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FACULDADE DE FILOSOFIA, CIÊNCIAS E LETRAS DE PIRAJU




 MARIA ADRIANA DE BARROS GARROTE PASCHOARELLI




                  EDUCAÇÃO AMBIENTAL
Preservação dos últimos sete quilômetros de leito natural do rio
            Paranapanema no município de Piraju




                           PIRAJU
                            2005
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                                            SUMÁRIO


INTRODUÇÃO ..........................................................................         07

1.      CAPÍTULO I — RIO PARANAPANEMA......................                                   15

1.1     Rio de águas intrépidas e velozes .....................................               15

1.2     Características de um rio desbravado por Teodoro
        Sampaio no século XIX ...................................................             16

1.3     A defesa do Paranapanema: o Tombamento .....................                          17

1.4     Um peixe pré-histórico de 15 milhões de anos .................                        20

1.5     O rio precisa correr ..........................................................       22

2.      CAPÍTULO II — PIRAJU, NOSSA IDENTIDADE,
        NOSSAS RAÍZES............................................................             25

2.1     Povoamento da região do vale do Paranapanema:
        8.000 anos ........................................................................   25

2.2     A origem, o ―caminho da entrada‖ para a ―terra sem mal‖                               26

2.3     Freguesia de São Sebastião do Tijuco Preto, Vila de São
        Sebastião do Tijuco Preto e Piraju .....................................              28

3.      CAPÍTULO III — UTILIZAÇÃO DO POTENCIAL
        HIDRELÉTRICO .............................................................            31

3.1     Salto Grande: 40 anos após a implantação da usina ..........                          31

3.2     Os três agentes da crise energética.....................................              34

3.3     Impactos sócio-ambientais ................................................            36

3.4     Setor econômico ...............................................................       41

4.      CAPÍTULO IV — PESQUISA PRÁTICA,
        A EDUCAÇÃO AMBIENTAL ..........................................                       45
9




4.1     Educação ambiental — EA .................................................              45

4.2     Da aplicação em sala de aula ..............................................            47

CONCLUSÃO .............................................................................        52

REFERÊNCIAS ...........................................................................        55
ANEXOS .....................................................................................   58
10




Penso que não ter necessidade é coisa divina, e ter as menores necessidades possíveis é
o que mais se aproxima do divino. Sócrates 469 a.C.— 399 a.C. (DIAS, 2001, p.24)



INTRODUÇÃO

       Piraju está localizada na região Sudoeste do Estado de São Paulo, a 49º 22‘ 2‖ de
longitude e 23º 11‘ 44‖ de latitude. Divide limites com 10 municípios: Fartura, Sarutaiá,
Timburi, Ipauçu, Bernardino de Campos, Óleo, Manduri, Cerqueira César, Itaí e Tejupá.
Possui área de 603 km2 e altitude de 591 m.

       O clima é subtropical úmido, com verão quente e inverno ameno, tendendo a
úmido. Em seu aspecto físico, possui relevos colinares com baixas declividades na
margem direita do Paranapanema; relevos de morros com declividades médias e altas na
margem esquerda; morros tabulares na microbacia do ribeirão Neblina.

       A vegetação caracteriza-se pela floresta estacional semidecidual, isto é, a
cobertura vegetal está ligada ao clima de dupla estacionalidade (duas estações bem
definidas): uma tropical, marcada pelas chuvas intensas de verão e estiagens acentuadas,
e outra subtropical, com ausência de secas, porém apresentando seca fisiológica causada
pelas baixas temperaturas no inverno, que registram médias abaixo dos 15ºC.
(AMBIENTE BRASIL, out. 2005).

       Manchas de cerrado na microbacia do Monte Alegre. Ponto mais elevado: morro
das Três Barras, 932 m (altos da serra da Fartura). A população urbana é de 27.853
habitantes, taxa de urbanização de 87,04%. A densidade demográfica é de 46.22
hab./km2. Possui 8.164 domicílios urbanos e 1.617 rurais (dados Fund. SEADE, 2000).

       Nossa comunidade se mobilizou contra a instalação de uma quarta usina
hidrelétrica no município. Mais precisamente, dentro de nossa cidade — até hoje
corremos esse risco. Mesmo estando o local protegido por 5 leis municipais, dentre elas
a que estabelece interregno de 20 anos (Lei municipal nº 2654, 12/09/2002) para se
construir outra usina (no ano de 2003 entrou em funcionamento a terceira recém-
construída).
11




         É importante preservar porque este trecho, de aproximadamente 7 quilômetros, é
patrimônio ambiental de nosso município — seu tombamento foi aprovado pelo
Conselho Municipal de Meio Ambiente (Resolução 1, de 2 de agosto de 2002).

         Todo o esgoto de nossa cidade é cem por cento lançado "in natura" nas
corredeiras do rio. A construção de lagoas de tratamento e a preservação do leito natural
devem ser vistas como prioridades, ao invés de se formar um novo lago, que, em futuro
próximo, se transformaria em um imenso depósito de dejetos humanos, agravando os
riscos de contaminação por leishmaniose, febre amarela, hepatite, entre outras doenças.

         Por outro lado, o município de Piraju já possui três usinas hidrelétricas. Assim, já
contribuímos bastante para o abastecimento de energia elétrica do país. O Paranapanema
possui 10 usinas hidrelétricas em todo o seu curso. O rio tem 930 km e quase toda a sua
extensão já está represada para produzir energia (à exceção do início do rio). O último
trecho de 7 km é o que nos resta de rio natural.

         Do ponto de vista da riqueza ecológica, os peixes necessitam das corredeiras para
a época da piracema. E sem corredeiras não há desova, e sem desova não haverá mais a
piapara, a tabarana, o pacu, a piracanjuba, o dourado, dentre outros, inclusive o surubim
(espécie rara e endêmica — de 15 milhões de anos —, um peixe pré-histórico). As matas
ciliares já estão estabilizadas. As diversidades ali existentes garantem não só a qualidade
da água, a estabilidade do solo, mas respondem pelo sustento dos peixes e da fauna
local.

         Para os interesses econômicos do município, o ecoturismo é apontado como o
grande filão. Esportes chamados radicais e competições náuticas em corredeiras fazem
parte da nossa vocação. O turismo é o setor que mais cresce no mundo.

         Nossa história e nossa cultura também estariam comprometidas com a violação
do rio. A região é repleta de sítios arqueológicos, todos cadastrados pelo Museu de
Arqueologia e Etnologia da Universidade de São Paulo – Mae/USP. O povoamento se
iniciou há 8.000 anos e seu valor histórico é, portanto, inestimável.

         Represar o último trecho de corredeiras seria, ainda, descaracterizar o rio e
corromper nossa história — um dos significados do nome de nossa cidade, Piraju, tem
origem em uma antiga aldeia, e surgiu da corruptela de Pi-rã-yú (alusão ao fundo do rio),
12




que significa fundo nivelado, estreitado, afunilado (em Guarani). No Salto do Piraju deu-
se o ato da fundação da cidade, ele representa nosso marco histórico, nossa carteira de
identidade. O alagamento levará ao assoreamento e à total descaracterização, será
extinto o marco histórico da fundação de nossa cidade. Queremos preservar nossa
identidade.

        Um dos caminhos para que a sociedade toda se volte (atente) para as questões
pertinentes aqui tratadas é o conhecimento e a informação. Com este propósito o
presente trabalho pretendeu colocar como objetivo geral uma contribuição para a
sociedade sobre a necessidade de conscientização e participação na defesa de nossas
riquezas naturais, ao mesmo tempo em que, no final de nossa pesquisa, buscamos
despertar nos alunos de 6ª série da Escola Estadual ―Ataliba Leonel‖ estes mesmos ideais
de preservação e conservação do nosso patrimônio ambiental, cultural e histórico.

        Preservação do patrimônio ambiental porque, também no local, existe uma
espécie rara e endêmica (só ocorre ali) do peixe surubim — conforme laudo elaborado
pelo dr. Paulo A. Buckup, professor Adjunto do Museu Nacional/Universidade Federal
do Rio de Janeiro, em 27 de junho de 2002 —, pelas matas ciliares já estabilizadas, pela
riquíssima fauna e flora ali existentes.

        Preservação do patrimônio cultural e histórico porque no Salto do Piraju se deu o
ato da fundação de nossa cidade, é nosso marco histórico, é nossa identidade preservada.

        Acredita-se    que     desenvolver   esse   trabalho   de   conscientização,    e
conseqüentemente conseguir o envolvimento de jovens em idade escolar, significa,
pedagogicamente, um avanço na construção da cidadania e no sistema ensino-
aprendizagem, como também a integração da comunidade local à nova ordem mundial
relativa ao meio ambiente — fóruns, encontros, cartas, conferências, declarações,
orientações, tratados, seminários, congressos —, através das estratégias internacionais
adotadas, voltadas à Educação Ambiental - EA.

        O homem modifica seu meio de modo degradado, em razão da falta de aplicação
de uma política ambiental efetiva, ou seja, a lei existe, mas não é cumprida. O que há,
ainda, é uma política de que o homem é o centro do mundo (antropocêntrica), e,
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portanto, utiliza o ambiente de modo impensado, irrefletido, visando apenas às suas
necessidades momentâneas. (DIAS, 2001, p. 215).

        É preciso rever nosso modo de vida em relação ao planeta Terra, na relação com
o lugar em que vivemos. É preciso uma verdadeira mudança nos hábitos e costumes, na
maneira como lidamos com o que é patrimônio básico para a vida humana: a água, a
terra, o ar. Temos de repensar a atitude para com tudo o que nos rodeia. Há que se frear
essa maneira "inconseqüente" de viver, agimos como se fôssemos a última geração a
passar pelo planeta, sem respeito, cuidado ou zelo para com o que existe à nossa volta. É
imperioso que reflitamos sobre nossos atos e atitudes diante da vida. Vivemos sem
responsabilidades para com o mundo. (PARÂMETROS, 1998, p. 176-177).

        O sistema sob o qual vivemos determina nossos anseios em relação às nossas
reais necessidades. Impõem-nos um modelo de vida de forma a não termos tempo para
tantas reflexões e, muitas vezes, acabamos por agir sem questionar. Expressamos nossos
pensamentos sem muita certeza do que realmente nos importa. E por esse caminho
somos levados a consumir de maneira desenfreada, irrefletida, apenas para satisfazer
nossos impulsos condicionados, que movimentam muitos interesses. É visto que neste
modelo de desenvolvimento a energia elétrica é, sem dúvida, um dos principais alicerces,
por isso, não é de hoje que convivemos com as pressões pela necessidade de geração de
energia elétrica.

        Alegar a crescente demanda para justificar a construção de mais uma usina em
nosso município não se sustenta, pois o problema energético no Brasil é muito mais
profundo, e suas dimensões ultrapassam em muito a parcela que seria acrescentada. Já
em perdas ambientais, históricas e culturais, essas são irreparáveis, simplesmente não
possuem um valor que possa ser negociado, vide as lições do chefe Seattle: ... como é
que pode comprar ou vender o céu, o calor da terra? Essa idéia nos parece um pouco
estranha. Se não possuímos o frescor do ar e o brilho da água, como é possível
comprá-los? (DIAS, 2001, p. 516).

        Lagos para todo lado, energia saindo e proporcionando o desenvolvimento dos
lugares mais ricos do nosso Estado. E o nosso desenvolvimento, nossas expectativas
com o possível? Querem nos condenar a um lago fétido, sem nenhuma chance de turismo
de corredeiras, de esportes radicais. Querem determinar o fim de nosso sonho, querem
14




impor limites à nossa sobrevivência, querem somente o que querem e nada mais. Nossas
águas geram energia elétrica desde 1937 e, ainda assim, nosso hospital, nosso asilo,
nosso orfanato, nossa Apae e muitas outras instituições que servem à sociedade têm de
pagar a conta, e caro. Não há sequer uma isenção. Não existe até hoje nenhum programa
social efetivo em nossa comunidade.

       Essa visão de mundo, em que a organização só retira o que necessita e nada mais
faz, quer somente as mãos e não todo o corpo do profissional, ou seja, onde não existe a
responsabilidade com o local, há uma empresa "sem alma", como descreveu a revista
Fortune. A instituição sofre de um inimigo interno e se espelha na frase de Henry Ford:
Por que sempre fico com a pessoa inteira quando, na verdade, o que quero são apenas
duas mãos? (apud A LIDERANÇA, 2000, p.10). Esse modelo ficou para trás, há que se
ter responsabilidade e comprometimento sobre de onde se necessita tanto. Há que se
perceber suas necessidades, olhar para além do limite das águas.

       Acredita-se que, ao trabalhar em sala de aula estas questões locais pertinentes,
ajuda-se tanto no conhecimento adquirido pelo aluno, como na sua atuação e
interferência como cidadão, que faz parte de uma localidade, de um país, de um planeta.
E assim atua na história de seu lugar. Hoje, um aluno é considerado "excelente", só tira
boas notas e, no entanto, ainda joga lixo no chão, destrói a fauna e flora, desperdiça
água, luz, consome ao extremo, e assim vão se esgotando as reservas naturais do nosso
planeta. (PARÂMETROS, 1998. p. 169). No momento, mais do que pensar em
comprar, consumir, em desenvolvimento, é preciso pensar e atuar para a preservação e
conservação da natureza. "O maior desafio para a sustentabilidade da espécie humana é
ser ético em todas as suas decisões e relações" (DIAS, 2001, p. 21).

        Como diz o ‗Alerta dos cientistas do mundo à sociedade‘, com as assinaturas de
1.600 cientistas em 18 de novembro de 1992: Se quisermos parar a destruição do meio
ambiente, devemos impor limites a esse crescimento... ( ) Devemos reconhecer a
capacidade limitada da Terra em sustentar a espécie humana. Devemos reconhecer a
sua fragilidade....( ) (DIAS, 2001, p. 381).

       Considera-se o trabalho de relevância, pois atinge diretamente a qualidade de
vida da população e interfere na cultura local. A questão ambiental é uma preocupação
mundial e a contribuição que a pesquisa traz para a área profissional reside no interesse
15




em atuar efetivamente no campo da educação ambiental, procurando desenvolver um
trabalho de conscientização política e cidadã.

       Este projeto foi desenvolvido com a turma de 6ª série A da Escola Estadual
―Ataliba Leonel‖, situada na rua Nenê Freitas, nº 494, telefone (14) 3351-1197, em
Piraju/SP. O trabalho foi aplicado no período de 8 a 22 de agosto do ano letivo de 2005.
Pensa-se ser de muita importância tratar deste tema com a turma de 6ª série, formada
basicamente por adolescentes com média de idade de 12 anos, fase ideal para que o
estudante estabeleça os alicerces de sua cidadania e revele sua preocupação com os
destinos de sua comunidade. Ao definir as etapas de desenvolvimento cognitivo, Jean
Piaget classifica o Período Operacional Formal como a fase na qual a criança,
aproximadamente a partir de 12 anos, já consegue pensar abstratamente sobre coisas
abstratas. (PIAGET, 1976). O pensamento se torna livre da realidade concreta, ou seja,
o adolescente já reúne as especificidades necessárias para compreender o significado
universal dos valores e da cultura de sua comunidade. Pode, portanto, assimilar as
questões enfatizadas durante a aplicação prática deste projeto.

       Para uma atuação enfática, tanto frente aos alunos na sala de aula quanto na
pesquisa escrita, tomou-se como base a teoria humanista de Jacques Maritain. A teoria
humanista é uma concepção do mundo e da existência, cuja questão central é o homem.
O filósofo defende que o humanismo pode tornar o homem mais verdadeiramente
humano quando manifesta sua original grandeza, quando participa de tudo aquilo de que
possa, e assim desenvolver as virtudes contidas em si mesmo, suas forças criadoras e a
vida da razão, e trabalhe no sentido de fazer das forças do mundo físico instrumento de
sua liberdade. (www.cobra.pages.nom.br, Internet, 2001).

       O homem, em relação à natureza, não é apenas animal, mas também um animal
de cultura, e sua espécie só sobrevive com o progresso da sociedade e da civilização na
qual está inserido. O homem não progride em sua vida — intelectual e moral — sem a
experiência coletiva (MARITAIN, 1959, p.15).

       O procedimento de abordagem do trabalho tomou como base o método
Fenomenológico. A fenomenologia tende a buscar a essência das coisas. O significado
atribuído às coisas não representa a realidade, necessita desenvolver a essência delas,
então é importante perceber esse movimento do homem no momento em que ele
16




compreende as coisas, lhes empresta um significado, que parte de sua própria reflexão,
vontade e consciência.

       Husserl propõe uma análise da consciência de forma profunda, que procure
responder às questões no âmbito de sua epistemologia, de sua origem, do fundamento
absoluto da lógica e da ciência (GILES, 1975, p.136). A fenomenologia está aberta e
não dentro de um sistema acabado, fechado. O método procura descrever com fidelidade
os fenômenos ocorridos a partir do que se encontra antes de qualquer ponto-de-vista,
antes de se possuir um pré-conceito. Para essa filosofia, só pode ser aceitável o que pode
ser verificável e justificável e, também, ser totalmente válido para todos os homens e
para todas as épocas. O fenomenólogo está voltado ao significado do que seu espírito
julga, afirma e vive, diferentemente do lógico, que se preocupa com as "condições".
Difere também do sábio, que se preocupa através da "pergunta", e do psicólogo, que se
volta "efetivamente para a consciência" de um determinado saber.

       A fenomenologia é uma ciência em contato direto com o ser absoluto das coisas,
não se trata apenas de descrever o simples 'aparecer' das coisas, mas também de
formular uma teoria do conhecimento (GILES, 1975, p. 137). De retornar à estaca zero
do problema para que se encontre evidência e fundamentação. Para tanto, neste projeto
buscou-se o ‗desconstruir‘ do pensamento de que a utilização do potencial hidrelétrico
do rio em questão traz desenvolvimento e somente gera progresso à comunidade em que
está inserido, visto que o projeto desejou explicitar e desmistificar toda a questão.
Pretendeu discorrer sobre os pontos que cerceiam o problema para acrescentar um olhar
mais apurado e assim colaborar para um efetivo ingresso nas discussões, saindo de vez
do senso comum.

       Os procedimentos metodológicos utilizados na pesquisa em sala de aula foram:

       • utilização de 2 vídeos: ―Acqua‖ e ―Chega de Usina em Piraju‖;

       • artigo de jornal referente ao tema;

       • artigos sobre a fundação da cidade;

       • artigos de estudos do Dr. José Luiz de Morais (arqueólogo);

       • visita e aula-passeio ao Salto do Piraju;
17




       • questionário de diagnóstico e conclusão

       • redação para verificar o nível de conscientização dos direitos políticos e de
cidadania dos alunos, bem como da práxis de preservação ambiental.
18




CAPÍTULO I — RIO PARANAPANEMA

(...) manifestaram grande preocupação e chegaram a falar que iriam fazer muitas fotos
de toda a área para mais tarde recordar como eram as suas Terras... estão frágeis
quanto às suas reais possibilidades de sobrevivência. (HELM, In: STIPP, 1999, p.13).
— Sobre a reação da tribo Kaiagang, em 1995, ante a possibilidade de alagamento de
suas terras, que acabou se concretizando, às margens do rio Tibagi, no Paraná.



1.1 Rio de águas intrépidas e velozes

       O rio Paranapanema possui várias nascentes que estão localizadas na Bacia do rio
das Almas, na Serra do Paranapiacaba, município de Capão Bonito, a 903 metros de
altitude, ao sudeste do estado de São Paulo.



                       Tem uma extensão total de 929 km em um desnível de 570 m,
                       desenvolvendo-se no sentido geral leste-oeste e desenvolvimento no rio
                       Paraná numa altitude de 239 m. Localizado a aproximadamente 100 km da
                       costa Atlântica, com latitude 24º 51‘ sul e longitude 48º 10‘, acerca de 900
                       m acima do nível do mar. (VARELLA, 2003, p. 2)



       A bacia está localizada dentro da fazenda Guapiara, de propriedade da empresa
Orsa Celulose Papel e Embalagens, numa área de 2.884 hectares, sendo 1.229 hectares
de reflorestamento. Essas terras integram a APA (Área de Proteção Ambiental) da
Serra do Mar, e a mata nativa não pode mais ser tocada. (ZOCCHI, 2002, p. 17).

       Nascente das maiores águas, sua declividade é grande e ele corre rápido sobre as
pedras negras, cortando formações basálticas e solo de terra roxa. Existe mistério até em
seu nome. Paraná significa rio, em Tupi, e Panema é considerado imprestável ou sem
valor. ―Paranapane‖, ou ―Parana Pane‖, ―Pabaquario‖ e ―Paraquario‖ são alguns dos
nomes pelos quais era conhecido nos anos de 1600.

       A questão referente ao seu nome permanece aberta, pois não foi ainda realizado
qualquer ―sério estudo etimológico‖. Por enquanto, apenas especulações: para alguns,
seu sufixo negativo é devido a pouca navegabilidade (porém, os índios mais
caminhavam). Há também a questão da pouca quantidade de peixes (será que os índios
19




comparavam rios tão longínquos?). É possível que a malária tenha feito sua (fama) rota,
segundo o doutor José Luiz de Morais. (ZOCCHI, 2002, p. 22 e 23).

       Na enciclopédia ―Brasil histórias, costumes e lendas‖, editora Três, página 232,
onde é focado o homem da Amazônia, com o título ―O mundo Mágico‖, é citado ―... A
mente do homem se povoa de panema (medo)...‖. Segundo essa interpretação, ‗panema‘
significa ‗medo‘ na língua indígena, podendo ser um dos possíveis significados, devido à
rapidez com que suas águas deslizavam sobre o basalto e também pelas inúmeras
cachoeiras e corredeiras que permeavam todo o leito.

