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NESTA EDIÇÃO

 Bem-vindos,
farmacêuticos!
   Presença na
 Atenção Básica
 abre novo ciclo
 para a profissão


                    Nº 47 • Julho de 2006
                    Av. Brasil, 4.036/515, Manguinhos
                    Rio de Janeiro, RJ • 21040-361
                    www.ensp.fiocruz.br/radis
Inspetor Silva,
                         um cidadão vigilante




                                            deral, “que estava dispersa, dificultan-

O     inspetor Silva está chegando.
      Quem nunca ouviu falar dele terá
a oportunidade de conhecê-lo a par-
                                            do a consulta de quem trabalha na área”,
                                            segundo a coordenadora do projeto,
                                            Maria Célia Delduque, advogada.
tir de julho, quando será lançado o               O curso Bases Legais teve como
CD-ROM Direito sanitário para a Cida-       alunos profissionais das atividades-
dania, experiência de comunicação em        meio da vigilância sanitária do DF.
saúde surgida a partir do curso Bases       “Nosso objetivo foi capacitar esses
Legais para as Ações de Saúde, pro-         trabalhadores porque entendemos
movido pela Fiocruz-Brasília e a Secre-     que a ação de vigilância sanitária se
taria de Saúde do Distrito Federal.         dá em diversos momentos, e não ape-
      No CD, o personagem principal         nas nas fiscalizações de campo”, diz
(criado e desenvolvido pelos alunos         o diretor de Vigilância Sanitária do
em sala de aula) está envolvido em          DF, Laércio Cardoso.
situações corriqueiras, que ressaltam             Além de mergulhar no universo
a importância da Vigilância Sanitária       das leis, os alunos tiveram noções de
para a saúde das pessoas e como ins-        comunicação e pensaram na melhor
trumento de cidadania. É possível, por      forma de informar à população sobre
exemplo, ver o inspetor Silva dando         as ações de saúde. Diversas reuniões
orientação em casos variados, como          definiram nome e perfil do inspetor
a venda de remédios sem receita             e dos demais personagens, como tam-
médica, a compra de um simples ca-          bém os temas que seriam abordados.
chorro-quente naqueles carrinhos            O curso resultou ainda num livro pre-
espalhados por todas as cidades, o          parado pelos alunos, Questões atuais
correto tratamento do lixo hospita-         de direito sanitário, do qual a Radis
lar, os cuidados com a saúde do tra-        tratará na próxima edição.
balhador, a vacinação de animais.                 O CD-ROM será distribuído gra-
      A linguagem é leve e bem-humo-        tuitamente a profissionais e estabe-
rada, como nos desenhos animados ou         lecimentos do Distrito Federal que
quadrinhos. O CD-ROM vai além: compi-       trabalhem com produtos e serviços
la a legislação sanitária do Distrito Fe-   ligados à vigilância sanitária. (W. V.)
editorial
                                                                                                  Nº 47 • Julho de 2006

      Início do início do início
A   imagem da capa é uma mandala con
    cebida pelo editor de arte para sim-
bolizar o futuro dos nossos sonhos.
                                           cos de células privados fazem propa-
                                           ganda enganosa sobre congelamento
                                           de células de cordão umbilical. A es-
                                                                                        Comunicação e Saúde
                                                                                        • Inspetor Silva, um cidadão vigilante    2
Como no tempo em que o brasileiro          perança em torno das células-tronco
estiver alimentado adequadamente, li-      foi utilizada como cortina de fumaça         Editorial
vre de desigualdades e beneficiado         na Lei de Biossegurança, para aprovar
                                                                                        • Início do início do início              3
pelas terapias com células-tronco, te-     pesquisas e comercialização de orga-
mas que são abordados nesta edição.        nismos geneticamente modificados (os
      Segundo o IBGE, 72 milhões de        transgênicos), argumentam debatedores        Cartum                                    3
brasileiros enfrentam situações de in-     de oficina promovida pelo Projeto
segurança alimentar, 39,5 milhões em       Ghente, da Fiocruz, que promove estu-
grau considerado grave. Campanhas da       dos sociais, éticos e jurídicos sobre
sociedade, políticas de governo e uma      acesso e uso de genomas em saúde.
proposta de Lei Orgânica de Seguran-             Pesquisadores que obtiveram su-
ça Alimentar e Nutricional são o início    cesso injetando células em voluntários       Cartas                                    4
de um futuro diferente.                    com doenças do fígado e do coração
      No debate sobre determinantes        dizem que ainda não conhecem os me-          Súmula                                    6
sociais da saúde, reduzir desigualda-      canismos que produziram melhoras nos
des requer ações que fortaleçam a ca-      pacientes. O Ministério da Saúde finan-
pacidade de decisão dos indivíduos,        cia pesquisa com 1.200 pacientes             Toques da Redação                         7
construção de redes entre as comu-         cardiopatas, em diversas instituições,
nidades vulneráveis, políticas públicas    para aprimorar esses estudos e ofere-        Células-tronco
intersetoriais de melhoria das condições   cer, no futuro, o tratamento pelo SUS.
                                                                                        • Falta consenso, sobra esperança         8
de vida e mudanças macroeconômicas               As questões éticas são controver-
e culturais para um desenvolvimento        sas, especialmente no que diz respeito
com distribuição de riquezas.              à regulação de clínicas de reprodução        Comissão Nacional Sobre
      No imaginário estimulado pela        assistida, à socialização do conhecimen-     Determinantes Sociais da Saúde
mídia, as terapias com células-tron-       to existente, à informação para a parti-     • Compromisso com a ação                 12
co vão acabar com doenças incurá-          cipação consciente em experimentos,
veis. E a sensação é de que já chega-      aos aspectos éticos e morais nos pro-
mos lá. Avanços anunciados pelo            cedimentos de cada pesquisa.
sul-coreano Woo-Suk Hwang, por                   Estamos apenas no começo.
exemplo, tiveram mais repercussão do
que a constatação de que suas des-                        Rogério Lannes Rocha          Lei de Segurança Alimentar
cobertas se tratavam de fraudes. Ban-                     Coordenador do RADIS          • A gente não quer só comida             15


                                                                                        Entrevista: Chico Menezes
                                                                                        • “A alimentação é um direito
                                  C a rt um                                             fundamental”                             17


                                                                                        Serviço                                  18




                                                                                        Pós-Tudo
                                                                                        • Atenção básica abre novo ciclo
                                                                                        para o farmacêutico                      19




                                                                                        Capa Aristides Dutra
                                                                                        A mandala da capa foi produzida a partir
                                                                                        de gráficos de fractais
                                                                                        Ilustrações Cassiano Pinheiro (C.P.) e
                                                                            C.P./A.D.   Aristides Dutra (A.D.)
RADIS 47   JUL/2006
             [ 4    ]




                                                                          C A RTA S


C RIANÇA      FELIZ                                       que deve passar por um processo de                    REMÉDIOS   SUPERFATURADOS   —   RÉPLICA   1
                                                          reestruturação. Analisando a forma-

A   chei inteligente e atualizada a ma-
    téria da edição nº 44, sobre os di-
reitos da criança e do adolescente.
                                                          ção acadêmica dos profissionais de
                                                          saúde e o atendimento nas unidades,
                                                          vê-se a necessidade de mudanças de
                                                                                                                C   om relação à entrevista publicada
                                                                                                                    na Radis, em que o sr. Antonio
                                                                                                                Barbosa, presidente do Conselho
Sou assistente social da saúde e tra-                     atitudes de muitos profissionais que,                 Regional de Farmácia do Distrito Fe-
balho na Casa do Adolescente do                           na verdade, fazem parte do SUS ape-                   deral [N. R.: também coordenador
Grajaú, em São Paulo, desenvolvendo                       nas para ocupar espaço. O usuário                     do Idum], cita o anti-hipertensivo
terapia comunitária com adolescentes,                     clama por assistência humanizada. (...)               Naprix como um dos medicamentos
pais e educadores. Temos assento no                            Para isso, o SUS tornará seus                    que teriam sofrido reajustes de pre-
Fórum de Defesa dos Direitos da Cri-                      princípios e diretrizes mais presen-                  ços de até 954% nos últimos 10 anos,
ança e do Adolescente do Grajaú.                          tes e mais eficazes quando passar por                 a Libbs Farmacêutica gostaria de es-
• Maria Lucia B. Santos, São Paulo                        uma reforma íntima, a fim de que se                   clarecer que o Naprix foi lançado no
                                                          forme um profissional conhecedor do                   mercado em agosto de 2000, ou seja,
A   REFORMA        “ ÍNTIMA ”    DO    SUS                sistema de saúde. A grade curricular,                 há pouco mais de cinco anos, nas
                                                          com raríssimas exceções, é voltada                    apresentações 2,5 mg com 20 com-
                                                          para o profissional tecnicista e com                  primidos e 5mg com 20 comprimidos,
                                                          carga enorme de preconceito com                       aos preços máximos ao consumidor
                                                          a saúde pública. O “profissional                      de R$ 11,60 e R$ 21,60, respectiva-
                                                          neoliberal” ocupará os espaços. (...)                 mente. Queremos também comple-
                                                          Assim, não existirá “reforma da re-                   mentar que todos os reajustes de
                                                          forma” sem a reforma íntima, passan-                  preços feitos pela Libbs estão per-
                                                          do por uma análise profunda dos                       feitamente de acordo com as nor-
                                                          nossos atos, em prol daqueles que                     mas da Anvisa. (...)
                                                          confiam no “dotô”.                                    • Alcebíades de Mendonça Athayde

A  partir de 2000, os grandes pensa-
   dores da área da saúde vêm pre-
gando “a reforma da reforma” do SUS,
                                                          • Romeu Costa Moura, fisioterapeu-
                                                          ta, pós-graduado em Saúde Pública,
                                                          Guanambi, BA
                                                                                                                Junior, diretor de marketing da Libbs

                                                                                                                Tréplica do Idum — O Instituto Brasi-
                                                                                                                leiro de Defesa dos Usuários de Me-
                                                                                                                dicamentos (Idum) reafirma todos os
                                                                                                                dados sobre os aumentos de preços
                                          expediente                                                            dos medicamentos de novembro de
                                                                                                                1995 a fevereiro de 2005, com rea-
                                                          Reportagem Katia Machado (subeditora),                justes de até 954%. O que mais subiu
                                                             Claudia Rabelo Lopes, Wagner                       de preço foi o Naprix, do Libbs. Os
                                                             Vasconcelos (Brasília), Bruno                      dados foram extraídos da Revista
                                                             Camarinha Dominguez e Júlia
                                                             Gaspar (estágio supervisionado)                    ABCFarma (órgão oficial de preços da
                                                          Arte Aristides Dutra (subeditor) e                    indústria farmacêutica). A edição nº
                                                             Cassiano Pinheiro (estágio                         52, de novembro de 1995, traz o
                                                             supervisionado)                                    Naprix na página 77 com o preço de
RADIS é uma publicação impressa e online                  Documentação Jorge Ricardo Pereira,
da Fundação Oswaldo Cruz, editada pelo                                                                          R$ 5,22. Portanto, já existia em 1995.
Programa RADIS (Reunião, Análise e                           Laïs Tavares e Sandra Suzano
                                                                                                                A apresentação que o laboratório usa
Difusão de Informação sobre Saúde),                       Secretaria e Administração Onésimo
da Escola Nacional de Saúde Pública                          Gouvêa, Fábio Renato Lucas,                        para enganar a imprensa e o consu-
Sergio Arouca (Ensp).                                        Cícero Carneiro e Mariane                          midor é diferente da pesquisada. Ou
                                                             Gonzaga Viana (estágio                             seja, usa as apresentações de 2,5 mg
Periodicidade mensal                                         supervisionado)
Tiragem 47.500 exemplares                                                                                       e 5 mg, ambas com 20 comprimidos.
Assinatura grátis                                         Informática Osvaldo José Filho e                      A apresentação pesquisada, no entan-
    (sujeita à ampliação do cadastro)                        Mario Cesar G. F. Júnior (estágio
                                                             supervisionado)                                    to, foi a de 0,5 mg com 30 comprimi-
Presidente da Fiocruz Paulo Buss                                                                                dos. Que teve, sim, reajuste acumu-
Diretor da Ensp Antônio Ivo de Carvalho                   Endereço
                                                             Av. Brasil, 4.036, sala 515 — Manguinhos           lado no período de 954%; a inflação
Ouvidoria Fiocruz                                            Rio de Janeiro / RJ — CEP 21040-361                acumulada oficial medida pelo IPCA
Telefax (21) 3885-1762                                       Tel. (21) 3882-9118                                foi de 197,45%, e o salário mínimo foi
Site www.fiocruz.br/ouvidoria                                Fax (21) 3882-9119                                 reajustado em apenas 250%.
PROGRAMA RADIS                                            E-Mail radis@ensp.fiocruz.br
                                                                                                                O Idum já enviou representação ao
Coordenação Rogério Lannes Rocha                          Site www.ensp.fiocruz.br/radis
                                                                                                                Ministério Público Federal solicitan-
Subcoordenação Justa Helena Franco                        Impressão
Edição Marinilda Carvalho                                 Ediouro Gráfica e Editora SA
                                                                                                                do o cancelamento dos aumentos au-
                                                                                                                torizados em março de 2006, pois os
                                                                                                                considera abusivos. As provas dos re-
USO DA INFORMAÇÃO — O conteúdo da revista Radis           sáveis pelas matérias reproduzidas. Solicitamos aos
pode ser livremente utilizado e reproduzido em qual-      veículos que reproduzirem ou citarem conteúdo de      ajustes do Libbs também foram en-
quer meio de comunicação impresso, radiofônico,           nossas publicações que enviem para o Radis um exem-   caminhadas ao MPF.
televisivo e eletrônico, desde que acompanhado dos        plar da publicação em que a menção ocorre, as refe-
créditos gerais e da assinatura dos jornalistas respon-   rências da reprodução ou a URL da Web.                • Antônio Barbosa, coordenador
RADIS 47   JUL/2006
                                                                                                                             [ 5   ]


REMÉDIOS   SUPERFATURADOS   —   RÉPLICA   2   vista, nem ter a informação a devida                  de Formação de Agentes Locais de
                                              credibilidade. Nossas fontes: IMS-                    Vigilância em Saúde — e gostaria de

E   m entrevista à Radis nº 45, página
    31, o Sr. Antonio Barbosa, presi-
dente do Conselho Regional de Far-
                                              Health, Ministério do Desenvolvimen-
                                              to, Indústria e Comércio Exterior.
                                              • Antônio Barbosa, coordenador
                                                                                                    ver matéria sobre este importante
                                                                                                    curso para agentes que desenvolvem
                                                                                                    atividades de epidemiologia e vigilân-
mácia do DF, afirmou que o Interferom                                                               cia ambiental. Afinal, é um importan-
Peguilado custa ao fabricante apenas          R ADIS “ GOVERNISTA ”                                 te trabalho com agentes do SUS, tal-
R$ 4 e é vendido a quase R$ 1.000.                                                                  vez o primeiro deste porte.
Como presidente da Associação Brasi-                                                                • Adaly Fortunato da Silva Junior, São
leira dos Transplantados de Fígado e                                                                Gonçalo, RJ
Portadores de Doenças Hepáticas
(TransPática), gostaria que a Radis ve-
rificasse esta informação, pois afeta
os portadores da hepatite C, com me-
dicamentos distribuídos pelo gover-
                                                                                                    G     ostaria de ver matéria sobre
                                                                                                          hemodiálise. Milhões de pessoas
                                                                                                    nem sequer têm noção do que seja
no. Creio que a Radis, como publica-                                                                isso. Estou fazendo treinamento numa
ção de instituição pública, tem o dever                                                             unidade de hemodiálise e é um setor
de verificar a informação antes de                                                                  fascinante.




