2. Relatório de
Estabilidade Financeira
Setembro 2014
Volume 13 | Número 2
ISSN 2176-8102
CNPJ 00.038.166/0001-05
Relatório de Estabilidade Financeira Brasília v. 13 nº 2 set. 2014 p. 1-56
3. Relatório de Estabilidade Financeira
Publicação semestral do Banco Central do Brasil (BCB)
É permitida a reprodução das matérias, desde que mencionada a fonte: Relatório de Estabilidade Financeira, volume 13, nº 2.
Eventuais divergências entre dados e totais ou variações percentuais são provenientes de arredondamentos.
Não são citadas as fontes das tabelas e dos gráfi cos de autoria exclusiva do Banco Central do Brasil.
Divisão de Atendimento ao Cidadão
Banco Central do Brasil
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4. Sumário
Prefácio 5
Sumário executivo 6
1 Ambiente macroeconômico e financeiro 7
1.1 Introdução ___________________________________________________________________ 7
1.2 Mercados fi nanceiros internacionais _______________________________________________ 7
1.3 Mercado fi nanceiro nacional ____________________________________________________ 11
2 Sistema bancário 15
2.1 Introdução __________________________________________________________________ 15
2.2 Liquidez ____________________________________________________________________ 15
2.3 Crédito _____________________________________________________________________ 17
2.4 Rentabilidade ________________________________________________________________ 21
2.5 Solvência ___________________________________________________________________ 22
2.6 Testes de estresse de capital _____________________________________________________ 24
2.6.1 Análise de cenário – Testes de estresse nas condições macroeconômicas ____________ 25
2.6.2 Análise de sensibilidade __________________________________________________ 26
3 Sistema de Pagamentos Brasileiro 31
3.1 Desempenho dos sistemas de transferência de fundos ________________________________ 31
3.2 Desempenho dos sistemas de compensação e de liquidação de títulos,
valores mobiliários, derivativos e câmbio __________________________________________ 32
4 Organização do Sistema Financeiro Nacional 36
4.1 Introdução __________________________________________________________________ 36
4.2 Instituições bancárias __________________________________________________________ 36
4.3 Níveis de concentração no Sistema Financeiro Nacional ______________________________ 37
4.4 Instituições não bancárias ______________________________________________________ 39
4.5 Participação estrangeira no Sistema Financeiro Nacional ______________________________ 39
4.6 Participação de instituições fi nanceiras brasileiras no exterior __________________________ 40
5. 5 Regulação do Sistema Financeiro Nacional 41
5.1 Introdução ________________________________________________________________ 41
5.2 Demonstrações consolidadas do conglomerado prudencial ____________________________ 41
5.3 Responsabilidade socioambiental das instituições do sistema fi nanceiro __________________ 42
5.4 Comitê de auditoria ___________________________________________________________ 43
5.5 Letras Financeiras como instrumento de capital _____________________________________ 43
5.6 Movimentações em contas de depósito em moeda nacional tituladas por organismos
internacionais acreditados pelo Governo brasileiro para operações de captação e
fi nanciamento em reais; aperfeiçoamentos na classifi cação estatística ____________________ 44
Boxes
Evolução do Endividamento das Empresas não Financeiras após a Crise Internacional de 2008 ___ 27
Trabalho para discussão que versa sobre estabilidade fi nanceira ____________________________ 45
Apêndice 46
Anexo 51
6. Setembro 2014 | Relatório de Estabilidade Financeira | 5
Prefácio
O Relatório de Estabilidade Financeira (REF) é uma
publicação semestral do Banco Central do Brasil (BCB)
destinada a apresentar, com foco no risco sistêmico,
os principais resultados das análises sobre o Sistema
Financeiro Nacional (SFN), especialmente com respeito
a sua dinâmica recente, às perspectivas e ao grau de
resiliência a eventuais choques na economia brasileira ou
no próprio sistema. Esta edição concentra-se nos eventos
ocorridos no primeiro semestre de 2014.
O relatório é constituído por cinco capítulos. No primeiro
– Ambiente macroeconômico e financeiro –, é realizada
a análise dos principais mercados internacionais e seu
reflexo no mercado financeiro nacional. O segundo
capítulo – Sistema bancário – apresenta um panorama
da exposição a riscos, da rentabilidade e da solvência
das instituições e dos conglomerados que compõem o
sistema bancário brasileiro. Os testes de estresse de risco
de mercado e de crédito e seus reflexos sobre a situação
de solvência das instituições estão incluídos nesse
capítulo. No terceiro capítulo – Sistema de Pagamentos
Brasileiro –, são descritos os resultados da avaliação
acerca do funcionamento do Sistema de Pagamentos
Brasileiro (SPB) e do desempenho dos sistemas de
liquidação, as principais atividades e os avanços
ocorridos no período, o comportamento da liquidez
intradia e o resultado dos testes de estresse dos sistemas
de compensação e de liquidação de títulos e valores
mobiliários, de derivativos e de câmbio interbancário.
O quarto capítulo – Organização do Sistema Financeiro
Nacional – analisa as principais alterações ocorridas no
controle acionário de instituições financeiras. O quinto
capítulo – Regulação do Sistema Financeiro Nacional
– trata das principais normas aprovadas pelo Conselho
Monetário Nacional (CMN) e pelo BCB para regular o
funcionamento do SFN.
Esta edição apresenta, também, boxes tratando da evolução
do endividamento das empresas não financeiras após a
crise internacional de 2008 e uma seleção de trabalhos
para discussão que versam sobre estabilidade financeira.
O relatório em PDF está disponível no endereço eletrônico
<www.bcb.gov.br/?relestab>. Também está disponível
nesse mesmo endereço a base de dados utilizada para a
elaboração dos gráficos e tabelas do relatório, além de
outros dados de interesse, como a matriz de migração de
classificação de crédito e comparativos internacionais
dos principais Financial Soundness Indicators (FSIs).
Adicionalmente, as séries temporais relacionadas à
estabilidade financeira podem ser encontradas em <http://
www4.bcb.gov.br/pec/series/port/aviso.asp>.
7. Setembro 2014 | Relatório de Estabilidade Financeira | 6
Sumário executivo
A despeito do crescimento econômico moderado nas
principais áreas econômicas, os mercados financeiros
se caracterizaram pela diminuição da volatilidade, em
especial na segunda metade do primeiro semestre de
2014. Verificou-se abrandamento nas condições de
financiamento para as economias emergentes e periféricas
da Área do Euro e a melhora generalizada na precificação
de seus ativos financeiros, ainda que tenham ocorrido
períodos de aumento da volatilidade nos mercados
cambiais ao longo do semestre.
No Brasil, em maio de 2014, o BCB interrompeu o ciclo
de aumento da taxa de juros iniciado em abril de 2013 e,
em junho, anunciou a manutenção, com modificações,
do programa de leilões de swap cambial e de venda de
dólares com compromisso de recompra, com o objetivo
de prover proteção cambial aos agentes econômicos e
proporcionar liquidez ao mercado de câmbio.
Ao final do semestre, os juros domésticos futuros
apresentaram trajetória de queda, o mercado bursátil
exibiu tendência de alta e, no mercado de câmbio,
houve redução da volatilidade da cotação do real frente
à moeda norte-americana. Nesse cenário, o sistema
bancário brasileiro manteve-se apresentando baixo risco
de liquidez e elevada solvência.
O risco de liquidez continua baixo, apesar do aumento
no período em razão do movimento de alocação de
recursos para crédito, principalmente em financiamentos
habitacionais, que provoca redução da participação dos
ativos líquidos no balanço das instituições e alongamento
de prazo nas carteiras de crédito.
As provisões para o risco de crédito apresentam-se
adequadas a um novo cenário que aponta para leve
aumento do risco de crédito, decorrente da elevação
das taxas de juros, do provável fim do ciclo de redução
da inadimplência e da redução no índice de cobertura.
Compõem também esse ambiente o menor ritmo de
crescimento do crédito e a manutenção de práticas e
de critérios saudáveis na concessão de novas operações
de crédito.
O retorno sobre o patrimônio líquido (RSPL) do sistema
avançou no semestre, impulsionado por ganhos com
tesouraria, os quais compensaram a queda na margem
líquida de crédito.
A solvência do sistema bancário apresentou estabilidade
e mantém-se em patamar elevado. Os índices de
capitalização permanecem em níveis superiores aos
requerimentos regulatórios, o que, associado aos
resultados da simulação da plena implementação do
arcabouço de Basileia III e da introdução do futuro
requerimento de razão de alavancagem, confirma a
confortável solvência do sistema bancário.
Nas simulações de situações de estresse, o sistema
bancário brasileiro apresentou adequada capacidade
de suportar efeitos de choques decorrentes de cenários
macroeconômicos adversos ou de mudanças abruptas nas
taxas de juros, de câmbio ou de inadimplência.
O Sistema de Pagamentos Brasileiro (SPB) funcionou
de forma eficiente e segura no primeiro semestre de
2014. As análises de backtesting, periodicamente
realizadas para os sistemas de compensação e
de liquidação de transações com títulos, valores
mobiliários, derivativos e moeda estrangeira, nos quais
há uma entidade atuando como contraparte central
(CPC), apresentaram resultados satisfatórios ao longo
do semestre. Nos sistemas de transferência de fundos,
a liquidez intradia agregada disponível continuou
acima das necessidades das instituições financeiras
participantes, o que garante que as liquidações ocorram
com tranquilidade, sobretudo no que diz respeito ao
Sistema de Transferência de Reservas (STR).
8. Ambiente macroeconômico e financeiro 1
1.1 Introdução
No ambiente internacional, prevalecem perspectivas
de atividade global mais intensa no médio prazo, não
obstante o dinamismo aquém do esperado em importantes
economias maduras e emergentes no primeiro semestre de
2014. Em contexto de ritmo oscilante de crescimento e de
inflação moderada nos Estados Unidos da América (EUA)
e de recuperação lenta no Japão e na Europa (com risco de
deflação na Área do Euro), fortaleceram-se expectativas
de manutenção do ambiente de alta liquidez global. Para
tal percepção, contribuíram o gradualismo sinalizado pelo
banco central dos EUA (Fed) na execução do tapering1 e
a disposição do Banco Central Europeu (BCE)2, do Banco
do Japão (BoJ) e de autoridades chinesas em manter e/ou
aprofundar suas políticas expansionistas, caso necessário.
Nesse cenário, a demanda por ativos financeiros de
risco foi impulsionada ao longo do semestre, enquanto
indicadores de volatilidade declinaram para patamares
historicamente reduzidos.
Em consonância com esse quadro, verificaram-se alívio
das condições de financiamento para as economias
emergentes e periféricas da Área do Euro e a melhora
generalizada na precificação de seus ativos financeiros3,
ainda que tenham ocorrido períodos de aumento da
volatilidade nos mercados cambiais ao longo do semestre.
Os índices de mercados acionários de economias
Setembro 2014 | Relatório de Estabilidade Financeira | 7
1/ Tapering: redução do volume de compras mensais de ativos pelo Fed
iniciada em janeiro de 2014. Trata-se do estágio inicial do processo de
normalização da política monetária dos EUA, importante fator para a
consolidação da estabilidade financeira global. O Fed sinalizou que pretende
encerrar as compras mensais de títulos em outubro de 2014, mantendo,
porém, a política monetária acomodatícia por tempo considerável.
2/ Em junho, o Banco Central Europeu (BCE) divulgou conjunto amplo
de medidas de política monetária não convencional para impulsionar a
concessão de crédito no bloco europeu, com o objetivo de alavancar o
crescimento econômico e mitigar os riscos de deflação.
3/ Destaque-se a melhora na classificação de risco soberano da Espanha
(Standard & Poor’s), da Grécia (Fitch) e de Portugal (Moody’s), que
concluiu o seu programa de assistência financeira internacional.
maduras (com recordes históricos de alta) e de economias
emergentes também foram beneficiados pela redução das
taxas de juros de longo prazo em nível global.
1.2 Mercados financeiros
internacionais
A despeito do crescimento econômico moderado nas
principais áreas econômicas, os mercados financeiros
se caracterizaram pela diminuição da volatilidade,
em especial na segunda metade do semestre. Entre
os fatores que contribuíram para essa redução, estão
a maior previsibilidade sobre a gradual retirada dos
estímulos monetários nos EUA; a decisão do comitê de
política monetária do BCE, que reduziu as taxas anuais
das principais operações de refinanciamento, depósito
e empréstimo, além de tomar medidas adicionais de
aumento da liquidez; e a percepção de diminuição do risco
sistêmico e da ocorrência de eventos extremos no sistema
financeiro, com o setor bancário de economias maduras
reduzindo seu grau de alavancagem e melhorando os
níveis e a qualidade de seu capital próprio.