       Além de ser rápido, era considerado um ‗rio bravo‘ quando chovia. Aspiravam
‗domá-lo‘, ―estudar a sua navegabilidade‖, pois até 1886 era citado no mapa do Estado
como lugar de ―terrenos desconhecidos e habitados pelos indígenas‖. Foi quando, na
época, o governo da Província de São Paulo criou a Comissão Geográfica e Geológica,
que pretendia mapear todo o rio, pois objetivava a ―expansão das lavouras de café‖. A
expedição foi iniciada em 11 de abril de 1886 e, chefiada pelo americano Orville Derby,
contou com 18 práticos e 3 cientistas, liderados por Teodoro Sampaio. (ZOCCHI, 2002,
p. 27 e 28).




1.2 Características de um rio desbravado por Teodoro Sampaio no século
XIX

       Teodoro Sampaio — historiador, geógrafo, etnógrafo, geólogo, engenheiro —
desceu pela primeira vez as águas do Paranapanema quando ainda éramos a Vila de São
Sebastião do Tijuco Preto, no ano de 1886 – em primeira expedição científica –, e foi
recebido por Major Mariano Leonel Ferreira, que o ajudou no que pode, inclusive a
engrossar o seu pessoal com três índios Caiuás, do aldeamento do Piraju, que eram
muito práticos e conhecedores de todo o rio. (SAMPAIO, 1978, p.113).

       Quando chegam à Cachoeira do Jurumirim (até São Sebastião do Tijuco Preto, o
rio serpenteia por 45 quilômetros, com 3 saltos e 39 cachoeiras – são 18 km em linha
reta), acaba a seção desimpedida e tem início o trecho de maior dificuldade para
navegação, com uma série de grandes obstáculos.
20




       Para percorrer a distância do Salto dos Aranhas até a foz do ribeirão das Araras,
são apenas três quilômetros; pelo rio, o trajeto ultrapassa os 18 quilômetros.

       A uma légua acima da Vila de São Sebastião do Tijuco Preto até o Salto dos
Aranhas (finado Salto Simão, belíssimo local que hoje está aproximadamente há 60
metros sob o lago), a descida pelo rio se efetuou com grande dificuldade, vencendo as
numerosas cachoeiras. Sampaio não tinha como se arriscar a descer pelas águas,
preferindo vir por terra, pelas margens, até nossa Vila, pois o que se vê (via) é o trecho
de um rio exageradamente, demasiadamente, excessivamente encachoeirado. Viera
arrastando seus barcos até que encontrasse uma parte do rio mais praticável. Carros de
bois puxavam as embarcações por terra, margeando o rio e cruzando um espigão de
aproximadamente 60 metros de altura. (SAMPAIO, 1978, p.112).



                        O Salto do Piraju fica a um quilômetro abaixo da vila, é uma queda de
                        cerca de 2 metros de alto, apertadíssima entre grandes penedos, simulando
                        as águas correrem quase subterraneamente. Estes passos estreitos são
                        então freqüentes: cerca de 3 ½ quilômetros abaixo do Piraju, na barra do
                        Córrego do Campanha, todo o Paranapanema, cujo volume é de cerca de
                        80 metros cúbicos de descarga por segundo, passa em apertado canal de
                        pouco mais de 6 metros de largura; mais adiante outro estrangulamento do
                        leito entre morros escarpados reduz a largura do rio a uns 20 metros, onde
                        há fortíssima cachoeira. (SAMPAIO, 1978, p. 141).




       Hoje, ao contrário de seu traçado original, com o rio domado, o que se observa
são lagos navegáveis, com águas calmas, paradas. Pode-se verificar que a utilização do
potencial hidrelétrico leva à total descaracterização de um rio.




1.3 A defesa do Paranapanema: o Tombamento

       A sociedade pirajuense, preocupada com o destino de sua localidade, cria 5 leis
para assegurar a integridade do último trecho natural do rio, que fica dentro de seu
município, nas cercanias de sua cidade, e com isto determina o futuro que pretende para
o desenvolvimento local, que é o turístico.

       A criação da Lei Municipal 2654/2002 determina um interregno de 20 anos para
a construção de outra usina no município. Estabelece esse intervalo entre o término de
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construção de uma usina hidrelétrica de iniciativa privada no território do município
de Piraju e o início de construção de outra. Isto para que seja possível analisar
corretamente os impactos da obra sobre o ambiente, e delegar aos futuros pirajuenses a
decisão sobre a forma de preservá-lo.

       A Lei Municipal 2634/2002 cria o Parque Natural Municipal do Dourado,
Unidade de Conservação e proteção integral de posse e domínio públicos do antigo
Posto Agropecuário Municipal, que possui 48,40 hectares. No trecho do Parque do
Dourado, o rio é habitado por espécies ameaçadas de extinção (piracanjuba, piapara,
tabarana, pacu, dourado – símbolo de Piraju), que são, portanto, protegidas por lei. O
Parque é administrado através de um conselho gestor e possui como objetivos básicos:



                       I – A preservação de ecossistemas naturais de grande relevância ecológica
                       e beleza cênica;
                       II – A realização de pesquisas científicas;
                       III – O desenvolvimento de atividades de educação e interpretação
                       ambiental;
                       IV – O estímulo à recreação em contato com a natureza;
                       V – O desenvolvimento do turismo ecológico;
                       VI – O estímulo de práticas econômicas compatíveis com a realidade
                       ambiental existente, impedindo ações degradadoras;
                       VII – A proteção da qualidade da água, dos recursos hídricos existentes e a
                       contenção dos processos erosivos;
                       VIII – A proteção do patrimônio arqueológico, histórico-cultural e
                       ambiental-paisagístico do entorno. (Lei Municipal 2634/2002)




       A Lei Municipal 2547/2001 atribui responsabilidade e criação do Conselho do
Meio Ambiente e Patrimônio Cultural – CMAPC. Este, por cumprir suas reais funções,
define a Resolução n. 1/2002, do CMAPC, que aprova o tombamento do rio
Paranapanema.

       Declara aprovado o tombamento do rio Paranapanema, patrimônio ambiental do
município de Piraju, pois trata de um segmento de canal natural dotado de elementos de
valor cênico, paisagístico e cultural para a comunidade. A lei leva em conta a
autonomia do município nos assuntos de meio ambiente e patrimônio cultural e considera
seu teor compatível com o interesse da localidade.
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                         Que o tombamento é ato legítimo de proteção que representa o
                         reconhecimento formal, pela comunidade, da importância do último trecho
                         de canal natural do rio Paranapanema como patrimônio ambiental, dotado
                         de elementos cênicos de valor paisagístico e cultural.
                         Que a manutenção das condições naturais no trecho tombado atende às
                         necessidades de manutenção da biodiversidade da ictiofauna ao longo do
                         rio, expectativa compatível com o uso sustentável para fins turísticos de
                         base ambiental, paisagística e cultural. (Resolução n. 1/2002).



       E define tombado o trecho situado entre a foz do ribeirão Hungria e a foz do
ribeirão das Araras. No artigo 2º, inciso I, tomba o Salto do Piraju, tanto por seu valor
cênico como por sua riqueza histórica, pois é lugar de memória, vinculado às origens do
aldeamento guarani que dá nome ao município.

       No inciso II, inclui o tombamento do Parque Natural Municipal do Dourado. O
inciso III, os sítios arqueológicos, que já estão protegidos pela Lei Federal 3924, de
26/07/1961.

       Conforme determina a Agenda 21, o município, pautando-se pelos acordos
ambientais firmados internacionalmente, estabelece o Plano Diretor, através da Lei
2792/2004, Seção VII, que rege o município e declara como Zona de Urbanização de
Interesse Ambiental, cuja área deve ser valorizada e preservada em suas características
ambientais e paisagísticas. Desde o artigo 28 até o artigo 31, está definido como a
cidade concebe seu próprio desenvolvimento sustentável. No artigo 31, capítulo II, está
constituído: vedado o uso industrial, empreendimentos agroindustriais, usinas
hidroelétricas e o parcelamento de solo para fins urbanos.

       Associações que contenham em seus estatutos a proteção ambiental podem
acionar a Lei 7.347, de 24 de julho de 1985, que disciplina a ação civil pública por danos
causados ao meio ambiente, a bens e direitos de valor artístico, histórico, turístico e
paisagístico e outros interesses difusos e coletivos. O Ministério Público atua em defesa
dos direitos difusos e coletivos.

       Face às providências tomadas pela sociedade pirajuense, fica evidente e
determinada sua disposição de recusa ao projeto de implantação da Pequena Central
Hidrelétrica Piraju II. Visto também que não foi verificado nenhum benefício real com a
construção da Usina Piraju. A comunidade compreende, optou e criou leis para defender
o desenvolvimento sustentável através do turismo, gerando benefícios para toda a
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localidade, e não destruir o último trecho vivo de rio para beneficiar exclusivamente
apenas o lucro de um grupo econômico.




1.4 Um peixe pré-histórico de 15 milhões de anos

       O Salto do Piraju, devido às corredeiras, possui em suas águas importante
diversidade de peixes: a tabarana, a piapara, a piracanjuba, o pacu, o dourado, sendo este
último, o peixe símbolo de nossa cidade. Ocorre também o surubim, que nesta parte do
rio é encontrado com abundância. O que o torna diferente dos outros é que é um peixe
raro, endêmico, ou seja, que só existe ali e em nenhum outro lugar. Vive nas corredeiras
do Salto do Piraju há 15 milhões de anos, é um peixe pré-histórico e já consta na lista de
animais ameaçados de extinção, sem mesmo ter sido catalogado pela ciência, conforme
laudo expedido pelo Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro.

       O surubim pirajuense pertence à família Pimelodidae, ao gênero Steidachneridion,
e foi provisoriamente identificado como representante da espécie Steindachneridion
Scripta, cuja identificação é de caráter provisório, pois trata-se de material muito raro
em coleções ictiológicas, espécie ainda desconhecida para a ciência. Ele possui a
cabeça achatada, como o fundo do rio, nivelado, estreitado.



                        A existência da espécie na bacia do Paranapanema enfatiza a necessidade
                        de se tomarem medidas conservacionistas de forma a preservar os trechos
                        de corredeira do rio visando evitar a possibilidade de extinção de uma
                        espécie de excepcional valor biológico antes mesmo de sua descrição
                        formal... sendo necessário, portanto, a manutenção deste tipo de ambiente
                        para a sobrevivência da espécie. (cf. BUCKUP, Laudo de 27 de jun. de
                        2002).



       O exemplar foi examinado pelo professor Alberto Akama, mestre em Zoologia
pelo Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo, e depois foi registrado na
Coleção Ictiológica do Museu Nacional do Rio de Janeiro, catálogo n.º MNRJ 22742.

       Esse surubim é ―muito importante‖ para a ciência. Trata-se de uma espécie do
gênero Steindachneridion, bagre da família Pimelodidae, considerado muito raro,
ainda pouco se sabe, pois é uma espécie de difícil captura, que só vive em corredeiras.
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É preciso realizar mais estudos, pois pode se tratar de uma das duas espécies que
aparentemente existem nesse rio, e apenas uma delas, a Steindachneridion scripta, já foi
descrita pelos cientistas, em 1918.

       O surubim pirajuense é uma espécie de peixe de couro que se diferencia dos que
ocorrem no Pantanal, na Amazônia e no Rio São Francisco – estes pertencem ao gênero
Pseudoplatystoma. Possui um colorido reticulado muito bonito no dorso — de onde
advém o nome scripta; por possuir a cabeça achatada, é indício de que habita o fundo do
rio (pois o relevo do Paranapanema é estreito, como um funil). Se parece com um jaú
alongado e de cabeça chata. É um dos maiores peixes do rio, seu porte, quando adulto,
pode atingir até um metro de comprimento e mais de quinze quilos. Foram encontrados
fósseis desse gênero na região de Tremembé, São Paulo. Sua idade é calculada em 15
milhões de anos, aproximadamente.

       Segundo o professor Akama, embora o surubim tenha resistido milhões de anos,
hoje o homem é a sua mais séria ameaça, pois esta espécie se encontra ―extremamente
ameaçada de extinção‖, e as corredeiras estão localizadas em regiões densamente
povoadas, onde os rios sofrem com a poluição e, principalmente, são barrados para a
produção de energia elétrica. Ato contínuo, seu habitat é destruído, não sendo mais
possível o ambiente propício para sua existência, pois essas espécies nativas dependem
de corredeira para sobreviver. Sua reprodução e seus hábitos são ainda pouco
conhecidos. Sua cabeça deprimida (achatada) é que indica o fundo do rio como seu
ambiente. Outro ponto é que esta espécie era relativamente comum nos rios em que
ocorria. A eliminação das corredeiras significa a extinção da espécie.

       Fica a pergunta do que é mais importante preservar, se é o habitat ou a espécie.
Na realidade quando conservamos o ambiente natural, todas as espécies ficam
protegidas; e mais, conservar o habitat é a única possibilidade de efetivamente se
conservar espécies. (ROCHA et al., 2002. p. 255-267). Portanto, é fundamental que as
corredeiras permaneçam para que todas as espécies sejam mantidas; para isso o rio
precisa continuar a correr...
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1.5 O rio precisa correr

       O rio Paranapanema passa por 34 cidades, onde vivem mais de 530 mil
habitantes. E é o maior rio não poluído do estado de São Paulo. Possui um dia especial
de comemoração só para ele: o ―Dia do Paranapanema‖ é comemorado todos os anos,
em 27 de agosto. Foi instituído pela lei 10.488, promulgada pelo então governador
Mario Covas em 29/12/1999.

       O rio Paranapanema é o nosso maior patrimônio natural. Juntamente com ele, as
matas fornecem o equilíbrio perfeito ao ambiente. O represamento do rio causaria o
alagamento dessa vegetação ciliar de mata atlântica. No local existem matas ciliares já
estabilizadas, inclusive muitas em estados avançados de regeneração. Sendo cortadas e
novas plantadas, nunca atingiríamos o estado atual de regeneração que a mata já atingiu
até o momento. Esse trecho natural é único. (CHEGA DE USINA, 2003).

       As matas ciliares são responsáveis pela manutenção da qualidade da água, pela
estabilidade do solo, evitam a erosão e o assoreamento do rio e também respondem pelo
desenvolvimento e sustento dos peixes e da fauna local. Quando se faz o reflorestamento
da margem de uma represa, o que se perde não são só suas matas, mas a diversidade de
espécies existentes. As mudas produzidas em cativeiro pertencem a espécies de uma
mesma família. A perda é grande e em vários pontos. O rio fica desprotegido até que
suas mudas possam crescer, e isso levará quatro ou cinco gerações. Até lá, o rio terá
suas águas cada vez mais rasas. À mercê do assoreamento, que significa a escassez dos
recursos hídricos, à mercê de contaminações da água pela atividade agropecuária
(adubos e defensivos) e industrial, sem falar no esgoto.

       Atualmente, um pássaro que sai de sua região e chega até as matas da beirada do
rio carrega em suas penas uma semente diferenciada, o que garante a variedade de vida
existente. As espécies animais são vitais para a diversidade. Com a destruição da mata
ciliar, a polinização ficará comprometida, pois não haverá pássaros. E a diversidade
estará comprometida por décadas. Quanto aos mamíferos retirados, a grande maioria
acaba morrendo na captura ou logo após, por sua dificuldade de adaptação ao novo
meio, ou por se tornarem presa fácil.
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       Piraju é uma das cidades mais ‗usinadas‘ do mundo. Nossa região possui quatro
hidrelétricas em pleno funcionamento: as gigantes Jurumirim (98 MW) e Chavantes (414
MW), Paranapanema (32 MW) e a recém-construída Piraju (80 MW). Para a instalação
desta última usina foi desmatada uma área de 295 hectares, o que representa mais de 300
campos de futebol, com 14 mil árvores de grande porte cortadas.



                        A construção das barragens, entretanto, com o surgimento de grandes e
                        sucessivos lagos onde havia apenas um curso d‘água, trouxe profundas
                        alterações no regime hídrico e no ambiente em volta. Os grandes
                        reservatórios – Chavantes, Jurumirim e Capivara – trouxeram modificações
                        maiores: são lagos nos quais as águas ficam até 450 dias antes de sair.
                        (ZOCCHI, 2002, p.72-74).



       Com essa intenção de barrar todo o rio, resultará um grande ‗lagoão‘, onde todo
o ecossistema será alterado. O velho rio terá sido extinto, e em seu lugar existirão
sucessivos lagos, onde a água ficará parada por pelo menos um ano e meio.

       Uma das conseqüências mais conhecidas dos barramentos é a modificação no
teor de oxigênio. Nas épocas de estiada, a água acaba permanecendo por mais tempo no
reservatório, ocasionando anoxia - carência de oxigênio. Nesse período, essa água sem
oxigênio prevalece sobre a água do vertedouro, que, ao contrário, é rica em oxigênio –
aquela que passa por cima da barragem, o que determina dois fluxos bem diferentes, um
rico e outro pobre em oxigênio. Está comprovado que esses fluxos só irão se misturar
por completo 40 quilômetros rio abaixo. Imaginem as alterações produzidas na biota
aquática. (DIAS, 2001, p. 290-291).

       Essas modificações, inclusive na qualidade da água, transformam o habitat natural
de seres vegetais e animais. Um dos peixes que dependem da mata ciliar para sua
sobrevivência é o piracanjuba, que se alimenta de folhas e frutos das árvores e de insetos.
Hoje, o sol e o fitoplâncton (parte vegetal, organismos sem poder de locomoção)
passaram a ser a fonte de alimentação da fauna aquática, dada a interferência dos
reservatórios, por conta do desmatamento da floresta e da distância das margens, que, de
100 metros passou a cinco quilômetros. (ZOCCHI, 2002, p. 82).
27




       A formação de mais um lago também compromete seriamente o desenvolvimento
e a sobrevivência destas espécies. Portanto, considerando a nova ordem ambiental
mundial, torna-se imprescindível preservá-lo.
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CAPÍTULO II — PIRAJU, NOSSA IDENTIDADE, NOSSAS RAÍZES

E a história humana não se desenrola apenas nos campos de batalhas e nos gabinetes
presidenciais. Ela se desenrola também nos quintais, entre plantas e galinhas, nas ruas
de subúrbios, nas casas de jogos, nos prostíbulos, nos colégios, nas usinas, nos
namoros de esquinas (...). Ferreira Gullar apud Nascimento, nov. 1983.




2.1 Povoamento da região do vale do Paranapanema: 8.000 anos

       Nossa região iniciou o povoamento há cerca de 8.000 anos, por nômades vindos
da Patagônia (Argentina), que viviam da exploração da floresta, pela manufatura de
artefatos da pedra lascada. Os estudos dos sítios arqueológicos revelam a presença dos
guaranis em 500 e 1.030 anos, e dos umbus com 2.500 a 5.000 anos atrás. A
reconstituição do modo de vida, tanto dos umbus quanto dos índios guaranis, pode ser
estudada através do rigor na descrição das disposições das peças encontradas durante as
escavações, o que determina seu modo de vida, seus hábitos e costumes.



                       Com ocupação antiga e intensa, a bacia do Paranapanema é rica em sítios
                       arqueológicos. Piraju centraliza os estudos na região, na Associação
                       Projeto Paranapanema (Projpar). As pesquisas no vale vêm reconstituindo
                       as características do povoamento humano ao longo de 8.000 anos. Durante
                       milênios, caçadores-coletores nômades, chamados de umbus, peregrinavam
                       pelas matas e vales, vivendo, sobretudo nos terraços formados logo acima
                       das margens dos rios. Pedras lascadas e restos de fogueiras são os vestígios
                       de sua presença. Os umbus viviam em bandos de 20 a 30 pessoas,
                       mineravam rochas para a fabricação de utensílios e armas (como
                       raspadores, pontas de flecha e facas) e sobreviviam da coleta de vegetais,
                       caça e pesca. Vindos originalmente da Patagônia (sul argentino),
                       encontraram no vale do Paranapanema um clima agradável, com alimento
                       em abundância, e uma rocha particularmente boa para ser lascada – o
                       arenito silicificado -, areia endurecida há milhões de anos em meio ao
                       magma vulcânico. Há cerca de 2.000 anos, com a chegada dos guaranis, os
                       umbus desapareceram subitamente – absorvidos, exterminados ou postos
                       em fuga. (ZOCCHI, 2002, p.57).



       Os guaranis chegaram ao vale trazendo a cultura do milho, da mandioca e das
ervas medicinais. Eles dominavam o polimento da pedra e tinham o costume de construir
29




aldeias nas colinas. Possuíam habitações, utilizavam grande quantidade de cerâmica e
enterravam seus mortos em urnas funerárias. Eram mais avançados do que os umbus.

       Todo esse passado é revelado através do estudo de sítios arqueológicos que
existem em abundância em nosso município. Os estudos foram iniciados em 1969,
quando localizaram uma urna funerária pertencente aos guaranis. Estas culturas extintas
são possíveis de ser conhecidas pela população devido ao trabalho de pesquisa da
Associação Projeto Paranapanema, a Projpar, que é liderada pelo professor livre-docente
em arqueologia brasileira pela USP, José Luiz de Morais. E, como já citado na
introdução deste trabalho, o Museu de Arqueologia e Etnologia da Universidade de São
Paulo – Mae/USP tem cadastrados todos os sítios arqueológicos identificados na região.

       A equipe de arqueologia é guiada pela tonalidade no solo, pelos vestígios, restos
de comida, utensílios quebrados, cacos de cerâmica, onde é considerado o rigor na
disposição das peças, a profundidade em que é localizado o sinal da presença dessas
culturas antigas. As peças encontradas são analisadas por vários anos, e possibilitarão
reconstituir o modo de vida da extinta cultura.

       Nossa região é tão rica em sítios arqueológicos que chega a possuir, em um único
trecho de terra, quatro vestígios diferentes sobrepostos. Na superfície existem sinais da
presença de guaranis há 500 anos; no segundo sítio, mais abaixo, as marcas de outros
guaranis com 1.030 anos; no terceiro aparece um sítio umbu de 2.500 anos, e surge na
outra camada, mais abaixo, novo vestígio dos umbus, comprovando 5.000 anos de
história local. (ZOCCHI, 2002, p. 58-59).

       Toda essa riqueza histórica e cultural pode vir a se perder caso seja construída a
quarta usina em nosso município. O alagamento de toda essa região o acesso aos sítios
será impossibilitado. Com os sítios alagados o acesso será negado tanto para estudos
como para a visitação da população.




