SlideShare une entreprise Scribd logo
1  sur  32
A relação entre Ernst Mach e Einstein




Seminário – Filosofia da Ciência – Faculdade de Filosofia da Universidade de
                              São Paulo (USP)
                      Aluno (ouvinte): Bruno de Pierro
                        Professor: Osvaldo Pessoa Jr.
                                Junho / 2012
Os Dois Perfis de Mach
Na análise do filósofo Paul Feyerabend – Adeus à Razão (1987)




      O Físico                             O Epistemólogo

            Crítica ao                                 As sensações
             Espaço                                   são “tijolos do
            Absoluto                                   mundo real”
DEPOIMENTO DE EINSTEIN
"vejo a grandeza de Mach em seu ceticismo e
  independência incorruptíveis; nos meus anos
  mais jovens, no entanto, a posição
  epistemológica de Mach também me
  influenciou muito - uma posição que hoje me
  parece essencialmente insustentável”.
Nos últimos anos de vida, Einstein
    aceitava as críticas de Mach à
         física, mas não a posição
                   epistemológica.
Mach argumentou em defesa de princípios
intuitivamente plausíveis e contra uma
abordagem indutiva em uma série de passos.




              Para Mach, agir assim não
                  era um erro, pois se o
                                 fosse...
“Então todos estaríamos
compartilhando dele. Além disso, é
certo que só o instinto mais
forte, combinado com o poder
conceitual também mais forte, pode
fazer de uma pessoa um grande
cientista".
Trata-se, portanto, de:

    • Reconstruir ativamente os fatos...
1

    • ...com a ajuda de conceitos exatos e ...
2

    • ...controlá-los de maneira científica
3
E Einstein fez uso de
 princípios.
Ao enfrentar uma situação difícil, ele tentou
descobrir leis verdadeiras por meio de
esforços construtivos baseados em fatos
conhecidos, mas perdeu a esperança de
conseguir sucesso dessa maneira. Guiado pelo
exemplo da termodinâmica, que começa com
princípios e não fatos, ele se convenceu de
que apenas a descoberta de um princípio
universal levaria a resultados seguros.
O experimento mental
Se eu perseguir um raio de luz
com a velocidade C (a
velocidade da luz no
vácuo), devo observar esse raio
de luz como se fosse um campo
eletromagnético oscilando
espacialmente em repouso.




                                  No entanto, parece não
                                  haver tal coisa, seja com
                                  base na experiência, seja de
                                  acordo com as equações de
                                  Maxwell
Isso tem a ver com o que Mach
          escreveu certa vez:

"não importa se o experimento é realmente
 realizado, se já não houver dúvida quanto
 a seu sucesso".

Completando depois que esse procedimento
está adequado à economia de pensamento e à
            estética da ciência.
Mach: "realmente, a ansiedade para
provar leva a um rigor falso e
erroneamente concebido; algumas
declarações são consideradas mais
seguras e como a base necessária e
incontestável para outras, embora
apenas a mesma certeza ou até um
grau menor dela".
Einstein e Mach concordavam, no entanto, os
princípios devem ser capazes de ser testados pela
experiência, e é preciso que isso ocorra. O
perigo, porém, está na ameaça de novas
experiências, que trazem fator novo ao princípio.
O Princípio de Mach
3.A rotação do balde
                                         vai-se gradualmente
                                         comunicando à água
1.O balde roda mas                         (por atrito), que
    a água não                            começa também a
                                                 rodar




                     2.A superfície da
                     água mantem-se
                           plana
                                                   A sua superfície deforma-se, elevando-se no
                                              bordo, adquirindo uma forma côncava, devido à força
                                              centrífuga. Quanto mais depressa rodar o balde mais
                                             pronunciada será esta forma côncava.Pára-se o balde. A
                                                água continua a rodar e a sua superfície mantém a
                                               forma côncava. A água regressa gradualmente à sua
         balde                                posição de equilíbrio, novamente com uma superfície
                                                                      plana.
• Newton explica a deformação da superfície da
  água, atribuindo-a à força centrífuga que se desenvolve
  relativamente ao espaço absoluto. No entanto, diz
  Einstein, o espaço absoluto é uma pura abstração, não
  é observável, e fica por explicar a verdadeira causa da
  elevação da água no bordo.

