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ESTRUTURAS PARALELAS LINEARES 
NO CRETÁCICO DA PRAIA DE SANTO 
AMARO – ORIGEM BIOGÉNICA? 
Daniela Tinoco 
Eduardo Barros 
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E.B.I. Dr. Joaquim de Barros 
Quando o impossível foi excluído, "tudo o que resta, 
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Sherlock Holmes, detective de Arthur Conan Doyle
Com este trabalho 
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praticamente paralelas que 
se prolongam por 48 m, com 
uma interrupção intermédia 
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Estas estruturas foram 
descobertas por nós e 
saltam bem à vista em maré 
baixa e em condições 
adequadas de altura de sol. 
A sua visibilidade 
tornou-se maior depois da 
construção do passeio 
marítimo entre Paço de 
Arcos e Praia da Torre.
Estas estruturas prolongam-se por 
cerca de 6 m, seguindo-se uma 
interrupção de 7,5 m e depois retomam o 
seu curso por mais de 34 m, sempre 
continuamente. A distância entre estes 
dois rebordos elevados pouco varia: 
começa com cerca de 60 - 61 cm e depois 
afila-se um pouco e muito 
progressivamente, de forma a na parte 
terminal ser de 46 – 47 cm. Entre estes 
dois rebordos elevados observa-se uma 
depressão de fundo quase plano, cujo 
nível se situa no mesmo nível da camada 
calcária em que ocorre. A largura dos 
dois rebordos é praticamente sempre 
constante – cerca de 7,5 cm e eles 
elevam-se a cerca de 3 cm acima do nível. 
Em alguns pontos, os rebordos laterais 
apresentam pequenas incisões, ovais, 
que parecem dirigirem-se para a parte 
exterior. Noutros pontos, estes rebordos 
quase desaparecem.
O material – estrutura física 
de três dimensões - localiza-se 
num nível calcário do 
Cenomaniano (cerca de 90 
milhões de anos) calcário 
muito fino (micrítico), duro, 
com bastantes minerais de 
calcite. 
Tanto o interior, como os 
rebordos, como a zona 
exterior à estrutura dupla, é 
formada por calcário com 
propriedades muito 
semelhantes.
Interpretações 
Podemos sugerir quatro tipos de 
origem para estas estruturas: 
• 1. por acção directa do homem 
• 2. origem em processos de 
diagénese, processos naturais 
• 3. consequência da actividade 
viva de organismos (os 
chamados icnofósseis) 
• 4. resultantes da acção de 
organismos já mortos no acto
1.Acção directa do homem 
É indiscutível que várias 
estruturas circulares, com 
espaçamento muito regular, 
e que ocorrem na mesma 
superfície a pouca distância, 
devem ter sido produzidas 
por acção antropomórfica, 
eventualmente para destruir 
blocos de rochas e “tornar 
mais plana a superfície e 
aumentar a visibilidade”.
Mas estas estruturas 
linerares, com a interrupção 
de quase 7 metros onde a 
erosão desgastou a rocha, 
não devem ter origem na 
acção do homem, já que 
nenhum rolo compressor 
produziria estruturas 
semelhantes, nem se 
consegue compreender qual 
o objectivo da sua 
produção.
Muitas vezes a acção dos processos 
diagenéticos conduz a estruturas bizarras, 
que se podem confundir com actividade 
de seres vivos, mas que são apenas isso – 
estruturas estranhas. 
2.Diagénese 
Várias características não sugerem uma 
origem em processos diagenéticos (por 
exemplo, pela acção de correntes, 
ondulação, dentro de água): 
• O facto dos dois rebordos apresentarem 
forma e dimensões semelhantes; 
• O facto destas estruturas apresentarem 
várias incisões ovais, em ambos os lados; 
• O facto de se prolongarem por mais de 40 
m paralelamente, mantendo uma distância 
quase constante (originalmente 
aproximando-se dos 50 m de extensão) 
• O facto do “fundo” ser sempre aplanado, 
com ligeira concavidade 
• Estes factos indiciam que as duas 
estruturas lineares não devem ter sido 
produzidas independentemente uma da 
outra.
