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“Boluka Kua Zua” – O Nascer do Sol –
                                          Agosto a Dezembro 2010 - Moçambique




“Assim como o Pai me enviou, eu também vos envio” (João 20:21).
“Anunciar o evangelho é necessidade que se me impõe”. (I Coríntios 9:16).


     Viver a união com Deus e ser missionário, não é privilégio de determinadas pessoas,
mas a essência de ser cristão. É um compromisso de toda a comunidade que envia aquele
que está disposto a ir onde há necessidade de alguém que ofereça seus dons e sua vida ao
serviço dos mais necessitados. Esbater o sofrimento e necessidades dos mais carenciados,
é cumprir a missão universal da Igreja, é ser a face de Jesus!
     Jesus chamou-nos a sair de nós mesmos, a partilhar com os nossos irmãos tudo o
que temos, começando pelo bem mais bonito e sagrado que levamos: a nossa Fé!
     Ser o “outro”, é estar ao lado, escutar, reflectir, orar e partilhar! É ter presente as
circunstâncias específicas do país que nos acolhe, analisar profunda e sabiamente as
necessidades do povo e da Igreja, de modo a colaborar na reestruturação e solidez das
bases sociais que ainda fundamentam as situações de pobreza estrutural e social.
     Agradecer as atenções que Deus nos concede, felizes também com a nossa fé cristã,
com a força e o consolo que se obtêm da amizade e oração que mantemos com Ele. E
agradecendo também a fé, cultura, educação e recursos materiais, desejamos partilhar
tudo com os nossos irmãos mais necessitados.
     Somos missionários quando olhamos e sentimos os problemas de quem clama,
mesmo em silêncio, exigindo de cada um de nós, uma abertura constante, pessoal e
comunitária para responder a estes desafios, tomando a decisão radical de nos
entregarmos totalmente ao reino de Deus em prol da promoção humana.
     Não levar, mas descobrir. Não só dar, mas receber. Não conquistar, mas partilhar e
procurar juntos. Não ser mestre, mas aprendiz da verdade. A missão permite-nos criar
novos laços, novas relações, uma nova forma de olhar a vida.
       "Porque, se anuncio o Evangelho, não tenho de que me gloriar pois que me é
imposta essa obrigação... é um cargo que me está confiado" (1 Cor 9, 16-17). Só o amor



                                                                                          1
de Deus, capaz de irmanar os homens de qualquer raça e cultura, poderá fazer
desaparecer as dolorosas divisões, os contrastes ideológicos, as desigualdades económicas
e os constrangimentos que ainda oprimem a humanidade.
       Escutando a voz da consciência e da responsabilidade, informando-nos e
conhecendo os problemas, confiando na ajuda do Espírito Santo, chegamos pois a este
país cheio de dificuldades, em que a sua grande maioria da população não só é pobre,
mas absolutamente pobre.
       Em Moçambique procuramos os “pobres entre os mais pobres”, e com eles
desejamos desenvolver a nossa acção. Crianças órfãs, abandonadas e perdidas, os
deficientes e idosos, as vítimas de doença, sobretudo da Malária e do HIV/SIDA, e todos
aqueles que não conseguem o sustento para ter uma boa saúde e realizarem as suas
actividades normais, devem receber de nós um sinal de esperança e mais, uma ajuda
eficaz que atenue este estado de coisas.
       “Levantai os olhos e olhai…” (Is 40,26). Levantar os olhos da mente e do coração
para esta realidade, para as pessoas que nos rodeiam, para o país que nos acolhe, são
desafios que nos interpelam a actuar. Esse olhar deve ser de fé na obra do Espírito, que
sempre nos precede e acompanha, de simpatia fraterna para esse povo que gostamos de
chamar “nosso” e a este país que se esforça por sair de três décadas de indescritível
sofrimento e angústia.
       Chegámos à cidade da Beira, movidos e animados por esta alegria e, já avistando
as praias e as copas das palmeiras, enquanto o avião procedia a manobras de aterragem,
colocávamos as pulseiras anti-mosquito nos nossos pulsos! É muito importante que o
nosso contributo e presença não fiquem diminuídos pelo risco de doença, pelo que é
fundamental preservar uma boa saúde. A situação da malária em todo o território é grave,
sendo a primeira causa de morte por doença em Moçambique. Um trabalho eficaz de
prevenção é sempre preferível a qualquer remédio.
       Fomos recebidos pela Irmã Lúcia, das FMM (Franciscanas Missionárias de
Maria) no Aeroporto da Beira, com alegria e percebendo a presença firme e amável de
quem vive constantemente uma vida devotada ao serviço. Sentimos como o ar ainda
carregado de chuva, misturado com a cor da vegetação que nos envolve, nos abraçava
neste primeiro encontro.
       Percebemos que iríamos partilhar com estas Irmãs FMM e viver as mesmas
necessidades e anseios, pois uma missão não é encomendada a ninguém de modo
individual. A referência comunitária não pode faltar nunca. Isto significa que a expressão