• Mach atribui esta elevação à presença das outras
  massas do universo. A água roda, não apenas
  relativamente ao balde, mas também relativamente a
  todas as outras massas - estas podem, por isso, ser
  consideradas como a causa da força centrífuga.
Do ponto de vista do balde e da água é todo o
universo que roda.

De acordo com Mach, a força centrífuga
é, portanto, um efeito gravitacional dinâmico
das massas que rodam.
OU SEJA,
Na concepção de Mach, o espaço absoluto
deve ser substituído por uma abordagem
relativista, em que qualquer movimento -
uniforme ou acelerado - só faz sentido quando
colocado em referência a outro corpo. Ou
seja, no caso da água, deve-se especificar se
ela está rodando em relação ao balde ou em
relação à Terra ou em relação às estrelas.
Mas se todo movimento é
relativo, como podemos medir a
      inércia de um corpo?
• Segundo Mach, o observador deve sentir a
  necessidade de conhecimento das conexões imediatas
  das massas do universo. Irá pairar antes dele como
  uma visão ideal para os princípios de toda matéria, a
  partir do qual movimentos acelerados e de inércia
  resultarão da mesma maneira.
• Einstein interpretava o Princípio de Mach assim:
  inércia é originada de um tipo de interação entre
  corpos.
• Aliás, foi Einstein quem primeiro cunhou o termo
  Princípio de Mach
Este é o filósofo da Ciência   Paul
Feyerabend –
austríaco, escreveu o clássico Contra o
Método. Morreu em 1994
Mach poderia ter concordado com essa interpretação
                                                              restrita, pois ele não só observou como enfatizou o
  Einstein deu ênfase ao caráter fictício dos princípios
                                                                conflito (lógico) entre princípios e experimentos
   gerais. Ele quis dizer que não há nenhum caminho
                                                                especiais e aconselhou cientistas a adaptarem os
        lógico a partir da experiência (e isso, para
                                                            últimos aos primeiros e não o contrário. Mas Mach não
ele, significava sensações imediatas) para os princípios.
                                                              admitia que os princípios eram “criados livremente
                                                                               pela mente humana”.




                                                                Falar de “criações livres” desconsidera essa rede
     Talvez iremos então perceber que as primeiras           complexa de determinantes, substituindo-a por uma
      estruturas que surgiram eram inconsciente e             descrição ingênua e fictícia e engana o pesquisador
 biologicamente forçadas sobre os seres humanos por           sobre sua tarefa. Pois – e esse é o alerta de Mach –
  circunstâncias materiais e que seu valor só pôde ser      qualquer encadeamento de pensamento que se afaste
reconhecido depois de elas terem começado a existir e          do instinto perde contato com a realidade e causa
                  de se provarem úteis.                         “excessos irreais e tristes e monstruosas teorias
                                                                                     especiais”
No livro “Como Vejo o Mundo”
(1953), Einstein diz:

 O método do teórico implica que, como base
 em todas as hipóteses, ele utilize aquilo que se
 chamam princípios, a partir dos quais pode
 deduzir consequências. Sua atividade portanto
 se divide principalmente em duas partes. Em
 primeiro lugar, tem de procurar estes princípios
 e em seguida desenvolver as consequências
 inerentes a eles. Para a execução do segundo
 trabalho recebe na escola excelentes
 instrumentos (...) O pesquisador tem antes que
 espiar, se assim se pode dizer, os princípios
 gerais da natureza, enquanto detecta, através
 dos grandes conjuntos de fatos
 experimentais, os traços gerais e exatos que
 poderão ser explicitados nitidamente.
E diz mais...
Princípios lógicos e bem formulados chegam a consequências total ou quase totalmente
 exteriores aos limites do domínio atualmente acessível a nossa experiência. Então, por
longos anos, se fará necessário um trabalho empírico, às apalpadelas, para afirmar que
                  os princípios da teoria poderiam descrever a realidade.

