1. A SEXUALIDADE INFANTIL
Andréia Carvalho da Silva Pacheco
Claudete Maria Lewandoswki
Dalvinha Martins
Janaina de Moura
Janice Carvalho Da Silva
RESUMO
Este artigo tem como temática central a sexualidade infantil e como objetivo principal
compreender o que as profissionais de uma instituição de Educação Infantil dizem sobre situações
cotidianas vividas pelas crianças, que remetem a este tema. Discutir os relatos de professora sobre
suas ações frente às meninas e aos meninos e como elas reagem diante de situações do cotidiano,
que remetem às questões da sexualidade na infância, esta discussão foi realizada na Escola
Municipal de Educação Infantil Pequeno Príncipe, do Município de Nova Guarita-MT, a mesma
aconteceu através de leitura conversa e reflexão, o assunto sexualidade infantil gera duvidas e
insegurança porem depois desse encontro muitas ações serão tomadas e duvidas foram sanadas,
pois as professoras puderam dialogar com embasamento teórico e assim enriquecer seus
conhecimentos a fim de fazer uma educação de melhor qualidade para todos.
Palavras - chave: Infância. Sexualidade. Educação.
ABSTRAC
This article has as its central theme infantile sexuality and the main objective of understanding
what the professionals of early childhood education institution say about everyday situations
experienced by the children , which refer to this subject . Discuss the teacher 's accounts of their
forward actions to girls and boys and how they react to everyday situations , which refer to issues
of sexuality in childhood , this discussion was held at the Municipal School of Child Little Prince
Education, New Town guardhouse -MT , the same happened through reading conversation and
reflection, it infantile sexuality creates doubt and insecurity however after that meeting many
actions will be taken and doubts have been resolved , because the teachers could get acquainted
with theoretical and thus enrich their knowledge in order to make a better quality education for all.
Key - words: Childhood. Sexuality. Education.
INTRODUÇÃO
Este artigo, que trata de infância e sexualidade, vem de encontro com o anseio de profissionais da
Educação Infantil, pois através da intervenção foram identificadas as dúvidas das professoras da
Educação Infantil em relação a este tema e, por meio de rodas de conversa, foi discutida a
importância de compreender o que as crianças vivem em relação a esse assunto e de construir
estratégias para intervir junto a elas diante de situações que trazem à tona essas experiências. Nas
rodas de conversa, também foram identificadas dúvidas sobre as ações mais recorrentes referentes
2. ao tema, presentes nas trocas de ideias e experiências sobre como agir perante o que as crianças
vivem nos espaços e tempos da instituição educativa.
Trabalhar com a Educação Infantil causa muitas angústias, pois é um momento de muitas dúvidas
e incertezas sobre o que fazer como agir, o que falar ou não falar, pois o que for dito ou as ações
tomadas implicam diretamente em costumes familiares, crenças, culturas e tantos outros processos
implícitos nas relações familiares. Por isso, o envolvimento e as intervenções da instituição
educativa, voltados ao tema são importantes no que se refere ao desenvolvimento integral da
criança.
No entanto, é importante que o educador amplie seus conhecimentos acerca do assunto, a fim de
auxiliar as crianças, respondendo às dúvidas de forma esclarecedora, respeitando as experiências
de cada educando/a. Se o educador/a não for preparado/a e não possuir informações adequadas
poderá impor seus valores, crenças e opiniões como verdades absolutas, não permitindo às
crianças autonomia para construir seus conhecimentos.