3.Actividade viva de organismos – 
icnofósseis 
Um icnofóssil é o produto 
de um organismo 
interagindo com um meio 
num ambiente que gera uma 
estrutura física de três 
dimensões, cujas 
dimensões podem variar 
entre milímetros e 
quilómetros. 
Pistas atribuídas a “lesmas” gigantescas, 
com 510 M.a. (Estados Unidos) 
(escala:45 cm).
Fotografia,esquema provável autor-escorpião- 
de uma pista com 6m de 
comprimento encontrada na Escócia. 
A pista, foi produzida há 330 M.a., 
pelas 6 patas de um escorpião 
enorme, com 1m de largura. 
As características observadas 
nas estruturas na praia de Santo 
Amaro são muito diferentes 
destas pistas atribuídas a 
grandes invertebrados.
Continuando com invertebrados: 
O autor poderia ser um caracol com uma longa e estreita concha 
(atingindo os 60 cm). A porção impressa mais profundamente da dupla 
estrutura teria sido deixada pelo pé do caracol. A extremidade da 
concha inclinava-se para um lado, ligeiramente arrastada sobre o lodo 
e atrás do resto do animal. 
Mas estas estruturas lineares 
seriam atravessadas por 
inúmeros sulcos arqueados, de 
pequenas dimensões, muito 
juntos e paralelos uns aos outros 
e perpendicularmente às 
estruturas «principais”, como 
anéis de uma traqueia. 
Nada de comparável com as 
estruturas da praia de Santo 
Amaro.
Uma explicação para estas estruturas seria a 
passagem de uma tartaruga, provavelmente marinha, 
caminhando sobre lodo. 
Deixariam rastos quando se deslocavam em terra 
para porem ovos, com os grandes membros 
anteriores produzindo os dois rastos paralelos mais 
salientes. 
A carapaça teria cerca de 60 cm de largura 
(dimensões inferiores às grandes tartarugas 
monstruosas do Cretácico final).
Mas, por dentro dessas 
estruturas paralelas 
deixadas pelos membros 
anteriores, encontram-se 
quase sempre as 
impressões dos membros 
anteriores, também com 
influência no arrastar dos 
animais, e até das caudas. 
Por outro lado, os rastos 
raramente são «direitos» em 
extensão tão grande - os 
animais fazem curvas. 
Estas são algumas das 
dificuldades com esta 
hipótese e vamos colocá-la 
de lado.
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vertebrados como 
potenciais autores, 
poderíamos sugerir a 
ocorrência de tocas de 
animais Mesozóicos. 
De facto, recentemente 
têm sido descobertas 
estruturas alongadas, 
algumas até com os ossos 
dos potenciais autores, 
atribuídas a dinossáurios 
escavadores (embora 
também se conheçam 
tocas atribuídas a outros 
répteis e a mamíferos 
Mesozóicos). 
Fotografias e esquema de tocas de 
dinossáurios do Cretácico (Canadá e 
Austrália).
Recentemente, Palmer fotografou 4 “canais” paralelos encontrados 
em sedimentos do Jurássico médio de Madagáscar. As estruturas 
ainda não foram descritas, nem os eventuais produtores identificados, 
mas podemos colocar de lado a presença de tartarugas ou até de 
plesiossaurios gigantescos deixando as impressões de grandes 
membros / barbatanas – não há qualquer evidência de arrastamento do 
abdómen sobre o substrato. 
Estas estruturas são incisões / sulcos e muito distintas das 
observadas na praia de Santo Amaro.
Mas outras estruturas, também do Jurássico 
médio da Suiça, não estão agrupadas. Algumas 
prolongam-se por cerca de 12 m. Umas são 
direitas, outras sigmoidais. A largura máxima é de 
60 cm, mas a maioria tem cerca de 15 cm de 
largura. Foram atribuídas a grandes animais 
marinhos, foçando sobre os fundos lodosos, 
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As evidências dos 
plesiossaurios serem 
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benticos (e não nécticos ou 
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enorme flexibilidade e 
morfologia global dos seus 
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rastos tenham sido produzidos 
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Santo Amaro, já que o 
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grandes peixes nos fundos, 
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ventrais (pares)?
