O documento discute a abordagem sociológica compreensiva de Michel Maffesoli, criticando o positivismo e defendendo uma sociologia pluralista e qualitativa baseada no conhecimento comum. Ele argumenta que a sociologia deve dar conta do cotidiano por meio de um pensamento "formista" que valorize as representações sociais e o procedimento analógico.
2. Michel Maffesoli
É sociólogo, professor na Sorbonne – Paris V
e diretor do Centro de Estudos do Atual e do Cotidiano (CEAQ).
Para Silva (apud MAFFESOLI, 2010), Maffesoli é “o mais importante e original
teórico da pós-modernidade no mundo. O conhecimento comum é certamente o
seu melhor livro”.
Durand (2010, p. 57) argumenta que a "sociologia passará a ser a 'figurativa'
(Tacussel), fundamentando-se num 'conhecimento comum' (Maffesoli) onde
sujeito e objeto formam um só no ato de conhecer e no qual o estatuto simbólico
da imagem constituiu paradigma".
4. O Positivismo em seu ambiente:
Crítica ao positivismo sociológico (Durkheim, Marx, Comte,
Freud) - “[...] tudo é submetido à razão.”
Argumentos reducionistas. “[...] a força dos conceitos supera a
contradição.” A lógica do “dever-ser” que caracteriza a atitude
conceitual.
“[...] a importância da contradição para a sociologia”.
O Fascínio positivista
5. Elogio ao pluralismo:
“[...] o processo de redução é sempre utilitarista.” “[...] É
efetivamente mais fácil servir-se de um pensamento assentado
num só valor do que um outro que jogue com múltiplos
matizes...”.
Funcionalismo monovalente X Pluralidade funcional (“...uma
pluralidade que encontra seu sentido e seu fim em si mesma,
que não se projeta em hipóteses porvires promissores, na
realização de utópicas sociedades perfeitas ou outros paraísos,
profanos ou religiosos.”)
O Fascínio positivista
6. Equilíbrio conflitual/Descontinuidades
sociais/Heterogeneidade/Alteridade. “[...] as relações e os papéis
sociais […] só adquirem sentido pelas relações que entre si
estabelecem.”
James Hillman: a dicotomia que, progressivamente, se
estabeleceu entre a linguagem científica e o próprio objeto de
sua descrição. “[...] é importante que a sociologia saiba dar conta
do atual e do acontecimento; e saiba também mostrar como os
gestos, a deambulação, o fato culinário, a errância sexual e a
paixão amorosa, a indumentária, a cosmética etc. constituem
seu campo específico.”
O Fascínio positivista
7. O instante obscuro:
Sociologia qualitativa deve preservar a singularidade dos
atos e das situações. “[...] é urgente que o discurso sobre o social
saiba escutar, com atenção redobrada, o discurso do social,
ainda que este possa vir a chocar, por sua incoerência[...]”
O Fascínio positivista
8. A obsessão pelo rigor, a paranóia, o vazio do pensamento.
Adorno: “todo pensamento, que não se venha a tornar um
pensamento vão, traz a marca de uma impossibilidade de vir a
legitimar-se completamente.”
Sociologia compreensiva - “Transcendência imanente”, que
brota do próprio corpo social. “[...] não possuímos a verdade,
mas estamos por dentro de uma certa verdade.”
O Fascínio positivista
10. A pluralidade das razões:
“[...] o imperialismo da teoria tropeça diante da incoerência ou,
pelo menos, do aspecto acidentado da experiência social.”
“[...] o que realmente importa não é a elaboração de uma
verdade acachapante – mas a articulação de verdades locais (em
todos os sentidos do termo), permitindo que nos situemos no
presente.”
“As histórias humanas nos mostram à saciedade que não
chegamos nunca a unificar, a uniformizar, a reduzir a diferença.”
PLURIALIDADE (das razões). “[...] compreender nossas
sociedades pela via de uma multiplicidade de razões.”
A experiência do relativismo
11. A “douta ignorância” :
Termo de Nicolau de Cusa. Defesa do aspecto popular,
diferenciado, plural, das representações religiosas.
“[...] O Universal é contradito pela existência de uma
multiplicidade de singularidades[...]”.
“[...] O sociólogo, que negligencie o jogo da diferença e da
alteridade operantes na existência, será talvez diretamente na
prática da gestão social – mas perderá, por isto, toda capacidade
de compreender a organização complexa das pessoas e das
coisas.”
