Este relatório analisa as indústrias de madeira e móveis no Brasil. A cadeia produtiva de madeira depende fortemente das compras da indústria moveleira e da construção civil. Já a cadeia de móveis obtém seus principais insumos de madeira, produtos petroquímicos e metálicos, vendendo a maior parte de sua produção para o consumo das famílias e investimentos das empresas. Ambas as indústrias apresentam efeitos multiplicadores modestos de produção na economia brasileira.
1. Estudos
Setoriais de
Inovação
Indústria de Móveis
madeiras e artefatos
2. AGÊNCIA BRASILEIRA DE DESENVOLVIMENTO INDUSTRIAL
Relatório Setorial:
INDÚSTRIA DE MÓVEIS, MADEIRAS E ARTEFATOS
Pesquisadores:
Mauro Borges Lemos (Cedeplar/UFMG)
Edson Paulo Domingues (Cedeplar/UFMG)
Pedro Vasconcelos Amaral (Cedeplar/UFMG)
Ricardo Machado Ruiz (Cedeplar/UFMG)
Brasília, Fevereiro de 2009.
3. Sumário
1. INTRODUÇÃO .....................................................................................................................2
2. DESCRIÇÃO DAS CADEIAS PRODUTIVAS DE MADEIRA E MÓVEIS .............................................3
2.1 ANÁLISE DE INSUMO-PRODUTO .....................................................................................3
2.2 ANÁLISE COMPARATIVA ENTRE AS CADEIAS .................................................................12
3. ESTRUTURA DA INDÚSTRIA DE MADEIRA .............................................................................18
4. EVOLUÇÃO DA INDÚSTRIA DE MADEIRA ..............................................................................26
5. SISTEMA SETORIAL DE INOVAÇÃO ......................................................................................35
5.1 REGIME TECNOLÓGICO SETORIAL................................................................................35
5.2 PARTICIPAÇÃO DO CAPITAL ESTRANGEIRO ...................................................................42
5.3 FINANCIAMENTO: O PAPEL DOS AGENTES PÚBLICOS.......................................................44
6. OPORTUNIDADES TECNOLÓGICAS, ESTRATÉGIAS E PROPOSTAS ..........................................45
7. ESTRUTURA DA INDÚSTRIA DE MÓVEIS ...............................................................................49
8. EVOLUÇÃO DA INDÚSTRIA DE MÓVEIS .................................................................................55
9. SISTEMA SETORIAL DE INOVAÇÃO ......................................................................................64
9.1. PARTICIPAÇÃO DO CAPITAL ESTRANGEIRO ..................................................................68
9.2. FINANCIAMENTO: O PAPEL DOS AGENTES PÚBLICOS ......................................................69
10. OPORTUNIDADES TECNOLÓGICAS, ESTRATÉGIAS E PROPOSTAS ........................................70
11. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .......................................................................................75
1
4. 1. INTRODUÇÃO
Este relatório analisa as Indústrias de Madeira e Móveis, subproduto do Produto 3 –
“Indústrias objeto de programas para fortalecer a competitividade” do Projeto “Estudo
sobre como as empresas brasileiras nos diferentes setores industriais acumulam
conhecimento para realizar inovação tecnológica”. Está organizado em cinco seções além
desta introdução.
A Seção 2 descreve as duas cadeias industriais que envolvem as transações de compra e
venda dentro das cadeias e as transações com indústrias fornecedoras e compradoras
dos produtos dos setores de cada cadeia. Em que pese estarem inter-relacionadas
através de relações de venda e compra, possuem dinâmicas organizacionais,
tecnológicas e empresariais bem distintas, razão pela qual serão tratadas como duas
cadeias separadas ainda que conectadas comercialmente. O objetivo é fornecer um
quadro produtivo das cadeias, indicando o peso relativo de cada setor, o volume dos
fluxos intra e inter-industriais da cadeia, os efeitos multiplicadores diretos e indiretos de
produção e emprego gerados pela para o conjunto da economia brasileira.
A Seção 3 apresenta a estrutura da indústria de madeira com base na classificação de
liderança tecnológica, através das categorias empresas líderes, seguidoras, frágeis e
emergentes e dos dois setores que a compõem. Desdobramentos de Madeira e Produtos
de Madeira. A Seção 4 fornece a evolução temporal desta indústria. É analisada a
evolução dos principais indicadores do setor para o período 1996/2005 com base na
Pesquisa Industrial Anual – PIA. É feito um cruzamento da classificação segundo a
liderança tecnológica com o corte segundo tamanho, pela maior participação na produção
e vendas setoriais. Fica evidente a forte heterogeneidade tecnológica da indústria
madeireira.
A Seção 5 analisa o sistema setorial de inovação tecnológica da indústria madeireira. São
apresentados os indicadores de inovação segundo as categoriais de firmas líderes,
seguidoras e frágeis procurando identificar os regimes tecnológicos relacionados às
oportunidades tecnológicas dos dois setores da indústria, as formas de acumulação de
2
5. conhecimento em seus produtos e a formas de apropriação desse conhecimento do ponto
de vista da capacidade de reter os ganhos pecuniários do conhecimento gerado. É
analisado até aonde é relevante a participação do capital estrangeiro e o papel dos
agentes públicos no financiamento dos investimentos setoriais. Por fim, na Seção 6 são
analisadas as oportunidades tecnológicas, as estratégias empresariais e tecnológicas e
algumas propostas de políticas setoriais.
As Seções 7, 8, 9 e 10 analisam a Indústria de Móveis de forma similar ao realizado na
Indústria de Madeira nas 4 seções anteriores, confirmando que são indústrias que
conformam cadeias inter-relacionadas por relações de insumo-produto porém com
dinâmicas distintas e relativamente independentes.
2. DESCRIÇÃO DAS CADEIAS PRODUTIVAS DE MADEIRA E MÓVEIS
2.1 ANÁLISE DE INSUMO-PRODUTO
A matriz de insumo-produto revela as ligações entre os setores econômicos nas compras
e vendas de produtos entre os setores, no uso de fatores de produção (capital e trabalho)
e nas vendas dos setores para os componentes da demanda final. Para o propósito deste
estudo, uma matriz de insumo-produto foi construída a partir das informações
disponibilizadas pelo IBGE (IBGE, 2008) e os dados obtidos pela equipe. Assim,
procedeu-se a abertura setorial da matriz para os setores em foco, quando necessário.
Os dados utilizados nessa etapa foram obtidos da PIA-2005, e se referem à utilização de
insumos intermediários e valor bruto da produção. Para o estudo da cadeia de móveis o
setor teve que ser desagregado da matriz disponibilizada pelo IBGE, uma vez que se
encontra agregado em Produtos Diversos. Dados da PIA e da RAIS, contendo
informações sobre produção, emprego e uso de insumos foram utilizados na tarefa de
desagregação.
A matriz construída permite avaliar a inserção dos setores na estrutura produtiva
brasileira, a partir de indicadores de composição das vendas, das inter-relações setoriais
na cadeia produtiva e com as demais cadeias produtivas. A identificação das cadeias
produtivas seguiu a metodologia tradicional (Haguenauer, Bahia, Castro et al., 2001). A
delimitação das cadeias produtivas dos setores analisados considerou as transações de
3
6. maior valor, até o total de 80% do consumo e/ou fornecimento intermediário. Foram
desconsiderados nesse cálculo, para cada setor, o autoconsumo (intra-setorial), os
serviços e os insumos de uso difundido (tanto compras como vendas).
A partir da matriz de insumo-produto foi implementado um modelo de insumo-produto,
que gerou os multiplicadores de produção e emprego dos setores analisados, seguindo o
padrão da literatura (e.g. Miller e Blair, 1985). Dados obtidos pela equipe do projeto
permitiram obter multiplicadores de emprego por qualificação da mão-de-obra (ensino
superior, ensino médio e inferior).
Alguns indicadores dos setores em análise, madeira e móveis, são apresentados e
discutidos a seguir. Primeiramente, as vendas setoriais foram decompostas em 4
categorias, para a demanda final: exportações, consumo das famílias, formação bruta de
capital fixo (investimento) e outras demandas (consumo do governo e variação de
estoques). A demanda intermediária corresponde ao consumo de todos os setores
produtivos da economia dos produtos dos setores. A Tabela 2.1 apresenta a
decomposição das vendas nessas categorias para produtos de madeira e móveis. Para
produtos de madeira, a demanda intermediária (de outros setores) é o destino mais
importante das vendas do setor, representando cerca de 70% do total. As exportações
mostram-se significativas, representando 30% das vendas do setor, cujo destino é para
consumo intermediário de outras economias nacionais. Por outro lado, o consumo das
famílias representa apenas 2,5% da demanda por produtos de madeira. Ou seja, as
vendas de madeira são em sua quase totalidade para consumo intermediário, da
economia nacional e das economias estrangeiras.
Para o setor de móveis, a demanda final representa cerca de 80% da demanda do setor,
com grande predominância do consumo das famílias, com 55% do destino das vendas do
setor, e da formação bruta de capital fixo (FBCF), com 18% das vendas. Uma observação
importante é que a compra de mobiliário das empresas entra principalmente na forma de
imobilizado, que é parte de FBCF. A demanda intermediária (de outros setores)
representa cerca de 20% das vendas do setor. Dessa forma, a dinâmica do setor mostra-
se ligada principalmente à demanda final pelo consumo doméstico das famílias e
formação de capital fixo (investimento) das empresas.
