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A teoria da História, o romance histórico e a crise do realismo burguês.

Livro base: O Romance Histórico de Georges LUKACS
Capítulo 3:


INTRODUÇÃO:

A Revolução de 1848 representa um divisor de águas. É a primeira vez que a
classe proletária surge na cena histórica, efetivamente como protagonista da
luta. Os acontecimentos de 1848 provocaram uma reorientação nos objetivos
da burguesia, de uma democracia revolucionária em direção a um liberalismo
de compromisso. Essa reorientação burguesa se dá em todos os campos
ideológicos.

Na Alemanha, particularmente, a mudança dos objetivos revolucionários
burgueses leva ao desaparecimento da filosofia hegeliana. As lutas filosóficas
pré-48 foram de tendências próprias da época, preparatórias da revolução de
1848. Hegel sustentava os princípios da revolução burguesa dentro da
Alemanha. Já, com Marx, a burguesia teve a clara visão de que as armas que
ela havia forjado contra o feudalismo voltaram-se contra ela mesma. Essa
compreensão dos novos conflitos provoca uma reação que leva a uma revisão
no processo histórico. Para Marx, Hegel que era a figura central da vida
espiritual (cultural) alemã, torna-se um cachorro morto no campo das idéias.

No período anterior a 1848, a burguesia direcionava o desenvolvimento social
também no terreno ideológico, ou seja, na produção de uma literatura
revolucionária, através dos romances de crítica social como, por exemplo, A
comédia humana de Honoré de Balzac. Antes de 1848, tinha-se um
movimento espiral nas concepções filosóficas, criticadas, destruídas e levadas
sempre a um plano superior. As lutas de classe ocorridas durante a 1 ª metade
desse século desembocaram na formulação científica do marxismo e assim, a
concepção histórica do proletariado superou as limitações da ideologia
burguesa que se viu acuada e reformulou sua crítica social.


A IDÉIA DE PROGRESSO
A grande mudança de atitude nos historiadores existente pós-48 se manifesta
na forma como a disciplina histórica passa a encarar o progresso. Os ideólogos
da burguesia observando a evolução da luta de classes perceberam os perigos
iminentes com o surgimento de uma futura sociedade proletária. Assim, o
medo freia o ímpeto na busca pelo novo. Por exemplo, Teophile Gauthier (O
capitão Fracasso), escritor francês mestre em descrever o espírito elevado da
nobreza, um cavalheirismo em extinção no mundo burguês, critica as idéias de
progresso da ciência a serviço do homem, ironizando, por exemplo, as utopias
propostas pelo anarquista Charles Fourier (os Falansterios, projetos de cidades
modernas onde a população viveria uma vida comunitária e de bem estar
social).

Essa involução na idéia de progresso que toma conta do pensamento burguês
pós-48 afasta-se das concepções hegelianas que dominaram a mentalidade dos
filósofos e historiadores na primeira metade do século XIX. Para Hegel, o
progresso é contraditório, dialético, um choque de forças antagônicas que
produz novas situações antagônicas. Portanto, o progresso ocorre através do
conflito. Já, para os novos ideólogos da burguesia liberal o progresso na
história mostra-se como uma evolução linear, retilínea. Esses são os princípios
de Auguste Comte que constituirão a escola positivista francesa e marcaram
decisivamente a República brasileira. A segunda metade do século XIX
acentua esse conflito existente entre uma concepção de história dialética que
vinha em gestação desde Hegel e se consolida com Marx, para o
estabelecimento dominante na academia da época de uma concepção de
história evolutiva com idéias negadoras sobre a contradição existente no
progresso histórico.

Podemos classificar esse período da segunda metade do século XIX como
uma época de reorientação ilustrada em que são retomadas as idéias de Bayle
e de Voltaire. Inicia-se uma construção ideológica que recupera justamente as
tendências mais aristocráticas do iluminismo afastando-se do pensamento
desenvolvido por Rousseau e depois por Kant e que levou ao conceito de
dialética. Retornam, então, as idéias da natureza linear do progresso da
humanidade, do evolucionismo adequado ao conhecimento acumulado até o
século XIX. Dentre os grandes intelectuais desse período, talvez o único a
manter a atualidade da análise mesmo seguindo essa concepção aristocrática
tenha sido Alex de Tocqueville, A democracia na América, o grande nome da
burguesia liberal do XIX.
EXEMPLOS DA CONCEPÇÃO DE HISTÓRIA PÓS-48

A concepção de História dessa época é fortemente influenciada pelo
darwinismo social da segunda metade do XIX. Historiadores e sociólogos
convertem diretamente os princípios do darwinismo, ou seja, as idéias da
seleção natural e da evolução das espécies em fundamento para o estudo do
desenvolvimento social do ser humano. É a apologia do domínio do Capital
que está presente em Spencer, para quem o homem burguês é superior porque
é o ser humano mais bem adaptado ao meio e ao tempo em que vive.