Friedman e colegas (2010) acabaram de mostrar que nos mares 
Cretácicos existiam peixes de grandes dimensões, suficientemente 
grandes para deixarem marcas destas dimensões. Mas geralmente 
estas marcas de arrastamento de barbatanas são sinuosas, ao 
contrário das estruturas de Santo Amaro. Por outro lado, as marcas 
das barbatanas estão representadas por incisões/sulcos cravados nos 
sedimentos e não por rebordos elevados.
Outra alternativa – passagem de uma cobra, tal como progridem as 
víboras quando ondulam sobre as areias quentes de um deserto? 
De facto e durante o Cretácico já temos evidências esqueléticas da 
existência de cobras primitivas. 
Mas as marcas destas cobras, apresentam um padrão repetido e 
paralelo e cujo comprimento representa a dimensão do animal. Cobras 
com 50 metros de comprimento não são conhecidas!!! 
Cobra moderna 
deixandando rastos 
sobre areias 
quentes e rastos 
paralelos 
sinusoidais do 
Jurássico inferior da 
África do Sul.
Continuando no campo da icnologia dos vertebrados Cretácicos. 
Para os dinossáurios, em termos globais, o registo icnológico 
conhecido mostra que só em raros casos estão bem documentadas 
ocorrências de pistas associadas a marcas de arrastamento de 
caudas. 
Trata-se de sulcos relativamente estreitos, quase lineares, 
ligeiramente sinuosos, sem rebordos elevados, totalmente distintos 
das marcas em análise.
4.Resultantes da acção de organismos 
já mortos no acto 
Provavelmente foram produzidas por 
um objecto, inanimado, com dois lados 
separados quase continuamente por 
uma distância muito próxima da fixa. 
A hipótese mais provável é que esse 
objecto seria um tronco de uma enorme 
árvore, eventualmente uma das grandes 
coníferas que se sabe terem existido 
durante o Cretácico, até em Portugal.
Na Cadriceira, perto de Torres 
Vedras, em sedimentos do 
Cretácico inferior, encontra-se 
enterrado (para protecção) um 
tronco de árvore petrificado com 
cerca de 10 m de comprimento e 1 
m de diâmetro. 
Com um tal diâmetro, o seu 
comprimento em vida seria 
enorme. Este exemplar representa 
uma nova espécie de conífera 
extinta. 
Também do Cretácico inferior se encontrou 
(1986), em Espanha (Igea, La Rioja), um 
espectacular tronco fóssil, com 11 m de 
comprimento, conservado in situ e bem 
identificado para os visitantes (40 cm de 
largura na base, e cerca de 25 cm de 
diâmetro no topo reconhecido).
Esta marca vai-se, muito lentamente, 
adelgaçando, o que estaria de acordo 
com a marca de um caule que se afunila 
para a sua extremidade terminal. Ao 
longo das “margens” e em 
determinados locais, as depressões que 
se observam poderiam representar o 
ponto de partida de ramos laterais de 
menores dimensões. 
O tronco teria cerca de 60 cm de 
diâmetro na parte maior e pelo menos 
cerca de 45 m de comprimento total. 
Tudo sugere que estes traços lineares 
não representem portanto estruturas 
biogénicas – característica produzida 
por um organismo enquanto estava 
vivo - mas sim a impressão de parte de 
um organismo morto. 
As suas características não indiciam 
que o tronco tenha rolado, deslocado 
ou eventualmente tenha sido arrastado 
por acção de correntes ou de 
ondulação, deixando preservado as 
suas dimensões originais.
Assim, sugerimos que estas marcas lineares representem a impressão 
deixada por um tronco de uma enorme árvore, confirmando o que o registo 
fóssil directo tem mostrado. 
Na Península Ibérica, e durante o Cretácico inicial, a flora arbórea estava 
dominada por Coniferophyta. Estas coníferas caracterizam-se pela ausência 
de anéis de crescimento, indicando que o clima na época não tinha estações 
bem distintas. 