2.2 A origem, o ―caminho da entrada‖ para a ―terra sem mal‖

       Em torno de 1630, nossa terra era povoada pelos índios guaranis catequizados
por jesuítas espanhóis, pois éramos terra espanhola através do Tratado de Tordesilhas.
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O retorno das terras para o domínio português, e a extinção da controladora e poderosa
Companhia de Jesus, aconteceu pelas mãos dos bandeirantes paulistas, principalmente
por Antonio Raposo Tavares. (MORAIS, 1997, p. 4).

       Os índios guaranis vindos do rio Paraná rumavam para o leste em hordas
messiânicas, pois procuravam ―a terra sem mal‖, que seria um ―paraíso mítico que devia
ficar perto do mar‖. Lugar especial e importante, aqui, Teyquê-pê, para os guaranis, era
o "caminho da entrada".



                       O peabiru que passava por onde hoje é a nossa Piraju passou a ser
                       novamente freqüentado. Era importante, e por isso tinha um nome especial
                       – teyquê-pê – que significa ―caminho da entrada‖, numa clara referência
                       aos limites dos sertões cobertos de matas fechadas do oeste paulista.
                       (MORAIS, 1997, p. 4).



       O nome Teyquê-pê (palavra guarani composta por Teyquê – entrada, e pê -
caminho) foi corrompido para Tijuco Preto, devido a possível semelhança fonética, pelos
caixeiros viajantes e outros ‗cometas‘ (comerciantes que percorriam lugares distantes,
cidades, povoados, com suas mercadorias em lombo de burro) que cruzavam esses
caminhos.

       Segundo o autor, mesmo os moradores ‗encolhendo‘ os ombros quando
proferiam o nome do lugarejo, numa clara demonstração de não acharem nada bonito,
habituaram-se a chamar o lugar, e o nome ia se oficializando aos poucos. E, assim, esse
era o nome pelo qual éramos mais conhecidos, o nome mais antigo do lugarejo: Tijuco
Preto. (LEMAN, 1966, p. 21 e 22).



                       (...) Havia, relativamente perto do Tijuco Preto, uma aldeia de índios
                       guaranis, da tribo dos Caiuás, denominada ‗Piraju‘. Os índios ali se
                       estabeleceram em 1845, vindos das barrancas do rio Paraná, perseguidos
                       que estavam pela tribo aguerrida dos ―Coroados‖. Sendo de índole mais
                       pacífica, preferiram os Caiuás abandonar as constantes lutas, indo
                       procurar uma vida mais mansa na região do Paranapanema, onde sabiam
                       existir abundante caça e pesca. (LEMAN, 1966, p.39).
31




       Subiram pelo rio Paranapanema muitos Caiuás, que se dividiram em dois grupos.
O outro grupo prosseguiu subindo o Itararé. Os que ficaram fixaram-se nas imediações
do Tijuco Preto, estabelecendo ali a sua aldeia – a Aldeia Piraju. Assim, através da
instalação de uma aldeia indígena nas proximidades do ainda inexistente lugarejo Tijuco
Preto, ocorreu o primeiro fato, os primeiros passos no caminho da origem de nossa
cidade. (LEMAN, 1966, p. 40).




2.3 Freguesia de São Sebastião do Tijuco Preto, Vila de São Sebastião do
Tijuco Preto e Piraju

       No primeiro olhar do fundador Joaquim Antonio de Arruda, o terreno era
desigual: descia e subia, a mata trançada, dura de atravessar, continuou descendo e, de
repente, parou maravilhado. No fundo, entre barrancos rochosos, rápido corria e
saltava o rio, o velho panema...‖ (LEMAN, 1966, p. 13).

       As terras de Joaquim Antonio de Arruda, João Antonio Graciano e Domingos
Faustino de Souza faziam divisa e decidiu-se que cada um faria a doação de um terço de
sua parte para a fundação de um patrimônio, o de ―São Sebastião do Tijuco Preto‖
(LEMAN, 1966, p. 26).

       Segundo o geógrafo e historiador José Luiz de Morais, a certidão de nascimento
de Piraju se deu com a Lei Provincial 23, de 16 de março de 1871 (até então, povoado
de São Sebastião do Tijuco Preto), quando a Capela foi elevada à categoria de
―Freguesia de São Sebastião do Tijuco Preto‖. Registrada no Livro de Registro de
Provisões da Mitra Diocesana de São Paulo, livro 32, página 22, em 29 de agosto de
1872. E definia apenas a margem esquerda do rio, pois a atual vila Tibiriçá era município
de Botucatu. (o mapa está no anexo).

       Quando nos tornamos município, ―nossa maioridade‖, aconteceu em 25 de abril
de 1880 com a Lei Provincial 111, que elevou a freguesia à condição de ―Vila de São
Sebastião do Tijuco Preto‖. Foi quando ganhamos prefeitura e câmara de vereadores.
(Está anexo, o mapa).
32




          A mudança de nome para Piraju deu-se através do decreto 200, de 6 de junho de
1891, cuja indicação foi atendida e assinada pelo presidente do Estado, Américo
Brasiliense de Almeida Mello. O pedido partiu da câmara municipal, mais precisamente
pelo intendente Benedito da Silveira Camargo, que alegou ser este o verdadeiro e
primitivo nome. (LEMAN, 1966, p. 93 e 94).

          Segundo Camargo, Piraju é o verdadeiro e primitivo nome porque a aldeia dos
Caiuás, que aqui se estabeleceram por volta de 1845, era denominada ‗Pi-rã-yu‘, cujo
significado em Guarani é fundo do rio "nivelado, estreitado", e Piraju, segundo Leman,
com a pronúncia somente parecida com a que usamos, significa, em Guarani, peixe
amarelo, o dourado, e foi assim oficializado (LEMAN, 1966, p. 40 e 93).

          Em 20 de agosto de 1892 foi a ascensão a Comarca, e em 20 de janeiro, no dia
do padroeiro São Sebastião, é quando se comemora o aniversário. (CÁCERES, 1998,
p. 13).

          Nossa origem está ligada ao Paranapanema, e não é à toa quando Zocchi cita
que, de todo o curso do rio, da nascente à foz, somos a comunidade mais irmanada com
o rio, seu leito está cravado no meio de nossa cidade. Sim, desde o útero de nossas mães
ouvimos o rio correndo veloz. Fazemos parte de seu trajeto e ele, de nossas vidas.
(ZOCCHI, 2002, p. 52).

          A história e cultura de uma comunidade é o que a sustenta, alicerça-a, fá-la
prosperar e se tornar reconhecida. Preservar é o maior respeito que pode se oferecer a
um lugar. Sem referência, o homem perde também a confiança em si mesmo.
Compreender a memória é reconhecer nossa própria construção (PARÂMETROS, 1998,
p. 147).

          Na paisagem é que estão inseridas as marcas da história de uma sociedade. E
lugar é o espaço onde as pessoas criam vínculos afetivos e subjetivos. Cidadania não se
resume a direitos e deveres, há o ―sentimento‖ de fazer parte de um local, de estar
afetivamente ligado, ser responsável e comprometido historicamente. Somos parte
integrante do ambiente de nossa cidade. (PCN-Geografia, 1997).

          O fato de sermos uma pequena comunidade não é determinante, não nos reduz à
subserviência, à discriminação e ao preconceito. Realmente é uma afronta, indigno e
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injusto, a todo o momento termos de dizer que já demos nossa contribuição para a
geração de energia, e que agora pretendemos dar outro destino às corredeiras, que
eliminá-las para sempre.
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CAPÍTULO III — UTILIZAÇÃO DO POTENCIAL HIDRELÉTRICO

(...) não compreendemos que todos os búfalos sejam exterminados, os cavalos bravios
sejam todos domados, os recantos secretos da floresta densa impregnados do cheiro de
muitos homens, e a visão dos morros obstruída por fios que falam. Onde está o
arvoredo? Desapareceu. Onde está a água? Desapareceu. É o final da vida e o início
da sobrevivência (...). Chefe Seatlle (DIAS, 2001, p. 517).




3.1 Salto Grande: 40 anos após a implantação da usina

       Se antigamente era considerado fator de progresso, hoje a implantação de uma
hidroelétrica não traz euforia alguma para a comunidade, segundo artigo de Natal
Joaquim Varella que discorre sobre estudo elaborado junto à cidade de Salto Grande
(SP), onde foi construída a primeira usina hidrelétrica no rio Paranapanema, em 1958.

       O estudo relata o destino, os resultados colhidos pela cidade após 40 anos da
instalação e funcionamento da usina.

       A construção durou de 1949 a 1958 e movimentou a cidade, gerando muitas
esperanças de desenvolvimento para a comunidade com o comércio movimentado, ao
mesmo tempo em que a cidade perdia definitivamente suas cachoeiras. (VARELLA, ano
apud GIAVARA, 2001, p.145).

       Cabe salientar que neste período a cidade passou da euforia com a construção da
usina ao esquecimento. E que hoje, 40 anos depois, convive com inúmeros problemas
ambientais gerados pela barragem. (VARELLA, p. 2003, 1).



                       (...) com o represamento inúmeros problemas ambientais passaram a
                       ocorrer em torno do lago, como o aparecimento de construções irregulares
                       junto às margens, agravando a contaminação das águas, bem como
                       eliminando a mata ciliar, contribuindo com o assoreamento da represa.
                       (2003, p. 1).
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       Será que pretendemos para nós, pirajuenses, um futuro de sufoco com
administração dos problemas ambientais cada vez mais graves, como Salto Grande, ou
partir para um caminho onde o desenvolvimento ainda seja viável através do turismo?

       O desenvolvimento que deveria acompanhar e possibilitar o crescimento da
cidade na verdade movimenta os grandes centros urbanos. Sai a energia das águas de
Salto Grande e vai desenvolver as cidades mais prósperas do estado, deixando inúmeros
problemas ambientais que demandam tempo e custos altos para serem solucionados.
(VARELLA, 2003, p. 11).

       Algo fica, a degradação, a erosão das barrancas, uma água cada vez mais
insalubre. O déficit fica, o prejuízo é nosso.

       É bem parecida a situação de Piraju com a de Salto Grande. O reservatório está
localizado dentro do município e 70% não possuem coleta de esgoto, e os 30% restantes
são lançados no pequeno afluente ―Rio Novo‖.

       Os impactos são maiores em relação à qualidade da água e à erosão, por ser área
de exclusiva atuação agropecuária, os potenciais erosivos da borda do reservatório é
considerado ‗muito crítico‘, segundo avaliações da empresa Duke Energy.
(VARELLA, 2003, p. 9).

       A qualidade da água do reservatório é diretamente afetada pelos esgotos
domésticos, pelos esgotos industriais, pelos fertilizantes agrícolas muitas vezes utilizados
de forma irregular e materiais particulados de origem industrial. A atividade de
exploração das mineradoras também é fator determinante no resultado da qualidade da
água, pois foi examinado e há irregularidades, desde a obtenção da autorização da
licença ambiental aos maquinários em péssimo estado de conservação, às faltas de
equipamentos que acomodam a areia retirada, que acaba voltando ao reservatório.

       Há também a parte de recreação pela população local e das cidades vizinhas,
como Ourinhos. Os ranchos nas margens da represa, (...) portanto toda esta infra-
estrutura acaba por interferir na qualidade da água(...) (2003, p. 10).

       Varella enfatiza que todo esse passivo ambiental é o resultado da proliferação
das algas, devido ao lançamento do esgoto sem qualquer espécie de tratamento, das
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mineradoras e da infra-estrutura turística precária, o que afetará o reservatório, e
também o sonho da prefeitura de transformar a cidade em uma estância turística.
(2003, p.11).

       No passado, a construção de uma hidrelétrica gerava não apenas euforia na
cidade, mas também a possibilidade de crescimento e desenvolvimento do local. Todavia,
os resultados analisados hoje, após quarenta anos, são de perdas:



                       (...) a cidade perdeu parte de sua população, teve sua área urbana
                       desfigurada pela mudança da ferrovia, não avançou no desenvolvimento
                       industrial, algo esperado, pois a usina poderia produzir a energia
                       necessária ao seu crescimento econômico, mas a contrário a energia é
                       levada aos grandes centros urbanos paulistas. Atualmente a cidade tem
                       como herança inúmeros problemas ambientais, que demandam tempo e
                       custos altos para serem solucionados. (2003, p. 11).



       As ‗heranças‘ deixadas pela usina para Salto Grande foram grandes problemas
ambientais de difíceis soluções, pois implicam em altos investimentos e muito tempo para
ser contornados. No momento, o poder público estuda saídas no sentido de contornar os
problemas, como aumentar a compensação financeira e implementar o turismo
aproveitando as águas do reservatório. (p.11).

       Transferindo para o nosso município, quem arcará com o déficit ambiental daqui
a 40 ou 50 anos? O município, muito provavelmente, e quanto à geração de energia, seu
empreendedor não arcará com nenhuma responsabilidade social e ambiental, e continuará
desfrutando da força das águas para expandir seus negócios e lucros, como se não
tivesse nada a ver com a questão.

       Os Pcn´s expressam muita preocupação em relação ao modo como estão sendo
tratados os recursos naturais e culturais no Brasil; existe um real descaso com o
ambiente no momento em que retiram o que necessitam para sua produção, seja agrícola,
industrial, comercial. Muitas vezes o lucro existe somente para um grupo econômico e
não é raro residirem bem distante do local carregando consigo toda riqueza e no lugar
acabam deixando uma degradação ambiental que fica muito caro tanto aos cofres
públicos como para a saúde da população. (PCN Meio Ambiente, 1997, p. 25).
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       Os prejuízos ambientais são gravíssimos e no longo prazo tudo piora. E teremos
a responsabilidade de gerir esses prejuízos. Como se fôssemos os responsáveis. O cofre
do município não é determinante para minimizar os impactos negativos que tendem
somente a se agravar com o tempo.

       No livro de Ribeiro (2001), somos voltados para a responsabilidade exigida hoje
das empresas na relação com o meio ambiente e os problemas gerados pela sua atuação.
É possível verificar os caminhos exigidos para que uma empresa possa pleitear o
certificado da série ISO 14000.

       Este certificado (selo) atenta tanto para as ações da empresa no sentido de
reduzir os problemas ambientais gerados pelos seus processos produtivos, como analisa
os impactos ambientais de seu produto, desde as fontes energéticas que vai consumir,
passando pelos materiais, sua vida útil e destinação após o uso. Volta-se também para a
questão das conseqüências:



                       Outra inovação importante da série ISO 14000 é que a responsabilidade
                       jurídica de possíveis problemas ambientais fica para o proprietário (ou
                       acionista majoritário) da empresa, em vez de recair isoladamente sobre um
                       técnico. (RIBEIRO, 2001, p. 135).



       Neste momento fica-nos a reflexão a respeito das implicações de um modelo de
desenvolvimento pautado exclusivamente no crescimento econômico (RIBEIRO, 2001,
p.110), e qual será o limite a ser suportado (pelo ambiente), por todos nós, é a pergunta
que devemos fazer.




3.2 Os três agentes da crise energética

       O Brasil ingressou na era da energia elétrica no final do século XIX, através da
utilização do potencial hidrelétrico. De lá para cá, com uma necessidade constante e
progressiva, esse modo de produção de energia foi ampliado vertiginosamente. Com essa
intensidade toda na construção das obras, o desenvolvimento tecnológico que o setor
trilhou entre as décadas de 60 e 80 foi gigantesco. Porém, é justamente na década de 80
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que aparecem dois fatos que alteram a dinâmica da produção hidrelétrica, tanto mundial
quanto brasileira.

       O primeiro e mais determinante foi o endividamento do país, que, entre outros
efeitos, elevou juros, inviabilizou empréstimos, engessou a economia, e o segundo, a
influência na área ambiental de organizações internacionais que pressionam instituições
também internacionais de financiamento, como BIRD, BID. Conseqüentemente, houve
uma paralisação de 10 anos nos empreendimentos. Já a partir de 1997 e 1998, os
investimentos foram retomados, resultantes da aprovação de um conjunto de leis
ambientais e também da entrada do mercado privado no setor — Alcoa Alumínio S/A,
banco Bradesco, Cia. Cimento Itambé, Companhia Brasileira de Alumínio (CBA),
Consórcio TRACTEBEL/GERASUL, CPFL, CSN, e Grupo Odebrecht são algumas das
empresas que atuam na utilização do potencial hidrelétrico brasileiro.

       Todas essas leis e resoluções sobre a questão ambiental foram determinantes e
cruciais para tratar do desenvolvimento social e econômico, acabando por determinar
como definição mundial que não basta desenvolvimento, é preciso conservação e
preservação da natureza. É preciso penalizar os infratores e divulgar essas ações, pois
sofremos com a falta de cultura de nosso povo e, conseqüentemente, a ausência de uma
rígida fiscalização acompanhada de punição. (ROSS, 1999, p. 20-22).

       No modelo atual de desenvolvimento, nossas sociedades apresentam demanda
crescente, para a saúde, o lazer, o conforto, como também para os crescimentos
industrial, urbano e agropecuário. A energia elétrica funciona também como indicador do
nível de qualidade de vida. O que não podemos deixar de lado são os efeitos do homem
sobre a terra, a água, a atmosfera, a flora e a fauna.

       O modo de produzir energia através de barramento de rio já levou à expulsão de
terras de 80 milhões de pessoas no mundo. Possuímos no país mais de duas mil
barragens, e há uma previsão do governo federal de construir mais 500 hidrelétricas, o
que acabaria por expulsar de suas próprias terras mais de 800 mil pessoas.

       Um dos impactos ambientais negativos mais flagrantes gerados pela imposição
das barragens é a falta de consideração em relação aos impactos sócio-culturais e
biopsíquicos que sofrem os povos ribeirinhos, indígenas, e a comunidade local, que
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acabam por sofrer modificações e transformações profundas na sua maneira de viver, de
cultivar suas tradições e na relação direta com suas terras. (DIAS, 2001, p. 291).

        O estrago econômico e social é grande, particularmente em nossa região, onde
possuímos grande densidade populacional, e terras férteis inutilizadas pelos alagamentos.
A qualidade da água procedente de barramentos, que abastece as comunidades dos
municípios atingidos por represas, também fica comprometida pela decomposição das
árvores no fundo do reservatório. Em escala global, o apodrecimento da vegetação
submersa provoca grande emissão de gases, como o carbônico e metano, que são os
grandes vilões do aquecimento da atmosfera, o popular efeito estufa.

        A crise energética brasileira possui três agentes. O primeiro é o modelo
excludente de produção e consumo: nesta ordem, a energia é disponibilizada para
movimentar indústrias e, depois, para quem pode pagar. As maiores consumidoras são as
empresas eletrointensivas, que atuam na fabricação de alumínio, cimento, papel, zinco,
níquel, metais não ferrosos, química, ferroligas, cloro, entre outras.

        O segundo é o governo federal, que não investe em planejamentos e pesquisas, e
reafirma o modelo excludente através da privatização do setor para empresas nacionais e
multinacionais, ou seja, confiando alguns dos nossos recursos essenciais — a água, a
terra e a energia.

        O terceiro são as empresas que se utilizam do sistema para lucrar, tanto na
produção como no consumo de energia. Outro aspecto relevante é a forma
monogeradora de produção: 92% da energia gerada no país provêm de hidrelétricas.
(MAB, ago. 2005).

        No entanto, é preciso que a sociedade pirajuense saiba exatamente a dimensão
dos impactos sócio-ambientais e de outros problemas que ela estará assumindo caso se
concretize a implantação e funcionamento da quarta hidrelétrica no município.
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3.3 Impactos sócio-ambientais

       No caminho do desenvolvimento, seja de uma localidade ou de um país, não cabe
mais atuar de forma impensada e insensata. É preciso analisar todas as alternativas antes
de fazer a natureza pagar o preço, ante o momento de intenso consumo e degradação
enfrentado pelo planeta.

       São muitos os impactos que sofrem o meio ambiente e a comunidade quando da
utilização do potencial hidrelétrico de um rio. A forma descontrolada de uso dos
recursos naturais pode levar a graves e profundos problemas ambientais. É preciso saber,
estar atento para com o que se perde, e assim verificar as extensões dos danos. (STIPP,
1999, p. 93). Os meios físicos, bióticos e sócio-econômicos sofrem intensas e
irreversíveis alterações.

       É importante enfatizar o artigo de Ross (1999, p. 24-27), Hidrelétricas e os
impactos sócio-ambientais, em que discorre sobre os efeitos das barragens ao ambiente
nas fases de construção, de enchimento e operação do reservatório e término da
construção.

       Na fase de construção, os impactos diretos no meio físico-biótico iniciam-se com
os desmatamentos para a abertura de estradas, instalação de canteiros de obras,
alojamento e vila residencial, e terraplenagem para instalação das obras de apoio: cortes
e aterros, interceptação de drenagem e alteração das cabeceiras ou bacias de captação.
Há também o prejuízo ambiental provocado pelos serviços de construção dos diques e
barragens no leito principal e nos pontos de fuga de água; extensas áreas de empréstimo
– abertura do canal de desvio do leito fluvial; cortes no solo e na rocha; grande volume
de rejeito de fragmentos de rochas e de material de alteração que não se prestam ao uso
em aterros. E observa-se, ainda, a intensificação da atividade de caça e pesca nos
arredores do empreendimento, que pode levar ao desaparecimento local de espécies
animais.

       Especificamente no âmbito sócio-econômico, os efeitos da obra provocam
alterações marcantes no perfil da comunidade atingida. A acentuada demanda de mão-
de-obra para construção civil implica na inserção de um contingente expressivo de
homens, procedentes de outras regiões, à população local — tal migração potencializa o
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surgimento de focos de prostituição. O repentino aumento populacional favorece o
surgimento de moradias precárias e favelamento. O comércio legal é incrementado pelo
crescimento do consumo, mas o comércio clandestino também se intensifica. A mão-de-
obra local é parcialmente absorvida para serviços de serventes e auxiliares, mas a
construção atrai a mão-de-obra agrícola, o que reflete nos números da produção
agropecuária da região afetada.