                  EIS A EXATA SITUAÇÃO DA TEORIA DA RELATIVIDADE

    A reflexão sobre os conceitos fundamentais de tempo e espaço provou-nos que o
princípio da constância da velocidade da luz no vácuo, que se deduz da ótica dos corpos
em movimento, absolutamente não nos obriga a aceitar a teoria de um éter imóvel (...)
 As leis naturais não se modificam quanto à forma, quando se abandona um sistema de
coordenadas original (experimentado) por um novo sistema, que efetua um movimento
     de translação uniforme ao primeiro. (...) Mas por outro lado essa teoria ainda é
  insuficiente, porque o princípio de relatividade privilegia o movimento uniforme. Do
      ponto de vista físico, sem dúvida não se pode atribuir um sentido absoluto ao
movimento uniforme (...) Ora, se se toma o princípio da relatividade no sentido lato, foi
  demonstrado que se obtém uma extensão indefinida da teoria da relatividade. Assim
         somos conduzidos a uma teoria geral da gravitação, incluindo a dinâmica.
FÍSICA INDUTIVA X FÍSICA DEDUTIVA
Einstein:

   “A física indutiva questiona a física
                 dedutiva”
  A indução é o raciocínio que, após considerar um número suficiente de casos
particulares, conclui uma verdade geral. A indução, ao contrário da dedução, parte
                  da experiência sensível, dos dados particulares.
Os físicos da época de Newton acreditavam que os conceitos e as leis
   fundamentais da física não constituem, no sentido lógico, criações
   espontâneas do espírito humano, mas antes que se pode deduzí-los por
   abstração, portanto por um recurso da lógica.  Base absolutamente
   fictícia.
Einstein: “Toda tentativa de deduzir logicamente, a partir de experiências
   elementares, os conceitos e as leis fundamentais da mecânica está voltada
   ao malogro (fracasso)”.
Einstein: “Estou convencido de que a construção exclusivamente matemática
   nos permite encontrar os conceitos e os princípios que os ligam entre si.
   Dão-nos a possibilidade de compreender os fenômenos naturais. Os
   conceitos matemáticos utilizáveis podem ser sugeridos pela
   experiência, porém em caso algum deduzidos. Naturalmente a experiência
   se impõem como único critério de utilização de uma construção
   matemática para a física. Mas o princípio fundamentalmente criador está
   na Matemática”.
• Os argumentos físicos de Mach constituem
  filosofia da Ciência que difere do
  positivismo, está de acordo com a prática de
  pesquisa de Einstein .

• Quando Mach e Einstein divergiam, era
  Einstein que falava sobre
  positivismo, enquanto Mach dava uma
  descrição mais complexa do conhecimento
  científico e do senso comum.
A influência de Mach nas ideias de Einstein sobre relatividade

Contenu connexe

Tendances

Metais na Arquitetura.
Metais na Arquitetura.Metais na Arquitetura.
Metais na Arquitetura.Chawana Bastos
 
Arte ao redor de 1900
Arte ao redor de 1900Arte ao redor de 1900
Arte ao redor de 1900Ana Barreiros
 
Arte moderna e contemporânea (anos 40, 50, 60,70)
Arte moderna e contemporânea (anos 40, 50, 60,70)Arte moderna e contemporânea (anos 40, 50, 60,70)
Arte moderna e contemporânea (anos 40, 50, 60,70)João Alberto Rodrigues
 
A Leiteira Vermeer
A Leiteira VermeerA Leiteira Vermeer
A Leiteira VermeerAna Nunes
 
Renascimento e Humanismo Definições e Curiosidades Ocultismo na Renascença
Renascimento e Humanismo Definições e Curiosidades Ocultismo na RenascençaRenascimento e Humanismo Definições e Curiosidades Ocultismo na Renascença
Renascimento e Humanismo Definições e Curiosidades Ocultismo na RenascençaCRAFTA
 
1ª Revolução Industrial
1ª Revolução Industrial1ª Revolução Industrial
1ª Revolução IndustrialLaerciolns12
 
Vocabulário da construção
Vocabulário da construçãoVocabulário da construção
Vocabulário da construçãohomertc
 
A Cultura do Salão: tempo, espaço e local
A Cultura do Salão: tempo, espaço e localA Cultura do Salão: tempo, espaço e local
A Cultura do Salão: tempo, espaço e localHca Faro
 
Ritmos de músicas internacional
Ritmos de músicas internacionalRitmos de músicas internacional
Ritmos de músicas internacionalGeorge Araujo
 
Módulo 7 a arte rococó
Módulo 7   a arte rococóMódulo 7   a arte rococó
Módulo 7 a arte rococóCarla Freitas
 

Tendances (20)

Metais na Arquitetura.
Metais na Arquitetura.Metais na Arquitetura.
Metais na Arquitetura.
 