Surge, paralelamente, também o conceito de raça, que é uma idéia muito forte
em Taine, e a interpretação racial da evolução da humanidade torna-se o
centro da Sociologia, pelo menos no campo da Antropologia Humana. Em
Taine vislumbra-se o mito da superioridade física e intelectual da raça
caucasiana sobre as demais raças, uma apologia que fundamentou as
tendências nazi-fascistas do século XX. Taine embasou-se conceitualmente
em Thierry, iluminista inglês do XVIII, para negar a existência do conflito
marxista de luta de classes em uma sociedade que está em vias de tornar-se
global, interpretando os conflitos humanos como sendo conflitos entre raças.
Assim, procurou provar a superioridade da raça caucasiana uma vez que foi a
raça que estabeleceu o domínio econômico sobre todo o planeta. Porém, Taine
esqueceu-se que mesmo para Thierry, escrevendo 100 anos antes, a luta de
raças era entendida somente como precursora da luta social, a futura luta de
classe marxista, e não como sua instância última. Então em Taine há um
retorno a formas de pensamento anteriores ao período do iluminismo.

Da mesma forma na Filosofia, a partir da década de 1880 as idéias metafísicas
de Schopenhauer, que acreditava na existência de uma vontade natural nos
seres humanos, uma vontade inata, prévia, independente do meio social em
que se cresce, suplantam as idéias de Hegel que já havia superado as idéias de
uma essência natural humana. Assim, uma interpretação a-histórica da
História passa novamente a predominar na maior parte da produção intelectual
desse período com as concepções de que a qualidade da natureza humana e as
divisões sociais inerentes a essa natureza são imutáveis, permanecem ao longo
do tempo. O progresso permanece como apenas uma transformação científica
e tecnológica, mas não como uma transformação social e espiritual também do
ser humano.
Ranke é o grande historiador alemão desse período e a escola que ele
representa mantêm distância das concepções iluministas e hegelianas sobre a
história, tornando-se a maior expressão intelectual da história da burguesia
após 1848. A escola do historicismo alemão renega a idéia de que o progresso
se dá de forma dialética como uma superação das contradições. Portanto, a
teoria dessa escola tem como fundamento a existência de uma linearidade
histórica. Ela também não compreende mais a história como sendo uma pré-
história do presente, uma idéia que já se encontrava formulada em boa parte
dos iluministas franceses. Como Ranke pretende então escrever a história? Ele
trata de modernizá-la, reinterpreta-la, uma vez que, segundo essa concepção,
as velhas estruturas do passado permaneceriam, mas se tornariam mais
modernas. Para ele, o presente sustenta as mesmas relações sociais já
existentes no passado e vice-versa.

O resultado da reação intelectual que surge após 1848 é a de que a crítica da
divisão social do trabalho na economia capitalista somente passa a ser
defendida pelas classes mais revolucionárias. Em contrapartida, há na
Academia o domínio de uma elite intelectual conservadora, gerando reflexos
também na política com o aumento das tendências antidemocráticas. Isso se
reproduz também no campo da literatura, principalmente entre os escritores do
romance histórico. Os historiadores como Taine e Burckhardt e o filósofo
Nietzsche foram os pensadores que mais influenciaram os escritores desse
período.

Jacob Burckhardt talvez tenha sido o historiador dessa época cuja obra mais
resistiu ao tempo. A civilização do Renascimento na Itália é a obra mais
significativa do período e aquela que melhor compreendeu as tensões sociais e
culturais existentes nesse período da história italiana. Burckhardt recoloca o
subjetivismo na história, uma prática abandonada desde o início da análise
dialética hegeliana. Recolocando a subjetividade como contingência que
define o rumo da história, na perspectiva do historicismo, os grandes homens
condutores do destino da humanidade trilham um percurso que quase os
separa do processo histórico de seu tempo, levando a uma mitificação dos
grandes personagens. Abre-se o caminho para a realização de uma história
universal dos grandes nomes e acontecimentos. Não que esse seja o perfil da
obra de Burckhardt, mas é como o senso comum e a maior parte dos
historiadores desse período utilizou-se do subjetivismo na produção
historiográfica.
Nietzsche também influencia os escritores com seu agnosticismo (nem creio
nem descreio da existência de Deus, simplesmente é algo que não me
interessa) e sua interpretação do passado chamada por ele de genealogia.
Nietzsche combate o modo acadêmico de fazer a história com a separação que
a ciência objetiva faz em relação àquilo que seria a vida mais verdadeira, a
vida humana das paixões, angústias, fraquezas, ressentimentos, vinganças,
encantamentos, aquilo que ele chamará de humano, demasiadamente humano.
A crítica desse filósofo à história iluminista e hegeliana é que a busca por
encontrar uma verdade comum a toda humanidade de forma objetiva acaba
criando uma análise histórica absurda sem fundamento na realidade e
desprovida dos desejos e das paixões humanas. Assim, tanto Hegel como
Marx são os principais alvos dessa crítica que afirma não haver na história a
idéia de processo histórico. Para os marxistas, essa concepção nietzschiana,
embora não possa ser considerada nem liberal nem burguesa, lança a história e
o progresso histórico em um caos onde é impossível dar um sentido à história,
uma vez que cada um dá o seu próprio sentido a ela.