       Vale ressaltar outras conseqüências da fase de construção, como a interferência
na procura por escolas, professores, serviços médicos e hospitais, a mudança nos hábitos
sociais da população local, conflitos entre residentes e novos moradores, aumento de
preços de mercadorias e serviços, maior volume do tráfego (circulação mais intensa de
veículos de serviços e de transporte urbano), deficiência na infra-estrutura para
atendimento da nova demanda — água tratada, esgotos, energia, habitação, escolas,
hospitais.

       A fase de enchimento e operação do reservatório provoca outra série de impactos
diretos no meio físico-biótico: toda a área a ser inundada precisa ser desmatada; extensas
áreas de terras férteis são ocupadas pela água; um volume considerável de biomassa
vegetal é eliminado; a fauna terrestre e as aves são afugentadas ou mortas; o regime
fluvial do rio sofre alterações; a vazão é regularizada; o meio aquático, antes de água
corrente, passa a lacustre (água parada); há modificações na qualidade da água e dos
peixes; recursos minerais que poderiam ser aproveitados no futuro são submersos; o
aparecimento de extensos remansos de águas rasas possibilita o assoreamento e a
proliferação de insetos; a comunicação terrestre fica dificultada pelo surgimento de áreas
de península e ilhas; as margens são afetadas por deslizamentos e erosão; o nível das
águas sofre ressecamento ou rebaixamento.

       Igualmente nesta fase, não há como ignorar os impactos diretos no meio sócio-
econômico: populações ribeirinhas rurais e urbanas são desalojadas; bens de valor
cultural, afetivo e religioso sofrem interferência; sítios arqueológicos são inundados; em
muitas regiões, populações nativas e aldeias indígenas são desalojadas; com a inundação
das terras agricultáveis, a pequena propriedade rural torna-se economicamente inviável; a
circulação e a comunicação entre comunidades vizinhas ficam dificultadas pela formação
do grande lago; muitas famílias de origem rural sofrem desestruturação quando são
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transferidas para áreas muito distantes; criam-se condições para a concentração fundiária
em regiões caracterizadas por pequenas e médias propriedades rurais; ocorre um falso
―boom‖ de desenvolvimento local, que caminha para o esgotamento com o fim da
construção e a entrada em operação.

       Com o término da construção, outros impactos são observados, especialmente de
ordem sócio-econômica: acentuada liberação da mão-de-obra temporariamente
absorvida no decorrer das obras (desemprego); a economia local é abruptamente
desaquecida, com reflexos negativos imediatos, como a ociosidade ou subemprego da
mão-de-obra local, queda do nível de renda, desocupação de grande número de
residências.

       Concluída, a obra também deixa um saldo indesejável no setor de infra-estrutura,
com equipamentos ociosos e o esvaziamento demográfico provocado pela forte
emigração urbana.

       É importante insistir na análise das observações de Stipp (1999, 89-94) a respeito
dessas mesmas transformações:

       As transformações no meio físico:

       • Alterações climáticas: mudanças no clima local, variação da umidade relativa
do ar, alterações no comportamento do ciclo de chuvas;

       • sismicidade induzida: técnicas utilizadas durante a obra (explosões, uso de
maquinário pesado), desmatamentos e alagamentos podem intensificar a ocorrência de
terremotos de uma região;

       • elevação do lençol freático: com o aumento do nível da água a montante das
barragens, cresce também o nível do lençol freático, o que pode levar à sua
contaminação e o conseqüente comprometimento da qualidade da água;

       • assoreamento do reservatório: devido ao desmatamento das barrancas, o
acúmulo de terras no fundo do reservatório leva a um lago cada vez mais raso, o que
dificulta também a oxigenação da água;
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       • retenção de nutrientes no reservatório: o represamento provoca a retenção de
nutrientes pela barragem, o que, a jusante dela, implica em uma carência desses
nutrientes, obrigando os proprietários de terras a realizar correções de solo para
compensar as perdas dos minerais retidos nas áreas inundadas;

       As transformações no meio biótico:

       • alterações na composição da fauna: a vida dos peixes não é a mesma quando
um rio se transforma em lago, é difícil a adaptação neste novo habitat de águas paradas,
o que gera a extinção de várias espécies originárias de corredeiras;




                        Os ovos dos peixes em geral morrem no fundo do reservatório,
                        pois afundam à grande profundidade, a falta de correnteza
                        deixa espécies como pacus com muita gordura, e eles precisam
                        do esforço físico da migração, que queima a gordura, para
                        desenvolver o ovário, as barragens amortizam as mudanças no
                        regime hídrico que detonam o gatilho da reprodução, como o
                        aumento da temperatura. (ZOCCHI, 2002, p. 80).



       • interrupção da migração dos peixes: não há como o peixe ‗pular‘ a montante
através da escada da barragem para peixes e depois trilhar o caminho de volta, ou seja, o
peixe não consegue localizar os degraus no meio da represa para sua descida,
acarretando assim o despovoamento a jusante do rio;

       • mortandade de peixes a jusante durante o enchimento do reservatório: com o
fechamento das comportas, a vazão a jusante diminui drasticamente, impossibilitando a
sobrevivência das espécies nativas de corredeiras;

       • deslocamento de animais durante o enchimento: a fauna é toda retirada e
inserida em novo habitat. O que na realidade ocorre é que nem todos são retirados, e os
poucos que o são, ou morrem devido ao estresse da locomoção ou por não conhecerem
a nova morada, tornando-se assim presas fáceis.

       As transformações no meio sócio-econômico:
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       • disseminação de doenças: a água parada do reservatório é um estímulo ao
aparecimento de vetores de doenças de propagação hídrica, o que se constitui em um
dos mais graves e custosos problemas para a sociedade, o aumento de doenças como
leishmaniose, febre amarela, dengue, diarréia, cólera, hepatite;

       • elevação de preços de terras e residências: aumento do custo de vida para a
população local (aluguéis, compra de imóveis rurais ou urbanos);

       • desaparecimento de prédios e sítios de valor cultural arqueológico e estético: a
total eliminação de locais históricos e culturais, descaracterização do rio, inundação de
importantes sítios arqueológicos, descaracterização da paisagem cênica e do lugar são
alguns dos prejuízos, os quais já foram tratados nos capítulos I e II deste trabalho.

       Todos esses impactos decorrentes da utilização do potencial hidrelétrico apontam
para a imperiosa necessidade de evitar essa homogeneização, também do rio; essa
transformação do ambiente acarretaria um ponto final no desenvolvimento para a
localidade. Toda a comunidade estaria condenada a sobreviver sem perspectivas reais de
expansão e crescimento econômico. O lugar de memória, de história e de cultura
desapareceria para sempre, juntamente com o surubim pirajuense e também todas as
outras espécies de fauna e flora, desamparada ficaria a própria história do local,
culminando no esquecimento e na extinção de todas as origens e identidade do cidadão
pirajuense.




3.4 Setor econômico

       Piraju conquistou o título de Estância Turística em 8 de julho de 2002. O grande
sonho só foi possível devido ao potencial natural que a cidade possui. Esse título é fruto
da vontade política e denota também que o desejo de desenvolvimento da população está
diretamente relacionado com o rio, o rio de corredeiras, dos esportes de aventura
capazes de atrair e conquistar turistas de muitas regiões do Brasil e do mundo.

       A pista de slalom (esporte de corredeira) que funciona no Salto do Piraju é
classificada por atletas e treinadores entre as de maior grau de dificuldade em todo o
país, uma raridade para a prática do slalom, de acordo com os aficcionados desse
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esporte. O auxiliar-técnico da Seleção Brasileira de Canoagem, Odilon Dias, afirma que
o local representa uma das três melhores pistas de slalom-canoagem com obstáculos do
Brasil. Dias elogia o trecho de corredeiras do rio Paranapanema em Piraju pela qualidade
das águas e pela privilegiada beleza paisagística ao redor.

       As trilhas na mata ainda são pouco difundidas e exploradas. O turismo ambiental
de nosso município é caminho certo e lucrativo. Crescimento sustentável através do
turismo ecológico.

       Barrar o último trecho vivo do rio em nosso município significa pôr fim às
expectativas de crescimento e geração de emprego para a cidade, pois a recém-
inaugurada Piraju I gerou durante sua construção apenas 350 empregos temporários, que
já não existem mais. É importante salientar que o município de Brotas/SP, com
aproximadamente 20 mil habitantes, possui um rio de corredeiras e fatura anualmente
mais de 4 milhões de reais com o turismo profissional e qualificado. Hoje, funcionam em
Brotas 14 agências de turismo, dentre elas a pioneira ―Mata‘Dentro‖.

       Piraju necessita das corredeiras para implementar efetivamente o turismo. A
sociedade é soberana para decidir sobre seu destino. Cabe à nossa população decidir,
visto que o represamento ocuparia somente terras do município, e não deixar ser
decidido por pessoas de fora, que não vivem aqui e que estão aqui somente com vistas
ao lucro.

       Há que se destacar também que a cidade possui um rio de onde provém a
utilização de potencial energético particular e, ainda assim, as entidades filantrópicas que
atendem à sociedade local, como Apae, asilo, hospital, escolas, não são isentas do
pagamento da conta de luz. Tampouco existem outros programas sociais de relevância
para a comunidade.

       De acordo com informações apresentadas pelo atual prefeito de Piraju, Francisco
Rodrigues, durante reunião realizada na Câmara Municipal, em outubro de 2005, nossa
cidade recebe aproximadamente 75 mil reais mensais de royalties por suas áreas
represadas. Somente a conta de luz do município (90 mil reais) ultrapassa esse valor. Os
impactos negativos gerados pela utilização do potencial hidrelétrico jamais poderão ser
sanados diante da falta de perspectiva de crescimento da cidade, haja vista que esse tipo
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de empreendimento não traz desenvolvimento para o local em que é gerada a energia,
sem mencionar o fato de que, com o tempo, tudo tende a se agravar. Vide capítulo 3.1
com o exemplo do estudo realizado em Salto Grande – SP, em 2003.

       As indústrias brasileiras pagam apenas a metade da conta de luz, e é exatamente
onde ocorre o maior índice de desperdício, gastam sem consciência. Se o setor industrial
pagasse o mesmo que os consumidores domésticos pagam, já haveria racionamento,
porque teria de economizar, uma vez que são as indústrias as maiores consumidoras de
energia elétrica do país. (STIPP, 1999, p. 90).

       No Brasil, 17% da energia elétrica gerada são desperdiçados, devido também à
má conservação dos fios e cabos da rede de distribuição. Somente nas indústrias o
desperdício é de 25%. Lâmpadas acesas sem necessidade, equipamentos antigos, banhos
demorados e máquinas desreguladas são os principais responsáveis pela perda de 5
bilhões de dólares por ano. Oito mil dólares é o preço para se instalar um novo chuveiro
elétrico e, no mundo, somos a única nação a utilizá-lo. (DIAS, 2001, p. 529).

       A energia eólica, por exemplo, gerada pelo movimento do ar (vento), é
considerada a forma mais limpa para se conseguir energia elétrica. Vários países já vivem
esta realidade, dentre eles, Alemanha, Dinamarca, Estados Unidos, Índia e Espanha, que
são os pioneiros na utilização da energia eólica para uso comercial e industrial.
Registram, inclusive, uma expansão de 66% em relação ao ano anterior.

       A energia eólica já é utilizada também no nordeste brasileiro, no litoral do Ceará,
onde aproximadamente 160 mil pessoas são beneficiadas. Outros estados trilham pelos
mesmos rumos do Ceará nesta empreitada: Paraná, Santa Catarina, Minas Gerais, Rio de
Janeiro, Pernambuco e a Ilha de Marajó, no Pará.

       O Brasil tem excelente potencial eólico, de acordo com estudos atualizados.
Portanto, é viável a produção de eletricidade a partir da energia dos ventos. Essa forma
de captação concorre com as centrais hidroelétricas, termoelétricas, nucleares e, ainda,
com baixo custo. Mas, também no Brasil, as grandes empreiteiras, construtoras de
hidrelétricas, fazem lobby contra essa forma de energia. (DIAS, 2001, p. 59).

       A construção de novas hidrelétricas causa violentos danos ambientais. É
necessário estar atento e refletir sobre a necessidade de desenvolver nossa eficiência
47




energética. Acabar com o desperdício através da mudança de hábitos, utilizar
equipamento que faz o mesmo trabalho com menos consumo de energia e,
principalmente, investir e utilizar formas alternativas de energia, a solar, a eólica, a
geotérmica e a biomassa (com manejo). (DIAS, 2001, p. 529-530).

       É importante destacar que no Brasil ainda não se investe o suficiente em
pesquisas sobre fontes alternativas de energia. Este seria o papel a ser desenvolvido pelas
universidades brasileiras, colocando toda sua infra-estrutura – e também seus
pesquisadores, professores, técnicos – a esse serviço. As universidades devem estar a
serviço da melhoria das condições de vida da comunidade em que está inserida. (STIPP,
1999, p. 91).
48




CAPÍTULO IV — PESQUISA PRÁTICA, A EDUCAÇÃO AMBIENTAL

       Uma criança em contato com a realidade do seu ambiente não só aprenderia
melhor, mas também desenvolveria atitudes criativas em relação ao mundo em sua
volta. Patrick Geddes (1854-1933), escocês, é considerado o pai/fundador da Educação
Ambiental. (DIAS, 2001, p.29).




4.1 Educação ambiental — EA

       Dentro da América Latina, nosso país é o único que possui uma política nacional
destinada à Educação Ambiental (DIAS, 2001, p. 201), e se ela não está ainda nas ruas,
no dia-a-dia das pessoas, nas escolas, é devido à ausência de consciência e compreensão
da classe política brasileira. (DIAS, 2001, p. 184).



                        Como se relaciona educação ambiental e cidadania? Cidadania tem a ver
                        com a identidade e o pertencimento a uma coletividade. A educação
                        ambiental como formação e exercício de cidadania refere-se a uma nova
                        forma de encarar a relação do homem com a natureza, baseada numa nova
                        ética, que pressupõe outros valores morais e uma forma diferente de ver o
                        mundo e os homens... processo permanente de aprendizagem forma
                        cidadãos com consciência local e planetária. (JACOBI, mai. 2003).



       Ter cidadania significa possuir identidade, ser de um determinado local
específico. Uma educação pautada nesse alicerce representa uma educação com
formação e não somente informação. A informação está em todos os lugares, disponível.
O tesouro maior que se transmite é um saber construído há milhares de anos. A
educação deve estar voltada, centrada no ser humano, em suas atitudes. Somos um ser
histórico, que acumulou conhecimentos com o passar dos anos.

       O homem não se satisfaz em apenas viver, mas pretende transcender a natureza,
criar. O saber constituído, criado, é transmitido, e esta é a responsabilidade da educação.
A ela cabe o papel de perpetuar valores. Focalizar o aluno em seu meio, ensinar história
sem esquecer a política, ensinar geografia sem desconsiderar as condições de vida da
comunidade. É preciso realmente inseri-lo em seu mundo e não apenas prepará-lo para
vestibular e mercado de trabalho. O aluno precisa ser o ‗sujeito‘ da educação. É preciso
49




transpor esta educação de avaliar como um fim em si mesmo. Não basta encaminhar
quem já está no caminho, é preciso simplificar e tratar de problemas que afligem a
sociedade. (PARO, vídeo, 1996).

       Em relação ao meio ambiente, o que ocorre hoje em salas de aula é uma real
cultura do descaso e da inconseqüência. Na formação de nossos educandos não há
preocupação com o resultado das atitudes (aluno, funcionário, professor...). O foco
central é a boa nota. Quem tira dez nas provas de avaliação é considerado excelente
aluno, não importa se joga lixo no chão, se deixa garrafas de água e refrigerante
tombadas pelo caminho, papéis de bala, rabiscos e estragos nas carteiras. Tudo isso não
é apontado nem corrigido. Afinal, a escola dispõe de alguém para limpar depois. Este é o
pensamento que habita a realidade escolar, a prioridade é a nota. Assim, é importante
fazer o aluno ―perceber e entender‖ que suas atitudes têm conseqüências e que ele é
responsável sim, e deve atuar para minimizar os impactos negativos ao ambiente, é
preciso rever valores e posturas nesta relação homem-natureza. (PCN, 1998, p. 169).

       O documento Cuidando do planeta Terra – uma estratégia para o futuro da
vida, elaborado durante a Rio-92, que teve representantes de diversos países, como
Alemanha, Japão, Estados Unidos, Brasil, Canadá, Quênia, Tunísia, Suíça, Dinamarca,
Venezuela e El Salvador, apresentou alguns princípios:




                       6- A EA deve estimular a solidariedade, a igualdade e o respeito aos
                       direitos humanos, valendo-se de estratégias democráticas e interação entre
                       as culturas... 9- A EA deve estimular as comunidades para que retomem a
                       condução dos seus próprios destinos. (DIAS, 2001, p. 195).




       O ponto central deste documento assinado em 1992 é que a sociedade local seja
não somente ouvida e considerada, mas que ela própria se auto-conduza. Que ela mesma
determine seus passos e o rumo a ser tomado.

       O Brasil está sofrendo um dos momentos de maior degradação ambiental, algo
jamais visto. E é preocupante, pois não há como reverter esse processo para se tentar
não oferecer às gerações futuras um país totalmente destruído. A degradação está em
todas as áreas. É imperante que se volte às questões do meio ambiente. O consumismo
50




está em seu pico e com esse consumo exagerado não há como o ambiente se renovar. É
necessário refletir em todos os momentos e verificar quando realmente é preciso
comprar. (CORREIA – site O Eco, 20 jul. 2005).

       A degradação ambiental está numa velocidade que as conquistas obtidas são
insuficientes no sentido de provocar as mudanças de atuação. (DIAS, 2001, p.17).

       É o momento de uma Educação renovadora e libertadora, com verdadeira
mudança de paradigma. Chegou a época de se desenvolver uma compreensão mais
realista do mundo, ao contrário do que vem ocorrendo, com apenas atos isolados de
reciclagem, de produzir painéis solares mais baratos, de equipar carros com células de
combustível ao invés do petróleo. Tudo isso é desviar de uma real Educação Ambiental.
(DIAS, 2001, p.16).




                       O desafio que se coloca é de formular uma educação ambiental que seja
                       crítica e inovadora em dois níveis: formal e não formal. Assim, ela deve ser
                       acima de tudo um ato político voltado para a transformação social ...tendo
                       como referência que os recursos naturais se esgotam e que o principal
                       responsável para sua degradação é o ser humano. (DIAS, 2001, p. 123).




       A educação não é neutra. É uma ação cultural. O processo educativo resulta
numa relação de domínio ou de liberdade. Nas últimas duas décadas, a escola atuou de
forma a conservar a hegemonia da classe dominante, uma escola que procurou preparar
―excluídos e dominados‖. Bem ao contrário do que aponta Paulo Freire, que é promover
o desenvolvimento do senso crítico. Uma escola voltada ao diálogo e com seus
conteúdos voltados às realidades dos alunos. (DIAS, 2001, p. 123).
51




4.2 Da aplicação em sala de aula

       A aplicação prática da pesquisa foi realizada de 8 a 22 de agosto, na Escola
Estadual ―Ataliba Leonel‖, com adolescentes (12 anos) da turma de 6ª série ‗A‘,
totalizando 8 horas/aulas. O trabalho pretendeu colaborar para que fossem estabelecidos
os alicerces de cidadania, e despertados o interesse e a preocupação com os destinos da
comunidade.

       O desenvolvimento das atividades aconteceu durante as aulas de História do
professor Elmo Antonio Paschoarelli, que gentilmente nos cedeu o espaço e acompanhou
sempre de perto, visto a relevância do tema. O projeto foi apresentado aos 37 alunos da
turma da 6ª série A, do Ensino Fundamental. E para discorrer sobre a aplicação e o
resultado, tomamos uma amostragem de 10 alunos: Alexandro, Carolina, Cíntia, Daiana,
Gabriele, Ítala, João, Juliene, Lucas e Thiago.

       As explanações ocorreram durante um total de 8 horas/aulas, com início no dia 8
de agosto, com 2 horas/aulas (100 minutos). Iniciamos com o tema ―Educação ambiental
e preservação das corredeiras do rio Paranapanema‖. Primeiramente, foi feita a
apresentação do projeto a ser desenvolvido e, na seqüência, discutimos a frase chamativa
da lousa (Vivemos muito além dos nossos limites. Criamos um estilo de vida que está
drenando da Terra recursos insubstituíveis, sem olharmos para o futuro. Margaret
Mead - 1901-1978, antropóloga americana).

       Na seqüência, foi aplicado o questionário de diagnóstico. E, em seguida, com a
sala em círculo, distribuímos os textos de apoio (está no anexo), em que cada um pode
ler e comentar suas dúvidas.

       Ficou evidente na apuração das questões de educação ambiental (no anexo) que
todos os alunos conhecem o funcionamento de uma usina, citam represa, gerador,
turbina e a força das águas nesse processo de produção da energia elétrica, mas, ao
mesmo tempo, apresentam um total desconhecimento de suas conseqüências para a
localidade.

       No dia 11 de agosto, com aula de 50 minutos, o assunto tratado foi: Educação
ambiental, leitura e interpretação do texto O rio precisa correr, publicado em jornal
local. Foi verificada a dificuldade de compreensão do texto, seria necessário mais tempo
52




para melhor explanação dos significados de cada conceito. Cada aluno colocou várias
palavras que não compreendiam na lousa. Foi consultado o dicionário, só não foi
possível sanar todas as dúvidas.

       Entretanto, a maioria respondeu o questionário satisfatoriamente. E todos
concordaram com a necessidade imperante de o rio continuar a correr sempre, seja pela
manutenção da qualidade da água, seja pela ajuda das corredeiras na decomposição do
esgoto da cidade, seja para a preservação dos peixes e, principalmente, do surubim
pirajuense.

       No dia 15 de agosto, a aula foi de 100 minutos (2 horas/aulas). Antes da projeção
do filme ―Chega de Usina em Piraju‖, foi dada a ficha técnica e, em seguida, uma breve
explanação das questões a serem refletidas sobre a fita.