                                                                                        A.D./C.P.
colocá-la em sua revista, pois tem                                                                  • Jaquelline Moura, técnica de nível
enorme efeito em seus leitores, devi-                                                               médio, Patos, MG
do à credibilidade da instituição e ao
                                                                                                    R ADIS
grande alcance desta publicação.
• Ervin Moretti, presidente da Trans-         S  ou leitor das revistas Radis, Súmula
                                                 e Tema há muitos anos, talvez uns
                                                                                                             AGRADECE

Pática, São Paulo

Tréplica do Idum — O Interferon
                                              15. E nesse período percebi que man-
                                              tinham linha dura com os governos
                                              anteriores, estampadas inclusive nas
                                                                                                    G    ostaria de parabenizar a Radis pelo
                                                                                                         excelente conteúdo e a facilida-
                                                                                                    de de acesso à revista. Sendo univer-
Peguilado tem sua dosagem calculada           capas. No entanto, percebi agora                      sitários (e conseqüentemente sem
em micrograma (1.000.000 de micro-            que, após a eleição de Lula, esse                     muita grana no bolso), temos conteú-
gramas = 1 grama). De acordo com o            enfoque mudou. Espero estar enga-                     do em nossa área de atuação sem cus-
preço, podemos observar que o grama           nado, pois não gostaria de saber que                  to, o que valoriza a gente como estu-
custa em torno de R$ 5 milhões. E não         a revista esteja afinada com um governo               dante. Assinaturas são bem caras.
há nenhuma tecnologia que justifique.         corrupto, incompetente e aliado a dita-               • Edson Mascarenhas Cotta, Belo
O grama do ouro, por exemplo, custa           dores como Hugo Chávez, Fidel Castro                  Horizonte
cerca de R$ 50. O do medicamento ci-          (daquele país onde o povo é obrigado a
tado, R$ 5 milhões. Como é dosado em          viver em condições medievais).
microgramas, o usuário não chega a
perceber a extensão absurda do pre-
ço. Portanto, ainda que houvesse ouro
                                              • Cezar Santin, médico, Chapecó, SC

                                                 O leitor está de fato enganado. A
                                                                                                    A   Radis é a revista que eu procura-
                                                                                                        va e não encontrava. Está sendo
                                                                                                    de grande contribuição para a minha
ou diamante (não é caso) na fórmula,          Radis, publicação que já alcançou a                   vida acadêmica.
o preço ainda seria absurdo.                  maturidade, não avalia governos, e                    • Paulo Henrique de Souza Rocha, Vi-
     O que define o preço de um               sim políticas de saúde segundo a sua                  tória da Conquista, BA
medicamento não é apenas a maté-              observância à Constituição e aos prin-
ria-prima. A planilha de custo é as-          cípios do SUS. No financiamento, por
sim composta: 15%, matéria-prima;
1,5%, embalagem/cartonagem; 30%,
marketing/comercial; 53,5%, pro-
                                              exemplo, os investimentos da União
                                              em saúde caíram de US$ 89,45 per
                                              capita/ano em 1997 para US$ 48,37%
                                                                                                    S  ou estudante do curso técnico de
                                                                                                       Gestão em Saúde. Fico sempre an-
                                                                                                    sioso para ler as matérias desse peri-
dução/tecnologia/pessoal.                     em 2002, o que foi devidamente cri-                   ódico: não sei mais viver sem Radis
     No caso dos medicamentos com             ticado pela revista. Em 2005, ficamos                 todo mês.
patente o fabricante tem exclusivi-           em US$ 62,67, bem distante do ne-                     • João Leopoldo V. Vargas, Juazeiro, BA
dade por cerca de 20 anos. Com o ar-          cessário — igualmente criticado. A
gumento do custo da pesquisa, tam-            bandeira atual do movimento da re-
bém superdimensionado, o remédio
pode custar milhares de vezes mais
do que o justo. É o caso do Interferon
                                              forma sanitária é a aplicação na saú-
                                              de de 10% das receitas brutas da
                                              União, como prevê o PLC 01/03, que
                                                                                                    S  ou dentista, mas trabalho com pro-
                                                                                                       moção da saúde em escolas no pro-
                                                                                                    jeto chamado Dentescola, e adorei a
Peguilado. A indústria usa de muito           regulamenta a Emenda Constitucio-                     revista.
marketing e até favorecimento a or-           nal 29. E que infelizmente o Congres-                 • Katia Cristina M. Guerra, Rio de Ja-
ganizações para justificar os absurdos.       so, não-pressionado pelo governo,                     neiro
Vale destacar que, neste caso específi-       mantém engavetado há três anos.
co, a matéria-prima, por ter patente,                                                               NORMAS PARA CORRESPONDÊNCIA
tem o preço que seu fabricante bem            NA   PAUTA
entende, resultando nessa aberração.                                                                  A Radis solicita que a correspondência
     Aproveitamos para lamentar a
ausência de indignação do presidente
da TransPática, que em nenhum mo-
                                              S  ou biólogo sanitarista e trabalho
                                                 com controle de vetores pela
                                              Funasa, cedido à Secretaria de Saú-
                                                                                                      dos leitores para publicação (carta,
                                                                                                      e-mail ou fax) contenha identificação
                                                                                                      completa do remetente: nome, ende-
mento se mostra estarrecido com a prá-        de de São Gonçalo/RJ, onde venho                        reço e telefone. Por questões de es-
tica da indústria, mas, ao contrário,         desempenhando meu trabalho, ago-                        paço, o texto pode ser resumido.
insinua não ser séria a postura da re-        ra como tutor do Proformar — Curso
RADIS 47   JUL/2006
             [ 6   ]




                                                            SÚMULA


D IREITOS    HUMANOS E FRUSTRAÇÃO             tos das pessoas com deficiência e apoio     cientistas com o andamento da CTNBio”,
                                              a vítimas e testemunhas não recebe-         diz a matéria. “Eles alegam que a nova
                                              ram um real sequer”, reconheceu o           composição dificulta uma discussão mais
                                              ministro, que, segundo a matéria, tem       objetiva”. Com a Lei de Biossegurança,
                                              mantido postura suprapartidária e vem       a composição da CTNBio foi ampliada
                                              lutando no governo pelo crescimento         de 18 titulares para 27. Além do “exces-
                                              da pauta dos direitos humanos.              so de democracia”, incomoda sobretu-
                                                                                          do a nomeação de representante do
                                              M AIS   ATENÇÃO À EPILEPSIA                 Ministério Público Federal para as-
                                                                                          sistir às reuniões — coisa que a lei já
                                                                                          permitia, mas nunca foi colocada em
                                       C.P.




                                              O    ministro da Saúde planeja assi-
                                                   nar neste mês de julho portaria
                                              que prevê uma estratégia de aten-
                                                                                          prática, em 11 anos da CTNBio. “Con-
                                                                                          sidero totalmente desnecessária a
                                                                                          presença de tal representante”, dis-
                                              ção à epilepsia. A OMS faz campanha         se Schneider. “É uma espécie de in-
                                              há anos pelo fim do preconceito em          tervenção numa comissão técnica,
                                              relação à doença, que considera a           algo totalmente sem sentido”. Em sua
                                              condição neurológica grave mais co-         carta de demissão, ele se refere às
                                              mum do planeta. Em 2002 o Brasil ade-       “tensas e intermináveis reuniões
                                              riu ao processo, que supõe redução          mensais, que não se esgotam”, in-
                                              dos encargos econômicos, físicos e          formou o jornal.

A    frustração com o governo Lula foi
     a tônica dos debates da 10ª Con-
ferência Nacional de Direitos Huma-
                                              psicossociais que a epilepsia acarre-
                                              ta. No 4º Workshop da Campanha Glo-
                                              bal Epilepsia Fora das Sombras, na
                                                                                                Matéria anterior do Estadão diz
                                                                                          que, “para muitos cientistas”, a função
                                                                                          da procuradora Maria Soares Cardioli é
nos, em junho, pelas limitações na exe-       Unicamp, em Campinas (SP), uma das          “tumultuar e intimidar”. E mais: “As
cução das políticas públicas e pelo           estratégias estudadas foi o atendimen-      discussões estão emperradas. Um gru-
próprio modelo de desenvolvimento.            to aos pacientes nas Unidades Básicas       po que notadamente está lá para atra-
Alguns identificaram sinais de mudan-         de Saúde, pois mais de 70% dos casos        palhar, fica se atendo a picuinhas, e
ça depois que o ministro Paulo Vanuchi        de epilepsia são tratáveis com medidas      não se avança no principal”, desabafa
assumiu a Secretaria Especial de Di-          simples. A mídia brasileira, que alimen-    o pesquisador da Embrapa Edilson
reitos Humanos, em dezembro — as              ta o preconceito, ignorou o encontro.       Paiva, segundo a matéria.
críticas à gestão do ex-secretário                                                              Maria Soares determinou que os
Nilmário Miranda, histórico militante         C AMISINHAS   MADE IN   X APURI             integrantes fizessem declaração de
da causa, foram as mais duras, como                                                       conflito de interesse, para o caso de
também ao episódio do rebaixamento                                                        processos em que não poderiam atu-
da pasta, que de julho a dezembro de
2005 perdeu o status de ministério.
      A avaliação da gestão Lula foi
                                              O    governo federal vai fabricar ca-
                                                   misinhas a partir de janeiro de
                                              2007. A primeira fábrica estatal de pre-
                                                                                          ar por seus vínculos com a instituição
                                                                                          ou o cientista envolvido no assunto.
                                                                                          Segundo o jornal, “muitos ameaçaram
mais negativa do que a da época de            servativos está sendo construída em         não assinar”, mas o fizeram em duas
Fernando Henrique Cardoso. Para Caio          Xapuri, no Acre, e vai produzir cami-       versões: uma do MP e outra prepara-
Varela, do Instituto Nacional de Estu-        sinhas com látex natural da seringuei-      da pelos próprios integrantes.
dos Socioeconômicos (Inesc), a cam-           ra nativa da Amazônia. Hospitais pú-
panha de combate à tortura sofreu duro        blicos e centros de saúde receberão         MORRE   O PAJÉ TUCANO   GABRIEL GENTIL
desmonte, perdendo até o telefone de          o material gratuitamente.
ligação gratuita para denúncias de abu-
                                              CNTB IO
so, disse à Agência Carta Maior. As ações
de defesa de crianças e adolescentes
                                                         EM MOMENTO DIFÍCIL
                                                                                          O     pajé tucano Gabriel dos Santos
                                                                                                Gentil morreu no dia 27 de maio no
ameaçados também foram desarticula-
das. Campanhas como o Plano de Edu-
cação em Direitos Humanos e Brasil sem
                                              O     jornal O Estado de S. Paulo, histó-
                                                    rico defensor dos transgênicos e
                                              crítico da reformulação da Comissão
                                                                                          Hospital João Lúcio, em Manaus. Em ou-
                                                                                          tubro de 2004 (Radis 26) ele recebeu o
                                                                                          título honorífico de “pesquisador emérito
Homofobia, sem recursos, tiveram pou-         Técnica Nacional de Biossegurança           no campo do conhecimento tradicional”
ca efetividade. “O problema do orça-          (CTNBio) a partir da aprovação da Lei       do Centro de Pesquisa Leônidas e Maria
mento é dramático”, justificou-se             de Biossegurança, publicou várias ma-       Deane (Fiocruz-Amazonas) e ganhou bol-
Vanuchi, “premido pelas questões fis-         térias sobre “um clima de levante e in-     sa para desenvolver seus projetos de
cais e a necessidade de superávit pri-        dignação” entre seus integrantes. Em 2      pesquisa. Gabriel, que estudava a histó-
mário”. Somados os orçamentos da se-          de junho, o vice-presidente da comis-       ria de seu povo há mais de 30 anos, co-
cretaria e do Fundo Nacional da Criança       são, professor Horário Schneider, espe-     meçou a coletar mitos da tradição tucana
e do Adolescente, há R$ 100 milhões,          cialista em genética, pediu afastamen-      em 1969, em São Gabriel da Cachoeira
quando são necessários R$ 200 milhões.        to e criticou o “excesso de reuniões”.      (1.601 quilômetros a noroeste de Manaus,
“Programas como apoio à implantação                 “A saída de Schneider ocorre num      pelo Rio Negro), a pedido do padre
de conselhos de promoção dos direi-           momento de evidente insatisfação de         salesiano Casimiro Béksta. Seu último li-
RADIS 47   JUL/2006
                                                                                                               [ 7   ]


vro publicado foi Povo tucano — Cultura,
história e valores.

R EMÉDIO   VENDIDO A   R$ 1   É GRATUITO




O     Globo de 31/5 publicou reporta-
      gem afirmando que as farmácias po-
pulares do governo do Estado do Rio,
                                                                                       blica de assistência médico-sanitária
                                                                                       em São Paulo”. Com a grafia da épo-
                                                                                       ca, claro. Parabéns à revista.
que atendem pacientes acima de 60
anos, cobram R$ 1 por medicamentos
distribuídos gratuitamente em unidades        EXCELENTE IDÉIA! — A Revista
do SUS. Inspeção do Tribunal de Contas        Facultad Nacional de Salud Pública,
do Estado (TCE) descobriu que 43% dos         da Universidad de Antioquia, Medellín,
remédios, entre os 44 oferecidos nes-         Colômbia (www.udea.edu.co/), que o
sas farmácias, fazem parte da lista da        RADIS recebeu em fins de maio, publi-
Assistência Farmacêutica do SUS, que          ca em edição especial de março as
os fornece de graça à população. O            “Memorias do 4º Congreso Internaci-
jornal afirma que o governo federal tam-      onal de Salud Pública” (novembro/
bém cobra, nas farmácias populares, por       2005), cujo tema foi “Globalização,
medicamentos gratuitos do SUS. A far-         Estado e saúde”. São 149 páginas com
mácia popular federal aceita receita de       todas as palestras proferidas. Uma
qualquer médico, e a estadual, apenas         publicação assim, com a íntegra das
de médicos do SUS.                            intervenções em conferências e con-




                                                                                                                                  A.D.
                                              gressos, seria de enorme utilidade
O S 7 ERROS DO E STATUTO                      para pesquisadores e profissionais de    SAÚDE LEGIS NO AR — Já está dispo-
DA P ESSOA COM D EFICIÊNCIA                   saúde brasileiros. Uma dica: a publi-    nível o Sistema de Legislação em Saú-
                                              cação colombiana foi parcialmente        de, o Saúde Legis (www.saude.gov.br/
                                              financiada pela Opas/OMS.                saudelegis), com 44 mil atos normativos

G     eraldo Nogueira, vice-presidente
      da Reabilitation International para
América Latina, em artigo no site do Ibase
                                                   Pelo menos os arquivos das
                                              apresentações podem muito bem ser
                                              divulgados nos respectivos sites, já
                                                                                       publicados desde 1947 no Diário Ofi-
                                                                                       cial da União (seções 1 e 2) e nos Bo-
                                                                                       letins de Serviço (por enquanto, es-
(www.ibase.org.br) de 22 de maio, enu-        que se trata de tecnologia ao al-        tão disponíveis apenas os textos
mera os sete pecados do Estatuto da           cance do setor. Os organizadores da      completos dos atos normativos publi-
Pessoa com Deficiência, em análise no         12ª Conferência Nacional de Saúde,       cados a partir de 2003; os anteriores
Congresso Nacional. Ei-los, em resumo:        por exemplo, prometeram que logo         serão incluídos gradativamente). O
1) Terminologia inadequada, interpreta-       todas as intervenções estariam na        conteúdo está num banco de dados
ção equivocada de direitos e “muitos          página da Doze na internet, o que        único, o que facilita a pesquisa. A con-
padrinhos loucos para batizar logo as         não aconteceu.                           sulta pode ser feita por tipo de nor-
crias”; 2) Estatuto soa excludente: se-            Também a revista Salud Publica      ma, número, data, assunto e órgão de
para direitos de leis que tratam a socie-     — Escuela de Salud Publica, Facultad     origem. Também será possível acessar
dade como um todo; 3) Deficiência é           de Ciências Médicas, Universidad Na-     o Saúde Legis no Portal da Saúde
condição humana que permeia as de-            cional de Córdoba (www.unc.edu.ar)       (www.saude.gov.br) e na Biblioteca
mais diferenças: idosos, jovens, etnia,       —, que em abril enviou ao RADIS suas     Virtual em Saúde (www.saude.gov.br/
religião, gênero ou orientação sexual         edições de 2005, publicou número         bvs). Futuramente o sistema incluirá
não devem estar afastados da realidade        especial com as intervenções nas         uma interface para pesquisas simultâ-
da pessoa com deficiência; 4) Estatuto        Jornadas Internacionales de Salud        neas no Saúde Legis e na base de da-
é instrumento jurídico estático e de          Publica. Como diz o diretor da escola    dos da Presidência da República, que
difícil alteração, ao contrário da lei, que   em editorial, “todo evento científico    abrange leis, decretos, medidas pro-
é dinâmica; 5) Um estatuto facilita con-      tem por finalidade proporcionar es-      visórias etc.
sulta de direitos, mas também ações de        paço de participação e troca de ex-
lobby; 6) Lobistas poderão emperrar           periências entre os profissionais in-    ABRASCÃO: 8.380 TRABALHOS — Os
avanços no Congresso, alegando que            teressados na temática”. É mais do       10 mil profissionais cadastrados no 8º
exigem revisão do estatuto; 7) O esta-        que justo que, além dos participan-      Congresso Brasileiro de Saúde Cole-
tuto se justificava quando o segmento         tes, os “interessados na temática”       tiva (www.saudecoletiva2006.com.br),
era minoria inexpressiva. Atualmente, as      tenham acesso aos trabalhos apresen-     o Abrascão, e no 11º Congresso Mun-
pessoas com deficiência somam 14,5%           tados em eventos.                        dial de Saúde Pública, em agosto, no
da população, organizadas em dois mo-                                                  Rio de Janeiro, enviaram aos organi-
vimentos que se complementam e con-           RSP 40 ANOS -— Ainda no capítulo das     zadores — a Associação Brasileira de
tam com uma das legislações mais inclu-       publicações: a Revista de Saúde Pú-      Pós-Graduação em Saúde Coletiva
sivas das Américas.                           blica da Faculdade de Saúde Pública      (Abrasco) e a Federação Mundial das
                                              da USP comemorou seus 40 anos de         Associações em Saúde Pública
                                              existência com uma edição especial,      (World Federation of Public Health
SÚMULA é produzida a partir do acom-          que contém um capítulo com os “Clás-     Associations) — 9.680 trabalhos. Desse
panhamento crítico do que é divulgado         sicos dos primeiros dez anos”: “His-     total, apenas 1.300 foram recusados.
na mídia impressa e eletrônica.               tória da saúde pública no estado de      Os restantes serão apresentados em
                                              São Paulo” e “Situação da rêde pú-       formato pôster ou oralmente.
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             [ 8   ]




                       CÉLULAS-TRONCO




           Falta consenso,
           sobra esperança
                                        Bruno Camarinha Dominguez
                                        e Claudia Rabelo Lopes




                                        A
                                                  descoberta de que
                                                  eram fraudes os alar-
                                                  deados avanços obti-
                                                  dos pela equipe do
                                        cientista sul-coreano Woo-
                                        Suk Hwang nas pesquisas com
                                        células-tronco embrionárias
                                        obrigou a sociedade e os pró-
                                        prios pesquisadores a reve-
                                        rem as conquistas atingidas
                                        na área (Radis 42). A popula-
                                        ção se encanta com os anún-
                                        cios de que as terapias com
                                        células-tronco (ver box) são
                                              a solução para acabar
                                                 com doenças incurá-
                                                 veis. Mas a impreci-
                                              são de dados dos estu-
                                        dos, com cientistas divergindo
                                        entre si, demonstra a falta de
                                        consenso na área. A polêmi-
                                        ca é ainda maior quando en-
                                        tram em pauta as discussões
                                        éticas e legais. Para esclare-
                                        cer a comunidade científica
                                        sobre as possibilidades atuais
                                        de aplicação de células-tron-
                                        co no Brasil, os limites da téc-
                                        nica e o uso seguro das tera-
                                        pias, o Projeto Ghente —
                                        Estudos sociais, éticos e ju-
                                        rídicos sobre acesso e uso de
                                        genomas em saúde —, da
                                        Fiocruz, promoveu uma ofici-
                                        na, em 18 de maio, no Audi-
                                        tório do Museu da Vida.