A experiência do relativismo
12. Ser/estar-junto-com X Deveria ser;
Espírito da douta ignorância: traduz o espírito do politeísmo que
se recusa a tudo determinar com rigidez na efervescência da vida
social -, espírito do trágico que não se arroga o direito de reduzir
as aporias estruturais do dado mundano.
A experiência do relativismo
14. O mundo representado:
• Socialidade.
• A ideologia como conservatório do querer-viver social.
“[...] É curioso notar que, querendo ater-se apenas ao
desenvolvimento econômico, a sociologia, em seus componentes
marxistas ou funcionalistas, minimizou ou memso esvaziou a
ordem das representações.”
A função ideológica
15. A função social da ideologia. “[...] Para a sociologia, a
ideologia serve para indicar que uma compreensão social deve
utilizar simultaneamente todas as abordagens possíveis [...]”
“Sociologia-camaleão”;
O fôlego social varia de acordo com as ambiências de uma
época.
A função ideológica
16. Ideologia e socialidade:
“[...] a ação humana, enquanto viver e enquanto fazer, acha-se
embasada em histórias, em discursos que sempre (se) antecipam
à justificação científica.”. Pulsão/paixão.
As representações como responsáveis pela estruturação do
desenvolvimento coletivo e individual. “[...] o conjunto das
representações e suas combinações constituem motores sociais
por excelência.”
A função ideológica
17. Cenestesia social faz com que os conjuntos sociais perdurem.
“[...] a ideologia participa do ato fundador de uma sociedade e
logo segue sua marcha – mas é a vida, em seu desenvolvimento,
que sempre toma e mantém a dianteira.”
“[...] só há inteligência em conexão com seu emprego em âmbito
coletivo.”
A função ideológica
19. A preeminência do todo:
O termo formalismo é mal interpretado ao sugerir
ambigüidade como designação de atitude abstrata. O autor
propõe o uso de “formismo”;
Reflexão nietzscheana: a profundidade costuma ocultar-se
na superfície das coisas e das pessoas: “ É a forma que permite
que haja o ser em vez de nada. Sem dúvida, é o fenômeno um
limite – mas é um limite que condiciona a existência” ( p. 108);
Caminhando para um “formismo” sociológico
20. A consistência individual é produto de conjunto, e não o
contrário: “É a forma do todo que determina a das partes”
(DURKEIN, p. 112);
A tradição cultural é formada pelas implicações estéticas,
éticas, econômicas, políticas e gnoseológicas = pedra de toque
da superação humana;
“Intelectualidade orgânica” (p. 113). “A atitude “formista”
respeita a existência, das representações populares e das
minúsculas criações que pontuam a vida de todos os dias
,incorporando-se assim ao discurso polifônico que, a seu próprio
respeito, uma sociedade produz”;
Caminhando para um “formismo” sociológico
21. A invariância “formista”:
A invariância “formista” é obtida por meio da
multiplicidade das modulações;
O arquétipo e estereótipo participam da mesma dinâmica.
(Gilbert Durand);
O formalismo conceitual da sentido a tudo o que observa e
o “formismo” delineia as grandes configurações que englobam,
sem reduzir seus valores plurais e as vezes antagônicos da vida
corrente;
Caminhando para um “formismo” sociológico
22. A ciência, elimina e amputa o que julga não essencial, o
“formismo”, propõe uma cientificidade generosa, que pode
integrar à pesquisa parâmetros tradicionalmente posto de lado;
Enquanto o conceito possui função de exclusão, a forma
agrega;
O “formismo” reconduz o eterno problema do Universal e
do Particular. Toda “ideologia” de uma dada época deve fazer
encarar esse problema; e, no que nos diz respeito, a sociologia
não poderia fazer disto uma abstração (p.121);
O “formismo” é, antes de qualquer coisa, um pensamento
de globalidade;
Caminhando para um “formismo” sociológico
23. A acentuação da “forma” = politeísmo dos valores;
Privilegia o movimento de cada elemento levando em conta
a multiplicidade de seus aspectos;
“ Formismo” visa a investigação do objeto social;
O procedimento transcendental é a condição de
possibilidade de todo conhecimento real;
O societal permite compreender e dar destaque às menores
situações da vida cotidiana: o trágico, a teatralização, o ritual e o
imaginário configuram categorias societais;
Caminhando para um “formismo” sociológico
24. A sociologia como fenomenologia = noção de “imaginar”, (
H. Corbin &e G. Durand), deverá ser observada no atual e no
cotidiano, no vínculo existente entre o inteligível e o sensível.
