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Atlas e Cartografia Escolar no Brasil – início de uma história
                                                   Profª. Drª. Valéria Trevizani Burla de Aguiar
                           Departamento de Geociências – Universidade Federal de Juiz de Fora

Resumo:
Este estudo decorre da análise do Atlas do Império do Brasil de Cândido Mendes de Almeida,
primeiro atlas publicado com mapas sobre o Brasil, datado de 1868 e com destino exclusivo aos
alunos das escolas públicas da época.

Palavras-chave:
Atlas Escolar, Cartografia Histórica, Cartografia Escolar



             Procurei, neste trabalho, fazer um resgate histórico da Cartografia Escolar no Brasil.
Esta retrospectiva pauta-se na análise do primeiro atlas escolar aqui publicado, posto que neste
ano de 2009, faz 140 anos do início da Cartografia numa escola brasileira. Em 1868 foi
publicado o “Atlas de Império do Brazil”, elaborado por Cândido Mendes Almeida, sendo esse
o primeiro Atlas escolar elaborado com mapas do território brasileiro e destinado aos alunos da
escola básica e o início de seu uso ocorreu a partir de 1869.
             Conforme a folha de rosto, retratada na Fig. 1, o autor explicita o objetivo da obra:
dedica-a ao Imperador D. Pedro II e aponta ser ela destinada à instrução pública no Império e,
em especial, aos alunos do Imperial Colégio de Pedro II.
             O autor, Cândido Mendes de Almeida, foi professor de Geografia e de História no
Liceu São Luiz, na antiga província do Maranhão. Para a realização do Atlas, buscou analisar
várias obras, entre elas destaca-se a Corografia Brasílica de Aires de Casal, livro didático de
Geografia, ao que parece, bastante utilizado na época, inclusive pelos alunos do Colégio Pedro
II. Utilizou a documentação e mapas disponíveis no Ministério da Guerra e no Ministério da
Agricultura, além dos diferentes tratados que explicitavam as demarcações de fronteiras do
Brasil.
             A organização dos mapas do Atlas segue a mesma proposta dos Atlas europeus da
época que “procuravam, sobretudo localizar o mais claramente possível o maior número de
topônimos. O fundo colorido das cartas apenas evocava, muito sumariamente, o relevo, sem
considerar a vida humana.” (Amorim Filho:1984:23). Para a elaboração do Atlas, Cândido
Mendes recorreu a diferentes fontes, como os Atlas europeus de Brué, Garnier, Stieler, Houzé,
Dufour, Buchon, Delamarche e Colton, daí a similaridade na elaboração dos mapas. Cabe
ressaltar que esse Atlas antecede o “Atlas General” de Paul Vidal de La Blache, publicado em
1894, e que revolucionou a concepção de elaboração de Atlas para o ensino de Geografia.
Foto: Gustavo Burla – Coleção do autor
                          Fig. 1 – Folha de Rosto do Atlas de Império do Brazil

