula Planejamento Familiar
 
Planeamento familiar
Planeamento familiarPlaneamento familiar
Planeamento familiar
 
Anticoncepcionais Orais e Histerectomia
Anticoncepcionais Orais e HisterectomiaAnticoncepcionais Orais e Histerectomia
Anticoncepcionais Orais e Histerectomia
 
Amenorréia prmfc 2014
Amenorréia prmfc 2014Amenorréia prmfc 2014
Amenorréia prmfc 2014
 
Apresentaçao importante
Apresentaçao importanteApresentaçao importante
Apresentaçao importante
 
Métodos contraceptivos
Métodos contraceptivosMétodos contraceptivos
Métodos contraceptivos
 
Métodos Cotraceptivos.PPT
Métodos Cotraceptivos.PPTMétodos Cotraceptivos.PPT
Métodos Cotraceptivos.PPT
 
Métodos contraceptivos pilula
Métodos contraceptivos pilulaMétodos contraceptivos pilula
Métodos contraceptivos pilula
 
Anticoncepcionais
Anticoncepcionais Anticoncepcionais
Anticoncepcionais
 
Métodos contracetivos
Métodos contracetivosMétodos contracetivos
Métodos contracetivos
 
Pilula anticoncepcional
Pilula anticoncepcionalPilula anticoncepcional
Pilula anticoncepcional
 
Contraceptivos
ContraceptivosContraceptivos
Contraceptivos
 
Saudedamulher
SaudedamulherSaudedamulher
Saudedamulher
 

En vedette

Tálamo, ASPECTO GENERAL. DR. RICHARD SNELL
Tálamo, ASPECTO GENERAL. DR. RICHARD SNELLTálamo, ASPECTO GENERAL. DR. RICHARD SNELL
Tálamo, ASPECTO GENERAL. DR. RICHARD SNELL
Dani Fulanitha
 
present juanma PAEWEEKEND
present juanma PAEWEEKENDpresent juanma PAEWEEKEND
present juanma PAEWEEKEND
PTF
 
Tecnologia das edificações 1
Tecnologia das edificações 1Tecnologia das edificações 1
Tecnologia das edificações 1
Angelino Quissonde
 
Unidad 2 se y atm
Unidad 2 se y atmUnidad 2 se y atm
Unidad 2 se y atm
Cat Lunac
 
Radiologia libro
Radiologia libroRadiologia libro
Radiologia libro
Cat Lunac
 

En vedette (20)

Tálamo, ASPECTO GENERAL. DR. RICHARD SNELL
Tálamo, ASPECTO GENERAL. DR. RICHARD SNELLTálamo, ASPECTO GENERAL. DR. RICHARD SNELL
Tálamo, ASPECTO GENERAL. DR. RICHARD SNELL
 
CAMARA MUNICIPAL DE NOVO HORIZONTE
CAMARA MUNICIPAL DE NOVO HORIZONTECAMARA MUNICIPAL DE NOVO HORIZONTE
CAMARA MUNICIPAL DE NOVO HORIZONTE
 
present juanma PAEWEEKEND
present juanma PAEWEEKENDpresent juanma PAEWEEKEND
present juanma PAEWEEKEND
 
Convite audiência fid de 5 de junho de 2014
Convite audiência fid de 5 de junho de 2014Convite audiência fid de 5 de junho de 2014
Convite audiência fid de 5 de junho de 2014
 
Feedback hambúrguer
Feedback hambúrguerFeedback hambúrguer
Feedback hambúrguer
 
Concurso Público CRF/SP
Concurso Público CRF/SPConcurso Público CRF/SP
Concurso Público CRF/SP
 
Apresentacao negocios Milenium Prime
Apresentacao negocios Milenium PrimeApresentacao negocios Milenium Prime
Apresentacao negocios Milenium Prime
 
Tecnologia das edificações 1
Tecnologia das edificações 1Tecnologia das edificações 1
Tecnologia das edificações 1
 
Unidad 2 se y atm
Unidad 2 se y atmUnidad 2 se y atm
Unidad 2 se y atm
 
VIH / SIDA
VIH / SIDAVIH / SIDA
VIH / SIDA
 
Tribunal Regional Eleitoral da Paraíba
Tribunal Regional Eleitoral da ParaíbaTribunal Regional Eleitoral da Paraíba
Tribunal Regional Eleitoral da Paraíba
 
El plan
El planEl plan
El plan
 
Estopa representacion
Estopa representacionEstopa representacion
Estopa representacion
 