Estudo de Caso Museu Bilbao
Estudo de Caso Museu BilbaoEstudo de Caso Museu Bilbao
Estudo de Caso Museu Bilbao
 
Arte ao redor de 1900
Arte ao redor de 1900Arte ao redor de 1900
Arte ao redor de 1900
 
Neoclassicismo
NeoclassicismoNeoclassicismo
Neoclassicismo
 
Arte moderna e contemporânea (anos 40, 50, 60,70)
Arte moderna e contemporânea (anos 40, 50, 60,70)Arte moderna e contemporânea (anos 40, 50, 60,70)
Arte moderna e contemporânea (anos 40, 50, 60,70)
 
A Leiteira Vermeer
A Leiteira VermeerA Leiteira Vermeer
A Leiteira Vermeer
 
Renascimento e Humanismo Definições e Curiosidades Ocultismo na Renascença
Renascimento e Humanismo Definições e Curiosidades Ocultismo na RenascençaRenascimento e Humanismo Definições e Curiosidades Ocultismo na Renascença
Renascimento e Humanismo Definições e Curiosidades Ocultismo na Renascença
 
Proporção
ProporçãoProporção
Proporção
 
Design: Bauhaus
Design: BauhausDesign: Bauhaus
Design: Bauhaus
 
1ª Revolução Industrial
1ª Revolução Industrial1ª Revolução Industrial
1ª Revolução Industrial
 
Vocabulário da construção
Vocabulário da construçãoVocabulário da construção
Vocabulário da construção
 
Vitral
VitralVitral
Vitral
 
Ceramica grega
Ceramica gregaCeramica grega
Ceramica grega
 
Lajes nervuradas
Lajes nervuradasLajes nervuradas
Lajes nervuradas
 
A Cultura do Salão: tempo, espaço e local
A Cultura do Salão: tempo, espaço e localA Cultura do Salão: tempo, espaço e local
A Cultura do Salão: tempo, espaço e local
 
Modulo 9 de HCA
Modulo 9 de HCAModulo 9 de HCA
Modulo 9 de HCA
 
Walter gropius
Walter gropiusWalter gropius
Walter gropius
 
Arquitetura do Ferro
Arquitetura do FerroArquitetura do Ferro
Arquitetura do Ferro
 
Ritmos de músicas internacional
Ritmos de músicas internacionalRitmos de músicas internacional
Ritmos de músicas internacional
 
Módulo 7 a arte rococó
Módulo 7   a arte rococóMódulo 7   a arte rococó
Módulo 7 a arte rococó
 

Similaire à A influência de Mach nas ideias de Einstein sobre relatividade

Deus não joga aos dados - Horizon FCUL 0
Deus não joga aos dados - Horizon FCUL 0Deus não joga aos dados - Horizon FCUL 0
Deus não joga aos dados - Horizon FCUL 0HorizonFCUL
 
Aula 03 teoria da relatividade - partes 3 e 4
Aula 03   teoria da relatividade - partes 3 e 4Aula 03   teoria da relatividade - partes 3 e 4
Aula 03 teoria da relatividade - partes 3 e 4cristbarb
 
Teoria da relatividade
Teoria da relatividadeTeoria da relatividade
Teoria da relatividadedjquimica
 
Teoria da relatividade
Teoria da relatividadeTeoria da relatividade
Teoria da relatividade123djenani
 
Teoria da relatividade
Teoria da relatividadeTeoria da relatividade
Teoria da relatividade123djenani
 
Teoria da relatividade
Teoria da relatividadeTeoria da relatividade
Teoria da relatividade123djenani
 
