O documento alerta que o Brasil enfrenta o risco de uma epidemia nacional de dengue no próximo verão devido à disseminação do sorotipo 4 da doença. O chefe do Instituto Evandro Chagas adverte que uma contaminação em larga escala pode ocorrer se as autoridades de saúde não tomarem medidas urgentes, já que a população brasileira é vulnerável a este novo sorotipo. O secretário municipal de saúde do Rio de Janeiro também prevê que a cidade terá um dos piores surtos de dengue da história no verão
1. SAÚDE
SAÚDE PÚBLICA
Brasil enfrenta risco de epidemia nacional de dengue, alerta especialista
Contaminação em larga escala pode acontecer no próximo verão e exige
resposta urgente de autoridades de saúde, adverte chefe do Instituto
Evandro Chagas
Por: Cecília Ritto, do Rio de Janeiro01/09/2011 às 17:27 - Atualizado
em 01/09/2011 às 17:53
Funcionário da Vigilância Sanitária em mutirão contra a dengue em
Dourados (MS)(Ademir Almeida/AE/VEJA)
"Os tipos 1 e 2 predominam no país, mas já estão se
estabilizando. Já o 4 está em terceiro lugar com tendência de
subida", explica Pedro Vasconcelos
Um dia após a cidade do Rio de Janeiro saber que enfrentará o pior
surto de dengue no próximo verão, o Instituto Evandro Chagas,
2. referência nacional do Ministério da Saúde para essa doença, faz
um alerta: "Se nada for feito, certamente será uma epidemia de
grandes proporções no Brasil", afirma Pedro Vasconcelos, chefe do
Departamento de Arbovirologia e Febres Hemorrágicas do instituto,
localizado no Pará. O grande vilão dessa vez será osorotipo 4, que
entrou no país em 1982, através de Roraima. Na ocasião, pela
precariedade da estrutura de transportes e do isolamento do
estado, o vírus não se alastrou e foi contido. Agora, o tipo 4 voltou a
Roraima e se espalhou pelo país. Por nunca ter tido o contato com
o vírus, a população brasileira encontra-se vulnerável.
A volta desse sorotipo é explicada pela ligação entre Roraima e a
Venezuela, que tem, desde a década de 1970, os quatro sorotipos.
O vírus encontrado no país vizinho é idêntico ao tipo 4 que
começou a circular no Norte do Brasil, o que comprova a sua
origem venezuelana. O problema da entrada da nova variação da
doença após quase 30 anos é a quantidade de pessoas suscetíveis
à contaminação. E com um agravante: o brasileiro, quando já foi
infectado por algum tipo de dengue e é contaminado por outro,
pode ter a doença ainda mais forte. O agravamento se deve ao fato
de a imunidade obtida após a contaminação por um vírus servir
apenas para o mesmo tipo de dengue. Se o sorotipo for diferente,
os anticorpos adquiridos, ao invés de proteger, aumentam a
infecção. É essa a teoria mais aceita entre os especialistas no
assunto.
Pelo cenário que se desenha, são ínfimas as chances de o tipo 4
não perturbar o verão de muita gente. "Os tipos 1 e 2 predominam
no país, mas já estão se estabilizando. Já o 4 está em terceiro lugar
com tendência de subida", explica Vasconcelos. Por isso ele
considera "extremamente louvável" a iniciativa da prefeitura do Rio,
que, na quarta-feira, avisou da futura epidemia e traçou metas para
minimizar o impacto da doença na cidade. Algumas delas são
multas para o proprietário da casa que não eliminar os focos da
dengue e a entrada à força da prefeitura em imóveis cujos donos
não permitam a visita dos agentes.
A prevenção, intensificada a partir deste mês no Rio, tem por
objetivo reduzir os riscos. Mas não pode freá-los. Segundo o
3. secretário municipal de Saúde, Hans Dohmann, na perspectiva
mais pessimista, que, segundo ele, "têm grande chance de se
concretizar", esse surto de dengue será um dos piores já
enfrentados pelos cariocas. Dohmann baseia-se em dois aspectos.
O primeiro é a análise de dados técnicos. Eles mostram que nos
anos anteriores a uma epidemia no Rio sempre há um pico menor
da doença. É o caso dos anos de 2001 e 2007, antes de duas
graves epidemias. No verão passado, em 2011, houve mais casos
de dengue no que nos outros. O outro ponto levantado por
Dohmann é o tipo 4, que circula em Niterói, cidade perto do Rio. "É
uma questão de tempo esse vírus chegar", diz.
Em um olhar mais otimista, o secretário também não descarta a
gravidade da dengue. "Em um cenário otimista, haverá significativo
aumento de casos, que talvez não chegue ao nível de epidemia.
Mas será, fatalmente, um verão com alto número de contaminados",
afirma.
Segundo o secretário, medidas de combate à dengue já vêm sendo
implementadas desde 2009, quando a cidade começou a adquirir,
por exemplo, novos fumacês. De janeiro a setembro deste ano, o
Rio teve 67.540 casos de dengue e 43 mortes. A cidade foi
responsável por 30% de óbitos pela doença no estado, número
inferior aos das epidemias de 2002 e de 2008- 70% e 60%
respectivamente.
Dados da dengue- No primeiro semestre deste ano, foram
confirmados 310 óbitos no país, sendo a maioria em São Paulo, Rio
de Janeiro, Ceará, Bahia e Amazonas. O total de notificações
chegou a 715.666, com 8.102 casos graves. O predomínio da
circulação é do vírus tipo 1, mas há presença significativa dos tipos
2 e 4. No relatório do Ministério da Saúde, divulgado em julho, já
era destacado: "Esse cenário, associado às condições ambientais,
permitem a manutenção do mosquito Aedes aegypti em nossas
cidades e alerta para a possibilidade de persistência da transmissão
em níveis elevados no verão de 2012".
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