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ISSN 1982 - 0283




CARTOGRAFIA
  ESCOLAR
  Ano XXI Boletim 13 - Outubro 2011
Sumário




Cartografia escolar


Apresentação da série. ........................................................................................................... 3
                     .
Rosa Helena Mendonça



Introdução. ............................................................................................................................ 4
          .
Rosangela Doin de Almeida



Texto 1 - Cartografia, cultura e produção de conhecimento escolar...................................... 8
Rosangela Doin de Almeida



Texto 2: As linguagens e a cartografia na educação básica................................................... 18
Rosangela Doin de Almeida



Texto 3: Tecnologia e cartografia escolar..............................................................................28
Tania Seneme do Canto
Cartografia escolar


Apresentação


Segundo pode ser lido no Atlas Geográfico                 Doin de Almeida (UNESP – Rio Claro/SP), é
Escolar, no site do IBGE1,                                uma retomada do tema apresentado com
                                                          grande repercussão no Salto para o Futuro/
“A palavra Cartografia foi registrada pela pri-           TV Escola em 2003. Desta vez, incorporando,
meira vez em 1839 em uma correspondência                  além de aspectos históricos e de práticas es-
do Visconde de Santarém para o historiador                colares, temas como a cultura cartográfica
brasileiro Francisco Adolfo Varnhagem, in-                do ciberespaço, entre outros.
dicando a ideia de um traçado de mapas e
cartas, onde se lia: (...) invento esta palavra           Nos programas televisivos, por meio de lo-
                                                                                                          3
já que aí se têm inventado tantas.”                       cações em diferentes espaços, incluindo o
                                                          escolar, e de entrevistas com especialistas
Mas se a palavra surge no século XVIII, a                 o tema será apresentado visando subsidiar
ideia de criar registros do espaço é muito                novas experiências nas escolas. Os textos
anterior, como nos revelam os historiadores.              que compõem esta publicação também ofe-
                                                          recem reflexões e referências bibliográficas
E, cada vez mais, a cartografia faz parte de nos-         que poderão servir de fundamentação aos
sas vidas, ganhando espaço também nos currí-              professores e às professoras que já desen-
culos escolares, desde a educação infantil.               volvem ou que pretendem desenvolver tra-
                                                          balhos com cartografia na escola.
A série Cartografia escolar, com a consulto-
ria da professora e pesquisadora Rosangela                Rosa Helena Mendonça1




1	      http://www.ibge.gov.br/ibgeteen/atlasescolar/apresentacoes/oquee.swf
2	      Supervisora pedagógica do programa Salto para o Futuro/TV ESCOLA (MEC).
Cartografia Escolar

Introdução
                                                                          Rosangela Doin de Almeida1




A presença da cartografia na Educação Bási-             A cartografia escolar está se estabelecendo
ca cresceu consideravelmente nas duas úl-               como um conhecimento construído nas in-
timas décadas. Embora o uso de mapas e o                terfaces entre cartografia, educação e geo-
ensino de conceitos cartográficos já façam              grafia, abrangendo conhecimentos e práti-
parte dos programas escolares de Geogra-                cas para o ensino de conteúdos originados
fia há muito tempo, temos assistido recen-              na cartografia, mas que se caracteriza por
temente uma expansão dos conhecimen-                    lançar mão de visões próprias de diversas
tos cartográficos no ensino que vai desde               áreas. Ela também pode referir-se a formas
a educação infantil até o ensino superior.              de se apresentar conteúdos relativos ao es-
                                                                                                              4
Nos cursos de pós-graduação, também é                   paço-tempo social, a concepções teóricas de
crescente o interesse em temas sobre carto-             diferentes áreas de conhecimento a ela rela-
grafia e educação. Diversos acontecimentos              cionadas, a experiências em diversos contex-
concorreram para isso, que serão, em parte,             tos culturais, a práticas com tecnologias da
apresentados no primeiro texto.                         informação e comunicação. Esses e outros
                                                        temas que compõem o mosaico atual das
A cartografia escolar vem se estabelecendo              discussões sobre sociedade e escola também
no currículo, bem como tem despertado in-               dizem respeito à cartografia escolar, dando-
teresse de pesquisas. Ela é vista como um               lhe novas e múltiplas interfaces.
saber que está em construção no contexto
histórico-cultural atual, momento em que a              Nesta série abordaremos as especificidades
tecnologia permeia as práticas sociais e as             do tema “Cartografia Escolar”. Ao longo de
concepções educacionais destacam a forte                cinco programas, vamos discutir a cartogra-
influência da cultura nas práticas escolares.           fia realizada nas escolas e sistematizada por



1	       Professora adjunta aposentada e voluntária no Departamento de Planejamento Territorial e
Geoprocessamento do IGCE – Unesp – CRC. Coordenadora do grupo de pesquisa “Geografia e Cartografia Escolar”
credenciado no CNPq. Consultora da série.
pesquisadores sob a ótica do currículo, da               Vamos também discutir a cultura carto-
cultura e da tecnologia na educação básica               gráfica do ciberespaço: mapas multimídia,
e no ensino superior, a partir de três eixos:            Google Earth, novas práticas de mapeamen-
1) Cartografia, cultura e produção de conhe-             to que possibilitam o compartilhamento de
cimento escolar; 2) As linguagens e a carto-             dados e a produção colaborativa de mapas,
grafia na educação básica; 3)Tecnologia e                projetos multimídia e atlas eletrônicos. Va-
cartografia escolar.                                     mos observar os desdobramentos desses
                                                         itens no ensino de Geografia.
Com esses eixos temáticos, discutiremos a
história dos conteúdos de cartografia nos
livros didáticos desde o início do século XIX            Textos da série Cartografia
e as alternâncias, permanências e transfor-              Escolar2
mações curriculares. Vamos mostrar tam-
bém como os mapas e atlas escolares foram                A Cartografia Escolar vem se estabelecen-
se adaptando aos contextos políticos e edu-              do como um conhecimento construído nas
cacionais ao longo da história da educação               interfaces entre cartografia, educação e
brasileira, criando visões de país e de mundo            geografia. A Cartografia Escolar abrange
em sintonia com os interesses de seus pro-               conhecimentos e práticas para o ensino de              5
dutores. Discutiremos também a importân-                 conteúdos originados na cartografia, mas
cia da relação espaço-tempo-corpo nas re-                pode lançar mão de visões próprias de diver-
presentações espaciais infantis.                         sas áreas. Atualmente, também pode refe-
                                                         rir-se a formas de se apresentar conteúdos
No contexto da educação inclusiva, vamos                 relativos ao espaço-tempo social, a concep-
abordar a cartografia tátil no ensino de geo-            ções teóricas de diferentes áreas de conheci-
grafia com uso de mapas, gráficos e maque-               mento a ela relacionadas, a experiências em
tes sonoras (ou não). Mostraremos como                   diversos contextos culturais, a práticas com
alguns laboratórios de pesquisas em carto-               tecnologias da informação e comunicação.
grafia tátil usam recursos computacionais                Até certo ponto, sua abrangência está vin-
para confecção de material didático de bai-              culada à escola, diretamente ou não. Esses
xo custo, que são acessíveis para professores            e outros temas serão debatidos ao longo dos
e alunos.                                                cinco programas da série.




2	       Estes textos são complementares à série Cartografia Escolar, com veiculação no programa Salto para o
Futuro/TV Escola (MEC) de 17/10/2011 a 21/10/2011.
Texto 1/PGM 1: Cartografia, cultura e produção de
conhecimento escolar

           No primeiro texto da série, são comentados os vários eventos sobre cartografia
           escolar no Brasil, destacando que os trabalhos apresentados nesses eventos deli-
           neiam temas de interesse de pesquisadores e professores quanto à cartografia es-
           colar. O texto também apresenta a história dos conteúdos de Cartografia nos livros
           didáticos desde o início do século XIX e as alternâncias, permanências e transfor-
           mações curriculares.



Texto 2/PGM 2: As linguagens e a cartografia na educação
básica

           O segundo texto discute as linguagens e a cartografia na Educação Infantil e no
           Ensino Fundamental, destacando a representação do espaço por crianças através
           do desenho. Também aborda um tema de grande importância: o ensino de mapas
           para pessoas portadoras de deficiência visual.
                                                                                                 6


Texto 3/PGM 3: Tecnologia e cartografia escolar

           O terceiro texto da série discute a cultura cartográfica do ciberespaço: mapas mul-
           timídia, Google Earth, novas práticas de mapeamento que possibilitam o compar-
           tilhamento de dados e a produção colaborativa de mapas, projetos multimídia e
           atlas eletrônicos. Analisa, ainda, os desdobramentos desses itens no ensino de Geo­
           grafia.


Os textos 1, 2 e 3 também são referenciais para as entrevistas e debates do PGM 4 – Outros
olhares sobre cartografia escolar e do PGM 5: Cartografia escolar em debate.
Referências                                      VENTORINI, Silvia. A experiência como fator
                                                 determinante na representação espacial de
ALMEIDA, Rosangela Doin de (org.) Carto-
                                                 pessoas com deficiência visual. São Paulo: Ed.
grafia Escolar. São Paulo: Ed. Contexto, 2007.
                                                 Unesp, 2009.

ALMEIDA, Rosangela Doin de (org.) Novos ru-
mos da Cartografia Escolar: currículo, lingua-   Blog Cartografia Escolar
gem e tecnologia. São Paulo: Ed. Contexto
                                                 Atlas eletrônico do Rio de Janeiro – Arma-
2011.
                                                 zenzinho - Instituto Pereira Passos

ALMEIDA, Rosangela Doin de. Do desenho ao
                                                 http://portalgeo.rio.rj.gov.br/armazenzinho/
mapa. São Paulo: Ed. Contexto, 2004.
                                                 web

Cadernos dos CEDES, Formação de professo-
res e Atlas municipais escolares. Campinas,      IBGE
v. 23, n. 60, p.131-134, agosto de 2003.
                                                 http://www.ibge.gov.br/7a12

MARTINELLI, Marcello. Os mapas da Geogra-        http://www.ibge.gov.br/ibgeteen
                                                                                                  7
fia e cartografia temática. São Paulo: Contex-
to, 2003.
                                                 Concurso Nacional de
                                                 mapas por crianças “Lívia de
PAGANELLI, Tomoko Y. A noção de espaço e
tempo – o mapa e o gráfico. Revista Orienta-
                                                 Oliveira”
ção, São Paulo, n. 6, p.21-38, 1985.             http://www.cartografia.org.br
TEXTO 1 - Cartografia, cultura e produção de
conhecimento escolar



                                                                          Rosangela Doin de Almeida1




Inicialmente, vamos retomar alguns acon-                tados positivos obtidos nesse levantamento,
tecimentos que contribuíram para a consti-              foi criado um grupo de trabalho internacio-
tuição da Cartografia Escolar no Brasil, de             nal sobre Cartografia e Crianças, em 1995.
maneira que o leitor possa situar as atuais
publicações e a própria série sobre este                Nesse mesmo ano, no Brasil, foi realizado o
tema.                                                   1º Colóquio de Cartografia para Crianças. O
                                                        interesse nessa temática foi grande, princi-
Desde a década de 1990, vêm sendo realiza-              palmente por parte de professores e pesqui-
dos vários eventos sobre cartografia escolar            sadores de diversas universidades brasilei-
                                                                                                              8
no Brasil, eventos que, em parte, correspon-            ras. Em 1996, o II Colóquio Cartografia para
dem ao que vem acontecendo na Associação                Crianças foi promovido pela Universidade
Cartográfica Internacional (ICA). Em 1993, a            Federal de Minas Gerais, em Belo Horizon-
ICA criou o Prêmio Barbara Petchenik, em                te. O III Colóquio Cartografia para Crianças
memória dessa cartógrafa que foi vice-pre-              foi realizado pela Associação de Geógrafos
sidente da ICA e trabalhou com mapas para               Brasileiros (seção São Paulo), na USP, em
crianças. O objetivo do concurso era promo-             1999. A Universidade Estadual de Maringá
ver representações criativas do mundo fei-              deu lugar ao IV Colóquio e I Fórum Latino-
tas por crianças, o que foi recebido de modo            americano de Cartografia para Crianças,
muito positivo. Em 1994, um survey realizado            em 2001. Neste evento, foi realizada tam-
conjuntamente entre Brasil e Canadá pes-                bém a competição internacional Barbara
quisou o nível de interesse em formar um                Petchenick de mapas do mundo para a se-
grupo de estudos sobre a relação das crian-             leção de trabalhos que foram enviados para
ças com mapas. Em decorrência dos resul-                o Congresso Internacional de Cartografia




2	       Professora adjunta aposentada e voluntária no Departamento de Planejamento Territorial e
Geoprocessamento do IGCE – Unesp – CRC. Coordenadora do grupo de pesquisa “Geografia e Cartografia Escolar”
credenciado no CNPq. Consultora da série.
em Beijin (China), onde o mapa de uma              vro Cartografia Escolar (Almeida, org., 2007)
aluna brasileira foi premiado. Atualmente,         que reúne as teses que embasaram o desen-
a Sociedade Brasileira de Cartografia criou        volvimento de uma Cartografia Escolar no
o Prêmio “Lívia de Oliveira” com o mesmo           Brasil.
objetivo da ICA, as regras para essa premia-
ção podem ser encontradas no sítio da SBC          A realização do VI Colóquio de Cartografia
[http://www.cartografia.org.br ].                  para Crianças e do II Fórum Latino-ameri-
                                                   cano de Cartografia para Escolares ocorreu
A Universidade Federal Fluminense e a So-          na Universidade Federal de Juiz de Fora, em
ciedade Brasileira de Cartografia realizaram       2009, contando com o apoio do CNPq e da
o I Simpósio Ibero-americano de Cartografia        Sociedade Brasileira de Cartografia.
para Crianças, no Rio de Janeiro, em 2002.
Nesse mesmo ano, ocorreu o VIII Colóquio           Em outubro de 2011, será realizado do VII Co-
Internacional de Cartografia para Crianças,        lóquio de Cartografia para Crianças e Esco-
em Diamantina (MG), o qual reuniu diversos         lares, que terá lugar na Universidade Federal
pesquisadores internacionais.                      do Espírito Santo, com o tema “Imaginação
                                                   e Inovação: desafios para a Cartografia Esco-
O V Colóquio de Cartografia para Crianças          lar”. O objetivo do evento é discutir a atual   9
ocorreu em 2007, na Universidade Federal           produção nessa área e ser um momento de
Fluminense. Nesse evento, foi lançado o li-        intercâmbio com outros pesquisadores que




                         Figura 1 – Triângulo didático (R. D. Almeida)
cruzam sua produção com aquela relaciona-            belecidos e às condições mais objetivas em
da à cartografia e educação.                         que se desenvolve; portanto, trata-se de um
                                                     elemento fundamental da cultura escolar”
Em decorrência da produção existente a res-          (ver figura 1).
peito do assunto, podemos agora tentar de-




                                                                                                    10




                        Figura 2 – Mapa conceitual de Cartografia escolar.
                                 (Extraído de: Almeida, 2011, p. 8)




finir em que consiste a Cartografia Escolar. A       Na tentativa de situar a cartografia escolar
partir do tradicional triângulo didático, em         no contexto da cultura escolar e do currícu-
cujos vértices são indicados os três pontos          lo, elaboramos um mapa conceitual (figura
principais da didática – o saber, o professor        2), que representa o triângulo didático no
e o aluno – fizemos uma adaptação, com o             amplo espaço em que circulam conheci-
objetivo de inserir elementos teóricos mais          mentos de diferentes áreas das Ciências Hu-
atuais. Retiramos o termo “saber” e o subs-          manas: Psicologia Educacional, Psicologia
tituímos por “currículo”, que segundo Sa-            Social, Filosofia, Sociologia, Antropologia,
cristán (1998), corresponde a “uma seleção           História da Educação, Política Educacional,
culturalmente definida de certos conteúdos,          para mencionar algumas; onde circulam co-
que estão ligados aos formatos nele esta-            nhecimentos das ciências da Linguagem (Se-
miologia, Semiótica, Linguística, Análise do      multimídia, educação a distância, senso-
Discurso, Filosofia da Linguagem, Cinema,         riamento remoto e geoprocessamento;
Literatura, por exemplo) e das ciências de
                                                •	 Formação docente, incluindo pesquisas
referência que, no caso, são principalmente
                                                  sobre saberes e práticas de professores,
Geografia e Cartografia. Conhecimentos es-
                                                  currículo e formação de professores.
ses que se constituem e se transformam no
amplo contexto da sociedade e da cultura.
Cabe dizer que esse contexto ganha sentido      A CARTOGRAFIA NO CURRÍCULO
ao circunstanciar-se no tempo e no espaço,      ESCOLAR
não correspondendo a algo único e geral (Al-
meida, 2011, p. 7 e 8).                         Cabe, agora, perguntar como a cartografia
                                                entrou no currículo escolar. Consideramos
Os trabalhos apresentados nos eventos deli-     que o currículo vai se estabelecendo como
neiam temas de interesse de pesquisadores       resultado de um jogo de forças entre dife-
e professores quanto à cartografia escolar.     rentes grupos sociais que têm poder para
Em um levantamento que realizamos cons-         definir o que e como deve ser ensinado. Nis-
tatamos, nos Anais dos eventos, que os se-      so, estamos de acordo com Ivor Goodson
guintes temas são os mais recorrentes:          (2000) e André Chervel (1990).                    11


•	 Representação do espaço, que inclui con-     Em uma pesquisa sobre os conteúdos de
  teúdos de cunho teórico a respeito da         cartografia nos livros didáticos brasileiros,
  representação do espaço na criança, lin-      foram analisados os seguintes livros publi-
  guagem cartográfica, mapas mentais e re-      cados no período de 1824 a 1936:
  presentação de conceitos socioespaciais;
                                                •	 TORREÃO, Bazilio Quaresma. Compendio
•	 Metodologia de ensino, que envolve con-        de Geographia Universal. Londres: L. Thom-
  teúdos teórico-práticos voltados para a         son Library, 1824.
  busca de caminhos didáticos no ensino
  da Cartografia Escolar, incluindo iniciação   •	 BRASIL, Thomaz Pompêo de Souza. Com-
  cartográfica, educação especial (deficien-      pendio elementar de Geographia geral e es-
  tes visuais) e ensino-aprendizagem de ha-       pecial do Brasil. Rio de Janeiro: Eduardo &
  bilidades e conceitos específicos;              Henrique Laemmert, 1864.