       Durante a apresentação, os alunos ficaram chocados diante das imagens
mostradas. O que mais espantou foi, principalmente, o trecho em que era mostrado o
total descuido na construção e funcionamento da recente usina Piraju (2003), quando o
descaso com todo o meio ambiente foi grande: desde a não retirada de árvores de dentro
da área do reservatório, que levou a grande fermentação das águas quando do
enchimento (fermentação e apodrecimento das águas), até a não retirada de muitos
animais, o que gerou ‗certa impossibilidade‘ de funcionamento inicial desta usina, pois
tudo ficava enroscado nas turbinas, dificultando o seu acionamento.

       Pelo resultado apresentado nas redações pudemos observar diversas conclusões:
que Piraju já possui usinas demais, que queremos pelo menos este trecho vivo de rio para
nós e para as gerações futuras, para que seja implementado o turismo, e que todos
possam ser beneficiados. E não o detrimento de muitos (que são os moradores da
cidade) para o lucro de apenas um grupo econômico. A energia de um rio possibilitando
o desenvolvimento e a ampliação apenas de uma empresa. É necessário ressaltar uma das
redações, em que a aluna trata a questão da possível instalação de mais uma usina com
argumentos como ‗deve ser proibido, por excesso de usinas‘.

       No dia 18 de agosto, em 50 minutos (1 hora/aula), foi feito o comentário das
redações sobre o vídeo ―Chega de Usina em Piraju‖. Em seguida, a frase na lousa Na
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Preservação dos últimos 7km do rio Paranapanema