4
7. Tabela 2.1
Distribuição das vendas setoriais, por categoria da demanda final e intermediária
(% das vendas totais, 2005)
Demanda Final (% do total)
Consumo Formação Demanda
Outras Intermediária
Exportações das bruta Total
Demandas (% do total)
(1) famílias de capital (1+2+3+4)
(4)
(2) fixo (3)
Madeira 30.5 2.5 1.0 -2.6 31.4 68.6
Móveis 6.7 54.7 18.0 0.1 79.4 20.6
Fonte: MIP 2005, RAIS, PIA, elaboração própria.
A Figura 2.1 apresenta a cadeia de Produtos de Madeira. As setas representam fluxos
monetários dos setores de origem (vendedor) para destino (comprador). A cadeia do setor
apresenta uma característica de relativa concentração de compras e vendas. As compras
do setor se concentram em Produtos Florestais, representando 53% dos fluxos de
compras. A seguir destacam-se as compras de produtos ligados à indústria petroquímica
e química, com 27% das compras. Os 20% restante das compras está disperso em
máquinas e equipamentos, celulose e produtos de metal. Por outro lado, as vendas do
setor para a Construção Civil e Indústria de Móveis são as mais representativas, com 75%
do total das vendas representadas na cadeia. Isto significa uma forte dependência do
setor de madeira em relação às compras da indústria moveleira e da construção civil.
Algumas grandes empresas do setor controlam também a etapa de extração florestal, e
dessa forma atividades relacionadas à compra de terras, reflorestamento e manejo
representam uma etapa importante do seu processo produtivo. Este aspecto será mais
bem detalhado ao longo deste documento.
5
8. Figura 2.1
Cadeia Produtiva de Produtos de Madeira, transações inter-setoriais 2005
(milhões de reais)
Fonte: MIP 2005, elaboração própria.
A Figura 2.2 apresenta a cadeia de Móveis, que demonstra uma relativa dispersão das
compras: os produtos de madeira representam 37%, os produtos petroquímicos e
derivados (resinas e plásticos) 23%, e os produtos metálicos (aços e derivados e produtos
de metal) 21%. Os 19% restantes estão distribuídos entre as compras de produtos de
celulose e papel e produtos têxteis. As vendas setoriais são pouco representativas, se
comparadas com o fluxo de vendas para o consumo das famílias e formação bruta de
capital fixo. Nas vendas setoriais destaca-se a construção civil, com 41% do total da
cadeia. Os setores relacionados representam os insumos mais importantes para o setor
de móveis, conforme relatos de empresas do setor: placas MDF, espumas, chapas,
caixas de papelão, parafusos, colas, tintas, madeiras (nativas e lei), máquinas,
componentes e ferramentas.
6
9. Figura 2.2
Cadeia Produtiva de Móveis, transações inter-setoriais e consumo das famílias,
2005 (milhões de reais)
Fonte: MIP 2005, RAIS, PIA, elaboração própria.
A Tabela 2.2 apresenta os multiplicadores simples de produção dos setores de Madeira e
Móveis. Os resultados indicam um efeito multiplicador relativamente pequeno dos dois
setores, próximo do efeito multiplicador médio dos setores da indústria brasileira,
estimado em 1,95. Para produtos de Madeira predomina o efeito direto e o efeito indireto,
de acordo com a cadeia produtiva, repercute principalmente sobre a Agricultura e
Produtos Florestais. O setor de Móveis apresenta um multiplicador semelhante ao de
Madeira, mas os efeitos diretos e indiretos se equilibram. Assim, a cadeia de móveis se
mostra mais conectada a outros setores da economia. Este é um resultado esperado,
dadas as ligações para trás do setor na cadeia, apesar do pequeno efeito inter-setorial
para frente, uma vez que predominam as vendas para o consumo das famílias e o
investimento das empresas.
7
10. Tabela 2.2
Multiplicador Simples de Produção (2005)
Multiplicador Simples de Produção Participação Relativa
Direto Indireto
Total (A+B) Direto (A) Indireto (B)
(A/Total) (B/Total)
Madeira 2.02 1.29 0.73 64% 36%
Móveis 1.99 1.02 0.98 51% 49%
Fonte: MIP 2005, elaboração própria.
Os dados de emprego por setor foram distribuídos por 3 componentes, de acordo com a
qualificação (educação) dos trabalhadores: superior, médio e inferior. Os coeficientes de
emprego, que representam o número de trabalhadores dividido pelo valor da produção,
foram obtidos para cada um dos setores, e, conjugados com o modelo de insumo-produto.
Assim, permitem que se obtenham multiplicadores de emprego para os setores
analisados.
A Tabela 2.3 indica a concentração do emprego no setor de madeira no nível inferior, que
representa 74% do total. Os coeficientes de emprego médio e superior são muito baixos,
com 23% e 3%, respectivamente. Estes percentuais indicam que a expansão da produção
do setor demanda principalmente trabalho de baixa qualificação. No setor de móveis, os
coeficientes de emprego de nível inferior e médio são mais próximos, representando 55%
e 45% do total, respectivamente. O coeficiente de emprego superior é relativamente baixo
(5%). Este é um resultado esperado, dada o maior valor adicionado no setor de móveis
relativamente ao de madeira.
Tabela 2.3
Coeficientes setoriais de emprego (ocupações/valor da produção em milhões de
reais de 2005)
Coeficiente de emprego
Total Superior Médio Inferior
Madeira 25.6 0.7 5.9 19.0
Móveis 29.1 1.5 11.7 15.9
Fonte: MIP 2005, RAIS, PIA, elaboração própria.
8
11. Os multiplicadores de emprego são obtidos a partir dos coeficientes de emprego de todos
os setores da economia e da matriz de multiplicadores (inversa de Leontief). Seu cálculo
segue o descrito em Miller e Blair (1985). Os multiplicadores de emprego representam,
para cada setor, a capacidade de geração e propagação de empregos na economia
decorrente da expansão da produção (ou demanda) dos seus produtos. Assim, os
multiplicadores indicam quais setores possuem capacidade relativamente maior de
geração de emprego na economia, tanto em termos totais como por qualificação (nível
educacional) da mão-de-obra.
A Tabela 2.4 apresenta os multiplicadores de emprego. Deve-se ressaltar que os
multiplicadores são indicadores que desconsideram o nível de atividade dos setores,
assim setores com valor de produção menor podem apresentar multiplicadores maiores.
O setor de madeira possui um efeito multiplicador maior na economia, indicando uma
capacidade de geração de 54 empregos na economia para cada 1 milhão de reais de
produção do setor; destes empregos gerados, apenas 2 são de educação superior e 11,5
são de nível médio. Preponderam 40,7 empregos de nível inferior (75%) do efeito total.
O setor de móveis apresenta um efeito multiplicador um pouco menor ao de madeiras,
indicando uma capacidade de geração de cerca de 45 empregos para cada 1 milhão de
reais de produção do setor; destes empregos gerados, apenas 2,7 são de educação
superior, 16,4 são de nível médio e 25,3 de nível inferior. Assim, apesar do elevado
coeficiente próprio de emprego médio, a geração de emprego inferior é a mais
significativa devido às inter-relações de compras e vendas com setores de elevado
coeficiente de emprego inferior.
Tabela 2.4
Multiplicador Simples de Emprego (ocupações/milhões de reais de 2005)
Total Superior Médio Inferior
(A+B+C) (A) (B) (C)
Madeira 54.2 2.0 11.5 40.7
Móveis 44.5 2.7 16.4 25.3
Fonte: MIP 2005, RAIS, PIA, elaboração própria.
9
12. Similarmente ao obtido na Tabela 2.2, os multiplicadores de emprego foram decompostos
nos seus efeitos diretos e indiretos. Estes indicadores revelam a capacidade de geração
de empregos do setor além da geração própria, indicando sua capacidade de
encadeamento intra e inter-setorial. A Tabela 2.5 apresenta a decomposição do
multiplicador de emprego total (que não leva em conta a qualificação da mão-de-obra). A
capacidade de geração de emprego direto dos dois setores se destaca, com cerca de
61% e 66% do efeito multiplicador, respectivamente. A cadeia produtiva relativamente
concentrada dos dois setores no lado das compras e a pequena cadeia produtiva no lado
das vendas explicam esta característica. (vide Figura 2.2).
Tabela 2.5
Multiplicador Simples de Emprego (ocupações/milhões de reais de 2005)
Multiplicador Simples de Emprego Participação Relativa. (%)
Direto Indireto
Total (A+B) Direto (A) Indireto (B)
(A/Total) (B/Total)
Madeira 54.2 33.1 21.1 61.2 38.8
Móveis 44.5 29.6 14.9 66.5 33.5
Fonte: MIP 2005, RAIS, PIA, elaboração própria.
A Tabela 2.6 indica que, para o setor de produtos de madeira a capacidade de geração de
emprego superior é principalmente indireta, enquanto que a geração de emprego médio
se dá dentro da cadeia produtiva. Já a geração de emprego do tipo inferior, a mais
significativa do setor, é preponderantemente direta (60% do efeito total) o que indica que
a cadeia produtiva do setor aciona principalmente setores mais intensivos nesse tipo de
mão-de-obra.
A Tabela 2.7 indica que no setor de móveis a capacidade de geração de emprego médio
e inferior é principalmente direta. Dessa forma, estímulos à produção do setor tendem a
gerar empregos de qualificação média e inferior no próprio setor.