             O Atlas está dividido em três partes, ou seja, um texto introdutório, mapas do
mundo e mapas do Brasil.
             Conforme o autor, que tece longos comentários sobre educação e o papel da
Geografia na Introdução à obra, o Atlas teve como objetivo atender “à mocidade estudiosa, e
esperançosa do Brasil (...)” e à necessidade “de saber o que é, e o que vale o território pátrio.
Dever imperioso que a Geografia nos habilita a satisfazer.” (Almeida,1868:7).
             Ao descrever o plano geral da obra, o autor enfatiza seu propósito, afirmando que o
Atlas “(...) tem principalmente por fim auxiliar a instrução da mocidade, maxime a que
frequenta os estabelecimentos nacionais de instrução secundária, em que ocupa o primeiro lugar
o Colégio de Pedro II”(Almeida, 1868:8).
             O autor insiste no aspecto pedagógico do atlas, mencionando o papel do professor e
exacerbando o seu aspecto patriótico, a saber:
                           “Seja-nos porém licito assegurar que, mediante as explicações de
                           qualquer inteligente Professor, os alunos de Geografia muito podem
                           aproveitar com o presente Atlas... Se é nobre e belo pôr nossa
                           inteligência e nossa pena ao serviço da Pátria que idolatramos, máxime
                           quando o fim é instruir cidadãos, que no futuro possam colocar os
                           destinos da nossa nacionalidade em firme, eminente e glorioso
                           pedestal".(Almeida,1868:8).
             Mas as orientações pedagógicas não são por ele explicitadas; deduz-se que o
professor deva ser dotado de competência para realizar um trabalho adequado com seus alunos
em sala de aula, certamente conduzindo-os a memorizar informações. Uma proposta
direcionada para a comparação dos diferentes mapas, superpor as informações neles contidas e
permitir a realização de sínteses, o que possibilitaria aos alunos a compreenderem a organização
do espaço geográfico não é feita.
             De acordo com Aguiar (1996:165), trata-se de um atlas composto por mapas
políticos, em que as questões de limites e fronteiras do país são bastante enfatizadas ao longo do
texto introdutório, em que Almeida apontou que os “(... ) limites internacionais do Império
procuramos tratá-los de forma a não se tornarem um segredo de que alguns estudiosos mais
pacientes estão de posse” (Almeida, 1868:7). Possivelmente, questão polêmica na época e
deduz-se ser a primeira vez que o fato fora divulgado para o público, em um atlas.
             Ainda na introdução, que perfaz um total de oito páginas, o autor trata da
organização dos territórios das “atuais províncias” e apresenta o plano geral da obra.
             As segunda e terceira partes são as coletâneas de mapas do mundo e do Brasil. O
atlas é composto por vinte e sete mapas, iniciando com um mapa-múndi, seguido de quatro
mapas do Brasil. O mapa-múndi é físico-político, apresentando duas Américas (setentrional e
meridional), Europa, Ásia, África e Oceania. Cada uma das partes foi representada por uma cor
e a enorme quantidade de informações contidas no mapa quase impossibilita sua leitura. Há
representações de relevo e de hidrografia, além de divisões políticas acompanhadas de farta
nomenclatura.
             Os quatro mapas do Império do Brasil foram elaborados na mesma escala. Os três
primeiros mapas do Brasil são idênticos, apresentando a divisão política das províncias,
diferenciando apenas os conteúdos dos encartes. Os mapas são cobertos por uma vasta rede
hidrográfica, hachuras representando o relevo, além de uma nomenclatura intensa (cabos,
enseadas, lagos, elevações, cidades, etc.), sobretudo ao longo do litoral, e grafada com letras
pequenas, o que dificulta ainda mais a sua leitura. Os mapas são inintelegíveis, sobretudo se
considerarmos que o Atlas fora elaborado para uso de escolares.
             O primeiro mapa é acompanhado de um quadro, com dados de superfície, número
de comarcas, municípios e população de cada província, e de um mapa representando o oceano
Atlântico contendo as rotas das viagens dos descobridores. O quadro do segundo mapa é
dedicado à Igreja Católica, com dados de cada diocese, seguido do encarte de representação das
“ilhas e lagos notáveis do Brasil”. Acompanha o terceiro mapa uma representação dos principais
rios do Brasil, possibilitando comparar as suas extensões, ao lado de uma relação de 121
montanhas do Brasil, contendo as respectivas altitudes, seguido de um quadro detalhado sobre a
geografia eleitoral do país (Fig. 2).
             Se compararmos com os mapas atuais, pode-se constatar que, devido à utilização
dos referenciais pouco precisos utilizados para o mapeamento na época, não há muita precisão
do contorno das províncias. Ressalta-se, ainda, a ausência do Acre, que na ocasião não fazia
parte do território brasileiro, a que foi incorporado somente no início do século XX.
Foto: Gustavo Burla – Coleção do autor
   Fig. 2 – Representação do Império do Brasil do Atlas de Candido Mendes de
                              Almeida
Antes de apresentar os mapas regionais do Brasil, o autor insere um quarto e último
mapa do Império do Brasil. Trata-se de um mapa-mudo, ou seja, desprovido de quaisquer
referências toponímicas (Fig. 3) a que o autor menciona o propósito de sua elaboração,
“destinado ao exame dos alunos, apresentando um esqueleto ou mudo todo o nosso território,
figurando sem nenhuma indicação escrita todos os objetos da geografia física e política”
Almeida (1868:9). Em outras palavras, os alunos deveriam memorizar todas as informações
mapeadas e repeti-las nesse mapa-mudo. Essa foi uma metodologia de uso da Cartografia
escolar que perdurou durante décadas no ensino de Geografia e que se pautava na valorização
do uso da nomenclatura, na mera prática da memorização, subestimando a capacidade do aluno
de produzir conhecimentos e desconhecendo verdadeiros critérios geográficos, conforme
constatamos também na obra de Aires de Casal.
            A propósito desta reflexão, encontramos em Issler (1973:48-49, apud Melo, 2001)
um comentário que a ratifica:
                        “A utilização da cartografia como componente importante do ensino da
                       Geografia, indica que existia grande correlação entre a geografia
                       descritiva e a ciência cartográfica. [...] No ensino da geografia, era
                       importante o emprego da cartografia. Esse ensino não poderia ser feito
                       de outra forma. O mapa, a planta e o atlas foram os primeiros
                       instrumentos de prática de aprendizagem [...] faltando à geografia
                       escolar os princípios fundamentais que a tornaram ciência, à geografia
                       descritiva somente poderia corresponder uma cartografia descritiva e
                       que fizesse apelo à memória”.
Foto: Gustavo Burla – Coleção do autor

