Este documento apresenta um mapeamento dos estudos acadêmicos sobre juventude rural no Brasil entre 1990 e 2004, com o objetivo de analisar as principais linhas temáticas e abordagens teóricas. O texto descreve a metodologia utilizada, analisa a distribuição regional e institucional dessas pesquisas e aponta os principais consensos e limites identificados nestes estudos.
4. Apresentação
A
heterogeneidade das condições de vida e trabalho
dos jovens que vivem no meio rural brasileiro resulta em diferentes in-
serções produtivas, de acesso a serviços públicos e diferentes padrões
de sociabilidade. Esses jovens compartilham os desafios que a agricultura fa-
miliar e os assentados e assentadas da reforma agrária encaram para garantir
sua autonomia econômica e a melhoria das suas condições de vida. Diante da
falta de novas oportunidades de trabalho e renda que marcam historicamente
esse setor, alguns desses jovens migram para as cidades. Envelhecimento da
população rural, quebra dos mecanismos de hereditariedade e concentração
da terra são alguns de seus efeitos.
Mas esse quadro vem mudando. As demandas da juventude, seja urbana seja
rural, passaram a ser reconhecidas como importantes e legítimas e a ser incorpo-
radas pelo Estado e, mesmo, pelos movimentos sociais, no bojo de um processo
emquenovasdimensõespassaramaserconsideradascomoestruturantesdadinâ-
mica social. Ainda nos anos 1990, passaram a integrar as pautas de reivindicações
e as agendas políticas de entidades como a Confederação Nacional dos Traba-
lhadores na Agricultura (Contag), a Federação dos Trabalhadores da Agricultura
Familiar (Fetraf) e o Movimento dos Sem-Terra (MST). Estruturas internas espe-
cíficas foram criadas, e o protagonismo desse segmento passou a ser estimulado.
Em 2005, o governo federal criou a Secretaria Nacional de Juventude com o
propósito de coordenar políticas e ações voltadas para promover a participação
econômica e social dos jovens. No âmbito das políticas de desenvolvimento
rural e de geração de emprego e renda, várias ações estão sendo implementadas,
envolvendo vários ministérios, entre os quais o Ministério do Desenvolvimento
Agrário (MDA) e o Ministério do Trabalho e Emprego. O Plano da Safra da
Agricultura Familiar criou uma linha especial de crédito, o Pronaf Jovem; está
em execução o Programa Nossa Primeira Terra, linha do Programa Nacional
de Crédito Fundiário, ação que integra o II Plano Nacional de Reforma Agrária.
Jovens estão sendo formados como agentes de desenvolvimento territorial, e
no Programa Arca das Letras, os jovens atuam como agentes de leitura. Em
parceria com a sociedade civil, foi criado o Consórcio Social da Juventude Ru-
ral, para oferecer formação e qualificação profissional aos jovens, associado à
implantação de inovações tecnológicas.
A presente publicação da Série NEAD Estudos articula-se com essas ini-
ciativas e propõe-se a dar visibilidade às discussões presentes e apropriar-se do
apresentação
5. conhecimento produzido por um conjunto de estudos e pesquisas que focali-
zam a temática da juventude rural, buscando desvendar esse universo em suas
múltiplas faces, contribuir para qualificar a participação social dos atores e para
aprofundar a compreensão sobre a própria dinâmica do meio rural brasileiro.
Resultado de trabalho desenvolvido para o NEAD pelo professor Nilson
Weisheimer, mestre em Sociologia pela Universidade Federal do Rio Grande do
Sul (UFRGS), a publicação apresenta um qualificado panorama do debate acadê-
mico brasileiro sobre a temática da juventude rural no período de 1990 a 2004.
No texto Estudos sobre a juventude rural no Brasil são apresentados os re-
sultados da análise das publicações selecionadas para este trabalho, oferecendo
ao público um quadro desse campo de investigação, por meio do mapeamento
das pesquisas sobre o tema no Brasil. Inovando ao trazer uma abordagem quan-
titativa dos trabalhos referenciados via Internet (principal fonte do estudo), o
texto permite observar, no período estudado, a evolução dessas obras por tipos
de publicação e instituições nas quais foram produzidas, além do recorte es-
tadual dessa produção e das principais linhas temáticas e abordagens teóricas.
Por fim, numa análise apurada dessa produção, o autor aponta consensos e
principais limitações dos estudos realizados nesse período.
O Catálogo temático de bibliografias traz as referências completas e os re-
sumos da produção bibliográfica do período, organizada por eixos: 1) Juventude
e educação rural, 2) Juventude rural, identidades e ação coletiva, 3) Juventude
rural e inserção no trabalho e 4) Juventude e reprodução social da agricultura
familiar. Apresentado dessa maneira, o Catálogo é de fácil consulta e certamen-
te constituir-se-á em importante fonte de pesquisa e orientação bibliográfica
para os interessados nos estudos sobre juventudes rurais.
Este trabalho propõe-se como um primeiro esforço (e não conclusivo) no
sentido da sistematização e da disseminação ampla e qualificada dessa produção
teórica que envolve áreas do conhecimento, como a administração, a economia,
passando pela extensão rural, engenharia florestal, desenvolvimento agrário e
rural, serviço social, educação, antropologia e sociologia, revelando as juven-
tudes rurais nas mais diversas dimensões e contribuindo para romper com a
“invisibilidade” dos próprios jovens rurais. d
Caio Galvão de Fr anç a
Coordenador-Geral NEAD - MDA
Fabiano Kempfer
Coordenador de Políticas de Juventude da Secretaria de Reordenamento Agrário do MDA
apresentação
6. Sumário
Estudos sobre a juventude rural no Brasil:
mapeando o debate acadêmico (1990-2004) 6
Introdução 7
I. Mapeando as pesquisas sobre a juventude rural no Brasil 9
II. Estudos sobre a juventude rural: identificando as linhas temáticas 13
III. Jovens rurais: entre definições teóricas e categorias empíricas 20
Considerações finais 27
Bibliografia 30
Catálogo temático de bibliografias: juventude
rural no Brasil (1990-2004) 36
I. Juventude e educação rural 37
II. Juventude, identidades e ação coletiva 42
III. Juventude rural e inserção no trabalho 54
IV. Juventude e reprodução social na agricultura familiar 61
7. Estudos sobre a juventude rural no Brasil
Mapeando o debate acadêmico (1990-2004)
A realização do levantamento bibliográfico contou com a colaboração da Prof.ª Dr.ª Anita Brumer, do
Departamento de Sociologia da UFRGS, de suas bolsistas de iniciação científica Analisa Zorzi e Milena
Nunes, e da antropóloga Ana Paula Comin de Carvalho, às quais registro meus agradecimentos.
8. estudossobreajuventuderuralnobrasil
Introdução
O
objeti vo d o presente artig o é m ape ar e disc u tir
o conhecimento produzido sobre juventude rural no período de 1990
a 2004,1 com o propósito de esboçar o “estado da arte” nesse campo
de investigação. Entre outros aspectos, estamos interessados em identificar a
organização regional dessa produção, as temáticas privilegiadas, as abordagens
teóricas utilizadas para a categorização da juventude e, ao final, apresentar os
consensos e os limites desses estudos.
Quando os pesquisadores brasileiros voltam seu olhar para a especificida-
de dos jovens que vivem no meio rural, dois aspectos chamam a atenção: sua
participação nas dinâmicas migratórias e a persistência da invisibilidade social
dessa juventude.
Conforme os dados disponibilizados pelo Instituto Brasileiro de Geografia
e Estatística (IBGE) referentes ao censo de 2000, há 34.081.330 jovens com 14 a
24 anos de idade no Brasil, mas apenas 18% deles residem no meio rural.Ainda
segundo este Instituto, de 1991 a 2000 houve uma redução de 26% da população
jovem no meio rural. Os processos migratórios respondem pelo esvaziamento e
pela masculinização da população rural. Os indicadores demográficos do IBGE
têm sido utilizados para demonstrar a transformação social que vem ocorrendo
no Brasil nos últimos cinqüenta anos. Em 1950, a população residente em zonas
rurais correspondia a 63,8% da população total brasileira. Já no ano de 2000, essa
proporção havia caído para 18,8% do total da população do país. É importante
perceber que, na década de 1950, o contingente que mais migrou correspondia
à faixa dos 30 aos 39 anos de idade. Já nos anos 1990, ocorreu um deslocamento
populacional principalmente na faixa etária de 20 a 24 anos (Abramovay e
Optamos por restringir nossa
reflexão às pesquisas pro
duzidas nos últimos 14 anos
a fim de privilegiar o debate
acadêmico contemporâneo
sobre juventude rural. No
entanto, acreditamos contem
plar discussões anteriores
na medida em que estas se
encontram presentes nas
críticas e nas tentativas de
superação nos atuais estudos.
1�
9. estudossobreajuventuderuralnobrasil
Camarano, 1999). Além do predomínio juvenil, outra característica importante
desse movimento migratório recente é a participação feminina. As mulheres
migram mais que os homens, representando 52% do total da migração jovem. De
acordo com o censo de 1991, para o total do Brasil, enquanto 20,8% dos jovens
do sexo masculino entre 15 e 24 anos de idade eram migrantes, para as moças
dessa mesma faixa etária a proporção de migrantes era de 24,2% (Baeninger,
1998: tab. 14, p. 46). Ou seja, conforme esses dados, configura-se um predomínio
juvenil e feminino no processo migratório rural–urbano.
A “situação de invisibilidade” a que está sujeito esse segmento da população
se configura numa das expressões mais cruéis de exclusão social, uma vez que
dessa forma esses jovens não se tornam sujeitos de direitos sociais e alvos de
políticas públicas, inviabilizando o rompimento da própria condição de exclu-
são.2Nesse contexto, a juventude rural aparece como um setor extremamente
fragilizado de nossa sociedade. Enquanto eles permanecerem invisíveis ao meio
acadêmico e ao sistema político, não sendo socialmente reconhecidos como
sujeitos de direitos, dificilmente serão incluídos na agenda governamental. Até
que essa inclusão ocorra, o que se tem são “estados de coisas”: situações mais
ou menos prolongadas de incômodo, injustiça, insatisfação ou perigo, que atin-
gem os grupos de jovens rurais, sem chegar a compor a agenda governamental
ou mobilizar as autoridades políticas (RUA, 1998). O atual “estado de coisas”
implica negação do direito básico de ter tratamento e oportunidades iguais, ou
seja, representa a negação da cidadania para a juventude do meio rural. Esse
segmento, sob muitos aspectos, não acessa nem usufrui do conjunto de direitos
básicos que estruturam a condição de cidadão. Não é exagero dizer que os jo-
vens rurais brasileiros não gozam do direito à cidadania quando se trata de ad-
miti-los como sujeitos ou atores políticos com direito de participar das decisões
que afetam sua vida e seu futuro. Além disso, da perspectiva dos direitos sociais,
mesmo os mais elementares, essa juventude convive com diversas situações de
não-reconhecimento, preconceitos, marginalidade e exclusão.