10
13. Tabela 2.6
Multiplicador Simples de Emprego por qualificação, Produtos de Madeira (2005)
Multiplicador Simples de Emprego Participação no mult. (%)
Qualificação Direto Indireto
do Emprego Total (A+B) Direto (A) Indireto (B)
(A/Total) (B/Total)
Superior 2.0 0.9 1.1 46.6 53.4
Médio 11.5 7.6 3.9 66.0 34.0
Inferior 40.7 24.6 16.1 60.5 39.5
Fonte: MIP 2005, RAIS, PIA, elaboração própria.
Tabela 2.7
Multiplicador Simples de Emprego por qualificação, Móveis (2005)
Multiplicador Simples de Emprego Participação no mult. (%)
Qualificação Direto Indireto
Total (A+B) Direto (A) Indireto (B)
do Emprego (A/Total) (B/Total)
Superior 2.7 1.5 1.2 56.3 43.7
Médio 16.4 11.9 4.6 72.2 27.8
Inferior 25.3 16.2 9.1 63.9 36.1
Fonte: MIP 2005, RAIS, PIA, elaboração própria.
11
14. 2.2 ANÁLISE COMPARATIVA ENTRE AS CADEIAS
Esta seção descreve o comportamento das cadeias de Madeira e Móveis no período
recente. Entre 1996 e 2005 o valor da transformação industrial (VTI) da cadeia perdeu
participação na indústria brasileira (de 2,56% para 2,37%), decorrente especificamente da
queda de participação do setor de móveis (Tabela 2.8). O setor moveleiro diminui sua
participação na indústria brasileira de 1,5% em 1996 para 1,15% em 2006, enquanto o
setor de madeira aumenta sua participação, de 1,06% para 1,22%.
Tabela 2.8
Participação setorial no Valor da Transformação Industrial
1996 2006
Fabricação de produtos de madeira 1.06 1.22
Desdobramento de madeira 0.35 0.44
Fabricação de produtos de madeira,
cortiça e material trançado - exceto 0.71 0.78
móveis
Fabricação de artigos do mobiliário 1.50 1.15
Total 2.56 2.37
Fonte: PIA 1996-2006
O Gráfico 2.1 apresenta a composição da receita líquida com vendas industriais dos dois
setores da cadeia, de 1996 a 2006. Nesse período de 10 anos, as mudanças de
participação foram pequenas: o setor de Móveis perdeu 3 pontos percentuais em relação
ao setor de Madeira. O crescimento do setor de Madeira é bastante expressivo a partir de
2001, comparativamente a uma relativa estagnação do setor de móveis, conforme
mostram o Gráfico 2.1 e a Tabela 2.8. Este comportamento explica a perda de
participação do setor de móveis no produto interno bruto (aproximadamente o VTI) da
indústria brasileira.
12
16. Tabela 2.9
Receita Líquida com Vendas Industriais – Madeira e Móveis
R$ bilhões de 2006 Taxa de crescimento a.a. (%)
Ano Madeira Móveis Madeira Móveis
1996 9,46 10,21
1997 10,19 11,67 7,27 14,36
1998 9,82 12,40 -3,60 6,25
1999 12,29 10,88 25,11 -12,25
2000 11,36 13,76 -7,57 26,41
2001 13,25 14,18 16,64 3,06
2002 15,40 13,17 16,27 -7,12
2003 17,65 13,52 14,57 2,61
2004 18,29 13,57 3,61 0,38
2005 15,39 12,87 -15,83 -5,17
2006 14,99 14,47 -2,63 12,42
1996-2005 - - 4,70 3,54
Fonte: SIDRA-IBGE, PIA. Deflacionados pelo IPA-Madeira e IPA-Móveis de Madeira.
A Tabela 2.10 ilustra essa perda de posição relativa da indústria de móveis. Ao
deflacionarmos a produto gerado das três indústrias (VTI) pelo IPA-OG, notamos que no
período 1996 a 2006 a indústria de móveis apresentou um baixo crescimento no produto
setorial (22,9%), enquanto a indústria de madeira ampliou significativamente a renda
gerada (48,6%). Esses dados mostram que, não obstante as mudanças tecnológicas e de
produtos por que passou a indústria de móveis, sua capacidade de gerar renda diminuiu
relativamente ao setor de madeira.
Tabela 2.10
Valor Bruto da Produção (VBP) e da Transformação Industrial (VTI)
Ano VBP VTI
Madeira Móveis Madeira Móveis
1996 9,54 10,30 4,67 4,36
1997 10,32 11,83 5,04 4,86
1998 9,97 12,37 4,85 5,05
1999 12,45 10,85 6,45 4,25
2000 11,56 13,74 5,92 5,15
2001 13,49 14,15 6,92 5,49
2002 15,45 13,25 7,95 5,35
2003 18,00 13,71 8,77 5,28
2004 18,55 13,64 8,94 5,14
2005 15,52 12,94 6,98 4,83
2006 15,04 14,52 6,94 5,36
Notas: R$ bilhões de 2006 e Deflator IPA-OG.
Fonte: Elaboração própria a partir da PIA/IBGE.
14
17. O comportamento do valor bruto da produção industrial (VBP) mostra-se menos
diferenciado: enquanto o do setor de móveis cresceu 41%, o de madeira se expandiu em
57%. A comparação com o comportamento do VTI indica que a capacidade de geração
de valor adicionado no setor de móveis diminui ao longo do período. A relação VTI/VBP,
uma medida de agregação de valor, encolheu em -18,1% no setor de móveis, e -8,4% no
setor de madeira.
O Gráfico 2.3 compara o índice de preços no atacado (IPA) de madeira ao índice geral de
preços (IGP). O comportamento observado indica uma perda relativa de preços na
segunda metade dos anos 90, mantendo certa estabilidade até 2008, considerando a
recuperação de preços entre 2003 e 2005, no início do boom de preços das commodities
no mercado internacional e do aquecimento da indústria doméstica de construção civil.
Gráfico 2.3
IPA-Madeira em relação ao IGP-DI (normalizado para 100)
120
100
80
60
40
20
0
mai/96
nov/99
mai/03
nov/06
jan/01
jan/08
mar/95
abr/99
mar/02
abr/06
ago/94
jul/97
ago/01
jul/04
out/95
out/02
jun/00
jun/07
dez/96
fev/98
set/98
dez/03
fev/05
set/05
IGP‐DI / IGP‐DI IPA‐Madeira / IGP‐DI
Fonte: Elaboração própria a partir de dados do IPEAData.
O comportamento do câmbio e da demanda interna podem ser os principais fatores
explicativos da maior dinâmica do setor de madeira. A desvalorização cambial de 1999
15
18. impulsionou a produção do setor, aliado às vantagens de recursos naturais e de custos do
setor vis-à-vis os competidores externos. A partir de 2004, quando o câmbio passou a se
valorizar, o setor pode contar com uma demanda interna aquecida, especialmente aquela
advinda da construção civil impulsionada pela vigorosa expansão do mercado imobiliário,
que amorteceu o impacto da queda da rentabilidade das exportações.
O saldo comercial do setor de madeira é positivo, que muda para o patamar de US$ 3
bilhões de dólares a partir de 2004. De 2001 a 2004, durante o período de desvalorização,
as exportações saltaram de 1,5 bilhões para 3 bilhões de dólares. É interessante observar
que a apreciação cambial não parece afetar negativamente a permanência das
exportações neste patamar, que se estabiliza a partir daí. Não possibilita, entretanto, a
continuidade de seu crescimento. As importações do produto são pouco significativas, de
apenas 77,5 milhões em 2005. Os dados setoriais revelam que a maior parcela de
exportações é de Desdobramentos de Madeira, especialmente das seguidoras (US$ 1,45
bilhões em 2005). Tais resultados não são surpreendentes, considerando que a grande
procura no mercado internacional é pela madeira semi-acabada e não pelo produto
compensado, dada a capacidade já instalada desse setor nos mercados de destino, não
apenas dos países centrais como também dos emergentes, especialmente a China.
Gráfico 2.4
Exportações e importações de madeira, em milhões (US$) (2000-2007)
3500
Milhões (US$)
3000
2500
2000
1500
1000
500
0
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007
Exportação Importaçao
Fonte: Elaboração própria a partir de dados da Secex/MDIC.
16
19. No setor de móveis, as exportações representam parcela pouco significativa da sua
demanda (cerca de 7% em 2005), se constituindo num setor orientado para o mercado
interno. Assim, a desvalorização de 1999 não representou impulso considerável ao setor.
Vale lembrar que a distribuição destes produtos no mercado externo depende de
contratos de vendas com redes varejistas e impõe padrões de qualidade e padronização
específicos (ao contrário dos produtos “commoditizados” do setor de madeira). Parece
haver, a partir de 2004, uma aceleração do crescimento do setor de móveis, apoiado
principalmente na demanda interna advinda da expansão do mercado imobiliário e do
crescimento da renda doméstica.
O crescimento do número de empresas nos setores de madeira e móveis é apresentado
nas Tabelas 2.11 e 2.12. Entre 1996 e 2005 o número de empresas no setor de móveis
cresceu 31,19%, e no setor de madeira o crescimento foi de 16,50%. Assim, o VTI médio
por empresa no setor de móveis apresentou uma queda significativa no período. Pode-se
observar que o maior crescimento do número de empresas no setor de móveis está nas
firmas com mais de 250 empregados.