                Fig. 3 – Mapa Mudo do Atlas de Cândido Mendes de Almeida
Seguem-se os mapas políticos das províncias, acompanhados de encartes referentes
a alguns elementos do quadro natural, e encartes com a representação do traçado das capitais,
contendo os principais elementos de referência do espaço urbano, como o padrão de
arruamento, edifícios públicos, largos, praças e igrejas.
            Nos mesmos moldes da obra de Aires de Casal, o Brasil foi mapeado por
províncias, não havendo outra proposta de regionalização. As províncias são divididas em
Comarcas, destacando, na legenda, cidades, vilas, povoados e sedes de paróquias hierarquizados
através de símbolos pontuais com diferentes tamanhos. A Fig. 4 representa a província de São
Paulo, dividida em comarcas.
            Nesse mapa de São Paulo, como nos demais, há a indicação dos limites das
províncias e uma trama de coordenadas geográficas, tendo como referência o meridiano zero,
que passava sobre a cidade do Rio de Janeiro. Em todos os mapas há a indicação da escala, tanto
a do mapa principal como a da cidade. As diferentes comarcas estão destacadas por cores e
números, estes são utilizados na legenda contendo a indicação das cidades existentes em cada
uma delas.
            Em alguns mapas, é inserido um encarte de ampliação de alguma informação
considerada importante pelo autor. No caso deste mapa de São Paulo, a ampliação refere-se ao
porto de Santos, também acompanhado de escala, com destaque para a topografia local,
delineada por hachuras que indicam as diferenças de altitude. Cabe destacar que os encartes, até
os dias atuais, são bastante utilizados nos Atlas escolares, posto que possibilitam a análise de
determinadas informações cartografadas de forma mais detalhada.
            Na parte inferior da folha, na porção oeste da província, há uma área de ocupação
indígena indicada como “terrenos ocupados pelos indígenas feroses”.
Foto: Gustavo Burla – Coleção do autor
       Fig. 4 – Mapa da Província de São Paulo do Atlas de Candido Mendes de Almeida

             No texto introdutório aos mapas há sempre uma descrição detalhada dos limites
provinciais. Como exemplo, destacamos a redação do autor sobre a Província do Rio de Janeiro:
                         “Esta província confina ao Norte com a Província de Minas-geraes,
                        pela serra da Mantiqueira, pelos rios Preto, Parahybuna, Parahyba do
                        Sul, e riachão Pirapetinga, rio e serra de S. Antonio, serras Treicheiras,
                        Gavião e Batatal, ao Sul com o Oceano Atlântico e com a Província do
                        Espírito Santo, pelo rio Itabapuana; a Leste com o Oceano Atlântico, e
a Oeste com a Província de São Paulo, pelas serras do Paraty, Geral,
                        Bocaina, Ariró, Carioca e riachão do Salto”. (Almeida, 1868:19)
             Cândido Mendes menciona, também, a posição astronômica de todas as províncias,
como a do Rio de Janeiro: Latitude austral 20º 50’ e 23º 19’; Longitude oriental 2º 9’;
Longitude ocidental 1º 42’. Aponta ainda as maiores distâncias, tanto no sentido norte-sul, como
no sentido leste-oeste.
             A Cidade do Rio de Janeiro, capital do Império, na ocasião, ganha um mapa a parte,
inserido no Atlas após a representação da Província do Rio de Janeiro (Fig.5). Nele está
representado o denominado Município Neutro e a Planta da cidade.
             No mapa com o título de Município Neutro está retratada a divisão territorial em
vinte paróquias, com uma população de 450.000 almas. E na planta da cidade aparece a
localização de 26 igrejas e dois templos, um anglicano e outro evangélico, além de 17 largos/
praças e 40 edifícios públicos. A representação das sedes eclesiásticas demonstra o papel de
destaque da Igreja na ocasião, mesmo sendo o Atlas elaborado para uma escola pública e laica.
Foto: Gustavo Burla – Coleção do autor
                       Fig. 5 – Mapa da Capital do Império do Brasil