                             A.D.
RADIS 47   JUL/2006
                                                                                                                [ 9   ]




                                                                                                                                  FOTO: CASSIANO PINHEIRO
      Sob o tema “Células-tronco: Pos-
sibilidades, riscos e limites no campo
das terapias no Brasil”, o evento reu-
niu representantes dos campos da ci-
ência, da ética e do direito em três
mesas temáticas. Logo na primeira
mesa — “O estado da arte das pes-
quisas e terapias com células-tronco”
—, os palestrantes sentenciaram que
os procedimentos com células-tron-
co ainda não estão ao alcance da po-
pulação. “Estamos na fase de testes
e a aplicação deve demorar pelo me-
nos dois anos”, previu Ricardo Ribei-
ro dos Santos, coordenador do Insti-
tuto do Milênio de Bioengenharia
Tecidual da Fiocruz em Salvador. O
médico reforçou a importância da             Herbert Praxedes, Heloísa Helena, Renata Parca, Marisa Palácios, Maria Cláudia
pesquisa básica, que serve para defi-        Brauner e Sueli Dallari: visões diversas sobre a Lei de Biossegurança
nir métodos e teorias. Um histórico
apresentado pelo professor Antonio        expressiva melhora, mas também não          células-tronco no coração gerou uma
Carlos Paes de Carvalho, da Universi-     provocou efeito colateral, três me-         melhora significativa: os pacientes
dade Federal do Rio de Janeiro,           ses após o procedimento. “Existe            passaram a gastar mais energia e a
complementou a fala de Ricardo,           uma tendência de recuperação e,             consumir mais oxigênio. A isquemia foi
mostrando que já houve pelo menos         principalmente, um crescimento da           reduzida de 15% para 4,5%. Os doen-
três alterações nos paradigmas das        qualidade de vida”, disse Ricardo,          tes que sequer conseguiam concluir
terapias celulares. “Trabalhos apresen-   para quem ainda falta conhecimen-           o almoço sem parar para descansar e
tados em 2002 já foram contestados e      to para explicar quais fatores provo-       precisavam de ajuda até para tomar
não têm mais validade”, resumiu.          caram alterações no organismo e de          banho voltaram a ser independentes.
      Uma dificuldade enfrentada pe-      que modo. Ele ressaltou que as te-          “O interessante é que muitos deles
los pesquisadores é que determina-        rapias com células-tronco podem re-         se separaram das mulheres,
das experiências não resultam em          presentar o fim da fila para trans-         provavelmente porque deixa-
dados concretos. Um desses casos é        plante hepático. Entre 2004 e 2005,         ram de depender delas”, brin-
o tratamento de pessoas com falên-        das 221 pessoas à espera de um doa-         cou, sob risadas da platéia.
cia do fígado, testado pela Fiocruz-      dor, 30 morreram antes de conseguir         Hans afirmou que a melhora é
Bahia em 10 pacientes que tiveram         o transplante, citou.                       concreta, apesar de não se
cirrose ou hepatite C. A injeção de            Outro teste com resultado posi-        saber que mecanismo levou à recu-
células-tronco retiradas da medula        tivo foi realizado pelo Hospital Pró-       peração: “Não pode ser efeito
óssea na artéria hepática não gerou       Cardíaco, no Rio de Janeiro. A insti-       placebo, pois já dura quatro anos”.
                                          tuição foi a primeira do mundo a                  Em suas falas, Ricardo e Hans lou-
 Em 1998, surgiram os primeiros tra-      tratar insuficiência cardíaca com cé-       varam a iniciativa do “Estudo Multi-
 balhos propondo que a injeção de         lulas-tronco de medula óssea. Hans          cêntrico Randomizado de Terapia Ce-
 células-tronco retiradas da medu-        Fernando Rocha Dohmann, diretor-            lular em Cardiopatias”. A pesquisa, que
 la óssea era capaz de reconstituir       científico do Pró-Cardíaco, contou na       envolve cerca de 1.200 pacientes,
 o músculo esquelético lesado de          oficina que a pesquisa teve início com      está orçada em R$ 13,5 milhões, fi-
 camundongos. Veio em seguida             pacientes com doença coronariana            nanciados pelo Ministério da Saú-
 uma enxurrada de estudos afir-           avançada, que já haviam sido subme-         de, e prevê que, ao fim dos testes,
 mando que determinadas células-          tidos a cirurgia cardíaca e tomavam         as diversas instituições envolvidas
 tronco poderiam gerar não só             altas doses de remédio. A injeção de        apontem a usabilidade das terapias
 músculo esquelético, como célu-
 las de fígado, coração, neurônios.
 Este paradigma prevaleceu até
 2002, quando descobriu-se que o                   O que é célula-tronco
 que se julgava um processo de
 transdiferenciação era, na verda-
 de, fusão celular: no fígado, por         O    professor Antonio Carlos Paes de
                                                Carvalho, da UFRJ, abriu o even-
                                           to dando a definição clássica de cé-
                                                                                      utilização do ponto de vista clínico
                                                                                      ainda está bastante distante, por-
                                                                                      que precisamos ter um controle so-
 exemplo, a célula-tronco injeta-
 da se fundia ao hepatócito, em            lula-tronco: “Uma célula não-espe-         bre a proliferação e a diferencia-
 vez de se transformar — o que             cializada com grande potencial de          ção delas”, disse Antonio Carlos.
 enganava os pesquisadores. Atu-           auto-renovação, capaz de originar di-            Já as adultas, usadas nas tera-
 almente, ganha força o uso de             ferentes tipos celulares no organismo”.    pias, dão origem a células do mes-
 fatores como a proteína timosina                Podem ser obtidas do embrião,        mo tipo. Pode haver risco de apa-
 b4, e não mais de células-tronco,         do feto ou do adulto. As embrioná-         recimento de tumores, por isso é
 o que não impede que haja con-            rias são capazes de gerar qualquer         essencial monitorar constantemen-
 senso em torno dos benefícios da          um dos tipos celulares presentes           te o desenvolvimento das células-
 injeção de células-tronco.                nos tecidos do organismo. “Mas sua         tronco aplicadas nos pacientes.
RADIS 47   JUL/2006
             [ 10 ]


com células-tronco em pacientes          é melhor ter essa lei aprovada do que      portantes como “genitores” e “em-
com doenças do coração, forneçam         não ter nenhuma. Especialista na área      briões inviáveis”, o que cria confu-
treinamento e, principalmente,           de reprodução assistida, ela viu a in-     sões para sua aplicação. Mas avaliou
apliquem o tratamento no Sistema         clusão do tema das células-tronco na       positivamente a 11.105/05 porque
Único de Saúde.                          lei dos OGMs como a estratégia pos-        veda a comercialização de materiais
                                         sível para que pesquisas e terapias fos-   biológicos provenientes de embriões
           A LEI E A POLÊMICA            sem viabilizadas naquele momento. “Se      humanos e proíbe a clonagem huma-
     Se ainda falta muito para se che-   houvesse um projeto de lei destina-        na, a prática da engenharia genética
gar a definições nas pesquisas, a si-    do exclusivamente à legalização des-       em células germinais humanas, zigotos
tuação é ainda mais complicada no        sas pesquisas, dificilmente seria apro-    (células reprodutoras formadas pelo
que se refere aos aspectos éticos        vado”, disse, acrescentando que “as        encontro do espermatozóide com o
e legais envolvidos na questão das       críticas são pertinentes, mas a situa-     óvulo) ou embriões.
células-tronco. A aprovação da Lei       ção já está dada, a lei está aí”.               O Decreto 5.591, também de
de Biossegurança (11.105/05) em ou-            Eliane Moreira, jurista e coorde-    2005, veio regulamentar as pesqui-
tubro de 2005 continua alvo de mui-      nadora do núcleo de Propriedade Inte-      sas com células-tronco embrionári-
ta discordância, como se viu nas me-     lectual do Centro Universitário do Pará    as, e trouxe definições que faltavam
sas-redondas da parte da tarde,          (Cesupa), tem leitura diferente. Para      à lei. Mas a 11.105/05 foi aprovada
quando a cordialidade não escondeu       ela, a inclusão do tema na 11.105/05       sem que existisse legislação especí-
as farpas trocadas entre participan-     serviu como cortina de fumaça sobre        fica ou controle sobre a atividade
tes. A lei surgiu para tratar da pro-    o tema dos transgênicos, que era a         das mais de 50 clínicas de reprodu-
blemática dos organismos genetica-       discussão central até então. “Ele foi,     ção assistida no país, o que tem cau-
mente modificados, os OGM (como a        em boa medida, uma estratégia políti-      sado dificuldades na identificação de
soja transgênica), questão totalmente    ca que permitiu o deslocamento do          embriões que atendam aos requisi-
diversa da problemática das células-     foco e permitiu que muita coisa além       tos legais para a pesquisa. Por isso o
tronco embrionárias — incluída na lei    de biossegurança, sobre transgênicos,      Ministério da Saúde publicou a Por-
às pressas, sem maiores discussões com   passasse sem uma discussão concre-         taria 2.526/05, sobre identificação
a sociedade e os parlamentares. “O       ta”, disse, ao abrir a mesa seguinte.      de embriões, e a Agência Nacional
assunto foi tratado no Congresso de            Pelo menos num ponto houve           de Vigilância Sanitária (Anvisa) apro-
forma absurda, sem debate”, afirmou      concordância: a Lei de Biossegurança       vou Resolução da Diretoria Colegiada
o médico Herbert Praxedes, coor-         contém grandes falhas no que diz           (RDC 33/06) que dá os critérios para
       denador do Comitê de Ética        respeito a células-tronco embrioná-        criação e funcionamento de bancos
       em Pesquisa da Faculdade de       rias, o que tem levado à criação de        de células e tecidos germinativos
       Medicina da Universidade Fe-      outros instrumentos que tentam fe-         humanos. Na palestra seguinte, a
       deral Fluminense (UFF). “Os       char as brechas. Para Maria Cláu-          bióloga Renata Parca, da Gerência
       grupos que se opunham foram       dia, esses instrumentos são avanços        de Sangue, Outros Tecidos, Célu-
       segregados e a mentira preva-     importantes enquanto se aguarda            las e Órgãos da Anvisa, informou
leceu”. Sua fala foi uma referência à    uma lei que efetivamente regule a          que está em elaboração uma RDC
atuação de pesquisadores que leva-       reprodução assistida, e representam        que cria um cadastro nacional para
ram deficientes físicos às galerias do   uma “visão de compromisso” do Es-          controle e rastreamento dos em-
Congresso para pressionar os parla-      tado brasileiro com a liberdade ci-        briões criados em clínicas de ferti-
mentares a aprovarem a lei (Radis 32).   entífica, “mas com responsabilida-         lização in vitro. A matéria aguarda-
     Por outro lado, a primeira pales-   de e prudência”. A especialista fez        va decisão do Ministério da Saúde
trante da mesa “Regulamentação das       um apanhado de toda a legislação           para ir a consulta pública ou ser
pesquisas e terapias envolvendo cé-      brasileira sobre o assunto, come-          publicada imediatamente.
lulas-tronco”, a advogada gaúcha         çando pela própria Lei nº 11.105/05
Maria Cláudia Brauer, considera que      que, para ela, não define termos im-           PARTICIPAÇÃO POPULAR
                                                                                         Já a jurista Suely Dallari, da
                                                                                    USP, considera que portarias e re-
                                                                                    soluções são atos importantes de
                                                                                    governo, mas alertou que o valor
                                                                                    deles, no meio jurídico, é relativo:
                                                                                    “Nossa escola ensina Direito do sé-
           Radis adverte                                                            culo 18, que diz que só a lei é que
                                                                                    manda; então o juiz não vai nem
                                                                                    estar interessado em portaria, em
           O controle rígido do                                                     RDC”. Suely frisou que qualquer lei
           comércio da cola de                                                      só pode ser justa se for uma expres-
           sapateiro, em vigor                                                      são da vontade da sociedade em sua
           desde 15 de junho, faz                                                   diversidade, o que não é o caso da
           bem à saúde de um                                                        Lei de Biossegurança. “Se o povo
           país que se preocupa                                                     não estiver participando nunca será
           com a criança.                                                           justo”, disse. “Estou falando isso
                                                                                    porque o debate não foi feito, o
                                                                                    conhecimento não foi socializado,
                                                                                    então não estamos sendo livres para
                                                                                    decidir”. Ela ressaltou o papel crucial
                                                                                    da divulgação científica no século 21
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                                                                                                          [ 11 ]


e defendeu a abertura de todos os       dados técnicos, jurídicos e éticos        giosas ou filosóficas, defendendo
espaços possíveis para a participa-     para colaborar na discussão com os        que a moral e a ética têm que evo-
ção popular, inclusive com anúncio      ministros do STF.                         luir e se adaptar.
das consultas públicas na televisão:          Na mesa-redonda “Ética nas pes-           Outra fonte de células-tronco,
“Tem que ter, como tem propagan-        quisas e terapias com células-tronco”,    já muito usada em transplantes de
da de remédio fracionado”, afirmou.     o palestrante Sérgio Rego, médico-sa-     medula, é o sangue do cordão umbi-
     A debatedora Marisa Palácios,      nitarista do Departamento de Ciências     lical, assunto da palestra da médica
do Núcleo de Estudos de Saúde Co-       Sociais da Ensp/Fiocruz,
letiva da UFRJ, lembrou que, apesar     abordou diferentes ma-
de a Resolução 196 do Conselho Na-      neiras de compreender o
cional de Saúde, sobre pesquisas e      âmbito da moral e da éti-
experiências com seres humanos,         ca, o que depende sem-
determinar o controle social, com       pre do lugar que se dá ao
participação dos usuários nos comi-     outro nas relações soci-
tês de ética em pesquisa das insti-     ais. Ele falou da dificulda-
tuições científicas, na prática, nem    de por parte de muitos
sempre as coisas funcionam como         pesquisadores de en-
deveriam. Ela questionou se há real-    tenderem que uma pes-
mente autonomia na situação em que      quisa correta científica
as pessoas consentem em participar      e metodologicamente
de pesquisas com células-tronco, já     não é necessariamente
que são indivíduos em condição de       ética. “Bom senso e boa
vulnerabilidade — problema que exi-     intenção todo mundo
ge senso ético ainda maior do pes-      tem, todos querem fa-
quisador. A outra debatedora, Helo-     zer o melhor”, disse, ex-
ísa Helena, da Faculdade de Direito     plicando que, ao se discutir a            Marlene Braz, do Instituto Fernandes
da Universidade do Estado do Rio de     eticidade de uma pesquisa, é impor-       Figueira (IFF/Fiocruz). Ela falou da
Janeiro, informou que há uma ação       tante enfatizar que não se avalia o       importância das doações ao
de inconstitucionalidade contra o       caráter das pessoas, e sim a pesquisa     Brasilcord — banco público de cé-
Artigo 5º da Lei 11.105/05 tramitan-    em si mesma, o que significa desviar      lulas de cordão umbilical —, que in-
do no Supremo Tribunal Federal, e       o foco da moralidade do agente e          tegra rede internacional cri-
que o encontro poderia fornecer         passar a discutir a moralidade dos atos   ada pela Organização Mundial
                                        propriamente ditos. Declarando-se di-     de Saúde em 2004. Por essa
                                        abético e pai de uma criança com pa-      rede, aproximadamente 4 mil
 Art. 5o É permitida, para fins de      ralisia cerebral, Sérgio observou que     pessoas já receberam trans-
 pesquisa e terapia, a utilização de    houve um “acordo negociado” na            plantes no mundo, enquanto
 células-tronco embrionárias obti-      aprovação da Lei de Biossegurança.        os transplantes autólogos — feitos
 das de embriões humanos produ-         Segundo o médico, aqueles “direta-        com células do cordão da própria
 zidos por fertilização in vitro e      mente interessados” na questão — no       pessoa — foram apenas cinco.
 não utilizados no respectivo pro-      caso, as pessoas com deficiências e            Marlene mostrou ainda como os
 cedimento, atendidas as seguin-        problemas de saúde que esperam            bancos de células privados fazem pro-
 tes condições:                         poder ser tratadas com células-tron-      paganda irregular, apelativa e enga-
 I — sejam embriões inviáveis; ou       co no futuro — têm que estar pre-         nosa, induzindo pais a fazerem gastos
 II — sejam embriões congelados         sentes às negociações.                    desnecessários em armazenamento
 há 3 (três) anos ou mais, na data            Numa fala contundente, a médi-      de cordão umbilical (Radis 31). Uma
 da publicação desta Lei, ou que,       ca Marilena Corrêa, do Instituto de       estratégia é alegar que as células
 já congelados na data da publica-      Medicina Social da Uerj, criticou o       poderão ser usadas por outra pes-
 ção desta Lei, depois de comple-       “modelo do milagre” e discordou de        soa da família. Pela RDC 153 da Anvisa,
 tarem 3 (três) anos, contados a        que tenha havido consenso na aprova-      no entanto, o material armazenado
 partir da data de congelamento.        ção da 11.105/05: “A aliança que par-     nos bancos privados é de uso ex-
                                        te da comunidade científica fez com       clusivo do próprio doador. Uma re-
 § 1o Em qualquer caso, é necessá-      ruralistas para a aprovação da lei foi    presentante da Anvisa esclareceu
 rio o consentimento dos genitores.     imoral”, declarou, acrescentando          que o Brasilcord pode receber do-
 § 2o Instituições de pesquisa e ser-   que se tratou de uma “atuação ne-         ações para uso aparentado se hou-
 viços de saúde que realizem pes-       fasta dos cientistas” em termos do        ver indicação terapêutica. Muitos
 quisa ou terapia com células-tron-     que se quer para a consolidação dos       pais pagam até R$ 4 mil para conge-
 co embrionárias humanas deverão        direitos e da democracia no país. Em      lar as células dos filhos em bancos
 submeter seus projetos à apreci-       outra linha de pensamento, o médi-        privados. Provavelmente não sabem
 ação e aprovação dos respectivos       co Arnaldo Pineschi, do Conselho Re-      que elas só poderão ser emprega-
 comitês de ética em pesquisa.          gional de Medicina do Rio de Janei-       das no doador enquanto ele tiver
 § 3o É vedada a comercialização        ro, apontou um forte fundamento           até 50 quilos, e que a probabilidade
 do material biológico a que se         religioso no impasse em torno das         de uso é irrisória. “O futuro do fu-
 refere este artigo e sua prática       pesquisas e do uso terapêutico das        turo do futuro é vendido como rea-
 implica o crime tipificado no art.     células-tronco embrionárias. Ele          lidade”, disse Marlene.
 15 da Lei no 9.434, de 4 de feve-      questionou até que ponto se deve
 reiro de 1997.                         deter o avanço das ciências em            Mais informações
                                        nome de visões estritamente reli-         Projeto Ghente www.ghente.org
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             [ 12 ]