Tabela 2.11
Número de empresas no setor madeireiro em 1996, 2000 e 2005
Número de empresas Taxa de crescimento (%)
Pessoal ocupado 1996 2000 2005 96/00 00/05 96/05
ATÉ 49 13184 15045 15335 14,11 1,92 16,31
DE 50 A 99 400 519 515 29,75 -0,77 28,75
DE 100 A 249 205 206 210 0,48 1,94 2,43
DE 250 A 499 56 64 68 14,28 6,25 21,42
DE 500 A 999 18 10 24 -44,44 140 33,33
1000 OU MAIS 3 1 3 -66,66 200 0
Total 13866 15845 16155 14,27 1,95 16,50
Fonte: RAIS/MTE.
Já no setor de Madeira observa-se um crescimento significativo no número de empresas
de 50 a 99 empregados e mais ainda no de 500 a 999 empregados, que cresceu nada
menos do que 33% no período. Em ambos os setores a ampliação do número de
empresas nas faixas intermediárias de tamanho vão refletir mudanças nos processos
produtivos em direção à automação industrial que resultam em ampliação de escala e,
17
20. conseqüentemente, mudanças da melhor prática tecnológica desses setores. Interessante
notar que o número de empresas com mais de 1000 pessoas empregadas é muito
pequeno nos dois setores, variando de 1 a 3 empresas entre 1996 e 2005.
Tabela 2.12
Número de empresas no setor de móveis em 1996, 2000 e 2005
Número de empresas Taxa de crescimento
Pessoal ocupado 1996 2000 2005 96/00 00/05 96/05
ATÉ 49 11849 14872 15554 25,51 4,58 31,26
DE 50 A 99 346 395 432 14,16 9,63 24,85
DE 100 A 249 169 208 215 23,07 3,36 27,21
DE 250 A 499 50 50 74 0 48,00 48,00
DE 500 A 999 8 15 21 87,5 40,00 162,50
1000 OU MAIS 1 0 2 -100 0 100
Total 12423 15540 16298 25,09 4,87 31,19
Fonte: RAIS/MTE.
3. ESTRUTURA DA INDÚSTRIA DE MADEIRA
Nesta seção são descritos indicadores para a indústria de madeira. O setor será
analisado em dois grupos da CNAE: Desdobramentos de Madeira (CNAE 201) e Produtos
de Madeira (CNAE 202). A principal diferença entre os dois é que este último contempla a
fabricação de produtos com maior quantidade de valor agregado, como chapas de
madeira compensada, prensada ou aglomerada (principalmente MDP – Medium Density
Particle e MDF – Medium Density Fibre) e a fabricação de estruturas de madeira e
vigamentos para construção. Abaixo segue uma descrição dos dois conjuntos, segundo a
classificação da CNAE 1.1:
1. Desdobramentos de Madeira (grupo 201): produção de madeira bruta
desdobrada, de madeira resserrada (pranchas, pranchões, postes, tábuas,
barrotes, caibros, tacos e parquetes para assoalhos, aplainados para caixas
e engradados) e a fabricação de dormentes para vias férreas.
2. Produtos de Madeira (grupo 202): fabricação de madeira laminada,
compensada, prensada ou aglomerada; fabricação de produtos de madeira
para embalagem, esquadrias de madeira, fabricação de estruturas de
madeira e vigamentos para construção, construções pré-fabricadas.
18
21. A classificação Líderes-Seguidoras-Frágeis-Emergentes, com base na análise dos dados
da PINTEC para o setor, revelou, para Desdobramentos de Madeira, apenas cinco
empresas líderes, seguido de um grande conjunto de frágeis (369) e seguidoras (514).
Nenhuma empresa foi classificada como emergente (Tabela 3.1). O Gráfico 3.1 indica que
as líderes são inovadoras de produto e de processo. O percentual de líderes que
investem em P&D é relativamente alto em termos relativos (cerca de 60%), porém baixo
em termos absolutos, que indica a pequena capacidade das líderes puxarem
tecnologicamente as seguidoras. A inovação de produto ou processo entre frágeis e
seguidoras é uma atividade muito pouco freqüente: apenas cerca de 30% das seguidoras
são inovadoras, e a maioria delas em processo. A presença de inovadoras entre frágeis
não é significativa. Ou seja, trata-se de um setor baseado na atividade extrativista, pouco
intensivo em tecnologia e capital e de baixo valor agregado.
Para Produtos de Madeira (grupo 202) foram identificadas 20 empresas líderes, 349
frágeis e 520 seguidoras (Tabela 3.2). Assim como em Desdobramentos de Madeira,
nenhuma empresa foi classificada como emergente. O Gráfico 3.2 indica que a maior
parte das líderes inova em processo. O número de líderes que investem em P&D é
relativamente menor do que no setor de primeira transformação (grupo 201), cerca de
40%, porém em termos absolutos são bem mais significativas para puxarem
tecnologicamente as seguidoras do ponto de vista das melhores práticas. Esta
capacidade se expressa pelo fato de totalizarem 20 firmas que exportam com preço
prêmio ou vantagens absolutas de custo, 18 delas que inovam processo para o mercado
doméstico, 12 que inovam produto para este mercado, das quais 8 realizam atividades
contínuas de P&D. Esta capacidade de puxar é refletida pelo fato de que 40% das
seguidoras são inovadoras, a maioria delas em processo, percentual que cai para 20%
entre as frágeis.
19
22. Gráfico 3.1
Inovação nas Firmas Líderes, Seguidoras e Frágeis de Desdobramentos de Madeira
(%)
100%
75%
50%
25%
0%
Inovadoras Inovadoras de produto Inovadoras de Investem em P&D
processo
Líderes Seguidoras Frágeis
Nota: 5 Firmas Líderes, 369 Firmas Seguidoras, 514 Firmas Frágeis
Fonte: Elaboração própria a partir da PIA/PINTEC-IBGE.
Gráfico 3.2
Inovação nas Firmas Líderes, Seguidoras e Frágeis de Produtos de Madeira (%)
100%
75%
50%
25%
0%
Inovadoras Inovadoras de produto Inovadoras de Investem em P&D
processo
Líderes Seguidoras Frágeis
Nota: 20 Firmas Líderes, 349 Firmas Seguidoras, 520 Firmas Frágeis
Fonte: Elaboração própria a partir da PIA/PINTEC-IBGE.
20
23. A Tabela 3.1 indica que, para Desdobramentos de Madeira, o tamanho médio das líderes,
em termos de pessoal ocupado, é quase quatro vezes superior ao das seguidoras: as
líderes empregam em média 405 pessoas, enquanto as seguidoras empregam 111
pessoas, e as frágeis 54. Devido ao grande número de firmas entre seguidoras e frágeis,
estes dois grupos empregam 97% do pessoal ocupado do setor. As líderes, que
representam 0,56% do número de firmas no segmento, concentram 6,56% dos salários,
10,27% do faturamento, 8,15% do investimento e 12,05% das exportações. As seguidoras
representam 42% das firmas do setor e concentram a maior parte da atividade econômica
do segmento, com aproximadamente 75% do faturamento, 80% do investimento e 88%
das exportações, o que indica que elas devem ser o foco da Política de Desenvolvimento
Produtivo (PDP) no que tange as políticas de capacitação tecnológica e de
competitividade deste setor. Entre as frágeis destaca-se a pequena participação no
faturamento e investimento, de 15% e 12% respectivamente, e quase 30% dos
pagamentos de salários. Ou seja, as frágeis são de fato firmas marginais, basicamente
serrarias, restritas às franjas de mercados locais, com poucas chances de progressão
tecnológica, não devendo, portanto, ser o foco da política setorial da PDP.
Tabela 3.1
Número e Valor Agregado das Firmas Líderes, Seguidoras e Frágeis na Indústria de
Desdobramentos de Madeira (2005)
Indicador Líderes Seguidoras Frágeis
5 369 514
Número de empresas
(0,6%) (41,5%) (57,9%)
2026 41235 27888
Pessoal Ocupado (número de pessoas)
(2,9%) (57,9%) (39,2%)
31,8 309,6 143,5
Salários Totais (R$ milhões)
(6,6%) (63,8%) (29,6%)
364 2656,9 522,2
Faturamento (R$ milhões)
(10,3%) (75,0%) (14,7%)
14,6 142,6 21,9
Investimento Total (R$ milhões)
(8,2%) (79,6%) (12,2%)
96,2 702 0
Exportação Total (R$ milhões)
(12,1%) (87,9%) (0%)
Fonte: Elaboração própria a partir da PIA e PINTEC.
O setor de Produtos de Madeira (Tabela 3.2) revela que as líderes representam 2,2% do
número de firmas no segmento, concentram 11% do pessoal ocupado, 27% dos salários,
29% do faturamento, 43% do investimento e 10% das exportações. O tamanho médio das
líderes, em termos de pessoal ocupado, é aproximadamente três vezes superior ao das
21
24. seguidoras (as líderes empregam em média 665 pessoas e as seguidoras empregam 212
pessoas) e mais de dez vezes superior ao das frágeis (média de 54 pessoas). Assim,
relativamente a Desdobramentos de Madeira, este segmento apresenta um conjunto de
líderes bem mais representativo, com peso suficiente para determinar o padrão
tecnológico de melhor prática do setor. As seguidoras (39% das firmas do segmento)
concentram 63% do pessoal ocupado, e, aproximadamente, 65% do faturamento, 54% do
investimento e 89% das exportações. Aqui também as seguidoras são largamente
predominantes nas exportações setoriais. As frágeis possuem pequena participação no
faturamento (6,1%) e investimento (2,3%), mas representam quase 59% das empresas do
segmento, 25% do pessoal ocupado e 14% do pagamento de salários.