Essas duas dimensões, invisibilidade e migração, parecem fortalecer-se mu-
tuamente, criando um círculo vicioso em que a falta de perspectivas tira dos
jovens o direito de sonhar com um futuro promissor no meio rural. Assumindo
o desafio de reverter esse processo, o Ministério do Desenvolvimento Agrário
(MDA), por meio do Núcleo de Estudos Agrários e Desenvolvimento Rural
(NEAD), propôs-se à realização de um balanço do debate acadêmico brasilei-
ro sobre a juventude rural. A idéia consiste em promover a construção de um
conhecimento crítico acerca da realidade desse segmento da população com o
objetivo de instruir a formulação de novas políticas públicas e ações estratégi-
“La invisibilidad es uno de
los aspectos más nefastos
de la exclusión social, y
a que su vez contribuye
a perpetuar la exclusión”
(Du r s ton , 1997: 07).
2�
10. estudossobreajuventuderuralnobrasil
cas específicas para esses jovens, na perspectiva de incluí-los nos projetos de
desenvolvimento rural e agrário.
Caracterizadamente bibliográfico e restrito à produção acadêmica dispo-
nível na rede mundial de computadores (Internet), este estudo baseou-se na
análise de resumos de teses, dissertações, livros e artigos publicados em revistas
ou anais de congressos científicos de diferentes áreas, localizados nas seguintes
fontes: na busca de teses e dissertações recorremos aos catálogos on-line do
banco de teses da Capes; Dedalus; BDTD e aos sites de todas as universidades
brasileiras, nos quais procuramos acessar as bibliotecas e contatamos os progra-
mas de pós-graduação. Na localização dos artigos, utilizamos o portal de perió-
dicos Capes, os sites das associações científicas (Aba, Anped, Anpocs, Anppas,
SBS e Sober); ScIELO; Ibict-CCN; Google; Amazom e Biblioteca Nacional.
O critério de classificação e seleção do material para compor nosso banco
de dados procurou seguir um padrão bastante rigoroso. O catálogo foi formado
exclusivamente por trabalhos e pesquisas teóricas ou empíricas que têm como
objeto de estudo os jovens do meio rural. Assim, foi descartada grande quanti-
dade de material com outros temas e objetos, mesmo que correlatos ao nosso,
como é o caso da educação rural, do trabalho infantil e mesmo dos jovens do meio
urbano. É necessário que se mencione a dimensão inicial deste estudo, de caráter
ainda exploratório, cujos resultados não nos permitem mais do que esboçar um
primeiro mapeamento dos estudos recentes sobre a juventude rural no Brasil.
O texto está organizado em três tópicos. No primeiro, procuramos mapear
o volume e as universidades onde foram realizadas as pesquisas sobre os jovens
rurais no Brasil. No segundo, buscamos identificar as linhas temáticas privile-
giadas nesses estudos. No terceiro propomo-nos a discutir as abordagens con-
ceituais empregadas nas diferentes categorizações das juventudes. Reservamos
as considerações finais para apontar os principais consensos e os limites das
pesquisas desse campo de conhecimento.
I. Mapeando as pesquisas sobre a juventude rural no Brasil
Foi identificado em nosso levantamento um total de cinqüenta trabalhos rea
lizados por cerca de 36 pesquisadores brasileiros. Como pode ser observado
no Gráfico 1, entre o total de trabalhos encontram-se duas teses de doutorado,
três livros, 18 dissertações de mestrado e 27 artigos publicados em periódicos
ou anais de congressos científicos. Esses dados demonstram que as pesquisas
sobre juventude do meio rural não constituem uma produção expressiva em
termos de volume, uma vez que não chegam a compor quatro trabalhos por
11. 10
estudossobreajuventuderuralnobrasil
ano no período de 1990 a 2004. Logo, confirma-se que os jovens rurais têm
estado invisíveis para a maioria dos pesquisadores brasileiros, constituindo-se
em um objeto ainda pouco estudado.
Fonte: Levantamento de dados, outubro/2004.
Buscando visualizar a distribuição temporal com que aparecem os trabalhos
identificados, construímos a Tabela 1.
Tabela 1 Ano e tipo de publicação em termos absolutos
Tipo de publicação
Ano Artigo Dissertação Livro Tese Total
1992 0 1 0 0 1
1996 0 1 0 0 1
1998 1 1 1 0 3
1999 2 0 0 0 2
2000 1 7 0 0 8
2001 1 2 1 0 4
2002 8 2 0 1 11
2003 9 2 1 1 13
2004 5 2 0 0 7
Total 27 18 3 2 50
Fonte: Levantamento de dados, outubro/2004.
Gráfico 1 F P
27
18
3
2
Artigo
Dissertação
Livro
Tese
12. 11
estudossobreajuventuderuralnobrasil
Constata-se, ao longo do período investigado, uma contínua produção de
dissertações de mestrado que versam sobre a juventude no meio rural, regis-
trando-se um pico desse tipo de trabalho acadêmico no ano de 2000, quando
encontramos sete dissertações defendidas. Chama igualmente a atenção o ex-
pressivo volume de artigos publicados mais recentemente, nos anos de 2002 e
2003. Isso ocorre em virtude do Congresso da Associação Latino-Americana
de Sociologia Rural (Alasru), realizado em Porto Alegre no ano de 2002, e do
Congresso Brasileiro de Sociologia, promovido pela Sociedade Brasileira de
Sociologia (SBS) em 2003, na cidade de Campinas. Percebe-se que a produção
acadêmica sobre juventude rural vem registrando um paulatino aumento, que
já se fazia notar no final da década de 1990. Essa tendência intensificou-se nos
primeiros anos do século XXI, uma vez que, do total dos trabalhos reunidos em
nosso levantamento, 86% foram publicados no período entre os anos de 2001
e 2004. Essas informações demonstram que, apesar de serem ainda poucos os
estudos, vem ocorrendo uma ampliação do interesse sobre o tema indicando
uma tendência de consolidação desse campo de investigação. Esse movimento
de expansão dos trabalhos sobre a juventude rural pode ser mais bem obser-
vado no Gráfico 2.
Fonte: Levantamento de dados, outubro/2004.
Gráfico 2 D
0
2
4
6
8
10
12
14
1992 1996 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004
Ano de publicação
Freqüência
13. 12
estudossobreajuventuderuralnobrasil
A Tabela 2 e o Gráfico 3, na seqüência, mostram a distribuição dos estudos
sobre a juventude rural por instituições brasileiras e por regiões do Brasil. Há
uma disseminação desses estudos por um total de vinte universidades das regiões
Norte, Nordeste, Sudeste e Sul do Brasil. Entre estas, destacam-se a UFRGS e
a UFRRJ como as que apresentaram maior volume de trabalhos publicados no
período em análise. Considerando apenas as dissertações e as teses, percebe-se
um equilíbrio entre seis universidades, a saber: a UFPB, com três dissertações;
a UFRGS, com duas dissertações; a UFRRJ, com uma dissertação e uma tese;
a UFSC, com uma dissertação e uma tese; a UFSM, com duas dissertações; e a
USP, com duas dissertações. Verifica-se a concentração dos estudos nas regiões
Sul, Sudeste e Nordeste do Brasil. São elas que concentram o maior número
de universidades, o que pode explicar a ausência de registros no Centro-Oeste
brasileiro e a ocorrência de apenas uma dissertação na região Norte. Além disso,
existem outros fatores que contribuem para essa situação. O predomínio de
pesquisas na região Sul do país deve estar relacionado à importância que tem a
agricultura de base familiar, que representa 90,5% do total dos estabelecimentos
agrícolas nessa região.3 Em decorrência disso, tem-se a formação de grupos
de pesquisa e um maior detalhamento das populações rurais, fazendo emergir
análises sobre essa juventude. Deve ser considerado ainda o fato de que os dois
congressos anteriormente referidos, que elevam o volume de publicações sobre
a juventude rural, ocorreram nas regiões Sul e Sudeste, favorecendo assim a
participação de pesquisadores dessas duas regiões.
Fonte: Levantamento de dados, outubro/2004.
Fonte: Censo Agropecuá
rio 1995-1996 – IBGE.
3�
Norte
1
Nordeste
8
Sudeste
18
Sul
23
Gráfico 3 P B
14. 13
estudossobreajuventuderuralnobrasil
Tabela 2 Instituições brasileiras e tipos de publicação
Tipo de publicação
Instituições Artigo Dissertação Livro Tese Total
Epagri/NEAD 0 0 1 0 1
Deser 1 0 0 0 1
PUC/RJ 0 1 0 0 1
UEL 0 1 0 0 1
UERGS 1 0 0 0 1
UES 1 0 0 0 1
UFC 0 1 0 0 1
UFPA 1 0 0 0 1
UFPB 1 3 0 0 4
UFPE 2 0 0 0 2
UFPR 0 1 1 0 2
UFRGS 6 2 0 0 8
UFRJ 3 0 0 0 3
UFRRJ 4 1 0 1 6
UFSC 2 1 0 1 4
UFSM 1 2 0 0 3
UFV 0 1 0 0 1
Unicamp 2 1 0 0 3
Unisc 1 1 0 0 2
UPF 1 0 0 0 1
USP 0 2 1 0 3
Total 27 18 2 2 50
Fonte: Levantamento de dados, outubro/2004.