Também a filosofia de Benedetto Croce influenciou os escritores desse
período. A concepção histórica de Croce, da história como uma história do
presente, ou da vivência e das experiências do cotidiano, foi muito valorizada
pelos historiadores do fim do XIX. Mesmo Burckhardt é muito devoto ao
idealismo de Croce, que não vincula a história aos problemas objetivos do
presente (luta entre classes, conflito distributivo, supremacia da economia).
Para Croce a história é resultado de uma compreensão subjetiva dos fatos,
depende dos interesses individuais e cada qual a vivência a seu modo.

Em síntese, a maior parte da historiografia da segunda metade do século XIX
segue uma concepção a-histórica, com a valorização de uma substância eterna,
de uma essência da natureza humana imutável, cuja organização social toma
uma forma diferente em cada período da história, mas que isso não é resultado
de um processo histórico ou de um progresso das idéias humanas em seu
campo social. A geração liberal pós 48 vence uma disputa ideológica com
seus predecessores, a supremacia do subjetivo sobre o objetivo, e da
metafísica, ou da espiritualidade humana sobre o materialismo, com um
abandono da perspectiva de transformação social iniciada no iluminismo, que
levou à Revolução Francesa, continuada posteriormente pelos hegelianos e
que levou ao conceito de luta de classes inicialmente formulado por Marx na
Ideologia alemã.
REFLEXOS NA LITERATURA E NOS ROMANCES HISTÓRICOS

Como os escritores refletem essa nova tendência? Numa época em que existe
uma falta de perspectiva sobre a transformação da realidade social, resultado
da derrota sofrida pelos adeptos da democracia revolucionária durante a
revolução de 1848, as obras literárias servem apenas como instrumento de
denúncia da mesquinharia burguesa. Porém, os escritores não compreendem a
história como um processo histórico dialético e a contradição em que dele
resulta a luta de classes.

Salammbó de Gustave Flaubert, escritor que inaugurou a literatura moderna
com Madame Bovary, é o romance histórico mais representativo dessa época.
Trata das lutas entre Cartago e Tunis, não entre Cartago e Roma, portanto, das
lutas entre duas culturas próximas, do Oriente, e não da contradição maior
existente entre o Oriente fenício e o Ocidente greco-romano. Em Flaubert, a
estética, a forma, impõe-se sobre o conteúdo, a história, ao contrário do seu
mestre e antecessor Balzac, para quem o conteúdo histórico é fundamental
numa obra. Então, se a história não é o objeto mais importante para Flaubert,
se ele entende também o tempo como um tempo a-histórico, ou seja, o
passado lhe serve somente como pano de fundo para a discussão de temas
atuais, por que esse escritor resolve ir ao passado para montar sua trama ao
invés de permanecer no presente? Porque em uma trama que se desenvolve
2.000 anos atrás e em culturas diferentes da ocidental, Flaubert pôde
demonstrar todo o exotismo, a brutalidade e a perversão existente na essência
da alma humana. Na verdade, o romance de Flaubert importa-se e escancara as
relações burguesas do seu presente, transportadas anacronicamente para o
passado distante de Cartago, onde lá ele pôde mostrar toda a contradição da
sociedade burguesa, coisa que não poderia ter feito se a trama fosse
ambientada no presente, seja pelo conservadorismo moral de seu tempo, seja
pela possível falta de um público leitor para uma obra que desvendasse
declaradamente a sua própria mesquinharia.

O passado, então, serve apenas como cenário para a trama psicológica de
personagens do presente. Flaubert inicia, assim, um novo marco na literatura
moderna em direção ao mundo inumano. O mundo físico-sexual predomina
sobre o velho romantismo e as novelas passionais. A literatura de Flaubert,
esteticamente moderna, reflete a angústia de seu tempo, a era inaugural do
modernismo burguês, e antecipa o vazio existencial do fim do século XX,
quando o ser humano, já tendo alcançado a maioridade prevista por Kant,
mesmo assim, percebe sua absoluta impotência para transformar a realidade
que o cerca. O desejo de individualidade, a experiência individualista da
burguesia como viria a observar posteriormente Walter Benjamin, inaugura o
declínio da arte narrativa. Nada mais é passível de narração nesse mundo
burguês, uma vez que a vida, agora individualizada, não permite as velhas
experiências coletivas da existência. Assim, começa a ser suprimida da
literatura a narrativa histórica dos contos e das fábulas que são passados de
geração para geração. Por extensão, a tradição oral desaparece na
modernidade, perde significado e interesse, agora voltado para a realização
dos desejos pessoais rompendo definitivamente com a perspectiva do amor
romântico. O romantismo dos contos de fadas e das novelas resta somente
como uma subliteratura a adocicar a vida sofrida dos corações das gentes do
povo. Inaugura-se com Flaubert a era da liberdade erótica que irá, entre idas e
vindas, dominar o século seguinte.