  • 1. 7 FACULDADE DE FILOSOFIA, CIÊNCIAS E LETRAS DE PIRAJU MARIA ADRIANA DE BARROS GARROTE PASCHOARELLI EDUCAÇÃO AMBIENTAL Preservação dos últimos sete quilômetros de leito natural do rio Paranapanema no município de Piraju PIRAJU 2005
  • 2. 8 SUMÁRIO INTRODUÇÃO .......................................................................... 07 1. CAPÍTULO I — RIO PARANAPANEMA...................... 15 1.1 Rio de águas intrépidas e velozes ..................................... 15 1.2 Características de um rio desbravado por Teodoro Sampaio no século XIX ................................................... 16 1.3 A defesa do Paranapanema: o Tombamento ..................... 17 1.4 Um peixe pré-histórico de 15 milhões de anos ................. 20 1.5 O rio precisa correr .......................................................... 22 2. CAPÍTULO II — PIRAJU, NOSSA IDENTIDADE, NOSSAS RAÍZES............................................................ 25 2.1 Povoamento da região do vale do Paranapanema: 8.000 anos ........................................................................ 25 2.2 A origem, o ―caminho da entrada‖ para a ―terra sem mal‖ 26 2.3 Freguesia de São Sebastião do Tijuco Preto, Vila de São Sebastião do Tijuco Preto e Piraju ..................................... 28 3. CAPÍTULO III — UTILIZAÇÃO DO POTENCIAL HIDRELÉTRICO ............................................................. 31 3.1 Salto Grande: 40 anos após a implantação da usina .......... 31 3.2 Os três agentes da crise energética..................................... 34 3.3 Impactos sócio-ambientais ................................................ 36 3.4 Setor econômico ............................................................... 41 4. CAPÍTULO IV — PESQUISA PRÁTICA, A EDUCAÇÃO AMBIENTAL .......................................... 45
  • 3. 9 4.1 Educação ambiental — EA ................................................. 45 4.2 Da aplicação em sala de aula .............................................. 47 CONCLUSÃO ............................................................................. 52 REFERÊNCIAS ........................................................................... 55 ANEXOS ..................................................................................... 58
  • 4. 10 Penso que não ter necessidade é coisa divina, e ter as menores necessidades possíveis é o que mais se aproxima do divino. Sócrates 469 a.C.— 399 a.C. (DIAS, 2001, p.24) INTRODUÇÃO Piraju está localizada na região Sudoeste do Estado de São Paulo, a 49º 22‘ 2‖ de longitude e 23º 11‘ 44‖ de latitude. Divide limites com 10 municípios: Fartura, Sarutaiá, Timburi, Ipauçu, Bernardino de Campos, Óleo, Manduri, Cerqueira César, Itaí e Tejupá. Possui área de 603 km2 e altitude de 591 m. O clima é subtropical úmido, com verão quente e inverno ameno, tendendo a úmido. Em seu aspecto físico, possui relevos colinares com baixas declividades na margem direita do Paranapanema; relevos de morros com declividades médias e altas na margem esquerda; morros tabulares na microbacia do ribeirão Neblina. A vegetação caracteriza-se pela floresta estacional semidecidual, isto é, a cobertura vegetal está ligada ao clima de dupla estacionalidade (duas estações bem definidas): uma tropical, marcada pelas chuvas intensas de verão e estiagens acentuadas, e outra subtropical, com ausência de secas, porém apresentando seca fisiológica causada pelas baixas temperaturas no inverno, que registram médias abaixo dos 15ºC. (AMBIENTE BRASIL, out. 2005). Manchas de cerrado na microbacia do Monte Alegre. Ponto mais elevado: morro das Três Barras, 932 m (altos da serra da Fartura). A população urbana é de 27.853 habitantes, taxa de urbanização de 87,04%. A densidade demográfica é de 46.22 hab./km2. Possui 8.164 domicílios urbanos e 1.617 rurais (dados Fund. SEADE, 2000). Nossa comunidade se mobilizou contra a instalação de uma quarta usina hidrelétrica no município. Mais precisamente, dentro de nossa cidade — até hoje corremos esse risco. Mesmo estando o local protegido por 5 leis municipais, dentre elas a que estabelece interregno de 20 anos (Lei municipal nº 2654, 12/09/2002) para se construir outra usina (no ano de 2003 entrou em funcionamento a terceira recém- construída).
  • 5. 11 É importante preservar porque este trecho, de aproximadamente 7 quilômetros, é patrimônio ambiental de nosso município — seu tombamento foi aprovado pelo Conselho Municipal de Meio Ambiente (Resolução 1, de 2 de agosto de 2002). Todo o esgoto de nossa cidade é cem por cento lançado "in natura" nas corredeiras do rio. A construção de lagoas de tratamento e a preservação do leito natural devem ser vistas como prioridades, ao invés de se formar um novo lago, que, em futuro próximo, se transformaria em um imenso depósito de dejetos humanos, agravando os riscos de contaminação por leishmaniose, febre amarela, hepatite, entre outras doenças. Por outro lado, o município de Piraju já possui três usinas hidrelétricas. Assim, já contribuímos bastante para o abastecimento de energia elétrica do país. O Paranapanema possui 10 usinas hidrelétricas em todo o seu curso. O rio tem 930 km e quase toda a sua extensão já está represada para produzir energia (à exceção do início do rio). O último trecho de 7 km é o que nos resta de rio natural. Do ponto de vista da riqueza ecológica, os peixes necessitam das corredeiras para a época da piracema. E sem corredeiras não há desova, e sem desova não haverá mais a piapara, a tabarana, o pacu, a piracanjuba, o dourado, dentre outros, inclusive o surubim (espécie rara e endêmica — de 15 milhões de anos —, um peixe pré-histórico). As matas ciliares já estão estabilizadas. As diversidades ali existentes garantem não só a qualidade da água, a estabilidade do solo, mas respondem pelo sustento dos peixes e da fauna local. Para os interesses econômicos do município, o ecoturismo é apontado como o grande filão. Esportes chamados radicais e competições náuticas em corredeiras fazem parte da nossa vocação. O turismo é o setor que mais cresce no mundo. Nossa história e nossa cultura também estariam comprometidas com a violação do rio. A região é repleta de sítios arqueológicos, todos cadastrados pelo Museu de Arqueologia e Etnologia da Universidade de São Paulo – Mae/USP. O povoamento se iniciou há 8.000 anos e seu valor histórico é, portanto, inestimável. Represar o último trecho de corredeiras seria, ainda, descaracterizar o rio e corromper nossa história — um dos significados do nome de nossa cidade, Piraju, tem origem em uma antiga aldeia, e surgiu da corruptela de Pi-rã-yú (alusão ao fundo do rio),
  • 6. 12 que significa fundo nivelado, estreitado, afunilado (em Guarani). No Salto do Piraju deu- se o ato da fundação da cidade, ele representa nosso marco histórico, nossa carteira de identidade. O alagamento levará ao assoreamento e à total descaracterização, será extinto o marco histórico da fundação de nossa cidade. Queremos preservar nossa identidade. Um dos caminhos para que a sociedade toda se volte (atente) para as questões pertinentes aqui tratadas é o conhecimento e a informação. Com este propósito o presente trabalho pretendeu colocar como objetivo geral uma contribuição para a sociedade sobre a necessidade de conscientização e participação na defesa de nossas riquezas naturais, ao mesmo tempo em que, no final de nossa pesquisa, buscamos despertar nos alunos de 6ª série da Escola Estadual ―Ataliba Leonel‖ estes mesmos ideais de preservação e conservação do nosso patrimônio ambiental, cultural e histórico. Preservação do patrimônio ambiental porque, também no local, existe uma espécie rara e endêmica (só ocorre ali) do peixe surubim — conforme laudo elaborado pelo dr. Paulo A. Buckup, professor Adjunto do Museu Nacional/Universidade Federal do Rio de Janeiro, em 27 de junho de 2002 —, pelas matas ciliares já estabilizadas, pela riquíssima fauna e flora ali existentes. Preservação do patrimônio cultural e histórico porque no Salto do Piraju se deu o ato da fundação de nossa cidade, é nosso marco histórico, é nossa identidade preservada. Acredita-se que desenvolver esse trabalho de conscientização, e conseqüentemente conseguir o envolvimento de jovens em idade escolar, significa, pedagogicamente, um avanço na construção da cidadania e no sistema ensino- aprendizagem, como também a integração da comunidade local à nova ordem mundial relativa ao meio ambiente — fóruns, encontros, cartas, conferências, declarações, orientações, tratados, seminários, congressos —, através das estratégias internacionais adotadas, voltadas à Educação Ambiental - EA. O homem modifica seu meio de modo degradado, em razão da falta de aplicação de uma política ambiental efetiva, ou seja, a lei existe, mas não é cumprida. O que há, ainda, é uma política de que o homem é o centro do mundo (antropocêntrica), e,
  • 7. 13 portanto, utiliza o ambiente de modo impensado, irrefletido, visando apenas às suas necessidades momentâneas. (DIAS, 2001, p. 215). É preciso rever nosso modo de vida em relação ao planeta Terra, na relação com o lugar em que vivemos. É preciso uma verdadeira mudança nos hábitos e costumes, na maneira como lidamos com o que é patrimônio básico para a vida humana: a água, a terra, o ar. Temos de repensar a atitude para com tudo o que nos rodeia. Há que se frear essa maneira "inconseqüente" de viver, agimos como se fôssemos a última geração a passar pelo planeta, sem respeito, cuidado ou zelo para com o que existe à nossa volta. É imperioso que reflitamos sobre nossos atos e atitudes diante da vida. Vivemos sem responsabilidades para com o mundo. (PARÂMETROS, 1998, p. 176-177). O sistema sob o qual vivemos determina nossos anseios em relação às nossas reais necessidades. Impõem-nos um modelo de vida de forma a não termos tempo para tantas reflexões e, muitas vezes, acabamos por agir sem questionar. Expressamos nossos pensamentos sem muita certeza do que realmente nos importa. E por esse caminho somos levados a consumir de maneira desenfreada, irrefletida, apenas para satisfazer nossos impulsos condicionados, que movimentam muitos interesses. É visto que neste modelo de desenvolvimento a energia elétrica é, sem dúvida, um dos principais alicerces, por isso, não é de hoje que convivemos com as pressões pela necessidade de geração de energia elétrica. Alegar a crescente demanda para justificar a construção de mais uma usina em nosso município não se sustenta, pois o problema energético no Brasil é muito mais profundo, e suas dimensões ultrapassam em muito a parcela que seria acrescentada. Já em perdas ambientais, históricas e culturais, essas são irreparáveis, simplesmente não possuem um valor que possa ser negociado, vide as lições do chefe Seattle: ... como é que pode comprar ou vender o céu, o calor da terra? Essa idéia nos parece um pouco estranha. Se não possuímos o frescor do ar e o brilho da água, como é possível comprá-los? (DIAS, 2001, p. 516). Lagos para todo lado, energia saindo e proporcionando o desenvolvimento dos lugares mais ricos do nosso Estado. E o nosso desenvolvimento, nossas expectativas com o possível? Querem nos condenar a um lago fétido, sem nenhuma chance de turismo de corredeiras, de esportes radicais. Querem determinar o fim de nosso sonho, querem
  • 8. 14 impor limites à nossa sobrevivência, querem somente o que querem e nada mais. Nossas águas geram energia elétrica desde 1937 e, ainda assim, nosso hospital, nosso asilo, nosso orfanato, nossa Apae e muitas outras instituições que servem à sociedade têm de pagar a conta, e caro. Não há sequer uma isenção. Não existe até hoje nenhum programa social efetivo em nossa comunidade. Essa visão de mundo, em que a organização só retira o que necessita e nada mais faz, quer somente as mãos e não todo o corpo do profissional, ou seja, onde não existe a responsabilidade com o local, há uma empresa "sem alma", como descreveu a revista Fortune. A instituição sofre de um inimigo interno e se espelha na frase de Henry Ford: Por que sempre fico com a pessoa inteira quando, na verdade, o que quero são apenas duas mãos? (apud A LIDERANÇA, 2000, p.10). Esse modelo ficou para trás, há que se ter responsabilidade e comprometimento sobre de onde se necessita tanto. Há que se perceber suas necessidades, olhar para além do limite das águas. Acredita-se que, ao trabalhar em sala de aula estas questões locais pertinentes, ajuda-se tanto no conhecimento adquirido pelo aluno, como na sua atuação e interferência como cidadão, que faz parte de uma localidade, de um país, de um planeta. E assim atua na história de seu lugar. Hoje, um aluno é considerado "excelente", só tira boas notas e, no entanto, ainda joga lixo no chão, destrói a fauna e flora, desperdiça água, luz, consome ao extremo, e assim vão se esgotando as reservas naturais do nosso planeta. (PARÂMETROS, 1998. p. 169). No momento, mais do que pensar em comprar, consumir, em desenvolvimento, é preciso pensar e atuar para a preservação e conservação da natureza. "O maior desafio para a sustentabilidade da espécie humana é ser ético em todas as suas decisões e relações" (DIAS, 2001, p. 21). Como diz o ‗Alerta dos cientistas do mundo à sociedade‘, com as assinaturas de 1.600 cientistas em 18 de novembro de 1992: Se quisermos parar a destruição do meio ambiente, devemos impor limites a esse crescimento... ( ) Devemos reconhecer a capacidade limitada da Terra em sustentar a espécie humana. Devemos reconhecer a sua fragilidade....( ) (DIAS, 2001, p. 381). Considera-se o trabalho de relevância, pois atinge diretamente a qualidade de vida da população e interfere na cultura local. A questão ambiental é uma preocupação mundial e a contribuição que a pesquisa traz para a área profissional reside no interesse
  • 9. 15 em atuar efetivamente no campo da educação ambiental, procurando desenvolver um trabalho de conscientização política e cidadã. Este projeto foi desenvolvido com a turma de 6ª série A da Escola Estadual ―Ataliba Leonel‖, situada na rua Nenê Freitas, nº 494, telefone (14) 3351-1197, em Piraju/SP. O trabalho foi aplicado no período de 8 a 22 de agosto do ano letivo de 2005. Pensa-se ser de muita importância tratar deste tema com a turma de 6ª série, formada basicamente por adolescentes com média de idade de 12 anos, fase ideal para que o estudante estabeleça os alicerces de sua cidadania e revele sua preocupação com os destinos de sua comunidade. Ao definir as etapas de desenvolvimento cognitivo, Jean Piaget classifica o Período Operacional Formal como a fase na qual a criança, aproximadamente a partir de 12 anos, já consegue pensar abstratamente sobre coisas abstratas. (PIAGET, 1976). O pensamento se torna livre da realidade concreta, ou seja, o adolescente já reúne as especificidades necessárias para compreender o significado universal dos valores e da cultura de sua comunidade. Pode, portanto, assimilar as questões enfatizadas durante a aplicação prática deste projeto. Para uma atuação enfática, tanto frente aos alunos na sala de aula quanto na pesquisa escrita, tomou-se como base a teoria humanista de Jacques Maritain. A teoria humanista é uma concepção do mundo e da existência, cuja questão central é o homem. O filósofo defende que o humanismo pode tornar o homem mais verdadeiramente humano quando manifesta sua original grandeza, quando participa de tudo aquilo de que possa, e assim desenvolver as virtudes contidas em si mesmo, suas forças criadoras e a vida da razão, e trabalhe no sentido de fazer das forças do mundo físico instrumento de sua liberdade. (www.cobra.pages.nom.br, Internet, 2001). O homem, em relação à natureza, não é apenas animal, mas também um animal de cultura, e sua espécie só sobrevive com o progresso da sociedade e da civilização na qual está inserido. O homem não progride em sua vida — intelectual e moral — sem a experiência coletiva (MARITAIN, 1959, p.15). O procedimento de abordagem do trabalho tomou como base o método Fenomenológico. A fenomenologia tende a buscar a essência das coisas. O significado atribuído às coisas não representa a realidade, necessita desenvolver a essência delas, então é importante perceber esse movimento do homem no momento em que ele
  • 10. 16 compreende as coisas, lhes empresta um significado, que parte de sua própria reflexão, vontade e consciência. Husserl propõe uma análise da consciência de forma profunda, que procure responder às questões no âmbito de sua epistemologia, de sua origem, do fundamento absoluto da lógica e da ciência (GILES, 1975, p.136). A fenomenologia está aberta e não dentro de um sistema acabado, fechado. O método procura descrever com fidelidade os fenômenos ocorridos a partir do que se encontra antes de qualquer ponto-de-vista, antes de se possuir um pré-conceito. Para essa filosofia, só pode ser aceitável o que pode ser verificável e justificável e, também, ser totalmente válido para todos os homens e para todas as épocas. O fenomenólogo está voltado ao significado do que seu espírito julga, afirma e vive, diferentemente do lógico, que se preocupa com as "condições". Difere também do sábio, que se preocupa através da "pergunta", e do psicólogo, que se volta "efetivamente para a consciência" de um determinado saber. A fenomenologia é uma ciência em contato direto com o ser absoluto das coisas, não se trata apenas de descrever o simples 'aparecer' das coisas, mas também de formular uma teoria do conhecimento (GILES, 1975, p. 137). De retornar à estaca zero do problema para que se encontre evidência e fundamentação. Para tanto, neste projeto buscou-se o ‗desconstruir‘ do pensamento de que a utilização do potencial hidrelétrico do rio em questão traz desenvolvimento e somente gera progresso à comunidade em que está inserido, visto que o projeto desejou explicitar e desmistificar toda a questão. Pretendeu discorrer sobre os pontos que cerceiam o problema para acrescentar um olhar mais apurado e assim colaborar para um efetivo ingresso nas discussões, saindo de vez do senso comum. Os procedimentos metodológicos utilizados na pesquisa em sala de aula foram: • utilização de 2 vídeos: ―Acqua‖ e ―Chega de Usina em Piraju‖; • artigo de jornal referente ao tema; • artigos sobre a fundação da cidade; • artigos de estudos do Dr. José Luiz de Morais (arqueólogo); • visita e aula-passeio ao Salto do Piraju;
  • 11. 17 • questionário de diagnóstico e conclusão • redação para verificar o nível de conscientização dos direitos políticos e de cidadania dos alunos, bem como da práxis de preservação ambiental.
  • 12. 18 CAPÍTULO I — RIO PARANAPANEMA (...) manifestaram grande preocupação e chegaram a falar que iriam fazer muitas fotos de toda a área para mais tarde recordar como eram as suas Terras... estão frágeis quanto às suas reais possibilidades de sobrevivência. (HELM, In: STIPP, 1999, p.13). — Sobre a reação da tribo Kaiagang, em 1995, ante a possibilidade de alagamento de suas terras, que acabou se concretizando, às margens do rio Tibagi, no Paraná. 1.1 Rio de águas intrépidas e velozes O rio Paranapanema possui várias nascentes que estão localizadas na Bacia do rio das Almas, na Serra do Paranapiacaba, município de Capão Bonito, a 903 metros de altitude, ao sudeste do estado de São Paulo. Tem uma extensão total de 929 km em um desnível de 570 m, desenvolvendo-se no sentido geral leste-oeste e desenvolvimento no rio Paraná numa altitude de 239 m. Localizado a aproximadamente 100 km da costa Atlântica, com latitude 24º 51‘ sul e longitude 48º 10‘, acerca de 900 m acima do nível do mar. (VARELLA, 2003, p. 2) A bacia está localizada dentro da fazenda Guapiara, de propriedade da empresa Orsa Celulose Papel e Embalagens, numa área de 2.884 hectares, sendo 1.229 hectares de reflorestamento. Essas terras integram a APA (Área de Proteção Ambiental) da Serra do Mar, e a mata nativa não pode mais ser tocada. (ZOCCHI, 2002, p. 17). Nascente das maiores águas, sua declividade é grande e ele corre rápido sobre as pedras negras, cortando formações basálticas e solo de terra roxa. Existe mistério até em seu nome. Paraná significa rio, em Tupi, e Panema é considerado imprestável ou sem valor. ―Paranapane‖, ou ―Parana Pane‖, ―Pabaquario‖ e ―Paraquario‖ são alguns dos nomes pelos quais era conhecido nos anos de 1600. A questão referente ao seu nome permanece aberta, pois não foi ainda realizado qualquer ―sério estudo etimológico‖. Por enquanto, apenas especulações: para alguns, seu sufixo negativo é devido a pouca navegabilidade (porém, os índios mais caminhavam). Há também a questão da pouca quantidade de peixes (será que os índios
  • 13. 19 comparavam rios tão longínquos?). É possível que a malária tenha feito sua (fama) rota, segundo o doutor José Luiz de Morais. (ZOCCHI, 2002, p. 22 e 23). Na enciclopédia ―Brasil histórias, costumes e lendas‖, editora Três, página 232, onde é focado o homem da Amazônia, com o título ―O mundo Mágico‖, é citado ―... A mente do homem se povoa de panema (medo)...‖. Segundo essa interpretação, ‗panema‘ significa ‗medo‘ na língua indígena, podendo ser um dos possíveis significados, devido à rapidez com que suas águas deslizavam sobre o basalto e também pelas inúmeras cachoeiras e corredeiras que permeavam todo o leito. Além de ser rápido, era considerado um ‗rio bravo‘ quando chovia. Aspiravam ‗domá-lo‘, ―estudar a sua navegabilidade‖, pois até 1886 era citado no mapa do Estado como lugar de ―terrenos desconhecidos e habitados pelos indígenas‖. Foi quando, na época, o governo da Província de São Paulo criou a Comissão Geográfica e Geológica, que pretendia mapear todo o rio, pois objetivava a ―expansão das lavouras de café‖. A expedição foi iniciada em 11 de abril de 1886 e, chefiada pelo americano Orville Derby, contou com 18 práticos e 3 cientistas, liderados por Teodoro Sampaio. (ZOCCHI, 2002, p. 27 e 28). 1.2 Características de um rio desbravado por Teodoro Sampaio no século XIX Teodoro Sampaio — historiador, geógrafo, etnógrafo, geólogo, engenheiro — desceu pela primeira vez as águas do Paranapanema quando ainda éramos a Vila de São Sebastião do Tijuco Preto, no ano de 1886 – em primeira expedição científica –, e foi recebido por Major Mariano Leonel Ferreira, que o ajudou no que pode, inclusive a engrossar o seu pessoal com três índios Caiuás, do aldeamento do Piraju, que eram muito práticos e conhecedores de todo o rio. (SAMPAIO, 1978, p.113). Quando chegam à Cachoeira do Jurumirim (até São Sebastião do Tijuco Preto, o rio serpenteia por 45 quilômetros, com 3 saltos e 39 cachoeiras – são 18 km em linha reta), acaba a seção desimpedida e tem início o trecho de maior dificuldade para navegação, com uma série de grandes obstáculos.
  • 14. 20 Para percorrer a distância do Salto dos Aranhas até a foz do ribeirão das Araras, são apenas três quilômetros; pelo rio, o trajeto ultrapassa os 18 quilômetros. A uma légua acima da Vila de São Sebastião do Tijuco Preto até o Salto dos Aranhas (finado Salto Simão, belíssimo local que hoje está aproximadamente há 60 metros sob o lago), a descida pelo rio se efetuou com grande dificuldade, vencendo as numerosas cachoeiras. Sampaio não tinha como se arriscar a descer pelas águas, preferindo vir por terra, pelas margens, até nossa Vila, pois o que se vê (via) é o trecho de um rio exageradamente, demasiadamente, excessivamente encachoeirado. Viera arrastando seus barcos até que encontrasse uma parte do rio mais praticável. Carros de bois puxavam as embarcações por terra, margeando o rio e cruzando um espigão de aproximadamente 60 metros de altura. (SAMPAIO, 1978, p.112). O Salto do Piraju fica a um quilômetro abaixo da vila, é uma queda de cerca de 2 metros de alto, apertadíssima entre grandes penedos, simulando as águas correrem quase subterraneamente. Estes passos estreitos são então freqüentes: cerca de 3 ½ quilômetros abaixo do Piraju, na barra do Córrego do Campanha, todo o Paranapanema, cujo volume é de cerca de 80 metros cúbicos de descarga por segundo, passa em apertado canal de pouco mais de 6 metros de largura; mais adiante outro estrangulamento do leito entre morros escarpados reduz a largura do rio a uns 20 metros, onde há fortíssima cachoeira. (SAMPAIO, 1978, p. 141). Hoje, ao contrário de seu traçado original, com o rio domado, o que se observa são lagos navegáveis, com águas calmas, paradas. Pode-se verificar que a utilização do potencial hidrelétrico leva à total descaracterização de um rio. 1.3 A defesa do Paranapanema: o Tombamento A sociedade pirajuense, preocupada com o destino de sua localidade, cria 5 leis para assegurar a integridade do último trecho natural do rio, que fica dentro de seu município, nas cercanias de sua cidade, e com isto determina o futuro que pretende para o desenvolvimento local, que é o turístico. A criação da Lei Municipal 2654/2002 determina um interregno de 20 anos para a construção de outra usina no município. Estabelece esse intervalo entre o término de
  • 15. 21 construção de uma usina hidrelétrica de iniciativa privada no território do município de Piraju e o início de construção de outra. Isto para que seja possível analisar corretamente os impactos da obra sobre o ambiente, e delegar aos futuros pirajuenses a decisão sobre a forma de preservá-lo. A Lei Municipal 2634/2002 cria o Parque Natural Municipal do Dourado, Unidade de Conservação e proteção integral de posse e domínio públicos do antigo Posto Agropecuário Municipal, que possui 48,40 hectares. No trecho do Parque do Dourado, o rio é habitado por espécies ameaçadas de extinção (piracanjuba, piapara, tabarana, pacu, dourado – símbolo de Piraju), que são, portanto, protegidas por lei. O Parque é administrado através de um conselho gestor e possui como objetivos básicos: I – A preservação de ecossistemas naturais de grande relevância ecológica e beleza cênica; II – A realização de pesquisas científicas; III – O desenvolvimento de atividades de educação e interpretação ambiental; IV – O estímulo à recreação em contato com a natureza; V – O desenvolvimento do turismo ecológico; VI – O estímulo de práticas econômicas compatíveis com a realidade ambiental existente, impedindo ações degradadoras; VII – A proteção da qualidade da água, dos recursos hídricos existentes e a contenção dos processos erosivos; VIII – A proteção do patrimônio arqueológico, histórico-cultural e ambiental-paisagístico do entorno. (Lei Municipal 2634/2002) A Lei Municipal 2547/2001 atribui responsabilidade e criação do Conselho do Meio Ambiente e Patrimônio Cultural – CMAPC. Este, por cumprir suas reais funções, define a Resolução n. 1/2002, do CMAPC, que aprova o tombamento do rio Paranapanema. Declara aprovado o tombamento do rio Paranapanema, patrimônio ambiental do município de Piraju, pois trata de um segmento de canal natural dotado de elementos de valor cênico, paisagístico e cultural para a comunidade. A lei leva em conta a autonomia do município nos assuntos de meio ambiente e patrimônio cultural e considera seu teor compatível com o interesse da localidade.
  • 16. 22 Que o tombamento é ato legítimo de proteção que representa o reconhecimento formal, pela comunidade, da importância do último trecho de canal natural do rio Paranapanema como patrimônio ambiental, dotado de elementos cênicos de valor paisagístico e cultural. Que a manutenção das condições naturais no trecho tombado atende às necessidades de manutenção da biodiversidade da ictiofauna ao longo do rio, expectativa compatível com o uso sustentável para fins turísticos de base ambiental, paisagística e cultural. (Resolução n. 1/2002). E define tombado o trecho situado entre a foz do ribeirão Hungria e a foz do ribeirão das Araras. No artigo 2º, inciso I, tomba o Salto do Piraju, tanto por seu valor cênico como por sua riqueza histórica, pois é lugar de memória, vinculado às origens do aldeamento guarani que dá nome ao município. No inciso II, inclui o tombamento do Parque Natural Municipal do Dourado. O inciso III, os sítios arqueológicos, que já estão protegidos pela Lei Federal 3924, de 26/07/1961. Conforme determina a Agenda 21, o município, pautando-se pelos acordos ambientais firmados internacionalmente, estabelece o Plano Diretor, através da Lei 2792/2004, Seção VII, que rege o município e declara como Zona de Urbanização de Interesse Ambiental, cuja área deve ser valorizada e preservada em suas características ambientais e paisagísticas. Desde o artigo 28 até o artigo 31, está definido como a cidade concebe seu próprio desenvolvimento sustentável. No artigo 31, capítulo II, está constituído: vedado o uso industrial, empreendimentos agroindustriais, usinas hidroelétricas e o parcelamento de solo para fins urbanos. Associações que contenham em seus estatutos a proteção ambiental podem acionar a Lei 7.347, de 24 de julho de 1985, que disciplina a ação civil pública por danos causados ao meio ambiente, a bens e direitos de valor artístico, histórico, turístico e paisagístico e outros interesses difusos e coletivos. O Ministério Público atua em defesa dos direitos difusos e coletivos. Face às providências tomadas pela sociedade pirajuense, fica evidente e determinada sua disposição de recusa ao projeto de implantação da Pequena Central Hidrelétrica Piraju II. Visto também que não foi verificado nenhum benefício real com a construção da Usina Piraju. A comunidade compreende, optou e criou leis para defender o desenvolvimento sustentável através do turismo, gerando benefícios para toda a