II. Estudos sobre a juventude rural:
identificando as linhas temáticas
A partir da análise dos resumos dos trabalhos encontrados, tornou-se possível
identificar quatro linhas temáticas gerais que norteiam o desenvolvimento das
pesquisas sobre a juventude rural no país, a saber: 1) Juventude e Educação Rural;
2) Juventude Rural, Identidades e Ação Coletiva; 3) Juventude Rural e Inserção no
Trabalho; e 4) Juventude e Reprodução Social na Agricultura Familiar. Encontra-
se no Gráfico 4 a distribuição da freqüência dessas linhas temáticas.
15. 14
estudossobreajuventuderuralnobrasil
Fonte: Levantamento de dados, outubro/2004.
Predominam os trabalhos que buscam compreender as relações entre a
juventude e os processos de reprodução social da agricultura familiar, registran-
do-se 19 casos. A segunda maior ocorrência encontra-se no grupo temático que
reúne as pesquisas sobre juventude, identidade e ação coletiva, com 13 indica-
ções. Foram localizados ainda dez trabalhos que abordam a juventude rural e
a inserção no trabalho. O grupo temático que articula juventude e educação
rural aparece com oito títulos relacionados.
Observa-se a seguir, na Tabela 3, a distribuição de linhas temáticas por
regiões do Brasil. Tais dados permitem-nos identificar as diferenças regionais
e quais são os recortes analíticos predominantes em cada lugar.
Na região Nordeste, há um destaque para a temática 2) Juventude Rural,
Identidades e Ação Coletiva. Isso se deve provavelmente à relevância política
dos movimentos sociais no campo e às experiências de assentamentos rurais
ali desenvolvidas.
No Norte do Brasil, o único trabalho localizado corresponde ao grupo te-
mático 1) Juventude e Educação Rural. Trata-se de um estudo que enfatiza os
saberes tradicionais das populações ribeirinhas e sua relação com o conheci-
mento escolar.
Na região Sudeste, a linha temática 2) Juventude Rural, Identidade e Ação Co-
letiva divide a atenção dos pesquisadores com o tema 1) Juventude e Educação Ru-
ral e o grupo temático 4) Juventude e Reprodução Social na Agricultura Familiar.
Por fim, na região Sul do Brasil, identificamos um predomínio da linha
temática 4) Juventude e Reprodução Social na Agricultura Familiar, seguido
pela linha temática 3) Juventude Rural e Inserção no Trabalho.
8
13
10
19
1. Juventude e Educação Rural
2. Juventude Rural, Identidades
e Ação Coletiva
3. Juventude Rural e Inserção
no Trabalho
4. Juventude e Reprodução
Social na Agricultura Familiar
Gráfico 4 F
16. 15
estudossobreajuventuderuralnobrasil
Tabela 3 Distribuição de linhas temáticas por regiões do Brasil
Linhas temáticas
Região
Nordeste Norte Sudeste Sul BR
1. Juventude e Educação Rural 1 5 2 8
2. Juventude Rural,
Identidades e Ação Coletiva
4 0 6 3 13
3. Juventude Rural e
Inserção no Trabalho
2 0 2 6 10
4. Juventude e Reprodução So
cial na Agricultura Familiar
2 0 5 12 19
Total 8 1 18 23 50
Fonte: Levantamento de dados, outubro/2004.
Na Tabela 4, identificamos as áreas de concentração dos pesquisadores que
efetuam os estudos sobre a juventude rural e as linhas temáticas de seus tra-
balhos. Devemos destacar que os jovens rurais têm sido objeto de diferentes
áreas do conhecimento universitário, como se verifica pela identificação de
nove áreas de concentração dos pesquisadores, correspondentes aos cursos de
pós-graduação e às áreas de formação.
A sociologia apresenta o maior número de trabalhos, concentrando-se nas
linhas temáticas 4) Juventude e Reprodução Social na Agricultura Familiar e
2) Juventude Rural e Inserção no Trabalho. Nas pesquisas realizadas no âmbito
da antropologia, segunda em volume de publicações, o grupo temático 4) Juven-
tude e Reprodução Social na Agricultura Familiar também é predominante, ao
qual se segue a temática 2) Juventude, Identidades e Ação Coletiva. A educação e
o desenvolvimento rural ou agrário aparecem como áreas de conhecimento que
também apresentam um volume relativamente expressivo de estudos sobre a
juventude rural. Entre esses dois, o primeiro, como era de se esperar, concentra-
se no grupo 1) Juventude e Educação Rural, enquanto o segundo divide-se entre
os grupos temáticos 4 e 2. Os estudos desenvolvidos no âmbito da extensão
rural distribuem-se por todos os grupos temáticos. Os estudos realizados na
área de serviço social dividem-se entre os temas 2, 3 e 4.
17. 16
estudossobreajuventuderuralnobrasil
Tabela 4 Área de concentração dos pesquisadores e linhas
temáticas das publicações em termos absolutos
Áreas de
concentração
Linhas temáticas
1. 2. 3. 4. Total
Administração 1 0 0 0 1
Antropologia 0 2 1 4 7
Ciências florestais 0 1 0 0 1
Comunicação 0 1 0 0 1
Desenvolvimento 0 2 1 3 6
Economia 1 0 0 1 2
Educação 5 1 0 0 6
Extensão rural 1 1 2 2 6
Filosofia 0 1 0 0 1
Serviço social 0 2 1 1 4
Sociologia 0 2 5 8 15
Total 8 13 10 17 50
Fonte: Levantamento de dados, outubro/2004.
Nos textos reunidos no grupo temático 1) Juventude e Educação Rural, en-
contramos basicamente dois focos de investigação. O primeiro concentra-se
na inserção dos jovens na rede pública de educação. Demonstram que há um
descompasso entre um modelo educacional que tem como paradigma as so-
ciedades industriais urbanas em relação às necessidades específicas dos jovens
rurais. Ao mesmo tempo em que a escola aparece distanciada do trabalho agrí-
cola, introduz na cultura local os valores e os estilos de vida urbanos. Eles ana-
lisam ainda as percepções e os significados atribuídos à educação pelos jovens
rurais, segundo os quais estudar é visto como uma condição necessária para
viabilizar sua futura inserção no mercado de trabalho urbano. Constatam que
entre os jovens são as mulheres que vivem mais intensamente esse processo
(Campolin, 2000; Freire, 2002; Silva, 1992; Silva, 2000, 2002; Turquino,
2003). O segundo conjunto de pesquisas focaliza a participação dos jovens em
diferentes projetos de capacitação e formação profissional que envolvem os
filhos de agricultores familiares. As distintas experiências são investigadas a
partir do impacto social e econômico que geram e suas conseqüências sobre a
permanência do jovem no campo. Em comum, concluem que após participa-
18. 17
estudossobreajuventuderuralnobrasil
rem desses programas os jovens demonstram mais disposição em permanecer
nas atividades agrícolas e ou agroindustriais, incorporam conhecimentos que
são aplicados em suas unidades produtivas, geralmente com a introdução de
novas técnicas, resultando em mudanças nas condições materiais das famílias,
o que possibilita assim a redução da tendência de migração e da evasão esco-
lar. Demonstram que esses projetos fortalecem as identidades desses jovens
como agricultores ou como empreendedores e empresários rurais – o que varia
conforme as bases ideológicas que motivam essas iniciativas (Estevam, 2001;
Manhani, 2000). No conjunto, percebemos a emergência de dois modelos
educacionais que produzem efeitos distintos: a escola pública de matriz urbana,
onde predominam as moças e os projetos de saída da atividade agrícola, e os
projetos educacionais voltados aos jovens rurais, em que predominam os rapa-
zes e o incentivo à fixação do jovem no campo. Em ambas as abordagens dessa
temática, percebemos a influência da socialização dos jovens no processo edu-
cacional e sua disposição de permanência no campo e na atividade agrícola.
Entre os estudos do grupo temático 2) Juventude, Identidades e Ação Co-
letiva predominam análises voltadas à participação e à construção das iden-
tidades sociais dos jovens em contextos de assentamentos rurais de reforma
agrária. São estudos que demonstram a heterogeneidade existente entre esses
jovens, abordando seus comportamentos e estilos de vida, sua participação na
organização e nos espaços formais do assentamento, assim como a constituição
de iniciativas de auto-organização e representação entre estes (Castro, 2003;
Chaves, 2003; Copa, 2002). Em comum, os diferentes trabalhos preocupam-
se com aspectos relativos à construção das identidades coletivas dos jovens
por meio de duas estratégias de análise: uma que dá ênfase aos contrastes ou
à assimilação de padrões comportamentais urbanos, como vestimentas e mú-
sica, que assemelham os jovens dos assentamentos de reforma agrária com os
do meio urbano (Benevenuto, 2003(a), 2003(b); Vieira, 2002), e outra que
aborda a identidade como construção política, que emerge a partir da luta de
classes (Branco, 2003; Holanda, 2000). Essas pesquisas tratam de questões
bastante diversas, buscando as articulações entre organização social, luta po-
lítica, trabalho, lazer, vida cotidiana, família e perspectivas dos jovens. Nesse
grupo temático, também incluímos investigações acerca das relações existentes
entre espaços de sociabilidade e formas de organização para o lazer, com a
afirmação das identidades sociais dos jovens rurais. Esses estudos enfatizam
a importância desses espaços em contextos nos quais os jovens rurais se en-
contram engajados em processos produtivos não agrícolas ou agroindustriais.
Nesses casos, os espaços lúdicos e de lazer renovam e reafirmam as identidades
19. 18
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locais (Menasche, 2004; Spanevello, 2002). Encontramos também traba-
lhos que analisam experiências de protagonismo juvenil e de participação em
organizações sindicais (Iulianelli, 2002; Paiva e Souza, 2000).