Tabela 3.2
Número e Valor Agregado das Firmas Líderes, Seguidoras e Frágeis na Indústria de
Produtos de Madeira (2005)
Indicador Líderes Seguidoras Frágeis
20 349 520
Número de empresas
(2,2%) (39,3%) (58,5%)
13299 73905 29982
Pessoal Ocupado (número de pessoas)
(11,3%) (63,1%) (25,6%)
291,1 630,5 151,7
Salários Totais (R$ milhões)
(27,1%) (58,8%) (14,1%)
2928,7 6653,2 626,2
Faturamento (R$ milhões)
(28,7%) (65,2%) (6,1%)
281,9 350,1 15,1
Investimento Total (R$ milhões)
(43,6%) (54,1%) (2,3%)
164,6 1453,6 0
Exportação Total (R$ milhões)
(10,2%) (89,8%) (0%)
Fonte: Elaboração própria a partir da PIA e PINTEC.
Os indicadores médios dos dois segmentos de madeira revelam que as líderes pagam
salários médios superiores e tem faturamento médio maior. Para Desdobramentos de
Madeira, o faturamento das líderes é quase 10 vezes o das seguidoras, mas os demais
indicadores são bastante semelhantes entre líderes e seguidoras, como Faturamento/VTI,
Exportações/Faturamento e Importações/Custos. Para Produtos de Madeira a diferença
entre líderes e seguidoras é mais significativa. Destaca-se o indicador de
Exportações/Faturamento, de 5,6% nas líderes e 21,8% nas seguidoras, o que é
consistente com a concentração das exportações nas seguidoras, enquanto as líderes
estão preferencialmente direcionadas para o mercado interno.
22
25. Tabela 3.3
Indicadores da Indústria de Desdobramentos de Madeira para Líderes, Seguidoras e
Frágeis (2005)
Indicador Líderes Seguidoras Frágeis
Número de empresas 5 369 514
Salário médio mensal no pessoal
1705 938 668
industrial (R$)
Faturamento médio (R$ milhões) 71 7,2 1
Faturamento/VTI 2,32 2,22 2,01
Exportações/Faturamento (%) 26,4 26,4 0
Importações/Custos (%) 0,4 0,38 0
Investimento/Faturamento (%) 4 5,4 4,2
Fonte: Elaboração própria a partir da PIA e PINTEC.
Tabela 3.4
Indicadores da Indústria de Produtos de Madeira para Líderes, Seguidoras e Frágeis
(2005)
Indicador Líderes Seguidoras Frágeis
Número de empresas 20 349 520
Salário médio mensal no pessoal
2033 936 665
industrial (R$)
Faturamento médio (R$ milhões) 149,6 19,1 1,2
Faturamento/VTI 2,07 2,74 2,25
Exportações/Faturamento (%) 5,6 21,8 0
Importações/Custos (%) 1,38 0,86 0,01
Investimento/Faturamento (%) 9,6 5,3 2,4
Fonte: Elaboração própria a partir da PIA e PINTEC.
A predominância da inovação em processo para Produtos de Madeira é um resultado
esperado, uma vez que os principais produtos do setor são aglomerados de madeira
“commoditizados”, vendidos para o setor de móveis e construção civil, no mercado
doméstico ou internacional. Os aglomerados de fibra de média densidade (MDF), fibra de
alta densidade (HDF) e partículas de média densidade (MDP) representam os produtos
mais importantes no setor.
O MDF é um produto desenvolvido para uso interior, utilizado para corte, usinagem e
pintura, destinado para construção civil, indústria moveleira, brinquedos, displays,
comunicação visual e artes plásticas. É um produto de maior valor agregado, de utilização
para consumo interno e exportação. Diversas empresas produtoras de MDF integram
para trás a operação florestal de eucalipto e pinho ao seu processo produtivo, e algumas
integram também a fabricação de resinas (Duratex). A Duratex é a maior produtora de
MDF no Brasil, seguida por Eucatex, Satipel e Masisa (empresa chilena que opera no
23
26. Brasil)1. O MDP é um produto de menor valor agregado, utilizado especialmente no
consumo interno. A Satipel é a líder de mercado em MDP, mas a Duratex anunciou
investimentos que a tornariam a líder do setor até 2011. A Satipel anunciou em 2008 a
construção de uma nova planta de MDF em Uberaba, Minas Gerais, e pretende exportar
30% da sua produção. Recentemente dois grandes atores mundiais do setor entraram no
mercado doméstico para disputar com essas empresas controladoras do mercado interno
de compensados (HDF, MDF e MDP): o grupo português Sonae, maior fabricante mundial
de compensado em capacidade instalada, através de sua subsidiária nacional Talisa, e
outra empresa chilena, a Arauco. Líderes de mercados regionais baseadas em estados
de grandes extensões de florestas renováveis, como Rio Grande do Sul e Paraná,
também começam a disputar também o mercado nacional de compensados, dinamizado
recentemente pelo boom da indústria de construção civil. Destaca-se entre os maiores
investidores regionais a Fibraplac (RS), Berneck (PR), a Sudati (PR) e a Guararapes
(PR).
Entretanto, a manutenção de maciços florestais renováveis requerido pela atividade
implica grande imobilização de capital em terras para cultivo. A forte expansão do setor de
construção civil e de móveis nos últimos anos, conforme analisado a partir da seção 7
deste trabalho, impulsionou também o setor madeireiro, que se encontra próximo ao limite
de fornecimento da matéria-prima. Com o investimento do setor focado na expansão da
capacidade instalada, o provimento de matéria-prima tem ficado cada vez mais
concentrado em grandes companhias independentes especializadas no cultivo e
manutenção de maciços florestais, como a Brazil Timber e a Global Forest Partners. De
acordo com estimações da Sociedade Brasileira de Silvicultura (SBS), cerca de 10% dos
hectares plantados de eucalipto no Brasil no começo de 2008 pertenciam a essas
gestoras de recursos florestais, participação que tenderia a aumentar continuamente haja
vista que essas empresas já controlam parte significativa desses maciços florestais no
mercado mundial. Recentemente (setembro de 2008) projetos de manejo sustentável e
proteção ambiental dessa atividade tem sido foco de programas de financiamento do
Banco Mundial, via IFC (International Finance Corporation). Dado a grande
disponibilidade de terras aptas para o cultivo no Brasil, prevê-se um amplo rearranjo
florestal mundial em direção à maior participação brasileira da oferta mundial. Neste
1
Em 2006, a aquisição pela Masisa da Tafisa (grupo português SONAE), grande produtor de MDF, foi
desfeita pela empresa chilena.
24
27. sentido, os movimentos de integração vertical das fabricantes de compensados no
controle de florestas parece ser uma questão fundamental da competitividade setorial.
Assim, a busca por áreas de exploração e melhorias no manejo de florestas é uma
atividade constante no setor. Por exemplo, a Floresta Nacional de Jamari (RO) tornou-se,
em agosto de 2008, a primeira a ter áreas licitadas pelo governo federal para manejo
sustentável, a ser controlado por um sistema de monitoramento de desmatamento do
INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais). As áreas licitadas somam 96 mil
hectares e foram arrendadas para uso em 40 anos por cerca de R$3,8 milhões por ano.2
Outra iniciativa nesse sentido foi a criação da primeira Linha de Reciclagem de Madeira,
pela Eucatex em outubro de 2008, através da qual a empresa pretende preservar 1
milhão de árvores por ano em suas áreas de reflorestamento e de reservas naturais.
O setor busca ainda formas mais sustentáveis e menos dependentes de importação de
insumos na manutenção dos maciços. É o caso da adoção de biossólidos, como o lodo,
na adubação de plantações de florestas, que reduzem em 15% os custos em relação a
fertilizantes de origem mineral. Entretanto, o transporte do lodo a partir de estações de
tratamento de esgoto é muito custoso, o que torna a substituição do fertilizante viável
apenas para maciços próximos a essas estações.
Embora a parcela relevante da inovação do setor seja relacionada a processo, algumas
iniciativas de inovação de produto podem ser observadas. Por exemplo, em 2008 a
Duratex anunciou painéis de MDF e MDP certificados com proteção antibacteriana, o que,
segundo a empresa, facilita a higienização do produto e proporciona maior durabilidade.
Com isso, móveis fabricados com esse material estariam mais bem protegidos, assim
como seriam um material mais adequado para móveis em ambientes úmidos (cozinhas,
banheiros, lavabos e áreas de serviço). Este processo ilustra como a inovação no setor de
madeiras pode repercutir favoravelmente no setor de móveis, via colaboração com
fornecedores.
2
O consórcio liderado pela Alex Madeiras ganhou a Unidade de Manejo Florestal (UMF) I, com 17 mil
hectares. Para a UMF II, com 33 mil ha, venceu a empresa Sakura. Já a empresa Amata venceu para a
UMF III, com 46 mil ha.