Essa conjunção de fatores permitiu a elevação nos
preços dos ativos financeiros de maior risco nos
mercados acionários e de dívidas, tanto soberanas
quanto de empresas de classificação de risco menos
favorável. Desde março de 2014, as emissões de títulos
soberanos e corporativos de economias emergentes e em
desenvolvimento atingiram recordes históricos de alta,
evidenciando condições internacionais de financiamento
mais favoráveis4. O Institute of International Finance
(IIF), no relatório Global Economic Monitor de junho de
2014, avaliou que há tendência de aumento dos fluxos de
4/ Global Economic Prospects – Financial Markets Outlook, Banco Mundial,
junho de 2014.
9. 650
520
390
260
130
Gráfico 1.2.2 – CDS soberanos (5 anos)
350
290
230
170
110
Gráfico 1.2.3 – CDS soberanos (5 anos)
Gráfico 1.2.4 – Taxas de câmbio de economias avançadas
135
125
115
105
95
Euro/Dólar Libra/Dólar Iene/Dólar
Setembro 2014 | Relatório de Estabilidade Financeira | 8
capital para as economias emergentes, principalmente a
partir do segundo trimestre do ano.
Esse cenário propiciou redução nos rendimentos anuais
dos títulos soberanos de economias maduras. No primeiro
semestre, os rendimentos anuais dos títulos de 10 anos
dos EUA recuaram de 3,03% para 2,53%, e os da
Alemanha, de 1,93% para 1,25% (gráfi co 1.2.1).
Gráfico 1.2.1 – Rendimento de títulos soberanos (10 anos)
8,0
6,4
4,8
3,2
1,6
Com a redução da aversão ao risco, verifi cou-se o declínio
dos prêmios dos Credit Default Swaps (CDS) de cinco
anos (expressos em pontos-base [p.b]) das principais
economias da Europa: Itália, de 168 para 95; Espanha, de
157 para 66; França, de 54 para 40; e Alemanha, de 25
para 20 (gráfi co 1.2.2). Na mesma base de comparação, os
prêmios dos CDS de cinco anos de economias emergentes
também declinaram, com destaque para a Turquia, de 245
para 177, e para o Brasil, de 194 para 145 (gráfi co 1.2.3).
Os prêmios respectivos da África do Sul, do México e do
Chile reduziram-se para 177, 67 e 64, de 204, 92 e 80, na
ordem. Destaque-se a exceção da Rússia, cujo prêmio de
CDS elevou-se para 184, de 167, no início do período,
repercutindo a crise na Ucrânia. Adicionalmente, o risco de
moratória soberana na Argentina5 provocou elevação dos
CDS do país, com contágio limitado sobre a precifi cação
de ativos de renda fi xa de outras economias emergentes.
No primeiro semestre de 2014, o dólar dos EUA
desvalorizou-se 3,8% frente ao iene e 3,2% frente à libra
esterlina, mas apreciou-se 0,4% em relação ao euro, haja
vista a perspectiva de aprofundamento da acomodação
monetária no bloco europeu (gráfi co 1.2.4). Evidenciando
o ambiente de menor aversão ao risco, na mesma base
5/ Em consequência da decisão da Corte Suprema dos EUA em favor do
pagamento integral a grupo de investidores (holdouts) que permanecem
em disputa judicial sobre a restruturação da dívida soberana argentina.
de comparação, o dólar depreciou-se frente às moedas
do Brasil (6,3%), da Índia (2,6%), da Indonésia (2,4%)
e da Turquia (1,4%) (gráfi co 1.2.5).
0,0
Jul
2012
Set Nov Fev
2013
Abr Jul Set Nov Fev
2014
Abr Jun
EUA Alemanha Itália Espanha
Fonte: Bloomberg
% a.a.
0
Jul
2012
Set Nov Fev
2013
Abr Jul Set Nov Fev
2014
Abr Jun
Alemanha França Espanha Itália
Fonte: Bloomberg
p.b.
50
Jul
2012
Set Nov Fev
2013
Abr Jul Set Nov Fev
2014
Abr Jun
África do Sul Rússia Turquia
Brasil México Chile
Fonte: Bloomberg
p.b.
85
Jul
2012
Set Nov Fev
2013
Abr Jul Set Nov Fev
2014
Abr Jun
Fonte: Bloomberg
2.7.2012 = 100
10. 2.7.2012 = 100
165
147
129
111
93
O índice Chicago Board Options Volatility Index (VIX),
que afere o sentimento dos investidores a partir da
volatilidade implícita de curto prazo dos preços das
opções do índice S&P 500, que no final de 2013 situou-se
em 13,7 pontos, alcançou 23 pontos, nível mais alto
no semestre, em 3 de fevereiro, refletindo as incertezas
associadas à desaceleração da economia chinesa e
à instabilidade político-econômica na Argentina, na
Tailândia, na Turquia e na Ucrânia. No fechamento do
semestre, o VIX recuou para 11,6 pontos (gráfico 1.2.8),
acumulando redução de 31,4% em doze meses.
25
22
19
16
13
Os índices Morgan Stanley Capital International
(MSCI)7 para bancos dos EUA e de economias
emergentes elevaram-se, respectivamente, 4,4% e 4,7%
no primeiro semestre de 2014, comparativamente às
variações de 10,7% e 2%, no semestre anterior. O índice
MSCI para bancos europeus mostrou relativa estabilidade
7/ Os índices refletem médias ponderadas dos preços das ações das
respectivas indústrias bancárias.
Setembro 2014 | Relatório de Estabilidade Financeira | 9
140
128
116
104
92
Rúpia indonésia Rande Real Lira Baht
Com o aumento do apetite por ativos de risco a partir do
fim de fevereiro, as cotações das bolsas de valores de várias
economias maduras elevaram-se, atingindo recordes ao
longo do primeiro semestre (gráfico 1.2.6). Os índices
S&P 500 (EUA) e DAX (Alemanha) valorizaram-se 6,5%
e 2,9%, na ordem. O FTSE 100 (Reino Unido) apresentou
relativa estabilidade, avançando 0,2% no período. O
índice Nikkei (Japão), após valorizar-se 51% em 2013,
declinou 6,9%, refletindo os efeitos da valorização do
iene frente ao dólar no período. Mercados acionários de
importantes economias emergentes também apresentaram
ganhos expressivos, favorecidos, especialmente, pelo
realinhamento das expectativas referentes às taxas de
juros futuras nas economias centrais: Índia (20,2%),
África do Sul (10,4%), Tailândia (14,4%), Indonésia
(14,1%) e Brasil (3,2%)6 (gráfico 1.2.7). Na China, o
mercado acionário recuou 2,3%, no mesmo período.
200
176
152
128
104
6/ Em contraste com os índices acionários nos EUA e na Área do Euro, ressalte-se
que os índices acionários de mercados emergentes relevantes ainda se
situam em patamares inferiores aos observados no início de 2013, refletindo
o menor dinamismo da atividade econômica e dos lucros corporativos.
Título em 7,8 pontos para caber no Gráfico.
80
Jul
2012
Set Nov Fev
2013
Abr Jul Set Nov Fev
2014
Abr Jun
Fonte: Bloomberg
2.7.2012 = 100
Gráfico 1.2.5 – Taxas de câmbio de economias
emergentes versus dólar dos EUA
80
Jul
2012
Set Nov Fev
2013
Abr Jul Set Nov Fev
2014
Abr Jun
Gráfico 1.2.6 – Bolsas de valores
Economias desenvolvidas
EUA – S&P 500 Reino Unido – FTSE 100
Alemanha – DAX Japão – NIKKEI 225
Fonte: Bloomberg
2.7.2012 = 100
75
Jul
2012
Set Nov Fev
2013
Abr Jul Set Nov Fev
2014
Abr Jun
Gráfico 1.2.7 – Bolsas de valores
Economias emergentes
África do Sul Brasil Índia
Indonésia Tailândia Turquia
Fonte: Bloomberg
10
Jul
2012
Set Nov Fev
2013
Abr Jul Set Nov Fev
2014
Abr Jun
Fonte: Bloomberg
pontos
Gráfico 1.2.8 – CBOE Volatility Index – VIX
Índice de volatilidade
11. 600
480
360
240
120
Setembro 2014 | Relatório de Estabilidade Financeira | 10
no primeiro semestre, após elevar-se 22,9% no segundo
semestre de 2013 (gráfico 1.2.9).
165
149
133
117
101
Os custos médios de proteção contra default (CDS) de
bancos relevantes dos EUA e da Europa declinaram
significativamente ao longo do primeiro semestre de
2014, refletindo a percepção de maior resiliência dos
sistemas bancários em nível global, o ambiente de
recuperação do crescimento, a redução da fragmentação
financeira na Área do Euro e a atuação expansionista
do BCE8. Nesse sentido, os prêmios médios dos CDS
de cinco anos de bancos declinaram na Itália (33%), na
Espanha (27,8%), no Reino Unido (24,9%), na Alemanha
(17,2%)%, na França (11,5%) e nos EUA (13%) (gráfico
1.2.10)9. Destaque-se que na Área do Euro a avaliação da
qualidade dos ativos do sistema bancário e a realização
de testes de estresse têm encorajado a recapitalização
voluntária dos bancos, favorecendo a elevação da
confiança no sistema financeiro do bloco.
De forma prospectiva, não obstante o cenário
macrofinanceiro relativamente benigno vigente ao longo
do primeiro semestre de 2014, importa destacar que os
riscos para a estabilidade financeira global permanecem
elevados, uma vez que as condições prevalecentes
nos mercados financeiros nos últimos meses têm
encorajado eventual subprecificação do risco e aumento
da alavancagem financeira, enquanto fragilidades
estruturais relevantes persistem em economias avançadas
e emergentes. Uma eventual reversão na percepção de
8/ A fragmentação financeira se manifesta pela migração de fluxos de não
residentes dos países mais vulneráveis da Área do Euro (Espanha, Grécia,
Irlanda, Itália e Portugal) para seus mercados domésticos, assim como
a transferência de depósitos de residentes dessas economias para outras
consideradas mais seguras.
9/ Média aritmética dos dois maiores bancos de cada país pelo critério de
capitalização de mercado.
risco ou no ritmo de normalização da política monetária
em economias maduras pode dificultar as condições de
financiamento de empresas e de mercados emergentes,
com riscos à estabilidade financeira. Na Área do Euro,
a despeito do compromisso das autoridades com o
aprofundamento da união bancária, importantes avanços
ainda são necessários para a desvinculação entre os
riscos do sistema bancário e o risco soberano10 e para a
contenção da fragmentação financeira.
Em relação às economias emergentes, as perspectivas
de redução da liquidez internacional no médio prazo e
de moderação de seu ritmo de crescimento econômico
permanecem demandando, de forma geral, esforços de
reequilíbrio macrofinanceiro, ainda que considerada a
elevada diversidade nos fundamentos dessas economias.
Notadamente, os investidores permanecem atentos ao
ritmo de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) e do
endividamento público e privado, embora a maioria dos
sistemas bancários de economias emergentes mantenha
reservas de capital sólidas, significativamente acima das
recomendadas pelo Acordo de Basileia III. Ajustes mais
abruptos das expectativas sobre a trajetória das taxas de
juros globais, contudo, podem provocar desequilíbrios
financeiros associados ao descasamento entre ativos
e passivos em moedas diferentes e à sensibilidade de
portfólios a mudanças nas taxas de juros, comprometendo
a solidez dos balanços de bancos e famílias, em particular
em economias com alto grau de alavancagem.
10/ Nesse sentido, o BCE assumirá efetivamente responsabilidades de
supervisão bancária no último trimestre de 2014. Em março deste ano, o
Parlamento, a Comissão e o Conselho Europeus decidiram que o próximo
passo para o aprofundamento da união bancária deve ser a implementação
de mecanismo único de resolução bancária.
85
Jul
2012
Set Nov Fev
2013
Abr Jul Set Nov Fev
2014
Abr Jun
Gráfico 1.2.9 – MSCI bancos
EUA Europa Economias emergentes
Fonte: Bloomberg
2.7.2012 = 100
0
Jul
2012
Set Nov Fev
2013
Abr Jul Set Nov Fev
2014
Abr Jun
p.b.
Gráfico 1.2.10 – CDS de 5 anos – Bancos
Prêmios médios de países selecionados1/
Espanha França Alemanha
Reino Unido EUA Itália
Fonte: Bloomberg
1/ Calculados pela média aritmética dos prêmios de CDS dos dois maiores
bancos pelo critério de capitalização de mercado de cada país. Exceção
EUA: JPM Chase e Bank of America.