•	 Tecnologias e produção de materiais di-      •	 F. I. C. Terra Ilustrada. Geographia Univer-
  dáticos cartográficos, incluindo trabalhos      sal: Physica, Etnographica, Politica, Econo-
  a respeito de atlas escolares, maquetes,        mica dos cinco partes do mundo. Traduzida
e adaptada por Eugenio de Barros Raja           foram criados para o Colégio Pedro II, nos
  Gabaglia. Rio de Janeiro: Livraria Garnier,     anos seguintes da sua fundação, e serviram
  188(?).                                         de base para os livros que se sucederam,
                                                  mas, cabe dizer, esses programas foram sis-
No primeiro compêndio, logo no início, o au-
                                                  tematizados a partir de livros existentes na
tor esclarece que se trata de um resumo de es-
                                                  época. Isso caracteriza um efeito de dupla
tudos de diversos autores estrangeiros, que ele
                                                  legitimação dos conteúdos curriculares. En-
realizou com a finalidade de apresentar aos jo-
                                                  tre as obras didáticas mais indicadas, surgiu
vens brasileiros. De modo curioso, o autor “re-
                                                  o livro do padre e jurista Thomaz Pompeu de
conhece a importância do trabalho com mapas
                                                  Souza Brasil, intitulado Compendio elementar
para o ensino da Geografia e lamenta a ausên-
                                                  de Geographia Geral e Especial do Brasil. Esse
cia desse recurso didático na obra devido aos
                                                                  livro foi publicado, provavel-
altos custos, na época,
                                                                  mente, no final da década de
de uma impressão com
                                  O título “Terra                 1850, por uma das livrarias
imagens. Nesse senti-
                                Ilustrada” remete                 mais tradicionais do Rio de
do, aconselha os profes-
                               ao aspecto inovador                Janeiro, a Eduardo & Hen-
sores a fazerem uso de
                                                                  rique Laemmert Editores.
planisférios e de mapas        dessa obra, pois ela                                                12
                                                                  “Souza Brasil era docente do
regionais em suas aulas,         deve ser um dos
                                                                  Lyceu do Ceará, em Fortale-
como forma de suprir a           primeiros livros                 za, nas cadeiras de História
ausência de represen-          didáticos ilustrados               e Geografia, e mantinha es-
tações cartográficas no
                                   de Geografia                   treitas relações com o Insti-
material didático” (Boli-
                               impressos no Brasil.               tuto Histórico e Geo­ ráfico
                                                                                      g
gian e Almeida, 2011, p.
                                                                  Brasileiro (IHGB), sediado no
74). Já podemos notar
                                                                  Rio de Janeiro, onde atuava
que o texto era o princi-
                                                  como membro pesquisador” (Boligian e Al-
pal (e único) meio destinado ao ensino e que se
                                                  meida, 2011, p. 75).
tratava de um “resumo” construído a partir de
outros autores, aos quais os professores nunca
                                                  A obra de Souza Brasil reproduz a de “pos-
teriam acesso. Destacamos o caráter enciclo-
                                                  tillas” antigas, que eram “resumos escritos
pedístico do ensino e a concepção de que os
                                                  pelos professores, os quais eram reproduzi-
mapas não eram necessários para o estudo do
                                                  dos de maneira manuscrita ou em pequenas
tema.
                                                  tipografias, com conteúdos para algumas
                                                  matérias escolares”. Essas apostilas eram já
Os primeiros programas oficiais de ensino         resumos do compêndio de Quaresma Tor-
Figura 3 – Ilustração encontrada no livro “Terra Ilustrada”. “Geographia
               Universal: Physica, Etnographica, Politica, Economica das cinco partes
             do mundo”, da segunda metade da década de 1880, traduzido e adaptado
                                                                                                    13
                                pelo professor Eugenio Raja Gabaglia.


reão, “em que, na primeira parte, são desen-         Politica, Economica das cinco partes do mun-
volvidas ‘noções geraes’, com conceitos de           do, preparada, em sua versão nacional, pelo
Astronomia, Cartografia e Geografia Física,          professor Eugenio de Barros Raja Gabaglia
a segunda parte aborda aspectos naturais,            e publicada pela Livraria Garnier, do Rio
populacionais e econômicos descritivos dos           de Janeiro. Esse livro era usado no original
continentes e países do mundo, e uma ter-            francês, Raja Gabaglia não fez apenas a tra-
ceira parte final apresenta descrições dos           dução, ele incluiu novos conteúdos para se
aspectos já citados das províncias brasileiras       adequar ao programa escolar brasileiro.
(...)” (Boligian e Almeida, 2011, p. 76).
                                                     O título “Terra Ilustrada” remete ao aspecto
Ainda resta indicar a importante influência          inovador dessa obra, pois ela deve ser um
dos livros didáticos franceses no currículo          dos primeiros livros didáticos ilustrados de
da escola brasileira. Um livro que teve gran-        Geografia impressos no Brasil. Trata-se de
de presença no Colégio Pedro II durante a            uma inovação que a Livraria Garnier trouxe
década de 1880 foi a obra Terra Ilustrada.           para o mercado editorial brasileiro. Embora
Geographia Universal: Physica, Etnographica,         ainda consista em uma compilação baseada
em outros autores franceses consagrados,         aqui como permanências no currículo brasi-
essa obra tinha “a possibilidade técnica e fi-   leiro de Geografia para o ensino secundário
nanceira de, naquele momento, inserir ima-       aproximadamente nos últimos dois séculos.
gens, avançando no didatismo proposto pe-        Esses conteúdos explícitos, assim como o
los materiais escolares da época. Inicia-se,     método de ensino estabelecido historica-
assim, uma nova fase na produção de ma-          mente pelos professores-autores de mate-
teriais didáticos, em que a vulgata passa a      riais didáticos, demonstram uma produção
ter o apoio determinante de imagens em sua       cultural distinta, na qual verificamos que
tarefa de ‘transpor’ conceitos e conteúdos”      a Geografia escolar surge não como uma
(Boligian e Almeida, 2011, p. 82).               vulgarização ou uma adaptação de conhe-
                                                 cimentos geográficos científicos, mas sim
Diversas ilustrações desse livro foram copia-    como uma forma de conhecimentos parti-
das por outros, chegando até os dias atuais      cular e original da instituição escolar e para
como verdadeiros “ícones” do ensino de           a instituição escolar” (Boligian e Almeida,
cartografia. Entre elas, escolhemos uma que      2011, p. 89).
teve o poder de quase perpetuar a ideia de
que as direções cardeais estão associadas        Um estudo similar ilumina outro aspecto
aos lados do corpo humano (direito/ Leste -      central da cartografia escolar – os atlas es-    14
esquerdo/Oeste) e levar ao esquecimento de       colares. Marcello Martinelli, autor de diver-
que essas direções resultam do movimento         sos atlas escolares, vem desenvolvendo uma
de rotação da Terra, o qual ocasiona o mo-       metodologia para a produção desses atlas,
vimento aparente do Sol, conhecido desde a       de maneira a superar as dificuldades origi-
Antiguidade como referência para a orienta-      nadas pela reprodução de materiais prece-
ção e a localização (figura 3).                  dentes sem a necessária discussão de seus
                                                 objetivos, conteúdos e formas.
Esta rápida análise nos leva a concluir que
a cartografia presente nas escolas hoje con-     Referindo-se aos atlas do século XIX, ele
siste na permanência de conhecimentos que        traz uma informação sobre o uso de mapas
podem ser chamados de “núcleo duro”, ou          contrária àquela que encontramos sobre a
seja, “um conjunto de noções, conceitos e        inserção de mapas em livros de texto: “os
temas, como ‘Direção e Orientação’, ‘Forma       Atlas geográficos para escolares ganharam
da Terra e Movimentos dos astros’, ‘Linhas       crédito entre os materiais didáticos, ade-
imaginárias: Paralelos e Meridianos’, ‘Coor-     quando-se cada vez mais a essa tarefa em
denadas geográficas: Latitude e Longitude’,      sala de aula. Tais atlas despontaram em vá-
‘Mapa’ e ‘Globo terrestre’, que entendemos       rias partes do continente seguindo o modelo
da geografia alemã. Tanto é que se noticiou          primeiro atlas escolar ocorreu em 1868, por
como um primeiro atlas escolar, o Kleiner            Candido Mendes de Almeida, autor do Atlas
Atlas Scholasticus publicado em 1710 pelo            do Império do Brasil, que foi adotado no Co-
editor Homann. Compunha-se de mapas, sem             légio Pedro II.
algum texto. Numa edição posterior, de 1719,
sob o nome de Atlas methodicus, fora então           O Colégio Pedro II foi um marco no ensi-
concebido especificamente para atender os            no em nosso país. Desde sua criação até a
cursos de geografia” (Martinelli, 2011, p. 57.       década de 1930, a formação de professores
Grifo nosso).                                        era feita nesse colégio, pois não existiam
                                                     instituições de ensino superior para esse
Se retomarmos a produção de atlas esco-              fim. Em geral, o ensino de Geografia era
lares, vamos verificar que eles continham            pautado na memorização de informações
mapas e imagens organizados e relaciona-             sobre o território brasileiro e do mundo.
dos de acordo com o programa de Geogra-              No ensino de cartografia, a maior ênfa-
fia. Conforme essa disciplina se estabeleceu         se recaía sobre os estudos astronômicos,
no currículo e as técnicas de impressão fo-          como círculos da esfera terrestre, escala,
ram se aperfeiçoando, a produção de atlas            latitude e longitude, rosa dos ventos, pon-
aumentou. Esses atlas foram elaborados               tos cardeais e colaterais, orientação pelo     15
como simplificações dos grandes atlas ge-            Sol e pela bússola, cosmografia (astros e
rais de referência. No Brasil, a publicação do       esfera celeste).




             Figura 4 – Primeiras páginas do Atlas de Geographia Universal Especial-
             mente do Brasil. Extraído de Aguiar, 2011, p. 42.
Valeria Aguiar estudou os atlas escolares bra-   ALMEIDA, Rosangela Doin de (org.) Carto-
sileiros e concluiu que, na maior parte de-      grafia Escolar. São Paulo. Ed. Contexto, 2007.
les, a cosmografia era o tema inicial. “Com
                                                 ALMEIDA, Rosangela Doin de (org.) Novos ru-
o propósito de avaliar a Cartografia escolar
                                                 mos da Cartografia Escolar: currículo, lingua-
no contexto dessas reformas educacionais,
                                                 gem e tecnologia. São Paulo. Ed. Contexto,
selecionamos quatro atlas que as ratificam:
                                                 2011.
o Atlas de Geographia Universal Especialmente
do Brasil (edições de 1906 e de 1913) e duas
                                                 Boligian, Levon e ALMEIDA, Rosangela Doin
edições do Novo Atlas de Geographia (uma de
                                                 de. A cartografia nos livros didáticos no pe-
1927 e outra anterior, sem data de publica-
                                                 ríodo de 1824 a 1936 e a história da geografia
ção)” (Aguiar, 2011, p. 42) . Segundo ela, as
                                                 escolar no Brasil. In: ALMEIDA, R. D. (org.).
primeiras páginas desses atlas apresentam
                                                 Novos rumos da Cartografia Escolar: currícu-
as projeções cartográficas e a cosmografia
                                                 lo, linguagem e tecnologia. São Paulo. Ed.
(figura 4).
                                                 Contexto, 2011. p. 71-90.

Podemos concluir que a cartografia passou        CHERVEL, André. “História das disciplinas
a fazer parte do currículo como um item do       escolares: reflexões sobre um campo de pes-
programa de Geografia. Os conteúdos de           quisa”. In: Teoria & Educação, n. 2, 1990.       16
cartografia até meados do século passado
                                                 GOODSON, Ivor F. El cambio en el currículum.
permaneceram vinculados à cosmografia
                                                 Barcelona: Ediciones Octaedro, 2000.
e à astronomia. Sabemos que na segunda
parte do século passado, as mudanças cur-
                                                 MARTINELLI, Marcello. Atlas geográficos
riculares sofridas pela Geografia afetaram o
                                                 para escolares. In: ALMEIDA, R. D. (org.). No-
ensino de cartografia, de maneira que ape-
                                                 vos rumos da Cartografia Escolar: currículo,
nas nas últimas décadas ressurgiram preo-
                                                 linguagem e tecnologia. São Paulo: Ed. Con-
cupações com a linguagem cartográfica e o
                                                 texto, 2011. p 57-70.
ensino de mapas.
                                                 Sacristán, J. Gimeno. O currículo, uma refle-
                                                 xão sobre a prática. Porto Alegre: ArtMed,
Referências
                                                 1998.