25
28. 4. EVOLUÇÃO DA INDÚSTRIA DE MADEIRA
Os indicadores de participação de mercado e mark-up das firmas do setor de madeira são
apresentados para o período de 1996 a 2005, na classificação de líderes-seguidoras-
frágeis. A metodologia consiste em identificar estas empresas em 2005 e calcular seus
indicadores ao longo do período, para se obter uma análise temporal das firmas do setor
classificadas como líderes, seguidoras e frágeis.
O Gráfico 4.1 indica uma certa estabilidade da participação de mercado dos três grupos
de empresas no segmento de Desdobramentos de Madeira. Os dados indicam a maior
participação de mercado do conjunto das 369 seguidoras, com cerca de 70% do mercado
em contraste com a participação de 10% das 5 líderes setoriais. As 514 empresas frágeis
mantiveram cerca de 10% do mercado ao longo do período, percentual semelhante ao
das líderes. Assim, pode-se inferir que nesse mercado o comportamento das seguidoras é
especialmente importante. Em 2005, empresas seguidoras representavam 50% das
quatro e das oito maiores empresas do setor segundo o faturamento.
Gráfico 4.1
Participação de Mercado das Líderes, Seguidoras e Frágeis de 2005 (1996-2005, %)
Desdobramentos de Madeira
90%
80%
70%
60%
50%
40%
30%
20%
10%
0%
1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005
Líderes Seguidoras Frágeis
Fonte: Elaboração própria a partir da PIA/IBGE.
26
29. Ou seja, não existe uma completa associação entre líderes tecnológicas e líderes de
mercado. Uma pequena parte das líderes tecnológicas não se encontra entre as maiores
do mercado. Da mesma forma, parte das 4 e 8 empresas com maior participação no
mercado setorial (CR-4 e CR-8, respectivamente) não exercem liderança de inovação
tecnológica na indústria. Dado a estabilidade temporal dessas participações, é provável
que essas inovadoras não incluídas entre as 4-8 maiores do setor explorem nichos de
mercado de alto valor agregado, como por exemplo, o segmento não-commoditizado de
madeiras nobres para a indústria de moveleira e construção civil de alto luxo. É possível
também que as líderes tecnológicas que estão entre as maiores da indústria também
operem nesses nichos, porém de maior porte no mercado externo.
É interessante observar que a participação de mercado das 4 e 8 maiores empresas é
muito pequena (Gráfico 4.2), o que não possibilita caracterizar liderança de mercado em
sentido estrito nesta indústria, estando mais próxima de uma estrutura concorrencial do
que oligopolística. Ainda assim, a tendência recente é de aumento da concentração da
produção setorial, sem que tal movimento afete a participação das líderes tecnológicas e
seguidoras. O que de fato parece estar ocorrendo é o crescimento de mercado das
líderes e seguidoras de maior porte, refletido no aumento do CR-4 e CR-8.
O indicador de primazia entre as 4 e 8 maiores é fortemente declinante, caindo de cerca
de 30% em 1996 para 13% em 2005 (nas 4 maiores). Existem evidências que a maior
empresa do setor não exerce liderança tecnológica. Neste sentido, o movimento
declinante de primazia corrobora com o argumento de que as líderes tecnológicas e
seguidoras de maior porte estão aumentando sua participação no CR-4 e CR-8.
27
30. Gráfico 4.2
Participação de Mercado Maiores Empresas de Desdobramentos de Madeira (1996-
2005)
25%
20%
15%
10%
5%
0%
1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005
CR4 CR8
Fonte: Elaboração própria a partir da PIA/IBGE.
Gráfico 4.3
Primazia da Indústria de desdobramentos de Madeira (1996-2005)
50%
40%
30%
20%
10%
0%
1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005
Primazia 4 Primazia 8
Fonte: Elaboração própria a partir da PIA/IBGE.
28
31. Os indicadores de mark-up para este setor de primeira transformação (Gráfico 4.4)
mostram um comportamento estável, em torno de 40%, para o conjunto do setor.
Entretanto, o mark-up das 4 e 8 maiores oscila bastante ao longo do período,
especialmente entre as 4 maiores, em parte refletindo as fortes variações do câmbio. Em
2005, o mark-up das 4 maiores é duas vezes superior ao do setor, sendo que em 1996
estes eram bastante próximos. O aumento da participação de mercado das 4 e 8 maiores
é acompanhado pela elevação do mark-up relativamente ao setor, o que também é
consistente com a maior participação das líderes tecnológicas no CR-4 e CR-8.
Gráfico 4.4
Mark-up (MK) das Firmas na Indústria de Desdobramentos de Madeira (1996-2005)
180%
160%
140%
120%
100%
80%
60%
40%
20%
0%
1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005
MK total MK 4 maiores MK 8 maiores
Fonte: Elaboração própria a partir da PIA/IBGE.
Isto de alguma forma está refletido no mark-up das empresas líderes (Gráfico 4.5), que
muda de patamar no período, saindo de cerca de 40% em 1996 para 60% em 2005,
apesar de uma forte oscilação entre 2000/2005. As seguidoras mostraram um mark-up
relativamente estável, também em torno de 60% no período, mas que passou a declinar
em 2004 e atingiu 40% em 2005. Em 2005, o mark-up das líderes é superior ao das
seguidoras, fato inverso ao observado em 1996. Esta evolução dos mark-up parece
confirmar as evidências de que as inovadoras de maior porte estão ganhando terreno
29
32. entre 4 e 8 maiores do setor, enquanto as menores exploram nichos de mercado de alto
valor agregado em segmentos não-commoditizados.
Gráfico 4.5
Mark-up das Firmas Líderes, Seguidoras e Frágeis de 2005 (1996-2005, %)
Desdobramentos de Madeira
120%
100%
80%
60%
40%
20%
0%
1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005
‐20%
Líderes Seguidoras Frágeis
Fonte: Elaboração própria a partir da PIA/IBGE.
O Gráfico 4.6 indica no setor de Produtos de Madeira a ampliação da participação de
mercado das seguidoras no período de desvalorização cambial 1998-2003 e uma
indicação de reversão desta participação a partir de 2004-2005, quando se inicia o
movimento de apreciação do real. O caráter mais exportador das seguidoras, como
ressaltado pelos dados anteriores, é certamente o principal fator explicativo desse
comportamento. A participação de mercado do conjunto das seguidoras fica em 2005
próxima de 60%, enquanto as líderes perderam participação no período de
desvalorização e parece iniciar uma recuperação no período recente de apreciação,
coincidente com o aquecimento do mercado interno, especialmente da construção civil,
chegando a cerca de 30% em 2005. De qualquer forma, a parte das líderes que disputa o
mercado commoditizado do setor (MDF e MDP) mantém ao longo desses dez anos uma
participação majoritária entre as quatro maiores empresas do setor e em igualdade de
condições com as 4 maiores seguidoras no CR-8. As emergentes ainda possuem
30
33. diminuta participação no mercado e possivelmente devem ter um comportamento mais
semelhantes às inovadoras menores, fora do CR-8.
Gráfico 4.6
Participação de Mercado das Líderes, Seguidoras e Frágeis de 2005 (1996-2005, %)
Produtos de Madeira
80%
70%
60%
50%
40%
30%
20%
10%
0%
1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005
Líderes Seguidoras Frágeis Emergentes
Fonte: Elaboração própria a partir da PIA/IBGE.
O Gráfico 4.7 evidencia que existe uma tendência crescente à concentração setorial, que
se inicia com a desvalorização cambial a partir de 1998 e se mantém sem ser
aparentemente afetada pelo processo recente de apreciação do real. Uma outra
característica setorial interessante é a relativa estabilidade do compartilhamento da
liderança do mercado entre as líderes tecnológicas e seguidoras de grande porte. Esta
estabilidade se mantém ao longo de todo tempo simultânea a um vertiginoso crescimento
da participação destas firmas na indústria, refletida no CR-4 e CR-8 que saem,
respectivamente, de 18% e 24% em 1996 e atingem 23% e 33% em 2005.
31
34. Gráfico 4.7
Participação de Mercado Maiores Empresas de Produtos de Madeira (1996-2005)
35%
30%
25%
20%
15%
10%
1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005
CR4 CR8
Fonte: Elaboração própria a partir da PIA/IBGE.
Gráfico 4.8
Primazia da Indústria de Produtos de Madeira (1996-2005)
60%
50%
40%
30%
20%
10%
0%
1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005
Primazia 4 Primazia 8
Fonte: Elaboração própria a partir da PIA/IBGE.
32
35. Todas as evidências de sondagem conjuntural da indústria indicam que a empresa primaz
do setor é líder tecnológica, dada sua conhecida liderança no mercado por mais de 30
anos, ao longo do qual acumulou conhecimento tecnológico nos padrões da melhor
prática mundial. Sua primazia mostra-se relativamente estável de 1996 a 2002 e torna-se
crescente a partir daí, atingindo sua participação em 2005 entre as 4 e 8 maiores acima
de 50% e 35%, respectivamente. Ou seja, seu crescimento relativo dentro da indústria é
concomitante ao forte crescimento setorial verificado no período recente, especialmente a
partir de 2004.
Gráfico 4.9
Mark-up das Firmas Líderes, Seguidoras e Frágeis de 2005 (1996-2005, %)
Produtos de Madeira
70%
60%
50%
40%
30%
20%
10%
0%
1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005
Líderes Seguidoras Frágeis Emergentes
Fonte: Elaboração própria a partir da PIA/IBGE.