REFERENCIAL TEÓRICO
Desde 1988, a Educação Infantil, faz parte da Educação Básica, como firma a Constituição dessa
data e a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional de 1996, que garantem às crianças de 0 a
6 anos de idade o direito de serem educadas fora de casa, ou seja, em creches e pré-escolas. Esta é
um momento de importantes aprendizagens para as crianças, pois estabelecem os primeiros
contatos com o mundo social e esta convivência as constitui subjetivamente em uma cultura na
qual aprendem a se vestir, falar, se portar perante uma sociedade que inclui e exclui, em função de
padrões e normativas sociais. Entretanto, é através das relações com outras crianças que estas
aprendem como agir dentro de um grupo social, pois aprendem a esperar sua vez de falar, de ir ao
banheiro, a diferenciar banheiros de meninas e meninos. Desde a creche, estes signos e símbolos
são ensinados e repercutem nos modos das crianças de agir, ser e se relacionar. A convivência no
espaço escolar tem grande contribuição para o desenvolvimento do ser social, pois no espaço
escolar as crianças têm contatos com diferentes pessoas, entre estas, adultos, crianças de várias
idades, de culturas diferentes, de classes sociais diferentes. Assim inserir meninos e meninas em
escolas é também introduzi-los na vida social.
O ambiente escolar é um local de amplo desenvolvimento infantil, pois neste é oferecido muito
mais do que cuidado com o corpo, apesar de este ter destaque, pois os pais e a sociedade, de modo
geral, têm uma preocupação grande, no que diz respeito ao como é visto e cuidado o corpo das
crianças, e até mesmo os profissionais de Educação Infantil devem ter cuidado com a importância
3. que dispensa para certos comportamentos e atitudes, pois o que, muitas vezes, para um adulto
representa um ato obsceno, para uma criança, talvez seja uma brincadeira, um ato que expressa
curiosidade ou uma experiência legítima de expressão de seus desejo e afetos, portanto as atitudes
tomadas podem ser entendidas pela criança, como uma opressão e como se percebe e ao que sente.
É preciso ter um olhar único singular, a fim de que meninos e meninas sejam tratados da mesma
forma, sem a discriminação para o que meninos e meninas podem ou não fazer ou gostar, posto
que haja uma tendência a potencializar a força a virilidade dos meninos, a delicadeza e meiguice
das meninas, por exemplo. A atitude como estas, criam para as crianças uma visão falsa de que
meninas não podem ser fortes, meninos não podem ser tranquilos e delicados. Entretanto, se a
escola educa de forma igualitária não é permitido que estes ensinamentos e atitudes aconteçam
dentro de um ambiente escolar, porém, estes signos e símbolos são transmitidos de geração em
geração por meio de costumes e culturas, constituindo os sujeitos e muitas vezes, são ensinados
para as crianças por meio de gestos e olhares.
Egle Becchi (2003) fala sobre a “linguagem de gestos”, afirma que os gestos ligado ao dia a dia
das crianças tem muito a nos dizer e devem ser estudados pois estes representam o ser e suas
amplitudes.
RELATO DA INTERVENÇÃO
O projeto de intervenção foi desenvolvido com base nas dificuldades encontradas em sala de aula
pelas professoras de Educação Infantil, no que se refere à sexualidade, de modo a provocar o
debate sobre questões relacionadas às experiências que essas educadoras têm junto às crianças.
Para a elaboração e realização do projeto, percorreu-se um longo caminho, que se iniciou em
fevereiro de 2015, com a escolha do local onde a intervenção seria desenvolvida, que foi a Escola
Municipal de Educação Infantil “Pequeno Príncipe”, localizada no município de Nova Guarita, em
Mato Grosso. Participaram do projeto 23 professoras, sendo 9, com idades entre 25 e 35 anos, e
formadas em Pedagogia para Educação Infantil, e 6, com idades entre 35 e 45 anos, e formadas em
Pedagogia. Participaram também 9 auxiliares de sala de aula, dentre estas, 5, com idades entre 25
e 35 anos, que estão cursando o Ensino Superior na área da educação, e 4, com idades entre 35 a
45 anos, com Ensino Médio concluído. Fizeram parte do projeto também 2 merendeiras e 1
auxiliar de cozinha, estas com idades entre 40 e 50 anos, e com Ensino Médio completo, além da
diretora e da coordenadora pedagógica da escola, ambas com idades entre 40 e 45 anos e
formadas em Pedagogia para Educação Infantil.