AGUIAR, V. Trevizani. Navegar, com mapas, é
bem mais preciso. In: ALMEIDA, R. D. (org.).     Endereços eletrônicos:
Novos rumos da Cartografia Escolar: currícu-
                                                 Blog Cartografia Escolar
lo, linguagem e tecnologia. São Paulo. Ed.
                                                 www.cartografiaescolar@blogspot.com
Contexto, 2011. p. 37-56.
Atlas eletrônico do Rio de Janeiro – Arma-     IBGE
zenzinho. Instituto Pereira Passos
                                               http://www.ibge.gov.br/7a12
http://portalgeo.rio.rj.gov.br/armazenzinho/   http://www.ibge.gov.br/ibgeteen
web
                                               Concurso Nacional de mapas por crianças
                                               “Lívia de Oliveira”
                                               http://www.cartografia.org.br




                                                                                         17
Texto 2: As linguagens e a cartografia na educação básica


                                                                          Rosangela Doin de Almeida1



Na primeira parte deste texto, vamos dis-               Greig (2004, p. 13). Podemos dizer que os de-
cutir sobre linguagens e cartografia na Edu-            senhos ou grafismos consistem em um tipo
cação Infantil e no Ensino Fundamental,                 de linguagem presente em nossas manifes-
destacando a representação do espaço por                tações culturais desde a pré-história. Mas, o
crianças através do desenho.                            que é o desenho para a criança? Por que as
                                                        crianças desenham? A criança desenha para
Na segunda parte, vamos abordar um tema                 se divertir. A criança desenha para se comu-
de suma importância – o ensino de mapas                 nicar. É uma atividade lúdica e estética.
para pessoas portadoras de deficiência visu-
al. Mostraremos como produzir materiais                 Há poucos registros diretos a respeito do
adequados a esses alunos.                               que as crianças pensam sobre o ato de de-
                                                        senhar, são os adultos que escrevem sobre             18
Este é um assunto já bastante debatido em               os desenhos de crianças. Naturalmente, a
diversas publicações e nos encontros de Car-            perspectiva que predomina tem como refe-
tografia Escolar, portanto, vamos delinear              rência padrões definidos pelos adultos. Ain-
nossa abordagem em torno da representa-                 da que seja estranho pensar que as crianças
ção do espaço em desenhos infantis e sua                possam pesquisar suas próprias produções,
contribuição para uma cartografia pertinen-             conhecer mais de perto o que elas pensam
te à infância.                                          ao desenhar poderá contrabalançar nossas
                                                        concepções.
O desenho é uma forma particular de lin-
guagem. “O que faz com que um chimpan-                  Levantamos essa questão para fazer notar
zé, ainda que consiga riscar muito bem com              que as sistematizações teóricas sobre o de-
um lápis na pata, jamais faça um desenho                senho de crianças partem de concepções
de um chimpanzé (...)?” pergunta Philippe               dos adultos a respeito da infância. E que




2	       Professora adjunta aposentada e voluntária no Departamento de Planejamento Territorial e
Geoprocessamento do IGCE – Unesp – CRC. Coordenadora do grupo de pesquisa “Geografia e Cartografia Escolar”
credenciado no CNPq. Consultora da série.
predomina, ainda, uma visão evolutiva do           girino na representação de um personagem,
desenho proposta no início do século passa-        a qual mais tarde criará uma insatisfação
do. Não se trata de negar o desenvolvimento        quanto à sua propriedade para representar
do homem desde o nascimento até a idade            o corpo. A criança logo agrega um corpo à
adulta, mas de ficarmos atentos para o fato        cabeça, correspondendo à separação funcio-
de que existem outras abordagens além da           nal entre ambos.
evolutiva. O perigo aqui é considerar que
crianças pequenas são incapazes ou que             Na adequação das formas da figura huma-
suas produções gráficas não correspondem           na ao esquema corporal, a verticalidade é o
ao que deveriam ser, negando até certo pon-        ponto mais importante. Em outras palavras,
to sua propriedade linguística.                    conforme o esquema corporal for ganhan-
                                                   do detalhes funcionais (individuação de
Destacamos a importância das experiências          suas partes e respectivas funções) a criança




                                                                                                  19




               Figura 1 – A estrutura cabeça/corpo se estabelece (Extraído de Phi-
               lippe Greig. A criança e seu desenho. Porto Alegre: Artes Médicas,
               2004. p. 59).




corporais no espaço porque são elas que            perceberá que seu desenho da personagem
proporcionam a organização espacial inter-         não corresponde plenamente a essa ima-
na, a qual aparece nas representações da           gem. Procurará, então, agregar detalhes às
figura humana. Estas partem da conquista           formas já conquistadas. Nesse processo, ao
das formas fechadas que originam a figura-         alongar as pernas para dar verticalidade ao
corpo, perceberá que fica um vazio no tron-          à ou própria da postura ereta) influem na
co, o qual poderá ser preenchido. Outro ca-          apreensão das informações espaciais.
minho encontrado por algumas crianças é
fechar o eixo vertical, dando ao corpo uma           Pensamos que este ponto da construção do
forma trapezoidal. A diferenciação cabeça/           esquema corporal é o terreno fértil no qual
corpo pode ser feita também pela junção de           germinam as noções das demais coordena-
duas formas secantes ou tangentes. Essas             das espaciais. A verticalidade vem a consis-
formas vão ganhando detalhes até atingir             tir-se no eixo principal de toda organização
o esgotamento do desenho da personagem               espacial humana, pois só o homem tem uma
(figura 1).                                          postura ereta, o que lhe confere liberar os
                                                     membros superiores e deslocar-se ortostati-
Notamos uma importante relação entre                 camente sobre o solo. Definem-se assim três
a construção da figura da personagem e a             eixos a partir do esquema corporal: frente
representação do espaço: a verticalidade do          – atrás; direita – esquerda; acima – abaixo.
corpo. A forma vertical do corpo humano e
seu deslocamento na superfície terrestre, a          Liliane Lurçat acrescenta que “o conheci-
partir de uma postura ortostática (relativa          mento do próprio corpo procede do conhe-
                                                                                                    20




                Figura 2 – Figura continente para o rosto, figura irradiante para
                o corpo (Extraído de Philippe Greig. A criança e seu desenho. Por-
                to Alegre: Artes Médicas, 2004. p. 50).
cimento do espaço e ao mesmo tempo o tor-             mentos diferentes, a criança vai adquirindo
na possível” (1979, p. 23).                           um “vocabulário gráfico” que lhe permite
                                                      identificar (ou agregar identidade) aos dife-
Portanto, é na infância que a noção das co-           rentes objetos criados no espaço gráfico. Os
ordenadas espaciais se origina. O desenho             elementos gráficos da elaboração do dese-
de uma personagem não é apenas um dese-               nho são o círculo e o traço, que podem ser
nho, pois traz em si a referência primordial          combinados de três maneiras: círculo com
das relações de localização espacial e sua re-        círculo, traço com círculo e traço com traço
presentação cartográfica. É a partir do eixo          (figura 2).
vertical e sua projeção no espaço imediato
– e deste, no espaço representado no papel            Até aqui o problema das três dimensões ain-
ou na tela – que se projetam os referenciais          da não foi colocado. As figurações no espa-
de localização e orientação.                          ço bidimensional do papel mantêm o ponto
                                                      de vista único: as personagens são vistas de
A conquista do desenho da personagem vai              frente, animais casas e veículos são vistos de
se estabelecendo com a agregação de deta-             perfil (figura 3).
lhes na forma definida inicialmente. Trata-
se da figuração da personagem, que aparece            Em objetos com formas que se aproximam           21
junto com outras figurações: animais, ár-             dos sólidos geométricos, como por exemplo
vores, casas etc. Com a combinação de ele-            uma casa, o desenho frontal logo se revela




                 Figura 3 – Personagem vista de frente, veículo visto de perfil. (Extra-
                 ído de R. Doin de Almeida (coord.). Meu Primeiro Atlas de Sumaré.
                 2008, p. 12 )
como insuficiente, pois certos detalhes não         na conquista da representação tridimensio-
podem ser colocados, como janelas e por-            nal do espaço nos objetos: o ponto de vista
tas laterais. Para resolver esse problema,          único, a conjugação sincrética com rebati-
algumas crianças fazem uma justaposição             mentos, a busca da profundidade (destaque
da casa de frente e de lado, criando assim          de planos diferentes, afastamento etc.) e a
um desdobramento ou rebatimento dos ele-            angulação, que define a perspectiva conven-
mentos no plano frontal, o que é uma das            cional (figura 5).
principais características espaciais do dese-
nho de crianças (Figura 4).                         Parece-nos que a conquista da perspectiva




                                                                                                     22




               Figura 4 – Casas com visão frontal e desdobramento da lateral, o
               traçado das ruas é visto de cima. (Extraído de R. Doin de Almeida
               (coord.). Meu Primeiro Atlas de Sumaré. 2008, p. 52 ).




A forma desdobrada ainda não satisfaz, pois         convencional não corresponde a uma aquisi-
não corresponde ao que as crianças obser-           ção natural, mas advem de um aprendizado
vam, e elas buscam outras soluções para ex-         ou da observação de produções veiculadas
pressar a profundidade. As primeiras angu-          pelos meios de divulgação (livros, fotos, gra-
lações resolvem o problema da expressão da          vuras etc.). A partir do Renascimento, as ar-
profundidade. Assim, temos quatro etapas            tes visuais assumiram esse tipo de perspec-
Figura 5 – Ponto de vista frontal e único (A), conjugação sincrética
               com rebatimentos (B), a busca da profundidade (C) e a angulação
               (D). (Adaptado de Philippe Greig. A criança e seu desenho. Porto
               Alegre: Artes Médicas, 2004. p. 97).




tiva que permaneceu por séculos como uma              ciais. Esses grupos vêm ganhando força e es-
“visão natural” dos objetos. Movimentos de            paço junto da cartografia escolar, por traba-
artistas nos últimos dois séculos romperam            lharem em um tema instigante e específico.
com essa proposta. No entanto, na ciência
(e, por conseguinte, na escola) a perspectiva         Destacamos que a representação espacial          23
a partir de um ponto de fuga foi importante           por portadores de deficiência visual é crucial
para a construção da representação do espa-           para a educação cartográfica, uma vez que
ço. Nesse processo, a cartografia beneficiou-         os produtos cartográficos são eminente-
se bastante, pois os mapas passaram a ser             mente visuais. Os olhos são, em nossa socie-
construídos com a projeção ortogonal dos              dade, o principal meio usado para conhecer
pontos sobre o plano do papel, criando uma            o mundo, portanto, pessoas com compro-
visão artificial do espaço, embora alguns             metimento do canal visual apresentam um
textos afirmem que “os mapas mostram a                obstáculo que desafia a educação quanto às
terra vista de cima”!                                 possibilidades de aquisição de conhecimen-
                                                      tos relativos à representação espacial.

CARTOGRAFIA TÁTIL
                                                      O termo deficiência visual pode referir-se às
Os estudos em cartografia tátil, no Brasil,           pessoas cegas e pessoas com baixa visão. Ao
avançaram consideravelmente nos últimos               consultar a literatura especializada, cons-
anos, graças ao empenho de grupos de pes-             tatamos que o termo se refere às pessoas
quisadores e professores envolvidos com a             com baixa visão, que perderam a visão na
inclusão de pessoas com necessidades espe-            idade adulta ou na infância, que nasceram
cegas, que enxergam vultos ou sombras ou       feitos com materiais simples, também con-
distinguem apenas a claridade. Portanto, as    seguem atingir resultados excelentes, mas
necessidades especiais não são as mesmas       oferecem maiores limitações na reprodução
entre essas pessoas.                                             de um grande número de
                                    Pessoas com                  cópias, além de ser gasto
Segundo     Vasconcellos,                                        um tempo longo em sua
                                 deficiência visual
“mapas são representa-                                           elaboração. Na cartogra-
                                   precisam que
ções gráficas do espaço                                          fia tátil, os mapeadores
e, como abstrações da
                                   estas imagens
                                                                 são, geralmente, pessoas
realidade, pertencem ao          sejam percebidas                leigas, como professores
mundo das imagens. Pes-          por outros canais               e pais de crianças com
soas com deficiência vi-           de percepção,                 deficiência   visual,   que
sual precisam que estas         substituindo a visão             necessitam maior prepa-
imagens sejam percebi-                                           ro para a produção e uso
das por outros canais de                                         dos mapas. Informamos
percepção, substituindo                        que alguns laboratórios podem auxiliar os
a visão. Um mapa é chamado tátil quando        professores na produção desses materiais.
está em um formato que permite que seja                                                        24
‘visto pelo toque’, nesse caso, é construído   Após diversas pesquisas e cursos, o LEMADI
utilizando-se uma linguagem gráfica tátil      – Laboratório de Ensino e Material Didático
com signos em relevo” (2001, p. 37)            do Depto. de Geografia da USP – indica su-
                                               gestões referentes à produção do mapa tátil
Atualmente, os recursos tecnológicos digi-     e seu uso em sala de aula, organizadas em
tais são uma grande contribuição para a pro-   dois grupos. Para informar os professores,
dução dos mapas. Porém, mapas artesanais,      incluímos essas sugestões no quadro abaixo.
1 - Construção e design do mapa tátil

•	 A escolha da linguagem gráfica (design ou solução gráfica) é, provavelmente, a etapa mais
  importante de todo o processo de produção das representações gráficas destinadas à per-
  cepção tátil. É preciso proceder a uma sistematização das regras básicas para a construção
  dos mapas adaptados à resolução do tato;

•	 A criação e uso de convenções são fundamentais para facilitar a utilização da linguagem
  cartográfica e a leitura das representações gráficas. A legenda do mapa é um recurso muito
  importante para o usuário com deficiência visual, pois este grupo de usuários apresenta
  bastante facilidade na decodificação e leitura de legendas;

•	 A escolha do nível de redução e generalização é vital, da mesma forma que o tamanho da
  base é importante. A percepção tátil não é global como a visão e possui uma menor reso-
  lução, o que significa que a pessoa com deficiência visual precisa juntar pequenas parcelas
  de informação para formar uma imagem completa;

•	 O tamanho de cada mapa, maquete ou gráfico não deve ultrapassar 50 cm, porque o campo
  abrangido pelas mãos é muito mais restrito que o campo da visão;

•	 O uso da redundância é indicado, o que significa usar duas variáveis gráficas para represen-
  tar uma única informação, por exemplo, textura associada a formas;                                      25
•	 É importante medir a quantidade de informação a ser representada e nunca sobrecarregar
  o mapa, é preferível fazer diversos mapas a concentrar informações em um só mapa.


2 - Uso dos mapas e representações gráficas no ensino:
•	 Conceitos geográficos básicos, tais como proporção, escala, localização e orientação, pre-
  cisam ser bem entendidos antes da introdução dos mapas;

•	 A linguagem gráfica tátil deve ser apresentada através de exercícios com as variáveis gráfi-
  cas em relevo, como preparação à leitura de mapas;

•	 Modelos em três dimensões e maquetes com as altitudes ajudam a criança a entender o
  espaço físico. São representações menos abstratas e devem preceder o uso dos mapas;

•	 Atividades e jogos geográficos podem facilitar o processo de aprendizagem da Geografia e
  da Cartografia, na medida em que motivam o aluno e tornam o ensino mais interessante;

•	 Todos os materiais didáticos, incluindo os mapas, devem ser classificados considerando
  níveis de complexidade, em função de algumas variáveis importantes: idade e nível de de-
  senvolvimento cognitivo do aluno, interesse e experiência anterior, adequação à série que
  o aluno está cursando, dentre outros.


                                                           Fonte: ALMEIDA, R. Araujo, 2007. p.137- 138.
O papel das tecnologias digitais deve ser       Referências
destacado e valorizado com relação à pro-
dução e uso do mapa tátil e ao processo de      ALMEIDA, Regina Araujo; SENA, Carla Cristi-
aprendizagem da linguagem cartográfica,         na; CARMO, Waldirene. Técnicas de Cartogra-
além de ser importante nas ações voltadas       fia Inclusiva. In: VENTURI, Luis A. Bittar (org.).
para a formação de professores. Porém,          Geografia - Práticas de Campo, Laboratório e
ainda existem limitações para sua utiliza-      Sala de Aula. São Paulo: Editora Sarandi, 2011.
ção, pois depende do computador e da co-
nexão à Internet, o que não é encontrado        ALMEIDA, Regina Araujo. Ensino de Carto-
em muitas escolas.                              grafia para Populações Minoritárias. In: Bo-
                                                letim Paulista de Geografia. São Paulo: AGB,
Ainda que pese a dificuldade de acesso, a       2007. p.111-129.
tecnologia atualmente disponível ao usuá-
rio portador de deficiência visual possibili-   ALMEIDA, Rosangela Doin de (coord.). Meu
ta a combinação de recursos visuais, táteis     Primeiro Atlas de Sumaré. Sumaré (SP): Pre-
e sonoros, de forma a ampliar o acesso aos      feitura Municipal de Sumaré, 2008.
produtos cartográficos. Cabe destacar sua
importância com relação à mobilidade para       ALMEIDA, Rosangela Doin de. Do desenho ao            26
pessoas com deficiência visual. Merece des-     mapa. São Paulo: Ed. Contexto, 2004.
taque o uso de maquetes sonoras realizado
por Sena (2008), que desenvolveu um ma-         CADERNOS DOS CEDES. Formação de profes-
terial inovador, associando as técnicas da      sores e Atlas municipais escolares. Campi-
cartografia tátil com robótica.                 nas, v. 23, n. 60, p. 131-134, agosto de 2003.