Sobre o tema 3) Juventude Rural e Inserção no Trabalho, observamos a
maior variedade de questões em um mesmo grupo temático. Essa diversidade
reflete as alternativas de ocupação e trabalho dos jovens. Um conjunto maior
de pesquisas refere-se às formas de inserção dos jovens no processo de trabalho
da agricultura familiar. Destacam a ocorrência de uma divisão por sexo e idade
entre os membros das famílias de agricultores. Os jovens nessas situações en-
contram-se subordinados à orientação dos pais e geralmente não contam com
o reconhecimento social de um agricultor adulto. Esses trabalhos evidenciam
ainda que nas situações em que os jovens são valorizados pelo trabalho que rea
lizam, como, por exemplo, no estabelecimento de parcerias entre pais e filhos,
ou quando estes recebem alguma remuneração pelo trabalho que executam,
eles demonstram ser mais favoráveis a permanecer residindo no meio rural
como agricultores. Esses estudos tendem a relacionar as dinâmicas de inserção
do jovem no processo de trabalho agrícola com suas disposições de se estabe-
lecer profissionalmente na agricultura familiar. Suas conclusões apontam que a
necessidade de obter um rendimento próprio para cobrir seus gastos pessoais
é o principal motivo que leva os jovens a buscarem trabalho fora do estabeleci-
mento familiar (Brumer et al., 2000; Deser, 1999; Weisheimer, 2002). Outros
textos enfatizam o problema da inserção precoce no trabalho como condizente
com um padrão cultural que valoriza essa atividade combinada a uma economia
que subordina o trabalho ao capital (Hoelzel, 2000). Aborda-se também a par-
ticipação dos jovens no plantio de drogas ilícitas, destacando-se que a política
de erradicação das drogas tem sido acompanhada pelo incremento das mortes
violentas dos jovens nas zonas rurais produtoras (Iulianelli, 2004). Enfati-
za-se ainda a inserção das moças e das meninas adolescentes provenientes do
meio rural no trabalho doméstico urbano como empregadas das classes médias,
destacando-se um processo de ressocialização e de subordinação no qual se
encontram inseridas (Monteiro, 1996). Outro conjunto de pesquisas enfoca a
participação de jovens nos processos de pluriatividade, que é a combinação do
trabalho agrícola com outras formas de ocupação, geralmente no próprio meio
rural. Esse conjunto destaca a emergência do turismo rural como alternativa de
criação de trabalho e renda para os jovens desses municípios como expressão
da pluriatividade (Lima, 2004). As práticas de trabalho em domicílio que se
realizam em ateliês de costuras de bolas ou calçados instalados em residências
rurais do Sul do Brasil são analisadas, enfatizando-se que são ocupações em
20. 19
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que predomina um viés de gênero e de idade. Esse trabalho em domicílio é visto
ainda como um exemplo de empreendedorismo protagonizado por jovens ru-
rais (Tedesco, 2003). No conjunto, os estudos reunidos nesse grupo temático
chamam a atenção para as relações entre as oportunidades e os processos de
trabalho no campo com as dinâmicas migratórias dos jovens rurais.
Por fim, no grupo temático 4) Juventude e Reprodução Social na Agricultura
Familiar, identificamos ao menos quatro abordagens acerca da participação
dos jovens nos processos de reprodução social das famílias agrícolas. O pri-
meiro conjunto destaca o conceito de reprodução geracional na unidade de
produção familiar agrícola. Aponta que é em torno da sucessão profissional, da
transferência hereditária e das aposentadorias que se desenrolam os processos
sociais que perpassam a formação de uma nova geração de agricultores. Esses
estudos incorporam a suas análises a oportunidade de trabalho independente
da família; o acesso à educação; a perspectiva matrimonial com um agricultor; a
possibilidade de herdar terra; o envolvimento na unidade produtiva; o tamanho
da propriedade e a renda familiar como fatores que incidirão nas disposições
dos jovens em permanecer no trabalho, assegurando que a unidade produtiva
passe assim de geração a geração (Abramovay, 1998; Brumer, 2003; Brumer
et al., 2002, 2004; Duqué, 2002; Haygert, 2001; Silvestro et al., 2001). Um
segundo grupo de pesquisas agrega ao conceito anterior a noção de projetos
individuais dos jovens, seja na forma de “projeto profissional” ou “projeto de
vida”. Destacam assim que as mudanças e as crises recentes no meio rural fazem
com que essa realidade seja reelaborada na formulação de projetos individuais
e familiares. Nesse contexto, a juventude rural é instigada a questionar projetos
familiares sustentados na reprodução de modos de vida pautados na atividade
agrícola e levada a reivindicar padrões de vida que incorporam valores e con-
dições materiais tidos como “urbanos”. Dessa síntese, resultam novas possibili-
dades de permanência no campo sustentadas pela reelaboração de identidades
sociais dos jovens agricultores. Esses trabalhos examinam também outras vari-
áveis: a condição fundiária relativa à posse e ao tamanho da unidade produtiva;
a renda agrícola obtida pela família; a socialização dos jovens no processo de
trabalho da agricultura familiar e na escola; as representações destes sobre o tra-
balho agrícola, sobre os meios rural e urbano e as avaliações acerca do modo de
vida de seus pais para perceber a influência desses elementos na elaboração dos
projetos profissionais dessa juventude. Concluem que, dependendo do campo
de possibilidades disponíveis aos jovens, seus projetos estarão orientados em
certas direções (Carneiro, 1998, 1999; Pereira, 2004; Siqueira, 2003, 2004;
Weisheimer, 2004). A possibilidade de reprodução da agricultura familiar é
21. 20
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vista ainda pelo acesso dos jovens filhos de agricultores à cidadania. Constatam
que na busca por direitos os(as) filhos(as) de agricultores familiares transi-
tam em diferentes espaços da sociedade, construindo uma matriz valorativa
diversa e muitas vezes contraditória. Desse modo, o movimento migratório
e reivindicatório dos jovens explicita problemas estruturais da sociedade que
repercutem nas diversas dimensões do processo de desenvolvimento rural que
não se explicam exclusivamente com variáveis econômicas (Spanevello, 2003;
Stropasolas, 2002, 2003). Também se encontram nesse grupo temático as
pesquisas que indicam que a pluriatividade favorece a reprodução social dos
agricultores familiares, argumentando que o rural não se caracteriza nem se
confunde mais com o agrícola. Apontam para a revitalização do meio rural, com
uma ampliação do mercado de trabalho, diante das alternativas de ocupação e
renda geradas por atividades não agrícolas relacionadas à pluriatividade, que
vêm proporcionando a melhoria de renda, das condições de vida, bem como a
permanência dos agricultores jovens no campo (Ribeiro, 2000).
III. Jovens rurais: entre definições
teóricas e categorias empíricas
Entre as publicações localizadas neste trabalho foram identificadas cinco abor-
dagens utilizadas nas definições conceituais sobre a juventude rural: faixa etária;
ciclo da vida; geração; cultura ou modo de vida e ainda representação social.
Alguns pesquisadores enfatizam uma dessas abordagens, outros procuram fazer
diferentes combinações entre elas. Há ainda aqueles que não se preocupam em
estabelecer alguma definição sobre o que entendem por juventude e a tratam
como um pressuposto, como se o termo fosse auto-explicativo.
1) Juventude como faixa etária
Algumas pesquisas ancoram sua definição de juventude utilizando como critério
a idade dos entrevistados. Apóiam-se geralmente em indicadores demográficos,
critérios normativos ou padrões estabelecidos pelos organismos internacionais
para definir os limites de quem é ou não considerado jovem. Vejamos as fontes
mais recorrentes. Conforme a Organização Mundial da Saúde (OMS), a ado-
lescência é definida como um processo fundamentalmente biológico, abrange
as etapas da pré-adolescência (10-14 anos) e a adolescência (15-19 anos). A Or-
ganização Ibero-Americana da Juventude (OIJ, 1994) e a Organização Interna-
cional da Juventude usam a faixa entre 15 e 24 anos (Unesco, 1997). No Brasil,
22. 21
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a abordagem demográfica do IBGE classifica o “grupo jovem” entre 15 e 24 anos
em três recortes etários: 15-17 anos como jovens-adolescentes; 18-20 anos como
jovens-jovens e 21-24 anos como jovens-adultos (Baeninger, 1998: 26). De
acordo com o Estatuto da Criança e do Adolescente, considera-se adolescente
a pessoa na faixa de 12 a 18 anos (Lei no
8.069 de 13/07/1990).
A definição de limites etários é obviamente arbitrária e não dá conta das
diferenças entre idade biológica e idade social. É certo que muitas vezes se torna
fundamental o estabelecimento preciso de um público-alvo. Entretanto, para o
processo de pesquisa social empírica, torna-se interessante buscarmos compre-
ender como tais limites são socialmente constituídos e como o pertencimento
a um grupo de idade pode transformar-se em parâmetro para a atribuição
de papéis sociais específicos. Vale a pena lembrar que a fronteira que separa
juventude e maturidade corresponde, em todas as sociedades, a um jogo de
lutas e manipulações, visto que as divisões entre idades são arbitrárias e que a
fronteira que separa a juventude e a velhice é um objeto de disputa que envolve
a dimensão das relações de poder.4 É importante destacar que, como qualquer
outra forma de classificação, suas fronteiras são socialmente construídas.
2) A juventude como período de transição ou ciclo de vida
A definição de juventude como um período de transição assume importância na
medida em que foi assumida pela Unesco a partir da Conferência Internacional
sobre Juventude, realizada em Grenoble (1964), sendo uma das mais utilizadas
por pesquisadores desde então. Nessa perspectiva, o termo juventude designa
um estado transitório, uma fase da vida humana de começo bem definido pelo
aparecimento da puberdade. O estabelecimento do término da juventude varia
segundo critérios e pontos de vista adotados para determinar se as pessoas são
jovens. A idéia de transição é inerente à vida e por si só não diz muita coisa.
Por isso, o importante é destacarmos que a transição juvenil se caracteriza
como o processo de socialização e atribuição de papéis sociais específicos. Essa
transição pode ser percebida de diversas maneiras, implicando mudanças da
família de orientação para a procriação; do aprendizado para a produtividade;
da crescente ascensão da autonomia, entre outras. A idéia central é de que a
juventude é um estágio no qual acontece a entrada na vida social plena e que,
como situação de passagem, compõe uma condição de relatividade: de direitos e
deveres, de responsabilidade e independência mais amplas do que as das crian-
ças e não tão completas quanto as dos adultos (Abramo, 1994: 11). O ingresso
no trabalho é visto como um elemento central na transição juvenil, já que é por
meio dele que os jovens começam a adquirir uma relativa autonomia perante
“O que quero lembrar é sim
plesmente que a juventude
e a velhice não são dados,
mas construídos socialmente
na luta entre os jovens e os
velhos. As relações entre a
idade social e a idade bioló
gica são muito complexas”
(BOUR DIEU , 1983: 113).