Interferometria, interpretação e intuição: Uma introdução conceitual à fisica...
Interferometria, interpretação e intuição: Uma introdução conceitual à fisica...Interferometria, interpretação e intuição: Uma introdução conceitual à fisica...
Interferometria, interpretação e intuição: Uma introdução conceitual à fisica...Angela De Almeida
 
Contra o método resenha 3
Contra o método resenha 3Contra o método resenha 3
Contra o método resenha 3CIRINEU COSTA
 
Cartilha Inércia e a Primeira Lei de Newton
Cartilha Inércia e a Primeira Lei de NewtonCartilha Inércia e a Primeira Lei de Newton
Cartilha Inércia e a Primeira Lei de NewtonWellington Sampaio
 
Hawking, Stephen o-projeto-monumental
Hawking, Stephen o-projeto-monumentalHawking, Stephen o-projeto-monumental
Hawking, Stephen o-projeto-monumentalCláudio Ferreira
 
A virada de jogo einstein
A virada de jogo einsteinA virada de jogo einstein
A virada de jogo einsteinCamilaMConcilio
 
História da natureza da luz
História da natureza da luzHistória da natureza da luz
História da natureza da luzbloguedaesag
 
Fisica moderna ( resumo e exercícios) dezembro 2012
Fisica moderna ( resumo e exercícios) dezembro 2012Fisica moderna ( resumo e exercícios) dezembro 2012
Fisica moderna ( resumo e exercícios) dezembro 2012Ivys Urquiza
 
( Espiritismo) # - aureo - hernani t sant'anna - universo e vida # cap 12 v...
( Espiritismo)   # - aureo - hernani t sant'anna - universo e vida # cap 12 v...( Espiritismo)   # - aureo - hernani t sant'anna - universo e vida # cap 12 v...
( Espiritismo) # - aureo - hernani t sant'anna - universo e vida # cap 12 v...Instituto de Psicobiofísica Rama Schain
 
7182651 bachelard-gaston-a-formacao-do-espirito-cientifico
7182651 bachelard-gaston-a-formacao-do-espirito-cientifico7182651 bachelard-gaston-a-formacao-do-espirito-cientifico
7182651 bachelard-gaston-a-formacao-do-espirito-cientificojorge2_santos
 
BACHELARD,_Gaston._A_Formação_do_Espírito_Científico
BACHELARD,_Gaston._A_Formação_do_Espírito_CientíficoBACHELARD,_Gaston._A_Formação_do_Espírito_Científico
BACHELARD,_Gaston._A_Formação_do_Espírito_CientíficoGoiamerico Felicio
 

Similaire à A influência de Mach nas ideias de Einstein sobre relatividade (20)

Deus não joga aos dados - Horizon FCUL 0
Deus não joga aos dados - Horizon FCUL 0Deus não joga aos dados - Horizon FCUL 0
Deus não joga aos dados - Horizon FCUL 0
 
apresentacao (1).ppt
apresentacao (1).pptapresentacao (1).ppt
apresentacao (1).ppt
 
Aula 03 teoria da relatividade - partes 3 e 4
Aula 03   teoria da relatividade - partes 3 e 4Aula 03   teoria da relatividade - partes 3 e 4
Aula 03 teoria da relatividade - partes 3 e 4
 
Teoria da relatividade
Teoria da relatividadeTeoria da relatividade
Teoria da relatividade
 
Teoria da relatividade
Teoria da relatividadeTeoria da relatividade
Teoria da relatividade
 
Teoria da relatividade
Teoria da relatividadeTeoria da relatividade
Teoria da relatividade
 
Teoria da relatividade
Teoria da relatividadeTeoria da relatividade
Teoria da relatividade
 
Interferometria, interpretação e intuição: Uma introdução conceitual à fisica...
Interferometria, interpretação e intuição: Uma introdução conceitual à fisica...Interferometria, interpretação e intuição: Uma introdução conceitual à fisica...
Interferometria, interpretação e intuição: Uma introdução conceitual à fisica...
 
