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As Repúblicas Estudantis e seus Significados1
Isaurora Cláudia Martins de Freitas2
Resumo
Para muitos jovens brasileiros o ingresso na universidade é acompanhado pelo desafio
de sair da casa dos pais e buscar alternativas de moradia em outra cidade. É o caso daqueles
cuja graduação é realizada em uma universidade distante do seu município de origem. Para
esses, a estratégia de moradia mais comum é compartilhar casas ou apartamentos com outros
estudantes, formando repúblicas estudantis. A coabitação constitui o ponto de partida para a
experimentação de um modo de vida diferente do que vivenciam na casa da família. Entre a
liberdade devida ao fato de estarem longe da vigilância dos pais e a responsabilidade de
cuidar da casa e de si, que experiências tomam lugar nas repúblicas? O que significa para
eles fixar residência em outro município por certo período de tempo? Como vivenciam esse
tempo? Que significados essas vivências conferem ao ser jovem e, sobretudo, ao ser
universitário?
Tais questões norteiam a pesquisa que toma como campo empírico as repúblicas
estudantis da cidade de Sobral, localizada no estado do Ceará e tem como objetivo analisar, a
partir de notas etnográficas, os significados que esses espaços assumem para os jovens que
neles habitam.
Palavras-chave: juventude; repúblicas estudantis; sociabilidade.
Introdução
As universidades, de modo geral, salvo algumas exceções, têm como objetivo
preparar profissionais para as carreiras de base intelectual, científica e técnica. Como
instituição de formação, onde jovens passam de três a cinco anos de suas vidas, as
universidades tornam-se lugares privilegiados de vivências e experimentações no que
concerne ao exercício da própria juventude, em que o ser universitário imprime significados
ao ser jovem. Mas nem todos os jovens vivenciam o tempo dos estudos universitários do
mesmo modo.
O ingresso na universidade é acompanhado, para muitos, pelo desafio de sair da casa
dos pais e buscar alternativas de moradia em outra cidade. É o caso dos jovens cuja
1
Trabalho apresentado na 26ª. Reunião Brasileira de Antropologia, realizada entre os dias 01 e 04 de
junho, Porto Seguro, Bahia, Brasil.
2
Doutora em Sociologia e Professora Adjunta da Universidade Estadual Vale do Acaraú (UVA). E-mail:
isaurora@terra.com.br
2
graduação é realizada em uma universidade distante do seu município de origem. Para esses,
a estratégia de moradia mais comum é compartilhar casas ou apartamentos com outros
estudantes, formando repúblicas estudantis.
Feixa (2006) afirma que o quarto dos jovens passou a ser na última década reduto e
laboratório de uma microcultura juvenil emergente. Se ter um quarto só para si, faz diferença
e agrega inúmeros significados à experiência juvenil, o que acontece quando o jovem tem a
oportunidade de ter uma casa inteira só para ele e outros jovens? No presente artigo,
buscamos respostas para essa e outras perguntas a partir da análise das repúblicas que
congregam jovens universitários, especialmente da Universidade Estadual Vale do Acaraú
(UVA), no município de Sobral, situado na Região Norte do Ceará, distante 232 km da
capital Fortaleza.
A coabitação com outros jovens constitui o ponto de partida para a experimentação de
um modo de vida diferente do que vivenciam na casa da família. Entre a liberdade devida ao
fato de estarem longe da vigilância dos pais e a responsabilidade de cuidar da casa e de si,
que experiências tomam lugar nas repúblicas? O que significa para esses jovens fixar
residência em outro município por certo período de tempo? Como vivenciam esse tempo?
Que significados essas vivências conferem ao ser jovem e, sobretudo, ao ser universitário?
Tais questões norteiam esse estudo que, a partir de notas etnográficas, analisa os
significados que as repúblicas estudantis assumem para os jovens que nelas habitam.