  • 17. 23 localidade, e não destruir o último trecho vivo de rio para beneficiar exclusivamente apenas o lucro de um grupo econômico. 1.4 Um peixe pré-histórico de 15 milhões de anos O Salto do Piraju, devido às corredeiras, possui em suas águas importante diversidade de peixes: a tabarana, a piapara, a piracanjuba, o pacu, o dourado, sendo este último, o peixe símbolo de nossa cidade. Ocorre também o surubim, que nesta parte do rio é encontrado com abundância. O que o torna diferente dos outros é que é um peixe raro, endêmico, ou seja, que só existe ali e em nenhum outro lugar. Vive nas corredeiras do Salto do Piraju há 15 milhões de anos, é um peixe pré-histórico e já consta na lista de animais ameaçados de extinção, sem mesmo ter sido catalogado pela ciência, conforme laudo expedido pelo Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro. O surubim pirajuense pertence à família Pimelodidae, ao gênero Steidachneridion, e foi provisoriamente identificado como representante da espécie Steindachneridion Scripta, cuja identificação é de caráter provisório, pois trata-se de material muito raro em coleções ictiológicas, espécie ainda desconhecida para a ciência. Ele possui a cabeça achatada, como o fundo do rio, nivelado, estreitado. A existência da espécie na bacia do Paranapanema enfatiza a necessidade de se tomarem medidas conservacionistas de forma a preservar os trechos de corredeira do rio visando evitar a possibilidade de extinção de uma espécie de excepcional valor biológico antes mesmo de sua descrição formal... sendo necessário, portanto, a manutenção deste tipo de ambiente para a sobrevivência da espécie. (cf. BUCKUP, Laudo de 27 de jun. de 2002). O exemplar foi examinado pelo professor Alberto Akama, mestre em Zoologia pelo Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo, e depois foi registrado na Coleção Ictiológica do Museu Nacional do Rio de Janeiro, catálogo n.º MNRJ 22742. Esse surubim é ―muito importante‖ para a ciência. Trata-se de uma espécie do gênero Steindachneridion, bagre da família Pimelodidae, considerado muito raro, ainda pouco se sabe, pois é uma espécie de difícil captura, que só vive em corredeiras.
  • 18. 24 É preciso realizar mais estudos, pois pode se tratar de uma das duas espécies que aparentemente existem nesse rio, e apenas uma delas, a Steindachneridion scripta, já foi descrita pelos cientistas, em 1918. O surubim pirajuense é uma espécie de peixe de couro que se diferencia dos que ocorrem no Pantanal, na Amazônia e no Rio São Francisco – estes pertencem ao gênero Pseudoplatystoma. Possui um colorido reticulado muito bonito no dorso — de onde advém o nome scripta; por possuir a cabeça achatada, é indício de que habita o fundo do rio (pois o relevo do Paranapanema é estreito, como um funil). Se parece com um jaú alongado e de cabeça chata. É um dos maiores peixes do rio, seu porte, quando adulto, pode atingir até um metro de comprimento e mais de quinze quilos. Foram encontrados fósseis desse gênero na região de Tremembé, São Paulo. Sua idade é calculada em 15 milhões de anos, aproximadamente. Segundo o professor Akama, embora o surubim tenha resistido milhões de anos, hoje o homem é a sua mais séria ameaça, pois esta espécie se encontra ―extremamente ameaçada de extinção‖, e as corredeiras estão localizadas em regiões densamente povoadas, onde os rios sofrem com a poluição e, principalmente, são barrados para a produção de energia elétrica. Ato contínuo, seu habitat é destruído, não sendo mais possível o ambiente propício para sua existência, pois essas espécies nativas dependem de corredeira para sobreviver. Sua reprodução e seus hábitos são ainda pouco conhecidos. Sua cabeça deprimida (achatada) é que indica o fundo do rio como seu ambiente. Outro ponto é que esta espécie era relativamente comum nos rios em que ocorria. A eliminação das corredeiras significa a extinção da espécie. Fica a pergunta do que é mais importante preservar, se é o habitat ou a espécie. Na realidade quando conservamos o ambiente natural, todas as espécies ficam protegidas; e mais, conservar o habitat é a única possibilidade de efetivamente se conservar espécies. (ROCHA et al., 2002. p. 255-267). Portanto, é fundamental que as corredeiras permaneçam para que todas as espécies sejam mantidas; para isso o rio precisa continuar a correr...
  • 19. 25 1.5 O rio precisa correr O rio Paranapanema passa por 34 cidades, onde vivem mais de 530 mil habitantes. E é o maior rio não poluído do estado de São Paulo. Possui um dia especial de comemoração só para ele: o ―Dia do Paranapanema‖ é comemorado todos os anos, em 27 de agosto. Foi instituído pela lei 10.488, promulgada pelo então governador Mario Covas em 29/12/1999. O rio Paranapanema é o nosso maior patrimônio natural. Juntamente com ele, as matas fornecem o equilíbrio perfeito ao ambiente. O represamento do rio causaria o alagamento dessa vegetação ciliar de mata atlântica. No local existem matas ciliares já estabilizadas, inclusive muitas em estados avançados de regeneração. Sendo cortadas e novas plantadas, nunca atingiríamos o estado atual de regeneração que a mata já atingiu até o momento. Esse trecho natural é único. (CHEGA DE USINA, 2003). As matas ciliares são responsáveis pela manutenção da qualidade da água, pela estabilidade do solo, evitam a erosão e o assoreamento do rio e também respondem pelo desenvolvimento e sustento dos peixes e da fauna local. Quando se faz o reflorestamento da margem de uma represa, o que se perde não são só suas matas, mas a diversidade de espécies existentes. As mudas produzidas em cativeiro pertencem a espécies de uma mesma família. A perda é grande e em vários pontos. O rio fica desprotegido até que suas mudas possam crescer, e isso levará quatro ou cinco gerações. Até lá, o rio terá suas águas cada vez mais rasas. À mercê do assoreamento, que significa a escassez dos recursos hídricos, à mercê de contaminações da água pela atividade agropecuária (adubos e defensivos) e industrial, sem falar no esgoto. Atualmente, um pássaro que sai de sua região e chega até as matas da beirada do rio carrega em suas penas uma semente diferenciada, o que garante a variedade de vida existente. As espécies animais são vitais para a diversidade. Com a destruição da mata ciliar, a polinização ficará comprometida, pois não haverá pássaros. E a diversidade estará comprometida por décadas. Quanto aos mamíferos retirados, a grande maioria acaba morrendo na captura ou logo após, por sua dificuldade de adaptação ao novo meio, ou por se tornarem presa fácil.
  • 20. 26 Piraju é uma das cidades mais ‗usinadas‘ do mundo. Nossa região possui quatro hidrelétricas em pleno funcionamento: as gigantes Jurumirim (98 MW) e Chavantes (414 MW), Paranapanema (32 MW) e a recém-construída Piraju (80 MW). Para a instalação desta última usina foi desmatada uma área de 295 hectares, o que representa mais de 300 campos de futebol, com 14 mil árvores de grande porte cortadas. A construção das barragens, entretanto, com o surgimento de grandes e sucessivos lagos onde havia apenas um curso d‘água, trouxe profundas alterações no regime hídrico e no ambiente em volta. Os grandes reservatórios – Chavantes, Jurumirim e Capivara – trouxeram modificações maiores: são lagos nos quais as águas ficam até 450 dias antes de sair. (ZOCCHI, 2002, p.72-74). Com essa intenção de barrar todo o rio, resultará um grande ‗lagoão‘, onde todo o ecossistema será alterado. O velho rio terá sido extinto, e em seu lugar existirão sucessivos lagos, onde a água ficará parada por pelo menos um ano e meio. Uma das conseqüências mais conhecidas dos barramentos é a modificação no teor de oxigênio. Nas épocas de estiada, a água acaba permanecendo por mais tempo no reservatório, ocasionando anoxia - carência de oxigênio. Nesse período, essa água sem oxigênio prevalece sobre a água do vertedouro, que, ao contrário, é rica em oxigênio – aquela que passa por cima da barragem, o que determina dois fluxos bem diferentes, um rico e outro pobre em oxigênio. Está comprovado que esses fluxos só irão se misturar por completo 40 quilômetros rio abaixo. Imaginem as alterações produzidas na biota aquática. (DIAS, 2001, p. 290-291). Essas modificações, inclusive na qualidade da água, transformam o habitat natural de seres vegetais e animais. Um dos peixes que dependem da mata ciliar para sua sobrevivência é o piracanjuba, que se alimenta de folhas e frutos das árvores e de insetos. Hoje, o sol e o fitoplâncton (parte vegetal, organismos sem poder de locomoção) passaram a ser a fonte de alimentação da fauna aquática, dada a interferência dos reservatórios, por conta do desmatamento da floresta e da distância das margens, que, de 100 metros passou a cinco quilômetros. (ZOCCHI, 2002, p. 82).
  • 21. 27 A formação de mais um lago também compromete seriamente o desenvolvimento e a sobrevivência destas espécies. Portanto, considerando a nova ordem ambiental mundial, torna-se imprescindível preservá-lo.
  • 22. 28 CAPÍTULO II — PIRAJU, NOSSA IDENTIDADE, NOSSAS RAÍZES E a história humana não se desenrola apenas nos campos de batalhas e nos gabinetes presidenciais. Ela se desenrola também nos quintais, entre plantas e galinhas, nas ruas de subúrbios, nas casas de jogos, nos prostíbulos, nos colégios, nas usinas, nos namoros de esquinas (...). Ferreira Gullar apud Nascimento, nov. 1983. 2.1 Povoamento da região do vale do Paranapanema: 8.000 anos Nossa região iniciou o povoamento há cerca de 8.000 anos, por nômades vindos da Patagônia (Argentina), que viviam da exploração da floresta, pela manufatura de artefatos da pedra lascada. Os estudos dos sítios arqueológicos revelam a presença dos guaranis em 500 e 1.030 anos, e dos umbus com 2.500 a 5.000 anos atrás. A reconstituição do modo de vida, tanto dos umbus quanto dos índios guaranis, pode ser estudada através do rigor na descrição das disposições das peças encontradas durante as escavações, o que determina seu modo de vida, seus hábitos e costumes. Com ocupação antiga e intensa, a bacia do Paranapanema é rica em sítios arqueológicos. Piraju centraliza os estudos na região, na Associação Projeto Paranapanema (Projpar). As pesquisas no vale vêm reconstituindo as características do povoamento humano ao longo de 8.000 anos. Durante milênios, caçadores-coletores nômades, chamados de umbus, peregrinavam pelas matas e vales, vivendo, sobretudo nos terraços formados logo acima das margens dos rios. Pedras lascadas e restos de fogueiras são os vestígios de sua presença. Os umbus viviam em bandos de 20 a 30 pessoas, mineravam rochas para a fabricação de utensílios e armas (como raspadores, pontas de flecha e facas) e sobreviviam da coleta de vegetais, caça e pesca. Vindos originalmente da Patagônia (sul argentino), encontraram no vale do Paranapanema um clima agradável, com alimento em abundância, e uma rocha particularmente boa para ser lascada – o arenito silicificado -, areia endurecida há milhões de anos em meio ao magma vulcânico. Há cerca de 2.000 anos, com a chegada dos guaranis, os umbus desapareceram subitamente – absorvidos, exterminados ou postos em fuga. (ZOCCHI, 2002, p.57). Os guaranis chegaram ao vale trazendo a cultura do milho, da mandioca e das ervas medicinais. Eles dominavam o polimento da pedra e tinham o costume de construir
  • 23. 29 aldeias nas colinas. Possuíam habitações, utilizavam grande quantidade de cerâmica e enterravam seus mortos em urnas funerárias. Eram mais avançados do que os umbus. Todo esse passado é revelado através do estudo de sítios arqueológicos que existem em abundância em nosso município. Os estudos foram iniciados em 1969, quando localizaram uma urna funerária pertencente aos guaranis. Estas culturas extintas são possíveis de ser conhecidas pela população devido ao trabalho de pesquisa da Associação Projeto Paranapanema, a Projpar, que é liderada pelo professor livre-docente em arqueologia brasileira pela USP, José Luiz de Morais. E, como já citado na introdução deste trabalho, o Museu de Arqueologia e Etnologia da Universidade de São Paulo – Mae/USP tem cadastrados todos os sítios arqueológicos identificados na região. A equipe de arqueologia é guiada pela tonalidade no solo, pelos vestígios, restos de comida, utensílios quebrados, cacos de cerâmica, onde é considerado o rigor na disposição das peças, a profundidade em que é localizado o sinal da presença dessas culturas antigas. As peças encontradas são analisadas por vários anos, e possibilitarão reconstituir o modo de vida da extinta cultura. Nossa região é tão rica em sítios arqueológicos que chega a possuir, em um único trecho de terra, quatro vestígios diferentes sobrepostos. Na superfície existem sinais da presença de guaranis há 500 anos; no segundo sítio, mais abaixo, as marcas de outros guaranis com 1.030 anos; no terceiro aparece um sítio umbu de 2.500 anos, e surge na outra camada, mais abaixo, novo vestígio dos umbus, comprovando 5.000 anos de história local. (ZOCCHI, 2002, p. 58-59). Toda essa riqueza histórica e cultural pode vir a se perder caso seja construída a quarta usina em nosso município. O alagamento de toda essa região o acesso aos sítios será impossibilitado. Com os sítios alagados o acesso será negado tanto para estudos como para a visitação da população. 2.2 A origem, o ―caminho da entrada‖ para a ―terra sem mal‖ Em torno de 1630, nossa terra era povoada pelos índios guaranis catequizados por jesuítas espanhóis, pois éramos terra espanhola através do Tratado de Tordesilhas.
  • 24. 30 O retorno das terras para o domínio português, e a extinção da controladora e poderosa Companhia de Jesus, aconteceu pelas mãos dos bandeirantes paulistas, principalmente por Antonio Raposo Tavares. (MORAIS, 1997, p. 4). Os índios guaranis vindos do rio Paraná rumavam para o leste em hordas messiânicas, pois procuravam ―a terra sem mal‖, que seria um ―paraíso mítico que devia ficar perto do mar‖. Lugar especial e importante, aqui, Teyquê-pê, para os guaranis, era o "caminho da entrada". O peabiru que passava por onde hoje é a nossa Piraju passou a ser novamente freqüentado. Era importante, e por isso tinha um nome especial – teyquê-pê – que significa ―caminho da entrada‖, numa clara referência aos limites dos sertões cobertos de matas fechadas do oeste paulista. (MORAIS, 1997, p. 4). O nome Teyquê-pê (palavra guarani composta por Teyquê – entrada, e pê - caminho) foi corrompido para Tijuco Preto, devido a possível semelhança fonética, pelos caixeiros viajantes e outros ‗cometas‘ (comerciantes que percorriam lugares distantes, cidades, povoados, com suas mercadorias em lombo de burro) que cruzavam esses caminhos. Segundo o autor, mesmo os moradores ‗encolhendo‘ os ombros quando proferiam o nome do lugarejo, numa clara demonstração de não acharem nada bonito, habituaram-se a chamar o lugar, e o nome ia se oficializando aos poucos. E, assim, esse era o nome pelo qual éramos mais conhecidos, o nome mais antigo do lugarejo: Tijuco Preto. (LEMAN, 1966, p. 21 e 22). (...) Havia, relativamente perto do Tijuco Preto, uma aldeia de índios guaranis, da tribo dos Caiuás, denominada ‗Piraju‘. Os índios ali se estabeleceram em 1845, vindos das barrancas do rio Paraná, perseguidos que estavam pela tribo aguerrida dos ―Coroados‖. Sendo de índole mais pacífica, preferiram os Caiuás abandonar as constantes lutas, indo procurar uma vida mais mansa na região do Paranapanema, onde sabiam existir abundante caça e pesca. (LEMAN, 1966, p.39).
  • 25. 31 Subiram pelo rio Paranapanema muitos Caiuás, que se dividiram em dois grupos. O outro grupo prosseguiu subindo o Itararé. Os que ficaram fixaram-se nas imediações do Tijuco Preto, estabelecendo ali a sua aldeia – a Aldeia Piraju. Assim, através da instalação de uma aldeia indígena nas proximidades do ainda inexistente lugarejo Tijuco Preto, ocorreu o primeiro fato, os primeiros passos no caminho da origem de nossa cidade. (LEMAN, 1966, p. 40). 2.3 Freguesia de São Sebastião do Tijuco Preto, Vila de São Sebastião do Tijuco Preto e Piraju No primeiro olhar do fundador Joaquim Antonio de Arruda, o terreno era desigual: descia e subia, a mata trançada, dura de atravessar, continuou descendo e, de repente, parou maravilhado. No fundo, entre barrancos rochosos, rápido corria e saltava o rio, o velho panema...‖ (LEMAN, 1966, p. 13). As terras de Joaquim Antonio de Arruda, João Antonio Graciano e Domingos Faustino de Souza faziam divisa e decidiu-se que cada um faria a doação de um terço de sua parte para a fundação de um patrimônio, o de ―São Sebastião do Tijuco Preto‖ (LEMAN, 1966, p. 26). Segundo o geógrafo e historiador José Luiz de Morais, a certidão de nascimento de Piraju se deu com a Lei Provincial 23, de 16 de março de 1871 (até então, povoado de São Sebastião do Tijuco Preto), quando a Capela foi elevada à categoria de ―Freguesia de São Sebastião do Tijuco Preto‖. Registrada no Livro de Registro de Provisões da Mitra Diocesana de São Paulo, livro 32, página 22, em 29 de agosto de 1872. E definia apenas a margem esquerda do rio, pois a atual vila Tibiriçá era município de Botucatu. (o mapa está no anexo). Quando nos tornamos município, ―nossa maioridade‖, aconteceu em 25 de abril de 1880 com a Lei Provincial 111, que elevou a freguesia à condição de ―Vila de São Sebastião do Tijuco Preto‖. Foi quando ganhamos prefeitura e câmara de vereadores. (Está anexo, o mapa).
  • 26. 32 A mudança de nome para Piraju deu-se através do decreto 200, de 6 de junho de 1891, cuja indicação foi atendida e assinada pelo presidente do Estado, Américo Brasiliense de Almeida Mello. O pedido partiu da câmara municipal, mais precisamente pelo intendente Benedito da Silveira Camargo, que alegou ser este o verdadeiro e primitivo nome. (LEMAN, 1966, p. 93 e 94). Segundo Camargo, Piraju é o verdadeiro e primitivo nome porque a aldeia dos Caiuás, que aqui se estabeleceram por volta de 1845, era denominada ‗Pi-rã-yu‘, cujo significado em Guarani é fundo do rio "nivelado, estreitado", e Piraju, segundo Leman, com a pronúncia somente parecida com a que usamos, significa, em Guarani, peixe amarelo, o dourado, e foi assim oficializado (LEMAN, 1966, p. 40 e 93). Em 20 de agosto de 1892 foi a ascensão a Comarca, e em 20 de janeiro, no dia do padroeiro São Sebastião, é quando se comemora o aniversário. (CÁCERES, 1998, p. 13). Nossa origem está ligada ao Paranapanema, e não é à toa quando Zocchi cita que, de todo o curso do rio, da nascente à foz, somos a comunidade mais irmanada com o rio, seu leito está cravado no meio de nossa cidade. Sim, desde o útero de nossas mães ouvimos o rio correndo veloz. Fazemos parte de seu trajeto e ele, de nossas vidas. (ZOCCHI, 2002, p. 52). A história e cultura de uma comunidade é o que a sustenta, alicerça-a, fá-la prosperar e se tornar reconhecida. Preservar é o maior respeito que pode se oferecer a um lugar. Sem referência, o homem perde também a confiança em si mesmo. Compreender a memória é reconhecer nossa própria construção (PARÂMETROS, 1998, p. 147). Na paisagem é que estão inseridas as marcas da história de uma sociedade. E lugar é o espaço onde as pessoas criam vínculos afetivos e subjetivos. Cidadania não se resume a direitos e deveres, há o ―sentimento‖ de fazer parte de um local, de estar afetivamente ligado, ser responsável e comprometido historicamente. Somos parte integrante do ambiente de nossa cidade. (PCN-Geografia, 1997). O fato de sermos uma pequena comunidade não é determinante, não nos reduz à subserviência, à discriminação e ao preconceito. Realmente é uma afronta, indigno e
  • 27. 33 injusto, a todo o momento termos de dizer que já demos nossa contribuição para a geração de energia, e que agora pretendemos dar outro destino às corredeiras, que eliminá-las para sempre.
  • 28. 34 CAPÍTULO III — UTILIZAÇÃO DO POTENCIAL HIDRELÉTRICO (...) não compreendemos que todos os búfalos sejam exterminados, os cavalos bravios sejam todos domados, os recantos secretos da floresta densa impregnados do cheiro de muitos homens, e a visão dos morros obstruída por fios que falam. Onde está o arvoredo? Desapareceu. Onde está a água? Desapareceu. É o final da vida e o início da sobrevivência (...). Chefe Seatlle (DIAS, 2001, p. 517). 3.1 Salto Grande: 40 anos após a implantação da usina Se antigamente era considerado fator de progresso, hoje a implantação de uma hidroelétrica não traz euforia alguma para a comunidade, segundo artigo de Natal Joaquim Varella que discorre sobre estudo elaborado junto à cidade de Salto Grande (SP), onde foi construída a primeira usina hidrelétrica no rio Paranapanema, em 1958. O estudo relata o destino, os resultados colhidos pela cidade após 40 anos da instalação e funcionamento da usina. A construção durou de 1949 a 1958 e movimentou a cidade, gerando muitas esperanças de desenvolvimento para a comunidade com o comércio movimentado, ao mesmo tempo em que a cidade perdia definitivamente suas cachoeiras. (VARELLA, ano apud GIAVARA, 2001, p.145). Cabe salientar que neste período a cidade passou da euforia com a construção da usina ao esquecimento. E que hoje, 40 anos depois, convive com inúmeros problemas ambientais gerados pela barragem. (VARELLA, p. 2003, 1). (...) com o represamento inúmeros problemas ambientais passaram a ocorrer em torno do lago, como o aparecimento de construções irregulares junto às margens, agravando a contaminação das águas, bem como eliminando a mata ciliar, contribuindo com o assoreamento da represa. (2003, p. 1).
  • 29. 35 Será que pretendemos para nós, pirajuenses, um futuro de sufoco com administração dos problemas ambientais cada vez mais graves, como Salto Grande, ou partir para um caminho onde o desenvolvimento ainda seja viável através do turismo? O desenvolvimento que deveria acompanhar e possibilitar o crescimento da cidade na verdade movimenta os grandes centros urbanos. Sai a energia das águas de Salto Grande e vai desenvolver as cidades mais prósperas do estado, deixando inúmeros problemas ambientais que demandam tempo e custos altos para serem solucionados. (VARELLA, 2003, p. 11). Algo fica, a degradação, a erosão das barrancas, uma água cada vez mais insalubre. O déficit fica, o prejuízo é nosso. É bem parecida a situação de Piraju com a de Salto Grande. O reservatório está localizado dentro do município e 70% não possuem coleta de esgoto, e os 30% restantes são lançados no pequeno afluente ―Rio Novo‖. Os impactos são maiores em relação à qualidade da água e à erosão, por ser área de exclusiva atuação agropecuária, os potenciais erosivos da borda do reservatório é considerado ‗muito crítico‘, segundo avaliações da empresa Duke Energy. (VARELLA, 2003, p. 9). A qualidade da água do reservatório é diretamente afetada pelos esgotos domésticos, pelos esgotos industriais, pelos fertilizantes agrícolas muitas vezes utilizados de forma irregular e materiais particulados de origem industrial. A atividade de exploração das mineradoras também é fator determinante no resultado da qualidade da água, pois foi examinado e há irregularidades, desde a obtenção da autorização da licença ambiental aos maquinários em péssimo estado de conservação, às faltas de equipamentos que acomodam a areia retirada, que acaba voltando ao reservatório. Há também a parte de recreação pela população local e das cidades vizinhas, como Ourinhos. Os ranchos nas margens da represa, (...) portanto toda esta infra- estrutura acaba por interferir na qualidade da água(...) (2003, p. 10). Varella enfatiza que todo esse passivo ambiental é o resultado da proliferação das algas, devido ao lançamento do esgoto sem qualquer espécie de tratamento, das
  • 30. 36 mineradoras e da infra-estrutura turística precária, o que afetará o reservatório, e também o sonho da prefeitura de transformar a cidade em uma estância turística. (2003, p.11). No passado, a construção de uma hidrelétrica gerava não apenas euforia na cidade, mas também a possibilidade de crescimento e desenvolvimento do local. Todavia, os resultados analisados hoje, após quarenta anos, são de perdas: (...) a cidade perdeu parte de sua população, teve sua área urbana desfigurada pela mudança da ferrovia, não avançou no desenvolvimento industrial, algo esperado, pois a usina poderia produzir a energia necessária ao seu crescimento econômico, mas a contrário a energia é levada aos grandes centros urbanos paulistas. Atualmente a cidade tem como herança inúmeros problemas ambientais, que demandam tempo e custos altos para serem solucionados. (2003, p. 11). As ‗heranças‘ deixadas pela usina para Salto Grande foram grandes problemas ambientais de difíceis soluções, pois implicam em altos investimentos e muito tempo para ser contornados. No momento, o poder público estuda saídas no sentido de contornar os problemas, como aumentar a compensação financeira e implementar o turismo aproveitando as águas do reservatório. (p.11). Transferindo para o nosso município, quem arcará com o déficit ambiental daqui a 40 ou 50 anos? O município, muito provavelmente, e quanto à geração de energia, seu empreendedor não arcará com nenhuma responsabilidade social e ambiental, e continuará desfrutando da força das águas para expandir seus negócios e lucros, como se não tivesse nada a ver com a questão. Os Pcn´s expressam muita preocupação em relação ao modo como estão sendo tratados os recursos naturais e culturais no Brasil; existe um real descaso com o ambiente no momento em que retiram o que necessitam para sua produção, seja agrícola, industrial, comercial. Muitas vezes o lucro existe somente para um grupo econômico e não é raro residirem bem distante do local carregando consigo toda riqueza e no lugar acabam deixando uma degradação ambiental que fica muito caro tanto aos cofres públicos como para a saúde da população. (PCN Meio Ambiente, 1997, p. 25).
  • 31. 37 Os prejuízos ambientais são gravíssimos e no longo prazo tudo piora. E teremos a responsabilidade de gerir esses prejuízos. Como se fôssemos os responsáveis. O cofre do município não é determinante para minimizar os impactos negativos que tendem somente a se agravar com o tempo. No livro de Ribeiro (2001), somos voltados para a responsabilidade exigida hoje das empresas na relação com o meio ambiente e os problemas gerados pela sua atuação. É possível verificar os caminhos exigidos para que uma empresa possa pleitear o certificado da série ISO 14000. Este certificado (selo) atenta tanto para as ações da empresa no sentido de reduzir os problemas ambientais gerados pelos seus processos produtivos, como analisa os impactos ambientais de seu produto, desde as fontes energéticas que vai consumir, passando pelos materiais, sua vida útil e destinação após o uso. Volta-se também para a questão das conseqüências: Outra inovação importante da série ISO 14000 é que a responsabilidade jurídica de possíveis problemas ambientais fica para o proprietário (ou acionista majoritário) da empresa, em vez de recair isoladamente sobre um técnico. (RIBEIRO, 2001, p. 135). Neste momento fica-nos a reflexão a respeito das implicações de um modelo de desenvolvimento pautado exclusivamente no crescimento econômico (RIBEIRO, 2001, p.110), e qual será o limite a ser suportado (pelo ambiente), por todos nós, é a pergunta que devemos fazer. 3.2 Os três agentes da crise energética O Brasil ingressou na era da energia elétrica no final do século XIX, através da utilização do potencial hidrelétrico. De lá para cá, com uma necessidade constante e progressiva, esse modo de produção de energia foi ampliado vertiginosamente. Com essa intensidade toda na construção das obras, o desenvolvimento tecnológico que o setor trilhou entre as décadas de 60 e 80 foi gigantesco. Porém, é justamente na década de 80
  • 32. 38 que aparecem dois fatos que alteram a dinâmica da produção hidrelétrica, tanto mundial quanto brasileira. O primeiro e mais determinante foi o endividamento do país, que, entre outros efeitos, elevou juros, inviabilizou empréstimos, engessou a economia, e o segundo, a influência na área ambiental de organizações internacionais que pressionam instituições também internacionais de financiamento, como BIRD, BID. Conseqüentemente, houve uma paralisação de 10 anos nos empreendimentos. Já a partir de 1997 e 1998, os investimentos foram retomados, resultantes da aprovação de um conjunto de leis ambientais e também da entrada do mercado privado no setor — Alcoa Alumínio S/A, banco Bradesco, Cia. Cimento Itambé, Companhia Brasileira de Alumínio (CBA), Consórcio TRACTEBEL/GERASUL, CPFL, CSN, e Grupo Odebrecht são algumas das empresas que atuam na utilização do potencial hidrelétrico brasileiro. Todas essas leis e resoluções sobre a questão ambiental foram determinantes e cruciais para tratar do desenvolvimento social e econômico, acabando por determinar como definição mundial que não basta desenvolvimento, é preciso conservação e preservação da natureza. É preciso penalizar os infratores e divulgar essas ações, pois sofremos com a falta de cultura de nosso povo e, conseqüentemente, a ausência de uma rígida fiscalização acompanhada de punição. (ROSS, 1999, p. 20-22). No modelo atual de desenvolvimento, nossas sociedades apresentam demanda crescente, para a saúde, o lazer, o conforto, como também para os crescimentos industrial, urbano e agropecuário. A energia elétrica funciona também como indicador do nível de qualidade de vida. O que não podemos deixar de lado são os efeitos do homem sobre a terra, a água, a atmosfera, a flora e a fauna. O modo de produzir energia através de barramento de rio já levou à expulsão de terras de 80 milhões de pessoas no mundo. Possuímos no país mais de duas mil barragens, e há uma previsão do governo federal de construir mais 500 hidrelétricas, o que acabaria por expulsar de suas próprias terras mais de 800 mil pessoas. Um dos impactos ambientais negativos mais flagrantes gerados pela imposição das barragens é a falta de consideração em relação aos impactos sócio-culturais e biopsíquicos que sofrem os povos ribeirinhos, indígenas, e a comunidade local, que
