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Chicos
Fevereiro 2008
Vicente Costa
chicos.cataletras@hotmail.com
Veja a nossa poesia em:
http://chicoscataletras.blogspot.com/
Um dedim de prosa
Não é que a casa começa a se desmanchar feito a memória de um velho senil. Estamos tristes e
enlutados. Zeca Junqueira reverbera nossa tristeza. Emerson Teixeira provoca: “Vamos deixar!”.
Zé Antonio foge do real, relembra o episódio dos rapazes perfilados na rua do Sobe-Desce em frente
à delegacia após serem retirados do porão da velha casa. Vai tudo sendo lentamente apagado, até o
dia em que a escuridão predominará definitivamente.
Quem nos enviou um belíssimo poema, sobre o rio da aldeia nossa de cada dia, foi o “mestre”
Chiquinho Cabral. Também temos o prazer de apresentar a poesia de Janaína Ceribelli, poetisa da
nossa simpática e pequenina Santana.
Se vocês querem ver o que foi a leitura da peça - “O Rei Lagarto – Tributo a Jim Morrison" de
Zeca Junqueira - lá no Forte Copacabana, dêem uma olhada neste link:
Leitura: http://www.youtube.com/watch?v=uUSuCnNxofs
Água serpente
*Francisco Cabral
Singrar o rio nos barcos de areia
abrindo a veia canal
do seu fluxo barrento.
Sangrar o Pomba para deter seu vôo
de palavra quimera confinado às margens.
Despojar o rio das roupas de vapor
para que vaze o visgo de seu clima,
Esgotar o rio Pomba para que revele
o ouro fino do leito, os saibros dos poemas.
*Francisco Marcelo Cabral (Rio de Janeiro) poeta, autor de “Centauro”
Acho tristemente
* Zeca Junqueira
Em relação a já em ruínas casa da Rua Alferes, acredito que não tenha jeito mesmo: ela vai ao
chão. A casa parece uma velha árvore que deu frutos e agora tomba no esquecimento porque, sem
reverência, vida afora tudo foi comido e bebido à farta e obesas ficaram muitas das almas que a
visitaram.
Mas não se rendam, cronistas. Avante com seus sonhos! Vocês devem reunir todos os motivos que
puderem, os argumentos mais convincentes possíveis e apresentá-los a quem de direito, em prol da
recuperação da velha casa: mas podem se preparar: o lirismo de vocês, os seus mais recônditos
sonhos, não vão sensibilizar em nenhum momento pessoas práticas, para as quais tudo são COISAS.
Vocês terão que batalhar. Como disse o saudoso Hélio Pellegrino, “um corretor de negócios
imobiliários, do alto de sua prosápia contábil, é incapaz de descobrir, de graça, a curva suave de uma
colina, seu verde crespo e claro – pura presença no mundo. As colinas são colinas e são meninas e
como tais querem ser vistas”. Acho que a metáfora serve também para a casa da Rua Alferes - e até
para a cidade. Vocês não percebem porque estão dentro demais, estão no útero, mas Cataguases está
sendo transformada, ela também, num lugar de viração. É gente demais, é movimento sem sentido
demais, eu sempre me deparo com um monte de nada quando aporto aí.
Eu tenho avaliado o quanto me custa esse olhar poético que insisto em lançar sobre o mundo, mas
ele é o único que sei; eu tenho descoberto debaixo da chibata como é doloroso ser boa pessoa num
mundo quase todo transformado num mercado de insanos, onde quem não tem nada para comprar
ou vender é considerado mero refugo. Que olhar condescendente nos lançam os vendilhões quando
nos descobrem poetas! “Ora, isso é apenas uma casa velha!”, dirão num gracejo a vocês os homens
práticos daí.
O nosso desprezo pela nossa tradição, a colocação de sucessivas máscaras ocultando o rosto do
tempo de nossos lugares poderão ter um resultado nefasto num futuro bem próximo, onde
correremos o risco de estarmos todos desmemoriados, sem pontos de referência de quaisquer
lembranças. Talvez não saibamos mais quem somos exatamente como sujeitos, uma vez que fatos
concretos que constituem capítulos importantes de nossas histórias pessoais estarão substituídos por
estranhas versões. A vida é feita também de pedra, barro, tijolo, chão, precisamos da permanência de
alguma concretude pelo caminho para que possamos dar consistência aos nossos sonhos.