O ensino de mapas para crianças normo-          CARMO, Waldirene Ribeiro do. Cartografia
visuais já traz inúmeras questões quanto        tátil escolar: experiências com a construção
à cognição e à representação do espaço,         de materiais didáticos e com a formação
o ensino para pessoas portadoras de de-         continuada de professores. Dissertação de
ficiência visual parece-nos algo ainda          Mestrado, DG, FFLCH, USP. São Paulo, 2010.
mais complexo, instigante e desafiador.
Lembramos, no entanto, que deficiências         Freitas, Maria Isabel de; Ventorini, Silvia Ele-
podem ter um papel criativo, dando lugar        na; Borges, José Antonio. Maquetes táteis,
para que surjam capacidades que não se          dispositivos sonoros e aulas inclusivas com
manifestariam em sua ausência, como de-         mapavox. In: Almeida, R. D. (org.) Novos ru-
fende Oliver Sacks.                             mos da Cartografia Escolar: currículo, lingua-
gem e tecnologia. São Paulo: Ed. Contexto.       etapas e uso do mapa. Tese (Doutorado em
2011. p 109-120.                                 Geografia). São Paulo: Faculdade de Filoso-
                                                 fia, Letras e Ciências Humanas da Universi-
Greig, Philippe. A criança e seu desenho. O      dade de São Paulo, 1993.
nascimento da arte e da escrita. Porto Ale-
gre: Art Med., 2004.                             VASCONCELLOS, Regina. Tactile Maps. In:
                                                 International Encyclopedia of Social & Beha-
Lurçat, Liliane. El nino y el espacio. Mexico:   vioral Sciences. Elsevier, 2001. (Internet and
Fondo de Cultura Econômica, 1979.                printed version).


SENA, Carla Cristina Reinaldo Gimenes de.        VENTORINI, Silvia Elena. A experiência como
Cartografia Tátil no ensino de Geografia:        fator determinante na representação espa-
uma proposta metodológica de desenvol-           cial do Deficiente Visual. Tese (Mestrado),
vimento de recursos didáticos adaptados a        Programa de Pós-Graduação em Geografia.
pessoas com deficiência visual. São Paulo:       Rio Claro: UNESP, 2007.
Tese (doutorado), Departamento de Geogra-
fia da FFLCH – USP, 2008.                        VENTORINI, Sílvia Elena. A experiência como
                                                 fator determinante na representação espa-        27
VASCONCELLOS, Regina Almeida. Cartogra-          cial da pessoa com deficiência visual. São
fia e o deficiente visual: uma avaliação das     Paulo: Editora UNESP, 2009. p. 112.
Texto 3: Tecnologia e cartografia escolar


                                                                                     Tania Seneme do Canto1



A tecnologia, seja ela antiga ou nova, está                  mitir que, em questão de minutos, mapas
profundamente associada aos modos pelos                      construídos num ponto do globo alcanças-
quais construímos o conhecimento. Atual-                     sem o mundo.
mente, são a internet e o computador que
se destacam neste processo, ao se consti-                    Ao longo do tempo, entretanto, a tecnologia
tuírem na sociedade contemporânea como                       avançou e permitiu que outras formas de re-
os principais meios de produção, difusão e                   presentação cartográfica fossem incorpora-
acesso à informação. Na área da cartografia,                 das aos sites e disponibilizadas na Internet.
isso significa que cada vez mais os mapas                    Desse modo, os mapas virtuais se tornaram
passam a circular no mundo virtualmente e,                   mais interativos, possibilitando uma maior
assim, começam a participar também de ou-                    autonomia do usuário no processo de leitu-
tros modos de ensinar e aprender geografia.                  ra e interpretação cartográfica, bem como                  28
                                                             na criação de novos mapas.
Os mapas que encontramos hoje nos meios
digitais são de uma diversidade muito gran-
                                                             Cartografia Multimídia
de, tanto nos seus conteúdos, como nos for-
matos. Isso se deve à própria evolução das                   Uma das primeiras grandes mudanças que
tecnologias desenvolvidas com a Internet e                   as novas tecnologias promoveram no mun-
os computadores. No início do surgimento                     do da cartografia foi a possibilidade de com-
da Internet, por exemplo, os mapas que co-                   binar os mapas com outras mídias e outros
meçaram a circular na rede ainda eram mui-                   modos de leitura. Com o desenvolvimento
to parecidos com aqueles que encontráva-                     da linguagem digital, imagens, textos, vídeos
mos em livros didáticos e atlas escolares. Na                e sons puderam ser associados num mesmo
verdade, a principal importância da Internet                 suporte e acessados aleatoriamente a par-
para a cartografia, neste período, foi per-                  tir de nós de conexão chamados hiperlinks.




1	       Mestre em Geografia e Doutoranda no Programa de pós-graduação em Geografia do IGCE da UNESP,
campus Rio Claro. Autora de livros e artigos sobre cartografia escolar. Professora efetiva da rede estadual de ensino
do Estado de São Paulo.
Aplicada à cartografia, esta nova linguagem       de mapas era feita por meio de CD-ROMs, no
trouxe aos usuários dos mapas a possibili-        entanto, com a evolução da web, a maioria
dade de navegar por diferentes formas de          destes projetos está hoje disponível na Inter-
expressão dos conteúdos geográficos e sele-       net. Alguns exemplos que se destacam são:
cionar, dentro de um leque de opções prede-       o projeto Armazenzinho, o canal Países do
finido, as informações que deseja visualizar      site do IBGE e os aplicativos Google Maps e
cartograficamente.                                Google Earth.


Para vários autores da área, o uso destes no-     O projeto Armazenzinho (figura 1) consiste
vos recursos pela cartografia favorece uma        num website com caráter educacional que
interação diferente entre o usuário do mapa       busca difundir informações sobre a cidade
e a representação cartográfica em si. Se-         do Rio de Janeiro. Desse modo, o site oferece
gundo Peterson (1999), esta nova linguagem        vários dados sobre o município, os quais são
permite elaborar mapas mais interativos e         apresentados na forma de textos, imagens e
animados, que transcendem o caráter está-         mapas. O acesso a tais dados se dá por meio
tico e imutável do mundo representado nos         de hiperlinks, os quais levam os usuários a
mapas de papel. Para Gomes (2010, p. 33),         diferentes seções do site. Os mapas apresen-
tal interatividade significa a possibilidade de   tados também oferecem diferentes níveis de       29
“construir outras conexões e interpretações,      interatividade. Segundo Gomes (2010), na
até então impossíveis com a utilização ape-       seção Conhecendo o Rio, por exemplo, o usu-
nas dos mapas impressos”. 	                       ário do site pode visualizar mapas temáticos
                                                  de diversos pontos da cidade do Rio de Ja-
Apesar de o conceito multimídia focar es-         neiro, conhecer diferentes rotas por meio de
pecialmente a combinação de diferentes            sistemas de transporte como metrô, trem,
mídias num mesmo suporte, o conjunto              bicicleta e barcas, localizar endereços, e
de projetos cartográficos que não só utiliza      após o mapa aparecer, montar um mapa te-
várias linguagens para representar as infor-      mático do bairro, entre outras coisas.
mações geográficas, mas também permite
que essas sejam acessadas através de links        Já no site do IBGE, os recursos oferecidos
de acordo com o interesse do usuário, ficou       pelo projeto Países (figura 2) são um pouco
conhecido pelo nome de Cartografia Multi-         mais simples. Um mapa-múndi clicável e
mídia.                                            um menu são apresentados ao usuário, que
                                                  pode selecionar o país e o tema sobre o qual
No início do desenvolvimento da Cartogra-         gostaria de obter informações. Tais informa-
fia Multimídia, a distribuição deste formato      ções são apresentadas na forma de tabelas
e podem ser comparadas com as de outros               Os aplicativos Google Maps (figura 3) e Goo-
países do mundo através de hiperlinks que             gle Earth (figura 4) podem ser considerados
dão acesso a elas.                                    alguns dos projetos cartográficos multimí-




                                                                                                     30
                 Figura 1: Armazenzinho. Fonte: http://portalgeo.rio.rj.gov.br/ar-
                                          mazenzinho/web/




                     Figura 2: IBGE Países. Fonte: http://www.ibge.gov.br/paisesat/
Figura 3: Google Maps
                             Fonte: http://maps.google.com.br




                                                                                                 31




                                  Figura 4: Google Earth
                       Fonte: http://www.google.com/intl/pt-PT/earth




dia mais sofisticados que encontramos hoje      quer visualizar a superfície terrestre na for-
na rede. Tanto um quanto outro oferecem         ma de mapas, imagens de satélite ou uma
ao usuário a possibilidade de escolher se       combinação entre os dois. Através das di-
versas ferramentas disponíveis, é possível      conteúdos e ferramentas sejam incluídos
também aproximar e distanciar os lugares,       pelos usuários aos mapas e imagens de sa-
localizar endereços e serviços, traçar rotas,   télite preexistentes, fazendo emergir assim
obter e compartilhar fotos e vídeos de dife-    uma nova geração de mapas na Internet,
rentes lugares e desenhar novos mapas.          bem como novas práticas de mapeamento.


Estas são as funções básicas dos dois progra-   Conforme Cartwright (2008), um importan-
mas, entretanto eles se diferenciam em di-      te especialista na área de mapas e internet,
versos aspectos. O Google Earth, por exem-      até pouco tempo os mapas produzidos para
plo, precisa ser instalado no computador e      a web eram elaborados por cartógrafos e en-
proporciona um modelo 3D da superfície          tregues como pacotes completos aos seus
terrestre, que dá a sensação de o usuário       usuários. Hoje, no entanto, devido ao de-
estar sobrevoando o planeta, enquanto o         senvolvimento de novos aplicativos na web,
Google Maps oferece apenas uma visão 2D         os internautas se apropriam da rede de uma
da superfície terrestre e pode ser acessado     nova maneira, participando efetivamente da
diretamente na Internet. Além disso, o Goo-     produção de seus conteúdos, inclusive, dos
gle Earth também traz mais informações          conteúdos cartográficos. Desse modo, para o
complementares sobre os lugares. A partir       autor, uma grande revolução está ocorrendo     32
de um enorme banco de dados, atualizado         no modo como as informações geográficas
periodicamente e acessado através da sele-      são recolhidas e mapeadas, afinal, os mapas
ção de camadas, muitos autores defendem         “estão sendo produzidos por ‘novos cartó-
que este aplicativo é um grande Atlas virtual   grafos’, assim como por cartógrafos que são
do mundo.                                       novos para a cartografia” (2008, p. 19).


                                                Nesse contexto, as pessoas têm utilizado
Rumo às novas práticas de
                                                estas novas tecnologias de mapeamento
mapeamento
                                                para os mais diversos fins e dos mais diver-
Além de popularizar a Cartografia Multimí-      sos modos. Genericamente, podemos dividir
dia, o surgimento de programas como Goo-        estes mapas em três categorias, conforme
gle Maps e Google Earth acrescentou à socie-    o modo como eles são construídos. Existe
dade em rede uma nova dimensão cultural.        um público que utiliza estes programas de
Segundo Canto e Almeida (2011), programas       modo mais sofisticado, pois já são iniciados
como estes não só oferecem a possibilidade      em linguagem de programação. Nesse caso,
de navegar virtualmente pela superfície ter-    através de uma tecnologia chamada API,
restre, como também permitem que novos          eles manipulam os códigos dos programas
de mapeamento e os combinam com outros               goria de mapas, pois apesar de também se
sistemas e informações veiculadas por sites          manipularem os códigos dos programas de
preexistentes na rede. O resultado é a cria-         mapeamento, o objetivo não é combiná-los
ção de aplicações que mapeiam conteúdos              com dados já existentes, mas sim adicionar
que circulam na web em outras formas de              ferramentas que visam à inclusão direta de
representação. Um exemplo disso é o site             conteúdos e informações por qualquer usu-
GeoImpress (figura 5), o qual combina os re-         ário. Com isso, as aplicações criadas são na
cursos do Google Maps com as imagens hos-            verdade mapas abertos em contínuo proces-
pedadas na rede social Flickr. Desse modo,           so de construção. Exemplos bastante inte-
ao acessar o GeoImpress e escolher no mapa           ressantes desta forma de mapeamento po-
um ponto do globo para visualizar, são exi-          dem ser vistos nos sites Post Urbano (figura
bidas no site as fotografias identificadas no        6) e Wikimapa (figura 7).
Flickr com esta localização.




                                                                                                     33




                         Figura 5: Google Maps + Flickr = GeoImpress
                               Fonte: Canto e Almeida (2010, p. 151).




A tecnologia API também tem sido utiliza-            Nos dois casos, as pessoas que visitam o site
da para criar o que tem sido chamado de,             são convidadas a intervir diretamente nos
mapas colaborativos, esta seria outra cate-          mapas e imagens de satélite disponíveis. No
projeto Post Urbano, o objetivo é mapear a        dem mapear trajetórias, localizar lugares,
cidade de Rosário com as experiências e his-      postar vídeos e fotos destes lugares, bem
tórias vividas por seus habitantes. Enquanto      como escrever sobre eles.
que no projeto Wikimapa, o objetivo é fazer
ver as favelas do Rio de Janeiro pelos olhos      A terceira categoria de mapeamento tem
dos jovens que as habitam. Assim, eles po-        uma característica singular, pois não deriva




                                                                                                 34

                                    Figura 6: Post Urbano
                               Fonte: http://post.wokitoki.org/




                                       Figura 7: Wikimapa
                                 Fonte: http://wikimapa.org.br/
Figura 8: Invisible Stories
                                 Fonte: http://maps.google.com.br



da recombinação de códigos ou programas               dos internautas, o mapeamento representa
preexistentes no ciberespaço. No entanto,             a experiência de vida de várias pessoas na
eles continuam sendo resultado da compo-              cidade.
sição entre mapas disponíveis por progra-
mas online e conteúdos produzidos pelos               Desse modo, podemos concluir que a maior       35
usuários. Desse modo, de uma forma dife-              contribuição destes novos programas de
rente, estes projetos também conferem sen-            mapeamento é que eles abrem o mundo dos
tidos particulares aos mapas que já existem           mapas para as pessoas em geral, tornando-
na web.                                               o uma linguagem mais participativa e de-
                                                      mocrática. Com isso, outras cartografias
Como exemplo desse tipo de projeto, pode-             passam a ganhar existência na sociedade.
mos citar o Invisible Stories (figura 8). Criado      Diferentes pontos de vista sobre a realidade
por um grupo de artistas na seção Meus Ma-            podem ser mapeados, outras histórias com
pas do programa Google Maps, o objetivo do            o espaço podem ser contadas e, assim, ou-
mapeamento é mostrar a história de vida de            tras geografias também passam a frequen-
algumas pessoas que habitam a cidade de               tar nosso pensamento espacial e o de nossos
São Paulo. Desse modo, por meio das ferra-            alunos.
mentas de edição de texto e marcadores de
lugar, fornecidas pelo programa, trechos de           André Lemos, um professor de comunicação
relatos desses habitantes foram localizados           da Universidade Federal da Bahia, resume
no mapa. Apesar de não ser colaborativo,              bem a importância desses novos programas,
já que não está aberto à participação direta          dizendo o seguinte:
[...] esse sistema de mapas digitais tor-   culo, linguagem e tecnologia. São Paulo:
     nou disponível, para todos com acesso       Contexto, 2011.
     à rede, uma possibilidade de produzir
     conteúdos e mapas sem precedentes na        CARTWRIGHT, W. Delivering geospatial in-
     história da humanidade. Com finalida-       formation with Web 2.0. In: PETERSON, M.
     des as mais diversas, esses mapas hoje      P. (ed.) International Perspectives on Maps
     permitem a pessoas e comunidades cria-      and the Internet. New York: Springer, 2008.
     rem histórias e significações autóctones
     sobre suas realidades, sobre seus “luga-    LEMOS, A. Mapas além-Google. Trópico, Se-
     res”. Ou seja, é possível produzir histó-   ção Novo Mundo, 19 abr. 2008. Entrevista
     rias sobre os lugares que não são as ofi-   concedida a G. Beiguelman. Disponível em:
     ciais, criar sentido além da reprodução     http://pphp.uol.com.br/tropico/html/tex-
     oficial. (2008, s/p)                        tos/2970,1.shl Acesso em 25 abr. 2008.