     COMISSÃO NACIONAL SOBRE DETERMINANTES SOCIAIS DA SAÚDE




Compromisso
com a ação




                                           objetivo da comissão era transformar              Apesar das dificuldades, a CNDSS
Alberto Pellegrini Filho *                 o conhecimento em ação, ou seja, uti-       pretende enfrentar esse desafio,
                                           lizar a evidência científica como uma       apoiando a definição de políticas vol-



A
          s três linhas de ação da Co-     alavanca para a mudança de políticas.       tadas para a promoção da eqüidade
          missão Nacional sobre Deter-           Não se trata de um desafio trivial.   em saúde em estudos sobre as rela-
          minantes Sociais da Saúde        Se fizermos uma comparação entre a          ções entre DSS e a situação de saú-
          (CNDSS), produção de infor-      prática clínica e a definição de políti-    de que busquem identificar “pontos
mações e conhecimentos, apoio e ava-       cas para a eqüidade em saúde basea-         vulneráveis” sobre os quais devem
liação de políticas e mobilização soci-    das em evidências, encontraremos di-        incidir as intervenções para a supera-
al, se articulam em torno de um eixo       ferenças significativas. Apesar das         ção de iniqüidades. Pretende também
comum que é o compromisso com a            aparentes “facilidades” de implantação      recoletar, analisar e divulgar experi-
ação. Entende-se esse compromisso          da medicina baseada em evidências, em       ências exitosas, assim como promover
como a promoção de políticas em fa-        comparação às dificuldades para a ado-      o aprimoramento de metodologias de
vor da eqüidade em saúde, as quais se      ção de políticas públicas de combate        avaliação de intervenções. Tudo isso
apóiam em dois pilares fundamentais:       às iniqüidades baseadas em evidênci-        evidentemente deve ser feito em es-
as evidências científicas e a participa-   as, não é assim tão fácil convencer os      treita colaboração com instituições
ção social. O ex-diretor-geral da OMS      profissionais de saúde a abandonar          governamentais e não-governamen-
Dr. Lee Jong Wook, ao propor a cria-       práticas que, embora consagradas            tais, públicas e privadas, mobilizando
ção da Comissão sobre Determinantes        pelo uso, se mostram inefetivas ou          pesquisadores, gestores, represen-
Sociais da Saúde da OMS, disse que o       danosas à luz das evidências científi-      tantes da sociedade civil organizada
                                           cas. Tampouco é fácil convencê-los a        e o público em geral.
                                           adotar novas práticas cuja eficácia e             As intervenções sobre os DSS
* Secretário executivo da Comissão
Nacional sobre Determinantes Sociais       efetividade são plenamente comprova-        podem se dar em diferentes níveis,
da Saúde (CNDSS)                           das por reiterados estudos.                 como veremos a seguir:
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                                                                                                                [ 13 ]


  INTERVENÇÕES INDIVIDUAIS                    and sick populations” (International      tos materiais relacionados à renda e à
          VERSUS                              Journal of Epidemiology, 1985).           posse de determinados bens, mas tem
INTERVENÇÕES POPULACIONAIS                         Preocupar-se somente com as          também muito a ver com a vivência de
                                              pessoas mais expostas aos fatores de      situações estressantes no bairro e no
      As estratégias de promoção e pro-       risco é, portanto, pouco eficaz quan-     ambiente domiciliar, com pouca expe-
teção da saúde privilegiam a atuação          do se quer diminuir a incidência de       riência de relações de solidariedade,
sobre os fatores de risco individuais,        determinadas doenças em uma popu-         com raras oportunidades de “relaxar”
principalmente entre os indivíduos mais       lação, já que as causas das incidên-      em atividades de lazer e com outros
expostos ao risco. Freqüentemente             cias a nível populacional em geral es-    elementos relacionados ao bem-estar.
estas estratégias de aconselhamento           tão relacionadas aos determinantes        Estudos sobre a trama de relações
individual são pouco eficazes, porque         sociais que exigem intervenções           entre experiências psicossociais sub-
não levam em conta determinantes              populacionais. Em “Social class and       jetivas e aspectos relacionados à or-
sociais como fatores culturais, por           coronary heart disease” (British          ganização social vêm permitindo co-
exemplo. É muito difícil que alguém           Heart Journal, 1981), de Rose G. e        meçar a entender como a saúde é
deixe de fumar ou de comer gordu-             M. Marmot, observa-se a distribui-        afetada por essas relações.
ras saturadas quando todos a sua vol-         ção da pressão arterial sistólica nos           Com todo o anterior, fica claro
ta, parentes e amigos o fazem. Se tra-        funcionários públicos de Londres e        que, se procurarmos diminuir as iniqüi-
tar de comer de maneira diferente,            em povos nômades do Quênia. Os            dades no risco de morrer por enfermi-
provavelmente será visto como excên-          médicos e sanitaristas londrinos em       dade coronariana dos funcionários in-
trico ou hipocondríaco. Muito mais            geral não costumam se preocupar           gleses buscando apenas mudanças de
eficaz seria a adoção de medidas              com a distribuição da pressão arte-       comportamento, o efeito será bastan-
populacionais que diminuíssem esses           rial ao nível populacional. Preocu-       te limitado. Para um maior impacto será
hábitos na população em geral.                pam-se sim com os casos mais críti-       também necessário atuar principalmen-
      Além disso, os fatores de risco         cos, perguntando-se por que esses         te sobre as desigualdades nas condi-
individuais, como o hábito de fumar,          indivíduos têm pressão alta e pro-        ções de vida desses funcionários. É bom
o colesterol alto, a obesidade etc.,          curando tratá-los dessa condição.         lembrar que, para doença coronariana,
não são condições nem necessárias             Se a pergunta fosse outra — ou seja,      assim como para câncer de pulmão e
nem suficientes para causar deter-            por que os quenianos não têm pres-        Aids, conhecemos relativamente bem
minadas doenças. Por esta razão, é            são alta como os londrinos? — suas es-    os fatores de risco individuais. O mes-
às vezes difícil para o leigo entender        tratégias de intervenção seriam total-    mo não ocorre para um grande núme-
esse conceito. Todos conhecem um              mente diferentes. Procurariam agir        ro de outras doenças, o que diminui
parente ou um amigo com 80 anos,              também em nível populacional sobre        ainda mais o efeito se nos limitarmos a
fumante e amante de um bom bife,              determinantes mais gerais, com um im-     atuar sobre estes fatores.
que goza de plena saúde, enquanto             pacto muito maior na saúde geral da
um outro conhecido não-fumante e              população.                                     NÍVEIS DE ATUAÇÃO
sempre preocupado com a dieta e o                  Outro exemplo interessante pode        SOBRE OS DETERMINANTES
exercício morreu de infarto do                ser encontrado num clássico traba-             SOCIAIS DA SAÚDE
miocárdio aos 50 anos.                        lho de Michael Marmot [o presiden-
      Talvez a analogia que mais facilita a   te, na OMS, da comissão de DSS] so-            Se tomarmos um modelo propos-
compreensão do conceito de fator de           bre funcionários públicos londrinos.      to por Whitehead e Dahlgren para
risco é a loteria. Evidentemente uma          Marmot observou que se fixarmos           classificar os determinantes da saú-
pessoa que comprou cinco bilhetes tem         como 1 o risco relativo de falecer        de, observamos uma gradação desde
maior probabilidade de ganhar em com-         por doença coronariana para funci-        os macrodeterminantes relacionados às
paração a outra com apenas um bilhe-          onários da administração de mais          estruturas socioeconômicas e culturais
te. No entanto, nada impede que este          alto nível na hierarquia, os funcio-      de uma sociedade até os determinantes
último ganhe o prêmio. Mais ainda,            nários de níveis hierárquicos inferi-     individuais relacionados à biologia de
como o número de pessoas com ape-             ores, como profissional/executivo,        um determinado indivíduo.
nas um bilhete é muito maior, a proba-        atendentes e outros teriam respec-             É muito difícil estabelecer um
bilidade de o vencedor ter apenas um          tivamente risco relativo 2,1; 3,2 e 4     corte que nos permita separar cla-
bilhete é também muito maior. Voltan-         ou, aproximadamente, duas, três e         ramente o que são determinantes
do a um exemplo de saúde, tomemos a           quatro vezes maior risco de morrer        sociais e o que são determinantes
relação entre síndrome de Down e ida-         por doença coronariana. Marmot pro-       individuais. Já vimos anteriormente
de materna. Mães abaixo de 30 anos têm        curou a explicação dessas diferenças      que os estilos de vida individuais
individualmente um risco mínimo de            e encontrou que os fatores de risco       nem sempre correspondem a uma
gerar um filho com síndrome de Down           individuais, como colesterol, hábito de   livre escolha dos indivíduos, já que
(0,7 por mil nascimentos), enquanto           fumar, hipertensão arterial e outros      os hábitos de fumar, beber, fazer
para mães entre 40-44 anos há um alto         explicavam apenas uma pequena par-        exercício, praticar sexo seguro etc.
risco (13,1 em mil nascimentos), e as         te do problema. É certo que todos         estão claramente condicionados por
com 45 e mais, um risco maior ainda           esse fatores de risco crescem na me-      determinantes sociais, culturais ou
(34,6 por mil nascimentos). Acontece          dida em que descemos na escala hie-       econômicos. As próprias caracterís-
que pelo fato de as mães abaixo de            rárquica, com exceção do colesterol,      ticas biológicas do indivíduo, como
30 anos serem muito mais numerosas,           mas explicam apenas cerca de 35-40%       idade, sexo ou raça, terão repercus-
elas geram 50% dos casos de síndrome          da diferença. A que se devem então        são sobre a sua saúde dependendo
de Down, enquanto as mães com                 os outros 60-65%?. Vários estudos mos-    da maneira como a sociedade atri-
idade entre 40 e 44 geram 11% e as            tram que gradientes observados na         bui papéis funcionais diferenciais
de 45 e mais, apenas 2% dos casos,            situação de saúde entre diferentes        aos indivíduos de acordo com essas
conforme o artigo “Sick individuals           estratos sociais têm a ver com aspec-     características.
RADIS 47   JUL/2006
             [ 14 ]


     Esta distinção é importante, pois     riedade e confiança entre pessoas e         operam de maneira independente,
permite distinguir entre desigualdades     grupos que são fundamentais para a          obrigando o estabelecimento de
e iniqüidades. Evidentemente, as con-      promoção e a proteção da saúde indi-        mecanismos que permitam uma ação
dições de saúde de um grupo de jo-         vidual e coletiva. Estas relações são       integrada.
vens comparadas às de um grupo de          também fundamentais para o combate
idosos será diferente; o mesmo se pode     à pobreza, já que, além da falta de aces-   • O quarto nível de atuação se refere
dizer se compararmos um grupo de           so a bens materiais, a pobreza é tam-       a mudanças macroeconômicas e cul-
homens a um grupo de mulheres, cada        bém a falta de oportunidades, de pos-       turais que visem promover um desen-
um com doenças próprias do gênero.         sibilidades de opção, de voz frente às      volvimento com melhor distribuição
Trata-se de desigualdades que aceita-      instituições do Estado e da sociedade       de seus frutos, reduzindo as desigual-
mos como naturais. Diferente é o caso      e uma grande vulnerabilidade a impre-       dades e seus efeitos sobre a socieda-
de desigualdades na saúde de homens        vistos. Além da geração de oportuni-        de. Neste nível se incluem políticas
e mulheres, com evidente prejuízo de       dades econômicas, o combate à po-           macroeconômicas e de mercado de
um ou de outro grupo, ocasionadas pela     breza deve também incluir medidas que       trabalho, de fortalecimento dos valo-
condição de pertencer a um determi-        favoreçam a construção de redes de          res culturais e de proteção ambiental.
nado gênero, ou seja, devido aos pa-       apoio e o aumento das capacidades dos
péis diferenciais que a sociedade atri-    grupos desfavorecidos para estreitar             A CNDSS deve promover interven-
bui a indivíduos de acordo com o sexo.     suas relações com outros grupos, para       ções nesses diversos níveis de deter-
Estamos então diante de desigualdades      fortalecer sua organização e participa-     minações, tendo como objetivo cen-
que não são naturais, são socialmente      ção em ações coletivas, para consti-        tral a promoção da eqüidade em
determinadas e que devem ser comba-        tuir-se enfim em atores sociais e ativos    saúde e articulando suas diversas li-
tidas por serem injustas e evitáveis.      participantes das decisões da vida so-      nhas de ação em torno desse objeti-
     O modelo proposto por White-          cial. Esse nível de atuação tem, por-       vo comum. Conta para isso com di-
head e Dahlgren permite identificar        tanto como foco, a união das comuni-        versos elementos facilitadores, entre
quatro níveis de atuação não-exclu-        dades em desvantagem para obter apoio       eles a pluralidade e a diversidade de
dentes e inter-relacionados sobre os       mútuo e dessa maneira fortalecer suas       seus integrantes, o que facilita a ne-
quais podem incidir políticas e progra-    defesas contra os danos na saúde.           cessária mobilização de diversos seto-
mas que buscam combater as iniqüida-                                                   res da sociedade. Outro importante
des, atuando sobre os determinantes        • O terceiro nível se refere à atua-        elemento facilitador é sua articulação
sociais da saúde:                          ção das políticas sobre as condições        com o Grupo de Trabalho Intersetorial,
                                           físicas e psicossociais nas quais as            composto por representantes
• Um primeiro nível é o individual,        pessoas vivem e trabalham, bus-                 de diversos ministérios do go-
consistindo no fortalecimento ou           cando assegurar um melhor aces-                 verno federal e das secretarias
empowerment dos indivíduos. Trata-         so a água limpa, esgoto, habita-                estaduais e municipais de saú-
se de apoiar pessoas em circunstân-        ção adequada, emprego seguro e                  de, que deve possibilitar a co-
cias desfavoráveis ou fortalecer sua       realizador, alimentos saudáveis e               ordenação de políticas nos di-
capacidade de decisão para enfren-         nutritivos, serviços essenciais de              versos níveis.
tar as influências advindas de outros      saúde, serviços educacionais e de
níveis de determinação. Principalmente     bem-estar e outros. Essas políticas são     Mais informações
pela informação e a motivação, essas       normalmente responsabilidade de se-         Íntegra do artigo no site da CNDSS
estratégias buscam apoiar mudanças         tores distintos, que freqüentemente         (www.determinantes.fiocruz.br)
de comportamento em relação aos
fatores de risco pessoais ou lidar me-
lhor com as influencias negativas
advindas de suas condições de vida e              Convocação aos pesquisadores
trabalho. Alguns exemplos incluem
educar pessoas que trabalham em
condições monótonas a lidar com o
estresse; aconselhar pessoas que se
                                             T  rês editais
                                                nistério da
                                             com o CNPq,
                                                              importantes do Mi-
                                                              Saúde, em parceria
                                                              para pesquisas em
                                                                                       públicas de melhoria das condições
                                                                                       de saúde e a superação de desi-
                                                                                       gualdades. Recursos: R$ 20 milhões.
tornam desempregadas para ajudar a           Determinantes    Sociais da Saúde:        Prazo de inscrição 1ª etapa: 16/7.
prevenir o declínio da saúde mental                                                    Íntegra: www.cnpq.br/servicos/
associado a essa condição; e clínicas        1º) Pesquisas sobre DSS, abordando        editais/ct/2006/edital_0252006.htm
para parar de fumar. Os serviços de          relações entre as condições de vida
                                             e a saúde da população, sobre saú-        3º) Estudos epidemiológicos em po-
aconselhamento para pessoas desem-                                                     pulações expostas à contaminação
pregadas não reduzirão a taxa de de-         de da pessoa com deficiência, ava-
                                             liando a atenção prestada a esse          ambiental, com orçamento de R$
semprego, mas poderão melhorar os                                                      3,5 milhões — R$ 500 mil para cada
piores efeitos do desemprego sobre a         segmento, conhecimento básico e
                                             avançado sobre saúde da popula-           projeto. Há sete linhas de apoio,
saúde e prevenir maiores danos.                                                        para temas como agrotóxicos no
                                             ção negra, e saúde da população
                                                                                       Nordeste, postos de combustível no
• O segundo nível corresponde às co-         masculina. Recursos: R$ 10 milhões.
                                                                                       Sudeste, exposição à mineração em
munidades e suas redes de relações.          Prazo de inscrição: 27/7. Íntegra:
                                                                                       Santa Catarina; projetos genéricos
Estudos vêm demonstrando que um dos          www.cnpq.br/servicos/editais/ct/
                                                                                       no Pará, no Amapá e em Mato Gros-
principais mecanismos pelos quais as         2006/edital_0262006.htm
                                                                                       so e exploração de petróleo em
iniqüidades de renda produzem um             2º)Pesquisa sobre doenças negligen-       Campos (RJ). Propostas até 27/7.
impacto negativo na situação de saúde        ciadas, com apoio a projetos que          Íntegra: www.cnpq.br/servicos/
é o desgaste dos laços de coesão soci-       contribuam para o avanço das ações        editais/ct/2006/edital_0242006.htm
al, a debilidade das relações de solida-
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                                                                                                                  [ 15 ]




                                    Lei de Segur ança alimentar




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Wagner Vasconcelos




N
               os idos de 1987,
               quando os Titãs per-
               guntavam “você tem
               fome de quê?”, cobra-
vam de um Brasil recém-democratiza-
do ações imediatas para a saúde e a qua-
lidade de vida da população. Os titânicos
acordes ainda reverberam, duas déca-
das depois, igualmente desafiadores. Ago-
ra, nossos representantes no Congresso
Nacional se dedicam a debater a Losan,
apelido da aguardada Lei Orgânica de Se-
gurança Alimentar e Nutricional. Seus
objetivos: assegurar o direito à alimenta-
ção a todas as pessoas, definir seguran-
ça alimentar, implantar um princípio de
soberania alimentar e difundir um cará-
ter intersetorial para a segurança alimen-