Pelas grandes dimensões, é provável que o tronco não tenha sofrido 
grande arrastamento e que coníferas dessas dimensões vivessem nas regiões 
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ESTRUTURAS PARALELAS LINEARES NO CRETÁCICO DA PRAIA DE SANTO AMARO – ORIGEM BIOGÉNICA?

  • 1. ESTRUTURAS PARALELAS LINEARES NO CRETÁCICO DA PRAIA DE SANTO AMARO – ORIGEM BIOGÉNICA? Daniela Tinoco Eduardo Barros João Caldeira Jorge Ledesma E.B.I. Dr. Joaquim de Barros Quando o impossível foi excluído, "tudo o que resta, por mais improvável que pareça, deve constituir a verdade". Sherlock Holmes, detective de Arthur Conan Doyle
  • 2. Com este trabalho pretendemos descrever estruturas lineares praticamente paralelas que se prolongam por 48 m, com uma interrupção intermédia devido a erosão. Estas estruturas foram descobertas por nós e saltam bem à vista em maré baixa e em condições adequadas de altura de sol. A sua visibilidade tornou-se maior depois da construção do passeio marítimo entre Paço de Arcos e Praia da Torre.
  • 3. Estas estruturas prolongam-se por cerca de 6 m, seguindo-se uma interrupção de 7,5 m e depois retomam o seu curso por mais de 34 m, sempre continuamente. A distância entre estes dois rebordos elevados pouco varia: começa com cerca de 60 - 61 cm e depois afila-se um pouco e muito progressivamente, de forma a na parte terminal ser de 46 – 47 cm. Entre estes dois rebordos elevados observa-se uma depressão de fundo quase plano, cujo nível se situa no mesmo nível da camada calcária em que ocorre. A largura dos dois rebordos é praticamente sempre constante – cerca de 7,5 cm e eles elevam-se a cerca de 3 cm acima do nível. Em alguns pontos, os rebordos laterais apresentam pequenas incisões, ovais, que parecem dirigirem-se para a parte exterior. Noutros pontos, estes rebordos quase desaparecem.
  • 4. O material – estrutura física de três dimensões - localiza-se num nível calcário do Cenomaniano (cerca de 90 milhões de anos) calcário muito fino (micrítico), duro, com bastantes minerais de calcite. Tanto o interior, como os rebordos, como a zona exterior à estrutura dupla, é formada por calcário com propriedades muito semelhantes.
  • 5. Interpretações Podemos sugerir quatro tipos de origem para estas estruturas: • 1. por acção directa do homem • 2. origem em processos de diagénese, processos naturais • 3. consequência da actividade viva de organismos (os chamados icnofósseis) • 4. resultantes da acção de organismos já mortos no acto
  • 6. 1.Acção directa do homem É indiscutível que várias estruturas circulares, com espaçamento muito regular, e que ocorrem na mesma superfície a pouca distância, devem ter sido produzidas por acção antropomórfica, eventualmente para destruir blocos de rochas e “tornar mais plana a superfície e aumentar a visibilidade”.
  • 7. Mas estas estruturas linerares, com a interrupção de quase 7 metros onde a erosão desgastou a rocha, não devem ter origem na acção do homem, já que nenhum rolo compressor produziria estruturas semelhantes, nem se consegue compreender qual o objectivo da sua produção.
  • 8. Muitas vezes a acção dos processos diagenéticos conduz a estruturas bizarras, que se podem confundir com actividade de seres vivos, mas que são apenas isso – estruturas estranhas. 2.Diagénese Várias características não sugerem uma origem em processos diagenéticos (por exemplo, pela acção de correntes, ondulação, dentro de água): • O facto dos dois rebordos apresentarem forma e dimensões semelhantes; • O facto destas estruturas apresentarem várias incisões ovais, em ambos os lados; • O facto de se prolongarem por mais de 40 m paralelamente, mantendo uma distância quase constante (originalmente aproximando-se dos 50 m de extensão) • O facto do “fundo” ser sempre aplanado, com ligeira concavidade • Estes factos indiciam que as duas estruturas lineares não devem ter sido produzidas independentemente uma da outra.