                                                                                        2
máxima das possibilidades individuais é cabalmente aproveitada num espírito de projecto
comunitário, no diálogo e formação permanente, para que fermentem na renovação do
povo que nos recebe.
       Estar com Moçambique é percebermos a sua cultura, sentir o seu respirar, de
modo a evangelizar com profundidade e em perfeita sintonia com o seu povo e de mão
dada com a dignidade humana.
       A nossa passagem por Moçambique ligou-se também à Congregação dos Sagrados
Corações de Jesus e Maria. Esta congregação está intimamente ligada, pela sua própria
história, a uma atitude de "faz-de-tudo" que perdura até hoje. Destacam-se os trabalhos
educativos, de formação de seminaristas, missionários em áreas de fronteira de Igreja,
mesmo nas paróquias. A primeira missão “ad gentes” aceite pelo seu Fundador foi a de
Honololú e ilhas Cook, em 1827. Daí o primeiro Beato da Congregação ter morrido
“leproso entre os leprosos” em Molokai, ilha daquele arquipélago.


                                             Na Beira foram incumbidos da gestão do
                                             Instituto de Deficientes Visuais, que acolhe
                                             pessoas cegas de todos os cantos de
                                             Moçambique. O Instituto dá resposta a
                                             crianças e jovens invisuais, muitos deles
                                             vítimas dos problemas gravíssimos na área
                                             da saúde oftalmológica. Verificam-se ainda
                                             muitos casos de cegueira evitáveis por falta
de condições adequadas de diagnóstico e tratamento. Ainda se fica cego para toda a vida
por simples cataratas ou por uma intervenção inadequada da medicina tradicional.


       Cabe referir que muitas das crianças que o instituto acolhe são uma amostra
bastante fiel do ambiente sócio económico cultural da família moçambicana, que luta
ainda tenazmente por melhores condições de vida.
       A nossa acção foi detectar alguns aspectos que de um modo relativamente fácil
poderíamos controlar, aspectos que se prendem com alguma dificuldade em ajustar de
um modo personalizado os instrumentos pedagógicos para garantir o sucesso no
currículo escolar do aluno invisual.




                                                                                       3
Esta missão faz parte do nosso projecto de vida,
                                        assim, apesar do regresso a Portugal de dois de
                                        nós (Miguel e Ana), a ligação a Moçambique e a
                                        tudo o que vivemos e sentimos continua lá.
                                        Num forte abraço de unidade, em terras
                                        portuguesas estamos a fazer a divulgação do
                                        trabalho missionário em várias paróquias do
Algarve, levando esta missão para que também outros irmãos se juntem a esta causa. A
Daniela estará em Moçambique até Dezembro e lá as sementes começam a brotar as
primeiras flores e é com imensa alegria que vamos partilhando todo esse amor.


       A Daniela relata-nos todas as emoções vividas até ao momento presente; é com
ela que ouvimos e sentimos as seguintes linhas carregadas de emoção:
       “Caminhar descalço, andar ao lado... chamamento divino sentido no coração para
dar de nós nesta missão... Um verdadeiro VIVER a realidade. Se é assim mesmo, porque
não conhecer, aprofundar, crescer, amar, sentir os clamores e as dores deste povo, viver
outras formas de ser feliz, dar de nós e aprender com o tanto que têm para nos
ensinar?... um enriquecimento para ambas as partes!


       Moçambique assim me apaixonou, mesmo antes de o conhecer… Natureza pura,
fascinante, um povo extremamente acolhedor, que sabe sorrir, que se alegra com as
coisas mais simples e sabe procurar a beleza... ai como aprendi e estou a aprender com
toda esta experiencia.