Contudo, numa época de moral ainda conservadora como proceder para
mostrar isso? Remetendo o conteúdo da trama ao passado, para um tempo que
não é nosso tempo, mas que no inconsciente todos o reconhecem. Na narrativa
do passado tudo é permitido, é possível liberar todas as taras, angustias e
deformações do ser humano moderno. É esse anacronismo deliberado,
necessário em sua época, que faz Flaubert. Impedido pelo conservadorismo
burguês de fazer a crítica do presente, ele a transporta ao passado.

Da mesma forma o fazem seus contemporâneos naturalistas. Em Guy de
Maupassant há também uma privatização da história, uma vez que ela é
somente pano de fundo para a trama individual (Uma vida). Emile Zola
(Germinal) dirá que o naturalismo é o método cientificamente correto, porque
seria aquele capaz de descobrir e exprimir diretamente a ação das leis da
natureza. O naturalismo quer captar a realidade diretamente, sem mediações,
contudo, os escritores naturalistas não vivem nessa realidade, não nasceram
nesse meio e essa captação sem mediações torna-se absolutamente abstrata e
sem fundamento.

O realismo inglês segue o mesmo caminho equilibrando-se em dualismo
histórico-social e individual-privado que tampouco faz sentido. A vida pública
é mostrada como sendo patética, exótica, perversa e é satirizada na escrita. Já
a vida privada, ao contrário, é descrita de forma realista e como sendo ética.
Os escritores do realismo inglês de fins do XIX idealizam o mundo familiar e
individual burguês em detrimento da política e da vida pública, locais de
explicitação da torpeza humana, sem se dar conta da impossibilidade da
existência de um mundo sem o outro.
OS PLEBEUS ESCREVENDO

Quanto aos escritores desse período ligados ao povo, sua produção é
determinada pela cólera e irritação das massas populares. Por exemplo, os
romances históricos de Erckmann-Chatrian. Apesar do envolvimento pessoal
com os objetivos da democracia revolucionária, esses escritores somente
conseguem observar os efeitos provocados pela reação burguesa carregados de
um sentimentalismo denunciativo sem análise histórica. Não há preocupação
ou capacidade para entender as causas dessa reação burguesa contra o
proletariado. A literatura então, cai em uma interpretação distorcida e
simplificada da sociedade de classes (o rico é mau, o pobre é bom), pelo ponto
de vista da camada desfavorecida da população. Assim, perdendo a percepção
de mundo burguesa, não reconhece os motivos que fizeram essa burguesia
reagir violentamente, nem as contradições existentes no próprio mundo do
proletário. Não havendo essa visão global e dialética, o romance histórico não
pode dar conta das contradições do processo histórico.

Ainda entre os representantes das classes populares temos a escrita da história
anterior às teses de Marx, como em Saint-Simon e Proudhon. De orientação
anarquista, essa produção histórica tem como base do pensamento toda
rejeição ao poder, “o poder corrompe”. Guerra e Paz, o romance de Leon
Tolstoi descreve um panorama denso e intenso da Rússia dos tzares, no
período posterior à revolução francesa, e realiza uma obra de história social
fora de seu tempo. Em Tolstoi estão presentes as visões de mundo da
burguesia e da nobreza e a dos camponeses e operários, trabalhada numa
perspectiva dialética, mesmo sem o autor ser marxista. Talvez seja a grande
obra de história da segunda metade do XIX, mesmo Tolstoi não sendo
historiador.


CONCLUSÃO

A missão histórica da burguesia na primeira metade do século XIX, de
rompimento com as velhas estruturas do antigo regime, do feudalismo, da
nobreza da terra e dos regimes monárquicos de governo, acaba com o
aparecimento do proletariado revolucionário em 1848. A partir daí se dá o
rompimento da ligação política existente entre a pequena burguesia e o povo.
Entra em cena uma nova classe social dominante nas estruturas de poder, a
burguesia, no lugar da antiga, a nobreza. Quando a burguesia consolida-se
como classe dominante termina assim, o seu projeto revolucionário. Com isso,
grande parte do pensamento anteriormente dominante entre os intelectuais,
filósofos, historiadores e escritores, que desde o iluminismo municiaram
teórica e artisticamente a burguesia com uma concepção transformadora da
realidade social retiraram-se de cena. À exceção das correntes neo-hegelianas,
marxistas e anarquistas (Stirner e Bakunin), a maioria dos intelectuais
acadêmicos dessa nova época vinculou-se ao pensamento político burguês
vencedor e rechaçaram as interpretações anteriores sobre o desenvolvimento
do processo histórico e social. Nasce o positivismo na França e o historicismo
na Alemanha, correntes acadêmicas dominantes na Europa da segunda metade
do século XIX. Afirmam-se em solo europeu e passam a ser exportadas para
todo o mundo como modelo, como padrão acadêmico, pelo menos até a
década de 1930, uma ideologia histórica que será tida como reacionária pelos
marxistas, pelo menos em relação aos últimos anos do pensamento iluminista
e do início da modernidade.