12. Setembro 2014 | Relatório de Estabilidade Financeira | 11
Nesse sentido, as condições de financiamento de
economias emergentes, apuradas pelo IIF, pioraram no
primeiro trimestre de 2014, principalmente na Europa
emergente e na América Latina, refletindo o desempenho
econômico mais fraco que o esperado, com impacto
negativo sobre a demanda por crédito e elevação das
taxas de inadimplência. Pelo lado da oferta, as restrições
para a concessão de crédito mantiveram-se estáveis11.
Riscos adicionais advêm de eventual deterioração da
estabilidade financeira e do ritmo de atividade econômica
na China, como possível efeito colateral das ações
governamentais destinadas a disciplinar o mercado de
crédito. Nesse sentido, a transição ordenada no mercado
de crédito chinês demanda a conjugação de várias
iniciativas, tais como a elevação da capacidade de o banco
central lidar com alterações repentinas na demanda por
liquidez, a implantação de sistema de seguro de depósitos,
a liberalização das taxas de juros e a consolidação de
arcabouço de resolução bancária12.
Eventos recentes nos mercados financeiros da Argentina
e da Turquia mostraram, até o momento, limitado efeito
de contágio nos principais mercados emergentes, que
mantêm bons fundamentos macroeconômicos, com
níveis confortáveis de reservas internacionais e políticas
fiscais sustentáveis. Adicionalmente, o aumento da
volatilidade nesses países entre maio e dezembro de 2013
desencadeou diversas ações, tais como ajustes das taxas
básicas de juros, acordos bilaterais de swaps de moedas
e medidas de caráter prudencial destinadas a limitar a
exposição a moedas estrangeiras, o que contribuiu para
elevar o grau de confiança dos mercados relativamente
a essas economias.
Ressalte-se, por fim, que os principais fatores de risco
para a estabilidade financeira internacional têm sido
os ajustes abruptos na inclinação da curva de juros em
economias maduras, em especial nos EUA; a deterioração
do contexto geopolítico, com os conflitos na Ucrânia
e no Oriente Médio, cujos efeitos podem impactar
o preço de importantes commodities, em especial as
energéticas; e desdobramentos políticos e financeiros
adversos em economias maduras e emergentes, com
potenciais impactos em economias consideradas de maior
vulnerabilidade. Tais condições seguem demandando
11/ IIF, Emerging Markets Bank Lending Conditions Survey (Apr/14) <http://
www.iif.com/emr/resources+3470.php>.
12/ Conforme <http://www.imf.org/External/Pubs/FT/GFSR/2014/01/pdf/
text.pdf>.
monitoramento contínuo e coordenado por parte das
autoridades reguladoras em nível mundial.
1.3 Mercado financeiro nacional
No início do primeiro semestre de 2014, a perspectiva
de recuperação da economia norte-americana e a
consequente expectativa de que o Fed retirasse os
estímulos monetários mais cedo que o esperado
contribuíram para a elevação da volatilidade nos
mercados financeiros internacionais, com efeitos sobre
o mercado financeiro nacional. Posteriormente, com a
reversão dessa expectativa, as taxas de juros domésticas
futuras exibiram trajetória de queda, e o mercado bursátil
passou a operar em alta, encerrando o semestre no
mesmo patamar de outubro de 2013. No âmbito interno,
as sucessivas revisões para baixo das estimativas de
crescimento econômico13 também contribuíram para a
redução das taxas de juros domésticas. Além disso, a
depreciação do real frente ao dólar norte-americano no
início do ano foi revertida, e o risco-país voltou a exibir
trajetória declinante14.
O BCB interrompeu em maio de 2014 o ciclo de
aumento da taxa de juros iniciado em abril de 2013,
totalizando elevação de 3,75 pontos percentuais (p.p.)
ao longo do período. Em janeiro, diante de uma inflação
cuja resistência se mostrava ligeiramente acima da
antecipada15, o Comitê de Política Monetária (Copom)
manteve o ritmo de elevação da meta para a taxa básica
de juros em 0,5 p.p., reduzindo-o para 0,25 p.p. em
fevereiro e em abril. A partir de então, a estabilidade da
meta para a taxa Selic em 11,0% foi acompanhada, no
mercado futuro de taxas de juros, de redução das taxas
referentes aos demais prazos. Isso ocorreu em razão da
desaceleração do nível de atividade econômica e redução
das taxas mensais de inflação16 (gráfico 1.3.1).
13/ A taxa estimada para o crescimento do PIB em 2014, nos relatórios de
inflação do BCB de março e de junho era de 2,0% e 1,6% respectivamente.
14/ O Embi+Brasil subiu de 221 para 279 pontos, em 3 de março. Depois
apresentou tendência de queda até atingir 205 pontos no final do primeiro
semestre, retornando ao patamar do primeiro semestre de 2013.
15/ A mediana das expectativas de inflação (Índice Nacional de Preços ao
Consumidor Amplo [IPCA]) acumulada para os próximos doze meses
(suavizada) ao final de dezembro de 2013 foi de 6,01% e oscilou em torno
desse patamar ao longo do semestre seguinte, encerrando-o em 5,90%.
A meta de inflação foi fixada pelo Conselho Monetário Nacional (CMN)
em 4,5% para 2014, 2015 e 2016 e os intervalos de tolerância em 2,0 p.p.
abaixo e acima da meta.
16/ O IPCA referente ao mês de dezembro foi de 0,92%. Após recuo para
0,55% em janeiro, voltou a subir, retornando a 0,92% em março. No
segundo trimestre, o IPCA apresentou declínio e, em junho, já estava em
0,4%. O acumulado em doze meses, entretanto, manteve-se em elevação
desde março e registrou 6,34% em junho de 2014.
13. 4,0
3,2
2,4
1,6
0,8
Gráfico 1.3.2 – Volatilidade das taxas de juros
Setembro 2014 | Relatório de Estabilidade Financeira | 12
% a.a.
13,5
12,3
11,1
9,9
8,7
Gráfico 1.3.1 – Evolução das taxas de juros
Taxa Selic e swap de 3 e 6 meses, 1 ano e 2 e 5 anos
No início de 2014, as taxas no mercado futuro de juros
no Brasil acompanharam o comportamento ascendente
da taxa básica, oscilando, em seguida, em torno do
novo patamar alcançado, particularmente as de prazos
mais longos. A partir de março, entretanto, em razão
da expectativa do fim do ciclo de aperto monetário, as
taxas de prazos mais longos assumiram uma trajetória
de queda. Os agentes de mercado esperavam que a meta
para a taxa básica se mantivesse constante por algum
tempo ao término desse ciclo, o que levou as taxas de
curto prazo a convergirem para a taxa básica. Embora
tenha ocorrido acentuada perda de inclinação da curva de
juros, o processo não foi contínuo ao longo do semestre.
Em janeiro, a intensidade do aumento da meta para a taxa
Selic e o sell-off dos mercados emergentes, com a crise
cambial na Argentina e na Turquia, contribuíram para o
ganho de inclinação da curva de juros. Ao final do mês,
o Tesouro Nacional anunciou um leilão extraordinário de
recompra de títulos, realizado no início de fevereiro, o
que favoreceu o processo de flattening da curva de juros.
Entretanto, para a maioria dos participantes de mercado,
as incertezas quanto à condução da política fiscal17
contribuíram para que as expectativas inflacionárias se
mantivessem em patamares elevados e as taxas de juros,
em alta. No âmbito externo, a continuidade da redução
dos estímulos monetários nos EUA e a possibilidade
de que o aumento das taxas de juros pudesse ocorrer
antes do esperado adicionaram pressão às taxas de juros
no mercado doméstico. No entanto, a partir do final
17/ As soluções para os problemas do setor elétrico e a defasagem acumulada
dos preços administrados adicionam incertezas à condução da política
fiscal. No ano, até junho, o superavit acumulado do setor público alcançou
R$29,4 bilhões, ante R$52,2 bilhões no mesmo período do ano anterior.
Considerando-se os fluxos acumulados em doze meses, o superavit
primário atingiu R$68,5 bilhões, totalizando 1,36% do PIB, 0,52 p.p.
abaixo do registrado no ano de 2013.
de março18, registrou-se forte queda nas taxas longas
até meados de junho, impulsionadas pela redução
dos yields dos Treasuries, que ampliou a entrada de
recursos estrangeiros em operações de carry trade e
levou à valorização do real e à redução das taxas de
juros futuros. Além disso, a perspectiva de manutenção
da política monetária acomodatícia nas principais
economias desenvolvidas19 contribuiu para o recuo das
curvas de juros nessas economias e em países emergentes.
Internamente, a queda nas taxas foi impulsionada
pelo arrefecimento da atividade econômica20 e pela
desaceleração dos índices de inflação. Em junho, o BCB
anunciou que estenderia, até o final do ano, o programa de
leilões de câmbio que se encerraria no final daquele mês e,
embora a taxa de câmbio tenha se mantido relativamente
estável, as taxas de juros subiram na segunda quinzena,
acompanhando o aumento dos Treasuries.
As taxas de juros domésticas apresentaram baixa
volatilidade no primeiro semestre de 2014. As volatilidades
das taxas de médio e de longo prazo mantiveram-se no
patamar registrado no último trimestre de 2013. Ao final
de março, o recrudescimento da inflação doméstica, as
oscilações dos Treasuries e as incertezas sobre o prazo
para o fim dos estímulos do Fed resultaram em aumento
pontual da volatilidade na parte longa. A partir do final
de maio, a volatilidade voltou a subir ligeiramente,
inicialmente em função da incerteza quanto à manutenção
18/ Deve-se observar que não se verificou impacto expressivo do rebaixamento
do rating soberano do Brasil pela S&P em 24 de março, que mantém,
entretanto, a classificação de grau de investimento.
19/ No início de junho, o BCE cortou em 0,10 p.p. a taxa de refinanciamento,
para 0,15%; reduziu a taxa para depósitos bancários para -0,10% e
diminuiu a taxa de juros de empréstimo marginal para 0,40%.
20/ Na série dessazonalizada, após aumento de 1,1% em janeiro, o IBC-Br
manteve-se praticamente estável até abril, recuando 2,3% no acumulado
de maio e junho.
7,5
Jul
2013
Ago Set Out Nov Dez Jan
2014
Fev Mar Abr Mai Jun
Taxa Selic 3 meses 6 meses
1 ano 2 anos 5 anos
Fontes: BM&FBovespa e BCB
0,0
Jul
2013
Ago Set Out Nov Dez Jan
2014
Fev Mar Abr Mai Jun
Curto Médio Longo
Fontes: BM&FBovespa e BCB
% a.a.
14. Gráfico 1.3.3 – Taxa de câmbio
R$/US$ EUR/US$
0,79
0,77
0,76
0,74
0,73
0,71
Jul
2013
Ago Set Out Nov Dez Jan
2014
Fev Mar Abr Mai Jun
R$/US$ EUR/US$
Pontos (mil)
59
56
53
49
46
43
Gráfico 1.3.4 – Índice Bovespa
Ago Set Out Nov Dez Jan
2014
Fev Mar Abr Mai Jun
Fonte: BM&FBovespa
Setembro 2014 | Relatório de Estabilidade Financeira | 13
do programa de leilões de câmbio, que expiraria no final
de junho, e, em seguida, com a inversão do movimento de
flattening da curva de juros, acompanhando o movimento
dos Treasuries. A volatilidade das taxas de curto prazo,
por seu turno, apresentou um pequeno repique apenas
em meados de janeiro, em razão de o aumento na taxa
Selic ter superado as expectativas do mercado. A partir
daí, ancorada na maior homogeneidade das expectativas
quanto à evolução da taxa básica de juros, a volatilidade
declinou e, ao final do semestre, já se encontrava próximo
às mínimas históricas (gráfico 1.3.2).
Até o final de janeiro, a taxa de câmbio continuou a
trajetória de alta iniciada no semestre anterior, mas
reverteu o movimento a partir de fevereiro. Desde então,
a volatilidade das taxas retomou a trajetória de queda. A
expectativa com a redução dos estímulos monetários pelo
Fed havia gerado realocação de portfólio nos mercados
internacionais num movimento de flight to quality,
afetando, nesse caso, os países emergentes. A partir de
fevereiro, o Fed sinalizou que essa redução seria mais
suave, desencadeando demanda por maior rentabilidade
por parte dos investidores e, consequentemente, a queda
da divisa norte-americana ante o real, em razão do
decorrente aumento do fluxo de recursos para o país.
Em 8 de abril, a cotação21 atingiu R$2,20/USD e, até
o final do semestre, passou a oscilar entre esse valor e
R$2,25/USD, na maior parte do período. No início de
junho, a expectativa de descontinuidade do programa de
leilões de swap cambial gerou pressão nas cotações, que
apresentaram tendência de alta. Entretanto, a autoridade
monetária, ao comunicar a extensão do programa,
realinhou as expectativas dos agentes, o que contribuiu
para amenizar a volatilidade no mercado de câmbio22.