Seguridad informática celia copia
Seguridad informática celia   copiaSeguridad informática celia   copia
Seguridad informática celia copia
 
Valle sánchez cristina
Valle sánchez cristinaValle sánchez cristina
Valle sánchez cristina
 
Análisis de sistemas
Análisis de sistemasAnálisis de sistemas
Análisis de sistemas
 
Radiologia libro
Radiologia libroRadiologia libro
Radiologia libro
 
Recull II Edició Concurs Microrelats MMB
Recull II Edició Concurs Microrelats MMBRecull II Edició Concurs Microrelats MMB
Recull II Edició Concurs Microrelats MMB
 
JavaScript
JavaScriptJavaScript
JavaScript
 
Oriente Médio
Oriente MédioOriente Médio
Oriente Médio
 

Similaire à O fim da sangria

metodos contraceptivos orais
metodos contraceptivos oraismetodos contraceptivos orais
metodos contraceptivos orais
ineslilin
 
Métodos Contraceptivos Pilula
Métodos  Contraceptivos PilulaMétodos  Contraceptivos Pilula
Métodos Contraceptivos Pilula
esas8e
 
MéTodos Contraceptivos Pilula
MéTodos Contraceptivos PilulaMéTodos Contraceptivos Pilula
MéTodos Contraceptivos Pilula
esas8e
 
Métodos contraceptivos pilula
Métodos contraceptivos pilulaMétodos contraceptivos pilula
Métodos contraceptivos pilula
esas8e
 
Métodos contraceptivos pilula
Métodos contraceptivos pilulaMétodos contraceptivos pilula
Métodos contraceptivos pilula
guesta85e86
 
Metodos contraceptivos
Metodos contraceptivosMetodos contraceptivos
Metodos contraceptivos
petehunttoons
 
MéTodos Contraceptivos
MéTodos ContraceptivosMéTodos Contraceptivos
MéTodos Contraceptivos
JoaoBerdeville
 
Seminário métodos contraceptivos 8 ano
Seminário métodos contraceptivos 8 anoSeminário métodos contraceptivos 8 ano
Seminário métodos contraceptivos 8 ano
NTE RJ14/SEEDUC RJ
 
Ludmila oitavo ano - atividade pontuada - métodos
Ludmila   oitavo ano - atividade pontuada - métodosLudmila   oitavo ano - atividade pontuada - métodos
Ludmila oitavo ano - atividade pontuada - métodos
professoraludmila
 

Similaire à O fim da sangria (20)

Pílula
PílulaPílula
Pílula
 
Quebras suplemento
Quebras suplementoQuebras suplemento
Quebras suplemento
 
metodos contraceptivos orais
metodos contraceptivos oraismetodos contraceptivos orais
metodos contraceptivos orais
 
Métodos Contraceptivos Pilula
Métodos  Contraceptivos PilulaMétodos  Contraceptivos Pilula
Métodos Contraceptivos Pilula
 
MéTodos Contraceptivos Pilula
MéTodos Contraceptivos PilulaMéTodos Contraceptivos Pilula
MéTodos Contraceptivos Pilula
 
Métodos contraceptivos pilula
Métodos contraceptivos pilulaMétodos contraceptivos pilula
Métodos contraceptivos pilula
 
Métodos contraceptivos pilula
Métodos contraceptivos pilulaMétodos contraceptivos pilula
Métodos contraceptivos pilula
 
Metodos contraceptivos
Metodos contraceptivosMetodos contraceptivos
Metodos contraceptivos
 
MéTodos Contraceptivos
MéTodos ContraceptivosMéTodos Contraceptivos
MéTodos Contraceptivos
 
Métodos Contracetivos Não Naturais Químicos (Guião)
Métodos Contracetivos Não Naturais Químicos (Guião)Métodos Contracetivos Não Naturais Químicos (Guião)
Métodos Contracetivos Não Naturais Químicos (Guião)
 
Seminário métodos contraceptivos 8 ano
Seminário métodos contraceptivos 8 anoSeminário métodos contraceptivos 8 ano
Seminário métodos contraceptivos 8 ano
 
Métodos Contraceptivos Química
Métodos Contraceptivos QuímicaMétodos Contraceptivos Química
Métodos Contraceptivos Química
 
Ludmila oitavo ano - atividade pontuada - métodos
Ludmila   oitavo ano - atividade pontuada - métodosLudmila   oitavo ano - atividade pontuada - métodos
Ludmila oitavo ano - atividade pontuada - métodos
 