               Carlo Romani (Professor de Mundo Contemporâneo, História/UNIRIRO)

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A teoria da Historia e o romance historico em Lukacs

  • 1. A teoria da História, o romance histórico e a crise do realismo burguês. Livro base: O Romance Histórico de Georges LUKACS Capítulo 3: INTRODUÇÃO: A Revolução de 1848 representa um divisor de águas. É a primeira vez que a classe proletária surge na cena histórica, efetivamente como protagonista da luta. Os acontecimentos de 1848 provocaram uma reorientação nos objetivos da burguesia, de uma democracia revolucionária em direção a um liberalismo de compromisso. Essa reorientação burguesa se dá em todos os campos ideológicos. Na Alemanha, particularmente, a mudança dos objetivos revolucionários burgueses leva ao desaparecimento da filosofia hegeliana. As lutas filosóficas pré-48 foram de tendências próprias da época, preparatórias da revolução de 1848. Hegel sustentava os princípios da revolução burguesa dentro da Alemanha. Já, com Marx, a burguesia teve a clara visão de que as armas que ela havia forjado contra o feudalismo voltaram-se contra ela mesma. Essa compreensão dos novos conflitos provoca uma reação que leva a uma revisão no processo histórico. Para Marx, Hegel que era a figura central da vida espiritual (cultural) alemã, torna-se um cachorro morto no campo das idéias. No período anterior a 1848, a burguesia direcionava o desenvolvimento social também no terreno ideológico, ou seja, na produção de uma literatura revolucionária, através dos romances de crítica social como, por exemplo, A comédia humana de Honoré de Balzac. Antes de 1848, tinha-se um movimento espiral nas concepções filosóficas, criticadas, destruídas e levadas sempre a um plano superior. As lutas de classe ocorridas durante a 1 ª metade desse século desembocaram na formulação científica do marxismo e assim, a concepção histórica do proletariado superou as limitações da ideologia burguesa que se viu acuada e reformulou sua crítica social. A IDÉIA DE PROGRESSO
  • 2. A grande mudança de atitude nos historiadores existente pós-48 se manifesta na forma como a disciplina histórica passa a encarar o progresso. Os ideólogos da burguesia observando a evolução da luta de classes perceberam os perigos iminentes com o surgimento de uma futura sociedade proletária. Assim, o medo freia o ímpeto na busca pelo novo. Por exemplo, Teophile Gauthier (O capitão Fracasso), escritor francês mestre em descrever o espírito elevado da nobreza, um cavalheirismo em extinção no mundo burguês, critica as idéias de progresso da ciência a serviço do homem, ironizando, por exemplo, as utopias propostas pelo anarquista Charles Fourier (os Falansterios, projetos de cidades modernas onde a população viveria uma vida comunitária e de bem estar social). Essa involução na idéia de progresso que toma conta do pensamento burguês pós-48 afasta-se das concepções hegelianas que dominaram a mentalidade dos filósofos e historiadores na primeira metade do século XIX. Para Hegel, o progresso é contraditório, dialético, um choque de forças antagônicas que produz novas situações antagônicas. Portanto, o progresso ocorre através do conflito. Já, para os novos ideólogos da burguesia liberal o progresso na história mostra-se como uma evolução linear, retilínea. Esses são os princípios de Auguste Comte que constituirão a escola positivista francesa e marcaram decisivamente a República brasileira. A segunda metade do século XIX acentua esse conflito existente entre uma concepção de história dialética que vinha em gestação desde Hegel e se consolida com Marx, para o estabelecimento dominante na academia da época de uma concepção de história evolutiva com idéias negadoras sobre a contradição existente no progresso histórico. Podemos classificar esse período da segunda metade do século XIX como uma época de reorientação ilustrada em que são retomadas as idéias de Bayle e de Voltaire. Inicia-se uma construção ideológica que recupera justamente as tendências mais aristocráticas do iluminismo afastando-se do pensamento desenvolvido por Rousseau e depois por Kant e que levou ao conceito de dialética. Retornam, então, as idéias da natureza linear do progresso da humanidade, do evolucionismo adequado ao conhecimento acumulado até o século XIX. Dentre os grandes intelectuais desse período, talvez o único a manter a atualidade da análise mesmo seguindo essa concepção aristocrática tenha sido Alex de Tocqueville, A democracia na América, o grande nome da burguesia liberal do XIX.