4�
23. 22
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a família de origem. Porém, é preciso lembrar que essa inserção profissional é
ainda precária entre eles, em razão, entre outras coisas, da fragilidade de sua
condição e da precariedade das próprias relações de trabalho atuais, o que in-
tensifica a situação ambígua da juventude. Conforme propõe Maria J. Carneiro,
ao buscar delimitar o universo de estudo dos jovens rurais:
[…] o jovem é aquele indivíduo que se encontra em uma fase caracterizada pela dis-
crepância entre o projeto de vida vislumbrado e as atividades em realização. Ou seja, a
existência de um projeto para o futuro acompanhado de estratégias com graus variados
de idealização seria, em termos genéricos, o que caracterizaria um indivíduo como
jovem nas comunidades pesquisadas (Carneiro, 1998: 98).
O descompasso entre projeto de vida e condições de realização como carac-
terística da juventude enriquece a abordagem da juventude como período de
transição. Isso nos possibilita entender por que na sociedade contemporânea
há uma certa inclinação à ampliação do período da juventude. Em virtude da
dificuldade de inserção de parcelas significativas desse grupo no mercado de
trabalho, há um alongamento do período de escolarização. Esse impedimento
de acesso a uma condição profissional estável tem ainda impactos no adiamento
dos matrimônios e, conseqüentemente, na constituição de uma nova família.
3) O enfoque nas gerações
Esta perspectiva é tributária principalmente das formulações de Karl Mannheim.
Segundo ele, o conceito de geração emerge por meio da idéia de “situação”
no processo social, estabelecendo um paralelo com a circunstância de classe.
O conceito de geração corresponde à similaridade de situação num mesmo
tempo histórico. Assim, os membros de um grupo etário têm uma situação
comum perante as dimensões históricas do processo social (Mannheim, 1968).
A abordagem geracional apresenta-nos questões relativas à transmissão e à
adaptação da herança cultural. Muitas vezes o ritmo das mudanças sociais
provoca a difusão de novos valores e comportamentos que são mais facilmente
incorporados pela juventude, visto que estas não se encontram completamente
enredadas no status quo da ordem social. Desse fato resultam dois tipos de con-
clusões. A primeira enfatiza os potenciais de conflito entre as gerações, entre os
jovens e a ordem social estabelecida ou mesmo dos jovens entre eles mesmos.
Nessa perspectiva, tem-se a idéia “ingênua” de que os jovens são inerentemente
contestadores, ou “cética”, de que essa “rebeldia” é necessariamente transitória,
como a juventude. Em outra, a juventude passa a ser vista a partir de seus poten-
24. 23
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ciais de mudança, enfatizando-se sua capacidade criadora e inventiva. Os jovens
são percebidos como parte dos recursos latentes de que a sociedade dispõe, e de
seu engajamento depende sua vitalidade. Nesse sentido, o maior ou menor grau
desse potencial de mudança é dado por sociedades dinâmicas, enquanto as que
buscam conter a juventude podem ser entendidas como sociedades estáticas.
Essa abordagem parece interessante para o exame das condições de reprodu-
ção de uma determinada categoria profissional, assim como as alterações nos
padrões culturais e de valores que diferem entre pais e filhos. Entretanto, como
alertam Castro e Macedo, pensar a juventude em termos de geração pode ser
limitador se partirmos do pressuposto de que há uma oposição entre “pais
conservadores” e “filhos rebeldes” (Castro e Macedo, 2001).
4) Juventude como cultura ou modo de vida
Por esta perspectiva a juventude é vista como uma expressão da cultura de mas-
sas. Esta abordagem argumenta que a juventude se define por critérios culturais
dando destaque a uma cultura jovem e à importância de espaços de sociabilida-
de juvenis na constituição de suas identidades. A mídia aparece então como o
principal componente na construção do entendimento do que seja a juventude.
A cultura juvenil emerge como um produto da abundância intimamente ligada
à sociedade de consumo. Suas características incluem certo tipo de vestimen-
tas, acessórios, linguagem, gostos musicais e práticas esportivas e de lazer. Os
jovens aparecem como um mercado consumidor importante que transcende
os limites de idade pela propagação de uma moda jovem. Nesse sentido, os(as)
jovens no meio rural seriam resultado dos processos de modernização do cam-
po. Por esta abordagem chega-se a questionar se existiria uma juventude no
campo ou se tão logo as crianças adquirissem força física seriam imediatamente
incorporadas no mundo adulto da penosidade do trabalho agrícola. Por sua vez,
hoje em dia, até nas regiões mais isoladas os meios de comunicação promovem
a disseminação de uma cultura urbana, e no seu bojo os processos de hibridi-
zação, que os jovens sentem de forma bastante intensa. Além disso, o próprio
desenvolvimento do capitalismo no campo, seu padrão de modernização e os
recentes processos de industrialização difusa, que fazem do rural um espaço não
exclusivamente agrícola, contribuíram para a diluição das fronteiras materiais
e simbólicas entre o meio rural e o urbano. Se isso não pôs fim às profundas
diferenças entre estes, permitiu ao menos a convivência em um mesmo espaço
social de práticas e valores que articulam elementos urbanos e rurais. Parece-nos
que é esse processo que leva Maria José Carneiro (1998, 1999) a sugerir que as
identidades locais não são mais sustentadas na homogeneidade de padrões cul-
25. 24
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turais, mas na diversidade, e, principalmente, na maneira específica de combinar
práticas e valores originários de universos culturais distintos, o que identifica
como “rurbanização”. Ainda segundo essa autora, nesse contexto, os jovens filhos
de agricultores reelaboram suas identidades sociais e passam a questionar os
projetos de reprodução de modos de vida pautados exclusivamente na ativida-
de agrícola, reivindicando padrões de vida, valores e condições materiais tidos
como “urbanos”, o que se expressa no “ideal rurbano” (Carneiro, 1998, 1999).
5) Juventude como representação social e auto-representação
Segundo esta abordagem teórica, o termo “juventude” designa um conjunto de
relações sociais específicas, vividas por elementos classificados como jovens
em uma dada sociedade. Mais do que uma faixa etária, fala-se em condição
juvenil, que aparece como uma posição na hierarquia social fundada em re-
presentações sociais, ou seja, busca-se apreender os significados atribuídos
que definem quem é e quem não é jovem em um dado contexto sociocultural.
Esses critérios de inclusão e exclusão são socialmente construídos, tornando-
se móveis suas fronteiras. Essas representações sociais remetem à idéia de que
a juventude é um processo transitório que marca a passagem de uma condição
social da dependência plena na infância a outra, de plena independência na
idade adulta. Essa independência que caracteriza a entrada na “vida adulta”
aparece vinculada à assunção de responsabilidades produtivas, residenciais,
matrimoniais, paternais ou maternais. Esta abordagem retém a idéia de que
os jovens estariam sujeitos à incorporação de uma série de papéis sociais ou
funções socialmente atribuídas pelos processos de socialização. A alternância
de papéis sociais e de processos de socialização que marcam a condição juvenil
está voltada a assegurar a reprodução ou a continuidade social. Esta aborda-
gem permite-nos entender a constituição de diferentes expressões juvenis,
ou seja, percebe a juventude como realidade múltipla, fundada em represen-
tações sociais diversas. Entre as diferentes representações acerca do que é a
juventude, temos aquelas elaboradas pelos próprios jovens. Essa forma de
categorizar é bastante interessante para a apreensão das identidades evocadas
pelos atores sociais, sejam elas coletivas ou individuais. Para sua interpretação,
recomenda-se que não se tomem as representações em sua substantividade,
mas relacionalmente. Um dos procedimentos dessa perspectiva consiste em
captar os jogos de oposição como “nós” x “eles”, “dentro” x “fora”, “jovem” x
“velho”, que devem ser analisados a partir do contexto das falas em que emer-
gem essas representações.
26. 25
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Como resultado dessas alternativas teóricas acionadas para definir o que é
a juventude, resultam distintas percepções acerca das categorias empíricas en-
volvidas no debate sobre jovens rurais. Nos trabalhos analisados, identificamos
14 maneiras diferentes de denominar os jovens do meio rural, o que reflete a
diversidade das configurações juvenis. Vejamos:
Alunos rurais
Jovens
Jovens agricultores
Jovens do campo
Jovens do interior
Jovens do sertão
Jovens empreendedores rurais
Jovens empresários rurais
Jovens filhos de agricultores
Jovens rurais ribeirinhos
Jovens sem-terra
Juventude em assentamento rural
Juventude escolar rural
Juventude rural
Essas diferentes maneiras de denominar os objetos de estudo remetem a
dois princípios de classificação: um que toma como referência a dimensão geo
gráfica onde residem os jovens da pesquisa; outro que busca incorporar na
definição das categorias o processo de socialização em certas ocupações que
caracterizam os jovens investigados. Reunindo por similaridade os 14 termos
anteriormente apresentados, obtemos o Quadro 1. Nele se encontram as dife-
rentes categorias formuladas a partir das duas matrizes analíticas.
Quadro 1 Categorias de jovens segundo sua matriz de análise
Geográfica – Residencial Socialização – Ocupacional
Jovens do campo Jovens agricultores
Jovens do interior Jovens assentados
Jovens do sertão Jovens empresários rurais
Juventude rural Jovens estudantes rurais
Juventude rural ribeirinha Jovens sem-terra
Fonte: Levantamento de dados, outubro/2004.
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A esse respeito ver: ABR A MO -
VAY , 1998; BRU M E R , 2003,
BRU M E R et al., 2001, 2002,
2004; SILV E S TRo et al., 2001;
WE IS H E IM E R , 2002, 2004.
5�
As interpretações sobre a condição juvenil demonstram que esta é uma
construção social, cultural e histórica altamente dinâmica e diversificada, o
que implica considerá-la uma realidade múltipla, visto que os jovens não for-
mam um todo homogêneo. Quando se consideram as diferenças de classe so-
cial, etnia e gênero, por exemplo, percebem-se distinções relativas às posições
ocupadas nos espaços sociais – que por sua vez são diferentes entre si – e aos
processos de socialização. Nesse sentido, é mais correto privilegiar as noções de
juventudes e jovens rurais no plural, uma vez que eles vivem realidades sociais
bastante diversas, construindo experiências e identidades coletivas distintas.