O mark-up setorial no período (Gráfico 4.9) mostra grande oscilação, mas indica uma
mudança de patamar para as líderes tecnológicas, saindo de cerca de 30% em 1996 para
50% em 2005, apesar de alguma oscilação entre 2000/2005. As seguidoras mostraram
um mark-up bem mais oscilante, que se aproximou ao das líderes de 2000 a 2004, mas
caiu bastante em 2005, ficando em 35%, refletindo possivelmente a apreciação cambial
dos últimos anos. Assim, em 2005 o mark-up das líderes é superior ao das seguidoras em
contraste com o do início da série, em 1996, quando eram bastante próximos. As frágeis
33
36. apresentam em 2005 um mark-up de 20%, semelhante ao observado em 1996. A
evolução do mark-up das emergentes, de maior oscilação no período, está em
consonância com sua maior instabilidade no mercado. É característico dessa evolução
seu crescimento recente em linha com o aquecimento do mercado doméstico, indicando
um provável nicho local de atuação, possivelmente em mercados regionais de alto valor
agregado, especialmente São Paulo.
Gráfico 4.10
Mark-up (MK) das Firmas na Indústria de Produtos de Madeira (1996-2005)
120%
100%
80%
60%
40%
20%
0%
1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005
MK total MK 4 maiores MK 8 maiores
Fonte: Elaboração própria a partir da PIA/IBGE.
É contrastante o mark-up das categoriais de firma e o da indústria em seu conjunto, que
se mostra muito estável, dentro dos padrões usuais de setores em fase incipiente de
oligopolização. No caso das 4 e 8 maiores empresas aparentemente o mark-up é muito
oscilante. No entanto, se observamos o seu nível ao longo dos anos ele nunca atinge
níveis inferiores a 60%, o que é considerado alto mesmo em oligopólios mais
consolidados. Está sempre acima não só da média da indústria como do mark-up de
todas as quatro categorias de firmas, especialmente das líderes e seguidoras. Em suma,
a crescente participação das grandes firmas na indústria, constituídas pelas líderes
tecnológicas e seguidoras de grande porte, é consistente com os níveis mais elevados de
mark-up que operam, sendo que as oscilações apresentadas ficam sempre acima do
34
37. “piso” de 60%, o que indica a capacidade dessas firmas administrarem com relativo
sucesso suas margens planejadas de lucratividade.
5. SISTEMA SETORIAL DE INOVAÇÃO
5.1 REGIME TECNOLÓGICO SETORIAL
Descreveremos o regime tecnológico dos setores da indústria e as condições de
desenvolvimento de um sistema setorial de inovação. Desdobramentos de Madeira, que é
a primeira fase da transformação da madeira, e Produtos de Madeira, que é a fase de
produção de aglomerados e compensados com base em madeira.
Uma primeira questão do regime tecnológico refere-se às diferenças de nível dos
investimentos, que refletem estruturalmente as condições setoriais de oportunidades
tecnológicas, acumulação de conhecimento relevante e apropriação pecuniária desse
conhecimento, refletida na taxa de lucro das firmas do setor. Em geral, a taxa de
investimentos tangíveis (Investimento/Faturamento), especialmente em máquinas e
equipamentos, reflete a relação capital/produto do setor, ou seja, sua intensidade de
capital e escala. Por sua vez, a taxa de investimentos intangíveis, especialmente em P&D,
reflete o nível de intensidade de conhecimento científico incorporado nos produtos do
setor.
No caso da indústria de madeira, o setor de primeira transformação não é intensivo em
capital nem em conhecimento. No entanto, os processos de cultivo e manejo de maciços
florestais são crescentemente intensivos em conhecimento, especialmente em
biotecnologia. Se a firma de primeira transformação está integrada verticalmente à
produção de madeira em larga escala ou nichos, como madeiras nobres, possivelmente
ela entra num regime tecnológico bem diferente das firmas representativas do setor. O
padrão setorial é de baixas oportunidades tecnológicas, pequena acumulação de
conhecimento incorporado no produto e baixo nível de apropriação. Os dados da Tabela
5.1 evidenciam estas características. A taxa de investimento setorial é baixa e a
participação dos gastos em P&D na receita líquida das vendas também, significando um
regime tecnológico numa posição inferior na matriz tecnológica mundial. Porém, uma vez
35
38. discriminados estes dois indicadores segundo a categoria de empresa, fica claro que as
seguidoras possuem taxa de investimento superior e as líderes são as únicas que
investem em P&D, com uma participação P&D/Faturamento ao nível da média da
indústria de transformação brasileira. Em suma, tudo indica que o setor é
tecnologicamente segmentado: as líderes têm um regime tecnológico de maiores
oportunidades, cumulatividade e apropriação, possivelmente baseado em capacitações
em genética de plantas e biotecnologia que as habilitam para ofertarem produtos sob
encomenda, de alto valor agregado; as demais estão no regime tecnológico padrão do
setor.
Tabela 5.1
Importância para a Inovação na Indústria de Produtos de Madeira
(números de empresas e participação no total, 2005)
Líderes Seguidoras Frágeis Total
Número de empresas 5 369 514 888
Desdobramentos
Investimento total / Faturamento (%) 4,4 5,72 4,2 5,36
de Madeira
P&D / Faturamento (%) 0,58 0 0 0,06
Número de empresas 20 349 520 889
Produtos de
Investimento total / Faturamento (%) 10,94 6,08 2,44 7,21
Madeira
P&D / Faturamento (%) 0,52 0,05 0 0,18
Fonte: Elaboração própria a partir da PIA e PINTEC/IBGE.
Figura 5.1
Investimento Total e Investimento em P&D de Desdobramentos de Madeira
Investimento Gasto em P&D
0%
12% 8% 0%
80% 100%
Líderes Seguidoras Frágeis
Fonte: Elaboração própria a partir da PIA e PINTEC/IBGE.
A segunda questão refere-se à distribuição dos investimentos totais tangíveis e dos
investimentos em P&D, intangíveis. A segmentação do setor em dois regimes
tecnológicos é evidenciada: as seguidoras, por sua expressão numérica no setor,
36
39. representam 80% do investimento tangíveis, mas seu gasto em P&D é praticamente nulo.
Já as líderes representam apenas 8% do investimento tangível e quase a totalidade dos
gastos em P&D (Figura 5.1), o que corrobora a hipótese da segmentação dos regimes.
Para efeito de comparação vamos analisar estes dois indicadores e a distribuição dos
investimentos no setor de transformação final: Produtos de Madeira. A taxa de
investimentos é bem mais elevada, especialmente das líderes (10,94%), indicando que o
setor opera com algum nível de economias internas de escala na produção de bens
homogêneos, mesmo que diversificados em três produtos com qualidades distintas e
decrescentes (HDF, MDF e MDP) (Tabela 5.1). As diferenças de taxas de investimento
entre líderes e seguidoras são substantivas, o que evidencia que, apesar dos processos
produtivos semelhantes, pode haver diferenças nas escalas de produção se comparamos
as médias destas duas categorias. Considerando apenas as firmas de grande porte do
CR-8, as taxas de investimentos são equivalentes, que refletem as mesmas escalas de
produção. Por outro lado, a participação P&D/receita é bem mais alta do que a do setor
de primeira transformação. Neste indicador as diferenças entre líderes e seguidoras
também são substantivas, o que indica heterogeneidade tecnológica entre as categorias
sem caracterizar regimes tecnológicos distintos. Especialmente as seguidoras de maior
porte, pertencentes ao CR-4 ou CR-8 setorial, também devem realizar algum esforço em
P&D para a eficiência de seus mecanismos de imitação tecnológica. Comparando as
líderes dos setores da indústria, a participação P&D/ receita é semelhante, confirmando
que a trajetória da indústria, puxado pelas líderes, é de maior acumulação de
conhecimento porém distante dos padrões dos setores com diferenciação de produto e
mais ainda das chamadas “indústrias baseadas na ciência”.
No tocante à distribuição dos investimentos tangíveis e de P&D, observa-se que a
composição é menos desequilibrada, onde as seguidoras representam a maior parcela do
investimento (54%), já as líderes são a maior parcela dos gastos em P&D (83%). As
seguidoras compõem apenas 17% dos gastos em P&D. Ou seja, as estratégias
competitivas de preço prêmio e vantagens absolutas de custos por parte das líderes em
relação as seguidoras “representativas” são bem distintas dentro do regime tecnológico,
que se caracteriza por níveis intermediários de oportunidades tecnológicas –
especialmente ligadas ao plantio e manejo de florestas renováveis e diversificação de
37
40. produtos, de acumulação de conhecimento e nível de apropriação. É importante observar
que o conhecimento acumulado no produto está, neste caso, muito associado com a
condição de apropriação pecuniária do conhecimento, i.e., o produto das líderes deve ser
commoditizado, porém, de qualidade superior em contraste com o produto das
seguidoras.
Figura 5.2
Investimento Total e Investimento em P&D de Produtos de Madeira
Investimento Gasto em P&D
2% 17% 0%
44%
54%
83%
Líderes Seguidoras Frágeis
Fonte: Elaboração própria a partir da PIA e PINTEC/IBGE.