  • 3. EXEMPLOS DA CONCEPÇÃO DE HISTÓRIA PÓS-48 A concepção de História dessa época é fortemente influenciada pelo darwinismo social da segunda metade do XIX. Historiadores e sociólogos convertem diretamente os princípios do darwinismo, ou seja, as idéias da seleção natural e da evolução das espécies em fundamento para o estudo do desenvolvimento social do ser humano. É a apologia do domínio do Capital que está presente em Spencer, para quem o homem burguês é superior porque é o ser humano mais bem adaptado ao meio e ao tempo em que vive. Surge, paralelamente, também o conceito de raça, que é uma idéia muito forte em Taine, e a interpretação racial da evolução da humanidade torna-se o centro da Sociologia, pelo menos no campo da Antropologia Humana. Em Taine vislumbra-se o mito da superioridade física e intelectual da raça caucasiana sobre as demais raças, uma apologia que fundamentou as tendências nazi-fascistas do século XX. Taine embasou-se conceitualmente em Thierry, iluminista inglês do XVIII, para negar a existência do conflito marxista de luta de classes em uma sociedade que está em vias de tornar-se global, interpretando os conflitos humanos como sendo conflitos entre raças. Assim, procurou provar a superioridade da raça caucasiana uma vez que foi a raça que estabeleceu o domínio econômico sobre todo o planeta. Porém, Taine esqueceu-se que mesmo para Thierry, escrevendo 100 anos antes, a luta de raças era entendida somente como precursora da luta social, a futura luta de classe marxista, e não como sua instância última. Então em Taine há um retorno a formas de pensamento anteriores ao período do iluminismo. Da mesma forma na Filosofia, a partir da década de 1880 as idéias metafísicas de Schopenhauer, que acreditava na existência de uma vontade natural nos seres humanos, uma vontade inata, prévia, independente do meio social em que se cresce, suplantam as idéias de Hegel que já havia superado as idéias de uma essência natural humana. Assim, uma interpretação a-histórica da História passa novamente a predominar na maior parte da produção intelectual desse período com as concepções de que a qualidade da natureza humana e as divisões sociais inerentes a essa natureza são imutáveis, permanecem ao longo do tempo. O progresso permanece como apenas uma transformação científica e tecnológica, mas não como uma transformação social e espiritual também do ser humano.
  • 4. Ranke é o grande historiador alemão desse período e a escola que ele representa mantêm distância das concepções iluministas e hegelianas sobre a história, tornando-se a maior expressão intelectual da história da burguesia após 1848. A escola do historicismo alemão renega a idéia de que o progresso se dá de forma dialética como uma superação das contradições. Portanto, a teoria dessa escola tem como fundamento a existência de uma linearidade histórica. Ela também não compreende mais a história como sendo uma pré- história do presente, uma idéia que já se encontrava formulada em boa parte dos iluministas franceses. Como Ranke pretende então escrever a história? Ele trata de modernizá-la, reinterpreta-la, uma vez que, segundo essa concepção, as velhas estruturas do passado permaneceriam, mas se tornariam mais modernas. Para ele, o presente sustenta as mesmas relações sociais já existentes no passado e vice-versa. O resultado da reação intelectual que surge após 1848 é a de que a crítica da divisão social do trabalho na economia capitalista somente passa a ser defendida pelas classes mais revolucionárias. Em contrapartida, há na Academia o domínio de uma elite intelectual conservadora, gerando reflexos também na política com o aumento das tendências antidemocráticas. Isso se reproduz também no campo da literatura, principalmente entre os escritores do romance histórico. Os historiadores como Taine e Burckhardt e o filósofo Nietzsche foram os pensadores que mais influenciaram os escritores desse período. Jacob Burckhardt talvez tenha sido o historiador dessa época cuja obra mais resistiu ao tempo. A civilização do Renascimento na Itália é a obra mais significativa do período e aquela que melhor compreendeu as tensões sociais e culturais existentes nesse período da história italiana. Burckhardt recoloca o subjetivismo na história, uma prática abandonada desde o início da análise dialética hegeliana. Recolocando a subjetividade como contingência que define o rumo da história, na perspectiva do historicismo, os grandes homens condutores do destino da humanidade trilham um percurso que quase os separa do processo histórico de seu tempo, levando a uma mitificação dos grandes personagens. Abre-se o caminho para a realização de uma história universal dos grandes nomes e acontecimentos. Não que esse seja o perfil da obra de Burckhardt, mas é como o senso comum e a maior parte dos historiadores desse período utilizou-se do subjetivismo na produção historiográfica.
  • 5. Nietzsche também influencia os escritores com seu agnosticismo (nem creio nem descreio da existência de Deus, simplesmente é algo que não me interessa) e sua interpretação do passado chamada por ele de genealogia. Nietzsche combate o modo acadêmico de fazer a história com a separação que a ciência objetiva faz em relação àquilo que seria a vida mais verdadeira, a vida humana das paixões, angústias, fraquezas, ressentimentos, vinganças, encantamentos, aquilo que ele chamará de humano, demasiadamente humano. A crítica desse filósofo à história iluminista e hegeliana é que a busca por encontrar uma verdade comum a toda humanidade de forma objetiva acaba criando uma análise histórica absurda sem fundamento na realidade e desprovida dos desejos e das paixões humanas. Assim, tanto Hegel como Marx são os principais alvos dessa crítica que afirma não haver na história a idéia