Com isso, o que percebemos hoje é que, de        MOREIRA, S. A. G. Cartografia multimídia:
uma forma ou de outra, através desses no-        interatividade em projetos cartográficos.
vos mapas virtuais, a Internet se tornou um      Tese (Doutorado em Geografia). Rio Claro,
lugar de encontro de diferentes histórias        SP: Instituto de Geociências e Ciências Exa-   36
com o espaço.                                    tas/Departamento de Geografia/Universida-
                                                 de Estadual Paulista, 2010.


Referências                                      PETERSON, M. P. Elements of multimedia
CANTO, T. S. e ALMEIDA, R. D. Mapas feitos       cartography. In: CARTWRIGHT, W.; PETER-
por não cartógrafos e a prática cartográfi-      SON, M. P.; GARTNER, Georg (orgs.). Multi-
ca no ciberespaço. In: ALMEIDA, R. D. (org.).    media cartography. Berlin: Springer-Verlag,
Novos rumos da cartografia escolar: currí-       1999.
Presidência da República

Ministério da Educação

Secretaria de Educação Básica



TV ESCOLA/ SALTO PARA O FUTURO

Coordenação-geral da TV Escola
Érico da Silveira

Coordenação Pedagógica
Maria Carolina Mello de Sousa

Supervisão Pedagógica
Rosa Helena Mendonça

Acompanhamento Pedagógico
Grazielle Avellar Bragança

Coordenação de Utilização e Avaliação
Mônica Mufarrej                                                      37
Fernanda Braga

Copidesque e Revisão
Magda Frediani Martins

Diagramação e Editoração
Equipe do Núcleo de Produção Gráfica de Mídia Impressa – TV Brasil
Gerência de Criação e Produção de Arte

Consultora especialmente convidada
Rosangela Doin de Almeida


E-mail: salto@mec.gov.br
Home page: www.tvbrasil.org.br/salto
Rua da Relação, 18, 4o andar – Centro.
CEP: 20231-110 – Rio de Janeiro (RJ)
Outubro 2011