Vemos que as diferenças entre os sexos, divisão básica em qualquer socieda-
de, são construídas culturalmente, implicando a configuração de papéis sociais
de gênero entre rapazes e moças. Esse processo inicia-se durante a socialização
primária na infância e é intensificado durante a juventude. As diferenças nos
processos de socialização de rapazes e moças no meio rural, e particularmen-
te na agricultura familiar, constituem-se em função das expectativas dos pais
em relação ao futuro dos filhos e das filhas, sendo decisivas, por exemplo, na
elaboração dos projetos profissionais dos jovens e nos processos sucessórios
no interior das famílias agricultoras.5
Além disso, as possibilidades de inserção social dos jovens estão condi-
cionadas aos recursos materiais e simbólicos que lhes são disponibilizados ao
longo do seu processo de socialização. Esses recursos, que as novas gerações
herdam das anteriores e sobre os quais promovem avaliações, constituem as
condições objetivas a partir das quais constroem suas trajetórias pessoais. Esses
aspectos encontram-se intimamente ligados ao movimento dialético de produ-
ção–reprodução–transformação social. Para os jovens, em geral, isso assume
contornos críticos, como a liminariedade que marca sua condição social, uma
vez que há uma ambivalência característica do vir a ser intrínseca à condição
juvenil. Atualmente, isso é sentido de maneira ainda mais intensa por causa
da complexidade das relações sociais nas quais se inserem. Destacam-se nesse
contexto a variedade das alternativas de vida que se apresentam e a precarieda-
de da sua inserção no trabalho, que muitas vezes resultam na incerteza quanto
ao próprio futuro.
Considerando-se as transformações recentes no meio rural e na agricul-
tura brasileira – como as relacionadas com a evolução do emprego rural não
agrícola, que inicialmente ocorreram em função do processo de moderniza-
ção associado à expansão de atividades industriais e de serviços vinculadas à
agricultura e incrementadas nos últimos anos por indústrias de outros setores
que se deslocaram para o meio rural –, diversificam-se as possibilidades de
28. 27
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inserção profissional dos jovens rurais. Disso resulta que hoje em dia nem
todos os jovens rurais são necessariamente agricultores, assim como entre os
jovens agricultores há uma grande variedade de situações, como as relaciona-
das à propriedade ou não da terra em que trabalham. Os impactos disso são
evidentes tanto nas diferenças entre esses jovens quanto nas possibilidades
que se apresentam a cada um deles.
É necessário reforçar que todas essas questões tornam o fenômeno social
da juventude bastante complexo, contraditório e mesmo confuso, o que se
reflete no momento em que buscamos tomá-lo como objeto de estudo siste-
mático. É por isso que ocorre a falta de consenso quanto à noção de “juventude”
utilizada nas pesquisas analisadas, expressa na grande variedade de recortes
analíticos e definições conceituais, mesmo quando todas tratam dos jovens
que vivem no meio rural.
Considerações finais
A sistematização deste debate permite-nos perceber que, apesar de ainda ser
numericamente pequena a produção acadêmica sobre os jovens rurais, esta
suscita uma profícua discussão teórica e elucida diversas questões relativas ao
seu modo de ser e de viver os processos sociais que se desenvolvem nos espaços
caracterizados como rurais.
Na análise dos trabalhos selecionados, não se encontram muitos consen-
sos, sendo possível identificar apenas algumas questões recorrentes que dizem
respeito a um entendimento compartilhado, principalmente quanto ao papel
estratégico dos jovens para o desenvolvimento agrário e rural. A continuidade
da profissão agrícola depende da reprodução social com base familiar, isso
porque a sucessão tende a ser endógena, com pelo menos um filho sucedendo
o pai na administração da unidade produtiva, sendo pouco freqüente a adesão
a essa atividade por pessoas sem vivência familiar nesse ramo. Há um reco-
nhecimento da diversidade não apenas regional, mas principalmente cultural,
social e econômica entre os diferentes setores que compõem a juventude ru-
ral brasileira. Os diferentes trabalhos apontam no sentido da necessidade de
desenvolvimento de políticas públicas específicas para os jovens rurais, entre
as quais se destaca a pertinência de um projeto educacional que valorize o
rural e prepare os jovens a se desenvolverem como agricultores. Por fim, os
diferentes trabalhos têm em comum o fato de que não discutem diretamente
os processos de modernização do rural e da agricultura, mas sim buscam
compreender como em diferentes casos locais os jovens se envolvem, vivem,
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percebem, integram ou resistem a esses processos. Predominam enfoques
que destacam a diversidade das formas em que a modernização e a comple-
xificação social do rural afetam a juventude.
Observam-se também alguns limites nas abordagens, como o fato de que
em diversos trabalhos localizados se tomam os jovens como objeto de estudo,
mas freqüentemente não problematizam o próprio objeto, ou seja, a juventude
como uma construção social em disputa, limitando-se a reproduzir os recortes
demográficos e os critérios normativos, como o de limites etários.
Embora vários trabalhos apontem a diversidade de experiências juvenis e
busquem apreendê-la por meio de aspectos referentes à construção da iden-
tidade ou dos processos de socialização, é perceptível a persistência de enfo-
ques que tomam os jovens que vivem nos diferentes espaços sociais agrários
como um grupo homogêneo, passíveis de identificação por categorias genéricas,
como a de juventude rural, que se fundamenta numa dicotomia entre o rural e
o urbano. Num contexto em que o meio rural se torna um espaço social cada
vez mais complexo, não exclusivamente agrícola, qual é o sentido dessa dicoto-
mia? Quais as diferenças e as semelhanças entre jovens rurais e urbanos? Essa
distinção é ainda pertinente? Se há jovens rurais que participam especifica-
mente da produção e da reprodução social da agricultura familiar, ou seja, são
socializados no processo de trabalho familiar agrícola, por que não usarmos
uma categorização mais precisa, como a de jovem agricultor, em detrimento
de outra mais genérica?
A ausência de uma matriz analítica compartilhada pelos pesquisadores que
seja capaz de dar conta da diversidade no interior da juventude rural e sirva de
parâmetro para a comparação entre os diferentes estudos das condições juvenis
aparece como um limitador que transcende os estudos pontuais. Por que essa
ausência? Devemos perguntar-nos ainda se é possível ou desejável uma matriz
analítica capaz de dar conta da diversidade de processos sociais que configuram
as diferentes juventudes rurais.
Provavelmente em razão do fato de as políticas públicas de juventude serem
ainda muito recentes e escassas, não há estudos dos seus impactos sobre os
projetos de permanência ou saída dos jovens do meio rural e, em particular, da
agricultura familiar. Quais os resultados das recentes políticas públicas, como
a inclusão dos jovens no bloco do produtor rural, nos programas de crédito
fundiário Nossa Primeira Terra e Pronaf Jovem, quanto às condições de perma-
nência desses jovens na agricultura e ao incremento desta? Quais os impactos
dessas políticas, bem como desses projetos e desses programas na elaboração
dos projetos profissionais dos jovens agricultores? Diante da tendência de am-
30. 29
estudossobreajuventuderuralnobrasil
pliação do nível de escolarização dos jovens rurais, devemos nos perguntar qual
projeto educacional melhor contribuirá para o desenvolvimento agrário. Como
incluir amplamente as moças nas escolas agrícolas? Até que ponto se pode
expandir a escola agrícola como programa regular de educação rural? Como
colocar essas escolas a serviço do fortalecimento da agricultura familiar?
Por fim, identificamos um predomínio de estudos de caso e análises micros-
sociológicas nos trabalhos analisados, o que revela a ausência de pesquisas em
âmbito nacional e mesmo regional. Tal fato aparece como a principal lacuna
dos trabalhos até agora realizados. Sem parâmetros comparativos e dimensões
macroestruturais dos processos sociais que afetam os jovens rurais brasilei-
ros, ficamos presos às especificidades dos contextos locais em detrimento dos
aspectos globais e históricos que afetam as diversas expressões juvenis dos
espaços agrários.
À guisa de conclusão, acreditamos que este diagnóstico inicial do estado
da arte dos estudos sobre jovens rurais no Brasil possa servir à constituição de
uma comunidade acadêmica que consiga promover avanços no conhecimento
sobre a realidade desse segmento da população e incentivar o trabalho de novos
cientistas.6 Esperamos também que este trabalho possa de alguma maneira au-
xiliar na formulação de ações estratégicas, seja no âmbito do Estado ou no da
sociedade civil, dentre os quais os movimentos sociais e de jovens agricultores,
possibilitando a materialização de políticas públicas que tenham nos jovens
os protagonistas de novas dinâmicas no processo de desenvolvimento rural e
agrário ambientalmente sustentável e socialmente justo. Nesse sentido, pode-
mos concluir que o que motiva as diferentes pesquisas é a convicção de que
nenhum processo de transformação social ocorre sem envolver efetivamente a
participação da juventude. Isso faz dos jovens rurais atores fundamentais para
entendermos as dinâmicas dos processos sociais agrários. d
Reconhecemos a necessidade
de que, num segundo momen
to, essa análise seja amplia
da para novas pesquisas,
dialogando até mesmo com a
produção teórica internacional.
6�
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estudossobreajuventuderuralnobrasil
Bibliografia
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38. 37
catálogotemáticodebibliografias
I. Juventude e educação rural
Campolin, Adalgiza Inês. Quando alunos e alunas são rurais e a escola é urba-
na: o significado do ensino médio para jovens rurais. Dissertação de Mestrado,
Programa de Pós-Graduação em Educação/Pontifícia Universidade Católica do
Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2000.