  • 9. 3.Actividade viva de organismos – icnofósseis Um icnofóssil é o produto de um organismo interagindo com um meio num ambiente que gera uma estrutura física de três dimensões, cujas dimensões podem variar entre milímetros e quilómetros. Pistas atribuídas a “lesmas” gigantescas, com 510 M.a. (Estados Unidos) (escala:45 cm).
  • 10. Fotografia,esquema provável autor-escorpião- de uma pista com 6m de comprimento encontrada na Escócia. A pista, foi produzida há 330 M.a., pelas 6 patas de um escorpião enorme, com 1m de largura. As características observadas nas estruturas na praia de Santo Amaro são muito diferentes destas pistas atribuídas a grandes invertebrados.
  • 11. Continuando com invertebrados: O autor poderia ser um caracol com uma longa e estreita concha (atingindo os 60 cm). A porção impressa mais profundamente da dupla estrutura teria sido deixada pelo pé do caracol. A extremidade da concha inclinava-se para um lado, ligeiramente arrastada sobre o lodo e atrás do resto do animal. Mas estas estruturas lineares seriam atravessadas por inúmeros sulcos arqueados, de pequenas dimensões, muito juntos e paralelos uns aos outros e perpendicularmente às estruturas «principais”, como anéis de uma traqueia. Nada de comparável com as estruturas da praia de Santo Amaro.
  • 12. Uma explicação para estas estruturas seria a passagem de uma tartaruga, provavelmente marinha, caminhando sobre lodo. Deixariam rastos quando se deslocavam em terra para porem ovos, com os grandes membros anteriores produzindo os dois rastos paralelos mais salientes. A carapaça teria cerca de 60 cm de largura (dimensões inferiores às grandes tartarugas monstruosas do Cretácico final).
  • 13. Mas, por dentro dessas estruturas paralelas deixadas pelos membros anteriores, encontram-se quase sempre as impressões dos membros anteriores, também com influência no arrastar dos animais, e até das caudas. Por outro lado, os rastos raramente são «direitos» em extensão tão grande - os animais fazem curvas. Estas são algumas das dificuldades com esta hipótese e vamos colocá-la de lado.
  • 14. Ainda no campo de vertebrados como potenciais autores, poderíamos sugerir a ocorrência de tocas de animais Mesozóicos. De facto, recentemente têm sido descobertas estruturas alongadas, algumas até com os ossos dos potenciais autores, atribuídas a dinossáurios escavadores (embora também se conheçam tocas atribuídas a outros répteis e a mamíferos Mesozóicos). Fotografias e esquema de tocas de dinossáurios do Cretácico (Canadá e Austrália).
  • 15. Recentemente, Palmer fotografou 4 “canais” paralelos encontrados em sedimentos do Jurássico médio de Madagáscar. As estruturas ainda não foram descritas, nem os eventuais produtores identificados, mas podemos colocar de lado a presença de tartarugas ou até de plesiossaurios gigantescos deixando as impressões de grandes membros / barbatanas – não há qualquer evidência de arrastamento do abdómen sobre o substrato. Estas estruturas são incisões / sulcos e muito distintas das observadas na praia de Santo Amaro.
  • 16. Mas outras estruturas, também do Jurássico médio da Suiça, não estão agrupadas. Algumas prolongam-se por cerca de 12 m. Umas são direitas, outras sigmoidais. A largura máxima é de 60 cm, mas a maioria tem cerca de 15 cm de largura. Foram atribuídas a grandes animais marinhos, foçando sobre os fundos lodosos, desenterrando presas.
  • 17. As evidências dos plesiossaurios serem predadores de organismos benticos (e não nécticos ou planctónicos) (análise dos conteúdos estomacais) e da enorme flexibilidade e morfologia global dos seus pescoços, sugerem que estes rastos tenham sido produzidos por plesiossaurios. Mais uma vez, essas depressões não deveriam apresentar este aspecto tão rectilíneo. E o fundo não seria tão plano como ocorre em Santo Amaro, já que o arrastar e empurrar dos sedimentos conduziria a uma superfície com várias pequenas ondulações.