            No texto inicial de apresentação ao mapa do Rio de Janeiro, o autor destaca de
forma bem patriótica o porto com o mesmo nome, e destaca-o como fundamental referência
para a criação da cidade e da província, além de fazer críticas à sua ocupação inicial pelos
portugueses, a saber:
                       “Ao excelente porto do Rio de Janeiro, talvez o primeiro do mundo,
                       cuja importância Martin Affonso de Souza não compreendeu ou não
teve tempo de examinar, não obstante ter ali demorado três meses (...)
                          se deve a criação desta Província e sua denominação. Foi necessário
                          que os franceses viessem mostrar o alcance de tão magnífica posição
                          (...)” (Almeida, 1868::19).
              Cabe ressaltar que o autor tece também algumas críticas à organização territorial do
Brasil, apontando-a como arcaica e carente de um critério mais plausível para a sua gestão. Ele
destaca a necessidade de critérios territoriais para nortear a organização:
                          “Se tomássemos determinada área para designar o quarteirão ou
                          distrito, embora não fosse como tal declarado o território sem que
                          estivesse habitado pelo mínimo decretado da população, o território do
                          nosso país se reorganizaria perfeitamente; ficando o quarteirão ou
                          distrito como a primeira ou última molécula da organização ou edifício
                          territorial do império, tanto no administrativo e no judicial, como no
                          eleitoral, financeiro, militar e eclesiástico” (Almeida, 1868:8)
              A hierarquização de unidades territoriais proposta pelo autor seria a partir de um
conjunto composto por um determinado número de distritos ou de quarteirões. Este conjunto
permitiria a organização de uma paróquia. O município seria formado por um definido número
de paróquias e, a maior unidade territorial seria a comarca, constituída pelo agrupamento de
municípios. A proposta do autor se pauta na justaposição de conceitos jurídicos (comarca),
eclesiásticos (paróquia) e político-administrativos (município) para definir a organização
territorial do país. O autor compara o modelo brasileiro da época aos países com estruturas ou
civilizações atrasadas:
                          “Com esse padrão como base, poder-se-ia fixar o máximo e o mínimo
                          de distritos que constituirão uma paróquia; assim como o número destas
                          indispensável para a criação do município, e conseqüentemente o
                          número destes necessário para que determinado território fosse elevado
                          à comarca.
                          Mas o vago que ora existe, ou a base simples da população torna-se o
                          mais deficiente dos sistemas para organização do território em qualquer
                          país.
                          Da maneira por que atualmente em nossas províncias se dividem os
                          territórios, só vemos símile nos Estados Asiáticos, ou de civilização a
                          mais atrasada” (Almeida, 1868:8)
              O autor menciona que ao elaborar o Atlas procurou certa precisão na representação
dos limites das comarcas. Entretanto, há muitas imprecisões decorrentes da falta de atualização
de estudos topográficos, visto que as mudanças dos limites são constantes. Nos dizeres do autor,
“deficiências dos estudos topográficos, de acordo com as paixões e interesses políticos, tornam
a Geografia do nosso país sobremaneira instável. Não há um ano em que não sofra considerável
modificação” (Almeida, 1868:8). Ele ainda aponta que as assembléias provinciais agem contra a
Geografia e contra o interesse regular da administração, certamente pelas constantes mudanças
de limites e criação de novas divisões internas que não eram de interesse da coroa.
              Ainda, quanto aos mapas das província, cabe ressaltar que estão representados o
relevo e a rede hidrográfica das províncias. A nomenclatura, as hachuras que representam o
relevo e a quantidade de rios representados são exageradas, o que dificulta a leitura dos
mesmos.
              As escalas variam de um mapa para outro, conforme menciona o autor no texto
introdutório ao Atlas: “as escalas não são uniformes” (Almeida:1868:9), sem maior explicação
dessa variação; utiliza-se a escala gráfica com as medidas representadas em léguas.
              Ao lado do mapa de cada província, aparece um encarte, em escala maior, contendo
o traçado detalhado da capital provinciana. Nos encartes, também é utilizada a escala gráfica,
mas a unidade de medida é a braça. Ao lado das escalas, registra-se o número de habitantes,
tanto das províncias quanto de suas capitais. A população é contada em número de almas, ou
seja, a população branca e católica, pois os registros demográficos eram feitos nas igrejas.
              Cabe ressaltar que o conteúdo do Atlas se pauta na abordagem dos elementos da
natureza, ressaltando a representação dos rios e das unidades do relevo. A idéia de construção
ou produção do espaço pela sociedade está praticamente ausente posto que não há mapas que a
representem, ou seja, não há mapas com a espacialização da agricultura e nem da distribuição
das áreas de extrativismo mineral e vegetal, que dominavam a economia da época.
             A população só é indicada em forma de quadros e em forma de total numérico, não
possibilitando uma análise da distribuição demográfica, até porque o número de escravos e
índios, por exemplo, não consta do total da população.
             Ao longo do período do Brasil Império, não é possível falar de uma ampla difusão
do ensino de Geografia e, por conseguinte, de Cartografia, no país. Entretanto, a publicação do
“Atlas do Império do Brazil”, destinado aos alunos do Colégio Pedro II, marca o início da
institucionalização desse processo no país.
             Não restam dúvidas de que essa obra primava pelo estudo do próprio país, ou
melhor, da nação, com forte apelação ao patriotismo. A Cartografia do Atlas de Almeida reforça
que a Geografia no contexto escolar era utilizada como veículo de imposição da ideologia do
nacionalismo patriótico, através do enaltecimento da terra natal, sobretudo após a análise do
texto introdutório à obra. Nesse contexto, podemos afirmar que a Geografia e, junto podemos
incluir a História, adquiriu uma nova função pedagógica: a de constituir um conjunto de idéias e
de conceitos para formar um bom cidadão e um bom patriota, uma espécie de catecismo laico.
             Entretanto cabe-nos ressaltar o valor histórico desse Atlas, por ser o primeiro do
Brasil e o primeiro escolar e que desempenhou um papel importante na difusão do ensino de
Geografia e uso da Cartografia nas escolas. A proposta veiculada por esse atlas didático foi a
que norteou o ensino de Geografia no Brasil por mais de um século, uma proposta pautada na
mera transmissão de conhecimentos, conduzindo a um excesso de memorização e uma
aprendizagem mecânica e repetitiva.



Referências

AGUIAR, Valéria Trevizani Burla de (1996), Atlas Geográfico Escolar. Rio Claro, UNESP,
Tese de Doutorado.

AGUIAR, Valéria Trevizani Burla de (2008), Atlas Geográfico Escolar e o Ensino de Geografia
no Brasil Imperial. II Simposio Iberoamericano de Historia de la Cartografia - Ciudad de
México.

ALMEIDA, Candido Mendes de (1868), Atlas do Império de Brazil. Instituto Philomathico, Rio
de Janeiro.

AMORIM FILHO, Oswaldo Bueno. O Atlas no Pensamento Geográfico de Vidal De La
Blache. In: Revista Geografia e Ensino, Belo Horizonte, 2(2):20-29, dez. 1984.