Acho que a casa da Rua Alferes vai cair. Acho que vocês brevemente passarão por essa rua onde eu
tanto andei quando era menino e serão diminuídos e afrontados por um cemitério vertical, um prédio
de apartamentos provavelmente lotado de pessoas que não estarão nem aí para os cronistas e suas
quimeras. E nem saberão que ali, bem ali, logo abaixo, jaz a casa da Rua Alferes.
Acho que a casa da Rua Alferes vai cair. Com ela, cai mais um punhado de sonhos, sobra mais uma
pontinha de desgosto para um bando de sonhadores, mais um pouquinho de orfandade para todos
nós que ainda acreditamos que o mundo é poesia em sua concretude, e que, em hipótese alguma, se
pode apagar versos, assim tão impunemente, de tão belos poemas.
Mas se pode sim. Escarro, urina e merda, envoltos em esparso perfume, é o que damos ao mundo.
Acho tristemente que a casa da Rua Alferes vai cair.
*Zeca Junqueira (Rio de Janeiro) poeta
Autor da peça “O rei Lagarto – Tributo a Jim Morrison”
Meu reino por um cavalo...
*Emerson Teixeira
...alado:
a vida inteira só fiz
castelos no ar.
*Emerson Teixeira Cardoso ( Cataguases-MG)
Autor de Similes (poesia)
A casa morta
Altamir Soares
* Zé Antonio
Em antigas noites adolescentes
entre perfumes de mangas e teias de aranhas
pelas frestas do soalho...
luzes.
Sedas, cetins, brancas coxas
nevoas de franceses perfumes
brilha o corpo da jovem capricorniana.
Jovens olhos gulosos se lambuzam
em orgias voieristas.
A memória fantasmeia o passado,
corre os quartos, porões e quintais
do velho casarão em cacos.
*José Antonio Pereira (Cataguases -MG)
Quatro por quatro
*Emerson Teixeira
Não fosse esse o título de uma novela global até teria servido para dar nome ao livro de crônicas
que pretendíamos publicar.
Nós: Eu, Vanderlei Pequeno, José Vecchi e o Zé Antonio. Afinal era assim mesmo que
idealizamos a criatura; dezesseis histórias curtas, quatro de cada um de nós tendo como pano de
fundo quase que invariavelmente a cidade de Cataguases.
A sugestão aí de cima foi dada por mim à guisa de gozação, claro. O nome definitivo, A Casa da
Rua Alferes, uma das quatro do Vecchi – poderia até ser seu carro-chefe e curiosamente não foi. Mas
acabou por provocar um movimento espontâneo em favor do dito prédio. Despertou em muita gente
boa por aí o desejo de sua conservação.
Direta ou indiretamente foi assim que a coisa veio a funcionar.
Manoel Higino dos Santos, bravo escriba lá do Hoje em Dia foi o primeiro a sensibilizar-se com a
bela campanha vontade substanciada em dois belos artigos que lá estampou.
E por aqui em Cataguases, lógico que muita gente abraçou a grande causa. Estava definitivamente
lançada a idéia de transformá-la em bem público.
E por que não fazê-lo?
Não devemos perder de vista aquilo que bem o disse Henry de Hunting: “O interesse no passado é
uma das mais genuínas marcas do ser humano em relação aos outros animais”.
Mas às vezes é muito grande a distância entre o plano das idéias e o de sua concretização.
Mesmo considerando-se a sua importância histórica como sólida referencia na compreensão do ciclo
do café.
A verdade é que: a casa da rua alferes com toda a sua beleza arquitetônica, seu pomar imenso,
suas árvores altas, sua fachada elegante, suas paredes de pau-a-pique podem agora desaparecer.
E nós, vamos deixar?
*Emerson Teixeira Cardoso ( Cataguases-MG)
Autor de Similes (poesia)
Cataguases
Janaína Ceribeli
Eu não entendo
esse chão de pedrinhas
que todo mundo passa em cima
que continua aleatoriamente levando
todo mundo
de um canto a outro da cidade
a cidade (em todo canto) canta
a música
das solas
dos saltos
e calcanhares no chão de pedrinhas
*Janaína Ceribeli (Santana de Cataguases –MG)
Leia o livro “A Casa da rua Alferes e outras crônicas” dos autores: Emerson Teixeira
Cardoso, José Antonio Pereira, José Vecchi de Carvalho e Vanderlei Pequeno – Editora Cataletras.