4. Os recursos utilizados para a realização do projeto foram os seguintes: papel A4; caneta
esferográfica; notebook; data show.
A realização do projeto ocorreu na segunda quinzena de junho e na primeira quinzena de julho de
2015, totalizando, assim, 30 dias.
A intervenção aconteceu da seguinte forma:
Em uma roda de conversa, foi apresentado o tema sexualidade infantil. Em seguida, cada
profissional teceu comentários e apresentou suas dúvidas. O grupo foi dividido em dois
subgrupos. Para cada subgrupo, foi entregue o texto “Gênero e sexualidade na Educação Infantil: a
escola fala sobre isso?” (p. 45-54), retirado do livro “Trabalhando diversidade sexual e de gênero
na escola: currículo e prática pedagógica, organizado por Alexandre Bortolini et al. O texto trata
do processo de aprendizagem das relações de gênero e da sexualidade na infância, no qual se
fazem presentes normatizações de gênero, que estabelecem, desde cedo, comportamentos
considerados adequados a meninos e meninas. Cada subgrupo leu o texto e, em seguida, ambos se
reuniram a fim de debatê-lo.
A RODA DE CONVERSA SOBRE SEXUALIDADE INFANTIL: O QUE DIZEM AS
PROFISSIONAIS DE EDUCAÇÃO
Observei que há muitas dúvidas sobre como agir diante das perguntas e das cobranças dos
familiares. As profissionais disseram se preocupar muito com a reação que os familiares terão
caso seu/sua filho/a comente algo que viu ou ouviu na escola. A professoras SZ relatou que, na
sua turma de Maternal (crianças com idades entre 2 e 3 anos), uma das crianças chamava as
meninas para ir ao banheiro para mostrar sua genitália e ver a delas. A professora, nesse caso,
ficou em pânico dizendo:
S.Z.: Não sei mais o que fazer, já contei para os pais dele, a diretora já
conversou com ele, mas não tem jeito. Ele não para com esta mania ou sei lá o
que é isto.
A Diretora acrescentou:
R.R. (Diretora): As mães das meninas já estão me cobrando providências, e eu
não sei o que fazer, nem o que falar a elas. O caso está ficando cada vez mais
complicado.
Então, outra professora argumentou:
M.O.: Talvez isto seja apenas curiosidade deste aluno, talvez seja filho único,
não tinha percebido que o órgão genital dele e das meninas são diferentes.
Experimente chamá-lo e mostrar, dizer que as meninas são assim e os meninos
assim, e estas partes do corpo não podem ser mostradas em público. Quem sabe
uma conversa franca resolveria.
A professora S.Z, que levantou a questão, e a diretora R.R aceitaram a sugestão, dizendo:
S.Z. : Vamos fazer mais esta tentativa.
5. Outra professora destaca:
M.C.: Eu não acho certo que meninos e meninas se vejam nus. Acho que os
pais devem ser avisados para que juntos com a escola tomem providências. Eu
fui criada numa família religiosa, nunca vi meu pai, mãe ou irmãos em situações
íntimas. Fui criada assim e crio meus filhos assim também, e cuido dos meus
alunos como se eles fossem meus filhos. Não deixo que se misturem na hora do
banheiro e em outras situações íntimas.
Outra professora fica indignada e diz:
E. L.: Mas você não pode fazer isso, assim você está podando os alunos,
intimidando-os e não é a forma que devemos agir quando se fala de
aprendizagem infantil, pois a educação é algo libertador.
Outra professora afirma:
P.D.: Hoje as crianças veem muita pornografia na televisão, os pais permitem e
depois perdem o controle na educação dos filhos.
Já outra lembra que a televisão também contribui para o desenvolvimento:
M.R.: A televisão não tem só conteúdos ruins.