É sempre bom lembrar as banalidades fundamentais
como esta: a vida começa pela limitação, sendo determinada
[...]; do mesmo modo, a existência social somente o é quando
se mostra como tal, quando toma forma. O theatrum mundi
não é um termo inútil, pois sua expressão é multiforme [...]; é
justamente isto que legitima nossa reflexão sociológica sobre o
“formismo” ( p.127);
A necessidade de um princípio de conhecimento que não
somente respeite, senão também revele o mistério das coisas”.
(Edgar Morin);
Caminhando para um “formismo” sociológico
25. A experiência = empatia, onde o paradigma pode ser
compreendido como uma modulação da “forma”;
“Esse vaivém constante da experiência ao paradigma, ou da
empatia ao formismo, é testemunho da existência de uma
organização – prefiro dizer uma organicidade das coisas e das
pessoas, da natureza e da cultura”(p. 128);
O testemunho da existência de uma organização =
politeísmo= a organicidade (das coisas, pessoas, natureza e
cultura) conduz ao pluralismo societal;
A compreensão do enraizamento e a eficácia de tal
politeísmo na vida de todos os dias, resistindo ao totalitarismo
das concepções normativas do mundo.
Caminhando para um “formismo” sociológico
27. Proposições compreensivas:
Valorização das representações ( ou ideologia) mostrando
o “formismo” da vida social posto de lado: “à analogia, à
metáfora, ou à correspondência. [...] a poesia, a ficção ou a
mística” (p.130);
A integração desses procedimentos = habilidades e o
aspecto polissêmico do vivido social;
As pesquisas reforçam a necessidade de buscar um modo
de contato analítico (com fenômenos) que sem
constrangimento ou redução, escape a divagação absoluta;
A valibilidade universal é uma interferência, sempre falsa,
de si (próprio) em relação ao outro”( O. Spengler );
O procedimento analógico
28. “Mais do que querer promulgar ao todo custo, leis, explicar
finalidades ou elucidar “porquês” é necessário descrever os
fenômenos presentes na existência cotidiana, como condições
possíveis de poliformismo” (p.131);
“O meio de conhecer as formas mortas é a lei matemática.
O meio de compreender as formas vivas é a analogia” (p.132);
Dinâmica cognitiva (aceita pela ciência “dura” em
contraposição ao positivismo) = a fragilidade, o erro e a verdade
local;
“A sociedade não pode oportunizar uma única
determinação ; “talvez, o verdadeiro espírito científico venha a
ser aquele “que dá ensejo à refutação” (Edgar Morin);
O procedimento analógico
29. “ É propriamente “científico” elaborar hipóteses, linhas de
investigação, propor comparações partindo da polifonia societal,
esboçar um mapa das analogias que justamente permita a
compreensão dos fenômenos sociais”(p.133);
Estrutura Oximônica = o “contraditorial” em cada ação social;
“Na estruturação de sociedades, o unanimismo,
preconizado, imposto ou desejado, costuma fracassar – e, nesse
caso, o realismo político consiste em saber reconhecer e
administrar o conflito” (p. 134);
Deve-se aceitar a existência do antagonismo e compreender
seu funcionamento: “o pensamento analógico desfaz o infinito
para não ter de agir” (E.Bloch);
O procedimento analógico
30. Analogia = compreensão do presente;
“Semelhante a uma tela de fundo, ela dá relevo àquilo que
de outra forma passaria despercebido ou seria diminuído, ao ser
declarado insignificante” (p. 137);
Apreciar o real em função das obras do irreal: “ é
reconfortante ouvir um físico, especializado em filosofia das
ciências, reconhecer que “é necessário um mundo onírico para
descobrirmos as características do mundo real”. (p.138)
Impossível compreender um conjunto social unicamente
por sua positividade: apreender a dinâmica do acontecimento
ouvindo o “discurso aí do lado”, o qual, sem duvida, ecoa
discurso mais distante;
O procedimento analógico
31. Ressonância:
A importância da analogia para a compreensão da “socialidade”;
O pensamento analógico impõe-se de uma maneira
“perversa”, fazendo com que a matriz a algo, se apresente como
novo = Pseudomorfose: “somente julgamos os seres por
analogia em relação a nos mesmos”(p.142);
O pensamento analógico da maior destaque àquilo que
constitui a essência da trama social ( p. 146);
O procedimento analógico
32. Colagem e aglutinação:
Analogia = método comparativo que serve como ligação
entre múltiplas facetas de uma representação global;
“O vínculo analógico faculta uma leitura transversal, que
nos faz compreender nosso tempo com a ajuda de fatos e gestos
das sociedades passadas” (p. 149);
A estreita conexão existente entre a natureza e cultura,
onde o “trajeto antropológico” conduz do “vital” ao cultural (G.