  • 18. Outra possibilidade – poderiam estas estruturas ter sido deixadas pelo arrastamento do ventre de grandes peixes nos fundos, produzindo, aos lados, as marcas das barbatanas ventrais (pares)?
  • 19. Friedman e colegas (2010) acabaram de mostrar que nos mares Cretácicos existiam peixes de grandes dimensões, suficientemente grandes para deixarem marcas destas dimensões. Mas geralmente estas marcas de arrastamento de barbatanas são sinuosas, ao contrário das estruturas de Santo Amaro. Por outro lado, as marcas das barbatanas estão representadas por incisões/sulcos cravados nos sedimentos e não por rebordos elevados.
  • 20. Outra alternativa – passagem de uma cobra, tal como progridem as víboras quando ondulam sobre as areias quentes de um deserto? De facto e durante o Cretácico já temos evidências esqueléticas da existência de cobras primitivas. Mas as marcas destas cobras, apresentam um padrão repetido e paralelo e cujo comprimento representa a dimensão do animal. Cobras com 50 metros de comprimento não são conhecidas!!! Cobra moderna deixandando rastos sobre areias quentes e rastos paralelos sinusoidais do Jurássico inferior da África do Sul.
  • 21. Continuando no campo da icnologia dos vertebrados Cretácicos. Para os dinossáurios, em termos globais, o registo icnológico conhecido mostra que só em raros casos estão bem documentadas ocorrências de pistas associadas a marcas de arrastamento de caudas. Trata-se de sulcos relativamente estreitos, quase lineares, ligeiramente sinuosos, sem rebordos elevados, totalmente distintos das marcas em análise.
  • 22. 4.Resultantes da acção de organismos já mortos no acto Provavelmente foram produzidas por um objecto, inanimado, com dois lados separados quase continuamente por uma distância muito próxima da fixa. A hipótese mais provável é que esse objecto seria um tronco de uma enorme árvore, eventualmente uma das grandes coníferas que se sabe terem existido durante o Cretácico, até em Portugal.
  • 23. Na Cadriceira, perto de Torres Vedras, em sedimentos do Cretácico inferior, encontra-se enterrado (para protecção) um tronco de árvore petrificado com cerca de 10 m de comprimento e 1 m de diâmetro. Com um tal diâmetro, o seu comprimento em vida seria enorme. Este exemplar representa uma nova espécie de conífera extinta. Também do Cretácico inferior se encontrou (1986), em Espanha (Igea, La Rioja), um espectacular tronco fóssil, com 11 m de comprimento, conservado in situ e bem identificado para os visitantes (40 cm de largura na base, e cerca de 25 cm de diâmetro no topo reconhecido).
  • 24. Esta marca vai-se, muito lentamente, adelgaçando, o que estaria de acordo com a marca de um caule que se afunila para a sua extremidade terminal. Ao longo das “margens” e em determinados locais, as depressões que se observam poderiam representar o ponto de partida de ramos laterais de menores dimensões. O tronco teria cerca de 60 cm de diâmetro na parte maior e pelo menos cerca de 45 m de comprimento total. Tudo sugere que estes traços lineares não representem portanto estruturas biogénicas – característica produzida por um organismo enquanto estava vivo - mas sim a impressão de parte de um organismo morto. As suas características não indiciam que o tronco tenha rolado, deslocado ou eventualmente tenha sido arrastado por acção de correntes ou de ondulação, deixando preservado as suas dimensões originais.
  • 25. Assim, sugerimos que estas marcas lineares representem a impressão deixada por um tronco de uma enorme árvore, confirmando o que o registo fóssil directo tem mostrado. Na Península Ibérica, e durante o Cretácico inicial, a flora arbórea estava dominada por Coniferophyta. Estas coníferas caracterizam-se pela ausência de anéis de crescimento, indicando que o clima na época não tinha estações bem distintas. Pelas grandes dimensões, é provável que o tronco não tenha sofrido grande arrastamento e que coníferas dessas dimensões vivessem nas regiões periféricas.