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17463213 cartografia

  • 1. ISSN 1982 - 0283 CARTOGRAFIA ESCOLAR Ano XXI Boletim 13 - Outubro 2011
  • 2. Sumário Cartografia escolar Apresentação da série. ........................................................................................................... 3 . Rosa Helena Mendonça Introdução. ............................................................................................................................ 4 . Rosangela Doin de Almeida Texto 1 - Cartografia, cultura e produção de conhecimento escolar...................................... 8 Rosangela Doin de Almeida Texto 2: As linguagens e a cartografia na educação básica................................................... 18 Rosangela Doin de Almeida Texto 3: Tecnologia e cartografia escolar..............................................................................28 Tania Seneme do Canto
  • 3. Cartografia escolar Apresentação Segundo pode ser lido no Atlas Geográfico Doin de Almeida (UNESP – Rio Claro/SP), é Escolar, no site do IBGE1, uma retomada do tema apresentado com grande repercussão no Salto para o Futuro/ “A palavra Cartografia foi registrada pela pri- TV Escola em 2003. Desta vez, incorporando, meira vez em 1839 em uma correspondência além de aspectos históricos e de práticas es- do Visconde de Santarém para o historiador colares, temas como a cultura cartográfica brasileiro Francisco Adolfo Varnhagem, in- do ciberespaço, entre outros. dicando a ideia de um traçado de mapas e cartas, onde se lia: (...) invento esta palavra Nos programas televisivos, por meio de lo- 3 já que aí se têm inventado tantas.” cações em diferentes espaços, incluindo o escolar, e de entrevistas com especialistas Mas se a palavra surge no século XVIII, a o tema será apresentado visando subsidiar ideia de criar registros do espaço é muito novas experiências nas escolas. Os textos anterior, como nos revelam os historiadores. que compõem esta publicação também ofe- recem reflexões e referências bibliográficas E, cada vez mais, a cartografia faz parte de nos- que poderão servir de fundamentação aos sas vidas, ganhando espaço também nos currí- professores e às professoras que já desen- culos escolares, desde a educação infantil. volvem ou que pretendem desenvolver tra- balhos com cartografia na escola. A série Cartografia escolar, com a consulto- ria da professora e pesquisadora Rosangela Rosa Helena Mendonça1 1 http://www.ibge.gov.br/ibgeteen/atlasescolar/apresentacoes/oquee.swf 2 Supervisora pedagógica do programa Salto para o Futuro/TV ESCOLA (MEC).
  • 4. Cartografia Escolar Introdução Rosangela Doin de Almeida1 A presença da cartografia na Educação Bási- A cartografia escolar está se estabelecendo ca cresceu consideravelmente nas duas úl- como um conhecimento construído nas in- timas décadas. Embora o uso de mapas e o terfaces entre cartografia, educação e geo- ensino de conceitos cartográficos já façam grafia, abrangendo conhecimentos e práti- parte dos programas escolares de Geogra- cas para o ensino de conteúdos originados fia há muito tempo, temos assistido recen- na cartografia, mas que se caracteriza por temente uma expansão dos conhecimen- lançar mão de visões próprias de diversas tos cartográficos no ensino que vai desde áreas. Ela também pode referir-se a formas a educação infantil até o ensino superior. de se apresentar conteúdos relativos ao es- 4 Nos cursos de pós-graduação, também é paço-tempo social, a concepções teóricas de crescente o interesse em temas sobre carto- diferentes áreas de conhecimento a ela rela- grafia e educação. Diversos acontecimentos cionadas, a experiências em diversos contex- concorreram para isso, que serão, em parte, tos culturais, a práticas com tecnologias da apresentados no primeiro texto. informação e comunicação. Esses e outros temas que compõem o mosaico atual das A cartografia escolar vem se estabelecendo discussões sobre sociedade e escola também no currículo, bem como tem despertado in- dizem respeito à cartografia escolar, dando- teresse de pesquisas. Ela é vista como um lhe novas e múltiplas interfaces. saber que está em construção no contexto histórico-cultural atual, momento em que a Nesta série abordaremos as especificidades tecnologia permeia as práticas sociais e as do tema “Cartografia Escolar”. Ao longo de concepções educacionais destacam a forte cinco programas, vamos discutir a cartogra- influência da cultura nas práticas escolares. fia realizada nas escolas e sistematizada por 1 Professora adjunta aposentada e voluntária no Departamento de Planejamento Territorial e Geoprocessamento do IGCE – Unesp – CRC. Coordenadora do grupo de pesquisa “Geografia e Cartografia Escolar” credenciado no CNPq. Consultora da série.
  • 5. pesquisadores sob a ótica do currículo, da Vamos também discutir a cultura carto- cultura e da tecnologia na educação básica gráfica do ciberespaço: mapas multimídia, e no ensino superior, a partir de três eixos: Google Earth, novas práticas de mapeamen- 1) Cartografia, cultura e produção de conhe- to que possibilitam o compartilhamento de cimento escolar; 2) As linguagens e a carto- dados e a produção colaborativa de mapas, grafia na educação básica; 3)Tecnologia e projetos multimídia e atlas eletrônicos. Va- cartografia escolar. mos observar os desdobramentos desses itens no ensino de Geografia. Com esses eixos temáticos, discutiremos a história dos conteúdos de cartografia nos livros didáticos desde o início do século XIX Textos da série Cartografia e as alternâncias, permanências e transfor- Escolar2 mações curriculares. Vamos mostrar tam- bém como os mapas e atlas escolares foram A Cartografia Escolar vem se estabelecen- se adaptando aos contextos políticos e edu- do como um conhecimento construído nas cacionais ao longo da história da educação interfaces entre cartografia, educação e brasileira, criando visões de país e de mundo geografia. A Cartografia Escolar abrange em sintonia com os interesses de seus pro- conhecimentos e práticas para o ensino de 5 dutores. Discutiremos também a importân- conteúdos originados na cartografia, mas cia da relação espaço-tempo-corpo nas re- pode lançar mão de visões próprias de diver- presentações espaciais infantis. sas áreas. Atualmente, também pode refe- rir-se a formas de se apresentar conteúdos No contexto da educação inclusiva, vamos relativos ao espaço-tempo social, a concep- abordar a cartografia tátil no ensino de geo- ções teóricas de diferentes áreas de conheci- grafia com uso de mapas, gráficos e maque- mento a ela relacionadas, a experiências em tes sonoras (ou não). Mostraremos como diversos contextos culturais, a práticas com alguns laboratórios de pesquisas em carto- tecnologias da informação e comunicação. grafia tátil usam recursos computacionais Até certo ponto, sua abrangência está vin- para confecção de material didático de bai- culada à escola, diretamente ou não. Esses xo custo, que são acessíveis para professores e outros temas serão debatidos ao longo dos e alunos. cinco programas da série. 2 Estes textos são complementares à série Cartografia Escolar, com veiculação no programa Salto para o Futuro/TV Escola (MEC) de 17/10/2011 a 21/10/2011.
  • 6. Texto 1/PGM 1: Cartografia, cultura e produção de conhecimento escolar No primeiro texto da série, são comentados os vários eventos sobre cartografia escolar no Brasil, destacando que os trabalhos apresentados nesses eventos deli- neiam temas de interesse de pesquisadores e professores quanto à cartografia es- colar. O texto também apresenta a história dos conteúdos de Cartografia nos livros didáticos desde o início do século XIX e as alternâncias, permanências e transfor- mações curriculares. Texto 2/PGM 2: As linguagens e a cartografia na educação básica O segundo texto discute as linguagens e a cartografia na Educação Infantil e no Ensino Fundamental, destacando a representação do espaço por crianças através do desenho. Também aborda um tema de grande importância: o ensino de mapas para pessoas portadoras de deficiência visual. 6 Texto 3/PGM 3: Tecnologia e cartografia escolar O terceiro texto da série discute a cultura cartográfica do ciberespaço: mapas mul- timídia, Google Earth, novas práticas de mapeamento que possibilitam o compar- tilhamento de dados e a produção colaborativa de mapas, projetos multimídia e atlas eletrônicos. Analisa, ainda, os desdobramentos desses itens no ensino de Geo­ grafia. Os textos 1, 2 e 3 também são referenciais para as entrevistas e debates do PGM 4 – Outros olhares sobre cartografia escolar e do PGM 5: Cartografia escolar em debate.
  • 7. Referências VENTORINI, Silvia. A experiência como fator determinante na representação espacial de ALMEIDA, Rosangela Doin de (org.) Carto- pessoas com deficiência visual. São Paulo: Ed. grafia Escolar. São Paulo: Ed. Contexto, 2007. Unesp, 2009. ALMEIDA, Rosangela Doin de (org.) Novos ru- mos da Cartografia Escolar: currículo, lingua- Blog Cartografia Escolar gem e tecnologia. São Paulo: Ed. Contexto Atlas eletrônico do Rio de Janeiro – Arma- 2011. zenzinho - Instituto Pereira Passos ALMEIDA, Rosangela Doin de. Do desenho ao http://portalgeo.rio.rj.gov.br/armazenzinho/ mapa. São Paulo: Ed. Contexto, 2004. web Cadernos dos CEDES, Formação de professo- res e Atlas municipais escolares. Campinas, IBGE v. 23, n. 60, p.131-134, agosto de 2003. http://www.ibge.gov.br/7a12 MARTINELLI, Marcello. Os mapas da Geogra- http://www.ibge.gov.br/ibgeteen 7 fia e cartografia temática. São Paulo: Contex- to, 2003. Concurso Nacional de mapas por crianças “Lívia de PAGANELLI, Tomoko Y. A noção de espaço e tempo – o mapa e o gráfico. Revista Orienta- Oliveira” ção, São Paulo, n. 6, p.21-38, 1985. http://www.cartografia.org.br
  • 8. TEXTO 1 - Cartografia, cultura e produção de conhecimento escolar Rosangela Doin de Almeida1 Inicialmente, vamos retomar alguns acon- tados positivos obtidos nesse levantamento, tecimentos que contribuíram para a consti- foi criado um grupo de trabalho internacio- tuição da Cartografia Escolar no Brasil, de nal sobre Cartografia e Crianças, em 1995. maneira que o leitor possa situar as atuais publicações e a própria série sobre este Nesse mesmo ano, no Brasil, foi realizado o tema. 1º Colóquio de Cartografia para Crianças. O interesse nessa temática foi grande, princi- Desde a década de 1990, vêm sendo realiza- palmente por parte de professores e pesqui- dos vários eventos sobre cartografia escolar sadores de diversas universidades brasilei- 8 no Brasil, eventos que, em parte, correspon- ras. Em 1996, o II Colóquio Cartografia para dem ao que vem acontecendo na Associação Crianças foi promovido pela Universidade Cartográfica Internacional (ICA). Em 1993, a Federal de Minas Gerais, em Belo Horizon- ICA criou o Prêmio Barbara Petchenik, em te. O III Colóquio Cartografia para Crianças memória dessa cartógrafa que foi vice-pre- foi realizado pela Associação de Geógrafos sidente da ICA e trabalhou com mapas para Brasileiros (seção São Paulo), na USP, em crianças. O objetivo do concurso era promo- 1999. A Universidade Estadual de Maringá ver representações criativas do mundo fei- deu lugar ao IV Colóquio e I Fórum Latino- tas por crianças, o que foi recebido de modo americano de Cartografia para Crianças, muito positivo. Em 1994, um survey realizado em 2001. Neste evento, foi realizada tam- conjuntamente entre Brasil e Canadá pes- bém a competição internacional Barbara quisou o nível de interesse em formar um Petchenick de mapas do mundo para a se- grupo de estudos sobre a relação das crian- leção de trabalhos que foram enviados para ças com mapas. Em decorrência dos resul- o Congresso Internacional de Cartografia 2 Professora adjunta aposentada e voluntária no Departamento de Planejamento Territorial e Geoprocessamento do IGCE – Unesp – CRC. Coordenadora do grupo de pesquisa “Geografia e Cartografia Escolar” credenciado no CNPq. Consultora da série.
  • 9. em Beijin (China), onde o mapa de uma vro Cartografia Escolar (Almeida, org., 2007) aluna brasileira foi premiado. Atualmente, que reúne as teses que embasaram o desen- a Sociedade Brasileira de Cartografia criou volvimento de uma Cartografia Escolar no o Prêmio “Lívia de Oliveira” com o mesmo Brasil. objetivo da ICA, as regras para essa premia- ção podem ser encontradas no sítio da SBC A realização do VI Colóquio de Cartografia [http://www.cartografia.org.br ]. para Crianças e do II Fórum Latino-ameri- cano de Cartografia para Escolares ocorreu A Universidade Federal Fluminense e a So- na Universidade Federal de Juiz de Fora, em ciedade Brasileira de Cartografia realizaram 2009, contando com o apoio do CNPq e da o I Simpósio Ibero-americano de Cartografia Sociedade Brasileira de Cartografia. para Crianças, no Rio de Janeiro, em 2002. Nesse mesmo ano, ocorreu o VIII Colóquio Em outubro de 2011, será realizado do VII Co- Internacional de Cartografia para Crianças, lóquio de Cartografia para Crianças e Esco- em Diamantina (MG), o qual reuniu diversos lares, que terá lugar na Universidade Federal pesquisadores internacionais. do Espírito Santo, com o tema “Imaginação e Inovação: desafios para a Cartografia Esco- O V Colóquio de Cartografia para Crianças lar”. O objetivo do evento é discutir a atual 9 ocorreu em 2007, na Universidade Federal produção nessa área e ser um momento de Fluminense. Nesse evento, foi lançado o li- intercâmbio com outros pesquisadores que Figura 1 – Triângulo didático (R. D. Almeida)
  • 10. cruzam sua produção com aquela relaciona- belecidos e às condições mais objetivas em da à cartografia e educação. que se desenvolve; portanto, trata-se de um elemento fundamental da cultura escolar” Em decorrência da produção existente a res- (ver figura 1). peito do assunto, podemos agora tentar de- 10 Figura 2 – Mapa conceitual de Cartografia escolar. (Extraído de: Almeida, 2011, p. 8) finir em que consiste a Cartografia Escolar. A Na tentativa de situar a cartografia escolar partir do tradicional triângulo didático, em no contexto da cultura escolar e do currícu- cujos vértices são indicados os três pontos lo, elaboramos um mapa conceitual (figura principais da didática – o saber, o professor 2), que representa o triângulo didático no e o aluno – fizemos uma adaptação, com o amplo espaço em que circulam conheci- objetivo de inserir elementos teóricos mais mentos de diferentes áreas das Ciências Hu- atuais. Retiramos o termo “saber” e o subs- manas: Psicologia Educacional, Psicologia tituímos por “currículo”, que segundo Sa- Social, Filosofia, Sociologia, Antropologia, cristán (1998), corresponde a “uma seleção História da Educação, Política Educacional, culturalmente definida de certos conteúdos, para mencionar algumas; onde circulam co- que estão ligados aos formatos nele esta- nhecimentos das ciências da Linguagem (Se-
  • 11. miologia, Semiótica, Linguística, Análise do multimídia, educação a distância, senso- Discurso, Filosofia da Linguagem, Cinema, riamento remoto e geoprocessamento; Literatura, por exemplo) e das ciências de • Formação docente, incluindo pesquisas referência que, no caso, são principalmente sobre saberes e práticas de professores, Geografia e Cartografia. Conhecimentos es- currículo e formação de professores. ses que se constituem e se transformam no amplo contexto da sociedade e da cultura. Cabe dizer que esse contexto ganha sentido A CARTOGRAFIA NO CURRÍCULO ao circunstanciar-se no tempo e no espaço, ESCOLAR não correspondendo a algo único e geral (Al- meida, 2011, p. 7 e 8). Cabe, agora, perguntar como a cartografia entrou no currículo escolar. Consideramos Os trabalhos apresentados nos eventos deli- que o currículo vai se estabelecendo como neiam temas de interesse de pesquisadores resultado de um jogo de forças entre dife- e professores quanto à cartografia escolar. rentes grupos sociais que têm poder para Em um levantamento que realizamos cons- definir o que e como deve ser ensinado. Nis- tatamos, nos Anais dos eventos, que os se- so, estamos de acordo com Ivor Goodson guintes temas são os mais recorrentes: (2000) e André Chervel (1990). 11 • Representação do espaço, que inclui con- Em uma pesquisa sobre os conteúdos de teúdos de cunho teórico a respeito da cartografia nos livros didáticos brasileiros, representação do espaço na criança, lin- foram analisados os seguintes livros publi- guagem cartográfica, mapas mentais e re- cados no período de 1824 a 1936: presentação de conceitos socioespaciais; • TORREÃO, Bazilio Quaresma. Compendio • Metodologia de ensino, que envolve con- de Geographia Universal. Londres: L. Thom- teúdos teórico-práticos voltados para a son Library, 1824. busca de caminhos didáticos no ensino da Cartografia Escolar, incluindo iniciação • BRASIL, Thomaz Pompêo de Souza. Com- cartográfica, educação especial (deficien- pendio elementar de Geographia geral e es- tes visuais) e ensino-aprendizagem de ha- pecial do Brasil. Rio de Janeiro: Eduardo & bilidades e conceitos específicos; Henrique Laemmert, 1864. • Tecnologias e produção de materiais di- • F. I. C. Terra Ilustrada. Geographia Univer- dáticos cartográficos, incluindo trabalhos sal: Physica, Etnographica, Politica, Econo- a respeito de atlas escolares, maquetes, mica dos cinco partes do mundo. Traduzida
  • 12. e adaptada por Eugenio de Barros Raja foram criados para o Colégio Pedro II, nos Gabaglia. Rio de Janeiro: Livraria Garnier, anos seguintes da sua fundação, e serviram 188(?). de base para os livros que se sucederam, mas, cabe dizer, esses programas foram sis- No primeiro compêndio, logo no início, o au- tematizados a partir de livros existentes na tor esclarece que se trata de um resumo de es- época. Isso caracteriza um efeito de dupla tudos de diversos autores estrangeiros, que ele legitimação dos conteúdos curriculares. En- realizou com a finalidade de apresentar aos jo- tre as obras didáticas mais indicadas, surgiu vens brasileiros. De modo curioso, o autor “re- o livro do padre e jurista Thomaz Pompeu de conhece a importância do trabalho com mapas Souza Brasil, intitulado Compendio elementar para o ensino da Geografia e lamenta a ausên- de Geographia Geral e Especial do Brasil. Esse cia desse recurso didático na obra devido aos livro foi publicado, provavel- altos custos, na época, mente, no final da década de de uma impressão com O título “Terra 1850, por uma das livrarias imagens. Nesse senti- Ilustrada” remete mais tradicionais do Rio de do, aconselha os profes- ao aspecto inovador Janeiro, a Eduardo & Hen- sores a fazerem uso de rique Laemmert Editores. planisférios e de mapas dessa obra, pois ela 12 “Souza Brasil era docente do regionais em suas aulas, deve ser um dos Lyceu do Ceará, em Fortale- como forma de suprir a primeiros livros za, nas cadeiras de História ausência de represen- didáticos ilustrados e Geografia, e mantinha es- tações cartográficas no de Geografia treitas relações com o Insti- material didático” (Boli- impressos no Brasil. tuto Histórico e Geo­ ráfico g gian e Almeida, 2011, p. Brasileiro (IHGB), sediado no 74). Já podemos notar Rio de Janeiro, onde atuava que o texto era o princi- como membro pesquisador” (Boligian e Al- pal (e único) meio destinado ao ensino e que se meida, 2011, p. 75). tratava de um “resumo” construído a partir de outros autores, aos quais os professores nunca A obra de Souza Brasil reproduz a de “pos- teriam acesso. Destacamos o caráter enciclo- tillas” antigas, que eram “resumos escritos pedístico do ensino e a concepção de que os pelos professores, os quais eram reproduzi- mapas não eram necessários para o estudo do dos de maneira manuscrita ou em pequenas tema. tipografias, com conteúdos para algumas matérias escolares”. Essas apostilas eram já Os primeiros programas oficiais de ensino resumos do compêndio de Quaresma Tor-