de processo histórico. Para os marxistas, essa concepção nietzschiana, embora não possa ser considerada nem liberal nem burguesa, lança a história e o progresso histórico em um caos onde é impossível dar um sentido à história, uma vez que cada um dá o seu próprio sentido a ela. Também a filosofia de Benedetto Croce influenciou os escritores desse período. A concepção histórica de Croce, da história como uma história do presente, ou da vivência e das experiências do cotidiano, foi muito valorizada pelos historiadores do fim do XIX. Mesmo Burckhardt é muito devoto ao idealismo de Croce, que não vincula a história aos problemas objetivos do presente (luta entre classes, conflito distributivo, supremacia da economia). Para Croce a história é resultado de uma compreensão subjetiva dos fatos, depende dos interesses individuais e cada qual a vivência a seu modo. Em síntese, a maior parte da historiografia da segunda metade do século XIX segue uma concepção a-histórica, com a valorização de uma substância eterna, de uma essência da natureza humana imutável, cuja organização social toma uma forma diferente em cada período da história, mas que isso não é resultado de um processo histórico ou de um progresso das idéias humanas em seu campo social. A geração liberal pós 48 vence uma disputa ideológica com seus predecessores, a supremacia do subjetivo sobre o objetivo, e da metafísica, ou da espiritualidade humana sobre o materialismo, com um abandono da perspectiva de transformação social iniciada no iluminismo, que levou à Revolução Francesa, continuada posteriormente pelos hegelianos e que levou ao conceito de luta de classes inicialmente formulado por Marx na Ideologia alemã.
  • 6. REFLEXOS NA LITERATURA E NOS ROMANCES HISTÓRICOS Como os escritores refletem essa nova tendência? Numa época em que existe uma falta de perspectiva sobre a transformação da realidade social, resultado da derrota sofrida pelos adeptos da democracia revolucionária durante a revolução de 1848, as obras literárias servem apenas como instrumento de denúncia da mesquinharia burguesa. Porém, os escritores não compreendem a história como um processo histórico dialético e a contradição em que dele resulta a luta de classes. Salammbó de Gustave Flaubert, escritor que inaugurou a literatura moderna com Madame Bovary, é o romance histórico mais representativo dessa época. Trata das lutas entre Cartago e Tunis, não entre Cartago e Roma, portanto, das lutas entre duas culturas próximas, do Oriente, e não da contradição maior existente entre o Oriente fenício e o Ocidente greco-romano. Em Flaubert, a estética, a forma, impõe-se sobre o conteúdo, a história, ao contrário do seu mestre e antecessor Balzac, para quem o conteúdo histórico é fundamental numa obra. Então, se a história não é o objeto mais importante para Flaubert, se ele entende também o tempo como um tempo a-histórico, ou seja, o passado lhe serve somente como pano de fundo para a discussão de temas atuais, por que esse escritor resolve ir ao passado para montar sua trama ao invés de permanecer no presente? Porque em uma trama que se desenvolve 2.000 anos atrás e em culturas diferentes da ocidental, Flaubert pôde demonstrar todo o exotismo, a brutalidade e a perversão existente na essência da alma humana. Na verdade, o romance de Flaubert importa-se e escancara as relações burguesas do seu presente, transportadas anacronicamente para o passado distante de Cartago, onde lá ele pôde mostrar toda a contradição da sociedade burguesa, coisa que não poderia ter feito se a trama fosse ambientada no presente, seja pelo conservadorismo moral de seu tempo, seja pela possível falta de um público leitor para uma obra que desvendasse declaradamente a sua própria mesquinharia. O passado, então, serve apenas como cenário para a trama psicológica de personagens do presente. Flaubert inicia, assim, um novo marco na literatura moderna em direção ao mundo inumano. O mundo físico-sexual predomina sobre o velho romantismo e as novelas passionais. A literatura de Flaubert, esteticamente moderna, reflete a angústia de seu tempo, a era inaugural do modernismo burguês, e antecipa o vazio existencial do fim do século XX, quando o ser humano, já tendo alcançado a maioridade prevista por Kant, mesmo assim, percebe sua absoluta impotência para transformar a realidade
  • 7. que o cerca. O desejo de individualidade, a experiência individualista da burguesia como viria a observar posteriormente Walter Benjamin, inaugura o declínio da arte narrativa. Nada mais é passível de narração nesse mundo burguês, uma vez que a vida, agora individualizada, não permite as velhas experiências coletivas da existência. Assim, começa a ser suprimida da literatura a narrativa histórica dos contos e das fábulas que são passados de geração para geração. Por extensão, a tradição oral desaparece na modernidade, perde significado e interesse, agora voltado para a realização dos desejos pessoais rompendo definitivamente com a perspectiva do amor romântico. O romantismo dos contos de fadas e das novelas resta somente como uma subliteratura a adocicar a vida sofrida dos corações das gentes do povo. Inaugura-se com Flaubert