Durand);
O “trajeto antropológico” compõe e integra a “harmonia
conflitual”;
O procedimento analógico
33. “G. Durand, ao tratar desse assunto, refere-se a uma
“estrutura gliscromorfa” [...] que poderia opor-se à separação
esquizofrênica – forma paroxística e patológica do mecanismo
de individualização e de apreensão – um corolário da idéia de
natureza como objeto a ser explorado. É essa viscosidade,
inerente à “cola do mundo”, que nos remete à analogia”(p. 152);
Ao permitir uma atitude compreensiva, a analogia abre
caminho à integração de reflexão intelectual à organicidade
societal: polifonia da vida social.
“A metáfora e analogia, ao se enraizarem no substrato
mitológico, chamam à atenção para a grande quantidade de
histórias que estruturam toda socialidade.
O procedimento analógico
35. A apropriação específica da existência que merece atenção:
a pesquisa compreensiva recoloca em seu devido lugar e
intuição; a comparação; leva em conta toda a dimensão sensível
da existência social; reinveste, enfim, a carga mítica que move a
socialidade de base;
Fenômenos moventes que integram cada indivíduo a uma
globalidade cósmica ou “ecológica”;
Valores de “progressismo” e de “individualismo” =
mecanismo de correspondência e a solidariedade;
A socialidade de base se assenta em espaço partilhado;
O equilíbrio societal = o espaço e o tempo, a natureza e a
história (p.160);
A “correspondência” física e social
36. A “correspondência” evidencia o entrecruzamento dos
afetos e das ações, que constitui o essencial destas atitudes
minúsculas encontradas na própria base da vida de todos os
dias. Embora haja a possibilidade de o espaço constituir-se em
campo fechado do jogo de forças econômicas e / ou políticas, a
“correspondência” traduz-se na criação de investimentos
menores, que formarão um circuito dos mais expressivos (p.161);
As sociedades por sua diversidade se encontram e se
separam sem que uma grande lógica dirija esta sua dança;
A “correspondência” simbólica permite a
complementaridade e ao pluralismo serem meios eficazes de
aproximação coletiva de determinado espaço (p. 164);
A “correspondência” física e social
37. “Ao recusar os esquemas “psicologistas” e economicistas,
que são causas e efeitos do individualismo – a correspondência
centra todo o seu esforço de compreensão na globalidade em
movimentos, o “equilíbrio-móvel” de J. Piaget (p.165);
Novos / antigos valores ambientalistas em três dimensões
estruturantes de todas as sociedades: a relação à alteridade
natural, a relação à alteridade social e o conhecimento que delas
se pode ter;
A simbiose presente na correspondência natural e social
que, sem que seja possível determinar prioridades, funda o
próprio fato de “ser/estar com”(p.168);
A “correspondência” física e social
38. “Os observadores judiciosos, seja qual for a função que
desempenhem (sociólogos, jornalistas, viajantes), são capazes
de registrar a perduração dos mecanismos de identificações
místicas a tal objeto ou qual elementos do bestiário. E essa
identificação, bem além daquilo sobre o que incide, nos remete
à comunidade que ela funda e/ou consolida” (p. 170);
Reconhecer e executar combinações é aceitar a
preponderância da idéia de interdependência, de conexão, logo,
de unicidade a qual, à diferença da Unidade redutora, funciona
na base da pluralidade dos elementos que reagem entre si (p.