Juventude, Juventudes, Culturas Juvenis: Aproximações Conceituais
Se a juventude for pensada como fase de transição para a vida adulta, em que o ciclo
“normal” seria cumprir todas as etapas de escolarização – ingressar no mercado de trabalho –
sair da casa dos pais – formar uma nova família, pode-se dizer que a universidade é o lugar
natural da juventude a partir dos dezoito anos de idade (fase em que geralmente os jovens,
em situação normal de escolarização, concluem o ensino médio). No Brasil, no entanto,
apenas 10% dos jovens na faixa etária de dezoito a vinte e quatro anos estão cursando o
ensino superior3
. Os que conseguem ingressar na universidade, além de gozar do status de
universitário, têm acesso à possibilidade de uma melhor qualificação profissional e passam a
fazer parte de um universo sócio-cultural diferenciado do universo dos jovens que estão fora
dessa instituição. Deste universo fazem parte vivências através das quais se constitui a
3
D ad o s d o M E C, re fere n t e s ao a no d e 2 0 0 5 .
3
“identidade” do universitário, formada, sobretudo, na interação com os pares que, de acordo
com Simmel (1983), constitui o fundamento da sociabilidade.
Apesar de estarem agrupados na mesma categoria, os jovens não são realidade
socialmente homogênea. É certo que têm em comum o pertencimento a uma dada fase da
vida, definida em termos etários (PAIS, 2003), mas suas situações sociais são marcadas pela
diferença (raça, etnia, gênero, condições sócio-econômicas e culturais) e, portanto, os modos
de existência trazem a marca da ruptura e dos percursos diversos. Ainda que partilhem uma
mesma condição social e a passagem pela mesma instituição, como a universidade, os jovens
trazem em si diferenças significativas.
Nos estudos contemporâneos sobre juventude, os pesquisadores e especialistas no
tema chamam atenção para a diversidade nos modos de vivenciar a juventude. Assim, nos
dizem que a juventude é uma construção social paradoxal que tem como característica a
heterogeneidade em face à aparente homogeneidade que o conceito sugere (BOURDIEU,
1983; GALLAND, 1991; MARGULIS & URRESTI, 1996; PAIS, 2003). Para dar conta do
paradoxo, a expressão culturas juvenis tem sido utilizada como meio de acesso à
multiplicidade de práticas, atitudes e modos de ser jovem verificada no cotidiano deste
segmento, bem como às semelhanças e diferenças existentes entre jovens de origem e
pertenças diversa.
Trata-se, portanto, de considerar os multipertencimentos de grupos e indivíduos.
Considerando que os processos identitários não são fixos e únicos. Ao contrário, “a
construção das identidades é um processo que decorre no tempo, é dinâmico, transforma-se e
se dá em múltiplos contextos sócio-culturais e níveis de realidade.” (VELHO, 2006: 193)
Será que no caso dos estudantes universitários pode-se falar da existência de uma
“cultura juvenil universitária” que se constitui a partir das vivências específicas que o
ingresso na universidade proporciona? Entendendo a cultura como um conjunto de
significados compartilhados, a resposta afirmativa à questão pressupõe a existência de uma
gama de sinais, linguagens, práticas e modos de ver que simbolizam a pertença ao grupo dos
universitários indicando semelhanças entre os jovens de todas as universidades. Porém, nem
todos os jovens vivenciam o ser universitário da mesma forma, assim, é preciso buscar
também o que diferencia os universitários.
4
Neste estudo, optou-se por olhar os sujeitos em questão a partir da perspectiva das
culturas juvenis. Buscamos, portanto, os significados e experiências compartilhadas pelos
estudantes universitários da UVA que habitam as repúblicas4
.
Levando em conta os objetivos da pesquisa, os jovens universitários têm sido olhados
com as lentes do cotidiano, pois é na cotidianidade, a partir das interações entre si, que os
jovens constroem e compartilham significados, lançando mão de inúmeras “astúcias” e
“modos de fazer” (CERTEAU, 1996) que permitem formar e transformar os contextos nos
quais se movimentam. Dessa forma, a observação participante, as conversas informais e as
entrevistas foram estratégias metodológicas adotadas na pesquisa que analisou quatro
repúblicas distintas: duas masculinas, uma feminina e uma mista.