       Em articulação com a boa vontade e hospitalidade das Irmãs Franciscanas
Missionarias de Maria de Odiáxere, Lisboa, Maputo e da Beira Alto da Manga onde
estamos alojados), vamos pouco a pouco prestando uma pequena ajuda a quem mais
precisa na comunidade do Alto da Manga. Sempre sonhadores, querendo dar sempre
mais e mais... mas este dar não se trata de um dar material, mas sim de dar a ferramenta
principal O AMOR... mostrar-lhes que nós ocidentais não somos melhores, nem piores,
promovendo um intercâmbio. Não viemos para impor novas estratégias, mas sim, para de
acordo com o que este povo necessita, e de acordo com as suas potencialidades e
motivações prestar-lhes instrumentos, como que se fosse um motor de arranque, para
que eles próprios se autonomizem e contribuam para o seu desenvolvimento.


                                                                                      4
Centro de Saúde de Nhaconjo,
                                                       Centro    Nutricional,     Gabinete
                                                       Psicossocial de Acompanhamento
                                                       de portadores de HIV, Jardim
                                                       Infantil, Internato Pio X, Instituto
                                                       de Deficientes Visuais da Beira...
                                                       Toda     uma   vasta     experiencia,
repleta de histórias para contar... onde nos viemos ENTREGAR!


       Estou cá desde Agosto e regressarei na época de Natal. Cheguei bem
acompanhada com dois amigos que se tornaram meus irmãos nesta missão. Apesar de
terem estado presentes fisicamente apenas no primeiro mês, continuamos fortemente
ligados pelo amor gerado entre nós e pelo amor ao povo moçambicano. Continuamos os
3 em missão, é como se estivessem connosco.
       Muitos sonhos, muitos quereres, muitas pessoas por ajudar, muita ansiedade em
ver resultados... mas tal como diz o provérbio moçambicano A Lua anda devagar, mas dá
a volta ao Mundo. Criação de um projecto de raiz, um projecto que abarque todas estas
instituições acima referidas.
       Ao longo deste tempo que cá estou, tenho também aprendido a esperar. Aos
poucos começam-se a ver pequenos resultados que para nós são grandes conquistas, as
portas começam-se a abrir. Começamos a entrar no ritmo moçambicano, a perceber
melhor as expressões, formas de estar, costumes e tradições, certos aspectos que no inicio
nos soavam estranhos passam a ser vistos com naturalidade, as relações começam-se a
aprofundar... este povo já não nos vê como inicialmente nos via, hóspedes, mas já nos
chamam de amigos e isso sente-se! Duras vidas... olhares sofridos! Mas o que
pessoalmente me custa, é o enorme contraste social e a INDIFERENCA que dai advém.
A Injustiça a olhos nus, a corrupção mesmo à nossa frente... Sentimento de impotência...
Mas estou cá para com o nosso pequeno gesto contrariar esta indiferença, aqui, em
Portugal, ou seja lá onde estiver, pois acredito que o mundo se pode tornar melhor se
todos dermos o nosso contributo.
       A sensação que tenho é que parece que já estou cá há muito mais tempo e em
simultâneo sinto que tudo está a passar tão rápido... tão rápido que já me faz sentir
saudades!




                                                                                          5
Neste momento, eu cá e os meus irmãos Miguel e Ana em Portugal, andamos
empenhados com a criação de um subprojecto de Apadrinhamento de Crianças
Necessitadas. Como posso partilhar esta experiência.
        Fui, em colaboração com um trabalhador do Centro Nutricional, conhecer as
casas e as condições e situações reais em que habitam as crianças que frequentam o
Centro. Grande vontade em ajudar estas famílias, que vivem no limiar da pobreza, com
inúmeras doenças, desde HIV, tuberculose, subnutrição e para agravar fome, muitas
crianças a viver com avós devido ao falecimento dos pais. Apenas conseguem algum
alimento e reforços no Centro Nutrição. Mas e quando receberem alta do Centro, como
será?
        Então, através deste projecto pretendemos angariar padrinhos para dar um
pequeno contributo nos bens de primeira necessidade destas crianças... Em que o Centro
irá receber o dinheiro e irá comprar alimento para entrega mensal às famílias. Temos
muita esperança que estas crianças consigam ter as condições mínimas de dignidade!


        Por aqui, está cada vez mais calor, mas gosto disto... parece que já faz parte de
mim! As descobertas pelos verdadeiros sabores das frutas da época adoçam a minha vida
por cá, bem como todos estes meninos que com simples palavras e gestos me iluminam a
alma!
De Moçambique com amor... “


E nestas palavras sentidas e espontâneas da Daniela, de quem vive profundamente a
entrega e o desejo de que os seus irmãos possam viver de um modo mais digno e
amoroso, com a esperança robustecida em Deus para “agarrar” o futuro, nos revemos e
unimos. Nele, somos UM!