No semestre, o BCB efetuou leilões de swap cambial
tradicional23 no valor nocional de US$70,2 bilhões
(incluídas as rolagens de vencimentos), terminando
o período com posição líquida em swap passiva em
21/ Cotação da taxa de câmbio real/dólar divulgada pelo BCB (PTAX)
calculada segundo metodologia divulgada pela Circular BCB nº 3.506,
de 23 de setembro de 2010, e atualizada conforme Circular BCB nº 3.537,
de 25 de maio de 2011.
22/ De fato, em 24 de junho, o BCB estendeu o programa de leilões de swap
cambial e de venda de dólares com compromisso de recompra para o
segundo semestre de 2014, com o intuito de prover hedge cambial e
liquidez ao mercado de câmbio com as seguintes condições: realização de
leilões de swap de segunda a sexta-feira, com oferta de US$200 milhões
por dia; realização de leilões de venda de dólares com compromisso de
recompra em função das condições de liquidez do mercado de câmbio;
e, sempre que necessário, realização de operações adicionais de venda
de dólares por meio dos instrumentos ao alcance do BCB.
23/ Leilões de swap cambial realizados pelo Banco Central referenciados
à taxa Selic nos quais o BCB assume a parte passiva em câmbio mais
cupom cambial e a parte ativa em taxa de juros.
câmbio de US$89,9 bilhões. O real encerrou o mês de
junho cotado a R$2,20/USD, com valorização de 6,0%
no semestre. Em relação ao euro, no mesmo período, a
valorização do real foi de 6,3% (gráfico 1.3.3).
2,50
2,42
2,34
2,26
2,18
2,10
O saldo de câmbio contratado registrou fluxo positivo de
US$4,1 bilhões no primeiro semestre de 2014, composto
por US$2,9 bilhões no comercial e por US$1,3 bilhão no
financeiro. O volume líquido de investimento estrangeiro
direto (IED) totalizou US$29,3 bilhões no mesmo período.
Já as reservas internacionais, no conceito de caixa,
encerraram o semestre em US$373,5 bilhões, acréscimo
de 4,1% em relação ao final de dezembro de 2013.
Jul
2013
No mercado acionário, o Índice da Bolsa de Valores
de São Paulo (Ibovespa) continuou o movimento de
queda iniciado em outubro do ano anterior até meados
de março, quando reverteu e iniciou trajetória de alta,
encerrando o primeiro semestre de 2014 com alta de
3,2% (gráfico 1.3.4). Externamente, a dispersão das
expectativas com relação à intensidade na redução
dos estímulos à economia norte-americana pelo Fed
influenciou o mercado. No âmbito interno, a divulgação
do PIB de 2013 acima do esperado ajudou a impulsionar
15. Setembro 2014 | Relatório de Estabilidade Financeira | 14
a BM&FBovespa no final de março e contribuiu para
melhorar a percepção em relação ao Brasil. A partir de
abril, as cotações oscilaram com maior volatilidade e
foram influenciadas, positivamente, pelo forte fluxo
financeiro dos investidores estrangeiros e, negativamente,
pela desaceleração do nível de atividade. No semestre, o
ingresso líquido dos investimentos estrangeiros somou
R$12,2 bilhões, com destaque para o mês de maio, que
registrou entrada de R$5,5 bilhões.
16. Sistema bancário 2
2.1 Introdução
No primeiro semestre de 2014, manteve-se a avaliação
de baixo risco de liquidez e de elevada resiliência do
sistema bancário brasileiro.
O risco de liquidez continua baixo, apesar do aumento
no período decorrente do movimento de alocação de
recursos para crédito, principalmente em financiamentos
habitacionais, o que provoca redução da participação dos
ativos líquidos no balanço das instituições e alongamento
de prazo nas carteiras de crédito.
No que se refere ao risco de crédito, num cenário de menor
ritmo de crescimento das carteiras e de manutenção de
práticas e critérios saudáveis na concessão, as provisões
apresentam-se adequadas para um novo ambiente, que
aponta para leve aumento do risco. Esse aumento decorre
da elevação das taxas de juros, do provável fim do ciclo
de redução da inadimplência e da redução no índice de
cobertura (IC), ainda que este último apresente-se em
níveis elevados para os padrões internacionais.
O retorno sobre o patrimônio líquido (RSPL) do sistema
avançou no semestre, impulsionado por ganhos com
tesouraria, os quais compensaram a queda na margem
liquida de crédito.
A solvência do sistema bancário apresentou estabilidade
e permanece em patamar elevado. Os índices de
capitalização permanecem em níveis superiores aos
requerimentos regulatórios, o que, associado aos
resultados da simulação da plena implementação
antecipada do arcabouço de Basileia III e da introdução
do futuro requerimento de razão de alavancagem,
confirma a confortável solvência do sistema bancário.
Nas simulações de situações de estresse, o sistema
bancário brasileiro apresentou adequada capacidade
de suportar efeitos de choques decorrentes de cenários
macroeconômicos adversos, ou de mudanças abruptas nas
taxas de juros, de câmbio ou de inadimplência.
Destaque-se que, para efeito deste capítulo, o sistema
bancário é constituído pelas instituições banco comercial,
banco múltiplo, caixa econômica, banco de câmbio e
banco de investimento, e pelos conglomerados financeiros
compostos ao menos por uma dessas modalidades de
instituições. Os bancos de desenvolvimento não estão
incluídos nas análises, exceto na seção 2.3 – Crédito, na
qual as análises envolvem todo o SFN.
2.2 Liquidez
O risco de liquidez de curto prazo do sistema bancário
brasileiro continua baixo, não obstante o pequeno
aumento no período, reflexo da pressão por rentabilidade
que motivou as instituições financeiras (IF) a alocar
mais recursos do estoque de captações em carteira de
crédito e menos em ativos líquidos24. O risco de liquidez
estrutural25 também continua baixo, pois o estoque de
recursos estáveis26 tem sido suficiente para suportar
o crescimento do crédito, ainda que pressionado pelo
alongamento no prazo médio dessa carteira.
24/ Para definição de ativos líquidos e de fluxo de caixa estressado, vide
“Conceitos e Metodologias”, itens a e e.
25/ Liquidez estrutural de uma IF refere-se à relação entre operações ativas
de prazos mais longos e as fontes de recursos suficientemente estáveis
para suportá-las. Quanto maior a estabilidade dos recursos, menor o risco
futuro de insuficiência de recursos.
26/ Recursos estáveis são aqueles com risco reduzido de corrida bancária
em situação de estresse: a) primeiramente, pela perspectiva do aplicador
(principal), são estáveis as captações de varejo (detentores não
institucionais); e b) de forma complementar, pela perspectiva do prazo
efetivo do instrumento de captação, sendo estável quando maior que um
ano. Indicador modificado e adaptado do conceito do Financial Soundness
Indicator FSI I22, preconizado pelo Fundo Monetário Internacional
(FMI). Detalhes da definição, ver “Conceitos e Metodologias”, letra b
(sob “captações estáveis”).
Setembro 2014 | Relatório de Estabilidade Financeira | 15
17. ativos mais rentáveis em contrapartida à menor liquidez
(gráfico 2.2.3).
R$ bilhões un.
3.200
2.560
1.920
1.280
640
0,40
0,35
0,30
0,25
0,20
Esse crescimento do crédito foi acompanhado no período
pelo aumento do estoque de recursos estáveis, mantendo
o risco de liquidez estrutural baixo (gráfico 2.2.4). Por
sua vez, o prazo médio da carteira de crédito elevou-se
de 24,6 para 34,9 meses, desde 2010, influenciado
principalmente pelo aumento da participação de
financiamentos habitacionais (gráfico 2.2.5).
140
112
84
56
28
Meses
35
29
23
17
11
Setembro 2014 | Relatório de Estabilidade Financeira | 16
0
0,15
Jan
2012
Jul Jan
2013
Jul Jan
2014
Jun
Gráfico 2.2.3 – Ativos líquidos sobre crédito
Ativos líquidos
Carteira de crédito doméstica
Ativos líquidos/crédito
Estoque de captações líquido de compulsório
O aumento de ativos líquidos em menor proporção que o de
fluxo de caixa estressado (FCE) reduziu levemente o índice
de liquidez (IL)27 do sistema de 1,58 para 1,51 no semestre
(gráfico 2.2.1). Em que pese a redução do IL do sistema,
merece destaque a melhora na distribuição da liquidez
entre as instituições, com redução da representatividade
para o sistema das IF com IL abaixo de 1 (gráfico 2.2.2).
R$ bilhões un.
2,4
1,9
1,4
1,0
0,5
% dos ativos do sistema
50
40
30
20
10
800
640
480
320
160
0
Gráfico 2.2.2 – Distribuição de frequência para o
índice de liquidez1/
Índice de liquidez
A pressão por rentabilidade tem levado as IF a alterar
suas políticas de alocação de recursos. O quociente
entre ativos líquidos e crédito segue em tendência de
queda nos últimos anos, evidenciando a escolha por
27/ O IL relaciona o volume de ativos líquidos disponíveis para a instituição
com o fluxo de caixa estressado (desembolso dos 30 dias/21 dias úteis
subsequentes em cenário de estresse). O fluxo de caixa estressado simula
desembolsos em padrões bem acima dos esperados, tendo por parâmetro
o histórico de crises passadas. Instituições com IL superior a 1,0 (100%)
possuem ativos líquidos suficientes para suportar esse cenário de estresse.
Como a metodologia simula um cenário de trinta dias em que os ativos
líquidos teriam de ser convertidos em dinheiro, eles são marcados a
mercado e/ou sofrem ponderação que simula redução de preço no caso de
venda forçada. Essa métrica de liquidez tem por base os mesmos conceitos
subjacentes ao Liquidity Coverage Ratio (LCR), índice introduzido por
Basileia III. O LCR tem sua implementação prevista a partir de janeiro
de 2015.
0
Jun
2009
Dez Jun
2010
Dez Jun
2011
Dez Jun
2012
Dez Jun
2013
Dez Jun
2014
%
Gráfico 2.2.4 – Captações de recursos estáveis
sobre crédito
5
Dez
2010
Jun
2011
Dez Jun
2012
Dez Jun
2013
Dez Jun
2014
Gráfico 2.2.5 – Prazo médio dos estoques de
crédito e de captações
Prazo médio do estoque de captações
Prazo médio da carteira de crédito
18
6
11
6
7
11 7
64
22 5
9
11
5 8 9
62
0
<0,8 0,8-1,0 1,0-1,2 1,2-1,4 1,4-1,6 1,6-1,8 1,8-2,0 ≥2,0
Dezembro 2013 Junho 2014
1/ Os valores sobre as barras referem-se ao número de instituições financeiras
com índice de liquidez pertencente ao intervalo correspondente.
0,0
Jan
2012
Jul Jan
2013
Jul Jan
2014
Jun
Gráfico 2.2.1 – Índice de liquidez
Ativos líquidos
Fluxo de caixa estressado
Índice de liquidez
18. %
50
40
30
20
10
%
15
12
9
6
3
Gráfico 2.2.7 – Perfil das captações externas como
percentual da captação total
Setembro 2014 | Relatório de Estabilidade Financeira | 17
O aumento de recursos estáveis foi possível com oferta
de instrumentos de longo prazo e sem possibilidade de
resgate antecipado, tais como Letras Financeiras (LF)
e Letras Financeiras Subordinadas (LFS), ampliando a
estabilidade do funding (gráfico 2.2.6).
100%
80%
60%
40%
20%
Por fim, manteve-se inalterada a tendência, iniciada no
segundo semestre de 2012, de queda da exposição do
SFN a captações externas diretas que ingressam no país28.
Nessas, a pequena redução da participação de recursos
externos livres29 confere maior estabilidade ao funding.
Por sua vez, os recursos externos captados por empresas
ou aqueles aplicados diretamente em carteiras de ações
e títulos no país têm crescido quando comparados com
o porte do sistema bancário.
Já o peso dos recursos captados e mantidos no exterior,
que era crescente desde 2011, e que evidencia o
processo de internacionalização dos bancos brasileiros,
estabilizou-se no semestre (gráfico 2.2.7).
Em suma, o risco de liquidez de curto prazo permanece
baixo e o aumento do volume de recursos estáveis
continua suficiente para suportar o crescimento da
carteira de crédito. O risco de liquidez estrutural, por sua
vez, também não é elevado, embora esteja pressionado
pelo movimento de alocação de recursos para crédito e
alongamento dessa carteira.
28/ Captações realizadas no exterior diretamente pelos bancos sediados
no Brasil ou redirecionados para esses quando captados por agências e
subsidiárias no exterior.
29/ São considerados recursos externos livres aqueles que ingressam no país
e não estão necessariamente vinculados a operações de comércio exterior
(importações, exportações e repasses).