170);
A correspondência = conjunto da dinâmica social = “caldo
de cultura”;
A “correspondência” física e social
39. “O sistemismo é um modo aceitável de o sociólogo abordar
de frente a solidariedade orgânica – a qual não se assenta na
separação, na discriminação ou na função mecânica, mas
integra de maneira diferencial aportes de todos os elementos do
mundo físico e social numa interação ou numa correspondência
infinita (p.171);
Socialidade = aceitação e resolução dos problemas,
individuais ou sociais, “(domesticar a natureza, asseptizar a
existência, restringir a alteridade) aceitando estes mesmos
problemas como destino” ( p.171).
A “correspondência” física e social
41. Visão cíclica das coisas:
Esta perspectiva cíclica constitui-se como o elo entre dois
conjuntos, o “conjunto que tem a ver com a correspondência,
como o meio circundante, com a natureza, o local” e o conjunto
de “múltiplos elementos da vida cotidiana, do hedonismo, do
ceticismo”, sendo que tal visão, resumidamente, “promove a
valorização do vivido” (MAFFESOLI, 2010, p. 176).
A vida sempre recomeçada
42. E este ciclo, através de sua repetição, mostra-nos uma
característica do homem em sociedade: de retornar a si
mesmo. Maffesoli (2010, p. 178) chama-nos a atenção de que,
nesta repetição da vida cotidiana, seja por coisas ou
expressões ínfimas, por menores que sejam, “somente o
presente, sempre e repetidamente semelhante a si mesmo,
merece atenção”.
A vida sempre recomeçada
43. Maffesoli (2010, p. 179-180) salienta que este saber “do povo”, é
regido mais pela emoção do que pela razão.
O atual papel do político (cada vez mais apela para a emoção,
do que para a razão, para a convicção);
É preciso “exibir um espetáculo que saiba atingir mais aos
sentimentos do que ao espírito”, o que consistiria assim, no
“espetáculo político”, tal qual a massa os vê (MAFFESOLI, 2010,
p. 180).
A vida sempre recomeçada
44. O povo sabe que as coisas não tendem a mudar, que
“nada há de novo sob o Sol”, e que “os Príncipes podem mudar
[...], mas suas ações continuam sendo abstratas e, mesmo
quando pretendem falar ou agir em nome dos menos
favorecidos, eles o fazem sempre para pedir submissão ou
conformidade às normas vigentes” (MAFFESOLI, 2010, p. 181).
A vida sempre recomeçada
45. Maffesoli (2010, p. 183) nota que para compreendermos
nosso presente, é preciso praticarmos a “einsteinização”, que
nada mais é do que uma metáfora elaborada por Proust para
explicar-nos que compreendemos o presente comparando-o
com “grandes momentos do passado
Mas para isso, segundo o autor, é necessário ser um
pesquisador de botequim, um pesquisador do povo, no meio
do povo, através do que podemos caracterizar como o “método
lógico-experimental” proposto por Pareto .
A vida sempre recomeçada
46. Somos uma sociedade que não possui um discurso linear,
somos controversos, cheios de mistério, e sendo assim, o papel
da sociologia não é ditar regras e afirmar parâmetros de como
a sociedade “deve ser”, mas sim, deve extrair consequências
“das críticas do positivismo, reconhecendo a importância
da ideologia, tomando conhecimento da eficácia da forma,
da analogia, da metáfora, e observando o retorno de uma
visão cíclica”, sendo que através desta perspectiva, é que
“poderemos compreender a existência em seu aspecto plural”
(MAFFESOLI, 2010, p. 186).
A vida sempre recomeçada
47. Em suma, não devemos decretar, mas sim, compreender
este aspecto vagabundo do cotidiano, dedicando atenção aos
“elementos que não se sintetizam e nos remetem a uma
descrição contraditorial”, de acordo com Maffesoli (2010, p. 188).
O autor propõe a noção de “estilo do cotidiano”
(MAFFESOLI, 2010, p. 190), este estilo vagabundo, sem
pretensões de racionalidade, mas sendo, através de sua
maleabilidade, “pau pra toda obra”.
A vida sempre recomeçada
49. Maquiavel separava os diálogos/pensamentos ditos
oficiais, que circulavam nos palácios, dos diálogos/pensamentos
que emanavam das praças públicas (MAFFESOLI, 2010, p. 196).
Atualmente percebemos, como ressalta o referido autor,
que nossos grandes conflitos não se referem às ideologias, ou
aos pensamentos dos palácios, mas sim, ao problemas da vida
cotidiana, aos pensamentos das praças públicas.
Epistemologia do cotidiano
50. É vivendo, é experimentando que adquirimos um
conhecimento cada vez mais valorizado.