Ana, Daniela e Miguel
BOLUKA KUA ZUA


Diocese de Faro - Franciscanas Missionárias de Maria – Odiáxere


Está disponível o nosso blog, onde poderá acompanhar em pormenor o trabalho
realizado e as perspectivas futuras de acção.
http://bolukakuazua.blogspot.com


                                                                                       6

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Missão em Moçambique

  • 1. “Boluka Kua Zua” – O Nascer do Sol – Agosto a Dezembro 2010 - Moçambique “Assim como o Pai me enviou, eu também vos envio” (João 20:21). “Anunciar o evangelho é necessidade que se me impõe”. (I Coríntios 9:16). Viver a união com Deus e ser missionário, não é privilégio de determinadas pessoas, mas a essência de ser cristão. É um compromisso de toda a comunidade que envia aquele que está disposto a ir onde há necessidade de alguém que ofereça seus dons e sua vida ao serviço dos mais necessitados. Esbater o sofrimento e necessidades dos mais carenciados, é cumprir a missão universal da Igreja, é ser a face de Jesus! Jesus chamou-nos a sair de nós mesmos, a partilhar com os nossos irmãos tudo o que temos, começando pelo bem mais bonito e sagrado que levamos: a nossa Fé! Ser o “outro”, é estar ao lado, escutar, reflectir, orar e partilhar! É ter presente as circunstâncias específicas do país que nos acolhe, analisar profunda e sabiamente as necessidades do povo e da Igreja, de modo a colaborar na reestruturação e solidez das bases sociais que ainda fundamentam as situações de pobreza estrutural e social. Agradecer as atenções que Deus nos concede, felizes também com a nossa fé cristã, com a força e o consolo que se obtêm da amizade e oração que mantemos com Ele. E agradecendo também a fé, cultura, educação e recursos materiais, desejamos partilhar tudo com os nossos irmãos mais necessitados. Somos missionários quando olhamos e sentimos os problemas de quem clama, mesmo em silêncio, exigindo de cada um de nós, uma abertura constante, pessoal e comunitária para responder a estes desafios, tomando a decisão radical de nos entregarmos totalmente ao reino de Deus em prol da promoção humana. Não levar, mas descobrir. Não só dar, mas receber. Não conquistar, mas partilhar e procurar juntos. Não ser mestre, mas aprendiz da verdade. A missão permite-nos criar novos laços, novas relações, uma nova forma de olhar a vida. "Porque, se anuncio o Evangelho, não tenho de que me gloriar pois que me é imposta essa obrigação... é um cargo que me está confiado" (1 Cor 9, 16-17). Só o amor 1
  • 2. de Deus, capaz de irmanar os homens de qualquer raça e cultura, poderá fazer desaparecer as dolorosas divisões, os contrastes ideológicos, as desigualdades económicas e os constrangimentos que ainda oprimem a humanidade. Escutando a voz da consciência e da responsabilidade, informando-nos e conhecendo os problemas, confiando na ajuda do Espírito Santo, chegamos pois a este país cheio de dificuldades, em que a sua grande maioria da população não só é pobre, mas absolutamente pobre. Em Moçambique procuramos os “pobres entre os mais pobres”, e com eles desejamos desenvolver a nossa acção. Crianças órfãs, abandonadas e perdidas, os deficientes e idosos, as vítimas de doença, sobretudo da Malária e do HIV/SIDA, e todos aqueles que não conseguem o sustento para ter uma boa saúde e realizarem as suas actividades normais, devem receber de nós um sinal de esperança e mais, uma ajuda eficaz que atenue este estado de coisas. “Levantai os olhos e olhai…” (Is 40,26). Levantar os olhos da mente e do coração para esta realidade, para as pessoas que nos rodeiam, para o país que nos acolhe, são desafios que nos interpelam a actuar. Esse olhar deve ser de fé na obra do Espírito, que sempre nos precede e acompanha, de simpatia fraterna para esse povo que gostamos de chamar “nosso” e a este país que se esforça por sair de três décadas de indescritível sofrimento e angústia. Chegámos à cidade da Beira, movidos e animados por esta alegria e, já avistando as praias e as copas das palmeiras, enquanto o avião procedia a manobras de aterragem, colocávamos as pulseiras anti-mosquito nos nossos pulsos! É muito importante que o nosso contributo e presença não fiquem diminuídos pelo risco de doença, pelo que é fundamental preservar uma boa saúde. A situação da malária em todo o território é grave, sendo