Contra o método resenha 3
Contra o método resenha 3Contra o método resenha 3
Contra o método resenha 3
 
O ser quantico
O ser quanticoO ser quantico
O ser quantico
 
Vya quantica-tudo
Vya quantica-tudoVya quantica-tudo
Vya quantica-tudo
 
Cartilha Inércia e a Primeira Lei de Newton
Cartilha Inércia e a Primeira Lei de NewtonCartilha Inércia e a Primeira Lei de Newton
Cartilha Inércia e a Primeira Lei de Newton
 
Hawking, Stephen o-projeto-monumental
Hawking, Stephen o-projeto-monumentalHawking, Stephen o-projeto-monumental
Hawking, Stephen o-projeto-monumental
 
A virada de jogo einstein
A virada de jogo einsteinA virada de jogo einstein
A virada de jogo einstein
 
( Espiritismo) # - alexandre f fonseca - fisica quantica e espiritismo i
( Espiritismo)   # - alexandre f fonseca - fisica quantica e espiritismo i( Espiritismo)   # - alexandre f fonseca - fisica quantica e espiritismo i
( Espiritismo) # - alexandre f fonseca - fisica quantica e espiritismo i
 
História da natureza da luz
História da natureza da luzHistória da natureza da luz
História da natureza da luz
 
Fisica moderna ( resumo e exercícios) dezembro 2012
Fisica moderna ( resumo e exercícios) dezembro 2012Fisica moderna ( resumo e exercícios) dezembro 2012
Fisica moderna ( resumo e exercícios) dezembro 2012
 
( Espiritismo) # - aureo - hernani t sant'anna - universo e vida # cap 12 v...
( Espiritismo)   # - aureo - hernani t sant'anna - universo e vida # cap 12 v...( Espiritismo)   # - aureo - hernani t sant'anna - universo e vida # cap 12 v...
( Espiritismo) # - aureo - hernani t sant'anna - universo e vida # cap 12 v...
 
7182651 bachelard-gaston-a-formacao-do-espirito-cientifico
7182651 bachelard-gaston-a-formacao-do-espirito-cientifico7182651 bachelard-gaston-a-formacao-do-espirito-cientifico
7182651 bachelard-gaston-a-formacao-do-espirito-cientifico
 
BACHELARD,_Gaston._A_Formação_do_Espírito_Científico
BACHELARD,_Gaston._A_Formação_do_Espírito_CientíficoBACHELARD,_Gaston._A_Formação_do_Espírito_Científico
BACHELARD,_Gaston._A_Formação_do_Espírito_Científico
 