2.3 Crédito
As provisões para o risco de crédito apresentam-se
adequadas para um novo cenário que aponta para leve
aumento do risco de crédito, decorrente da elevação das
taxas de juros, do provável fim do ciclo de redução da
inadimplência iniciado no segundo semestre de 2012 e
da redução no índice de cobertura (IC)30. Completam
esse cenário o menor ritmo de crescimento do crédito e a
manutenção de práticas e critérios saudáveis na concessão
de novas operações.
A queda no ritmo do crescimento do crédito doméstico
acentuou-se no período, principalmente por causa da
redução da taxa de crescimento da carteira dos bancos
públicos (gráfico 2.3.1). Não obstante, esses bancos
mantiveram expansão maior do que a dos bancos
privados, aumentando sua participação no crédito
doméstico total para 52,7% em junho de 2014.
30/ O índice de cobertura mede a razão entre a provisão contabilizada e o
saldo total das operações vencidas há mais de noventa dias.
0%
Jun
2008
Dez Jun
2009
Dez Jun
2010
Dez Jun
2011
Dez Jun
2012
Dez Jun
2013
Dez Jun
2014
Gráfico 2.2.6 – Perfil das captações
Depósitos a vista Depósitos a prazo
Depósitos de poupança Empréstimos e repasses
Compromissadas (títulos privados) LCA + LCI
IHCD + LFS + LF Outros
0
Dez
2008
Jun
2009
Dez Jun
2010
Dez Jun
2011
Dez Jun
2012
Dez Jun
2013
Dez Jun
2014
Gráfico 2.3.1 – Crescimento anual do
crédito por controle
Público Privado Total
0
Dez
2010
Jun
2011
Dez Jun
2012
Dez Jun
2013
Dez Jun
2014
Captações externas mantidas no exterior
Captações externas que ingressam (vinculadas a comércio exterior)
Captações externas que ingressam (recursos livres)
19. 6,0
4,8
3,6
2,4
1,2
Setembro 2014 | Relatório de Estabilidade Financeira | 18
Quanto às taxas de juros, houve elevação no semestre,
tanto para o crédito livre, quanto para o crédito
direcionado (gráfico 2.3.2), influenciada, em parte, pela
continuidade dos aumentos da taxa Selic31/. Aumentos
foram observados em todas as modalidades de crédito,
mas em maior intensidade naquelas que apresentam
maior nível de inadimplência, como os créditos rotativos
e o crédito pessoal não consignado.
Gráfico 2.3.2 – Evolução das taxas de juros
Recursos livres e direcionados, PF e PJ % a.a.
50
40
30
20
10
A inadimplência na carteira de crédito doméstico fechou
em 3,0% em junho de 2014, índice estável em relação a
dezembro de 2013, depois de três semestres consecutivos
de redução, indicando o provável fim do ciclo de redução
da inadimplência. Esse comportamento é explicado por
um ritmo menos acentuado de queda da inadimplência
nos bancos privados, cuja diminuição no semestre
foi de apenas 0,1 p.p., e pelo aumento de 0,2 p.p. nos
bancos públicos (gráfico 2.3.3). Constatam-se também
comportamentos diferentes na análise por pessoa jurídica
e pessoa física. No primeiro caso, houve aumento de 0,2
p.p.; no segundo, redução de 0,1 p.p.
6,0
4,8
3,6
2,4
1,2
31/ No segundo semestre de 2013, a meta para a taxa Selic variou de 8,00%
para 10,00%; no primeiro semestre de 2014, variou de 10,00% para
11,00%.
Embora tenha ficado estável como proporção da carteira
de crédito, a inadimplência elevou-se em termos
absolutos, movimento não acompanhado na mesma
magnitude pelas provisões. Como consequência, houve
diminuição da folga do índice de cobertura (IC), que
passou de 1,75 em dezembro de 2013 para 1,65 em
junho de 2014. Esse nível continua a ser adequado para
fazer frente a potenciais perdas, mesmo em um cenário
conservador, sendo superior ao mantido pelas instituições
da maioria dos países.32
A avaliação de suficiência da cobertura de provisões
também é corroborada por outras métricas, como a
relação entre as provisões constituídas e os créditos
baixados para prejuízo nos doze meses seguintes, ou as
provisões constituídas e o total da carteira de maior risco
(operações de crédito classificadas nos níveis de E a H)
(gráfico 2.3.4).
Uma análise da dispersão do IC por banco33 (gráfico
2.3.5) em dezembro de 2013 e junho de 2014 evidencia
que o movimento mais expressivo no período foi sua
redução no grupo de bancos com maior folga, ou seja,
naqueles em que o IC era igual ou superior a 1,9. Assim, a
redução desse índice para o total do SFN foi influenciada
por esse fator, e não pelo aumento da relevância de bancos
com IC menor do que 1,0. Ainda que índices inferiores
a 1,0 sejam relativamente comuns na comparação
32/ Global Financial Stability Report publicado em abril de 2014, página 31,
disponível no sítio do FMI: <http://www.imf.org/external/pubs/ft/GFSR/
index.htm>.
33/ O termo “banco” utilizado aqui engloba tanto as instituições financeiras
pertencentes a conglomerados, quanto instituições financeiras
independentes. Nesse teste, as cooperativas de crédito e as instituições
financeiras não bancárias não foram consideradas, pois, apesar de serem
em grande número, respondiam somente por 2,9% do crédito doméstico
total em junho de 2014.
0
Mar
2011
Jun Set Dez Mar
2012
Jun Set Dez Mar
2013
Jun Set Dez Mar
2014
Jun
Livre PJ Livre PF Direcionado PJ Direcionado PF
0,0
Mar
2011
Jun Set Dez Mar
2012
Jun Set Dez Mar
2013
Jun Set Dez Mar
2014
Jun
Público Privado Total
%
Gráfico 2.3.3 – Inadimplência por controle
0,0
Mar
2011
Jun Set Dez Mar
2012
Jun Set Dez Mar
2013
Jun Set Dez Mar
2014
Jun
%
Gráfico 2.3.4 – Inadimplência, provisões e baixas
para prejuízo
Carteira de crédito classificada nos níveis de E até H
Provisões
Inadimplência
Créditos baixados nos doze meses seguintes
20. 40
30
20
10
0
Setembro 2014 | Relatório de Estabilidade Financeira | 19
internacional34, cabe salientar que, em junho de 2014,
93% da carteira de crédito no SFN encontrava-se no ativo
de instituições com IC superior a 1,3.
Gráfico 2.3.5 – Distribuição de frequência para o índice
de cobertura1/
25
8 11 23 12
12 8
11
57
4 12
60%
48%
36%
24%
12%
Passando a focalizar especificamente no crédito à pessoa
física, cabe destacar que a expansão do mercado de
crédito, embora em menor ritmo, não foi acompanhada
de alterações significativas no comprometimento de
renda dos tomadores de crédito no SFN35. Apesar do
aumento registrado no primeiro semestre de 2014 em
todas as faixas de renda, os valores ainda se encontram
em patamares inferiores aos observados em junho de
2013 (gráfico 2.3.6).
Gráfico 2.3.6 – CR dos tomadores de crédito no SFN
Pessoa física %
25
20
15
10
5
34/ Financial Soundness Indicators – FSI Tables, de abril de 2014, tabela 4,
disponível no sítio do FMI: <http://fsi.imf.org/fsitables.aspx>.
35/ O comprometimento de renda dos tomadores de crédito considera apenas
a renda das pessoas físicas que possuem endividamento no SFN. Não
se confunde com o comprometimento de renda das famílias, divulgado
no Sistema Gerenciador de Séries Temporais – Série 19.881, que
computa a renda de toda a população conforme metodologia utilizada
internacionalmente. Para mais detalhes sobre o comprometimento de renda
dos tomadores de crédito no SFN, ver seção “Conceitos e metodologias”,
item d.
Vale notar que o financiamento imobiliário e o crédito
pessoal consignado correspondem às modalidades
com maiores participações (29,5% e 18,1% em junho
de 2014), explicitando a estratégia das instituições
financeiras de dar maior ênfase em modalidades de baixo
risco no crédito à pessoa física. Em relação à velocidade
de crescimento desses saldos no semestre (gráfico 2.3.7),
à exceção do financiamento para aquisição de veículos,
todas as carteiras continuaram apresentando índice
de crescimento superior à variação do PIB. Mesmo
com a desaceleração no período recente, as carteiras
de financiamento imobiliário e de financiamento rural
mantiveram o crescimento expressivo, com variações de
28,9% e 27,2%, respectivamente, na comparação anual.
A retração no montante da carteira de veículos prosseguiu
no período, com redução de 4,5% no semestre ou 6,9%
na comparação anual36. No entanto, há na margem uma
pequena aceleração nas concessões, as quais cresceram
3,6% no primeiro semestre de 2014 em relação ao mesmo
período do ano anterior. O cartão de crédito apresentou
crescimento da ordem de 14%, mas, quando avaliada
sua composição, nota-se forte crescimento do crédito
a vista em detrimento do crédito rotativo, o que sugere
a utilização dessa modalidade principalmente como
meio de pagamento diferido, e não como empréstimo
propriamente dito.
A inadimplência de algumas modalidades de crédito
a pessoas físicas voltadas ao consumo sem destinação
36/ O saldo da carteira de veículos foi mensurado a partir das séries temporais
número 20581 e 20581, divulgadas no SGS, as quais se referem ao
financiamento e ao arrendamento mercantil de veículos, respectivamente,
adotando metodologia distinta para apuração do saldo daquela apresentada
na Nota para a Imprensa sobre Política Monetária e Operações de Crédito
do SFN.
0
Até 3 s.m. 3 a 5 s.m. 5 a 10 s.m. > 10 s.m. SFN
Junho 2013 Dezembro 2013 Junho 2014
55
0%
<0,7 0,7≤IC<1 1≤IC<1,3 1,3≤IC<1,6 1,6≤IC<1,9 ≥1,9
Dezembro 2013 Junho 2014
1/ As colunas indicam a representatividade da carteira, e os valores sobre elas
referem-se ao número de instituições financeiras com índice de cobertura
no intervalo correspondente.
-10
Dez
2012
Mar
2013
Jun Set Dez Mar
2014
Jun
Gráfico 2.3.7 – Crescimento anual do crédito
Principais modalidades – PF
Imobiliário Financiamento rural
Consignado Cartão de crédito
Sem consignação Veículos
%
21. tanto públicas quanto privadas, preservando critérios
prudentes de concessão, uma vez que as PME apresentam
inadimplência mais elevada41.
30
24
18
12
6
0
A inadimplência das pessoas jurídicas aumentou em
0,2 p.p. no semestre, para 2,0% em junho de 2014.
O acréscimo ocorreu em ambas as classificações de
portes, sendo que o incremento dos atrasos das PME
ficou concentrado nos bancos públicos e o das grandes
empresas, nas instituições privadas. Apesar dessa
elevação, a inadimplência encontra-se abaixo das
máximas observadas em períodos anteriores recentes
(gráfico 2.3.10). A redução da oferta de crédito para as
PME poderia ocasionar limitações na rolagem de suas
necessidades de financiamento, causando eventuais
impactos na inadimplência do segmento. Visando
evitar a materialização desses riscos, no mês de agosto
o Banco Central atuou preventivamente por meio de
medidas macroprudenciais com o objetivo de reduzir
restrições à oferta de crédito às PMEs42. Nas grandes
empresas, avalia-se que eventual aumento de créditos
inadimplentes apresentaria impactos apenas pontuais,
determinados mais em função da dinâmica adversa de
setores localizados do que de fatores generalizáveis.
41/ A Pesquisa Trimestral de Condições de Crédito no Brasil de junho de 2014,
realizada pelo BCB, indica uma oferta menor de crédito para as pessoas
jurídicas no próximo trimestre, embora menos restritiva que a observada
no trimestre anterior. Os principais fatores, no caso das PME, são os
níveis de tolerância ao risco e da inadimplência, e no caso das grandes
empresas, as condições gerais da economia e específicas da indústria/setor
da empresa, bem como a percepção do risco do tomador de crédito.
42/ A Circular BCB 3.714, de 20 de agosto de 2014, entre outras medidas
visando à convergência da regulação da exigência de capital aos padrões
internacionais e considerando a fase atual do ciclo de crédito, elevou
os critérios de exposição e receita máximas que definem operações
contratadas com empresas como elegíveis para a carteira de varejo,
ampliando o rol de operações classificáveis no fator de ponderação de
risco (Fpr) de 75%.