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chicos.cataletras@hotmail.com

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  • 1. Chicos Fevereiro 2008 Vicente Costa chicos.cataletras@hotmail.com Veja a nossa poesia em: http://chicoscataletras.blogspot.com/
  • 2. Um dedim de prosa Não é que a casa começa a se desmanchar feito a memória de um velho senil. Estamos tristes e enlutados. Zeca Junqueira reverbera nossa tristeza. Emerson Teixeira provoca: “Vamos deixar!”. Zé Antonio foge do real, relembra o episódio dos rapazes perfilados na rua do Sobe-Desce em frente à delegacia após serem retirados do porão da velha casa. Vai tudo sendo lentamente apagado, até o dia em que a escuridão predominará definitivamente. Quem nos enviou um belíssimo poema, sobre o rio da aldeia nossa de cada dia, foi o “mestre” Chiquinho Cabral. Também temos o prazer de apresentar a poesia de Janaína Ceribelli, poetisa da nossa simpática e pequenina Santana. Se vocês querem ver o que foi a leitura da peça - “O Rei Lagarto – Tributo a Jim Morrison" de Zeca Junqueira - lá no Forte Copacabana, dêem uma olhada neste link: Leitura: http://www.youtube.com/watch?v=uUSuCnNxofs Água serpente *Francisco Cabral Singrar o rio nos barcos de areia abrindo a veia canal do seu fluxo barrento. Sangrar o Pomba para deter seu vôo de palavra quimera confinado às margens. Despojar o rio das roupas de vapor para que vaze o visgo de seu clima, Esgotar o rio Pomba para que revele o ouro fino do leito, os saibros dos poemas. *Francisco Marcelo Cabral (Rio de Janeiro) poeta, autor de “Centauro”
  • 3. Acho tristemente * Zeca Junqueira Em relação a já em ruínas casa da Rua Alferes, acredito que não tenha jeito mesmo: ela vai ao chão. A casa parece uma velha árvore que deu frutos e agora tomba no esquecimento porque, sem reverência, vida afora tudo foi comido e bebido à farta e obesas ficaram muitas das almas que a visitaram. Mas não se rendam, cronistas. Avante com seus sonhos! Vocês devem reunir todos os motivos que puderem, os argumentos mais convincentes possíveis e apresentá-los a quem de direito, em prol da recuperação da velha casa: mas podem se preparar: o lirismo de vocês, os seus mais recônditos sonhos, não vão sensibilizar em nenhum momento pessoas práticas, para as quais tudo são COISAS. Vocês terão que batalhar. Como disse o saudoso Hélio Pellegrino, “um corretor de negócios imobiliários, do alto de sua prosápia contábil, é incapaz de descobrir, de graça, a curva suave de uma colina, seu verde crespo e claro – pura presença no mundo. As colinas são colinas e são meninas e como tais querem ser vistas”. Acho que a metáfora serve também para a casa da Rua Alferes - e até para a cidade. Vocês não percebem porque estão dentro demais, estão no útero, mas Cataguases está sendo transformada, ela também, num lugar de viração. É gente demais, é movimento sem sentido demais, eu sempre me deparo com um monte de nada quando aporto aí. Eu tenho avaliado o quanto me custa esse olhar poético que insisto em lançar sobre o mundo, mas ele é o único que sei; eu tenho descoberto debaixo da chibata como é doloroso ser boa pessoa num mundo quase todo transformado num mercado de insanos, onde quem não tem nada para comprar ou vender é considerado mero refugo. Que olhar condescendente nos lançam os vendilhões quando nos descobrem poetas! “Ora, isso é apenas uma casa velha!”, dirão num gracejo a vocês os homens práticos daí. O nosso desprezo pela nossa tradição, a colocação de sucessivas máscaras ocultando o rosto do tempo de nossos lugares poderão ter um resultado nefasto num futuro bem próximo, onde correremos o risco de estarmos todos desmemoriados, sem pontos de referência de quaisquer lembranças. Talvez não saibamos mais quem somos exatamente como sujeitos, uma vez que fatos concretos que constituem capítulos importantes de nossas histórias pessoais estarão substituídos por