A influência de Mach nas ideias de Einstein sobre relatividade

  • 1. A relação entre Ernst Mach e Einstein Seminário – Filosofia da Ciência – Faculdade de Filosofia da Universidade de São Paulo (USP) Aluno (ouvinte): Bruno de Pierro Professor: Osvaldo Pessoa Jr. Junho / 2012
  • 2. Os Dois Perfis de Mach Na análise do filósofo Paul Feyerabend – Adeus à Razão (1987) O Físico O Epistemólogo Crítica ao As sensações Espaço são “tijolos do Absoluto mundo real”
  • 3. DEPOIMENTO DE EINSTEIN "vejo a grandeza de Mach em seu ceticismo e independência incorruptíveis; nos meus anos mais jovens, no entanto, a posição epistemológica de Mach também me influenciou muito - uma posição que hoje me parece essencialmente insustentável”.
  • 4. Nos últimos anos de vida, Einstein aceitava as críticas de Mach à física, mas não a posição epistemológica.
  • 5. Mach argumentou em defesa de princípios intuitivamente plausíveis e contra uma abordagem indutiva em uma série de passos. Para Mach, agir assim não era um erro, pois se o fosse...
  • 6. “Então todos estaríamos compartilhando dele. Além disso, é certo que só o instinto mais forte, combinado com o poder conceitual também mais forte, pode fazer de uma pessoa um grande cientista".
  • 7. Trata-se, portanto, de: • Reconstruir ativamente os fatos... 1 • ...com a ajuda de conceitos exatos e ... 2 • ...controlá-los de maneira científica 3
  • 8. E Einstein fez uso de princípios.
  • 9. Ao enfrentar uma situação difícil, ele tentou descobrir leis verdadeiras por meio de esforços construtivos baseados em fatos conhecidos, mas perdeu a esperança de conseguir sucesso dessa maneira. Guiado pelo exemplo da termodinâmica, que começa com princípios e não fatos, ele se convenceu de que apenas a descoberta de um princípio universal levaria a resultados seguros.
  • 10. O experimento mental Se eu perseguir um raio de luz com a velocidade C (a velocidade da luz no vácuo), devo observar esse raio de luz como se fosse um campo eletromagnético oscilando espacialmente em repouso. No entanto, parece não haver tal coisa, seja com base na experiência, seja de acordo com as equações de Maxwell
  • 11. Isso tem a ver com o que Mach escreveu certa vez: "não importa se o experimento é realmente realizado, se já não houver dúvida quanto a seu sucesso". Completando depois que esse procedimento está adequado à economia de pensamento e à estética da ciência.
  • 12. Mach: "realmente, a ansiedade para provar leva a um rigor falso e erroneamente concebido; algumas declarações são consideradas mais seguras e como a base necessária e incontestável para outras, embora apenas a mesma certeza ou até um grau menor dela".
  • 13. Einstein e Mach concordavam, no entanto, os princípios devem ser capazes de ser testados pela experiência, e é preciso que isso ocorra. O perigo, porém, está na ameaça de novas experiências, que trazem fator novo ao princípio.
  • 15.
  • 16. 3.A rotação do balde vai-se gradualmente comunicando à água 1.O balde roda mas (por atrito), que a água não começa também a rodar 2.A superfície da água mantem-se plana A sua superfície deforma-se, elevando-se no bordo, adquirindo uma forma côncava, devido à força centrífuga. Quanto mais depressa rodar o balde mais pronunciada será esta forma côncava.Pára-se o balde. A água continua a rodar e a sua superfície mantém a forma côncava. A água regressa gradualmente à sua balde posição de equilíbrio, novamente com uma superfície plana.
  • 17. • Newton explica a deformação da superfície da água, atribuindo-a à força centrífuga que se desenvolve relativamente ao espaço absoluto. No entanto, diz Einstein, o espaço absoluto é uma pura abstração, não é observável, e fica por explicar a verdadeira causa da elevação da água no bordo. • Mach atribui esta elevação à presença das outras massas do universo. A água roda, não apenas relativamente ao balde, mas também relativamente a todas as outras massas - estas podem, por isso, ser consideradas como a causa da força centrífuga.
  • 18. Do ponto de vista do balde e da água é todo o universo que roda. De acordo com Mach, a força centrífuga é, portanto, um efeito gravitacional dinâmico das massas que rodam.
  • 20. Na concepção de Mach, o espaço absoluto deve ser substituído por uma abordagem relativista, em que qualquer movimento - uniforme ou acelerado - só faz sentido quando colocado em referência a outro corpo. Ou seja, no caso da água, deve-se especificar se ela está rodando em relação ao balde ou em relação à Terra ou em relação às estrelas.
  • 21. Mas se todo movimento é relativo, como podemos medir a inércia de um corpo?
  • 22. • Segundo Mach, o observador deve sentir a necessidade de conhecimento das conexões imediatas das massas do universo. Irá pairar antes dele como uma visão ideal para os princípios de toda matéria, a partir do qual movimentos acelerados e de inércia resultarão da mesma maneira. • Einstein interpretava o Princípio de Mach assim: inércia é originada de um tipo de interação entre corpos. • Aliás, foi Einstein quem primeiro cunhou o termo Princípio de Mach