Resumo: A pesquisa foi realizada no município de Prudentópolis (Paraná),
em colégio de ensino médio urbano, no qual alunos e alunas rurais represen-
tam 51,5% do total de matrículas do período noturno, e procurou captar o
significado que alunos e alunas rurais atribuem ao ensino médio, bem como
suas perspectivas em relação ao futuro. Foram realizadas 30 entrevistas, sen-
do 15 com alunos e 15 com alunas, da 1a
à 4a
séries, na faixa etária de 15 a 28
anos. A análise das entrevistas indica que os alunos e as alunas rurais são
filhos e filhas de pequenos proprietários, produtores simples de mercadorias,
com predomínio de área até 50 hectares. Os depoimentos demonstram que
para alunos e alunas rurais o ensino médio representa uma preparação para
sua inserção no mercado de trabalho urbano. Estudar é visto como condição
fundamental para “ser alguém na vida” e “ter um futuro melhor”. Constatou-
se também que o abandono do campo pela juventude não é fruto de uma
opção pessoal, mas sim contingência da demanda por melhores condições
de vida, uma vez que 24 dos 30 entrevistados e entrevistadas prefeririam
continuar no campo se fosse possível sobreviver do trabalho na terra. As di-
ferenças culturais entre o rural e o urbano são evidenciadas pela forma como
alunos e alunas se posicionam em relação à vida no campo e à vida na cidade,
•
Esta catalogação não se
pretende conclusiva. Portan
to, entende-se que deve ser
constantemente atualizada com
a incorporação de publicações e
de trabalhos não disponibiliza
dos na Internet (principal fonte
utilizada neste trabalho). Nesse
sentido, foram incluídos neste
catálogo resumos que não es
tavam disponíveis no momento
em que foi realizada a análise
apresentada na primeira parte
desta publicação, o que não
altera as tendências identifica
das na análise. A saber: SA LE S ,
1999; 2001(a); 2001(b); 2003
e S TROPA S OL A S , 1993; 2004.
39. 38
catálogotemáticodebibliografias
à escola rural freqüentada anteriormente e à escola urbana atual. Cursar o 3o
grau aparece na perspectiva de apenas 5 alunas e 2 alunos. Para os demais, a
necessidade imediata é encontrar um emprego. O que direciona alunos e alu-
nas a migrar para a cidade são as precárias condições da agricultura familiar:
falta de preços para os produtos, interferência das condições climáticas na
produtividade, trabalho árduo e insuficiência de recursos para a manutenção
familiar. (Palavras-chave: ensino médio; juventude rural.)
ESTE VAM, Dimas de Oliveira. Casa familiar rural: a formação com base na pe
dagogia da alternância em Santa Catarina. Dissertação de Mestrado, Programa
de Pós-Graduação em Administração/Universidade Federal de Santa Catarina,
Florianópolis, 2001.
Resumo: O objetivo do presente estudo consiste em analisar a proposta
de formação das casas familiares rurais e sua prática a partir de um estudo
de caso. Essas casas familiares rurais têm sua origem no modelo das maisons
familiares rurales francesas. O método de ensino utilizado é a pedagogia da al-
ternância, em que o jovem passa uma semana na casa familiar e duas semanas
na propriedade, aplicando na prática o aprendizado adquirido na instituição
na semana anterior. É dessa forma que acontece na França, no Brasil e em
outros países. A proposta é considerada uma alternativa de formação para
jovens filhos de agricultores. Em Santa Catarina, esse modelo de ensino tem-se
expandido por meio de parcerias que envolvem organizações governamentais
e não governamentais, principalmente as vinculadas à agricultura e à edu-
cação. O estudo procurou resgatar as origens do projeto, com ênfase nas
experiências catarinenses, no intuito de compreender a realidade da expe-
riência no estado. (Palavras-chave: casa familiar; pedagogia da alternância.)
FREIRE, Jacqueline Cunha da Serra. Retratos da Amazônia: educação e juven
tude Ribeirinha. In: VI Congresso da Associação Latino-Americana de Sociologia
Rural (Alasru), Porto Alegre, novembro de 2002.
Resumo: A Amazônia é marcada não apenas por sua complexa biodiver-
sidade, mas pela heterogeneidade cultural de sua população. O presente estu-
do inscreve-se no esforço de descrever o contexto sociocultural da juventude
rural ribeirinha (populações de beira de rio), de desvelar/revelar seus saberes
•
•
40. 39
catálogotemáticodebibliografias
e práticas e de analisar o papel da educação nesse contexto, na perspectiva de
sinalizar possibilidades e políticas públicas para esses jovens. A metodologia da
pesquisa está centrada no estudo de caso e recorre ao processo de triangula-
ção, que implica a busca diversificada de sujeitos no uso de variadas fontes de
informações e interpretação dos dados em diferentes perspectivas. O locus da
pesquisa é a Ilha do Combu, uma das 39 ilhas da região insular de Belém, capital
do Estado do Pará, situada na orla sul da cidade, numa área de aproximadamen-
te 1.500 hectares. Entre as atividades produtivas predominam o extrativismo
e a pesca artesanal. (Palavras-chave: educação; juventude rural ribeirinha.)
MANHANI, DanielaCristina.Umaavaliaçãodoprogramadeformaçãodejovens
empresários rurais: Projovem Dissertação (Mestrado em Economia Aplicada), Es-
cola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz/Universidade de São Paulo, Piraci-
caba, 2000.
Re sumo: Este estudo analisa vantagens econômicas e sociais advindas
da implantação do Programa de Formação de Jovens Empresários Rurais
(Projovem). Trata-se de um programa que utiliza metodologia diferenciada
baseada na pedagogia de alternância, no construtivismo e na elaboração
e implantação de projeto de investimento individual. Este programa visa
atender os jovens filhos de pequenos produtores, de parceiros e de trabalha-
dores rurais, deficientes em recursos físicos, financeiros e humanos a fim de
torná-los empresários rurais. São utilizados dados primários e secundários.
A fonte primária de informações utilizada neste estudo foi obtida por meio
de entrevistas, que forneceram os dados necessários à análise socioeconô-
mica; foram analisadas ainda as expectativas dos jovens e suas famílias e
o cálculo da taxa interna de retorno. Os dados secundários foram conse-
guidos com o Ceeteps, estatísticas do IBGE e outras fontes de literatura.
O estudo mostrou que o Projovem atende principalmente famílias carentes
do meio rural e jovens interessados em trabalhar e permanecer no campo,
e algumas mudanças de caráter social, comportamental e econômico já são
visíveis. Os jovens estão mais integrados à comunidade, mais interessados
pelo trabalho, melhoraram o relacionamento com a família, introduzem
novas técnicas na propriedade e, com a aplicação do que aprenderam du-
rante a implantação do projeto de investimento, têm chances de aumentar
a renda da família de maneira sustentada e continuada. A análise sobre a
função de monitores dentro do programa detectou falhas na formação de
•
41. 40
catálogotemáticodebibliografias
alguns – apesar de possuírem conhecimento técnico, alguns não possuem
vivência empresarial nem prática com a metodologia de ensino propos-
ta pelo Projovem. Entretanto, os monitores conseguem, por meio de aulas
diferenciadas que retratam o ambiente do jovem, despertar seu interesse e
participação no programa. O cálculo da taxa interna de retorno mostrou que
é mais vantajoso para o jovem rural cursar o Projovem e implantar seu projeto
de investimento do que permanecer no campo como trabalhador rural ou ir
para a cidade se dedicar a emprego não qualificado. A partir do momento em
que o programa possibilita rendimentos maiores no campo do que na cidade,
o setor urbano deixa de ser tão atrativo para o jovem rural. Os resultados
permitem concluir que o Projovem é um programa desejável tanto do ponto
de vista econômico como social, podendo contribuir para o fortalecimento
da agricultura familiar e tornar-se um fator de desenvolvimento das regiões
mais carentes. (Palavras-chave: educação rural; capital humano.)
SILVA , Onaide Maria Fernandes da. Inovação curricular nas escolas rurais de
Catalão-Goemudançasocial:umestudodecaso.DissertaçãodeMestrado,Pós-
Graduação em Extensão Rural/Universidade Federal de Viçosa, Viçosa, 1992.
Re sumo: Pretendeu-se neste estudo verificar teórica e empiricamente
as proposições de um programa educacional implementado pela Prefeitura
Municipal de Catalão-Go, bem como verificar os efeitos do programa nas
famílias rurais participantes. Para tanto, tomou-se como base empírica o
programa de promoção socioeconômica da juventude escolar rural levado a
efeito pela Prefeitura Municipal de Catalão e pela Emater-Go a partir de 1986.
Esse programa tem em sua estrutura organizacional o ensinamento de técni-
cas agrícolas, suposto como condição suficiente para promover mudanças e
desenvolvimento socioeconômico. Para investigação, os dados foram obtidos
por meio da aplicação de questionários para professores, alunos, autoridades
e pais dos respectivos alunos. Discutiu-se também a coerência existente entre
a formulação da proposta e a fundamentação teórica com base na análise de
documentos do programa e entrevistas com os executores deste. Pela aná-
lise, concluiu-se que o programa implementado não conseguiu os objetivos
propostos no que tange à realização de mudanças nas estruturas produtivas
e nas condições materiais envolvidas na redução da migração e na contenção
da evasão escolar. (Palavras-chave: inovação curricular; promoção socioe-
conomica; movimento.)
•
42. 41
catálogotemáticodebibliografias
SILVA , Vanda Aparecida da. Eles não têm nada na cabeça...: jovens do sertão
mineiro entre a tradição e a mudança. Dissertação de Mestrado, Faculdade de
Educação da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Campinas, 2000.
Re sumo: Trata-se de uma pesquisa qualitativa sobre a construção das
identidades dos jovens de Chapada do Norte-MG, tal como elas se mostram
com suas articulações nos “modos de ser, de sentir e de representar-se” visan-
do fornecer pistas para os projetos que pretendam diminuir a evasão escolar
e/ou a repetência escolar e o analfabetismo na região do Vale do Jequitinho-
nha-MG, bem como contribuir para o conhecimento desses jovens do sertão
mineiro. Por meio dos depoimentos, esta pesquisa investiga rapazes e moças
entre 15 e 25 anos de idade para descobrir como estes jovens atribuem sentido
às suas vidas mediante os cruzamentos de expectativas e frustrações e os
conflitos originados por influências culturais externas, tais como TV, rádio,
migração sazonal, etc., que comunicam outros significados. (Palavras-chave:
jovens rurais; identidade; educação.)
SILVA , Vanda. Jovens de um rural brasileiro: socialização, educação e assistên
cia. Cad. Cedes, Campinas, v. 22, n. 57, p. 97-115, ago. 2002.