As Repúblicas e seus Significados
O termo república vem do latim res-publica, que significa coisa pública. Na língua
portuguesa, além de designar a forma de governo, o termo é utilizado também para dar nome
às residências estudantis numa alusão ao convívio em um espaço onde a coabitação com
outros estudantes e o compartilhamento de espaços e experiências comuns dá o tom das
vivências.
A história das repúblicas estudantis, embora pouco conhecida, acompanha a história
das universidades, uma vez que a coabitação com os pares foi desde sempre a estratégia
encontrada pelos estudantes para garantir a permanência em cursos superiores realizados
longe de casa. No século XIII, com o surgimento das primeiras universidades européias,
surgem também as primeiras casas comunitárias de estudantes, onde habitavam estudantes e
mestres oriundos de uma mesma região, nacionalidade ou diocese (ESTANQUES, 2006).
Em muitas universidades as repúblicas, também chamadas de residências
universitárias, são oferecidas pela própria instituição como parte do programa de assistência
a estudantes de baixa renda advindos de municípios que não são o da sede da universidade.
No caso da UVA, os estudantes não gozam desse benefício, pois a universidade não
oferece residências estudantis. Tal fato obriga os jovens oriundos de outros municípios ou
4
O e s t ud o aq u i r e feri d o é p a rt e d a p e sq ui s a “S o c iab i li d ad e s J u v e n i s e m
C o n t e xt o U n i ve r si tá rio : u m e s t ud o so b re o s ô n ib u s e a s r ep úb l ic as e s t ud a nt is
d a U V A” q ue v e m s en d o d e se n v o l v id o p e la a ut o ra d e st e ar t i go c o m o ap o io
d o p ro gr a ma d e I n i ci a ção C ie n t í fic a d a F u n d aç ão C ear e n se d e Ap o io ao
D e s e n vo l v i me n to Ci e nt í fi co e T ec n o l ó gi co (F U N C AP ).
5
estados a buscarem estratégias de moradia que possibilitem a permanência em Sobral durante
o período de formação.
Dividir casa ou apartamento com outros estudantes é a estratégia mais comum entre
aqueles que não possuem parentes na cidade. Dessa forma, surgem as repúblicas estudantis
de Sobral.
A partir de um primeiro levantamento feito sobre as repúblicas foi possível perceber
que elas possuem diferenças no que se refere à composição: existem as repúblicas femininas,
as masculinas e as mistas, ou seja, aquelas em que coabitam homens e mulheres.
As quatro repúblicas visitadas possuem a seguinte composição: das duas masculinas,
uma possui seis moradores com idades entre 19 e 26 anos, a outra possui quatro moradores
com idades entre 19 e 27 anos; na feminina moram oito jovens entre 18 e 24 anos e na mista
nove pessoas com idades entre 17 e 24 anos.
A saída de casa, a descoberta de um novo que desperta a sensação de insegurança que
se confunde com medo e euforia, impõe uma série de desafios aos jovens que decidem
estudar em Sobral. O primeiro desses desafios é a questão da habitação que inclui não só a
busca de um lugar, mas, sobretudo, a busca de parceiros de moradia já que as condições
financeiras desses jovens não permitem o pagamento integral do aluguel e demais despesas5
.
Do ponto de vista da formação, observamos que as repúblicas se constituem a partir
de critérios variados, algumas são formadas por jovens de um mesmo município, alguns já
com laços de amizade estabelecidos antes da mudança para Sobral, é o caso dos quatro
jovens que habitam uma das repúblicas masculinas: ali todos são oriundos de Fortaleza, dois
deles moradores do mesmo bairro e amigos desde a infância e já com laços de amizade
estabelecidos com os demais antes de chegar a Sobral. Na outra república masculina e na
feminina o fator gênero é fundamental, ou seja, os moradores não precisam ser conterrâneos,
mas precisam ser do mesmo sexo. Na república mista, município de origem e gênero não são
importantes. Ali as pessoas são escolhidas pelo critério da amizade que, de certa forma,
também é levado em conta nas repúblicas masculinas e na feminina. É comum observar, nos
flanelógrafos da Universidade, anúncios de pessoas buscando companheiros de moradia, no
entanto, não encontramos nas repúblicas visitadas até o momento nenhuma situação em que a
formação tenha se dado a partir desse tipo de estratégia.