BRASIL.      Ministério     da     Educação.       Colégio     Pedro      II.         Histórico.
<http://www.cp2.g12br/index.aspx> Data de consulta: 15 de dezembro de 2007.


MELO, Adriany de Ávila (2001), Trajetórias do Ensino da Geografia no Brasil: 1978-
1996.UFU, Uberlândia (Dissertação de Mestrado).
M5

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  • 1. Atlas e Cartografia Escolar no Brasil – início de uma história Profª. Drª. Valéria Trevizani Burla de Aguiar Departamento de Geociências – Universidade Federal de Juiz de Fora Resumo: Este estudo decorre da análise do Atlas do Império do Brasil de Cândido Mendes de Almeida, primeiro atlas publicado com mapas sobre o Brasil, datado de 1868 e com destino exclusivo aos alunos das escolas públicas da época. Palavras-chave: Atlas Escolar, Cartografia Histórica, Cartografia Escolar Procurei, neste trabalho, fazer um resgate histórico da Cartografia Escolar no Brasil. Esta retrospectiva pauta-se na análise do primeiro atlas escolar aqui publicado, posto que neste ano de 2009, faz 140 anos do início da Cartografia numa escola brasileira. Em 1868 foi publicado o “Atlas de Império do Brazil”, elaborado por Cândido Mendes Almeida, sendo esse o primeiro Atlas escolar elaborado com mapas do território brasileiro e destinado aos alunos da escola básica e o início de seu uso ocorreu a partir de 1869. Conforme a folha de rosto, retratada na Fig. 1, o autor explicita o objetivo da obra: dedica-a ao Imperador D. Pedro II e aponta ser ela destinada à instrução pública no Império e, em especial, aos alunos do Imperial Colégio de Pedro II. O autor, Cândido Mendes de Almeida, foi professor de Geografia e de História no Liceu São Luiz, na antiga província do Maranhão. Para a realização do Atlas, buscou analisar várias obras, entre elas destaca-se a Corografia Brasílica de Aires de Casal, livro didático de Geografia, ao que parece, bastante utilizado na época, inclusive pelos alunos do Colégio Pedro II. Utilizou a documentação e mapas disponíveis no Ministério da Guerra e no Ministério da Agricultura, além dos diferentes tratados que explicitavam as demarcações de fronteiras do Brasil. A organização dos mapas do Atlas segue a mesma proposta dos Atlas europeus da época que “procuravam, sobretudo localizar o mais claramente possível o maior número de topônimos. O fundo colorido das cartas apenas evocava, muito sumariamente, o relevo, sem considerar a vida humana.” (Amorim Filho:1984:23). Para a elaboração do Atlas, Cândido Mendes recorreu a diferentes fontes, como os Atlas europeus de Brué, Garnier, Stieler, Houzé, Dufour, Buchon, Delamarche e Colton, daí a similaridade na elaboração dos mapas. Cabe ressaltar que esse Atlas antecede o “Atlas General” de Paul Vidal de La Blache, publicado em 1894, e que revolucionou a concepção de elaboração de Atlas para o ensino de Geografia.
  • 2. Foto: Gustavo Burla – Coleção do autor Fig. 1 – Folha de Rosto do Atlas de Império do Brazil O Atlas está dividido em três partes, ou seja, um texto introdutório, mapas do mundo e mapas do Brasil. Conforme o autor, que tece longos comentários sobre educação e o papel da Geografia na Introdução à obra, o Atlas teve como objetivo atender “à mocidade estudiosa, e esperançosa do Brasil (...)” e à necessidade “de saber o que é, e o que vale o território pátrio. Dever imperioso que a Geografia nos habilita a satisfazer.” (Almeida,1868:7). Ao descrever o plano geral da obra, o autor enfatiza seu propósito, afirmando que o Atlas “(...) tem principalmente por fim auxiliar a instrução da mocidade, maxime a que
  • 3. frequenta os estabelecimentos nacionais de instrução secundária, em que ocupa o primeiro lugar o Colégio de Pedro II”(Almeida, 1868:8). O autor insiste no aspecto pedagógico do atlas, mencionando o papel do professor e exacerbando o seu aspecto patriótico, a saber: “Seja-nos porém licito assegurar que, mediante as explicações de qualquer inteligente Professor, os alunos de Geografia muito podem aproveitar com o presente Atlas... Se é nobre e belo pôr nossa inteligência e nossa pena ao serviço da Pátria que idolatramos, máxime quando o fim é instruir cidadãos, que no futuro possam colocar os destinos da nossa nacionalidade em firme, eminente e glorioso pedestal".(Almeida,1868:8). Mas as orientações pedagógicas não são por ele explicitadas; deduz-se que o professor deva ser dotado de competência para realizar um trabalho adequado com seus alunos em sala de aula, certamente conduzindo-os a memorizar informações. Uma proposta direcionada para a comparação dos diferentes mapas, superpor as informações neles contidas e permitir a realização de sínteses, o que possibilitaria aos alunos a compreenderem a organização do espaço geográfico não é feita. De acordo com Aguiar (1996:165), trata-se de um atlas composto por mapas políticos, em que as questões de limites e fronteiras do país são bastante enfatizadas ao longo do texto introdutório, em que Almeida apontou que os “(... ) limites internacionais do Império procuramos tratá-los de forma a não se tornarem um segredo de que alguns estudiosos