                                                A gente não
tar e nutricional no Brasil.
      E que não se pense que a tramitação
está apenas começando. Na verdade, o
projeto já passou por todas as comissões
indicadas da Câmara dos Deputados — as



                                               quer só comida
de Trabalho, Administração e Serviço Pú-
blico, de Seguridade Social e Família e de
Constituição e Justiça e de Cidadania.
Por ser de caráter conclusivo, não che-
gará ao plenário. Sua aprovação, por-
tanto, dependerá da apreciação do Se-
nado, para onde a proposta seguiu.           mano, inerente à dignidade da pessoa              É importante salientar que essa in-
      A criação da Lei Orgânica de Se-       humana e indispensável à realização dos     segurança tem graus que variam entre
gurança Alimentar e Nutricional terá         direitos consagrados na Constituição Fe-    leve, moderado e grave. As modalidades
repercussões práticas e simbólicas.          deral, devendo o poder público adotar       moderada e grave significam limitação
Práticas porque estabelece e define          as políticas e ações que se façam ne-       de acesso quantitativo aos alimentos,
critérios sobre as políticas que o país      cessárias para promover e garantir a        com ou sem situação de fome. Mesmo
deve implementar para acabar de vez          segurança alimentar e nutricional da        assim, os números revelam um panora-
com a chaga da fome. E simbólicas por-       população”. O Sisan será integrado pelo     ma incômodo: 39,5 milhões de pessoas
que coloca no centro de discussões           Consea e pela Câmara Interministerial       estão nessa situação. É uma Espanha!
um tema tão caro ao país, mas por            de Segurança Alimentar e Nutricional.             Outros dados da pesquisa confir-
muito tempo negligenciado.                   Essas instâncias deverão definir as polí-   mam as disparidades sociais entre as
      Por isso, está sendo tão festejada     ticas a serem implementadas e acom-         regiões brasileiras. Se na Região Sul
pelo professor Renato Maluf, titular da      panhadas pelo Sisan.                        76,5% dos domicílios têm acesso à ali-
cadeira de Desenvolvimento Agrícola e                                                    mentação, tanto em termos quantita-
Sociedade, da Universidade Federal                DRAMA QUANTIFICADO                     tivos quanto qualitativos, no Nordeste
Rural do Rio de Janeiro, integrante da             Problema secular, a falta de comi-    esse acesso cai para 46,4% dos domicí-
coordenação do Fórum Brasileiro de           da na mesa do brasileiro exibe sua car-     lios. Os domicílios com crianças apre-
Segurança Alimentar e Nutricional e          ga dramática no noticiário sobre a fome     sentam mais situações de insegurança
conselheiro do Consea (Conselho Na-          nas mais diversas regiões do Brasil. E      alimentar. De acordo com a pesquisa,
cional de Segurança Alimentar e              esse drama já está quantificado. Na         moram neles 50,4% da população de 0
Nutricional). Ele foi um dos articuladores   segunda quinzena de maio, o Instituto       a 4 anos de idade. Esses índices caem
do Projeto de Lei 6.047/05, que cria o       Brasileiro de Geografia e Estatística       à medida em que aumenta a faixa etária.
Sistema Nacional de Segurança Alimen-        (IBGE) divulgou pesquisa traçando per-            Também importantes os dados re-
tar e Nutricional (Sisan) e que, se apro-    fil inédito da fome no Brasil. E chegou     ferentes à cor da população: no Brasil
vado, receberá o nome de Losan.              a dados surpreendentes, como o de           viviam, em 2004, em situação de insegu-
      “A Losan consagra algo sagrado”, diz   que 72 milhões de brasileiros enfren-       rança alimentar grave, 11,5% da popula-
Renato, referindo-se ao Artigo 2º do pro-    tam situações de insegurança alimen-        ção preta ou parda, sendo que esta pro-
jeto, que determina: “Alimentação ade-       tar. O número equivale às populações        porção era de 4,1% entre os brancos. A
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  • 1. NESTA EDIÇÃO Bem-vindos, farmacêuticos! Presença na Atenção Básica abre novo ciclo para a profissão Nº 47 • Julho de 2006 Av. Brasil, 4.036/515, Manguinhos Rio de Janeiro, RJ • 21040-361 www.ensp.fiocruz.br/radis
  • 2. Inspetor Silva, um cidadão vigilante deral, “que estava dispersa, dificultan- O inspetor Silva está chegando. Quem nunca ouviu falar dele terá a oportunidade de conhecê-lo a par- do a consulta de quem trabalha na área”, segundo a coordenadora do projeto, Maria Célia Delduque, advogada. tir de julho, quando será lançado o O curso Bases Legais teve como CD-ROM Direito sanitário para a Cida- alunos profissionais das atividades- dania, experiência de comunicação em meio da vigilância sanitária do DF. saúde surgida a partir do curso Bases “Nosso objetivo foi capacitar esses Legais para as Ações de Saúde, pro- trabalhadores porque entendemos movido pela Fiocruz-Brasília e a Secre- que a ação de vigilância sanitária se taria de Saúde do Distrito Federal. dá em diversos momentos, e não ape- No CD, o personagem principal nas nas fiscalizações de campo”, diz (criado e desenvolvido pelos alunos o diretor de Vigilância Sanitária do em sala de aula) está envolvido em DF, Laércio Cardoso. situações corriqueiras, que ressaltam Além de mergulhar no universo a importância da Vigilância Sanitária das leis, os alunos tiveram noções de para a saúde das pessoas e como ins- comunicação e pensaram na melhor trumento de cidadania. É possível, por forma de informar à população sobre exemplo, ver o inspetor Silva dando as ações de saúde. Diversas reuniões orientação em casos variados, como definiram nome e perfil do inspetor a venda de remédios sem receita e dos demais personagens, como tam- médica, a compra de um simples ca- bém os temas que seriam abordados. chorro-quente naqueles carrinhos O curso resultou ainda num livro pre- espalhados por todas as cidades, o parado pelos alunos, Questões atuais correto tratamento do lixo hospita- de direito sanitário, do qual a Radis lar, os cuidados com a saúde do tra- tratará na próxima edição. balhador, a vacinação de animais. O CD-ROM será distribuído gra- A linguagem é leve e bem-humo- tuitamente a profissionais e estabe- rada, como nos desenhos animados ou lecimentos do Distrito Federal que quadrinhos. O CD-ROM vai além: compi- trabalhem com produtos e serviços la a legislação sanitária do Distrito Fe- ligados à vigilância sanitária. (W. V.)
  • 3. editorial Nº 47 • Julho de 2006 Início do início do início A imagem da capa é uma mandala con cebida pelo editor de arte para sim- bolizar o futuro dos nossos sonhos. cos de células privados fazem propa- ganda enganosa sobre congelamento de células de cordão umbilical. A es- Comunicação e Saúde • Inspetor Silva, um cidadão vigilante 2 Como no tempo em que o brasileiro perança em torno das células-tronco estiver alimentado adequadamente, li- foi utilizada como cortina de fumaça Editorial vre de desigualdades e beneficiado na Lei de Biossegurança, para aprovar • Início do início do início 3 pelas terapias com células-tronco, te- pesquisas e comercialização de orga- mas que são abordados nesta edição. nismos geneticamente modificados (os Segundo o IBGE, 72 milhões de transgênicos), argumentam debatedores Cartum 3 brasileiros enfrentam situações de in- de oficina promovida pelo Projeto segurança alimentar, 39,5 milhões em Ghente, da Fiocruz, que promove estu- grau considerado grave. Campanhas da dos sociais, éticos e jurídicos sobre sociedade, políticas de governo e uma acesso e uso de genomas em saúde. proposta de Lei Orgânica de Seguran- Pesquisadores que obtiveram su- ça Alimentar e Nutricional são o início cesso injetando células em voluntários Cartas 4 de um futuro diferente. com doenças do fígado e do coração No debate sobre determinantes dizem que ainda não conhecem os me- Súmula 6 sociais da saúde, reduzir desigualda- canismos que produziram melhoras nos des requer ações que fortaleçam a ca- pacientes. O Ministério da Saúde finan- pacidade de decisão dos indivíduos, cia pesquisa com 1.200 pacientes Toques da Redação 7 construção de redes entre as comu- cardiopatas, em diversas instituições, nidades vulneráveis, políticas públicas para aprimorar esses estudos e ofere- Células-tronco intersetoriais de melhoria das condições cer, no futuro, o tratamento pelo SUS. • Falta consenso, sobra esperança 8 de vida e mudanças macroeconômicas As questões éticas são controver- e culturais para um desenvolvimento sas, especialmente no que diz respeito com distribuição de riquezas. à regulação de clínicas de reprodução Comissão Nacional Sobre No imaginário estimulado pela assistida, à socialização do conhecimen- Determinantes Sociais da Saúde mídia, as terapias com células-tron- to existente, à informação para a parti- • Compromisso com a ação 12 co vão acabar com doenças incurá- cipação consciente em experimentos, veis. E a sensação é de que já chega- aos aspectos éticos e morais nos pro- mos lá. Avanços anunciados pelo cedimentos de cada pesquisa. sul-coreano Woo-Suk Hwang, por Estamos apenas no começo. exemplo, tiveram mais repercussão do que a constatação de que suas des- Rogério Lannes Rocha Lei de Segurança Alimentar cobertas se tratavam de fraudes. Ban- Coordenador do RADIS • A gente não quer só comida 15 Entrevista: Chico Menezes • “A alimentação é um direito C a rt um fundamental” 17 Serviço 18 Pós-Tudo • Atenção básica abre novo ciclo para o farmacêutico 19 Capa Aristides Dutra A mandala da capa foi produzida a partir de gráficos de fractais Ilustrações Cassiano Pinheiro (C.P.) e C.P./A.D. Aristides Dutra (A.D.)
  • 4. RADIS 47 JUL/2006 [ 4 ] C A RTA S C RIANÇA FELIZ que deve passar por um processo de REMÉDIOS SUPERFATURADOS — RÉPLICA 1 reestruturação. Analisando a forma- A chei inteligente e atualizada a ma- téria da edição nº 44, sobre os di- reitos da criança e do adolescente. ção acadêmica dos profissionais de saúde e o atendimento nas unidades, vê-se a necessidade de mudanças de C om relação à entrevista publicada na Radis, em que o sr. Antonio Barbosa, presidente do Conselho Sou assistente social da saúde e tra- atitudes de muitos profissionais que, Regional de Farmácia do Distrito Fe- balho na Casa do Adolescente do na verdade, fazem parte do SUS ape- deral [N. R.: também coordenador Grajaú, em São Paulo, desenvolvendo nas para ocupar espaço. O usuário do Idum], cita o anti-hipertensivo terapia comunitária com adolescentes, clama por assistência humanizada. (...) Naprix como um dos medicamentos pais e educadores. Temos assento no Para isso, o SUS tornará seus que teriam sofrido reajustes de pre- Fórum de Defesa dos Direitos da Cri- princípios e diretrizes mais presen- ços de até 954% nos últimos 10 anos, ança e do Adolescente do Grajaú. tes e mais eficazes quando passar por a Libbs Farmacêutica gostaria de es- • Maria Lucia B. Santos, São Paulo uma reforma íntima, a fim de que se clarecer que o Naprix foi lançado no forme um profissional conhecedor do mercado em agosto de 2000, ou seja, A REFORMA “ ÍNTIMA ” DO SUS sistema de saúde. A grade curricular, há pouco mais de cinco anos, nas com raríssimas exceções, é voltada apresentações 2,5 mg com 20 com- para o profissional tecnicista e com primidos e 5mg com 20 comprimidos, carga enorme de preconceito com aos preços máximos ao consumidor a saúde pública. O “profissional de R$ 11,60 e R$ 21,60, respectiva- neoliberal” ocupará os espaços. (...) mente. Queremos também comple- Assim, não existirá “reforma da re- mentar que todos os reajustes de forma” sem a reforma íntima, passan- preços feitos pela Libbs estão per- do por uma análise profunda dos feitamente de acordo com as nor- nossos atos, em prol daqueles que mas da Anvisa. (...) confiam no “dotô”. • Alcebíades de Mendonça Athayde A partir de 2000, os grandes pensa- dores da área da saúde vêm pre- gando “a reforma da reforma” do SUS, • Romeu Costa Moura, fisioterapeu- ta, pós-graduado em Saúde Pública, Guanambi, BA Junior, diretor de marketing da Libbs Tréplica do Idum — O Instituto Brasi- leiro de Defesa dos Usuários de Me- dicamentos (Idum) reafirma todos os dados sobre os aumentos de preços expediente dos medicamentos de novembro de 1995 a fevereiro de 2005, com rea- Reportagem Katia Machado (subeditora), justes de até 954%. O que mais subiu Claudia Rabelo Lopes, Wagner de preço foi o Naprix, do Libbs. Os Vasconcelos (Brasília), Bruno dados foram extraídos da Revista Camarinha Dominguez e Júlia Gaspar (estágio supervisionado) ABCFarma (órgão oficial de preços da Arte Aristides Dutra (subeditor) e indústria farmacêutica). A edição nº Cassiano Pinheiro (estágio 52, de novembro de 1995, traz o supervisionado) Naprix na página 77 com o preço de RADIS é uma publicação impressa e online Documentação Jorge Ricardo Pereira, da Fundação Oswaldo Cruz, editada pelo R$ 5,22. Portanto, já existia em 1995. Programa RADIS (Reunião, Análise e Laïs Tavares e Sandra Suzano A apresentação que o laboratório usa Difusão de Informação sobre Saúde), Secretaria e Administração Onésimo da Escola Nacional de Saúde Pública Gouvêa, Fábio Renato Lucas, para enganar a imprensa e o consu- Sergio Arouca (Ensp). Cícero Carneiro e Mariane midor é diferente da pesquisada. Ou Gonzaga Viana (estágio seja, usa as apresentações de 2,5 mg Periodicidade mensal supervisionado) Tiragem 47.500 exemplares e 5 mg, ambas com 20 comprimidos. Assinatura grátis Informática Osvaldo José Filho e A apresentação pesquisada, no entan- (sujeita à ampliação do cadastro) Mario Cesar G. F. Júnior (estágio supervisionado) to, foi a de 0,5 mg com 30 comprimi- Presidente da Fiocruz Paulo Buss dos. Que teve, sim, reajuste acumu- Diretor da Ensp Antônio Ivo de Carvalho Endereço Av. Brasil, 4.036, sala 515 — Manguinhos lado no período de 954%; a inflação Ouvidoria Fiocruz Rio de Janeiro / RJ — CEP 21040-361 acumulada oficial medida pelo IPCA Telefax (21) 3885-1762 Tel. (21) 3882-9118 foi de 197,45%, e o salário mínimo foi Site www.fiocruz.br/ouvidoria Fax (21) 3882-9119 reajustado em apenas 250%. PROGRAMA RADIS E-Mail radis@ensp.fiocruz.br O Idum já enviou representação ao Coordenação Rogério Lannes Rocha Site www.ensp.fiocruz.br/radis Ministério Público Federal solicitan- Subcoordenação Justa Helena Franco Impressão Edição Marinilda Carvalho Ediouro Gráfica e Editora SA do o cancelamento dos aumentos au- torizados em março de 2006, pois os considera abusivos. As provas dos re- USO DA INFORMAÇÃO — O conteúdo da revista Radis sáveis pelas matérias reproduzidas. Solicitamos aos pode ser livremente utilizado e reproduzido em qual- veículos que reproduzirem ou citarem conteúdo de ajustes do Libbs também foram en- quer meio de comunicação impresso, radiofônico, nossas publicações que enviem para o Radis um exem- caminhadas ao MPF. televisivo e eletrônico, desde que acompanhado dos plar da publicação em que a menção ocorre, as refe- créditos gerais e da assinatura dos jornalistas respon- rências da reprodução ou a URL da Web. • Antônio Barbosa, coordenador