Setembro 2014 | Relatório de Estabilidade Financeira | 20
Jun
2011
Jun
2012
Jun
2013
Jun
2014
PME Grande Total
%
Gráfico 2.3.9 – Crescimento anual do crédito
Pessoa jurídica
específica37 apresentou sinais de elevação no semestre,
revertendo o ciclo de redução que vinha ocorrendo
desde o segundo semestre de 2012 (gráfico 2.3.8). Os
empréstimos sem consignação e as operações com
cartão de crédito38 – modalidades mais arriscadas, per
se – apresentaram, entre fevereiro e junho, aumento na
inadimplência de 6,7% para 7,0% e de 6,4% para 6,7%,
respectivamente.
A carteira de financiamento de veículos, por sua vez,
manteve a trajetória de redução na inadimplência
observada nos últimos três semestres, fato esse explicado
tanto pelo expressivo fluxo de baixa para prejuízo das
operações inadimplidas39, quanto pela manutenção de
critérios mais conservadores nas concessões.
10
8
6
4
2
0
Mar
2011
Jun Set Dez Mar
2012
Jun Set Dez Mar
2013
Jun Set Dez Mar
2014
Jun
Imobiliário Financiamento rural
Consignado Sem consignação
Veículos Cartão de crédito
%
Gráfico 2.3.8 – Inadimplência de PF por modalidade
No que tange ao crédito à pessoa jurídica, a análise por
porte aponta que pequenas e médias empresas (PME)40
continuaram perdendo participação no estoque total de
crédito, de 46,6% em dezembro de 2013 para 45,0%
em junho de 2014, consequência de um crescimento
cada vez menor da carteira de crédito com essas
empresas, em comparação com as grandes empresas
(gráfico 2.3.9). Esse fato reflete a manutenção de uma
postura mais conservadora das instituições financeiras,
37/ Entenda-se crédito ao consumo sem destinação específica como todo
crédito voltado a pessoa física, exceto o financiamento imobiliário, o
financiamento rural e o financiamento de veículos.
38/ A inadimplência em cartões de crédito refere-se à soma ponderada das
operações em atraso superior a noventa dias nas modalidades cartão a
vista, rotativo e parcelado. Trata-se de metodologia distinta de apuração
da inadimplência do produto cartão de crédito daquela apresentada na
Nota para a Imprensa sobre Política Monetária e Operações de Crédito
do SFN e publicada no SGS.
39/ O fluxo de baixas para prejuízo se concentrou especialmente nas operações
concedidas durante o período de maior apetite ao risco das instituições
financeiras.
40/ A segregação por porte utilizou como proxy o valor devido das operações
de crédito doméstico. As PME são aquelas cujas dívidas são inferiores a
R$100 milhões, e as grandes, iguais ou superiores a R$100 milhões.
22. Gráfico 2.4.1 – Retorno sobre o patrimônio líquido anual
Acumulado nos últimos doze meses
Unidades %
18
15
12
9
6
150
120
90
60
30
Gráfico 2.4.2 – Composição do resultado, antes de
tributos sobre faturamento e lucro
R$ bilhões
Setembro 2014 | Relatório de Estabilidade Financeira | 21
Gráfico 2.3.10 – Inadimplência
Pessoa jurídica %
5
4
3
2
1
Por fim, os principais fatores que marcaram o
comportamento do crédito doméstico no primeiro
semestre de 2014, como a desaceleração do crescimento
e a relativa estabilidade da inadimplência, tendem
a continuar presentes no segundo semestre. Mesmo
em cenário que apresente algum grau de elevação da
inadimplência, ainda assim o SFN apresenta adequados
fundamentos para fazer frente a esse ambiente,
notadamente, a manutenção tanto do nível adequado de
provisões para perdas quanto de políticas saudáveis na
concessão de crédito.
2.4 Rentabilidade
O RSPL do sistema bancário atingiu 13,7% ao ano (a.a.)
em junho de 2014. Desconsiderando os efeitos de uma
operação não recorrente43, houve avanço de 0,8 p.p. em
relação a dezembro de 2013, alargando a distância entre
o RSPL bancário e a Selic, utilizada como proxy para
taxa livre de risco44 (gráfico 2.4.1).
O resultado líquido de intermediação financeira avançou
cerca de R$8 bilhões em relação a dezembro de 2013,
em razão da melhora significativa do resultado com
tesouraria. A elevação da taxa Selic contribuiu para o
aumento das receitas com títulos de renda fixa, ao passo
que, com a redução das taxas de juros de longo prazo, o
ajuste a valor de mercado de títulos, que vinha gerando
perdas desde o início de 2013, voltou a ser positivo no
43/ Em abril de 2013, o Banco do Brasil (BB) alienou parte de sua participação
no BB Seguridade, gerando um acréscimo de aproximadamente R$4,7
bilhões no lucro líquido (LL) do sistema bancário. No acumulado de doze
meses, esse valor afetou o LL até março de 2014.
44/ Para efeito de comparação com o RSPL, utilizou-se como proxy para
taxa livre de risco a média anual da Selic acumulada nos últimos 36
meses, multiplicada por 0,85 para minimizar efeitos tributários. O prazo
de 36 meses foi definido com base no prazo médio da carteira de crédito,
principal fonte de receita do sistema bancário.
primeiro semestre de 2014. O resultado de crédito, por
outro lado, recuou pelo segundo semestre seguido, em
decorrência da redução da margem, a qual não vem sendo
compensada pelo crescimento da carteira (gráfico 2.4.2).
2,2
2,0
1,8
1,6
1,4
200
160
120
80
40
A margem de crédito ainda estará pressionada no curto
prazo. O aumento nas taxas de concessão em algumas
modalidades colaborou, até junho de 2014, apenas para
estabilizar a rentabilidade bruta das operações. O custo
de captação, por sua vez, deve permanecer em elevação
até o final de 2014, porém em ritmo mais moderado.
Ademais, como não se espera redução na inadimplência
média do sistema bancário, o recuo nas despesas de
provisão45 observado nos últimos semestres não deverá
se repetir (gráfico 2.4.3).
45/ Considera-se o resultado de despesas de provisão, líquido de reversões e
de recuperação de crédito.
0
Jun
2011
Jun
2012
Jun
2013
Jun
2014
PME Grande Total
1,2
Dez
2009
Jun
2010
Dez Jun
2011
Dez Jun
2012
Dez Jun
2013
Dez Jun
2014
3
RSPL anual do sistema bancário (SB)
RSPL anual do SB ajustado (sem efeito da venda do BB Seguridade)
Proxy para taxa livre de risco
RSPL anual do SB / (0,85 * Selic) (eixo da esquerda)
RSPL anual do SB ajustado / (0,85 * Selic) (eixo da esquerda)
0
0
Dez
2012
Jun
2013
Dez Jun
2014
R$ bilhões
Resultado com crédito
Resultado com tesouraria
Receitas com serviços
Outros resultados operacionais e não operacionais
Despesas administrativas (eixo da esquerda)
23. Gráfico 2.4.5 – Distribuição de frequência do RSPL anual1/
% dos ativos do sistema
100
80
60
40
20
Setembro 2014 | Relatório de Estabilidade Financeira | 22
Gráfico 2.4.3 – Margem de crédito
Acumulado nos últimos doze meses %
20
16
12
8
4
0
As receitas de serviços continuam aumentando,
sustentadas pelo mercado de cartões de crédito. Contudo,
com a redução do avanço de fontes importantes, como
tarifas bancárias, o ritmo de crescimento das receitas de
serviços tem se reduzido gradativamente e está no menor
nível desde meados de 2010. A taxa de crescimento das
despesas administrativas, por sua vez, que apresentava
declínio desde abril de 2012, estabilizou-se a partir do
final de 2013 (gráfico 2.4.4).
20
16
12
8
4
Gráfico 2.4.4 – Taxa anual de crescimento
Considerando as IF individualmente, a melhora do
RSPL levou a um aumento de 51 para 58 no número
de IF com RSPL anual acima da proxy para a taxa livre
de risco. Contudo, 35 IF, ou 26,5% das instituições,
que representam 4,0% dos ativos do sistema, ainda
permanecem com prejuízo no acumulado dos últimos
doze meses (gráfico 2.4.5).
Para o próximo semestre, não há expectativa de retomada
expressiva do crédito, tampouco de redução de despesas
de provisão e, sem movimentos relevantes na Selic e nas
taxas de longo prazo, os ganhos adicionais com tesouraria
tendem a ser menores. Ademais, o ritmo de crescimento
das receitas de serviços tem desacelerado. Assim,
desconsiderando fontes não recorrentes de resultado, o
ganho de rentabilidade dependerá, em grande parte, da
capacidade de os bancos ganharem eficiência por meio
de contenção de despesas.
2.5 Solvência
A solvência do sistema bancário apresentou estabilidade
e permanece em patamar elevado, apesar da redução
absoluta registrada no Índice de Basileia quando se
compara o mês de novembro46 de 2013 com junho
de 2014. Os índices de capitalização permanecem
em níveis superiores aos requerimentos regulatórios,
o que, associado aos resultados da simulação da
plena implementação do arcabouço de Basileia III
e da introdução do futuro requerimento de razão de
alavancagem, confirma a situação confortável da
solvência do sistema.
Em junho de 2014, o IB atingiu 15,5% (gráfico 2.5.1),
queda absoluta de 1,1 p.p. em relação a novembro de
2013, influenciada por mudanças regulatórias advindas
dos ajustes prudenciais progressivos de Basileia III e
alteração no cálculo47 dos ativos ponderados por risco
(RWA). Mesmo com a redução do IB, o capital principal
(CP), isoladamente, seria suficiente para atender aos três
46/ Em decorrência da introdução do arcabouço regulatório de Basileia III e
do calendário para envio de informações ao Banco Central, definido pela
Circular BCB nº 3.686, de 29 de novembro de 2013, a edição anterior
da seção de solvência do REF analisou o período de junho a novembro
de 2013, razão pela qual se analisa nesta edição o período compreendido
entre novembro de 2013 e junho de 2014.
47/ Em dezembro de 2013, passaram a produzir efeito as circulares BCB nº
3.679, de 31 de outubro de 2013, e nº 3.696, de 3 de janeiro de 2014, que
alteram procedimentos para o cálculo do RWA referente às exposições ao
risco de crédito sujeitas ao cálculo do requerimento de capital mediante
abordagem padronizada.
0
Jun
2010
Dez Jun
2011
Dez Jun
2012
Dez Jun
2013
Dez Jun
2014
Receita de serviços Despesas administrativas
%
Dez
2009
Jun
2010
Dez Jun
2011
Dez Jun
2012
Dez Jun
2013
Dez Jun
2014
Rentabilidade bruta das operações
Despesa de provisões/operações de crédito
Custo de captação
Margem líquida de crédito
44 36
51
35
39
58
0
RSPL < 0 0 < RSPL < 0,85 * Selic RSPL > 0,85 * Selic
Dezembro 2013 Junho 2014
1/ Os valores dentro das colunas referem-se ao número de IFs com RSPL
anual pertencente ao intervalo correspondente.
24. Gráfico 2.5.2 – Distribuição de frequência para o capital
principal/RWA ponderado por ativos1/
0 0 0
% dos ativos do sistema
14 117
1 0
3
10
118
60
48
36
24
12
0
0 - 4,5 4,5-5,125 5,125-7 7-10,5 >10,5
Novembro 2013 Junho 2014
1/ Os valores dentro das barras referem-se ao número de IFs com índice
de capital principal pertencente ao intervalo correspondente.
Gráfico 2.5.3 – Evolução da necessidade de capital com
regras de 2019
0,4
0,3
-
0,6
1,4
0,1
0,3
0,9 0,8 0,8
R$ bilhões
4,0
3,2
2,4
1,6
0,8
0,0
Nov
2013
Jun
2014
Nov
2013
Jun
2014
Público comercial Privado
Capital principal Capital complementar PR_II
Setembro 2014 | Relatório de Estabilidade Financeira | 23
requerimentos regulatórios. O índice de capitalização
teria apresentado estabilidade, caso não houvesse
alterações regulatórias.
Gráfico 2.5.1 – Índices de capitalização e
exigência regulatória1/
16,6 15,5
12,9 12,2
5,5
18
15
12
8
5
O Patrimônio de Referência (PR) atingiu R$619,5 bilhões
em junho de 2014, aumento de R$0,5 bilhão em relação
a novembro de 2013, influenciado pela progressividade
dos ajustes prudenciais de Basileia III, os quais passaram
de R$8,7 bilhões em novembro para R$29,5 bilhões em
junho de 2014. Contribuíram positivamente para o PR o
lucro líquido retido de R$17,0 bilhões e o ganho de R$8,4
bilhões em marcação a mercado de títulos disponíveis
para venda e em obrigações referentes a planos de
previdência de benefício definido de funcionários.