  • 13. Figura 3 – Ilustração encontrada no livro “Terra Ilustrada”. “Geographia Universal: Physica, Etnographica, Politica, Economica das cinco partes do mundo”, da segunda metade da década de 1880, traduzido e adaptado 13 pelo professor Eugenio Raja Gabaglia. reão, “em que, na primeira parte, são desen- Politica, Economica das cinco partes do mun- volvidas ‘noções geraes’, com conceitos de do, preparada, em sua versão nacional, pelo Astronomia, Cartografia e Geografia Física, professor Eugenio de Barros Raja Gabaglia a segunda parte aborda aspectos naturais, e publicada pela Livraria Garnier, do Rio populacionais e econômicos descritivos dos de Janeiro. Esse livro era usado no original continentes e países do mundo, e uma ter- francês, Raja Gabaglia não fez apenas a tra- ceira parte final apresenta descrições dos dução, ele incluiu novos conteúdos para se aspectos já citados das províncias brasileiras adequar ao programa escolar brasileiro. (...)” (Boligian e Almeida, 2011, p. 76). O título “Terra Ilustrada” remete ao aspecto Ainda resta indicar a importante influência inovador dessa obra, pois ela deve ser um dos livros didáticos franceses no currículo dos primeiros livros didáticos ilustrados de da escola brasileira. Um livro que teve gran- Geografia impressos no Brasil. Trata-se de de presença no Colégio Pedro II durante a uma inovação que a Livraria Garnier trouxe década de 1880 foi a obra Terra Ilustrada. para o mercado editorial brasileiro. Embora Geographia Universal: Physica, Etnographica, ainda consista em uma compilação baseada
  • 14. em outros autores franceses consagrados, aqui como permanências no currículo brasi- essa obra tinha “a possibilidade técnica e fi- leiro de Geografia para o ensino secundário nanceira de, naquele momento, inserir ima- aproximadamente nos últimos dois séculos. gens, avançando no didatismo proposto pe- Esses conteúdos explícitos, assim como o los materiais escolares da época. Inicia-se, método de ensino estabelecido historica- assim, uma nova fase na produção de ma- mente pelos professores-autores de mate- teriais didáticos, em que a vulgata passa a riais didáticos, demonstram uma produção ter o apoio determinante de imagens em sua cultural distinta, na qual verificamos que tarefa de ‘transpor’ conceitos e conteúdos” a Geografia escolar surge não como uma (Boligian e Almeida, 2011, p. 82). vulgarização ou uma adaptação de conhe- cimentos geográficos científicos, mas sim Diversas ilustrações desse livro foram copia- como uma forma de conhecimentos parti- das por outros, chegando até os dias atuais cular e original da instituição escolar e para como verdadeiros “ícones” do ensino de a instituição escolar” (Boligian e Almeida, cartografia. Entre elas, escolhemos uma que 2011, p. 89). teve o poder de quase perpetuar a ideia de que as direções cardeais estão associadas Um estudo similar ilumina outro aspecto aos lados do corpo humano (direito/ Leste - central da cartografia escolar – os atlas es- 14 esquerdo/Oeste) e levar ao esquecimento de colares. Marcello Martinelli, autor de diver- que essas direções resultam do movimento sos atlas escolares, vem desenvolvendo uma de rotação da Terra, o qual ocasiona o mo- metodologia para a produção desses atlas, vimento aparente do Sol, conhecido desde a de maneira a superar as dificuldades origi- Antiguidade como referência para a orienta- nadas pela reprodução de materiais prece- ção e a localização (figura 3). dentes sem a necessária discussão de seus objetivos, conteúdos e formas. Esta rápida análise nos leva a concluir que a cartografia presente nas escolas hoje con- Referindo-se aos atlas do século XIX, ele siste na permanência de conhecimentos que traz uma informação sobre o uso de mapas podem ser chamados de “núcleo duro”, ou contrária àquela que encontramos sobre a seja, “um conjunto de noções, conceitos e inserção de mapas em livros de texto: “os temas, como ‘Direção e Orientação’, ‘Forma Atlas geográficos para escolares ganharam da Terra e Movimentos dos astros’, ‘Linhas crédito entre os materiais didáticos, ade- imaginárias: Paralelos e Meridianos’, ‘Coor- quando-se cada vez mais a essa tarefa em denadas geográficas: Latitude e Longitude’, sala de aula. Tais atlas despontaram em vá- ‘Mapa’ e ‘Globo terrestre’, que entendemos rias partes do continente seguindo o modelo
  • 15. da geografia alemã. Tanto é que se noticiou primeiro atlas escolar ocorreu em 1868, por como um primeiro atlas escolar, o Kleiner Candido Mendes de Almeida, autor do Atlas Atlas Scholasticus publicado em 1710 pelo do Império do Brasil, que foi adotado no Co- editor Homann. Compunha-se de mapas, sem légio Pedro II. algum texto. Numa edição posterior, de 1719, sob o nome de Atlas methodicus, fora então O Colégio Pedro II foi um marco no ensi- concebido especificamente para atender os no em nosso país. Desde sua criação até a cursos de geografia” (Martinelli, 2011, p. 57. década de 1930, a formação de professores Grifo nosso). era feita nesse colégio, pois não existiam instituições de ensino superior para esse Se retomarmos a produção de atlas esco- fim. Em geral, o ensino de Geografia era lares, vamos verificar que eles continham pautado na memorização de informações mapas e imagens organizados e relaciona- sobre o território brasileiro e do mundo. dos de acordo com o programa de Geogra- No ensino de cartografia, a maior ênfa- fia. Conforme essa disciplina se estabeleceu se recaía sobre os estudos astronômicos, no currículo e as técnicas de impressão fo- como círculos da esfera terrestre, escala, ram se aperfeiçoando, a produção de atlas latitude e longitude, rosa dos ventos, pon- aumentou. Esses atlas foram elaborados tos cardeais e colaterais, orientação pelo 15 como simplificações dos grandes atlas ge- Sol e pela bússola, cosmografia (astros e rais de referência. No Brasil, a publicação do esfera celeste). Figura 4 – Primeiras páginas do Atlas de Geographia Universal Especial- mente do Brasil. Extraído de Aguiar, 2011, p. 42.
  • 16. Valeria Aguiar estudou os atlas escolares bra- ALMEIDA, Rosangela Doin de (org.) Carto- sileiros e concluiu que, na maior parte de- grafia Escolar. São Paulo. Ed. Contexto, 2007. les, a cosmografia era o tema inicial. “Com ALMEIDA, Rosangela Doin de (org.) Novos ru- o propósito de avaliar a Cartografia escolar mos da Cartografia Escolar: currículo, lingua- no contexto dessas reformas educacionais, gem e tecnologia. São Paulo. Ed. Contexto, selecionamos quatro atlas que as ratificam: 2011. o Atlas de Geographia Universal Especialmente do Brasil (edições de 1906 e de 1913) e duas Boligian, Levon e ALMEIDA, Rosangela Doin edições do Novo Atlas de Geographia (uma de de. A cartografia nos livros didáticos no pe- 1927 e outra anterior, sem data de publica- ríodo de 1824 a 1936 e a história da geografia ção)” (Aguiar, 2011, p. 42) . Segundo ela, as escolar no Brasil. In: ALMEIDA, R. D. (org.). primeiras páginas desses atlas apresentam Novos rumos da Cartografia Escolar: currícu- as projeções cartográficas e a cosmografia lo, linguagem e tecnologia. São Paulo. Ed. (figura 4). Contexto, 2011. p. 71-90. Podemos concluir que a cartografia passou CHERVEL, André. “História das disciplinas a fazer parte do currículo como um item do escolares: reflexões sobre um campo de pes- programa de Geografia. Os conteúdos de quisa”. In: Teoria & Educação, n. 2, 1990. 16 cartografia até meados do século passado GOODSON, Ivor F. El cambio en el currículum. permaneceram vinculados à cosmografia Barcelona: Ediciones Octaedro, 2000. e à astronomia. Sabemos que na segunda parte do século passado, as mudanças cur- MARTINELLI, Marcello. Atlas geográficos riculares sofridas pela Geografia afetaram o para escolares. In: ALMEIDA, R. D. (org.). No- ensino de cartografia, de maneira que ape- vos rumos da Cartografia Escolar: currículo, nas nas últimas décadas ressurgiram preo- linguagem e tecnologia. São Paulo: Ed. Con- cupações com a linguagem cartográfica e o texto, 2011. p 57-70. ensino de mapas. Sacristán, J. Gimeno. O currículo, uma refle- xão sobre a prática. Porto Alegre: ArtMed, Referências 1998. AGUIAR, V. Trevizani. Navegar, com mapas, é bem mais preciso. In: ALMEIDA, R. D. (org.). Endereços eletrônicos: Novos rumos da Cartografia Escolar: currícu- Blog Cartografia Escolar lo, linguagem e tecnologia. São Paulo. Ed. www.cartografiaescolar@blogspot.com Contexto, 2011. p. 37-56.
  • 17. Atlas eletrônico do Rio de Janeiro – Arma- IBGE zenzinho. Instituto Pereira Passos http://www.ibge.gov.br/7a12 http://portalgeo.rio.rj.gov.br/armazenzinho/ http://www.ibge.gov.br/ibgeteen web Concurso Nacional de mapas por crianças “Lívia de Oliveira” http://www.cartografia.org.br 17
  • 18. Texto 2: As linguagens e a cartografia na educação básica Rosangela Doin de Almeida1 Na primeira parte deste texto, vamos dis- Greig (2004, p. 13). Podemos dizer que os de- cutir sobre linguagens e cartografia na Edu- senhos ou grafismos consistem em um tipo cação Infantil e no Ensino Fundamental, de linguagem presente em nossas manifes- destacando a representação do espaço por tações culturais desde a pré-história. Mas, o crianças através do desenho. que é o desenho para a criança? Por que as crianças desenham? A criança desenha para Na segunda parte, vamos abordar um tema se divertir. A criança desenha para se comu- de suma importância – o ensino de mapas nicar. É uma atividade lúdica e estética. para pessoas portadoras de deficiência visu- al. Mostraremos como produzir materiais Há poucos registros diretos a respeito do adequados a esses alunos. que as crianças pensam sobre o ato de de- senhar, são os adultos que escrevem sobre 18 Este é um assunto já bastante debatido em os desenhos de crianças. Naturalmente, a diversas publicações e nos encontros de Car- perspectiva que predomina tem como refe- tografia Escolar, portanto, vamos delinear rência padrões definidos pelos adultos. Ain- nossa abordagem em torno da representa- da que seja estranho pensar que as crianças ção do espaço em desenhos infantis e sua possam pesquisar suas próprias produções, contribuição para uma cartografia pertinen- conhecer mais de perto o que elas pensam te à infância. ao desenhar poderá contrabalançar nossas concepções. O desenho é uma forma particular de lin- guagem. “O que faz com que um chimpan- Levantamos essa questão para fazer notar zé, ainda que consiga riscar muito bem com que as sistematizações teóricas sobre o de- um lápis na pata, jamais faça um desenho senho de crianças partem de concepções de um chimpanzé (...)?” pergunta Philippe dos adultos a respeito da infância. E que 2 Professora adjunta aposentada e voluntária no Departamento de Planejamento Territorial e Geoprocessamento do IGCE – Unesp – CRC. Coordenadora do grupo de pesquisa “Geografia e Cartografia Escolar” credenciado no CNPq. Consultora da série.
  • 19. predomina, ainda, uma visão evolutiva do girino na representação de um personagem, desenho proposta no início do século passa- a qual mais tarde criará uma insatisfação do. Não se trata de negar o desenvolvimento quanto à sua propriedade para representar do homem desde o nascimento até a idade o corpo. A criança logo agrega um corpo à adulta, mas de ficarmos atentos para o fato cabeça, correspondendo à separação funcio- de que existem outras abordagens além da nal entre ambos. evolutiva. O perigo aqui é considerar que crianças pequenas são incapazes ou que Na adequação das formas da figura huma- suas produções gráficas não correspondem na ao esquema corporal, a verticalidade é o ao que deveriam ser, negando até certo pon- ponto mais importante. Em outras palavras, to sua propriedade linguística. conforme o esquema corporal for ganhan- do detalhes funcionais (individuação de Destacamos a importância das experiências suas partes e respectivas funções) a criança 19 Figura 1 – A estrutura cabeça/corpo se estabelece (Extraído de Phi- lippe Greig. A criança e seu desenho. Porto Alegre: Artes Médicas, 2004. p. 59). corporais no espaço porque são elas que perceberá que seu desenho da personagem proporcionam a organização espacial inter- não corresponde plenamente a essa ima- na, a qual aparece nas representações da gem. Procurará, então, agregar detalhes às figura humana. Estas partem da conquista formas já conquistadas. Nesse processo, ao das formas fechadas que originam a figura- alongar as pernas para dar verticalidade ao
  • 20. corpo, perceberá que fica um vazio no tron- à ou própria da postura ereta) influem na co, o qual poderá ser preenchido. Outro ca- apreensão das informações espaciais. minho encontrado por algumas crianças é fechar o eixo vertical, dando ao corpo uma Pensamos que este ponto da construção do forma trapezoidal. A diferenciação cabeça/ esquema corporal é o terreno fértil no qual corpo pode ser feita também pela junção de germinam as noções das demais coordena- duas formas secantes ou tangentes. Essas das espaciais. A verticalidade vem a consis- formas vão ganhando detalhes até atingir tir-se no eixo principal de toda organização o esgotamento do desenho da personagem espacial humana, pois só o homem tem uma (figura 1). postura ereta, o que lhe confere liberar os membros superiores e deslocar-se ortostati- Notamos uma importante relação entre camente sobre o solo. Definem-se assim três a construção da figura da personagem e a eixos a partir do esquema corporal: frente representação do espaço: a verticalidade do – atrás; direita – esquerda; acima – abaixo. corpo. A forma vertical do corpo humano e seu deslocamento na superfície terrestre, a Liliane Lurçat acrescenta que “o conheci- partir de uma postura ortostática (relativa mento do próprio corpo procede do conhe- 20 Figura 2 – Figura continente para o rosto, figura irradiante para o corpo (Extraído de Philippe Greig. A criança e seu desenho. Por- to Alegre: Artes Médicas, 2004. p. 50).
  • 21. cimento do espaço e ao mesmo tempo o tor- mentos diferentes, a criança vai adquirindo na possível” (1979, p. 23). um “vocabulário gráfico” que lhe permite identificar (ou agregar identidade) aos dife- Portanto, é na infância que a noção das co- rentes objetos criados no espaço gráfico. Os ordenadas espaciais se origina. O desenho elementos gráficos da elaboração do dese- de uma personagem não é apenas um dese- nho são o círculo e o traço, que podem ser nho, pois traz em si a referência primordial combinados de três maneiras: círculo com das relações de localização espacial e sua re- círculo, traço com círculo e traço com traço presentação cartográfica. É a partir do eixo (figura 2). vertical e sua projeção no espaço imediato – e deste, no espaço representado no papel Até aqui o problema das três dimensões ain- ou na tela – que se projetam os referenciais da não foi colocado. As figurações no espa- de localização e orientação. ço bidimensional do papel mantêm o ponto de vista único: as personagens são vistas de A conquista do desenho da personagem vai frente, animais casas e veículos são vistos de se estabelecendo com a agregação de deta- perfil (figura 3). lhes na forma definida inicialmente. Trata- se da figuração da personagem, que aparece Em objetos com formas que se aproximam 21 junto com outras figurações: animais, ár- dos sólidos geométricos, como por exemplo vores, casas etc. Com a combinação de ele- uma casa, o desenho frontal logo se revela Figura 3 – Personagem vista de frente, veículo visto de perfil. (Extra- ído de R. Doin de Almeida (coord.). Meu Primeiro Atlas de Sumaré. 2008, p. 12 )
  • 22. como insuficiente, pois certos detalhes não na conquista da representação tridimensio- podem ser colocados, como janelas e por- nal do espaço nos objetos: o ponto de vista tas laterais. Para resolver esse problema, único, a conjugação sincrética com rebati- algumas crianças fazem uma justaposição mentos, a busca da profundidade (destaque da casa de frente e de lado, criando assim de planos diferentes, afastamento etc.) e a um desdobramento ou rebatimento dos ele- angulação, que define a perspectiva conven- mentos no plano frontal, o que é uma das cional (figura 5). principais características espaciais do dese- nho de crianças (Figura 4). Parece-nos que a conquista da perspectiva 22 Figura 4 – Casas com visão frontal e desdobramento da lateral, o traçado das ruas é visto de cima. (Extraído de R. Doin de Almeida (coord.). Meu Primeiro Atlas de Sumaré. 2008, p. 52 ). A forma desdobrada ainda não satisfaz, pois convencional não corresponde a uma aquisi- não corresponde ao que as crianças obser- ção natural, mas advem de um aprendizado vam, e elas buscam outras soluções para ex- ou da observação de produções veiculadas pressar a profundidade. As primeiras angu- pelos meios de divulgação (livros, fotos, gra- lações resolvem o problema da expressão da vuras etc.). A partir do Renascimento, as ar- profundidade. Assim, temos quatro etapas tes visuais assumiram esse tipo de perspec-
  • 23. Figura 5 – Ponto de vista frontal e único (A), conjugação sincrética com rebatimentos (B), a busca da profundidade (C) e a angulação (D). (Adaptado de Philippe Greig. A criança e seu desenho. Porto Alegre: Artes Médicas, 2004. p. 97). tiva que permaneceu por séculos como uma ciais. Esses grupos vêm ganhando força e es- “visão natural” dos objetos. Movimentos de paço junto da cartografia escolar, por traba- artistas nos últimos dois séculos romperam lharem em um tema instigante e específico. com essa proposta. No entanto, na ciência (e, por conseguinte, na escola) a perspectiva Destacamos que a representação espacial 23 a partir de um ponto de fuga foi importante por portadores de deficiência visual é crucial para a construção da representação do espa- para a educação cartográfica, uma vez que ço. Nesse processo, a cartografia beneficiou- os produtos cartográficos são eminente- se bastante, pois os mapas passaram a ser mente visuais. Os olhos são, em nossa socie- construídos com a projeção ortogonal dos dade, o principal meio usado para conhecer pontos sobre o plano do papel, criando uma o mundo, portanto, pessoas com compro- visão artificial do espaço, embora alguns metimento do canal visual apresentam um textos afirmem que “os mapas mostram a obstáculo que desafia a educação quanto às terra vista de cima”! possibilidades de aquisição de conhecimen- tos relativos à representação espacial. CARTOGRAFIA TÁTIL O termo deficiência visual pode referir-se às Os estudos em cartografia tátil, no Brasil, pessoas cegas e pessoas com baixa visão. Ao avançaram consideravelmente nos últimos consultar a literatura especializada, cons- anos, graças ao empenho de grupos de pes- tatamos que o termo se refere às pessoas quisadores e professores envolvidos com a com baixa visão, que perderam a visão na inclusão de pessoas com necessidades espe- idade adulta ou na infância, que nasceram
  • 24. cegas, que enxergam vultos ou sombras ou feitos com materiais simples, também con- distinguem apenas a claridade. Portanto, as seguem atingir resultados excelentes, mas necessidades especiais não são as mesmas oferecem maiores limitações na reprodução entre essas pessoas. de um grande número de Pessoas com cópias, além de ser gasto Segundo Vasconcellos, um tempo longo em sua deficiência visual “mapas são representa- elaboração. Na cartogra- precisam que ções gráficas do espaço fia tátil, os mapeadores e, como abstrações da estas imagens são, geralmente, pessoas realidade, pertencem ao sejam percebidas leigas, como professores mundo das imagens. Pes- por outros canais e pais de crianças com soas com deficiência vi- de percepção, deficiência visual, que sual precisam que estas substituindo a visão necessitam maior prepa- imagens sejam percebi- ro para a produção e uso das por outros canais de dos mapas. Informamos percepção, substituindo que alguns laboratórios podem auxiliar os a visão. Um mapa é chamado tátil quando professores na produção desses materiais. está em um formato que permite que seja 24 ‘visto pelo toque’, nesse caso, é construído Após diversas pesquisas e cursos, o LEMADI utilizando-se uma linguagem gráfica tátil – Laboratório de Ensino e Material Didático com signos em relevo” (2001, p. 37) do Depto. de Geografia da USP – indica su- gestões referentes à produção do mapa tátil Atualmente, os recursos tecnológicos digi- e seu uso em sala de aula, organizadas em tais são uma grande contribuição para a pro- dois grupos. Para informar os professores, dução dos mapas. Porém, mapas artesanais, incluímos essas sugestões no quadro abaixo.