  • 5. RADIS 47 JUL/2006 [ 5 ] REMÉDIOS SUPERFATURADOS — RÉPLICA 2 vista, nem ter a informação a devida de Formação de Agentes Locais de credibilidade. Nossas fontes: IMS- Vigilância em Saúde — e gostaria de E m entrevista à Radis nº 45, página 31, o Sr. Antonio Barbosa, presi- dente do Conselho Regional de Far- Health, Ministério do Desenvolvimen- to, Indústria e Comércio Exterior. • Antônio Barbosa, coordenador ver matéria sobre este importante curso para agentes que desenvolvem atividades de epidemiologia e vigilân- mácia do DF, afirmou que o Interferom cia ambiental. Afinal, é um importan- Peguilado custa ao fabricante apenas R ADIS “ GOVERNISTA ” te trabalho com agentes do SUS, tal- R$ 4 e é vendido a quase R$ 1.000. vez o primeiro deste porte. Como presidente da Associação Brasi- • Adaly Fortunato da Silva Junior, São leira dos Transplantados de Fígado e Gonçalo, RJ Portadores de Doenças Hepáticas (TransPática), gostaria que a Radis ve- rificasse esta informação, pois afeta os portadores da hepatite C, com me- dicamentos distribuídos pelo gover- G ostaria de ver matéria sobre hemodiálise. Milhões de pessoas nem sequer têm noção do que seja no. Creio que a Radis, como publica- isso. Estou fazendo treinamento numa ção de instituição pública, tem o dever unidade de hemodiálise e é um setor de verificar a informação antes de fascinante. A.D./C.P. colocá-la em sua revista, pois tem • Jaquelline Moura, técnica de nível enorme efeito em seus leitores, devi- médio, Patos, MG do à credibilidade da instituição e ao R ADIS grande alcance desta publicação. • Ervin Moretti, presidente da Trans- S ou leitor das revistas Radis, Súmula e Tema há muitos anos, talvez uns AGRADECE Pática, São Paulo Tréplica do Idum — O Interferon 15. E nesse período percebi que man- tinham linha dura com os governos anteriores, estampadas inclusive nas G ostaria de parabenizar a Radis pelo excelente conteúdo e a facilida- de de acesso à revista. Sendo univer- Peguilado tem sua dosagem calculada capas. No entanto, percebi agora sitários (e conseqüentemente sem em micrograma (1.000.000 de micro- que, após a eleição de Lula, esse muita grana no bolso), temos conteú- gramas = 1 grama). De acordo com o enfoque mudou. Espero estar enga- do em nossa área de atuação sem cus- preço, podemos observar que o grama nado, pois não gostaria de saber que to, o que valoriza a gente como estu- custa em torno de R$ 5 milhões. E não a revista esteja afinada com um governo dante. Assinaturas são bem caras. há nenhuma tecnologia que justifique. corrupto, incompetente e aliado a dita- • Edson Mascarenhas Cotta, Belo O grama do ouro, por exemplo, custa dores como Hugo Chávez, Fidel Castro Horizonte cerca de R$ 50. O do medicamento ci- (daquele país onde o povo é obrigado a tado, R$ 5 milhões. Como é dosado em viver em condições medievais). microgramas, o usuário não chega a perceber a extensão absurda do pre- ço. Portanto, ainda que houvesse ouro • Cezar Santin, médico, Chapecó, SC O leitor está de fato enganado. A A Radis é a revista que eu procura- va e não encontrava. Está sendo de grande contribuição para a minha ou diamante (não é caso) na fórmula, Radis, publicação que já alcançou a vida acadêmica. o preço ainda seria absurdo. maturidade, não avalia governos, e • Paulo Henrique de Souza Rocha, Vi- O que define o preço de um sim políticas de saúde segundo a sua tória da Conquista, BA medicamento não é apenas a maté- observância à Constituição e aos prin- ria-prima. A planilha de custo é as- cípios do SUS. No financiamento, por sim composta: 15%, matéria-prima; 1,5%, embalagem/cartonagem; 30%, marketing/comercial; 53,5%, pro- exemplo, os investimentos da União em saúde caíram de US$ 89,45 per capita/ano em 1997 para US$ 48,37% S ou estudante do curso técnico de Gestão em Saúde. Fico sempre an- sioso para ler as matérias desse peri- dução/tecnologia/pessoal. em 2002, o que foi devidamente cri- ódico: não sei mais viver sem Radis No caso dos medicamentos com ticado pela revista. Em 2005, ficamos todo mês. patente o fabricante tem exclusivi- em US$ 62,67, bem distante do ne- • João Leopoldo V. Vargas, Juazeiro, BA dade por cerca de 20 anos. Com o ar- cessário — igualmente criticado. A gumento do custo da pesquisa, tam- bandeira atual do movimento da re- bém superdimensionado, o remédio pode custar milhares de vezes mais do que o justo. É o caso do Interferon forma sanitária é a aplicação na saú- de de 10% das receitas brutas da União, como prevê o PLC 01/03, que S ou dentista, mas trabalho com pro- moção da saúde em escolas no pro- jeto chamado Dentescola, e adorei a Peguilado. A indústria usa de muito regulamenta a Emenda Constitucio- revista. marketing e até favorecimento a or- nal 29. E que infelizmente o Congres- • Katia Cristina M. Guerra, Rio de Ja- ganizações para justificar os absurdos. so, não-pressionado pelo governo, neiro Vale destacar que, neste caso específi- mantém engavetado há três anos. co, a matéria-prima, por ter patente, NORMAS PARA CORRESPONDÊNCIA tem o preço que seu fabricante bem NA PAUTA entende, resultando nessa aberração. A Radis solicita que a correspondência Aproveitamos para lamentar a ausência de indignação do presidente da TransPática, que em nenhum mo- S ou biólogo sanitarista e trabalho com controle de vetores pela Funasa, cedido à Secretaria de Saú- dos leitores para publicação (carta, e-mail ou fax) contenha identificação completa do remetente: nome, ende- mento se mostra estarrecido com a prá- de de São Gonçalo/RJ, onde venho reço e telefone. Por questões de es- tica da indústria, mas, ao contrário, desempenhando meu trabalho, ago- paço, o texto pode ser resumido. insinua não ser séria a postura da re- ra como tutor do Proformar — Curso
  • 6. RADIS 47 JUL/2006 [ 6 ] SÚMULA D IREITOS HUMANOS E FRUSTRAÇÃO tos das pessoas com deficiência e apoio cientistas com o andamento da CTNBio”, a vítimas e testemunhas não recebe- diz a matéria. “Eles alegam que a nova ram um real sequer”, reconheceu o composição dificulta uma discussão mais ministro, que, segundo a matéria, tem objetiva”. Com a Lei de Biossegurança, mantido postura suprapartidária e vem a composição da CTNBio foi ampliada lutando no governo pelo crescimento de 18 titulares para 27. Além do “exces- da pauta dos direitos humanos. so de democracia”, incomoda sobretu- do a nomeação de representante do M AIS ATENÇÃO À EPILEPSIA Ministério Público Federal para as- sistir às reuniões — coisa que a lei já permitia, mas nunca foi colocada em C.P. O ministro da Saúde planeja assi- nar neste mês de julho portaria que prevê uma estratégia de aten- prática, em 11 anos da CTNBio. “Con- sidero totalmente desnecessária a presença de tal representante”, dis- ção à epilepsia. A OMS faz campanha se Schneider. “É uma espécie de in- há anos pelo fim do preconceito em tervenção numa comissão técnica, relação à doença, que considera a algo totalmente sem sentido”. Em sua condição neurológica grave mais co- carta de demissão, ele se refere às mum do planeta. Em 2002 o Brasil ade- “tensas e intermináveis reuniões riu ao processo, que supõe redução mensais, que não se esgotam”, in- dos encargos econômicos, físicos e formou o jornal. A frustração com o governo Lula foi a tônica dos debates da 10ª Con- ferência Nacional de Direitos Huma- psicossociais que a epilepsia acarre- ta. No 4º Workshop da Campanha Glo- bal Epilepsia Fora das Sombras, na Matéria anterior do Estadão diz que, “para muitos cientistas”, a função da procuradora Maria Soares Cardioli é nos, em junho, pelas limitações na exe- Unicamp, em Campinas (SP), uma das “tumultuar e intimidar”. E mais: “As cução das políticas públicas e pelo estratégias estudadas foi o atendimen- discussões estão emperradas. Um gru- próprio modelo de desenvolvimento. to aos pacientes nas Unidades Básicas po que notadamente está lá para atra- Alguns identificaram sinais de mudan- de Saúde, pois mais de 70% dos casos palhar, fica se atendo a picuinhas, e ça depois que o ministro Paulo Vanuchi de epilepsia são tratáveis com medidas não se avança no principal”, desabafa assumiu a Secretaria Especial de Di- simples. A mídia brasileira, que alimen- o pesquisador da Embrapa Edilson reitos Humanos, em dezembro — as ta o preconceito, ignorou o encontro. Paiva, segundo a matéria. críticas à gestão do ex-secretário Maria Soares determinou que os Nilmário Miranda, histórico militante C AMISINHAS MADE IN X APURI integrantes fizessem declaração de da causa, foram as mais duras, como conflito de interesse, para o caso de também ao episódio do rebaixamento processos em que não poderiam atu- da pasta, que de julho a dezembro de 2005 perdeu o status de ministério. A avaliação da gestão Lula foi O governo federal vai fabricar ca- misinhas a partir de janeiro de 2007. A primeira fábrica estatal de pre- ar por seus vínculos com a instituição ou o cientista envolvido no assunto. Segundo o jornal, “muitos ameaçaram mais negativa do que a da época de servativos está sendo construída em não assinar”, mas o fizeram em duas Fernando Henrique Cardoso. Para Caio Xapuri, no Acre, e vai produzir cami- versões: uma do MP e outra prepara- Varela, do Instituto Nacional de Estu- sinhas com látex natural da seringuei- da pelos próprios integrantes. dos Socioeconômicos (Inesc), a cam- ra nativa da Amazônia. Hospitais pú- panha de combate à tortura sofreu duro blicos e centros de saúde receberão MORRE O PAJÉ TUCANO GABRIEL GENTIL desmonte, perdendo até o telefone de o material gratuitamente. ligação gratuita para denúncias de abu- CNTB IO so, disse à Agência Carta Maior. As ações de defesa de crianças e adolescentes EM MOMENTO DIFÍCIL O pajé tucano Gabriel dos Santos Gentil morreu no dia 27 de maio no ameaçados também foram desarticula- das. Campanhas como o Plano de Edu- cação em Direitos Humanos e Brasil sem O jornal O Estado de S. Paulo, histó- rico defensor dos transgênicos e crítico da reformulação da Comissão Hospital João Lúcio, em Manaus. Em ou- tubro de 2004 (Radis 26) ele recebeu o título honorífico de “pesquisador emérito Homofobia, sem recursos, tiveram pou- Técnica Nacional de Biossegurança no campo do conhecimento tradicional” ca efetividade. “O problema do orça- (CTNBio) a partir da aprovação da Lei do Centro de Pesquisa Leônidas e Maria mento é dramático”, justificou-se de Biossegurança, publicou várias ma- Deane (Fiocruz-Amazonas) e ganhou bol- Vanuchi, “premido pelas questões fis- térias sobre “um clima de levante e in- sa para desenvolver seus projetos de cais e a necessidade de superávit pri- dignação” entre seus integrantes. Em 2 pesquisa. Gabriel, que estudava a histó- mário”. Somados os orçamentos da se- de junho, o vice-presidente da comis- ria de seu povo há mais de 30 anos, co- cretaria e do Fundo Nacional da Criança são, professor Horário Schneider, espe- meçou a coletar mitos da tradição tucana e do Adolescente, há R$ 100 milhões, cialista em genética, pediu afastamen- em 1969, em São Gabriel da Cachoeira quando são necessários R$ 200 milhões. to e criticou o “excesso de reuniões”. (1.601 quilômetros a noroeste de Manaus, “Programas como apoio à implantação “A saída de Schneider ocorre num pelo Rio Negro), a pedido do padre de conselhos de promoção dos direi- momento de evidente insatisfação de salesiano Casimiro Béksta. Seu último li-
  • 7. RADIS 47 JUL/2006 [ 7 ] vro publicado foi Povo tucano — Cultura, história e valores. R EMÉDIO VENDIDO A R$ 1 É GRATUITO O Globo de 31/5 publicou reporta- gem afirmando que as farmácias po- pulares do governo do Estado do Rio, blica de assistência médico-sanitária em São Paulo”. Com a grafia da épo- ca, claro. Parabéns à revista. que atendem pacientes acima de 60 anos, cobram R$ 1 por medicamentos distribuídos gratuitamente em unidades EXCELENTE IDÉIA! — A Revista do SUS. Inspeção do Tribunal de Contas Facultad Nacional de Salud Pública, do Estado (TCE) descobriu que 43% dos da Universidad de Antioquia, Medellín, remédios, entre os 44 oferecidos nes- Colômbia (www.udea.edu.co/), que o sas farmácias, fazem parte da lista da RADIS recebeu em fins de maio, publi- Assistência Farmacêutica do SUS, que ca em edição especial de março as os fornece de graça à população. O “Memorias do 4º Congreso Internaci- jornal afirma que o governo federal tam- onal de Salud Pública” (novembro/ bém cobra, nas farmácias populares, por 2005), cujo tema foi “Globalização, medicamentos gratuitos do SUS. A far- Estado e saúde”. São 149 páginas com mácia popular federal aceita receita de todas as palestras proferidas. Uma qualquer médico, e a estadual, apenas publicação assim, com a íntegra das de médicos do SUS. intervenções em conferências e con- A.D. gressos, seria de enorme utilidade O S 7 ERROS DO E STATUTO para pesquisadores e profissionais de SAÚDE LEGIS NO AR — Já está dispo- DA P ESSOA COM D EFICIÊNCIA saúde brasileiros. Uma dica: a publi- nível o Sistema de Legislação em Saú- cação colombiana foi parcialmente de, o Saúde Legis (www.saude.gov.br/ financiada pela Opas/OMS. saudelegis), com 44 mil atos normativos G eraldo Nogueira, vice-presidente da Reabilitation International para América Latina, em artigo no site do Ibase Pelo menos os arquivos das apresentações podem muito bem ser divulgados nos respectivos sites, já publicados desde 1947 no Diário Ofi- cial da União (seções 1 e 2) e nos Bo- letins de Serviço (por enquanto, es- (www.ibase.org.br) de 22 de maio, enu- que se trata de tecnologia ao al- tão disponíveis apenas os textos mera os sete pecados do Estatuto da cance do setor. Os organizadores da completos dos atos normativos publi- Pessoa com Deficiência, em análise no 12ª Conferência Nacional de Saúde, cados a partir de 2003; os anteriores Congresso Nacional. Ei-los, em resumo: por exemplo, prometeram que logo serão incluídos gradativamente). O 1) Terminologia inadequada, interpreta- todas as intervenções estariam na conteúdo está num banco de dados ção equivocada de direitos e “muitos página da Doze na internet, o que único, o que facilita a pesquisa. A con- padrinhos loucos para batizar logo as não aconteceu. sulta pode ser feita por tipo de nor- crias”; 2) Estatuto soa excludente: se- Também a revista Salud Publica ma, número, data, assunto e órgão de para direitos de leis que tratam a socie- — Escuela de Salud Publica, Facultad origem. Também será possível acessar dade como um todo; 3) Deficiência é de Ciências Médicas, Universidad Na- o Saúde Legis no Portal da Saúde condição humana que permeia as de- cional de Córdoba (www.unc.edu.ar) (www.saude.gov.br) e na Biblioteca mais diferenças: idosos, jovens, etnia, —, que em abril enviou ao RADIS suas Virtual em Saúde (www.saude.gov.br/ religião, gênero ou orientação sexual edições de 2005, publicou número bvs). Futuramente o sistema incluirá não devem estar afastados da realidade especial com as intervenções nas uma interface para pesquisas simultâ- da pessoa com deficiência; 4) Estatuto Jornadas Internacionales de Salud neas no Saúde Legis e na base de da- é instrumento jurídico estático e de Publica. Como diz o diretor da escola dos da Presidência da República, que difícil alteração, ao contrário da lei, que em editorial, “todo evento científico abrange leis, decretos, medidas pro- é dinâmica; 5) Um estatuto facilita con- tem por finalidade proporcionar es- visórias etc. sulta de direitos, mas também ações de paço de participação e troca de ex- lobby; 6) Lobistas poderão emperrar periências entre os profissionais in- ABRASCÃO: 8.380 TRABALHOS — Os avanços no Congresso, alegando que teressados na temática”. É mais do 10 mil profissionais cadastrados no 8º exigem revisão do estatuto; 7) O esta- que justo que, além dos participan- Congresso Brasileiro de Saúde Cole- tuto se justificava quando o segmento tes, os “interessados na temática” tiva (www.saudecoletiva2006.com.br), era minoria inexpressiva. Atualmente, as tenham acesso aos trabalhos apresen- o Abrascão, e no 11º Congresso Mun- pessoas com deficiência somam 14,5% tados em eventos. dial de Saúde Pública, em agosto, no da população, organizadas em dois mo- Rio de Janeiro, enviaram aos organi- vimentos que se complementam e con- RSP 40 ANOS -— Ainda no capítulo das zadores — a Associação Brasileira de tam com uma das legislações mais inclu- publicações: a Revista de Saúde Pú- Pós-Graduação em Saúde Coletiva sivas das Américas. blica da Faculdade de Saúde Pública (Abrasco) e a Federação Mundial das da USP comemorou seus 40 anos de Associações em Saúde Pública existência com uma edição especial, (World Federation of Public Health SÚMULA é produzida a partir do acom- que contém um capítulo com os “Clás- Associations) — 9.680 trabalhos. Desse panhamento crítico do que é divulgado sicos dos primeiros dez anos”: “His- total, apenas 1.300 foram recusados. na mídia impressa e eletrônica. tória da saúde pública no estado de Os restantes serão apresentados em São Paulo” e “Situação da rêde pú- formato pôster ou oralmente.
  • 8. RADIS 47 JUL/2006 [ 8 ] CÉLULAS-TRONCO Falta consenso, sobra esperança Bruno Camarinha Dominguez e Claudia Rabelo Lopes A descoberta de que eram fraudes os alar- deados avanços obti- dos pela equipe do cientista sul-coreano Woo- Suk Hwang nas pesquisas com células-tronco embrionárias obrigou a sociedade e os pró- prios pesquisadores a reve- rem as conquistas atingidas na área (Radis 42). A popula- ção se encanta com os anún- cios de que as terapias com células-tronco (ver box) são a solução para acabar com doenças incurá- veis. Mas a impreci- são de dados dos estu- dos, com cientistas divergindo entre si, demonstra a falta de consenso na área. A polêmi- ca é ainda maior quando en- tram em pauta as discussões éticas e legais. Para esclare- cer a comunidade científica sobre as possibilidades atuais de aplicação de células-tron- co no Brasil, os limites da téc- nica e o uso seguro das tera- pias, o Projeto Ghente — Estudos sociais, éticos e ju- rídicos sobre acesso e uso de genomas em saúde —, da Fiocruz, promoveu uma ofici- na, em 18 de maio, no Audi- tório do Museu da Vida. A.D.