mais pacientes estão de posse” (Almeida, 1868:7). Possivelmente, questão polêmica na época e deduz-se ser a primeira vez que o fato fora divulgado para o público, em um atlas. Ainda na introdução, que perfaz um total de oito páginas, o autor trata da organização dos territórios das “atuais províncias” e apresenta o plano geral da obra. As segunda e terceira partes são as coletâneas de mapas do mundo e do Brasil. O atlas é composto por vinte e sete mapas, iniciando com um mapa-múndi, seguido de quatro mapas do Brasil. O mapa-múndi é físico-político, apresentando duas Américas (setentrional e meridional), Europa, Ásia, África e Oceania. Cada uma das partes foi representada por uma cor e a enorme quantidade de informações contidas no mapa quase impossibilita sua leitura. Há representações de relevo e de hidrografia, além de divisões políticas acompanhadas de farta nomenclatura. Os quatro mapas do Império do Brasil foram elaborados na mesma escala. Os três primeiros mapas do Brasil são idênticos, apresentando a divisão política das províncias, diferenciando apenas os conteúdos dos encartes. Os mapas são cobertos por uma vasta rede hidrográfica, hachuras representando o relevo, além de uma nomenclatura intensa (cabos, enseadas, lagos, elevações, cidades, etc.), sobretudo ao longo do litoral, e grafada com letras pequenas, o que dificulta ainda mais a sua leitura. Os mapas são inintelegíveis, sobretudo se considerarmos que o Atlas fora elaborado para uso de escolares. O primeiro mapa é acompanhado de um quadro, com dados de superfície, número de comarcas, municípios e população de cada província, e de um mapa representando o oceano Atlântico contendo as rotas das viagens dos descobridores. O quadro do segundo mapa é dedicado à Igreja Católica, com dados de cada diocese, seguido do encarte de representação das “ilhas e lagos notáveis do Brasil”. Acompanha o terceiro mapa uma representação dos principais rios do Brasil, possibilitando comparar as suas extensões, ao lado de uma relação de 121 montanhas do Brasil, contendo as respectivas altitudes, seguido de um quadro detalhado sobre a geografia eleitoral do país (Fig. 2). Se compararmos com os mapas atuais, pode-se constatar que, devido à utilização dos referenciais pouco precisos utilizados para o mapeamento na época, não há muita precisão do contorno das províncias. Ressalta-se, ainda, a ausência do Acre, que na ocasião não fazia parte do território brasileiro, a que foi incorporado somente no início do século XX.
  • 4. Foto: Gustavo Burla – Coleção do autor Fig. 2 – Representação do Império do Brasil do Atlas de Candido Mendes de Almeida
  • 5. Antes de apresentar os mapas regionais do Brasil, o autor insere um quarto e último mapa do Império do Brasil. Trata-se de um mapa-mudo, ou seja, desprovido de quaisquer referências toponímicas (Fig. 3) a que o autor menciona o propósito de sua elaboração, “destinado ao exame dos alunos, apresentando um esqueleto ou mudo todo o nosso território, figurando sem nenhuma indicação escrita todos os objetos da geografia física e política” Almeida (1868:9). Em outras palavras, os alunos deveriam memorizar todas as informações mapeadas e repeti-las nesse mapa-mudo. Essa foi uma metodologia de uso da Cartografia escolar que perdurou durante décadas no ensino de Geografia e que se pautava na valorização do uso da nomenclatura, na mera prática da memorização, subestimando a capacidade do aluno de produzir conhecimentos e desconhecendo verdadeiros critérios geográficos, conforme constatamos também na obra de Aires de Casal. A propósito desta reflexão, encontramos em Issler (1973:48-49, apud Melo, 2001) um comentário que a ratifica: “A utilização da cartografia como componente importante do ensino da Geografia, indica que existia grande correlação entre a geografia descritiva e a ciência cartográfica. [...] No ensino da geografia, era importante o emprego da cartografia. Esse ensino não poderia ser feito de outra forma. O mapa, a planta e o atlas foram os primeiros instrumentos de prática de aprendizagem [...] faltando à geografia escolar os princípios fundamentais que a tornaram ciência, à geografia descritiva somente poderia corresponder uma cartografia descritiva e que fizesse apelo à memória”.
  • 6. Foto: Gustavo Burla – Coleção do autor Fig. 3 – Mapa Mudo do Atlas de Cândido Mendes de Almeida