  • 23. Este é o filósofo da Ciência Paul Feyerabend – austríaco, escreveu o clássico Contra o Método. Morreu em 1994
  • 24. Mach poderia ter concordado com essa interpretação restrita, pois ele não só observou como enfatizou o Einstein deu ênfase ao caráter fictício dos princípios conflito (lógico) entre princípios e experimentos gerais. Ele quis dizer que não há nenhum caminho especiais e aconselhou cientistas a adaptarem os lógico a partir da experiência (e isso, para últimos aos primeiros e não o contrário. Mas Mach não ele, significava sensações imediatas) para os princípios. admitia que os princípios eram “criados livremente pela mente humana”. Falar de “criações livres” desconsidera essa rede Talvez iremos então perceber que as primeiras complexa de determinantes, substituindo-a por uma estruturas que surgiram eram inconsciente e descrição ingênua e fictícia e engana o pesquisador biologicamente forçadas sobre os seres humanos por sobre sua tarefa. Pois – e esse é o alerta de Mach – circunstâncias materiais e que seu valor só pôde ser qualquer encadeamento de pensamento que se afaste reconhecido depois de elas terem começado a existir e do instinto perde contato com a realidade e causa de se provarem úteis. “excessos irreais e tristes e monstruosas teorias especiais”
  • 25. No livro “Como Vejo o Mundo” (1953), Einstein diz: O método do teórico implica que, como base em todas as hipóteses, ele utilize aquilo que se chamam princípios, a partir dos quais pode deduzir consequências. Sua atividade portanto se divide principalmente em duas partes. Em primeiro lugar, tem de procurar estes princípios e em seguida desenvolver as consequências inerentes a eles. Para a execução do segundo trabalho recebe na escola excelentes instrumentos (...) O pesquisador tem antes que espiar, se assim se pode dizer, os princípios gerais da natureza, enquanto detecta, através dos grandes conjuntos de fatos experimentais, os traços gerais e exatos que poderão ser explicitados nitidamente.
  • 27. Princípios lógicos e bem formulados chegam a consequências total ou quase totalmente exteriores aos limites do domínio atualmente acessível a nossa experiência. Então, por longos anos, se fará necessário um trabalho empírico, às apalpadelas, para afirmar que os princípios da teoria poderiam descrever a realidade. EIS A EXATA SITUAÇÃO DA TEORIA DA RELATIVIDADE A reflexão sobre os conceitos fundamentais de tempo e espaço provou-nos que o princípio da constância da velocidade da luz no vácuo, que se deduz da ótica dos corpos em movimento, absolutamente não nos obriga a aceitar a teoria de um éter imóvel (...) As leis naturais não se modificam quanto à forma, quando se abandona um sistema de coordenadas original (experimentado) por um novo sistema, que efetua um movimento de translação uniforme ao primeiro. (...) Mas por outro lado essa teoria ainda é insuficiente, porque o princípio de relatividade privilegia o movimento uniforme. Do ponto de vista físico, sem dúvida não se pode atribuir um sentido absoluto ao movimento uniforme (...) Ora, se se toma o princípio da relatividade no sentido lato, foi demonstrado que se obtém uma extensão indefinida da teoria da relatividade. Assim somos conduzidos a uma teoria geral da gravitação, incluindo a dinâmica.
  • 28. FÍSICA INDUTIVA X FÍSICA DEDUTIVA
  • 29. Einstein: “A física indutiva questiona a física dedutiva” A indução é o raciocínio que, após considerar um número suficiente de casos particulares, conclui uma verdade geral. A indução, ao contrário da dedução, parte da experiência sensível, dos dados particulares.
  • 30. Os físicos da época de Newton acreditavam que os conceitos e as leis fundamentais da física não constituem, no sentido lógico, criações espontâneas do espírito humano, mas antes que se pode deduzí-los por abstração, portanto por um recurso da lógica.  Base absolutamente fictícia. Einstein: “Toda tentativa de deduzir logicamente, a partir de experiências elementares, os conceitos e as leis fundamentais da mecânica está voltada ao malogro (fracasso)”. Einstein: “Estou convencido de que a construção exclusivamente matemática nos permite encontrar os conceitos e os princípios que os ligam entre si. Dão-nos a possibilidade de compreender os fenômenos naturais. Os conceitos matemáticos utilizáveis podem ser sugeridos pela experiência, porém em caso algum deduzidos. Naturalmente a experiência se impõem como único critério de utilização de uma construção matemática para a física. Mas o princípio fundamentalmente criador está na Matemática”.
  • 31. • Os argumentos físicos de Mach constituem filosofia da Ciência que difere do positivismo, está de acordo com a prática de pesquisa de Einstein . • Quando Mach e Einstein divergiam, era Einstein que falava sobre positivismo, enquanto Mach dava uma descrição mais complexa do conhecimento científico e do senso comum.