a primeira causa de morte por doença em Moçambique. Um trabalho eficaz de prevenção é sempre preferível a qualquer remédio. Fomos recebidos pela Irmã Lúcia, das FMM (Franciscanas Missionárias de Maria) no Aeroporto da Beira, com alegria e percebendo a presença firme e amável de quem vive constantemente uma vida devotada ao serviço. Sentimos como o ar ainda carregado de chuva, misturado com a cor da vegetação que nos envolve, nos abraçava neste primeiro encontro. Percebemos que iríamos partilhar com estas Irmãs FMM e viver as mesmas necessidades e anseios, pois uma missão não é encomendada a ninguém de modo individual. A referência comunitária não pode faltar nunca. Isto significa que a expressão 2
  • 3. máxima das possibilidades individuais é cabalmente aproveitada num espírito de projecto comunitário, no diálogo e formação permanente, para que fermentem na renovação do povo que nos recebe. Estar com Moçambique é percebermos a sua cultura, sentir o seu respirar, de modo a evangelizar com profundidade e em perfeita sintonia com o seu povo e de mão dada com a dignidade humana. A nossa passagem por Moçambique ligou-se também à Congregação dos Sagrados Corações de Jesus e Maria. Esta congregação está intimamente ligada, pela sua própria história, a uma atitude de "faz-de-tudo" que perdura até hoje. Destacam-se os trabalhos educativos, de formação de seminaristas, missionários em áreas de fronteira de Igreja, mesmo nas paróquias. A primeira missão “ad gentes” aceite pelo seu Fundador foi a de Honololú e ilhas Cook, em 1827. Daí o primeiro Beato da Congregação ter morrido “leproso entre os leprosos” em Molokai, ilha daquele arquipélago. Na Beira foram incumbidos da gestão do Instituto de Deficientes Visuais, que acolhe pessoas cegas de todos os cantos de Moçambique. O Instituto dá resposta a crianças e jovens invisuais, muitos deles vítimas dos problemas gravíssimos na área da saúde oftalmológica. Verificam-se ainda muitos casos de cegueira evitáveis por falta de condições adequadas de diagnóstico e tratamento. Ainda se fica cego para toda a vida por simples cataratas ou por uma intervenção inadequada da medicina tradicional. Cabe referir que muitas das crianças que o instituto acolhe são uma amostra bastante fiel do ambiente sócio económico cultural da família moçambicana, que luta ainda tenazmente por melhores condições de vida. A nossa acção foi detectar alguns aspectos que de um modo relativamente fácil poderíamos controlar, aspectos que se prendem com alguma dificuldade em ajustar de um modo personalizado os instrumentos pedagógicos para garantir o sucesso no currículo escolar do aluno invisual. 3
  • 4. Esta missão faz parte do nosso projecto de vida, assim, apesar do regresso a Portugal de dois de nós (Miguel e Ana), a ligação a Moçambique e a tudo o que vivemos e sentimos continua lá. Num forte abraço de unidade, em terras portuguesas estamos a fazer a divulgação do trabalho missionário em várias paróquias do Algarve, levando esta missão para que também outros irmãos se juntem a esta causa. A Daniela estará em Moçambique até Dezembro e lá as sementes começam a brotar as primeiras flores e é com imensa alegria que vamos partilhando todo esse amor. A Daniela relata-nos todas as emoções vividas até ao momento presente; é com ela que ouvimos e sentimos as seguintes linhas carregadas de emoção: “Caminhar descalço, andar ao lado... chamamento divino sentido no coração para dar de nós nesta missão... Um verdadeiro VIVER a realidade. Se é assim mesmo, porque não conhecer, aprofundar, crescer, amar, sentir os clamores e as dores deste povo, viver outras formas de ser feliz, dar de nós e aprender com o tanto que têm para nos ensinar?... um enriquecimento para ambas as partes! Moçambique assim me apaixonou, mesmo antes de o conhecer… Natureza pura, fascinante, um povo extremamente acolhedor, que sabe sorrir, que se alegra com as coisas mais simples e sabe procurar a beleza... ai como aprendi e estou a aprender com toda esta experiencia. Em articulação com a boa vontade e hospitalidade das Irmãs Franciscanas Missionarias de Maria de Odiáxere, Lisboa, Maputo e da Beira Alto da Manga onde estamos alojados), vamos pouco a pouco prestando uma pequena ajuda a quem mais precisa na comunidade do Alto da Manga. Sempre sonhadores, querendo dar sempre mais e mais... mas este dar não se trata de um dar material, mas sim de dar a ferramenta principal O AMOR... mostrar-lhes que nós ocidentais não somos melhores, nem piores, promovendo um intercâmbio. Não viemos para impor novas estratégias, mas sim, para de acordo com o que este povo necessita, e de acordo com as suas potencialidades e motivações prestar-lhes instrumentos, como que se fosse um motor de arranque, para que eles próprios se autonomizem e contribuam para o seu desenvolvimento. 4