  • 7. Seguem-se os mapas políticos das províncias, acompanhados de encartes referentes a alguns elementos do quadro natural, e encartes com a representação do traçado das capitais, contendo os principais elementos de referência do espaço urbano, como o padrão de arruamento, edifícios públicos, largos, praças e igrejas. Nos mesmos moldes da obra de Aires de Casal, o Brasil foi mapeado por províncias, não havendo outra proposta de regionalização. As províncias são divididas em Comarcas, destacando, na legenda, cidades, vilas, povoados e sedes de paróquias hierarquizados através de símbolos pontuais com diferentes tamanhos. A Fig. 4 representa a província de São Paulo, dividida em comarcas. Nesse mapa de São Paulo, como nos demais, há a indicação dos limites das províncias e uma trama de coordenadas geográficas, tendo como referência o meridiano zero, que passava sobre a cidade do Rio de Janeiro. Em todos os mapas há a indicação da escala, tanto a do mapa principal como a da cidade. As diferentes comarcas estão destacadas por cores e números, estes são utilizados na legenda contendo a indicação das cidades existentes em cada uma delas. Em alguns mapas, é inserido um encarte de ampliação de alguma informação considerada importante pelo autor. No caso deste mapa de São Paulo, a ampliação refere-se ao porto de Santos, também acompanhado de escala, com destaque para a topografia local, delineada por hachuras que indicam as diferenças de altitude. Cabe destacar que os encartes, até os dias atuais, são bastante utilizados nos Atlas escolares, posto que possibilitam a análise de determinadas informações cartografadas de forma mais detalhada. Na parte inferior da folha, na porção oeste da província, há uma área de ocupação indígena indicada como “terrenos ocupados pelos indígenas feroses”.
  • 8. Foto: Gustavo Burla – Coleção do autor Fig. 4 – Mapa da Província de São Paulo do Atlas de Candido Mendes de Almeida No texto introdutório aos mapas há sempre uma descrição detalhada dos limites provinciais. Como exemplo, destacamos a redação do autor sobre a Província do Rio de Janeiro: “Esta província confina ao Norte com a Província de Minas-geraes, pela serra da Mantiqueira, pelos rios Preto, Parahybuna, Parahyba do Sul, e riachão Pirapetinga, rio e serra de S. Antonio, serras Treicheiras, Gavião e Batatal, ao Sul com o Oceano Atlântico e com a Província do Espírito Santo, pelo rio Itabapuana; a Leste com o Oceano Atlântico, e
  • 9. a Oeste com a Província de São Paulo, pelas serras do Paraty, Geral, Bocaina, Ariró, Carioca e riachão do Salto”. (Almeida, 1868:19) Cândido Mendes menciona, também, a posição astronômica de todas as províncias, como a do Rio de Janeiro: Latitude austral 20º 50’ e 23º 19’; Longitude oriental 2º 9’; Longitude ocidental 1º 42’. Aponta ainda as maiores distâncias, tanto no sentido norte-sul, como no sentido leste-oeste. A Cidade do Rio de Janeiro, capital do Império, na ocasião, ganha um mapa a parte, inserido no Atlas após a representação da Província do Rio de Janeiro (Fig.5). Nele está representado o denominado Município Neutro e a Planta da cidade. No mapa com o título de Município Neutro está retratada a divisão territorial em vinte paróquias, com uma população de 450.000 almas. E na planta da cidade aparece a localização de 26 igrejas e dois templos, um anglicano e outro evangélico, além de 17 largos/ praças e 40 edifícios públicos. A representação das sedes eclesiásticas demonstra o papel de destaque da Igreja na ocasião, mesmo sendo o Atlas elaborado para uma escola pública e laica.
  • 10. Foto: Gustavo Burla – Coleção do autor Fig. 5 – Mapa da Capital do Império do Brasil No texto inicial de apresentação ao mapa do Rio de Janeiro, o autor destaca de forma bem patriótica o porto com o mesmo nome, e destaca-o como fundamental referência para a criação da cidade e da província, além de fazer críticas à sua ocupação inicial pelos portugueses, a saber: “Ao excelente porto do Rio de Janeiro, talvez o primeiro do mundo, cuja importância Martin Affonso de Souza não compreendeu ou não
  • 11. teve tempo de examinar, não obstante ter ali demorado três meses (...) se deve a criação desta Província e sua denominação. Foi necessário que os franceses viessem mostrar o alcance de tão magnífica posição (...)” (Almeida, 1868::19). Cabe ressaltar que o autor tece também algumas críticas à organização territorial do Brasil, apontando-a como arcaica e carente de um critério mais plausível para a sua gestão. Ele destaca a necessidade de critérios territoriais para nortear a organização: “Se tomássemos determinada área para designar o quarteirão ou distrito, embora não fosse como tal declarado o território sem que estivesse habitado pelo mínimo decretado da população, o território do nosso país se reorganizaria perfeitamente; ficando o quarteirão ou distrito como a primeira ou última molécula da organização ou edifício territorial do império, tanto no administrativo e no judicial, como no eleitoral, financeiro, militar e eclesiástico” (Almeida, 1868:8) A hierarquização de unidades territoriais proposta pelo autor seria a partir de um conjunto composto por um determinado número de distritos ou de quarteirões. Este conjunto permitiria a organização de uma paróquia. O município seria formado por um definido número de paróquias e, a maior unidade territorial seria a comarca, constituída pelo agrupamento de municípios. A proposta do autor se pauta na justaposição de conceitos jurídicos (comarca), eclesiásticos (paróquia) e político-administrativos (município) para definir a organização territorial do país. O autor compara o modelo brasileiro da época aos países com estruturas ou civilizações atrasadas: “Com esse padrão como base, poder-se-ia fixar o máximo e o mínimo de distritos que constituirão uma paróquia; assim como o número destas