Métodos contraceptivos
Métodos contraceptivos Métodos contraceptivos
Métodos contraceptivos
 
Planejamento Familiar
Planejamento FamiliarPlanejamento Familiar
Planejamento Familiar
 
Metodos contraceptivos
Metodos contraceptivosMetodos contraceptivos
Metodos contraceptivos
 
Métodos Anticoncepcionais
Métodos AnticoncepcionaisMétodos Anticoncepcionais
Métodos Anticoncepcionais
 
aumentar o penis
aumentar o penisaumentar o penis
aumentar o penis
 
Métodos contraceptivos.ppt
Métodos contraceptivos.pptMétodos contraceptivos.ppt
Métodos contraceptivos.ppt
 
10 mitos sobre sexo seguro e saúde sexual
10 mitos sobre sexo seguro e saúde sexual10 mitos sobre sexo seguro e saúde sexual
10 mitos sobre sexo seguro e saúde sexual
 

O fim da sangria

  • 1. O fim da sangria – Implante permite suspender a menstruação Por: Fabiano Ferreira – DiárioWeb Coutinho: “Me sinto orgulhoso por ter erguido essa bandeira.” “Nem tudo que é natural é bom.” As doenças e a morte, por exemplo, são ocorrências naturais e nem por isso as consideramos boas”. Pela frase acima dá para imaginar o quão polêmico é o médico baiano Elsimar Coutinho. Suas críticas à recusa da Igreja Católica aos métodos contraceptivos ou à falta de programas governamentais de planejamento familiar ficam longe da repercussão de sua principal bandeira na medicina: o fim da menstruação. Coutinho é autor do livro “Menstruação – A Sangria Inútil” (Editora Gente), obra que já está na 6ª edição e se propõe a ensinar as mulheres a não menstruar para fugir das dores e complicações causadas pelo sangramento. O ginecologista estuda métodos de supressão da menstruação desde a década de 60, mas suas teses só ganharam repercussão a partir de 1996, quando seu livro foi lançado nos Estados Unidos e na Europa. Contrariando os médicos que consideram a menstruação algo natural, necessário para “limpar” o organismo feminino, Coutinho condena o sangramento apontando-o como principal responsável por doenças como a endometriose, câncer, anemia e diversos problemas causados pela Tensão Pré- Menstrual, a temida TPM. Entre os métodos propostos pelo ginecologista para evitar a menstruação está a utilização do AMP, um anticoncepcional injetável que teria o mesmo efeito da contracepção cirúrgica. Trata-se de uma injeção intramuscular aplicada no braço para que a mulher fique sem menstruar por pelo menos seis meses. “O líquido injetado é um progestínio, que funciona como se a mulher ficasse grávida sem ter o filho”, explica Coutinho em entrevista ao Diário. Considerado um dos maiores expoentes na endocrinologia da reprodução humana, o ginecologista não pestaneja ao afirmar que a menstruação é um castigo para a mulher. “É como se ela fosse obrigada a viver um aborto todos os meses”, diz. Segundo Coutinho, quando a mulher ovula já está grávida do ponto de vista da endocrinologia do seu organismo. A presença do espermatozóide só vai dar continuidade a essa gravidez. “Quando isso não acontece, a mulher tem de abortar e perder o mais precioso dos líquidos, o sangue”, afirma. De acordo com o médico, mais de 50% das mulheres sofrem com a menstruação e mesmo assim a consideram característica indissociável da feminilidade, fertilidade e juventude. Coutinho diz que seus métodos não pretendem mostrar que a natureza está errada, mas sim colocar à disposição das mulheres mais um dos benefícios proporcionados pela ciência. O médico garante que a mulher que opta por suprimir a menstruação pode engravidar normalmente. “Basta parar de tomar a medicação para ovular e engravidar sem nenhum problema”. A possibilidade de não menstruar representa para as mulheres mais um
  • 2. passo rumo à emancipação total. Se num primeiro momento a pílula anticoncepcional foi símbolo de liberdade para decidir entre engravidar ou não, o método para não menstruar coloca a mulher em condição de controle absoluto sobre o corpo e, sobretudo, em relação à saúde. A única contra-indicação para a supressão da menstruação, segundo Coutinho, é a existência de uma doença hereditária chamada hemocromatose (excesso de sangue). Neste caso, se a mulher parar de menstruar terá de fazer sangrias regulares. Pílula do homem Como diretor do CEPARH (Centro de Pesquisa e Assistência em Reprodução Humana), Elsimar Coutinho também é criador de uma pílula anticoncepcional masculina que ainda não está disponível no mercado, mas já foi