De fato a Tabela 5.2 evidencia esta última diferença. As informações sobre a importância
dos fatores para a inovação tecnológica revelam que preponderam para as líderes de
Produtos de Madeira o papel dos fornecedores (65%) – da indústria química e
petroquímica – e em segundo o papel dos departamentos internos de P&D, que devem
estar associados ao maior tamanho das firmas. Para as seguidoras, nenhum fator é
considerado de alta importância por um percentual significativo de firmas. Era de se
esperar uma percentual maior para o papel dos concorrentes, haja vista que as
seguidoras supostamente imitam as líderes, podendo este resultado indicar um viés de
resposta. Em contraste, para o setor Desdobramentos de Madeira (Tabela 5.3), os
clientes e consumidores são considerados de alta importância para a grande maioria das
firmas líderes. E, em segundo lugar, as consultorias (40%).
38
41. Tabela 5.2
Importância para a Inovação na Indústria de Produtos de Madeira
(números de empresas e participação no total, 2005)
Líderes Seguidoras Frágeis
Número de empresas 20 349 520
Importância para departamentos de P&D 4 6 0
(20%) (1,71%) (0%)
Importância alta para fornecedores 13 59 76
(65%) (17%) (14%)
Importância alta para clientes e 2 72 79
consumidores (10%) (20%) (15%)
Importância alta para concorrentes 3 35 26
(15%) (10%) (5%)
Importância alta para empresas de 1 18 0
consultoria (5%) (5%) (0%)
Fonte: Elaboração própria a partir da PIA e PINTEC/IBGE.
Tabela 5.3
Importância para a Inovação na Indústria de Desdobramentos de Madeira
(números de empresas e participação no total, 2005)
Líderes Seguidoras Frágeis
Número de empresas 5 369 514
Importância para departamentos de P&D 1 1 0
(20%) (0%) (0%)
Importância alta para fornecedores 2 83 11
(40%) (22%) (2%)
Importância alta para clientes e 4 56 6
consumidores (80%) (15%) (1%)
Importância alta para concorrentes 0 35 24
(0%) (9%) (4%)
Importância alta para empresas de 2 11 0
consultoria (40%) (3%) (0%)
Fonte: Elaboração própria a partir da PIA e PINTEC/IBGE.
No caso das seguidoras (e frágeis) nenhum fator é particularmente relevante para grande
parte das firmas. A hipótese de dois regimes tecnológicos parece ser, portanto, bem
plausível, onde firmas líderes de primeira transformação devem estabelecer contratos
estáveis de fornecimento para empresas moveleiras e de construção civil de alto luxo de
produtos sob encomenda. Tudo indica que estas líderes de primeira transformação não
sejam fornecedoras do setor de transformação final, que usa a matéria-prima da madeira
39
42. para a produção em massa de compensados. Fornecem, ao contrário, diretamente para
as duas principais indústrias a jusante, que em seu segmento de alto luxo exigem madeira
maciça com certificação de origem.
As fontes mais importantes de inovação para as 5 líderes de Desdobramentos de Madeira
(Tabela 5.4) são universidades (100% das líderes), instituições de teste (80%), feiras e
exposições (60%) e redes de informação (60%). A atribuição unânime da alta importância
da universidade como fonte de informação para a inovação confirma nossa conjectura de
que o acesso ao conhecimento de melhoramento genético e biotecnológico deve ser vital
do esforço de inovação tecnológico desse restrito número de firmas, sob um regime
tecnológico distinto daquele das firmas representativas da indústria.
Tabela 5.4
Fontes da inovação na Indústria de Desdobramentos de Madeira
(número de empresas e participação no total, 2005)
Líderes Seguidoras Frágeis
Número de empresas 5 369 514
Importância para Universidade 5 5 4
(100%) (1%) (0,7%)
Importância alta para centro de 2 11 0
capacitação (40%) (3%) (0%)
Importância alta para instituições de teste 4 3 0
(80%) (0,8%) (0%)
Importância alta para feiras e exposições 3 53 28
(60%) (14%) (5%)
Importância alta para redes de informação 3 44 0
(60%) (12%) (0%)
Fonte: Elaboração própria a partir da PIA e PINTEC/IBGE.
Os dados da Tabela 5.5 sobre a cooperação para inovação no segmento corroboram as
evidências de que a cooperação é pouco importante no setor: apenas 40% das líderes
cooperam para inovação, e 20% cooperam em P&D com fornecedores.
40
43. Tabela 5.5
Cooperação para Inovação na Indústria de Desdobramentos de Madeira
(números de empresas e participação no total, 2005)
Líderes Seguidoras Frágeis
Número de empresas 5 369 514
Cooperação para inovação 2 6 0
(40%) (1%) (0%)
Importância alta para cooperação com 0 0 0
clientes e consumidores (0%) (0%) (0%)
Importância alta para cooperação com 0 6 0
fornecedores (0%) (1%) (0%)
Importância alta para cooperação com 0 0 0
concorrentes (0%) (0%) (0%)
Cooperou em P&D com fornecedores 1 0 0
(20%) (0%) (0%)
Fonte: Elaboração própria a partir da PIA e PINTEC/IBGE.
No segmento de Produtos de Madeira, as fontes de inovação mais importantes (Tabela
5.6) para as líderes são feiras e exposições (40%). Universidades e redes de informação
são fatores pouco citados como relevantes. No entanto, um grupo restrito de líderes e de
seguidoras, provavelmente as de maior porte que constituem o CR-4 e CR-8 do setor,
declaram a alta importância de centros de capacitação e redes de informação,
confirmando que estas firma estão atualizadas na melhor prática mundial do setor.
Tabela 5.6
Fontes da inovação na Indústria de Produtos de Madeira
(número de empresas e participação no total, 2005)
Líderes Seguidoras Frágeis
Número de empresas 20 349 520
Importância para Universidade 0 4 0
(0%) (1%) (0%)
Importância alta para centro de 3 4 0
capacitação (15%) (1%) (0%)
Importância alta para instituições de teste 4 13 0
(20%) (3%) (0%)
Importância alta para feiras e exposições 8 71 69
(40%) (20%) (13%)
Importância alta para redes de informação 4 50 36
(20%) (14%) (7%)
Fonte: Elaboração própria a partir da PIA e PINTEC/IBGE.
41
44. A Tabela 5.7 indica que a cooperação para inovação no segmento é pouco significativa,
apenas 15% das líderes cooperam para inovação, e apenas 10% cooperam com
fornecedores. Aqui novamente a cooperação é relevante apenas por um diminuto número
de líderes e seguidoras, possivelmente as de maior porte do setor, especialmente junto
aos fornecedores.
Tabela 5.7
Cooperação para Inovação na Indústria de Produtos de Madeira
(números de empresas e participação no total, 2005)
Líderes Seguidoras Frágeis
Cooperação para inovação 3 8 0
(15%) (2%) (0%)
Importância alta para cooperação com 0 2 0
clientes e consumidores (0%) (0,5%) (0%)
Importância alta para cooperação com 2 2 0
fornecedores (10%) (0,5%) (0%)
Importância alta para cooperação com 0 2 0
concorrentes (0%) (0,5%) (0%)
Cooperou em P&D com fornecedores 2 2 0
(10%) (0,5%) (0%)
Fonte: Elaboração própria a partir da PIA e PINTEC/IBGE.
5.2 PARTICIPAÇÃO DO CAPITAL ESTRANGEIRO
A participação de capital estrangeiro na indústria de madeira não era muito significativa
em 2005 (Tabela 5.8). Apenas 11 empresas em Desdobramentos de Madeira foram
identificadas como de capital estrangeiro, todas seguidoras. Como destacado
anteriormente, as seguidoras nesse segmento são as principais empresas exportadoras o
que provavelmente se associa à propriedade do capital. Um dado interessante é que
apenas 54% das estrangeiras são inovadoras, ao passo que todas as seguidoras
nacionais são inovadoras. Assim, a propriedade de capital estrangeiro no segmento pode
estar associada a exportações de produtos com menos conteúdo tecnológico e de
inovação.
Para Produtos de Madeira, 11 empresas foram identificadas como de capital estrangeiro,
todas seguidoras (Tabela 5.9). O percentual de inovadoras entre estrangeiras é um pouco
42
45. superior ao das nacionais seguidoras. Os outros indicadores mostram pouca
diferenciação entre nacionais e estrangeiras.
Cabe ressaltar o crescente interesse de empresas estrangeiras de grande porte no
mercado brasileiro, como as chilenas Masisa e Arauco e o grupo português Sonae,
através de sua subsidiária nacional Talisa, considerado o maior fabricante mundial de
compensado em capacidade instalada. A Masisa é líder de produção no setor nos demais
países da América Latina. Os dados da PIA até 2005 possivelmente ainda não captaram
a entrada no mercado nacional desses atores da indústria em escala mundial.
Tabela 5.8
Firmas Estrangeiras na Indústria de Desdobramentos de Madeira
(números de empresas e participação no total, 2005)
Empresas Seguidoras
Nacionais Estrangeiras
Número de Empresas 358 11
Investimento em máquinas e 55% 32%
equipamentos em relação ao
investimento total
Inovadoras 100% 54%
Exportadoras 77% 100%
Fonte: Elaboração própria a partir da PIA e PINTEC/IBGE.
Tabela 5.9
Firmas Estrangeiras na Indústria de Produtos de Madeira
(números de empresas e participação no total, 2005)
Empresas Seguidoras
Nacionais Estrangeiras
Número de Empresas 338 11
Investimento em máquinas e 52% 73%
equipamentos em relação ao
investimento total
Inovadoras 42% 63%
Exportadoras 98% 91%
Fonte: Elaboração própria a partir da PIA e PINTEC/IBGE.
43