Já outra professora relata:
M.A.: Os pais devem manter o controle da educação dos filhos, e não jogar em
cima da televisão ou outras mídias a culpa por aprender ou não algo que ele não
gostaria que aprendesse.
Outra professora ressalta:
N.P.: Independente das mídias, a sexualidade infantil está sendo vista com
outros olhos, pois a maioria das famílias tem mais acesso à informação, e nós,
como profissionais de educação, deveríamos estar sempre um passo à frente no
que diz respeito à informação.
É importante destacar a preocupação que professoras, diretora, enfim, a comunidade escolar tem
com o que os pais acham, sendo que o mais importante é o que contribui ou não para o
desenvolvimento infantil. A instituição escolar deve esquecer-se das crenças particulares, questões
como crenças religiosas, pois o foco principal é o aprendizado do educando.
Os PCNS (Parâmetros Curriculares Nacionais) (1997, p. 117) tratam da sexualidade e a definem
como algo que:
(...) tem grande importância no desenvolvimento e na vida psíquica das pessoas,
pois independentemente da potencialidade reprodutiva, relaciona-se com a
busca do prazer, necessidade fundamental dos seres humanos. Nesse sentido, a
sexualidade é entendida como algo inerente, que se manifesta desde o
nascimento até a morte, de formas diferentes a cada etapa do desenvolvimento.
Além disso, a sexualidade construída ao longo da vida encontra-se
necessariamente marcada pela história, cultura, ciência, assim como pelos afetos
e sentimentos, expressando-se então com singularidade em cada sujeito.
Entretanto, a sexualidade infantil é algo que vai além das crenças, dos costumes. É algo legítimo e
que faz parte da vida de cada sujeito e, por isso, das crianças. Como afirmam os PCNS, desde
muito cedo, as crianças têm manifestações de sua sexualidade. Cabem aos/às educadores/as
compreenderem esse processo como algo legítimo e constitutivo da subjetividade das crianças, ao
invés de o rechaçarem das cenas da vida na escola.
6. Cahill (1986) destaca que as crianças tem sua identificação em relação ao gênero ao longo da vida,
portanto é comum e ate necessário que a criança tenha curiosidade em se conhecer e conhecer o
outro o diferente, para que assim possa se apropriar/construir sua própria identidade.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Foi constatado que os profissionais da Educação Infantil têm muitas dúvidas em relação a como
agir frente à sexualidade infantil, pois há preocupação por parte dos profissionais em relação a
como será a reação dos familiares ao se tratar da sexualidade, pois ainda hoje esta é vista como
algo proibido. Entretanto, ao realizar a roda de conversa com profissionais da Educação Infantil
para debater o tema, os/as profissionais envolvidos/as puderam ter mais apoio e embasamento
teórico para enfrentar as situações ocorridas no cotidiano. Na roda de conversa, discutiu-se a
importância de compreender o que as crianças vivem em relação a esse assunto e de construir
estratégias para intervir junto a elas diante de situações que trazem à tona essas experiências.
Também foram identificadas dúvidas sobre as ações mais recorrentes referentes ao tema, presentes
nas trocas de ideias e experiências sobre como agir perante o que as crianças vivem nos espaços e
tempos da instituição educativa.
Através dos relatos das professoras e troca de experiência, foi possível buscar soluções para
alguns entraves encontrados em sala de aula. Apesar de haver uma diversidade de concepções e
convicções sobre o tema da sexualidade das crianças, foi consenso entre os/as profissionais que,
independente da formação cultural, moral ou religiosa de cada um/a, quando se trata de educação,
todos/as precisam ter como foco o desenvolvimento integral da criança.
Em suma, este artigo traz inúmeras contribuições para a instituição, onde foi realizada a
intervenção, e para os/as profissionais que desta participaram, pois estes se comprometeram a
realizar novas rodas de conversa, em busca de novos embasamentos teóricos a fim de aprimorar
seus conhecimentos para que as crianças não sejam oprimidas em seus conhecimentos e
experiências, relativas à sexualidade.
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