  • 5. Centro de Saúde de Nhaconjo, Centro Nutricional, Gabinete Psicossocial de Acompanhamento de portadores de HIV, Jardim Infantil, Internato Pio X, Instituto de Deficientes Visuais da Beira... Toda uma vasta experiencia, repleta de histórias para contar... onde nos viemos ENTREGAR! Estou cá desde Agosto e regressarei na época de Natal. Cheguei bem acompanhada com dois amigos que se tornaram meus irmãos nesta missão. Apesar de terem estado presentes fisicamente apenas no primeiro mês, continuamos fortemente ligados pelo amor gerado entre nós e pelo amor ao povo moçambicano. Continuamos os 3 em missão, é como se estivessem connosco. Muitos sonhos, muitos quereres, muitas pessoas por ajudar, muita ansiedade em ver resultados... mas tal como diz o provérbio moçambicano A Lua anda devagar, mas dá a volta ao Mundo. Criação de um projecto de raiz, um projecto que abarque todas estas instituições acima referidas. Ao longo deste tempo que cá estou, tenho também aprendido a esperar. Aos poucos começam-se a ver pequenos resultados que para nós são grandes conquistas, as portas começam-se a abrir. Começamos a entrar no ritmo moçambicano, a perceber melhor as expressões, formas de estar, costumes e tradições, certos aspectos que no inicio nos soavam estranhos passam a ser vistos com naturalidade, as relações começam-se a aprofundar... este povo já não nos vê como inicialmente nos via, hóspedes, mas já nos chamam de amigos e isso sente-se! Duras vidas... olhares sofridos! Mas o que pessoalmente me custa, é o enorme contraste social e a INDIFERENCA que dai advém. A Injustiça a olhos nus, a corrupção mesmo à nossa frente... Sentimento de impotência... Mas estou cá para com o nosso pequeno gesto contrariar esta indiferença, aqui, em Portugal, ou seja lá onde estiver, pois acredito que o mundo se pode tornar melhor se todos dermos o nosso contributo. A sensação que tenho é que parece que já estou cá há muito mais tempo e em simultâneo sinto que tudo está a passar tão rápido... tão rápido que já me faz sentir saudades! 5
  • 6. Neste momento, eu cá e os meus irmãos Miguel e Ana em Portugal, andamos empenhados com a criação de um subprojecto de Apadrinhamento de Crianças Necessitadas. Como posso partilhar esta experiência. Fui, em colaboração com um trabalhador do Centro Nutricional, conhecer as casas e as condições e situações reais em que habitam as crianças que frequentam o Centro. Grande vontade em ajudar estas famílias, que vivem no limiar da pobreza, com inúmeras doenças, desde HIV, tuberculose, subnutrição e para agravar fome, muitas crianças a viver com avós devido ao falecimento dos pais. Apenas conseguem algum alimento e reforços no Centro Nutrição. Mas e quando receberem alta do Centro, como será? Então, através deste projecto pretendemos angariar padrinhos para dar um pequeno contributo nos bens de primeira necessidade destas crianças... Em que o Centro irá receber o dinheiro e irá comprar alimento para entrega mensal às famílias. Temos muita esperança que estas crianças consigam ter as condições mínimas de dignidade! Por aqui, está cada vez mais calor, mas gosto disto... parece que já faz parte de mim! As descobertas pelos verdadeiros sabores das frutas da época adoçam a minha vida por cá, bem como todos estes meninos que com simples palavras e gestos me iluminam a alma! De Moçambique com amor... “ E nestas palavras sentidas e espontâneas da Daniela, de quem vive profundamente a entrega e o desejo de que os seus irmãos possam viver de um modo mais digno e amoroso, com a esperança robustecida em Deus para “agarrar” o futuro, nos revemos e unimos. Nele, somos UM! Ana, Daniela e Miguel BOLUKA KUA ZUA Diocese de Faro - Franciscanas Missionárias de Maria – Odiáxere Está disponível o nosso blog, onde poderá acompanhar em pormenor o trabalho realizado e as perspectivas futuras de acção. http://bolukakuazua.blogspot.com 6