a era da liberdade erótica que irá, entre idas e vindas, dominar o século seguinte. Contudo, numa época de moral ainda conservadora como proceder para mostrar isso? Remetendo o conteúdo da trama ao passado, para um tempo que não é nosso tempo, mas que no inconsciente todos o reconhecem. Na narrativa do passado tudo é permitido, é possível liberar todas as taras, angustias e deformações do ser humano moderno. É esse anacronismo deliberado, necessário em sua época, que faz Flaubert. Impedido pelo conservadorismo burguês de fazer a crítica do presente, ele a transporta ao passado. Da mesma forma o fazem seus contemporâneos naturalistas. Em Guy de Maupassant há também uma privatização da história, uma vez que ela é somente pano de fundo para a trama individual (Uma vida). Emile Zola (Germinal) dirá que o naturalismo é o método cientificamente correto, porque seria aquele capaz de descobrir e exprimir diretamente a ação das leis da natureza. O naturalismo quer captar a realidade diretamente, sem mediações, contudo, os escritores naturalistas não vivem nessa realidade, não nasceram nesse meio e essa captação sem mediações torna-se absolutamente abstrata e sem fundamento. O realismo inglês segue o mesmo caminho equilibrando-se em dualismo histórico-social e individual-privado que tampouco faz sentido. A vida pública é mostrada como sendo patética, exótica, perversa e é satirizada na escrita. Já a vida privada, ao contrário, é descrita de forma realista e como sendo ética. Os escritores do realismo inglês de fins do XIX idealizam o mundo familiar e individual burguês em detrimento da política e da vida pública, locais de explicitação da torpeza humana, sem se dar conta da impossibilidade da existência de um mundo sem o outro.
  • 8. OS PLEBEUS ESCREVENDO Quanto aos escritores desse período ligados ao povo, sua produção é determinada pela cólera e irritação das massas populares. Por exemplo, os romances históricos de Erckmann-Chatrian. Apesar do envolvimento pessoal com os objetivos da democracia revolucionária, esses escritores somente conseguem observar os efeitos provocados pela reação burguesa carregados de um sentimentalismo denunciativo sem análise histórica. Não há preocupação ou capacidade para entender as causas dessa reação burguesa contra o proletariado. A literatura então, cai em uma interpretação distorcida e simplificada da sociedade de classes (o rico é mau, o pobre é bom), pelo ponto de vista da camada desfavorecida da população. Assim, perdendo a percepção de mundo burguesa, não reconhece os motivos que fizeram essa burguesia reagir violentamente, nem as contradições existentes no próprio mundo do proletário. Não havendo essa visão global e dialética, o romance histórico não pode dar conta das contradições do processo histórico. Ainda entre os representantes das classes populares temos a escrita da história anterior às teses de Marx, como em Saint-Simon e Proudhon. De orientação anarquista, essa produção histórica tem como base do pensamento toda rejeição ao poder, “o poder corrompe”. Guerra e Paz, o romance de Leon Tolstoi descreve um panorama denso e intenso da Rússia dos tzares, no período posterior à revolução francesa, e realiza uma obra de história social fora de seu tempo. Em Tolstoi estão presentes as visões de mundo da burguesia e da nobreza e a dos camponeses e operários, trabalhada numa perspectiva dialética, mesmo sem o autor ser marxista. Talvez seja a grande obra de história da segunda metade do XIX, mesmo Tolstoi não sendo historiador. CONCLUSÃO A missão histórica da burguesia na primeira metade do século XIX, de rompimento com as velhas estruturas do antigo regime, do feudalismo, da nobreza da terra e dos regimes monárquicos de governo, acaba com o aparecimento do proletariado revolucionário em 1848. A partir daí se dá o rompimento da ligação política existente entre a pequena burguesia e o povo. Entra em cena uma nova classe social dominante nas estruturas de poder, a
  • 9. burguesia, no lugar da antiga, a nobreza. Quando a burguesia consolida-se como classe dominante termina assim, o seu projeto revolucionário. Com isso, grande parte do pensamento anteriormente dominante entre os intelectuais, filósofos, historiadores e escritores, que desde o iluminismo municiaram teórica e artisticamente a burguesia com uma concepção transformadora da realidade social retiraram-se de cena. À exceção das correntes neo-hegelianas, marxistas e anarquistas (Stirner e Bakunin), a maioria dos intelectuais acadêmicos dessa nova época vinculou-se ao pensamento político burguês vencedor e rechaçaram as interpretações anteriores sobre o desenvolvimento do processo histórico e social. Nasce o positivismo na França e o historicismo na Alemanha, correntes acadêmicas dominantes na Europa da segunda metade do século XIX. Afirmam-se em solo europeu e passam a ser exportadas para todo o mundo como modelo, como padrão acadêmico, pelo menos até a década de 1930, uma ideologia histórica que será tida como reacionária pelos marxistas, pelo menos em relação aos últimos anos do pensamento iluminista e do início da modernidade. Carlo Romani (Professor de Mundo Contemporâneo, História/UNIRIRO)