  • 9. RADIS 47 JUL/2006 [ 9 ] FOTO: CASSIANO PINHEIRO Sob o tema “Células-tronco: Pos- sibilidades, riscos e limites no campo das terapias no Brasil”, o evento reu- niu representantes dos campos da ci- ência, da ética e do direito em três mesas temáticas. Logo na primeira mesa — “O estado da arte das pes- quisas e terapias com células-tronco” —, os palestrantes sentenciaram que os procedimentos com células-tron- co ainda não estão ao alcance da po- pulação. “Estamos na fase de testes e a aplicação deve demorar pelo me- nos dois anos”, previu Ricardo Ribei- ro dos Santos, coordenador do Insti- tuto do Milênio de Bioengenharia Tecidual da Fiocruz em Salvador. O médico reforçou a importância da Herbert Praxedes, Heloísa Helena, Renata Parca, Marisa Palácios, Maria Cláudia pesquisa básica, que serve para defi- Brauner e Sueli Dallari: visões diversas sobre a Lei de Biossegurança nir métodos e teorias. Um histórico apresentado pelo professor Antonio expressiva melhora, mas também não células-tronco no coração gerou uma Carlos Paes de Carvalho, da Universi- provocou efeito colateral, três me- melhora significativa: os pacientes dade Federal do Rio de Janeiro, ses após o procedimento. “Existe passaram a gastar mais energia e a complementou a fala de Ricardo, uma tendência de recuperação e, consumir mais oxigênio. A isquemia foi mostrando que já houve pelo menos principalmente, um crescimento da reduzida de 15% para 4,5%. Os doen- três alterações nos paradigmas das qualidade de vida”, disse Ricardo, tes que sequer conseguiam concluir terapias celulares. “Trabalhos apresen- para quem ainda falta conhecimen- o almoço sem parar para descansar e tados em 2002 já foram contestados e to para explicar quais fatores provo- precisavam de ajuda até para tomar não têm mais validade”, resumiu. caram alterações no organismo e de banho voltaram a ser independentes. Uma dificuldade enfrentada pe- que modo. Ele ressaltou que as te- “O interessante é que muitos deles los pesquisadores é que determina- rapias com células-tronco podem re- se separaram das mulheres, das experiências não resultam em presentar o fim da fila para trans- provavelmente porque deixa- dados concretos. Um desses casos é plante hepático. Entre 2004 e 2005, ram de depender delas”, brin- o tratamento de pessoas com falên- das 221 pessoas à espera de um doa- cou, sob risadas da platéia. cia do fígado, testado pela Fiocruz- dor, 30 morreram antes de conseguir Hans afirmou que a melhora é Bahia em 10 pacientes que tiveram o transplante, citou. concreta, apesar de não se cirrose ou hepatite C. A injeção de Outro teste com resultado posi- saber que mecanismo levou à recu- células-tronco retiradas da medula tivo foi realizado pelo Hospital Pró- peração: “Não pode ser efeito óssea na artéria hepática não gerou Cardíaco, no Rio de Janeiro. A insti- placebo, pois já dura quatro anos”. tuição foi a primeira do mundo a Em suas falas, Ricardo e Hans lou- Em 1998, surgiram os primeiros tra- tratar insuficiência cardíaca com cé- varam a iniciativa do “Estudo Multi- balhos propondo que a injeção de lulas-tronco de medula óssea. Hans cêntrico Randomizado de Terapia Ce- células-tronco retiradas da medu- Fernando Rocha Dohmann, diretor- lular em Cardiopatias”. A pesquisa, que la óssea era capaz de reconstituir científico do Pró-Cardíaco, contou na envolve cerca de 1.200 pacientes, o músculo esquelético lesado de oficina que a pesquisa teve início com está orçada em R$ 13,5 milhões, fi- camundongos. Veio em seguida pacientes com doença coronariana nanciados pelo Ministério da Saú- uma enxurrada de estudos afir- avançada, que já haviam sido subme- de, e prevê que, ao fim dos testes, mando que determinadas células- tidos a cirurgia cardíaca e tomavam as diversas instituições envolvidas tronco poderiam gerar não só altas doses de remédio. A injeção de apontem a usabilidade das terapias músculo esquelético, como célu- las de fígado, coração, neurônios. Este paradigma prevaleceu até 2002, quando descobriu-se que o O que é célula-tronco que se julgava um processo de transdiferenciação era, na verda- de, fusão celular: no fígado, por O professor Antonio Carlos Paes de Carvalho, da UFRJ, abriu o even- to dando a definição clássica de cé- utilização do ponto de vista clínico ainda está bastante distante, por- que precisamos ter um controle so- exemplo, a célula-tronco injeta- da se fundia ao hepatócito, em lula-tronco: “Uma célula não-espe- bre a proliferação e a diferencia- vez de se transformar — o que cializada com grande potencial de ção delas”, disse Antonio Carlos. enganava os pesquisadores. Atu- auto-renovação, capaz de originar di- Já as adultas, usadas nas tera- almente, ganha força o uso de ferentes tipos celulares no organismo”. pias, dão origem a células do mes- fatores como a proteína timosina Podem ser obtidas do embrião, mo tipo. Pode haver risco de apa- b4, e não mais de células-tronco, do feto ou do adulto. As embrioná- recimento de tumores, por isso é o que não impede que haja con- rias são capazes de gerar qualquer essencial monitorar constantemen- senso em torno dos benefícios da um dos tipos celulares presentes te o desenvolvimento das células- injeção de células-tronco. nos tecidos do organismo. “Mas sua tronco aplicadas nos pacientes.
  • 10. RADIS 47 JUL/2006 [ 10 ] com células-tronco em pacientes é melhor ter essa lei aprovada do que portantes como “genitores” e “em- com doenças do coração, forneçam não ter nenhuma. Especialista na área briões inviáveis”, o que cria confu- treinamento e, principalmente, de reprodução assistida, ela viu a in- sões para sua aplicação. Mas avaliou apliquem o tratamento no Sistema clusão do tema das células-tronco na positivamente a 11.105/05 porque Único de Saúde. lei dos OGMs como a estratégia pos- veda a comercialização de materiais sível para que pesquisas e terapias fos- biológicos provenientes de embriões A LEI E A POLÊMICA sem viabilizadas naquele momento. “Se humanos e proíbe a clonagem huma- Se ainda falta muito para se che- houvesse um projeto de lei destina- na, a prática da engenharia genética gar a definições nas pesquisas, a si- do exclusivamente à legalização des- em células germinais humanas, zigotos tuação é ainda mais complicada no sas pesquisas, dificilmente seria apro- (células reprodutoras formadas pelo que se refere aos aspectos éticos vado”, disse, acrescentando que “as encontro do espermatozóide com o e legais envolvidos na questão das críticas são pertinentes, mas a situa- óvulo) ou embriões. células-tronco. A aprovação da Lei ção já está dada, a lei está aí”. O Decreto 5.591, também de de Biossegurança (11.105/05) em ou- Eliane Moreira, jurista e coorde- 2005, veio regulamentar as pesqui- tubro de 2005 continua alvo de mui- nadora do núcleo de Propriedade Inte- sas com células-tronco embrionári- ta discordância, como se viu nas me- lectual do Centro Universitário do Pará as, e trouxe definições que faltavam sas-redondas da parte da tarde, (Cesupa), tem leitura diferente. Para à lei. Mas a 11.105/05 foi aprovada quando a cordialidade não escondeu ela, a inclusão do tema na 11.105/05 sem que existisse legislação especí- as farpas trocadas entre participan- serviu como cortina de fumaça sobre fica ou controle sobre a atividade tes. A lei surgiu para tratar da pro- o tema dos transgênicos, que era a das mais de 50 clínicas de reprodu- blemática dos organismos genetica- discussão central até então. “Ele foi, ção assistida no país, o que tem cau- mente modificados, os OGM (como a em boa medida, uma estratégia políti- sado dificuldades na identificação de soja transgênica), questão totalmente ca que permitiu o deslocamento do embriões que atendam aos requisi- diversa da problemática das células- foco e permitiu que muita coisa além tos legais para a pesquisa. Por isso o tronco embrionárias — incluída na lei de biossegurança, sobre transgênicos, Ministério da Saúde publicou a Por- às pressas, sem maiores discussões com passasse sem uma discussão concre- taria 2.526/05, sobre identificação a sociedade e os parlamentares. “O ta”, disse, ao abrir a mesa seguinte. de embriões, e a Agência Nacional assunto foi tratado no Congresso de Pelo menos num ponto houve de Vigilância Sanitária (Anvisa) apro- forma absurda, sem debate”, afirmou concordância: a Lei de Biossegurança vou Resolução da Diretoria Colegiada o médico Herbert Praxedes, coor- contém grandes falhas no que diz (RDC 33/06) que dá os critérios para denador do Comitê de Ética respeito a células-tronco embrioná- criação e funcionamento de bancos em Pesquisa da Faculdade de rias, o que tem levado à criação de de células e tecidos germinativos Medicina da Universidade Fe- outros instrumentos que tentam fe- humanos. Na palestra seguinte, a deral Fluminense (UFF). “Os char as brechas. Para Maria Cláu- bióloga Renata Parca, da Gerência grupos que se opunham foram dia, esses instrumentos são avanços de Sangue, Outros Tecidos, Célu- segregados e a mentira preva- importantes enquanto se aguarda las e Órgãos da Anvisa, informou leceu”. Sua fala foi uma referência à uma lei que efetivamente regule a que está em elaboração uma RDC atuação de pesquisadores que leva- reprodução assistida, e representam que cria um cadastro nacional para ram deficientes físicos às galerias do uma “visão de compromisso” do Es- controle e rastreamento dos em- Congresso para pressionar os parla- tado brasileiro com a liberdade ci- briões criados em clínicas de ferti- mentares a aprovarem a lei (Radis 32). entífica, “mas com responsabilida- lização in vitro. A matéria aguarda- Por outro lado, a primeira pales- de e prudência”. A especialista fez va decisão do Ministério da Saúde trante da mesa “Regulamentação das um apanhado de toda a legislação para ir a consulta pública ou ser pesquisas e terapias envolvendo cé- brasileira sobre o assunto, come- publicada imediatamente. lulas-tronco”, a advogada gaúcha çando pela própria Lei nº 11.105/05 Maria Cláudia Brauer, considera que que, para ela, não define termos im- PARTICIPAÇÃO POPULAR Já a jurista Suely Dallari, da USP, considera que portarias e re- soluções são atos importantes de governo, mas alertou que o valor deles, no meio jurídico, é relativo: “Nossa escola ensina Direito do sé- Radis adverte culo 18, que diz que só a lei é que manda; então o juiz não vai nem estar interessado em portaria, em O controle rígido do RDC”. Suely frisou que qualquer lei comércio da cola de só pode ser justa se for uma expres- sapateiro, em vigor são da vontade da sociedade em sua desde 15 de junho, faz diversidade, o que não é o caso da bem à saúde de um Lei de Biossegurança. “Se o povo país que se preocupa não estiver participando nunca será com a criança. justo”, disse. “Estou falando isso porque o debate não foi feito, o conhecimento não foi socializado, então não estamos sendo livres para decidir”. Ela ressaltou o papel crucial da divulgação científica no século 21
  • 11. RADIS 47 JUL/2006 [ 11 ] e defendeu a abertura de todos os dados técnicos, jurídicos e éticos giosas ou filosóficas, defendendo espaços possíveis para a participa- para colaborar na discussão com os que a moral e a ética têm que evo- ção popular, inclusive com anúncio ministros do STF. luir e se adaptar. das consultas públicas na televisão: Na mesa-redonda “Ética nas pes- Outra fonte de células-tronco, “Tem que ter, como tem propagan- quisas e terapias com células-tronco”, já muito usada em transplantes de da de remédio fracionado”, afirmou. o palestrante Sérgio Rego, médico-sa- medula, é o sangue do cordão umbi- A debatedora Marisa Palácios, nitarista do Departamento de Ciências lical, assunto da palestra da médica do Núcleo de Estudos de Saúde Co- Sociais da Ensp/Fiocruz, letiva da UFRJ, lembrou que, apesar abordou diferentes ma- de a Resolução 196 do Conselho Na- neiras de compreender o cional de Saúde, sobre pesquisas e âmbito da moral e da éti- experiências com seres humanos, ca, o que depende sem- determinar o controle social, com pre do lugar que se dá ao participação dos usuários nos comi- outro nas relações soci- tês de ética em pesquisa das insti- ais. Ele falou da dificulda- tuições científicas, na prática, nem de por parte de muitos sempre as coisas funcionam como pesquisadores de en- deveriam. Ela questionou se há real- tenderem que uma pes- mente autonomia na situação em que quisa correta científica as pessoas consentem em participar e metodologicamente de pesquisas com células-tronco, já não é necessariamente que são indivíduos em condição de ética. “Bom senso e boa vulnerabilidade — problema que exi- intenção todo mundo ge senso ético ainda maior do pes- tem, todos querem fa- quisador. A outra debatedora, Helo- zer o melhor”, disse, ex- ísa Helena, da Faculdade de Direito plicando que, ao se discutir a Marlene Braz, do Instituto Fernandes da Universidade do Estado do Rio de eticidade de uma pesquisa, é impor- Figueira (IFF/Fiocruz). Ela falou da Janeiro, informou que há uma ação tante enfatizar que não se avalia o importância das doações ao de inconstitucionalidade contra o caráter das pessoas, e sim a pesquisa Brasilcord — banco público de cé- Artigo 5º da Lei 11.105/05 tramitan- em si mesma, o que significa desviar lulas de cordão umbilical —, que in- do no Supremo Tribunal Federal, e o foco da moralidade do agente e tegra rede internacional cri- que o encontro poderia fornecer passar a discutir a moralidade dos atos ada pela Organização Mundial propriamente ditos. Declarando-se di- de Saúde em 2004. Por essa abético e pai de uma criança com pa- rede, aproximadamente 4 mil Art. 5o É permitida, para fins de ralisia cerebral, Sérgio observou que pessoas já receberam trans- pesquisa e terapia, a utilização de houve um “acordo negociado” na plantes no mundo, enquanto células-tronco embrionárias obti- aprovação da Lei de Biossegurança. os transplantes autólogos — feitos das de embriões humanos produ- Segundo o médico, aqueles “direta- com células do cordão da própria zidos por fertilização in vitro e mente interessados” na questão — no pessoa — foram apenas cinco. não utilizados no respectivo pro- caso, as pessoas com deficiências e Marlene mostrou ainda como os cedimento, atendidas as seguin- problemas de saúde que esperam bancos de células privados fazem pro- tes condições: poder ser tratadas com células-tron- paganda irregular, apelativa e enga- I — sejam embriões inviáveis; ou co no futuro — têm que estar pre- nosa, induzindo pais a fazerem gastos II — sejam embriões congelados sentes às negociações. desnecessários em armazenamento há 3 (três) anos ou mais, na data Numa fala contundente, a médi- de cordão umbilical (Radis 31). Uma da publicação desta Lei, ou que, ca Marilena Corrêa, do Instituto de estratégia é alegar que as células já congelados na data da publica- Medicina Social da Uerj, criticou o poderão ser usadas por outra pes- ção desta Lei, depois de comple- “modelo do milagre” e discordou de soa da família. Pela RDC 153 da Anvisa, tarem 3 (três) anos, contados a que tenha havido consenso na aprova- no entanto, o material armazenado partir da data de congelamento. ção da 11.105/05: “A aliança que par- nos bancos privados é de uso ex- te da comunidade científica fez com clusivo do próprio doador. Uma re- § 1o Em qualquer caso, é necessá- ruralistas para a aprovação da lei foi presentante da Anvisa esclareceu rio o consentimento dos genitores. imoral”, declarou, acrescentando que o Brasilcord pode receber do- § 2o Instituições de pesquisa e ser- que se tratou de uma “atuação ne- ações para uso aparentado se hou- viços de saúde que realizem pes- fasta dos cientistas” em termos do ver indicação terapêutica. Muitos quisa ou terapia com células-tron- que se quer para a consolidação dos pais pagam até R$ 4 mil para conge- co embrionárias humanas deverão direitos e da democracia no país. Em lar as células dos filhos em bancos submeter seus projetos à apreci- outra linha de pensamento, o médi- privados. Provavelmente não sabem ação e aprovação dos respectivos co Arnaldo Pineschi, do Conselho Re- que elas só poderão ser emprega- comitês de ética em pesquisa. gional de Medicina do Rio de Janei- das no doador enquanto ele tiver § 3o É vedada a comercialização ro, apontou um forte fundamento até 50 quilos, e que a probabilidade do material biológico a que se religioso no impasse em torno das de uso é irrisória. “O futuro do fu- refere este artigo e sua prática pesquisas e do uso terapêutico das turo do futuro é vendido como rea- implica o crime tipificado no art. células-tronco embrionárias. Ele lidade”, disse Marlene. 15 da Lei no 9.434, de 4 de feve- questionou até que ponto se deve reiro de 1997. deter o avanço das ciências em Mais informações nome de visões estritamente reli- Projeto Ghente www.ghente.org
  • 12. RADIS 47 JUL/2006 [ 12 ] COMISSÃO NACIONAL SOBRE DETERMINANTES SOCIAIS DA SAÚDE Compromisso com a ação objetivo da comissão era transformar Apesar das dificuldades, a CNDSS Alberto Pellegrini Filho * o conhecimento em ação, ou seja, uti- pretende enfrentar esse desafio, lizar a evidência científica como uma apoiando a definição de políticas vol- A s três linhas de ação da Co- alavanca para a mudança de políticas. tadas para a promoção da eqüidade missão Nacional sobre Deter- Não se trata de um desafio trivial. em saúde em estudos sobre as rela- minantes Sociais da Saúde Se fizermos uma comparação entre a ções entre DSS e a situação de saú- (CNDSS), produção de infor- prática clínica e a definição de políti- de que busquem identificar “pontos mações e conhecimentos, apoio e ava- cas para a eqüidade em saúde basea- vulneráveis” sobre os quais devem liação de políticas e mobilização soci- das em evidências, encontraremos di- incidir as intervenções para a supera- al, se articulam em torno de um eixo ferenças significativas. Apesar das ção de iniqüidades. Pretende também comum que é o compromisso com a aparentes “facilidades” de implantação recoletar, analisar e divulgar experi- ação. Entende-se esse compromisso da medicina baseada em evidências, em ências exitosas, assim como promover como a promoção de políticas em fa- comparação às dificuldades para a ado- o aprimoramento de metodologias de vor da eqüidade em saúde, as quais se ção de políticas públicas de combate avaliação de intervenções. Tudo isso apóiam em dois pilares fundamentais: às iniqüidades baseadas em evidênci- evidentemente deve ser feito em es- as evidências científicas e a participa- as, não é assim tão fácil convencer os treita colaboração com instituições ção social. O ex-diretor-geral da OMS profissionais de saúde a abandonar governamentais e não-governamen- Dr. Lee Jong Wook, ao propor a cria- práticas que, embora consagradas tais, públicas e privadas, mobilizando ção da Comissão sobre Determinantes pelo uso, se mostram inefetivas ou pesquisadores, gestores, represen- Sociais da Saúde da OMS, disse que o danosas à luz das evidências científi- tantes da sociedade civil organizada cas. Tampouco é fácil convencê-los a e o público em geral. adotar novas práticas cuja eficácia e As intervenções sobre os DSS * Secretário executivo da Comissão Nacional sobre Determinantes Sociais efetividade são plenamente comprova- podem se dar em diferentes níveis, da Saúde (CNDSS) das por reiterados estudos. como veremos a seguir:
  • 13. RADIS 47 JUL/2006 [ 13 ] INTERVENÇÕES INDIVIDUAIS and sick populations” (International tos materiais relacionados à renda e à VERSUS Journal of Epidemiology, 1985). posse de determinados bens, mas tem INTERVENÇÕES POPULACIONAIS Preocupar-se somente com as também muito a ver com a vivência de pessoas mais expostas aos fatores de situações estressantes no bairro e no As estratégias de promoção e pro- risco é, portanto, pouco eficaz quan- ambiente domiciliar, com pouca expe- teção da saúde privilegiam a atuação do se quer diminuir a incidência de riência de relações de solidariedade, sobre os fatores de risco individuais, determinadas doenças em uma popu- com raras oportunidades de “relaxar” principalmente entre os indivíduos mais lação, já que as causas das incidên- em atividades de lazer e com outros expostos ao risco. Freqüentemente cias a nível populacional em geral es- elementos relacionados ao bem-estar. estas estratégias de aconselhamento tão relacionadas aos determinantes Estudos sobre a trama de relações individual são pouco eficazes, porque sociais que exigem intervenções entre experiências psicossociais sub- não levam em conta determinantes populacionais. Em “Social class and jetivas e aspectos relacionados à or- sociais como fatores culturais, por coronary heart disease” (British ganização social vêm permitindo co- exemplo. É muito difícil que alguém Heart Journal, 1981), de Rose G. e meçar a entender como a saúde é deixe de fumar ou de comer gordu- M. Marmot, observa-se a distribui- afetada por essas relações. ras saturadas quando todos a sua vol- ção da pressão arterial sistólica nos Com todo o anterior, fica claro ta, parentes e amigos o fazem. Se tra- funcionários públicos de Londres e que, se procurarmos diminuir as iniqüi- tar de comer de maneira diferente, em povos nômades do Quênia. Os dades no risco de morrer por enfermi- provavelmente será visto como excên- médicos e sanitaristas londrinos em dade coronariana dos funcionários in- trico ou hipocondríaco. Muito mais geral não costumam se preocupar gleses buscando apenas mudanças de eficaz seria a adoção de medidas com a distribuição da pressão arte- comportamento, o efeito será bastan- populacionais que diminuíssem esses rial ao nível populacional. Preocu- te limitado. Para um maior impacto será hábitos na população em geral. pam-se sim com os casos mais críti- também necessário atuar principalmen- Além disso, os fatores de risco cos, perguntando-se por que esses te sobre as desigualdades nas condi- individuais, como o hábito de fumar, indivíduos têm pressão alta e pro- ções de vida desses funcionários. É bom o colesterol alto, a obesidade etc., curando tratá-los dessa condição. lembrar que, para doença coronariana, não são condições nem necessárias Se a pergunta fosse outra — ou seja, assim como para câncer de pulmão e nem suficientes para causar deter- por que os quenianos não têm pres- Aids, conhecemos relativamente bem minadas doenças. Por esta razão, é são alta como os londrinos? — suas es- os fatores de risco individuais. O mes- às vezes difícil para o leigo entender tratégias de intervenção seriam total- mo não ocorre para um grande núme- esse conceito. Todos conhecem um mente diferentes. Procurariam agir ro de outras doenças, o que diminui parente ou um amigo com 80 anos, também em nível populacional sobre ainda mais o efeito se nos limitarmos a fumante e amante de um bom bife, determinantes mais gerais, com um im- atuar sobre estes fatores. que goza de plena saúde, enquanto pacto muito maior na saúde geral da um outro conhecido não-fumante e população. NÍVEIS DE ATUAÇÃO sempre preocupado com a dieta e o Outro exemplo interessante pode SOBRE OS DETERMINANTES exercício morreu de infarto do ser encontrado num clássico traba- SOCIAIS DA SAÚDE miocárdio aos 50 anos. lho de Michael Marmot [o presiden- Talvez a analogia que mais facilita a te, na OMS, da comissão de DSS] so- Se tomarmos um modelo propos- compreensão do conceito de fator de bre funcionários públicos londrinos. to por Whitehead e Dahlgren para risco é a loteria. Evidentemente uma Marmot observou que se fixarmos classificar os determinantes da saú- pessoa que comprou cinco bilhetes tem como 1 o risco relativo de falecer de, observamos uma gradação desde maior probabilidade de ganhar em com- por doença coronariana para funci- os macrodeterminantes relacionados às paração a outra com apenas um bilhe- onários da administração de mais estruturas socioeconômicas e culturais te. No entanto, nada impede que este alto nível na hierarquia, os funcio- de uma sociedade até os determinantes último ganhe o prêmio. Mais ainda, nários de níveis hierárquicos inferi- individuais relacionados à biologia de como o número de pessoas com ape- ores, como profissional/executivo, um determinado indivíduo. nas um bilhete é muito maior, a proba- atendentes e outros teriam respec- É muito difícil estabelecer um bilidade de o vencedor ter apenas um tivamente risco relativo 2,1; 3,2 e 4 corte que nos permita separar cla- bilhete é também muito maior. Voltan- ou, aproximadamente, duas, três e ramente o que são determinantes do a um exemplo de saúde, tomemos a quatro vezes maior risco de morrer sociais e o que são determinantes relação entre síndrome de Down e ida- por doença coronariana. Marmot pro- individuais. Já vimos anteriormente de materna. Mães abaixo de 30 anos têm curou a explicação dessas diferenças que os estilos de vida individuais individualmente um risco mínimo de e encontrou que os fatores de risco nem sempre correspondem a uma gerar um filho com síndrome de Down individuais, como colesterol, hábito de livre escolha dos indivíduos, já que (0,7 por mil nascimentos), enquanto fumar, hipertensão arterial e outros os hábitos de fumar, beber, fazer para mães entre 40-44 anos há um alto explicavam apenas uma pequena par- exercício, praticar sexo seguro etc. risco (13,1 em mil nascimentos), e as te do problema. É certo que todos estão claramente condicionados por com 45 e mais, um risco maior ainda esse fatores de risco crescem na me- determinantes sociais, culturais ou (34,6 por mil nascimentos). Acontece dida em que descemos na escala hie- econômicos. As próprias caracterís- que pelo fato de as mães abaixo de rárquica, com exceção do colesterol, ticas biológicas do indivíduo, como 30 anos serem muito mais numerosas, mas explicam apenas cerca de 35-40% idade, sexo ou raça, terão repercus- elas geram 50% dos casos de síndrome da diferença. A que se devem então são sobre a sua saúde dependendo de Down, enquanto as mães com os outros 60-65%?. Vários estudos mos- da maneira como a sociedade atri- idade entre 40 e 44 geram 11% e as tram que gradientes observados na bui papéis funcionais diferenciais de 45 e mais, apenas 2% dos casos, situação de saúde entre diferentes aos indivíduos de acordo com essas conforme o artigo “Sick individuals estratos sociais têm a ver com aspec- características.
  • 14. RADIS 47 JUL/2006 [ 14 ] Esta distinção é importante, pois riedade e confiança entre pessoas e operam de maneira independente, permite distinguir entre desigualdades grupos que são fundamentais para a obrigando o estabelecimento de e iniqüidades. Evidentemente, as con- promoção e a proteção da saúde indi- mecanismos que permitam uma ação dições de saúde de um grupo de jo- vidual e coletiva. Estas relações são integrada. vens comparadas às de um grupo de também fundamentais para o combate idosos será diferente; o mesmo se pode à pobreza, já que, além da falta de aces- • O quarto nível de atuação se refere dizer se compararmos um grupo de so a bens materiais, a pobreza é tam- a mudanças macroeconômicas e cul- homens a um grupo de mulheres, cada bém a falta de oportunidades, de pos- turais que visem promover um desen- um com doenças próprias do gênero. sibilidades de opção, de voz frente às volvimento com melhor distribuição Trata-se de desigualdades que aceita- instituições do Estado e da sociedade de seus frutos, reduzindo as desigual- mos como naturais. Diferente é o caso e uma grande vulnerabilidade a impre- dades e seus efeitos sobre a socieda- de desigualdades na saúde de homens vistos. Além da geração de oportuni- de. Neste nível se incluem políticas e mulheres, com evidente prejuízo de dades econômicas, o combate à po- macroeconômicas e de mercado de um ou de outro grupo, ocasionadas pela breza deve também incluir medidas que trabalho, de fortalecimento dos valo- condição de pertencer a um determi- favoreçam a construção de redes de res culturais e de proteção ambiental. nado gênero, ou seja, devido aos pa- apoio e o aumento das capacidades dos péis diferenciais que a sociedade atri- grupos desfavorecidos para estreitar A CNDSS deve promover interven- bui a indivíduos de acordo com o sexo. suas relações com outros grupos, para ções nesses diversos níveis de deter- Estamos então diante de desigualdades fortalecer sua organização e participa- minações, tendo como objetivo cen- que não são naturais, são socialmente ção em ações coletivas, para consti- tral a promoção da eqüidade em determinadas e que devem ser comba- tuir-se enfim em atores sociais e ativos saúde e articulando suas diversas li- tidas por serem injustas e evitáveis. participantes das decisões da vida so- nhas de ação em torno desse objeti- O modelo proposto por White- cial. Esse nível de atuação tem, por- vo comum. Conta para isso com di- head e Dahlgren permite identificar tanto como foco, a união das comuni- versos elementos facilitadores, entre quatro níveis de atuação não-exclu- dades em desvantagem para obter apoio eles a pluralidade e a diversidade de dentes e inter-relacionados sobre os mútuo e dessa maneira fortalecer suas seus integrantes, o que facilita a ne- quais podem incidir políticas e progra- defesas contra os danos na saúde. cessária mobilização de diversos seto- mas que buscam combater as iniqüida- res da sociedade. Outro importante des, atuando sobre os determinantes • O terceiro nível se refere à atua- elemento facilitador é sua articulação sociais da saúde: ção das políticas sobre as condições com o Grupo de Trabalho Intersetorial, físicas e psicossociais nas quais as composto por representantes • Um primeiro nível é o individual, pessoas vivem e trabalham, bus- de diversos ministérios do go- consistindo no fortalecimento ou cando assegurar um melhor aces- verno federal e das secretarias empowerment dos indivíduos. Trata- so a água limpa, esgoto, habita- estaduais e municipais de saú- se de apoiar pessoas em circunstân- ção adequada, emprego seguro e de, que deve possibilitar a co- cias desfavoráveis ou fortalecer sua realizador, alimentos saudáveis e ordenação de políticas nos di- capacidade de decisão para enfren- nutritivos, serviços essenciais de versos níveis. tar as influências advindas de outros saúde, serviços educacionais e de níveis de determinação. Principalmente bem-estar e outros. Essas políticas são Mais informações pela informação e a motivação, essas normalmente responsabilidade de se- Íntegra do artigo no site da CNDSS estratégias buscam apoiar mudanças tores distintos, que freqüentemente (www.determinantes.fiocruz.br) de comportamento em relação aos fatores de risco pessoais ou lidar me- lhor com as influencias negativas advindas de suas condições de vida e Convocação aos pesquisadores trabalho. Alguns exemplos incluem educar pessoas que trabalham em condições monótonas a lidar com o estresse; aconselhar pessoas que se T rês editais nistério da com o CNPq, importantes do Mi- Saúde, em parceria para pesquisas em públicas de melhoria das condições de saúde e a superação de desi- gualdades. Recursos: R$ 20 milhões. tornam desempregadas para ajudar a Determinantes Sociais da Saúde: Prazo de inscrição 1ª etapa: 16/7. prevenir o declínio da saúde mental Íntegra: www.cnpq.br/servicos/ associado a essa condição; e clínicas 1º) Pesquisas sobre DSS, abordando editais/ct/2006/edital_0252006.htm para parar de fumar. Os serviços de relações entre as condições de vida e a saúde da população, sobre saú- 3º) Estudos epidemiológicos em po- aconselhamento para pessoas desem- pulações expostas à contaminação pregadas não reduzirão a taxa de de- de da pessoa com deficiência, ava- liando a atenção prestada a esse ambiental, com orçamento de R$ semprego, mas poderão melhorar os 3,5 milhões — R$ 500 mil para cada piores efeitos do desemprego sobre a segmento, conhecimento básico e avançado sobre saúde da popula- projeto. Há sete linhas de apoio, saúde e prevenir maiores danos. para temas como agrotóxicos no ção negra, e saúde da população Nordeste, postos de combustível no • O segundo nível corresponde às co- masculina. Recursos: R$ 10 milhões. Sudeste, exposição à mineração em munidades e suas redes de relações. Prazo de inscrição: 27/7. Íntegra: Santa Catarina; projetos genéricos Estudos vêm demonstrando que um dos www.cnpq.br/servicos/editais/ct/ no Pará, no Amapá e em Mato Gros- principais mecanismos pelos quais as 2006/edital_0262006.htm so e exploração de petróleo em iniqüidades de renda produzem um 2º)Pesquisa sobre doenças negligen- Campos (RJ). Propostas até 27/7. impacto negativo na situação de saúde ciadas, com apoio a projetos que Íntegra: www.cnpq.br/servicos/ é o desgaste dos laços de coesão soci- contribuam para o avanço das ações editais/ct/2006/edital_0242006.htm al, a debilidade das relações de solida-
  • 15. RADIS 47 JUL/2006 [ 15 ] Lei de Segur ança alimentar FOTO: ARISTIDES DUTRA Wagner Vasconcelos N os idos de 1987, quando os Titãs per- guntavam “você tem fome de quê?”, cobra- vam de um Brasil recém-democratiza- do ações imediatas para a saúde e a qua- lidade de vida da população. Os titânicos acordes ainda reverberam, duas déca- das depois, igualmente desafiadores. Ago- ra, nossos representantes no Congresso Nacional se dedicam a debater a Losan, apelido da aguardada Lei Orgânica de Se- gurança Alimentar e Nutricional. Seus objetivos: assegurar o direito à alimenta- ção a todas as pessoas, definir seguran- ça alimentar, implantar um princípio de soberania alimentar e difundir um cará- ter intersetorial para a segurança alimen- A gente não tar e nutricional no Brasil. E que não se pense que a tramitação está apenas começando. Na verdade, o projeto já passou por todas as comissões indicadas da Câmara dos Deputados — as quer só comida de Trabalho, Administração e Serviço Pú- blico, de Seguridade Social e Família e de Constituição e Justiça e de Cidadania. Por ser de caráter conclusivo, não che- gará ao plenário. Sua aprovação, por- tanto, dependerá da apreciação do Se- nado, para onde a proposta seguiu. mano, inerente à dignidade da pessoa É importante salientar que essa in- A criação da Lei Orgânica de Se- humana e indispensável à realização dos segurança tem graus que variam entre gurança Alimentar e Nutricional terá direitos consagrados na Constituição Fe- leve, moderado e grave. As modalidades repercussões práticas e simbólicas. deral, devendo o poder público adotar moderada e grave significam limitação Práticas porque estabelece e define as políticas e ações que se façam ne- de acesso quantitativo aos alimentos, critérios sobre as políticas que o país cessárias para promover e garantir a com ou sem situação de fome. Mesmo deve implementar para acabar de vez segurança alimentar e nutricional da assim, os números revelam um panora- com a chaga da fome. E simbólicas por- população”. O Sisan será integrado pelo ma incômodo: 39,5 milhões de pessoas que coloca no centro de discussões Consea e pela Câmara Interministerial estão nessa situação. É uma Espanha! um tema tão caro ao país, mas por de Segurança Alimentar e Nutricional. Outros dados da pesquisa confir- muito tempo negligenciado. Essas instâncias deverão definir as polí- mam as disparidades sociais entre as Por isso, está sendo tão festejada ticas a serem implementadas e acom- regiões brasileiras. Se na Região Sul pelo professor Renato Maluf, titular da panhadas pelo Sisan. 76,5% dos domicílios têm acesso à ali- cadeira de Desenvolvimento Agrícola e mentação, tanto em termos quantita- Sociedade, da Universidade Federal DRAMA QUANTIFICADO tivos quanto qualitativos, no Nordeste Rural do Rio de Janeiro, integrante da Problema secular, a falta de comi- esse acesso cai para 46,4% dos domicí- coordenação do Fórum Brasileiro de da na mesa do brasileiro exibe sua car- lios. Os domicílios com crianças apre- Segurança Alimentar e Nutricional e ga dramática no noticiário sobre a fome sentam mais situações de insegurança conselheiro do Consea (Conselho Na- nas mais diversas regiões do Brasil. E alimentar. De acordo com a pesquisa, cional de Segurança Alimentar e esse drama já está quantificado. Na moram neles 50,4% da população de 0 Nutricional). Ele foi um dos articuladores segunda quinzena de maio, o Instituto a 4 anos de idade. Esses índices caem do Projeto de Lei 6.047/05, que cria o Brasileiro de Geografia e Estatística à medida em que aumenta a faixa etária. Sistema Nacional de Segurança Alimen- (IBGE) divulgou pesquisa traçando per- Também importantes os dados re- tar e Nutricional (Sisan) e que, se apro- fil inédito da fome no Brasil. E chegou ferentes à cor da população: no Brasil vado, receberá o nome de Losan. a dados surpreendentes, como o de viviam, em 2004, em situação de insegu- “A Losan consagra algo sagrado”, diz que 72 milhões de brasileiros enfren- rança alimentar grave, 11,5% da popula- Renato, referindo-se ao Artigo 2º do pro- tam situações de insegurança alimen- ção preta ou parda, sendo que esta pro- jeto, que determina: “Alimentação ade- tar. O número equivale às populações porção era de 4,1% entre os brancos. A quada é direito fundamental do ser hu- da França e de Portugal somadas! população com garantia de acesso aos