  • 33. 39 acabam por sofrer modificações e transformações profundas na sua maneira de viver, de cultivar suas tradições e na relação direta com suas terras. (DIAS, 2001, p. 291). O estrago econômico e social é grande, particularmente em nossa região, onde possuímos grande densidade populacional, e terras férteis inutilizadas pelos alagamentos. A qualidade da água procedente de barramentos, que abastece as comunidades dos municípios atingidos por represas, também fica comprometida pela decomposição das árvores no fundo do reservatório. Em escala global, o apodrecimento da vegetação submersa provoca grande emissão de gases, como o carbônico e metano, que são os grandes vilões do aquecimento da atmosfera, o popular efeito estufa. A crise energética brasileira possui três agentes. O primeiro é o modelo excludente de produção e consumo: nesta ordem, a energia é disponibilizada para movimentar indústrias e, depois, para quem pode pagar. As maiores consumidoras são as empresas eletrointensivas, que atuam na fabricação de alumínio, cimento, papel, zinco, níquel, metais não ferrosos, química, ferroligas, cloro, entre outras. O segundo é o governo federal, que não investe em planejamentos e pesquisas, e reafirma o modelo excludente através da privatização do setor para empresas nacionais e multinacionais, ou seja, confiando alguns dos nossos recursos essenciais — a água, a terra e a energia. O terceiro são as empresas que se utilizam do sistema para lucrar, tanto na produção como no consumo de energia. Outro aspecto relevante é a forma monogeradora de produção: 92% da energia gerada no país provêm de hidrelétricas. (MAB, ago. 2005). No entanto, é preciso que a sociedade pirajuense saiba exatamente a dimensão dos impactos sócio-ambientais e de outros problemas que ela estará assumindo caso se concretize a implantação e funcionamento da quarta hidrelétrica no município.
  • 34. 40 3.3 Impactos sócio-ambientais No caminho do desenvolvimento, seja de uma localidade ou de um país, não cabe mais atuar de forma impensada e insensata. É preciso analisar todas as alternativas antes de fazer a natureza pagar o preço, ante o momento de intenso consumo e degradação enfrentado pelo planeta. São muitos os impactos que sofrem o meio ambiente e a comunidade quando da utilização do potencial hidrelétrico de um rio. A forma descontrolada de uso dos recursos naturais pode levar a graves e profundos problemas ambientais. É preciso saber, estar atento para com o que se perde, e assim verificar as extensões dos danos. (STIPP, 1999, p. 93). Os meios físicos, bióticos e sócio-econômicos sofrem intensas e irreversíveis alterações. É importante enfatizar o artigo de Ross (1999, p. 24-27), Hidrelétricas e os impactos sócio-ambientais, em que discorre sobre os efeitos das barragens ao ambiente nas fases de construção, de enchimento e operação do reservatório e término da construção. Na fase de construção, os impactos diretos no meio físico-biótico iniciam-se com os desmatamentos para a abertura de estradas, instalação de canteiros de obras, alojamento e vila residencial, e terraplenagem para instalação das obras de apoio: cortes e aterros, interceptação de drenagem e alteração das cabeceiras ou bacias de captação. Há também o prejuízo ambiental provocado pelos serviços de construção dos diques e barragens no leito principal e nos pontos de fuga de água; extensas áreas de empréstimo – abertura do canal de desvio do leito fluvial; cortes no solo e na rocha; grande volume de rejeito de fragmentos de rochas e de material de alteração que não se prestam ao uso em aterros. E observa-se, ainda, a intensificação da atividade de caça e pesca nos arredores do empreendimento, que pode levar ao desaparecimento local de espécies animais. Especificamente no âmbito sócio-econômico, os efeitos da obra provocam alterações marcantes no perfil da comunidade atingida. A acentuada demanda de mão- de-obra para construção civil implica na inserção de um contingente expressivo de homens, procedentes de outras regiões, à população local — tal migração potencializa o
  • 35. 41 surgimento de focos de prostituição. O repentino aumento populacional favorece o surgimento de moradias precárias e favelamento. O comércio legal é incrementado pelo crescimento do consumo, mas o comércio clandestino também se intensifica. A mão-de- obra local é parcialmente absorvida para serviços de serventes e auxiliares, mas a construção atrai a mão-de-obra agrícola, o que reflete nos números da produção agropecuária da região afetada. Vale ressaltar outras conseqüências da fase de construção, como a interferência na procura por escolas, professores, serviços médicos e hospitais, a mudança nos hábitos sociais da população local, conflitos entre residentes e novos moradores, aumento de preços de mercadorias e serviços, maior volume do tráfego (circulação mais intensa de veículos de serviços e de transporte urbano), deficiência na infra-estrutura para atendimento da nova demanda — água tratada, esgotos, energia, habitação, escolas, hospitais. A fase de enchimento e operação do reservatório provoca outra série de impactos diretos no meio físico-biótico: toda a área a ser inundada precisa ser desmatada; extensas áreas de terras férteis são ocupadas pela água; um volume considerável de biomassa vegetal é eliminado; a fauna terrestre e as aves são afugentadas ou mortas; o regime fluvial do rio sofre alterações; a vazão é regularizada; o meio aquático, antes de água corrente, passa a lacustre (água parada); há modificações na qualidade da água e dos peixes; recursos minerais que poderiam ser aproveitados no futuro são submersos; o aparecimento de extensos remansos de águas rasas possibilita o assoreamento e a proliferação de insetos; a comunicação terrestre fica dificultada pelo surgimento de áreas de península e ilhas; as margens são afetadas por deslizamentos e erosão; o nível das águas sofre ressecamento ou rebaixamento. Igualmente nesta fase, não há como ignorar os impactos diretos no meio sócio- econômico: populações ribeirinhas rurais e urbanas são desalojadas; bens de valor cultural, afetivo e religioso sofrem interferência; sítios arqueológicos são inundados; em muitas regiões, populações nativas e aldeias indígenas são desalojadas; com a inundação das terras agricultáveis, a pequena propriedade rural torna-se economicamente inviável; a circulação e a comunicação entre comunidades vizinhas ficam dificultadas pela formação do grande lago; muitas famílias de origem rural sofrem desestruturação quando são
  • 36. 42 transferidas para áreas muito distantes; criam-se condições para a concentração fundiária em regiões caracterizadas por pequenas e médias propriedades rurais; ocorre um falso ―boom‖ de desenvolvimento local, que caminha para o esgotamento com o fim da construção e a entrada em operação. Com o término da construção, outros impactos são observados, especialmente de ordem sócio-econômica: acentuada liberação da mão-de-obra temporariamente absorvida no decorrer das obras (desemprego); a economia local é abruptamente desaquecida, com reflexos negativos imediatos, como a ociosidade ou subemprego da mão-de-obra local, queda do nível de renda, desocupação de grande número de residências. Concluída, a obra também deixa um saldo indesejável no setor de infra-estrutura, com equipamentos ociosos e o esvaziamento demográfico provocado pela forte emigração urbana. É importante insistir na análise das observações de Stipp (1999, 89-94) a respeito dessas mesmas transformações: As transformações no meio físico: • Alterações climáticas: mudanças no clima local, variação da umidade relativa do ar, alterações no comportamento do ciclo de chuvas; • sismicidade induzida: técnicas utilizadas durante a obra (explosões, uso de maquinário pesado), desmatamentos e alagamentos podem intensificar a ocorrência de terremotos de uma região; • elevação do lençol freático: com o aumento do nível da água a montante das barragens, cresce também o nível do lençol freático, o que pode levar à sua contaminação e o conseqüente comprometimento da qualidade da água; • assoreamento do reservatório: devido ao desmatamento das barrancas, o acúmulo de terras no fundo do reservatório leva a um lago cada vez mais raso, o que dificulta também a oxigenação da água;
  • 37. 43 • retenção de nutrientes no reservatório: o represamento provoca a retenção de nutrientes pela barragem, o que, a jusante dela, implica em uma carência desses nutrientes, obrigando os proprietários de terras a realizar correções de solo para compensar as perdas dos minerais retidos nas áreas inundadas; As transformações no meio biótico: • alterações na composição da fauna: a vida dos peixes não é a mesma quando um rio se transforma em lago, é difícil a adaptação neste novo habitat de águas paradas, o que gera a extinção de várias espécies originárias de corredeiras; Os ovos dos peixes em geral morrem no fundo do reservatório, pois afundam à grande profundidade, a falta de correnteza deixa espécies como pacus com muita gordura, e eles precisam do esforço físico da migração, que queima a gordura, para desenvolver o ovário, as barragens amortizam as mudanças no regime hídrico que detonam o gatilho da reprodução, como o aumento da temperatura. (ZOCCHI, 2002, p. 80). • interrupção da migração dos peixes: não há como o peixe ‗pular‘ a montante através da escada da barragem para peixes e depois trilhar o caminho de volta, ou seja, o peixe não consegue localizar os degraus no meio da represa para sua descida, acarretando assim o despovoamento a jusante do rio; • mortandade de peixes a jusante durante o enchimento do reservatório: com o fechamento das comportas, a vazão a jusante diminui drasticamente, impossibilitando a sobrevivência das espécies nativas de corredeiras; • deslocamento de animais durante o enchimento: a fauna é toda retirada e inserida em novo habitat. O que na realidade ocorre é que nem todos são retirados, e os poucos que o são, ou morrem devido ao estresse da locomoção ou por não conhecerem a nova morada, tornando-se assim presas fáceis. As transformações no meio sócio-econômico:
  • 38. 44 • disseminação de doenças: a água parada do reservatório é um estímulo ao aparecimento de vetores de doenças de propagação hídrica, o que se constitui em um dos mais graves e custosos problemas para a sociedade, o aumento de doenças como leishmaniose, febre amarela, dengue, diarréia, cólera, hepatite; • elevação de preços de terras e residências: aumento do custo de vida para a população local (aluguéis, compra de imóveis rurais ou urbanos); • desaparecimento de prédios e sítios de valor cultural arqueológico e estético: a total eliminação de locais históricos e culturais, descaracterização do rio, inundação de importantes sítios arqueológicos, descaracterização da paisagem cênica e do lugar são alguns dos prejuízos, os quais já foram tratados nos capítulos I e II deste trabalho. Todos esses impactos decorrentes da utilização do potencial hidrelétrico apontam para a imperiosa necessidade de evitar essa homogeneização, também do rio; essa transformação do ambiente acarretaria um ponto final no desenvolvimento para a localidade. Toda a comunidade estaria condenada a sobreviver sem perspectivas reais de expansão e crescimento econômico. O lugar de memória, de história e de cultura desapareceria para sempre, juntamente com o surubim pirajuense e também todas as outras espécies de fauna e flora, desamparada ficaria a própria história do local, culminando no esquecimento e na extinção de todas as origens e identidade do cidadão pirajuense. 3.4 Setor econômico Piraju conquistou o título de Estância Turística em 8 de julho de 2002. O grande sonho só foi possível devido ao potencial natural que a cidade possui. Esse título é fruto da vontade política e denota também que o desejo de desenvolvimento da população está diretamente relacionado com o rio, o rio de corredeiras, dos esportes de aventura capazes de atrair e conquistar turistas de muitas regiões do Brasil e do mundo. A pista de slalom (esporte de corredeira) que funciona no Salto do Piraju é classificada por atletas e treinadores entre as de maior grau de dificuldade em todo o país, uma raridade para a prática do slalom, de acordo com os aficcionados desse
  • 39. 45 esporte. O auxiliar-técnico da Seleção Brasileira de Canoagem, Odilon Dias, afirma que o local representa uma das três melhores pistas de slalom-canoagem com obstáculos do Brasil. Dias elogia o trecho de corredeiras do rio Paranapanema em Piraju pela qualidade das águas e pela privilegiada beleza paisagística ao redor. As trilhas na mata ainda são pouco difundidas e exploradas. O turismo ambiental de nosso município é caminho certo e lucrativo. Crescimento sustentável através do turismo ecológico. Barrar o último trecho vivo do rio em nosso município significa pôr fim às expectativas de crescimento e geração de emprego para a cidade, pois a recém- inaugurada Piraju I gerou durante sua construção apenas 350 empregos temporários, que já não existem mais. É importante salientar que o município de Brotas/SP, com aproximadamente 20 mil habitantes, possui um rio de corredeiras e fatura anualmente mais de 4 milhões de reais com o turismo profissional e qualificado. Hoje, funcionam em Brotas 14 agências de turismo, dentre elas a pioneira ―Mata‘Dentro‖. Piraju necessita das corredeiras para implementar efetivamente o turismo. A sociedade é soberana para decidir sobre seu destino. Cabe à nossa população decidir, visto que o represamento ocuparia somente terras do município, e não deixar ser decidido por pessoas de fora, que não vivem aqui e que estão aqui somente com vistas ao lucro. Há que se destacar também que a cidade possui um rio de onde provém a utilização de potencial energético particular e, ainda assim, as entidades filantrópicas que atendem à sociedade local, como Apae, asilo, hospital, escolas, não são isentas do pagamento da conta de luz. Tampouco existem outros programas sociais de relevância para a comunidade. De acordo com informações apresentadas pelo atual prefeito de Piraju, Francisco Rodrigues, durante reunião realizada na Câmara Municipal, em outubro de 2005, nossa cidade recebe aproximadamente 75 mil reais mensais de royalties por suas áreas represadas. Somente a conta de luz do município (90 mil reais) ultrapassa esse valor. Os impactos negativos gerados pela utilização do potencial hidrelétrico jamais poderão ser sanados diante da falta de perspectiva de crescimento da cidade, haja vista que esse tipo
  • 40. 46 de empreendimento não traz desenvolvimento para o local em que é gerada a energia, sem mencionar o fato de que, com o tempo, tudo tende a se agravar. Vide capítulo 3.1 com o exemplo do estudo realizado em Salto Grande – SP, em 2003. As indústrias brasileiras pagam apenas a metade da conta de luz, e é exatamente onde ocorre o maior índice de desperdício, gastam sem consciência. Se o setor industrial pagasse o mesmo que os consumidores domésticos pagam, já haveria racionamento, porque teria de economizar, uma vez que são as indústrias as maiores consumidoras de energia elétrica do país. (STIPP, 1999, p. 90). No Brasil, 17% da energia elétrica gerada são desperdiçados, devido também à má conservação dos fios e cabos da rede de distribuição. Somente nas indústrias o desperdício é de 25%. Lâmpadas acesas sem necessidade, equipamentos antigos, banhos demorados e máquinas desreguladas são os principais responsáveis pela perda de 5 bilhões de dólares por ano. Oito mil dólares é o preço para se instalar um novo chuveiro elétrico e, no mundo, somos a única nação a utilizá-lo. (DIAS, 2001, p. 529). A energia eólica, por exemplo, gerada pelo movimento do ar (vento), é considerada a forma mais limpa para se conseguir energia elétrica. Vários países já vivem esta realidade, dentre eles, Alemanha, Dinamarca, Estados Unidos, Índia e Espanha, que são os pioneiros na utilização da energia eólica para uso comercial e industrial. Registram, inclusive, uma expansão de 66% em relação ao ano anterior. A energia eólica já é utilizada também no nordeste brasileiro, no litoral do Ceará, onde aproximadamente 160 mil pessoas são beneficiadas. Outros estados trilham pelos mesmos rumos do Ceará nesta empreitada: Paraná, Santa Catarina, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Pernambuco e a Ilha de Marajó, no Pará. O Brasil tem excelente potencial eólico, de acordo com estudos atualizados. Portanto, é viável a produção de eletricidade a partir da energia dos ventos. Essa forma de captação concorre com as centrais hidroelétricas, termoelétricas, nucleares e, ainda, com baixo custo. Mas, também no Brasil, as grandes empreiteiras, construtoras de hidrelétricas, fazem lobby contra essa forma de energia. (DIAS, 2001, p. 59). A construção de novas hidrelétricas causa violentos danos ambientais. É necessário estar atento e refletir sobre a necessidade de desenvolver nossa eficiência
  • 41. 47 energética. Acabar com o desperdício através da mudança de hábitos, utilizar equipamento que faz o mesmo trabalho com menos consumo de energia e, principalmente, investir e utilizar formas alternativas de energia, a solar, a eólica, a geotérmica e a biomassa (com manejo). (DIAS, 2001, p. 529-530). É importante destacar que no Brasil ainda não se investe o suficiente em pesquisas sobre fontes alternativas de energia. Este seria o papel a ser desenvolvido pelas universidades brasileiras, colocando toda sua infra-estrutura – e também seus pesquisadores, professores, técnicos – a esse serviço. As universidades devem estar a serviço da melhoria das condições de vida da comunidade em que está inserida. (STIPP, 1999, p. 91).
  • 42. 48 CAPÍTULO IV — PESQUISA PRÁTICA, A EDUCAÇÃO AMBIENTAL Uma criança em contato com a realidade do seu ambiente não só aprenderia melhor, mas também desenvolveria atitudes criativas em relação ao mundo em sua volta. Patrick Geddes (1854-1933), escocês, é considerado o pai/fundador da Educação Ambiental. (DIAS, 2001, p.29). 4.1 Educação ambiental — EA Dentro da América Latina, nosso país é o único que possui uma política nacional destinada à Educação Ambiental (DIAS, 2001, p. 201), e se ela não está ainda nas ruas, no dia-a-dia das pessoas, nas escolas, é devido à ausência de consciência e compreensão da classe política brasileira. (DIAS, 2001, p. 184). Como se relaciona educação ambiental e cidadania? Cidadania tem a ver com a identidade e o pertencimento a uma coletividade. A educação ambiental como formação e exercício de cidadania refere-se a uma nova forma de encarar a relação do homem com a natureza, baseada numa nova ética, que pressupõe outros valores morais e uma forma diferente de ver o mundo e os homens... processo permanente de aprendizagem forma cidadãos com consciência local e planetária. (JACOBI, mai. 2003). Ter cidadania significa possuir identidade, ser de um determinado local específico. Uma educação pautada nesse alicerce representa uma educação com formação e não somente informação. A informação está em todos os lugares, disponível. O tesouro maior que se transmite é um saber construído há milhares de anos. A educação deve estar voltada, centrada no ser humano, em suas atitudes. Somos um ser histórico, que acumulou conhecimentos com o passar dos anos. O homem não se satisfaz em apenas viver, mas pretende transcender a natureza, criar. O saber constituído, criado, é transmitido, e esta é a responsabilidade da educação. A ela cabe o papel de perpetuar valores. Focalizar o aluno em seu meio, ensinar história sem esquecer a política, ensinar geografia sem desconsiderar as condições de vida da comunidade. É preciso realmente inseri-lo em seu mundo e não apenas prepará-lo para vestibular e mercado de trabalho. O aluno precisa ser o ‗sujeito‘ da educação. É preciso
  • 43. 49 transpor esta educação de avaliar como um fim em si mesmo. Não basta encaminhar quem já está no caminho, é preciso simplificar e tratar de problemas que afligem a sociedade. (PARO, vídeo, 1996). Em relação ao meio ambiente, o que ocorre hoje em salas de aula é uma real cultura do descaso e da inconseqüência. Na formação de nossos educandos não há preocupação com o resultado das atitudes (aluno, funcionário, professor...). O foco central é a boa nota. Quem tira dez nas provas de avaliação é considerado excelente aluno, não importa se joga lixo no chão, se deixa garrafas de água e refrigerante tombadas pelo caminho, papéis de bala, rabiscos e estragos nas carteiras. Tudo isso não é apontado nem corrigido. Afinal, a escola dispõe de alguém para limpar depois. Este é o pensamento que habita a realidade escolar, a prioridade é a nota. Assim, é importante fazer o aluno ―perceber e entender‖ que suas atitudes têm conseqüências e que ele é responsável sim, e deve atuar para minimizar os impactos negativos ao ambiente, é preciso rever valores e posturas nesta relação homem-natureza. (PCN, 1998, p. 169). O documento Cuidando do planeta Terra – uma estratégia para o futuro da vida, elaborado durante a Rio-92, que teve representantes de diversos países, como Alemanha, Japão, Estados Unidos, Brasil, Canadá, Quênia, Tunísia, Suíça, Dinamarca, Venezuela e El Salvador, apresentou alguns princípios: 6- A EA deve estimular a solidariedade, a igualdade e o respeito aos direitos humanos, valendo-se de estratégias democráticas e interação entre as culturas... 9- A EA deve estimular as comunidades para que retomem a condução dos seus próprios destinos. (DIAS, 2001, p. 195). O ponto central deste documento assinado em 1992 é que a sociedade local seja não somente ouvida e considerada, mas que ela própria se auto-conduza. Que ela mesma determine seus passos e o rumo a ser tomado. O Brasil está sofrendo um dos momentos de maior degradação ambiental, algo jamais visto. E é preocupante, pois não há como reverter esse processo para se tentar não oferecer às gerações futuras um país totalmente destruído. A degradação está em todas as áreas. É imperante que se volte às questões do meio ambiente. O consumismo
  • 44. 50 está em seu pico e com esse consumo exagerado não há como o ambiente se renovar. É necessário refletir em todos os momentos e verificar quando realmente é preciso comprar. (CORREIA – site O Eco, 20 jul. 2005). A degradação ambiental está numa velocidade que as conquistas obtidas são insuficientes no sentido de provocar as mudanças de atuação. (DIAS, 2001, p.17). É o momento de uma Educação renovadora e libertadora, com verdadeira mudança de paradigma. Chegou a época de se desenvolver uma compreensão mais realista do mundo, ao contrário do que vem ocorrendo, com apenas atos isolados de reciclagem, de produzir painéis solares mais baratos, de equipar carros com células de combustível ao invés do petróleo. Tudo isso é desviar de uma real Educação Ambiental. (DIAS, 2001, p.16). O desafio que se coloca é de formular uma educação ambiental que seja crítica e inovadora em dois níveis: formal e não formal. Assim, ela deve ser acima de tudo um ato político voltado para a transformação social ...tendo como referência que os recursos naturais se esgotam e que o principal responsável para sua degradação é o ser humano. (DIAS, 2001, p. 123). A educação não é neutra. É uma ação cultural. O processo educativo resulta numa relação de domínio ou de liberdade. Nas últimas duas décadas, a escola atuou de forma a conservar a hegemonia da classe dominante, uma escola que procurou preparar ―excluídos e dominados‖. Bem ao contrário do que aponta Paulo Freire, que é promover o desenvolvimento do senso crítico. Uma escola voltada ao diálogo e com seus conteúdos voltados às realidades dos alunos. (DIAS, 2001, p. 123).
  • 45. 51 4.2 Da aplicação em sala de aula A aplicação prática da pesquisa foi realizada de 8 a 22 de agosto, na Escola Estadual ―Ataliba Leonel‖, com adolescentes (12 anos) da turma de 6ª série ‗A‘, totalizando 8 horas/aulas. O trabalho pretendeu colaborar para que fossem estabelecidos os alicerces de cidadania, e despertados o interesse e a preocupação com os destinos da comunidade. O desenvolvimento das atividades aconteceu durante as aulas de História do professor Elmo Antonio Paschoarelli, que gentilmente nos cedeu o espaço e acompanhou sempre de perto, visto a relevância do tema. O projeto foi apresentado aos 37 alunos da turma da 6ª série A, do Ensino Fundamental. E para discorrer sobre a aplicação e o resultado, tomamos uma amostragem de 10 alunos: Alexandro, Carolina, Cíntia, Daiana, Gabriele, Ítala, João, Juliene, Lucas e Thiago. As explanações ocorreram durante um total de 8 horas/aulas, com início no dia 8 de agosto, com 2 horas/aulas (100 minutos). Iniciamos com o tema ―Educação ambiental e preservação das corredeiras do rio Paranapanema‖. Primeiramente, foi feita a apresentação do projeto a ser desenvolvido e, na seqüência, discutimos a frase chamativa da lousa (Vivemos muito além dos nossos limites. Criamos um estilo de vida que está drenando da Terra recursos insubstituíveis, sem olharmos para o futuro. Margaret Mead - 1901-1978, antropóloga americana). Na seqüência, foi aplicado o questionário de diagnóstico. E, em seguida, com a sala em círculo, distribuímos os textos de apoio (está no anexo), em que cada um pode ler e comentar suas dúvidas. Ficou evidente na apuração das questões de educação ambiental (no anexo) que todos os alunos conhecem o funcionamento de uma usina, citam represa, gerador, turbina e a força das águas nesse processo de produção da energia elétrica, mas, ao mesmo tempo, apresentam um total desconhecimento de suas conseqüências para a localidade. No dia 11 de agosto, com aula de 50 minutos, o assunto tratado foi: Educação ambiental, leitura e interpretação do texto O rio precisa correr, publicado em jornal local. Foi verificada a dificuldade de compreensão do texto, seria necessário mais tempo
  • 46. 52 para melhor explanação dos significados de cada conceito. Cada aluno colocou várias palavras que não compreendiam na lousa. Foi consultado o dicionário, só não foi possível sanar todas as dúvidas. Entretanto, a maioria respondeu o questionário satisfatoriamente. E todos concordaram com a necessidade imperante de o rio continuar a correr sempre, seja pela manutenção da qualidade da água, seja pela ajuda das corredeiras na decomposição do esgoto da cidade, seja para a preservação dos peixes e, principalmente, do surubim pirajuense. No dia 15 de agosto, a aula foi de 100 minutos (2 horas/aulas). Antes da projeção do filme ―Chega de Usina em Piraju‖, foi dada a ficha técnica e, em seguida, uma breve explanação das questões a serem refletidas sobre a fita. Durante a apresentação, os alunos ficaram chocados diante das imagens mostradas. O que mais espantou foi, principalmente, o trecho em que era mostrado o total descuido na construção e funcionamento da recente usina Piraju (2003), quando o descaso com todo o meio ambiente foi grande: desde a não retirada de árvores de dentro da área do reservatório, que levou a grande fermentação das águas quando do enchimento (fermentação e apodrecimento das águas), até a não retirada de muitos animais, o que gerou ‗certa impossibilidade‘ de funcionamento inicial desta usina, pois tudo ficava enroscado nas turbinas, dificultando o seu acionamento. Pelo resultado apresentado nas redações pudemos observar diversas conclusões: que Piraju já possui usinas demais, que queremos pelo menos este trecho vivo de rio para nós e para as gerações futuras, para que seja implementado o turismo, e que todos possam ser beneficiados. E não o detrimento de muitos (que são os moradores da cidade) para o lucro de apenas um grupo econômico. A energia de um rio possibilitando o desenvolvimento e a ampliação apenas de uma empresa. É necessário ressaltar uma das redações, em que a aluna trata a questão da possível instalação de mais uma usina com argumentos como ‗deve ser proibido, por excesso de usinas‘. No dia 18 de agosto, em 50 minutos (1 hora/aula), foi feito o comentário das redações sobre o vídeo ―Chega de Usina em Piraju‖. Em seguida, a frase na lousa Na