submetida à aprovação pelo Ministério da Saúde. A novidade inibe a espermatogênese, não permitindo que o espermatozóide seja produzido pelo organismo masculino. “Os espermatozóides são gerados a partir de células da parede do testículo, chamadas de espermatozoneas. O anticoncepcional interfere nesse processo celular e inibe a produção de espermatozóides”, explica. O mais moderno método de contracepção e supressão da menstruação disponível no Brasil é o Elmetrin, desenvolvido pela equipe médica do ginecologista Elsimar Coutinho, diretor do Centro de Pesquisa e Assistência em Reprodução Humana (Ceparh), em Salvador. Durante seis meses, o implante, que pode ser colocado no braço ou nas nádegas, inibe a ovulação e, por conseqüência, evita a menstruação e a gravidez. Já o Uniplant, desenvolvido na Universidade Federal da Bahia, também proporciona a contracepção, por até um ano, mas as mulheres que o adotam sangram regularmente e só se livram da TPM. Coutinho estuda e aplica estes e outros recursos para suspender a menstruação e evitar a gravidez há 30 anos, mas só recentemente está colhendo os frutos de suas descobertas. Atualmente, o médico se divide em atendimentos nos estados da Bahia, São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Distrito Federal. Na semana passada foi eleito presidente da Sociedade Brasileira de Ginecologia Endócrina e está prestes a participar da próxima edição do Congresso Mundial de Ginecologia, no Chile. Coutinho deu a seguinte entrevista ao jornalista Fabiano Ferreira: Existe alguma contra-indicação à opção de não menstruar? Coutinho – Se a mulher está tentando engravidar, precisa ovular. Então, a contra- indicação é só para mulheres que estão tentando engravidar. Se houvesse contra- indicação para não menstruar haveria mulheres que não poderiam entrar na menopausa. Só não deve parar de menstruar a mulher que tem uma doença hereditária chamada hemocromatose, que provoca excesso de ferro no sangue. Se ela suprime as regras tem de proceder como os homens com essa doença, que precisam fazer sangria regularmente. Idade ou estado de saúde, em geral, não são contra-indicações para a mulher que deseja parar de menstruar. Desde a mulher mais jovem à madura podem interromper a menstruação. O senhor acha que o implante é o melhor método para não menstruar? Coutinho – Acho que ele é o mais prático e o que tem menos efeitos colaterais. Os implantes, em geral, oferecem à mulher exatamente o que ela precisa, de acordo com suas condições de saúde e hábitos sexuais, impedindo a gravidez com efeitos mínimos. Um implante que se chama Elmetrin, aprovado pelo Ministério da Saúde, pode ser usado até na lactação, pois funciona como anticoncepcional. Ele é eliminado pelo leite,
  • 3. mas não faz mal à criança. O efeito colateral é não menstruar, um efeito esperado pela mulher que o adota. Está sendo lançado nos Estados Unidos um anticoncepcional trimestral. Qual a diferença dele em relação aos demais? Coutinho – Já existe no mercado brasileiro um medicamento chamado Lovelle, que é de uso vaginal contínuo para não menstruar, durante vários meses ou o ano inteiro, por exemplo. Esse produto tem a mesma composição do que está sendo lançado nos Estados Unidos com o nome de Sazonale. Ele é usado a cada estação, por isso a mulher só menstrua quatro vezes por ano. O Sazonale ainda não está disponível no Brasil, mas qualquer outro anticoncepcional eficiente pode ter o mesmo efeito se usado sem interrupção. As mulheres reclamam da menstruação por causa da Tensão Pré-Menstrual. Quando não menstrua, a mulher fica isenta da TPM? Coutinho – Sim, exceto nas histerectomizadas. Esta operação é indicada quando ocorrem hemorragias muito intensas. Nesse procedimento, ela pode continuar tendo a TPM porque o problema está mais ligado aos ovários do que ao útero. Se a mulher retira o útero, mas deixa o ovário continua com a TPM mesmo sem menstruar. É uma espécie de TPM seca, sem sangramento. Se adota um método para não menstruar, a mulher passa pela tensão? Coutinho – Nos primeiros dias depois do implante ela não sangra, mas ainda tem TPM. Isso porque ela já ovulou e as transformações que se passam no organismo e geram a tensão ocorrem independente da menstruação. A TPM é algo que antecede a menstruação e não que ocorre durante a menstruação. Então, a supressão da menstruação representa o fim da