5
D e ac o rd o co m o s d a d o s le v a n ta d o s p e la P ró -R e it o ri a d e P l a nej a me n t o d a
U V A, 7 7 % d o s al u n o s q ue i n g re s s ar a m e m 2 0 0 7 p o s s ue m r e n d a fa mi l iar
i n fe ri o r a q u a tro s al ári o s mí n i mo s .
6
Os que chegam primeiro decidem sobre quem entra para a república, bem como
estabelecem critérios para a substituição dos que saem por motivo de formatura ou por outro
motivo qualquer. O critério da afinidade de interesses e estilo de vida é fundamental. Numa
das repúblicas masculinas, por exemplo, um dos moradores relatou um episódio em que um
rapaz que se candidatou a substituir um membro que se formou foi rejeitado pelo fato de não
demonstrar interesse pelos estudos e possuir um visual que contrastava com o dos outros
habitantes: um cabelo estilo moicano, segundo a descrição dos outros.
Em todos os casos, o fator financeiro pesa mais e justifica a busca por uma quantidade
cada vez maior de moradores. Independente do tamanho da habitação o que conta é a
diminuição das despesas. Na república mista, por exemplo, moram nove estudantes numa
casa que possui quatro quartos. Dessa forma, os quartos são compartilhados por duas ou mais
pessoas, obedecendo ao critério de gênero.
Cada jovem traz uma bagagem de experiências vividas e influências de circunstâncias
históricas e sociais específicas. No ambiente da república a trajetória de vida de cada um
entra em contato com a trajetória dos outros.
A convivência com outros jovens provoca o desenvolvimento de várias práticas,
apresenta a necessidade de organização dos espaços de vivência, bem como a adoção de
regras que imponham limites e garantam a harmonia do local. Cada república apresenta suas
peculiaridades no que diz respeito à organização dos espaços, à divisão de tarefas e despesas,
à adoção de regras etc.
Uma incursão pelo ambiente das repúblicas masculinas permite perceber melhor os
aspectos referidos.
A república Casa das Velas é formada por quatro moradores: dois do curso de
Ciências Sociais, um do curso de Educação Física e um do curso de Pedagogia. Os jovens
são oriundos da cidade de Fortaleza e já se conheciam antes da entrada na universidade. Zé,
do curso de Educação Física, foi o primeiro (da atual formação) a chegar à casa que, a
princípio, dividia com mais três pessoas: um outro estudante de Educação Física (que lhe
convidou para morar lá) e dois vendedores de vela. A denominação da república deve-se ao
fato dos primeiros moradores, que eram vendedores de vela, utilizarem a casa como depósito
para os seus produtos, desde então, em dias de festa, a casa passou a ser decorada com velas
acesas, o que é feito como medida de contenção das despesas com energia. Aqui é necessário
registrar que das repúblicas visitadas esta é a única que possui um nome específico, a
exemplo das tradicionais repúblicas de Ouro Preto e Coimbra. (MACHADO, 2001)
7
A casa é uma construção bastante antiga e mal conservada com paredes úmidas.
Quem entra no local é logo surpreendido com o visual incomum: a ausência de mobília é
compensada pelas paredes pintadas com painéis artísticos feitos pelos próprios moradores,
bem como quadros e mandalas também pintados pelos moradores ou doados por amigos
destes. Na sala de dois ambientes existe um aparelho de som coberto com um pano que traz a
figura de Bob Marley estampada, anunciando uma das preferências musicais dos habitantes,
uma televisão e um DVD, uma mesa e uma cadeira improvisadas que servem de suporte para
o computador também instalado nesse ambiente e um baú de palha pintado, em cuja tampa
descansa uma flor artificial. Instrumentos musicais pendurados nas paredes ou espalhados
pelos cantos da casa completam a decoração e avisam a quem chega que ali as pessoas têm
uma íntima relação com a música: três dos moradores tocam instrumentos e fazem parte de
bandas de rock. Na cozinha, uma geladeira velha amarrada com uma tira de borracha que
sustenta a porta cujo fecho não funciona bem, um fogão velho e um paneleiro improvisado
com muitas panelas de alumínio.