O RWA, influenciado principalmente pela elevação do
fator de ponderação de risco das exposições, avançou
7,2%, para R$4.001,1 bilhões, em junho de 2014, montante
do qual 89,4% correspondem ao risco de crédito.
Em linha com os dados agregados do sistema, verifica-se
pouca alteração na capitalização de instituições
financeiras entre novembro de 2013 e junho de
2014 (gráfico 2.5.2), ficando apenas uma instituição,
responsável por menos de 0,01% dos ativos do sistema,
com nível de capital principal inferior ao mínimo exigido,
que atualmente é de 4,5% do RWA.
A estabilidade no nível de capitalização também é
evidenciada quando se simula a aplicação dos ajustes
regulatórios de Basileia III em sua totalidade aos dados
de novembro de 2013 e de junho de 2014.
O IB projetado, caso as regras que entrarão em vigor
até 2019 estivessem válidas, ficaria estável em 13,2%,
tomando por base o mesmo conjunto de regras48 e os
dados de novembro de 2013 e de junho de 201449.
Ainda dentro do exercício de projeção, a necessidade
total de capital do sistema (gráfico 2.5.3) para atender os
requerimentos futuros50 se reduziu de R$3,4 bilhões em
novembro de 2013 para R$2,1 bilhões em junho de 2014,
equivalente a 0,3% do PR do SFN. Os bancos privados
reduziram a necessidade projetada de R$2,7 bilhões para
R$1,2 bilhão, ao passo que a necessidade dos bancos
públicos comerciais elevou-se de R$0,7 para R$0,9 bilhão.
48/ Nesse exercício, as alterações normativas promovidas pelas circulares
BCB nº 3.696, nº 3.711 e nº 3.714, de 3 de janeiro de 2014, 24 de julho
de 2014 e 20 agosto de 2014, respectivamente, são consideradas. Elas
afetam os índices de capitalização e realinham o requerimento de capital
para algumas modalidades de exposição.
49/ O presente exercício, por se tratar de uma simulação, já considera como
capital principal os instrumentos híbridos de capital e dívida adquiridos
pela União e emitidos pelos bancos públicos comerciais, em função de
readequação das cláusulas e nova autorização do BCB, nos termos da
Resolução CMN nº 4.192, de 1º de março de 2013.
50/ Em 2019, considera-se requerimento de 7% do RWA constituído sob a
forma de capital principal, 8,5% do RWA sob a forma de capital nível I
e 10,5% do RWA sob a forma de PR, contemplando o limite inferior do
adicional de capital principal, conforme a Resolução CMN nº 4.193, de
1º de março de 2013.
11,8
11,0
4,5
2
Nov
2013
Jan
2014
Mar Jun
%
Índice de capital principal
Índice de patrimônio de referência nível I
Índice de Basileia
1/ As linhas pontilhadas representam os requerimentos regulatórios para
os diferentes níveis de capital.
25. Gráfico 2.5.6 – Capital/ativos e IB
Últimos dados disponíveis1/
KO
15
12
9
6
3
Setembro 2014 | Relatório de Estabilidade Financeira | 24
Ainda com base nas simulações de Basileia III, verificam-se
alterações pontuais no nível de capitalização das
instituições financeiras (gráfico 2.5.4), em linha com o
dado agregado do sistema.
Gráfico 2.5.4 – Distribuição de frequência para o capital
principal/RWA projetado para 2019 ponderado por ativos1/
2 0 1
16
% dos ativos do sistema
75
60
45
30
15
A sólida situação de solvência do SFN é também
constatada quando se analisa a situação brasileira em
relação ao futuro requerimento regulatório, a Razão
de Alavancagem (gráfico 2.5.5), que entrará em vigor
em janeiro de 2018, segundo o Comitê da Basileia de
Supervisão Bancária.
A propósito, em 25 de julho de 2014, o BCB disponibilizou
para consulta pública a minuta de normativo referente
à razão de alavancagem51. Os cálculos preliminares
reforçam a percepção de solidez do sistema, obtendo-se
o valor de 7,3% para o SFN em junho de 2014, frente ao
requerimento inicial de 3%.
Gráfico 2.5.5 – Distribuição de frequência para a razão de
alavancagem ponderado por ativos1/
% dos ativos do sistema
80
64
48
32
16
51/ Para mais informações, ver <https://www3.bcb.gov.br/audpub/Anexos/
Download?caminho=/editais/edt_60/EditalConsultaPublica44.pdf> e
<http://www.bis.org/publ/bcbs270.htm>.
Outros indicadores de solidez como o IB e a relação
Capital/Ativos, uma medida mais simples de alavancagem,
também corroboram a percepção da robustez do SFN,
quando comparado a outras jurisdições. (gráfico 2.5.6).
Concluindo, a solvência do sistema bancário continua
elevada, com níveis de capitalização adequados para
suportar os riscos assumidos. Grande parte da variação
nominal dos referidos índices é resultado do cronograma
progressivo de implementação de Basileia III e de
alteração no método de cálculo do RWA. Simulações
desconsiderando alterações na metodologia de cálculo
reforçam a conclusão acerca da estabilidade da solvência
em patamar elevado.
2.6 Testes de estresse de capital52
Com a finalidade de mensurar a resistência, bem como
a capacidade de absorção de perdas do sistema bancário
à materialização dos principais riscos a que se encontra
exposto, foram simuladas alterações extremas e adversas
nas principais variáveis econômicas e financeiras.
Apesar de a necessidade de capitalização na análise de
cenário ter aumentado em relação ao teste realizado
em dezembro de 2013, os resultados obtidos permitem
concluir que o sistema bancário brasileiro apresenta
adequada capacidade de suportar tanto os efeitos de
choques decorrentes de cenários adversos por seis
trimestres consecutivos, quanto de mudanças abruptas
nas taxas de juros e de câmbio ou na inadimplência.
52/ Para detalhes sobre o conceito de “testes de estresse” e a metodologia
relacionada aos testes e cenários, refira-se ao anexo “Conceitos e
Metodologias – Estresse de capital”.
2
5
13
16 96
0
0-3 3-5 5-7 7-9 >9
Junho 2014
1/ Os valores dentro das barras referem-se ao número de IFs com índice
%
de alavancagem pertencente ao intervalo correspondente.
111
3 0
1
12 116
0
0 - 4,5 4,5-5,125 5,125-7 7-10,5 >10,5
Novembro 2013 – Proj. 2019 Junho 2014 – Proj. 2019
1/ Os valores dentro das barras referem-se ao número de IFs com índice de
capital principal pertencente ao intervalo correspondente.
AU
FR
IN
CH
IT
RU
JP
USA
UK
SA
CA
AR
MX
BR/2
ID
TU GE
0
10 12 14 16 18 20
Fonte: FMI.
1/ As siglas acima correspondem a:
Capital/ativos (%)
IB (%)
AR = Argentina; AU = Austrália; BR = Brasil; CA = Canadá; CH = China; FR =
França; GE = Alemanha; ID = Indonésia; IN = Índia; IT = Itália; JP = Japão; KO =
Coreia do Sul; MX = México; RU = Rússia; SA = África do Sul; TU = Turquia; UK
= Reino Unido; e USA = Estados Unidos da América.
2/ As informações divergem dos dados encontrados em <http://fsi.imf.org>, em
razão de serem utilizados dados de junho de 2014 do BCB, ainda não
disponíveis no referido sítio.
26. base, VAR estressado, quebra estrutural e pior histórico.
As inadimplências projetadas podem ser vistas no
gráfico 2.6.1.
Os resultados do VAR Estressado revelam que a
inadimplência projetada atingiria o pico de 5,4%,
superando as provisões constituídas em junho de 2014
em 0,9 p.p. Para o cenário de quebra estrutural, o pico
seria de 5,5%. Ambos seriam atingidos em dezembro
de 2015.
Apesar de a necessidade de capital apresentar um leve
aumento em relação aos testes efetuados em dezembro
de 2013 (gráfico 2.6.2), em todos os cenários o sistema
bancário permaneceria com seus índices de capitalização
acima dos mínimos regulamentares.
Gráfico 2.6.2 – Necessidades de capital
VAR estressado – Evolução % do PR
3,0
2,4
1,8
1,2
0,6
Setembro 2014 | Relatório de Estabilidade Financeira | 25
2.6.1 Análise de cenário – Testes de estresse
nas condições macroeconômicas
A análise de cenário baseia-se em modelo estatístico
que relaciona cenários macroeconômicos ao risco de
crédito da carteira de empréstimos e financiamentos dos
bancos. Essa análise contempla quatro cenários para
um horizonte de tempo de seis trimestres consecutivos
e projeta a inadimplência e o crescimento da carteira de
crédito a partir desses cenários. Todos eles são baseados
na projeção do produto e das taxas de juros, de câmbio
e de inflação, além de choques externos medidos pelo
prêmio de risco Brasil e pelos juros americanos.
Na tabela 2.6.1, podem ser observados os valores das
variáveis que compõem cada um dos cenários: cenário
Tabela 2.6.1 – Cenários de estresse macroeconômico (dezembro de 2015)
Cenários Jun/14 Cenário base1/ VAR estressado (α = 5%) Quebra estrutural Pior histórico
Produto
(IBC-Br) 1,4% 1,2% -1,7% -1,7% -0,2%
Juros
(Selic) 10,9% 12,0% 8,8% 19,7% 12,1%
Câmbio
(R$/US$) 2,23 2,49 3,57 3,75 2,89
Inflação
(IPCA) 6,3% 6,0% 4,7% 16,5% 10,8%
Desemprego
(PME-IBGE) 4,4% 4,4% 8,9% 8,9% 5,0%
Prêmio de risco
(EMBI Brasil+)2/ 209 209 209 209 302
Juros americanos
(Treasury 10 anos) 2,6% 2,6% 5,1% 5,1% 2,4%
constantes por todo o período de projeção.
dez./2015.
Adversos
1/ As variáveis obtidas da pesquisa Focus são a previsão para o PIB, a Selic, o câmbio e a inflação. As demais variáveis são mantidas
2/ Para o VAR estressado e quebra estrutural, o prêmio máximo, igual a 401, é atingido em dez./2014, retornando gradativamente ao valor inicial em
0,0
0 1 2 3 4 5 6
Trimestres
Dezembro 2013 Junho 2014
Gráfico 2.6.1 – Estresse macroeconômico
Inadimplência projetada %
6,0
4,8
3,6
2,4
1,2
0,0
Jun
2014
Set Dez Mar
2015
Jun Set Dez
Cenário base
VAR estressado (α = 5%)
Quebra estrutural
Pior histórico
Provisões constituídas (jun./2014)
27. Gráfico 2.6.4 – Análise de sensibilidade
Risco de taxa de juros
4,2
2,1
44
0,0 0,0
15,4 14,3
Máx. variação em 21 dias desde jan./1999
Negativa Positiva
USADO ESTE 2.6.3 NO REF201406
13,0
4,6
0,9
0,6 0,1
40
36
32
28
24
Nível II
Complementar
Bancos desenquadrados (% do ativo total)
2,3
160
156
152
148
144
140
136
132
128
124
120
116
112
108
104
Gráfico 2.6.5 – Análise de sensibilidade
Risco de crédito
15,4 11,7
4,1
0,2
Bancos desenquadrados (% do ativo total)
Nível II
Complementar
Setembro 2014 | Relatório de Estabilidade Financeira | 26
Após seis trimestres de deterioração macroeconômica,
a necessidade estimada de capitalização do sistema para
que nenhum banco ficasse desenquadrado53 seria de 2,5%
do patrimônio de referência atual do sistema, quase toda
ela formada por capital de nível 2 (gráfico 2.6.3).
Gráfico 2.6.3 – Necessidades de capital
VAR estressado
Índice de Basileia (%) % do PR
18,0
14,4
10,8
7,2
3,6
6
5
4
2
1
2.6.2 Análise de sensibilidade
A análise de sensibilidade consiste na aplicação de
variações incrementais nas taxas de juros e de câmbio
e na inadimplência, bem como na mensuração do efeito
isolado das variações de cada uma dessas variáveis
sobre o capital e os índices de capitalização dos bancos,
mantendo-se os demais fatores de risco inalterados.
No pior caso, se a taxa de juros fosse reduzida para
algo próximo a 1,0% a.a., dezesseis instituições
bancárias, detentoras de 4,2% do total de ativos do
sistema, ficariam desenquadradas. Essas instituições
necessitariam de um aporte equivalente a 6,0% do
capital do sistema para evitar um desenquadramento
(gráfico 2.6.4). Nos choques simulados, nenhuma
instituição bancária ficaria insolvente.
Os testes de sensibilidade às taxas de câmbio revelam que
os impactos seriam irrelevantes para o sistema.