TPM. Os inibidores da ovulação, os anticoncepcionais, acabam com a TPM. Eu prefiro usar implantes de progestínio ou injetáveis, que têm efeito de seis meses ou um ano. Eles suprimem a menstruação e a Tensão Pré- Menstrual. As mulheres que suprimem a ovulação podem engravidar normalmente? Coutinho – Sim. É só suspender o método e engravidar. Pode-se engravidar até com a primeira evolução após a suspensão do método. Nesse caso a mulher não menstrua porque ela emenda o período de não menstruação com a própria gravidez. Ela passa da amenorréia gerada pela medicação para a amenorréia da gestação. Quais os reflexos no organismo da mulher quando ela pára de menstruar? Coutinho – Quando a mulher pára de menstruar adotando um esteróide (composto usado em pílulas anticoncepcionais) ela não sente efeito nenhum. A não ser em casos de esteróides com propriedades particulares como a gestrinona, um dos esteróides que eu uso e que é anabolizante de proteína. Neste caso, as mulheres ficam com mais músculos do que gordura (indicado para mulher atleta). Mas quem usa um implante que não tem anabolizante continua com o mesmo corpo. Depende dos efeitos de cada um dos medicamentos utilizados para inibir a ovulação. Em geral, eles não trazem reflexos. Quais os principais mitos que ainda existem em torno da menstruação? Coutinho – O primeiro mito é de que a menstruação é natural. O segundo é de que ela é boa para a saúde, o que não é verdade. Pelo menos em metade das mulheres ela provoca doenças como anemia, endometriose neumatóide e aumenta o risco de câncer. Por
  • 4. último, existe o mito de que a menstruação não pode ser evitada, mas já estamos acabando com isso. Há também crendices de que durante a menstruação a mulher não pode lavar a cabeça ou tomar sorvete. Infelizmente ainda tem gente que acredita, o que é muita ingenuidade. A sociedade e a mulher, em especial, consideram a menstruação natural. Será que é por isso que sua tese ainda causa tanta polêmica? Coutinho – As pessoas associam algo natural a uma coisa boa. Na realidade, isso não é verdade. Há muita coisa natural que não é boa. A doença, causada por bactérias, por exemplo, é natural e no entanto não é boa. A violência também é natural, pois um bicho come o outro para sobreviver. O bom e o ruim se aplicam de formas diferentes ao conceito de natural. O senhor acredita que a possibilidade de pôr um fim à menstruação é mais uma conquista da mulher rumo à emancipação total? Coutinho – Absolutamente. A mulher tinha uma conquista importante que era a pílula anticoncepcional, que a permite, como o homem, transar sem engravidar. Isso deu enorme liberdade à mulher. Acho que o homem é quem não gostou muito dessas inovações. Menstruar só quando se quer é algo ainda novo para a mulher e me sinto orgulhoso por ter erguido essa bandeira. Como o senhor reage às críticas da Igreja Católica sobre seus métodos contraceptivos? Coutinho – A Igreja já cometeu erros graves e se opor ao uso da contracepção é só mais um deles. É um erro grave querer se envolver com uma questão que diz respeito somente à pessoa. Durante 400 anos, a Igreja Católica teve um poder enorme e, como as pessoas têm fé, aceitam tudo o que prega. É absurdo se opor ao uso da camisinha, porque está se opondo à saúde pública. Isso é anacrônico. O pior é alguém ainda prestar atenção nisso. A maioria dos católicos continua usando anticoncepcionais injetáveis e camisinha. Eles fazem isso porque se tiverem filhos a Igreja vai tomar conta deles? Não vai né? Na sua opinião, o governo é omisso em relação ao planejamento familiar? Coutinho – Sim. O governo brasileiro sempre foi omisso e é muito influenciado pela Igreja. Dentro do Ministério da Saúde tem muita gente da Igreja que ainda opina com mais poder de fogo do que qualquer médico. A CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) é sempre ouvida nesses assuntos. A única coisa que o governo faz de bom é não se meter nas iniciativas privadas para promover o uso da contracepção no planejamento familiar. Mas há governos municipais que colaboram muito. Na Bahia, por exemplo, há um programa que conta com um veículo que vai à periferia para prestar assistência. Graças à iniciativa privada é que estamos conseguindo que haja uma desacelaração no crescimento populacional no Brasil. Infelizmente, hoje só quem tem poder aquisitivo faz planejamento familiar.