Maffesoli (2010, p. 216) cita então o teórico Gilbert Durand,
onde este afirma que “caminhamos para uma ‘comunicação
experimentada’”. Vivemos, aprendemos e nos conhecemos
através da experiência, pois como nota Maffesoli (2010, p. 216)
“o corpo individual e/ou coletivo faz a experiência do mundo,
faz experiências com o mundo”.
Epistemologia do cotidiano
51. Nas palavras de Maffesoli (2010, p. 205, grifo do autor), “a
existência cotidiana é fragmentada, polissêmica, feita de
sombras e luz ou, numa só palavra, o que é cada vez mais
admitido, obra de um homem, ao mesmo tempo sapiens e
demens”.
O autor cita uma expressão de K. Mannheim, onde este
afirma “que o pensamento ‘não se acha limitado aos livros, mas
tira a sua significação principal das experiências da vida
cotidiana’” (MANNHEIM apud MAFFESOLI, 2010, p. 214).
Epistemologia do cotidiano
52. Maffesoli (2010, p. 235-236) cita Durkheim ao explanar
sobre os conceitos de “patrimônio coletivo” e “alma coletiva”,
informando que a partir de tais conceitos, estabeleceu a noção
de “socialidade”.
Durkheim (apud MAFFESOLI, 2010, p. 235) afirma que “a
unidade da pessoa é ... constituída por partes, que ela é ...
suscetível de divisão e de decomposição”, o que Maffesoli (2010,
p. 235) concede como o “pluralismo”.
Epistemologia do cotidiano
54. Maffesoli (2010, p. 241) afirma que a antropologia tem
dado atenção à relação entre o “pensamento selvagem” e a
“cultura de empresa”. Estas duas “perspectivas do pensamento”
compõem o “conhecimento comum”, que é preciso ser
compreendido de maneira reflexiva, através de sua “socialidade
de base”.
O saber social e o saber sociológico
55. Em uma dura crítica aos “intelectuais de salão”, Maffesoli
(2010, p. 244) cita o teórico Hengel (apud MAFFESOLI, 2010, p.
244), onde este afirma “o povo ignora o que quer e só o Príncipe
sabe”.
Maffesoli (2010, p. 244) argumenta que os novos príncipes
da atualidade, são estes tais intelectuais, que se consideram
“portadores do universal e fundadores da responsabilidade
coletiva”. Estes estariam prontos para o “espetáculo da mídia”,
com suas teorias que defendem certas morais, e com sua postura
de “responder por” alguém ou alguns.
O saber social e o saber sociológico
56. Maffesoli (2010, p. 246) não titubeia ao afirmar que tal
concepção racionalista, poda, corta, esteriliza o conhecimento
comum, sendo que, para ele, não se pode resumir, reduzir ou
conduzir a “socioalidade a esta ou àquela determinação”, pois
vivemos um momento dos mais interessantes, em que a notável
expansão do vivido convida a um conhecimento plural; e em que a
análise disjuntiva, as técnicas de segmentação e o apriorismo
conceitual devem ceder lugar a uma fenomenologia complexa, que
saiba integrar a participação, a descrição, as histórias de vida e as
diversas manifestações dos imaginários coletivos (MAFFESOLI,
2010, p. 246, grifo nosso).
O saber social e o saber sociológico
57. Maffesoli (2010, p. 256) fala-nos do “senso
(comum)nologia”, que está ligado ao vitalismo.
Isto é, essa noção de conhecimento da massa, do popular,
possui vitalidade, é algo dinâmico, vivo, construído e
compreendido em um eterno vai-e-vem, valorizando-se o “aqui e
agora”, ou seja, o “presenteísmo, cuja riqueza ainda não
exploramos integralmente”, sendo que, na concepção de
Maffesoli (2010, p. 259-260) “o que constitui cultura é a opinião,
‘o pensamento das ruas e das praças’, que são ingredientes
essenciais do cimento emocional da socialidade”.
O saber social e o saber sociológico
58. “Somente a posteriore elabora-se, então, o conhecimento
erudito”. O que leva-nos a compreender nas palavras do autor
que:
“a complexidade cotidiana, a ‘cultura primeira’, merece uma
atenção específica – e a isto propus que se
denominasse conhecimento comum” (MAFFESOLI, 2010, p. 260,
grifo do autor).
O saber social e o saber sociológico