  • 4. estranhas versões. A vida é feita também de pedra, barro, tijolo, chão, precisamos da permanência de alguma concretude pelo caminho para que possamos dar consistência aos nossos sonhos. Acho que a casa da Rua Alferes vai cair. Acho que vocês brevemente passarão por essa rua onde eu tanto andei quando era menino e serão diminuídos e afrontados por um cemitério vertical, um prédio de apartamentos provavelmente lotado de pessoas que não estarão nem aí para os cronistas e suas quimeras. E nem saberão que ali, bem ali, logo abaixo, jaz a casa da Rua Alferes. Acho que a casa da Rua Alferes vai cair. Com ela, cai mais um punhado de sonhos, sobra mais uma pontinha de desgosto para um bando de sonhadores, mais um pouquinho de orfandade para todos nós que ainda acreditamos que o mundo é poesia em sua concretude, e que, em hipótese alguma, se pode apagar versos, assim tão impunemente, de tão belos poemas. Mas se pode sim. Escarro, urina e merda, envoltos em esparso perfume, é o que damos ao mundo. Acho tristemente que a casa da Rua Alferes vai cair. *Zeca Junqueira (Rio de Janeiro) poeta Autor da peça “O rei Lagarto – Tributo a Jim Morrison” Meu reino por um cavalo... *Emerson Teixeira ...alado: a vida inteira só fiz castelos no ar. *Emerson Teixeira Cardoso ( Cataguases-MG) Autor de Similes (poesia)
  • 5. A casa morta Altamir Soares * Zé Antonio Em antigas noites adolescentes entre perfumes de mangas e teias de aranhas pelas frestas do soalho... luzes. Sedas, cetins, brancas coxas nevoas de franceses perfumes brilha o corpo da jovem capricorniana. Jovens olhos gulosos se lambuzam em orgias voieristas. A memória fantasmeia o passado, corre os quartos, porões e quintais do velho casarão em cacos. *José Antonio Pereira (Cataguases -MG)
  • 6. Quatro por quatro *Emerson Teixeira Não fosse esse o título de uma novela global até teria servido para dar nome ao livro de crônicas que pretendíamos publicar. Nós: Eu, Vanderlei Pequeno, José Vecchi e o Zé Antonio. Afinal era assim mesmo que idealizamos a criatura; dezesseis histórias curtas, quatro de cada um de nós tendo como pano de fundo quase que invariavelmente a cidade de Cataguases. A sugestão aí de cima foi dada por mim à guisa de gozação, claro. O nome definitivo, A Casa da Rua Alferes, uma das quatro do Vecchi – poderia até ser seu carro-chefe e curiosamente não foi. Mas acabou por provocar um movimento espontâneo em favor do dito prédio. Despertou em muita gente boa por aí o desejo de sua conservação. Direta ou indiretamente foi assim que a coisa veio a funcionar. Manoel Higino dos Santos, bravo escriba lá do Hoje em Dia foi o primeiro a sensibilizar-se com a bela campanha vontade substanciada em dois belos artigos que lá estampou. E por aqui em Cataguases, lógico que muita gente abraçou a grande causa. Estava definitivamente lançada a idéia de transformá-la em bem público. E por que não fazê-lo? Não devemos perder de vista aquilo que bem o disse Henry de Hunting: “O interesse no passado é uma das mais genuínas marcas do ser humano em relação aos outros animais”. Mas às vezes é muito grande a distância entre o plano das idéias e o de sua concretização. Mesmo considerando-se a sua importância histórica como sólida referencia na compreensão do ciclo do café. A verdade é que: a casa da rua alferes com toda a sua beleza arquitetônica, seu pomar imenso, suas árvores altas, sua fachada elegante, suas paredes de pau-a-pique podem agora desaparecer. E nós, vamos deixar? *Emerson Teixeira Cardoso ( Cataguases-MG) Autor de Similes (poesia)
  • 7. Cataguases Janaína Ceribeli Eu não entendo esse chão de pedrinhas que todo mundo passa em cima que continua aleatoriamente levando todo mundo de um canto a outro da cidade a cidade (em todo canto) canta a música das solas dos saltos e calcanhares no chão de pedrinhas *Janaína Ceribeli (Santana de Cataguases –MG) Leia o livro “A Casa da rua Alferes e outras crônicas” dos autores: Emerson Teixeira Cardoso, José Antonio Pereira, José Vecchi de Carvalho e Vanderlei Pequeno – Editora Cataletras. Se você quer adquirir entre em contato conosco: chicos.cataletras@hotmail.com