O resultado relativo aos testes de sensibilidade à
materialização do risco de crédito, sumarizados no gráfico
2.6.5, indica que, caso se repita a maior inadimplência já
observada no sistema bancário brasileiro desde dezembro
de 2000, próxima a 7%, a representatividade dos ativos
53/ Uma instituição é considerada desenquadrada se não atender a qualquer
um dos três índices de exigência de capital: Índice de Basileia (IB), Índice
de Capital Nível 1 (IPR1) e Índice de Capital Principal (ICP).
das instituições bancárias desenquadradas seria de 0,7%
do total de ativos do sistema bancário.
10
8
6
4
2
Em uma situação de inadimplência extrema, próxima de
14,5%, as instituições desenquadradas necessitariam de
um aporte de capital de 6,6% do patrimônio de referência
do sistema para evitar o desenquadramento.
Os resultados das análises de sensibilidade confirmam que
o sistema bancário brasileiro apresenta elevada capacidade
de suportar situações adversas, uma vez que os índices
de capitalização do conjunto de instituições bancárias se
mantêm sempre acima dos mínimos regulamentares.
0,0
0
Jun
2014
Set Dez Mar
2015
Jun Set Dez
Capital principal (dir.) Complementar (dir.)
Nível 2 (dir.) Índice de Basileia
0,8 0,2
0
20
1% 4% 7% 10% 13% 16% 19% 22%
Taxa de juros de 6 meses
Necessidade de capital
(% do capital total):
Principal
Bancos em insolvência (% do ativo total)
IB estressado (%)
2,3
0,0
48,1
16
14
12
10
8
6
4
2
0
100
96
92
88
84
80
76
72
68
64
60
56
52
48
44
40
36
32
28
24
20
16
12
8
4
0
3 6 9 12
Inadimplência média do sistema (%)
Provisão
constituída
atual
Bancos em insolvência (% do ativo total)
IB estressado (%)
Necessidade de capital
(% do capital total):
Principal
28. Evolução do Endividamento das Empresas não Financeiras
após a Crise Internacional de 2008
1 Alavancagem das empresas no Brasil
O endividamento das pessoas jurídicas triplicou entre
junho de 2008 e junho de 2014 (gráfico 1), com aumento
efetivo do total de recursos captados nos mercados de
capitais e externo, mas com maior destaque ao crédito
bancário com recursos direcionados. Observa-se, no
período, que o crédito bancário doméstico com recursos
livres continuou sendo a principal fonte de recursos,
perdendo porém representatividade frente ao mercado
externo e ao crédito bancário doméstico com recursos
direcionados (gráfico 2).
400
340
280
220
160
Importante notar, entretanto, que o crédito à pessoa
jurídica cresceu no período a uma taxa superior à do
PIB. A alavancagem das empresas, representada pela
razão crédito corporativo sobre PIB (gráfico 3), subiu
para 49,2% em junho de 2014, o que significa um
nível ainda confortável em comparação aos demais
países. Segundo dados do Relatório de Estabilidade
Financeira Global (GFSR, 2014), esta relação no
Brasil estaria na mediana dos países emergentes e
abaixo das economias desenvolvidas.
Setembro 2014 | Relatório de Estabilidade Financeira | 27
No cenário de baixas taxas de juros e abundante
liquidez que predominou no mercado internacional
após a crise financeira de 2008, diversas empresas do
setor não financeiro de economias emergentes, como o
Brasil, beneficiaram-se das condições mais favoráveis
de financiamento para intensificar as captações no
mercado externo. Em termos globais, os movimentos
de emissões corporativas e o consequente aumento no
endividamento trouxeram preocupações associadas à
estabilidade financeira e têm sido objeto de discussão
nos principais fóruns relacionados a esse tema (ver,
por exemplo, GFSR1, 2014 e BIS2, 2014).
De fato, em tese, o aumento do endividamento e a
maior exposição ao mercado internacional implicam
potencial sensibilidade a mudanças nos cenários
interno e externo, especialmente com o processo
de normalização gradual das políticas monetárias
dos países desenvolvidos, principalmente dos
Estados Unidos. Nesse contexto, esta nota apresenta
sucintamente uma avaliação dos riscos relacionados
à estrutura de financiamento das empresas no Brasil.
Destaca-se que uma eventual transição de cenário
apontaria para riscos em níveis controlados, em razão
das características da estrutura de financiamento das
empresas que operam no país, as quais apresentam
alavancagem agregada confortável, comprometimento
de renda estável e endividamento em moeda
estrangeira proporcionalmente baixo.
1/ Fundo Monetário Internacional, “Chapter 1 – Making the transition
from liquidity to growth-driven markets”, Global Financial Stability
Report, 2014.
2/ Bank for International Settlements, “Chapter IV - Debt and the
financial cycle: domestic and global”, 84th BIS Annual Report,
2013/2014.
100
Jun
2008
Jun
2009
Jun
2010
Jun
2011
Jun
2012
Jun
2013
Jun
2014
Crédito livre Crédito direcionado
Merc. de capitais Merc. externo – R$
Merc. externo – US$ Total PJ
%
Gráfico 1 – Endividamento PJ
Base jun./2008 = 100
Fontes: BCB e Cetip
29. 100
84
68
52
36
Setembro 2014 | Relatório de Estabilidade Financeira | 28
Gráfico 2 – Participação no endividamento PJ
Por fonte de recursos
24 29
100
80
60
40
20
%
50
40
30
20
10
Se, por um lado, a alavancagem em termos agregados
é limitada, por outro, deve ser considerada a
maior sensibilidade a mudanças nos cenários
interno e externo em decorrência do aumento do
endividamento e da exposição ao mercado externo.
Notadamente, as duas principais questões a serem
avaliadas em relação ao setor não financeiro em
um hipotético cenário de reversão das condições
de financiamento seriam os potenciais impactos
na capacidade de pagamento das empresas e no
montante do endividamento, decorrente da exposição
cambial. Tais questões são avaliadas a seguir3.
2 Capacidade de pagamento
Apesar do aumento do endividamento, não
foram observadas variações significativas no
3/ Nas análises foram utilizadas informações detalhadas das bases de
dados de monitoramento do SFN, entre elas as informações de dívida
bancária doméstica do Sistema de Informações de Crédito (SCR), de
dívida externa, de debêntures e das operações de derivativos cambiais
das câmaras de registro.
comprometimento de renda4. Tal comportamento é
reflexo de uma melhora no perfil de endividamento
do setor não financeiro, em termos de maturidade e
custo, influenciada pelo aumento da participação do
crédito com recursos direcionados, da dívida externa
e do mercado de capitais, que têm prazos mais longos
e taxas mais baixas.
Após a estabilidade observada no semestre anterior,
em 2014 o comprometimento de renda voltou a
registrar leve elevação, porém encontrando-se
atualmente em patamares relativamente semelhantes
aos observados em períodos anteriores (gráfico 4).
Além disso, eventuais variações nas taxas de juros tem
efeito limitado na capacidade de pagamento, tendo
em conta que aproximadamente 30% do crédito à
pessoa jurídica origina-se com recursos direcionados,
contratados com taxas e indexadores regulados,
menos sensíveis a alterações nos juros.
3 Risco cambial
Não obstante o aumento do endividamento no
mercado externo, a representatividade da dívida
corporativa referenciada em moeda estrangeira não
sofreu alteração em relação ao período pré-crise,
mantendo-se em aproximadamente um terço da dívida
total. A participação da dívida em moeda estrangeira
das empresas no Brasil é relativamente baixa, pois se
encontra entre as menores em comparação aos demais
países emergentes, conforme mostra o GFSR (2014).
4/ Para mais detalhes sobre o comprometimento de renda pessoa jurídica,
ver seção “Conceitos e metodologias”, item c.
43
31
25
30
8
10
0
Jun
2008
Jun
2014
Crédito
livre
Crédito
direcionado
Merc. de
capitais
Merc.
externo
%
Fontes: BCB e Cetip
0
Jun
2008
Jun
2009
Jun
2010
Jun
2011
Jun
2012
Jun
2013
Jun
2014
Gráfico 3 – Endividamento PJ sobre PIB
20
Jun
2011
Jun
2012
Jun
2013
Jun
2014
Gráfico 4 – Comprometimento de renda PJ
%
30. Gráfico 5 – Dívida em moeda estrangeira
Por tipo de devedor
16,8%
16,0%
Setembro 2014 | Relatório de Estabilidade Financeira | 29
Além disso, as exposições em moeda estrangeira
concentram-se em um conjunto limitado de empresas
de grande porte, dado que menos de 1% dos devedores
possuem alguma dívida em moeda estrangeira, ainda
que respondam por mais de 60% da dívida total5.
Desse conjunto de empresas com exposição à
moeda estrangeira, foram mapeadas aquelas que
apresentariam maior vulnerabilidade a choques na
taxa de câmbio, uma vez que parte estaria protegida
por possuir algum tipo de hedge, de natureza
operacional ou financeira.
Nesse sentido, observa-se que as empresas
exportadoras6, ou seja, aquelas que possuem hedge
natural relativo à sua atividade operacional7,
respondem por mais de um terço da dívida total em
moeda estrangeira. Além disso, a participação das
empresas não exportadoras que usam o mercado
de derivativos local para proteger suas exposições
à moeda estrangeira corresponde a quase 20% do
total do endividamento em moeda estrangeira das
empresas não financeiras. Após essa filtragem inicial,
tem-se que as empresas não exportadoras sem hedge8
representam quase metade da dívida total em moeda
estrangeira (gráfico 5).
5/ O padrão metodológico internacional para a compilação das
estatísticas do setor externo, incluindo as de dívida externa, adota
o conceito de residência e não o de nacionalidade. Dessa forma,
as estatísticas do endividamento externo brasileiro, compiladas
pelo Banco Central do Brasil, não incluem os títulos no exterior
emitidos por subsidiárias não residentes (isto é, residentes no
exterior) de empresas residentes. No entanto, a grande maioria dos
recursos provenientes dessas emissões é, em seguida, internalizada
no país, na forma de empréstimo intercompanhia, da subsidiária no
exterior para a residente no Brasil. Nesse momento, a dívida externa
brasileira é sensibilizada, havendo, portanto, perda pouco relevante
de informação.
6/ Definiu-se como exportadora, para fins desta análise, a empresa que
tenha exportado em 2013, segundo a Secretaria de Comércio Exterior,
e que possua pelo menos 50% da dívida vinculada a alguma linha de
crédito ao comércio exterior.
7/ Um aumento do custo da dívida em um hipotético cenário de
depreciação do real seria compensado por um acréscimo das receitas
advindas do exterior.
8/ Uma empresa foi considerada como sem hedge se não é exportadora
e se o percentual da dívida em moeda estrangeira menos a dívida
vinculada à exportação menos a posição comprada em derivativo
cambial no mercado doméstico é maior que 20% da dívida total.
Cabe ainda ressaltar que mesmo uma empresa aqui considerada
como sem hedge pode estar totalmente protegida no mercado de
derivativos no exterior.
35,6%
17,5%
14,1%
Exportadora
Não exportadora com hedge
Não exportadora sem hedge – matriz no exterior
Não exportadora sem hedge – com ativo no exterior
Não exportadora sem hedge – outros
Alguns outros fatores mitigadores de risco podem
ser considerados na análise, como, por exemplo, se a
empresa fizer parte de um grupo econômico com sede
no exterior, o que aumentaria a possibilidade de suporte
financeiro intra-grupo. Ou ainda, a empresa possuir
ativos no exterior em montante relevante que possam
compensar ou justificar economicamente a exposição
em moeda estrangeira9. Ao excluir estes grupos, a
participação das empresas não exportadoras sem hedge
cai para 16,8% da dívida total em moeda estrangeira.
Assim, sem considerar exposições de natureza
especulativa, o grupo de empresas que não possui
proteção cambial relevante e conhecida é bastante
restrito em relação ao total das pessoas jurídicas com
endividamento sujeito a riscos cambiais. A exposição
em moeda estrangeira desse grupo de empresas
representa 2,9% do PIB (gráfico 6) e corresponde a
5,8% da dívida total das empresas não financeiras.
Considerando, ainda, instrumentos de proteção
cambial10, esse percentual cai a 5,1% da dívida total
das empresas não financeiras, o que sugere tratar-se
de conjunto bastante limitado de empresas sujeito a
impactos decorrentes do risco cambial.
9/ Para definir o critério de relevância, considerou-se que os ativos no
exterior devem representar pelo menos 70% da dívida em moeda
estrangeira sem hedge. Devido à limitação de dados, passivos
no exterior de empresas brasileiras não residentes que não foram
internalizados, mesmo através de empréstimos intercompanhia, não
foram considerados.
10/ Mesmo empresas consideradas sem hedge para fins desta análise
podem ter algum tipo de proteção à variação cambial, ainda que
abaixo do ponto de corte de relevância definido na nota de rodapé
número 8.