  • 25. 1 - Construção e design do mapa tátil • A escolha da linguagem gráfica (design ou solução gráfica) é, provavelmente, a etapa mais importante de todo o processo de produção das representações gráficas destinadas à per- cepção tátil. É preciso proceder a uma sistematização das regras básicas para a construção dos mapas adaptados à resolução do tato; • A criação e uso de convenções são fundamentais para facilitar a utilização da linguagem cartográfica e a leitura das representações gráficas. A legenda do mapa é um recurso muito importante para o usuário com deficiência visual, pois este grupo de usuários apresenta bastante facilidade na decodificação e leitura de legendas; • A escolha do nível de redução e generalização é vital, da mesma forma que o tamanho da base é importante. A percepção tátil não é global como a visão e possui uma menor reso- lução, o que significa que a pessoa com deficiência visual precisa juntar pequenas parcelas de informação para formar uma imagem completa; • O tamanho de cada mapa, maquete ou gráfico não deve ultrapassar 50 cm, porque o campo abrangido pelas mãos é muito mais restrito que o campo da visão; • O uso da redundância é indicado, o que significa usar duas variáveis gráficas para represen- tar uma única informação, por exemplo, textura associada a formas; 25 • É importante medir a quantidade de informação a ser representada e nunca sobrecarregar o mapa, é preferível fazer diversos mapas a concentrar informações em um só mapa. 2 - Uso dos mapas e representações gráficas no ensino: • Conceitos geográficos básicos, tais como proporção, escala, localização e orientação, pre- cisam ser bem entendidos antes da introdução dos mapas; • A linguagem gráfica tátil deve ser apresentada através de exercícios com as variáveis gráfi- cas em relevo, como preparação à leitura de mapas; • Modelos em três dimensões e maquetes com as altitudes ajudam a criança a entender o espaço físico. São representações menos abstratas e devem preceder o uso dos mapas; • Atividades e jogos geográficos podem facilitar o processo de aprendizagem da Geografia e da Cartografia, na medida em que motivam o aluno e tornam o ensino mais interessante; • Todos os materiais didáticos, incluindo os mapas, devem ser classificados considerando níveis de complexidade, em função de algumas variáveis importantes: idade e nível de de- senvolvimento cognitivo do aluno, interesse e experiência anterior, adequação à série que o aluno está cursando, dentre outros. Fonte: ALMEIDA, R. Araujo, 2007. p.137- 138.
  • 26. O papel das tecnologias digitais deve ser Referências destacado e valorizado com relação à pro- dução e uso do mapa tátil e ao processo de ALMEIDA, Regina Araujo; SENA, Carla Cristi- aprendizagem da linguagem cartográfica, na; CARMO, Waldirene. Técnicas de Cartogra- além de ser importante nas ações voltadas fia Inclusiva. In: VENTURI, Luis A. Bittar (org.). para a formação de professores. Porém, Geografia - Práticas de Campo, Laboratório e ainda existem limitações para sua utiliza- Sala de Aula. São Paulo: Editora Sarandi, 2011. ção, pois depende do computador e da co- nexão à Internet, o que não é encontrado ALMEIDA, Regina Araujo. Ensino de Carto- em muitas escolas. grafia para Populações Minoritárias. In: Bo- letim Paulista de Geografia. São Paulo: AGB, Ainda que pese a dificuldade de acesso, a 2007. p.111-129. tecnologia atualmente disponível ao usuá- rio portador de deficiência visual possibili- ALMEIDA, Rosangela Doin de (coord.). Meu ta a combinação de recursos visuais, táteis Primeiro Atlas de Sumaré. Sumaré (SP): Pre- e sonoros, de forma a ampliar o acesso aos feitura Municipal de Sumaré, 2008. produtos cartográficos. Cabe destacar sua importância com relação à mobilidade para ALMEIDA, Rosangela Doin de. Do desenho ao 26 pessoas com deficiência visual. Merece des- mapa. São Paulo: Ed. Contexto, 2004. taque o uso de maquetes sonoras realizado por Sena (2008), que desenvolveu um ma- CADERNOS DOS CEDES. Formação de profes- terial inovador, associando as técnicas da sores e Atlas municipais escolares. Campi- cartografia tátil com robótica. nas, v. 23, n. 60, p. 131-134, agosto de 2003. O ensino de mapas para crianças normo- CARMO, Waldirene Ribeiro do. Cartografia visuais já traz inúmeras questões quanto tátil escolar: experiências com a construção à cognição e à representação do espaço, de materiais didáticos e com a formação o ensino para pessoas portadoras de de- continuada de professores. Dissertação de ficiência visual parece-nos algo ainda Mestrado, DG, FFLCH, USP. São Paulo, 2010. mais complexo, instigante e desafiador. Lembramos, no entanto, que deficiências Freitas, Maria Isabel de; Ventorini, Silvia Ele- podem ter um papel criativo, dando lugar na; Borges, José Antonio. Maquetes táteis, para que surjam capacidades que não se dispositivos sonoros e aulas inclusivas com manifestariam em sua ausência, como de- mapavox. In: Almeida, R. D. (org.) Novos ru- fende Oliver Sacks. mos da Cartografia Escolar: currículo, lingua-
  • 27. gem e tecnologia. São Paulo: Ed. Contexto. etapas e uso do mapa. Tese (Doutorado em 2011. p 109-120. Geografia). São Paulo: Faculdade de Filoso- fia, Letras e Ciências Humanas da Universi- Greig, Philippe. A criança e seu desenho. O dade de São Paulo, 1993. nascimento da arte e da escrita. Porto Ale- gre: Art Med., 2004. VASCONCELLOS, Regina. Tactile Maps. In: International Encyclopedia of Social & Beha- Lurçat, Liliane. El nino y el espacio. Mexico: vioral Sciences. Elsevier, 2001. (Internet and Fondo de Cultura Econômica, 1979. printed version). SENA, Carla Cristina Reinaldo Gimenes de. VENTORINI, Silvia Elena. A experiência como Cartografia Tátil no ensino de Geografia: fator determinante na representação espa- uma proposta metodológica de desenvol- cial do Deficiente Visual. Tese (Mestrado), vimento de recursos didáticos adaptados a Programa de Pós-Graduação em Geografia. pessoas com deficiência visual. São Paulo: Rio Claro: UNESP, 2007. Tese (doutorado), Departamento de Geogra- fia da FFLCH – USP, 2008. VENTORINI, Sílvia Elena. A experiência como fator determinante na representação espa- 27 VASCONCELLOS, Regina Almeida. Cartogra- cial da pessoa com deficiência visual. São fia e o deficiente visual: uma avaliação das Paulo: Editora UNESP, 2009. p. 112.
  • 28. Texto 3: Tecnologia e cartografia escolar Tania Seneme do Canto1 A tecnologia, seja ela antiga ou nova, está mitir que, em questão de minutos, mapas profundamente associada aos modos pelos construídos num ponto do globo alcanças- quais construímos o conhecimento. Atual- sem o mundo. mente, são a internet e o computador que se destacam neste processo, ao se consti- Ao longo do tempo, entretanto, a tecnologia tuírem na sociedade contemporânea como avançou e permitiu que outras formas de re- os principais meios de produção, difusão e presentação cartográfica fossem incorpora- acesso à informação. Na área da cartografia, das aos sites e disponibilizadas na Internet. isso significa que cada vez mais os mapas Desse modo, os mapas virtuais se tornaram passam a circular no mundo virtualmente e, mais interativos, possibilitando uma maior assim, começam a participar também de ou- autonomia do usuário no processo de leitu- tros modos de ensinar e aprender geografia. ra e interpretação cartográfica, bem como 28 na criação de novos mapas. Os mapas que encontramos hoje nos meios digitais são de uma diversidade muito gran- Cartografia Multimídia de, tanto nos seus conteúdos, como nos for- matos. Isso se deve à própria evolução das Uma das primeiras grandes mudanças que tecnologias desenvolvidas com a Internet e as novas tecnologias promoveram no mun- os computadores. No início do surgimento do da cartografia foi a possibilidade de com- da Internet, por exemplo, os mapas que co- binar os mapas com outras mídias e outros meçaram a circular na rede ainda eram mui- modos de leitura. Com o desenvolvimento to parecidos com aqueles que encontráva- da linguagem digital, imagens, textos, vídeos mos em livros didáticos e atlas escolares. Na e sons puderam ser associados num mesmo verdade, a principal importância da Internet suporte e acessados aleatoriamente a par- para a cartografia, neste período, foi per- tir de nós de conexão chamados hiperlinks. 1 Mestre em Geografia e Doutoranda no Programa de pós-graduação em Geografia do IGCE da UNESP, campus Rio Claro. Autora de livros e artigos sobre cartografia escolar. Professora efetiva da rede estadual de ensino do Estado de São Paulo.
  • 29. Aplicada à cartografia, esta nova linguagem de mapas era feita por meio de CD-ROMs, no trouxe aos usuários dos mapas a possibili- entanto, com a evolução da web, a maioria dade de navegar por diferentes formas de destes projetos está hoje disponível na Inter- expressão dos conteúdos geográficos e sele- net. Alguns exemplos que se destacam são: cionar, dentro de um leque de opções prede- o projeto Armazenzinho, o canal Países do finido, as informações que deseja visualizar site do IBGE e os aplicativos Google Maps e cartograficamente. Google Earth. Para vários autores da área, o uso destes no- O projeto Armazenzinho (figura 1) consiste vos recursos pela cartografia favorece uma num website com caráter educacional que interação diferente entre o usuário do mapa busca difundir informações sobre a cidade e a representação cartográfica em si. Se- do Rio de Janeiro. Desse modo, o site oferece gundo Peterson (1999), esta nova linguagem vários dados sobre o município, os quais são permite elaborar mapas mais interativos e apresentados na forma de textos, imagens e animados, que transcendem o caráter está- mapas. O acesso a tais dados se dá por meio tico e imutável do mundo representado nos de hiperlinks, os quais levam os usuários a mapas de papel. Para Gomes (2010, p. 33), diferentes seções do site. Os mapas apresen- tal interatividade significa a possibilidade de tados também oferecem diferentes níveis de 29 “construir outras conexões e interpretações, interatividade. Segundo Gomes (2010), na até então impossíveis com a utilização ape- seção Conhecendo o Rio, por exemplo, o usu- nas dos mapas impressos”. ário do site pode visualizar mapas temáticos de diversos pontos da cidade do Rio de Ja- Apesar de o conceito multimídia focar es- neiro, conhecer diferentes rotas por meio de pecialmente a combinação de diferentes sistemas de transporte como metrô, trem, mídias num mesmo suporte, o conjunto bicicleta e barcas, localizar endereços, e de projetos cartográficos que não só utiliza após o mapa aparecer, montar um mapa te- várias linguagens para representar as infor- mático do bairro, entre outras coisas. mações geográficas, mas também permite que essas sejam acessadas através de links Já no site do IBGE, os recursos oferecidos de acordo com o interesse do usuário, ficou pelo projeto Países (figura 2) são um pouco conhecido pelo nome de Cartografia Multi- mais simples. Um mapa-múndi clicável e mídia. um menu são apresentados ao usuário, que pode selecionar o país e o tema sobre o qual No início do desenvolvimento da Cartogra- gostaria de obter informações. Tais informa- fia Multimídia, a distribuição deste formato ções são apresentadas na forma de tabelas
  • 30. e podem ser comparadas com as de outros Os aplicativos Google Maps (figura 3) e Goo- países do mundo através de hiperlinks que gle Earth (figura 4) podem ser considerados dão acesso a elas. alguns dos projetos cartográficos multimí- 30 Figura 1: Armazenzinho. Fonte: http://portalgeo.rio.rj.gov.br/ar- mazenzinho/web/ Figura 2: IBGE Países. Fonte: http://www.ibge.gov.br/paisesat/
  • 31. Figura 3: Google Maps Fonte: http://maps.google.com.br 31 Figura 4: Google Earth Fonte: http://www.google.com/intl/pt-PT/earth dia mais sofisticados que encontramos hoje quer visualizar a superfície terrestre na for- na rede. Tanto um quanto outro oferecem ma de mapas, imagens de satélite ou uma ao usuário a possibilidade de escolher se combinação entre os dois. Através das di-
  • 32. versas ferramentas disponíveis, é possível conteúdos e ferramentas sejam incluídos também aproximar e distanciar os lugares, pelos usuários aos mapas e imagens de sa- localizar endereços e serviços, traçar rotas, télite preexistentes, fazendo emergir assim obter e compartilhar fotos e vídeos de dife- uma nova geração de mapas na Internet, rentes lugares e desenhar novos mapas. bem como novas práticas de mapeamento. Estas são as funções básicas dos dois progra- Conforme Cartwright (2008), um importan- mas, entretanto eles se diferenciam em di- te especialista na área de mapas e internet, versos aspectos. O Google Earth, por exem- até pouco tempo os mapas produzidos para plo, precisa ser instalado no computador e a web eram elaborados por cartógrafos e en- proporciona um modelo 3D da superfície tregues como pacotes completos aos seus terrestre, que dá a sensação de o usuário usuários. Hoje, no entanto, devido ao de- estar sobrevoando o planeta, enquanto o senvolvimento de novos aplicativos na web, Google Maps oferece apenas uma visão 2D os internautas se apropriam da rede de uma da superfície terrestre e pode ser acessado nova maneira, participando efetivamente da diretamente na Internet. Além disso, o Goo- produção de seus conteúdos, inclusive, dos gle Earth também traz mais informações conteúdos cartográficos. Desse modo, para o complementares sobre os lugares. A partir autor, uma grande revolução está ocorrendo 32 de um enorme banco de dados, atualizado no modo como as informações geográficas periodicamente e acessado através da sele- são recolhidas e mapeadas, afinal, os mapas ção de camadas, muitos autores defendem “estão sendo produzidos por ‘novos cartó- que este aplicativo é um grande Atlas virtual grafos’, assim como por cartógrafos que são do mundo. novos para a cartografia” (2008, p. 19). Nesse contexto, as pessoas têm utilizado Rumo às novas práticas de estas novas tecnologias de mapeamento mapeamento para os mais diversos fins e dos mais diver- Além de popularizar a Cartografia Multimí- sos modos. Genericamente, podemos dividir dia, o surgimento de programas como Goo- estes mapas em três categorias, conforme gle Maps e Google Earth acrescentou à socie- o modo como eles são construídos. Existe dade em rede uma nova dimensão cultural. um público que utiliza estes programas de Segundo Canto e Almeida (2011), programas modo mais sofisticado, pois já são iniciados como estes não só oferecem a possibilidade em linguagem de programação. Nesse caso, de navegar virtualmente pela superfície ter- através de uma tecnologia chamada API, restre, como também permitem que novos eles manipulam os códigos dos programas
  • 33. de mapeamento e os combinam com outros goria de mapas, pois apesar de também se sistemas e informações veiculadas por sites manipularem os códigos dos programas de preexistentes na rede. O resultado é a cria- mapeamento, o objetivo não é combiná-los ção de aplicações que mapeiam conteúdos com dados já existentes, mas sim adicionar que circulam na web em outras formas de ferramentas que visam à inclusão direta de representação. Um exemplo disso é o site conteúdos e informações por qualquer usu- GeoImpress (figura 5), o qual combina os re- ário. Com isso, as aplicações criadas são na cursos do Google Maps com as imagens hos- verdade mapas abertos em contínuo proces- pedadas na rede social Flickr. Desse modo, so de construção. Exemplos bastante inte- ao acessar o GeoImpress e escolher no mapa ressantes desta forma de mapeamento po- um ponto do globo para visualizar, são exi- dem ser vistos nos sites Post Urbano (figura bidas no site as fotografias identificadas no 6) e Wikimapa (figura 7). Flickr com esta localização. 33 Figura 5: Google Maps + Flickr = GeoImpress Fonte: Canto e Almeida (2010, p. 151). A tecnologia API também tem sido utiliza- Nos dois casos, as pessoas que visitam o site da para criar o que tem sido chamado de, são convidadas a intervir diretamente nos mapas colaborativos, esta seria outra cate- mapas e imagens de satélite disponíveis. No
  • 34. projeto Post Urbano, o objetivo é mapear a dem mapear trajetórias, localizar lugares, cidade de Rosário com as experiências e his- postar vídeos e fotos destes lugares, bem tórias vividas por seus habitantes. Enquanto como escrever sobre eles. que no projeto Wikimapa, o objetivo é fazer ver as favelas do Rio de Janeiro pelos olhos A terceira categoria de mapeamento tem dos jovens que as habitam. Assim, eles po- uma característica singular, pois não deriva 34 Figura 6: Post Urbano Fonte: http://post.wokitoki.org/ Figura 7: Wikimapa Fonte: http://wikimapa.org.br/
  • 35. Figura 8: Invisible Stories Fonte: http://maps.google.com.br da recombinação de códigos ou programas dos internautas, o mapeamento representa preexistentes no ciberespaço. No entanto, a experiência de vida de várias pessoas na eles continuam sendo resultado da compo- cidade. sição entre mapas disponíveis por progra- mas online e conteúdos produzidos pelos Desse modo, podemos concluir que a maior 35 usuários. Desse modo, de uma forma dife- contribuição destes novos programas de rente, estes projetos também conferem sen- mapeamento é que eles abrem o mundo dos tidos particulares aos mapas que já existem mapas para as pessoas em geral, tornando- na web. o uma linguagem mais participativa e de- mocrática. Com isso, outras cartografias Como exemplo desse tipo de projeto, pode- passam a ganhar existência na sociedade. mos citar o Invisible Stories (figura 8). Criado Diferentes pontos de vista sobre a realidade por um grupo de artistas na seção Meus Ma- podem ser mapeados, outras histórias com pas do programa Google Maps, o objetivo do o espaço podem ser contadas e, assim, ou- mapeamento é mostrar a história de vida de tras geografias também passam a frequen- algumas pessoas que habitam a cidade de tar nosso pensamento espacial e o de nossos São Paulo. Desse modo, por meio das ferra- alunos. mentas de edição de texto e marcadores de lugar, fornecidas pelo programa, trechos de André Lemos, um professor de comunicação relatos desses habitantes foram localizados da Universidade Federal da Bahia, resume no mapa. Apesar de não ser colaborativo, bem a importância desses novos programas, já que não está aberto à participação direta dizendo o seguinte:
  • 36. [...] esse sistema de mapas digitais tor- culo, linguagem e tecnologia. São Paulo: nou disponível, para todos com acesso Contexto, 2011. à rede, uma possibilidade de produzir conteúdos e mapas sem precedentes na CARTWRIGHT, W. Delivering geospatial in- história da humanidade. Com finalida- formation with Web 2.0. In: PETERSON, M. des as mais diversas, esses mapas hoje P. (ed.) International Perspectives on Maps permitem a pessoas e comunidades cria- and the Internet. New York: Springer, 2008. rem histórias e significações autóctones sobre suas realidades, sobre seus “luga- LEMOS, A. Mapas além-Google. Trópico, Se- res”. Ou seja, é possível produzir histó- ção Novo Mundo, 19 abr. 2008. Entrevista rias sobre os lugares que não são as ofi- concedida a G. Beiguelman. Disponível em: ciais, criar sentido além da reprodução http://pphp.uol.com.br/tropico/html/tex- oficial. (2008, s/p) tos/2970,1.shl Acesso em 25 abr. 2008. Com isso, o que percebemos hoje é que, de MOREIRA, S. A. G. Cartografia multimídia: uma forma ou de outra, através desses no- interatividade em projetos cartográficos. vos mapas virtuais, a Internet se tornou um Tese (Doutorado em Geografia). Rio Claro, lugar de encontro de diferentes histórias SP: Instituto de Geociências e Ciências Exa- 36 com o espaço. tas/Departamento de Geografia/Universida- de Estadual Paulista, 2010. Referências PETERSON, M. P. Elements of multimedia CANTO, T. S. e ALMEIDA, R. D. Mapas feitos cartography. In: CARTWRIGHT, W.; PETER- por não cartógrafos e a prática cartográfi- SON, M. P.; GARTNER, Georg (orgs.). Multi- ca no ciberespaço. In: ALMEIDA, R. D. (org.). media cartography. Berlin: Springer-Verlag, Novos rumos da cartografia escolar: currí- 1999.
  • 37. Presidência da República Ministério da Educação Secretaria de Educação Básica TV ESCOLA/ SALTO PARA O FUTURO Coordenação-geral da TV Escola Érico da Silveira Coordenação Pedagógica Maria Carolina Mello de Sousa Supervisão Pedagógica Rosa Helena Mendonça Acompanhamento Pedagógico Grazielle Avellar Bragança Coordenação de Utilização e Avaliação Mônica Mufarrej 37 Fernanda Braga Copidesque e Revisão Magda Frediani Martins Diagramação e Editoração Equipe do Núcleo de Produção Gráfica de Mídia Impressa – TV Brasil Gerência de Criação e Produção de Arte Consultora especialmente convidada Rosangela Doin de Almeida E-mail: salto@mec.gov.br Home page: www.tvbrasil.org.br/salto Rua da Relação, 18, 4o andar – Centro. CEP: 20231-110 – Rio de Janeiro (RJ) Outubro 2011