indispensável para a criação do município, e conseqüentemente o número destes necessário para que determinado território fosse elevado à comarca. Mas o vago que ora existe, ou a base simples da população torna-se o mais deficiente dos sistemas para organização do território em qualquer país. Da maneira por que atualmente em nossas províncias se dividem os territórios, só vemos símile nos Estados Asiáticos, ou de civilização a mais atrasada” (Almeida, 1868:8) O autor menciona que ao elaborar o Atlas procurou certa precisão na representação dos limites das comarcas. Entretanto, há muitas imprecisões decorrentes da falta de atualização de estudos topográficos, visto que as mudanças dos limites são constantes. Nos dizeres do autor, “deficiências dos estudos topográficos, de acordo com as paixões e interesses políticos, tornam a Geografia do nosso país sobremaneira instável. Não há um ano em que não sofra considerável modificação” (Almeida, 1868:8). Ele ainda aponta que as assembléias provinciais agem contra a Geografia e contra o interesse regular da administração, certamente pelas constantes mudanças de limites e criação de novas divisões internas que não eram de interesse da coroa. Ainda, quanto aos mapas das província, cabe ressaltar que estão representados o relevo e a rede hidrográfica das províncias. A nomenclatura, as hachuras que representam o relevo e a quantidade de rios representados são exageradas, o que dificulta a leitura dos mesmos. As escalas variam de um mapa para outro, conforme menciona o autor no texto introdutório ao Atlas: “as escalas não são uniformes” (Almeida:1868:9), sem maior explicação dessa variação; utiliza-se a escala gráfica com as medidas representadas em léguas. Ao lado do mapa de cada província, aparece um encarte, em escala maior, contendo o traçado detalhado da capital provinciana. Nos encartes, também é utilizada a escala gráfica, mas a unidade de medida é a braça. Ao lado das escalas, registra-se o número de habitantes, tanto das províncias quanto de suas capitais. A população é contada em número de almas, ou seja, a população branca e católica, pois os registros demográficos eram feitos nas igrejas. Cabe ressaltar que o conteúdo do Atlas se pauta na abordagem dos elementos da natureza, ressaltando a representação dos rios e das unidades do relevo. A idéia de construção
  • 12. ou produção do espaço pela sociedade está praticamente ausente posto que não há mapas que a representem, ou seja, não há mapas com a espacialização da agricultura e nem da distribuição das áreas de extrativismo mineral e vegetal, que dominavam a economia da época. A população só é indicada em forma de quadros e em forma de total numérico, não possibilitando uma análise da distribuição demográfica, até porque o número de escravos e índios, por exemplo, não consta do total da população. Ao longo do período do Brasil Império, não é possível falar de uma ampla difusão do ensino de Geografia e, por conseguinte, de Cartografia, no país. Entretanto, a publicação do “Atlas do Império do Brazil”, destinado aos alunos do Colégio Pedro II, marca o início da institucionalização desse processo no país. Não restam dúvidas de que essa obra primava pelo estudo do próprio país, ou melhor, da nação, com forte apelação ao patriotismo. A Cartografia do Atlas de Almeida reforça que a Geografia no contexto escolar era utilizada como veículo de imposição da ideologia do nacionalismo patriótico, através do enaltecimento da terra natal, sobretudo após a análise do texto introdutório à obra. Nesse contexto, podemos afirmar que a Geografia e, junto podemos incluir a História, adquiriu uma nova função pedagógica: a de constituir um conjunto de idéias e de conceitos para formar um bom cidadão e um bom patriota, uma espécie de catecismo laico. Entretanto cabe-nos ressaltar o valor histórico desse Atlas, por ser o primeiro do Brasil e o primeiro escolar e que desempenhou um papel importante na difusão do ensino de Geografia e uso da Cartografia nas escolas. A proposta veiculada por esse atlas didático foi a que norteou o ensino de Geografia no Brasil por mais de um século, uma proposta pautada na mera transmissão de conhecimentos, conduzindo a um excesso de memorização e uma aprendizagem mecânica e repetitiva. Referências AGUIAR, Valéria Trevizani Burla de (1996), Atlas Geográfico Escolar. Rio Claro, UNESP, Tese de Doutorado. AGUIAR, Valéria Trevizani Burla de (2008), Atlas Geográfico Escolar e o Ensino de Geografia no Brasil Imperial. II Simposio Iberoamericano de Historia de la Cartografia - Ciudad de México. ALMEIDA, Candido Mendes de (1868), Atlas do Império de Brazil. Instituto Philomathico, Rio de Janeiro. AMORIM FILHO, Oswaldo Bueno. O Atlas no Pensamento Geográfico de Vidal De La Blache. In: Revista Geografia e Ensino, Belo Horizonte, 2(2):20-29, dez. 1984. BRASIL. Ministério da Educação. Colégio Pedro II. Histórico. <http://www.cp2.g12br/index.aspx> Data de consulta: 15 de dezembro de 2007. MELO, Adriany de Ávila (2001), Trajetórias do Ensino da Geografia no Brasil: 1978- 1996.UFU, Uberlândia (Dissertação de Mestrado).