Resumo: No momento em que as fronteiras entre o rural e o urbano di-
minuem cada vez mais e diferentes universos culturais se interpenetram e as
dificuldades socioeconômicas dificultam a vida de quem vive da agricultura,
emerge a juventude rural como uma população profundamente afetada por
esses processos, população esta que, por muito tempo, passou despercebida
das pesquisas acadêmicas brasileiras. Este artigo, portanto, chama a atenção
para os jovens rurais, a partir de um estudo que procurou fornecer pistas
para projetos que pretendam diminuir a evasão escolar e o analfabetismo
em regiões como a do Vale do Jequitinhonha, Minas Gerais. (Palavras-chave:
jovens rurais; identidade; educação; socialização; assistência.)
•
•
43. 42
catálogotemáticodebibliografias
TURQUINO, Gisele Braile. Estilo urbano em escola rural? Um estudo comparativo
de duas realidades culturais de Londrina. Dissertação de Mestrado, Programa de
Pós-GraduaçãoemEducação/UniversidadeEstadualdeLondrina,Londrina,2003.
Resumo: O trabalho de transformação das condições de vida do homem
rural brasileiro não pode fiar-se apenas em tecnologias agronômicas, estudos
de economia ou enunciados políticos, ele deve, além disso, levar em conside-
ração a cultura desse homem. A vida rural e a cultura caipira têm uma grande
riqueza de valores que pode ser de grande valia para a educação e a escola.
A escola tem um grande valor também para o homem rural. Este trabalho
busca estabelecer comparações entre estas duas realidades – a da escola ur-
bana e a da escola rural –, com seus alunos, professores e comunidade de
entorno, seus valores, possibilitando uma reflexão que contribua para melhor
enxergar o contraste entre o rural e o urbano, que no presente se afigura. Tra-
ta-se de uma descrição do cotidiano escolar de meninos e meninas, mediante
a qual se examinam suas atitudes e se procura entender seus anseios e as
lições que podem trazer ensinamentos. A investigação tem bases qualitativas
e focaliza os significados culturais dos grupos por meio de observação direta,
constituindo uma abordagem etnográfica. A preocupação com semelhanças
e diferenças sinaliza outro recurso metodológico, que busca a profundidade
dos seus significados para posterior comparação. A comparação dos dados
encontrados, graças à qual se volve o olhar para as convergências e as diver-
gências das informações obtidas sobre o meio rural e urbano e sua convivência
na escola, é de grande valia para permitir a reflexão, objetivo final deste traba-
lho. (Palavras-chave: cultura; educação; meio rural e meio urbano; etnografia.)
II. Juventude, identidades e ação coletiva
BENE VENUTO, Mônica Aparecida del Rio. Um olhar sobre a construção da visão
de juventude entre assentados rurais. In: XI Congresso Brasileiro de Sociologia,
Campinas, setembro de 2003(a).
Resumo: O propósito deste artigo é refletir sobre a construção do signi-
ficado da juventude no Assentamento Rural de Casas Altas-RJ, destacando
seu lugar social, seus espaços, suas práticas e idéias. Esta reflexão orienta-se
•
•
44. 43
catálogotemáticodebibliografias
pela heterogeneidade desses jovens, pelas diferentes inserções sociais e pelas
oportunidades de acesso a bens materiais e culturais. Apesar da diversidade,
esses jovens juntam-se em função de características semelhantes, pois per-
tencer ao Assentamento parece constituir-se numa expressão de unicidade
entre eles. O ponto central dessa abordagem é a identificação de duas gera-
ções de jovens e o sentido de sua importância sociológica para a comunida-
de relacionado com a trajetória vivida pelo Assentamento. (Palavras-chave:
assentamento rural; juventude; diversidade; trajetórias.)
BENE VENUTO, Mônica Aparecida del Rio. Aparência e estilo como elementos de
análise das expressões da juventude do Assentamento Rural de Casas Altas,
RJ. Tese de Doutorado, CPDA/Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, Rio
de Janeiro, 2003(b).
Resumo: Estudo de caso sobre a população jovem do Assentamento Rural
de Casas Altas, no município de Seropédica-RJ. A análise da aparência, do
comportamento e da atitude desses jovens visa entender as maneiras pelas
quais se expressa a juventude nesta comunidade. A abordagem deste tema a
partir da esfera do consumo mostrou-se rica pela dimensão social embutida
nesta atividade. Esta via revelou muito do jeito de ser desses jovens e do modo
criativo pelo qual lidam com contextos rurais e urbanos, com esferas locais e
globais, com o ambiente midiático, com espaços familiares e comunitários, e
como encontram um eixo que dá sentido à construção de um estilo próprio
de ser jovem, coerente com a realidade vivida pelos assentados. (Palavras-
chave: juventude; estilo; comportamento.)
BRANCO, Maria Teresa Castelo. Jovens sem-terra: identidades em movimento.
Curitiba: Editora da UFPR, 2003. p. 176.
Resumo: Utilizando o referencial teórico da psicologia sócio-histórica, a
pesquisa apresentada neste livro permite compreender o processo contradi-
tório vivido pelos jovens de determinado assentamento do Movimento dos
Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST) na constituição das suas identidades.
Trata, portanto, daquilo que os jovens “sentem ser” em uma dinâmica social
que oprime a classe a que pertencem e na luta empreendida pelos seus pais.
Para além do estudo de caso, a autora revela que a produção das identida-
•
•
45. 44
catálogotemáticodebibliografias
des é um processo político em que a construção de uma representação e
um sentido de si ocorrem na luta de classes, quando diferentes significados
se confrontam, determinadas identidades sociais são negadas, esquecidas,
desqualificadas, e outras reconhecidas e reafirmadas, provocando, no sujei-
to que se constitui, um intenso processo de negociação interna de sentidos.
(Palavras-chave: jovens sem terra; identidade; representações.)
CA STRO, Elisa Guaraná de. Os jovens não participam: eleições, disputas e ne
gociações em um assentamento rural da Baixada Fluminense. In: XI Congresso
Brasileiro de Sociologia, Campinas, setembro de 2003.
Resumo: Uma revisão bibliográfica sobre juventude revela os muitos sig-
nificados atribuídos à categoria. Ao analisar as relações internas de um as-
sentamento rural da Baixada Fluminense, alguns discursos constroem uma
imagem de juventude carregada de expectativas e demandas quanto ao que
seria uma atuação desejada. O acompanhamento da eleição para a diretoria
da Associação de Pequenos Produtores do Mutirão Eldorado foi um momento
revelador das relações internas ao assentamento, assim como das relações com
atores externos. O processo contribuiu para a observação das relações entre
pais e filhos, assim como para a observação das formas de construção e uso
da categoria jovem no assentamento. A atuação dos que são definidos e/ou
se autodefinem como jovens (em sua maioria filhos dos assentados) pode ser
analisada por meio dos discursos e das práticas, que variaram de acordo com
o grau de envolvimento destes com os espaços formais de organização interna
ao assentamento e com as redes de relações formadas dentro e fora do Mutirão.
Este trabalho propõe apresentar as primeiras análises desse material, que faz
parte da tese de doutorado Discursos e práticas na construção da categoria
jovem rural. (Palavras-chave: assentamento rural; juventude; participação.)
CHAVES, Tathyana de Abreu Batista. Assentamento rural sob o olhar de suas ge-
rações. In: XI Congresso Brasileiro de Sociologia, Campinas, setembro de 2003.
Resumo: Os assentamentos rurais foram fruto da mobilização social pelo
direito à terra, à dignidade, à vida. Apesar da permanência desse movimen-
to durante todos esses anos e do reconhecimento de sua importância pela
sociedade, muito se tem contestado sobre a viabilidade e os benefícios reais
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catálogotemáticodebibliografias
provenientes desses assentamentos. Com o intuito de observar as mudanças
ocorridas na perspectiva das gerações (seus pais, os próprios assentados e
seus filhos), este trabalho propôs-se a estudar sua trajetória e algumas estraté-
gias utilizadas, destacando alguns temas (escolaridade, vizinhança, trabalho)
com o objetivo de traçar linhas de comparação entre as gerações e os assen-
tamentos, fazendo-se um contraponto com a realidade brasileira atual. Para
tanto, três assentamentos foram abordados: Fazenda Reunidas (Promissão-
SP), Sumaré (Sumaré-SP) e Monte Alegre (Araraquara-SP). A fonte de dados
utilizada foi retirada de questões de múltiplos enfoques dos questionários do
Projeto: “A dinâmica dos assentamentos rurais em São Paulo e seus efeitos
sobre o espaço físico e social”(Feagri/Unicamp e CRBC/EHESS). (Palavras-
chave: assentamento rural; gerações; trajetórias; estratégias.)
COPA , Cristina Suarez Velasquez. Da formação de grupos à ação coletiva: uma
análise com grupos de jovens do Assentamento Rural da Fazenda Ipanema
– Iperó-SP. Dissertação (Mestrado em Ciências Florestais), Escola Superior de
Agricultura Luiz de Queiroz/USP, São Paulo, 2002.
Resumo: O objetivo principal desta dissertação foi analisar o processo de
formação do Jumafi (Jovens Unidos para a Mobilização da Fazenda Ipanema),
grupo de jovens do Assentamento Rural da Fazenda Ipanema, localizado no
município paulista de Iperó, motivado pela busca de alternativas de geração
de renda ambiental e socialmente sustentável sob a luz da educação ambien-
tal. Desse modo, concluí ser necessário construir uma análise a partir de uma
visão de complementaridade de ações, da compreensão da lógica da ação
coletiva dos grupos sociais existentes na comunidade e de uma análise com-
portamental sobre as iniciativas e a história de formação dos grupos locais,
das experiências coletivas vividas pelos agricultores e, principalmente, por
meio da experiência vivida pelos jovens na organização do Jumafi. Centrei
minha análise na noção de participação e organização social, analisando a
formação dos grupos e os aspectos da vida cotidiana. Utilizando elementos
da pesquisa social qualitativa e outros procedimentos da pesquisa partici-
pante, realizei o acompanhamento do desenvolvimento desses grupos, a
fim de apreender os elementos que favorecem ou impedem a ação coletiva
em grupos de jovens, buscando perceber as fortalezas e as oportunidades
vistas por eles no trabalho coletivo. Esta pesquisa esteve dividida em dois
momentos: Tempo 1 – que se refere ao momento da observação participante
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