A casa tem um quintal que chama atenção pela quantidade de plantas cultivadas ali:
flores, plantas frutíferas como romã e acerola e um pé de maconha (o mais bem cuidado do
lugar, segundo os moradores), demonstrando que ali é um território livre para o consumo da
erva. O mérito do cuidado com as plantas é de um dos moradores que resolveu iniciar o
cultivo após participar de um curso de agroecologia. Os três quartos da casa oferecem uma
visão do modo ser de cada um na individualidade: as soluções encontradas para dormir
(colchão no chão ou rede), para guardar as roupas (cabides pendurados em armadores,
cômoda, guarda-roupa ou mesmo uma sacola ou mala) e a decoração (posters de ídolo,
desenhos nas paredes, instrumentos musicais espalhados pelo chão).
Improviso e liberdade são os termos exatos para definir tudo na casa, desde a mobília
e a decoração até a forma de organização da convivência que não segue regras, mas funciona
de forma “espontânea, a partir das necessidades”, conforme explicam os moradores:
Aqui é engraçado em termos de divisão de tarefas porque, diferente do que a
gente vê nas outras repúblicas... tipo, a gente vê especificado na parede que
tal pessoa tem que fazer o banheiro tal dia, o almoço tal dia, não sei o que...
Aqui nunca rolou ....(Hugo, 27 anos)
A gente tentou implementar isso nas formações antigas e era briga. E viu que
não era o caminho pra gente... (Zé, 26 anos)
8
Porque a rotina de cada um não dá. Tipo, o Zé trabalha de manhã e de tarde
e eu já tenho períodos que eu trabalho muito e outros períodos que eu não
faço nada como agora. Então o que é que acontece? Quando a gente acorda a
gente já tenta fazer alguma coisa. O Zé acorda mais cedo e então ele vai e
arruma a cozinha. Aí depois o Mário acorda mais tarde, aí ele já dá uma
varrida... Tanto que tem épocas que a casa tá um caos absoluto e tem épocas
em fim de semana que a gente chega e pá: ‘não dá mais pra gente conviver
dessa forma. Vamos fazer um mutirão?’ Aí chega no sábado e todo mundo faz
as coisas. (Hugo, 27 anos)
O clima, a decoração e a forma de organização da casa contrastam em tudo com o
ambiente da outra república masculina. Naquela a organização, a sobriedade da decoração, a
atmosfera clean da construção recente onde o branco impera nas paredes e no piso e até
mesmo a diferença no estilo dos moradores (na Casa das Velas três dos quatro habitantes
possuem tatuagens) e no gosto musical (preferem forró enquanto na outra o rock, o pop e a
MPB fazem a trilha sonora) dão o tom da convivência na república que possui até uma
empregada que cuida das tarefas da casa.
Se por um lado a Casa das Velas pressupõe mais liberdade, por outro, remete a uma
individualização maior dos habitantes, pois ali cada um faz suas próprias compras e cuida da
sua própria comida. Na outra república, fazem cota para comprar a alimentação que vai ser
consumida ao longo do mês, os produtos de limpeza e tudo o mais necessário à manutenção
da casa. É claro que o fato de possuírem uma empregada doméstica contribui para que a casa
esteja sempre em ordem, eximindo os jovens de realizarem tarefas domésticas e evitando
conflitos entre os moradores que cumprem e aqueles que não cumprem os afazeres
domésticos. Os azulejos da cozinha são utilizados como mural de recados e lembretes: datas
das contas a vencer e apelos para limpar o que sujar são anotados ali.
A república mista também possui empregada doméstica. Já na feminina, o que ocorre
é a divisão de tarefas. As moradoras organizam uma espécie de calendário onde estão
distribuídas e marcadas as atividades para determinados dias da semana e aqueles ou aquelas
que não cumprirem rigorosamente sua parte são imediatamente repreendidos pelos demais.
No que se refere às despesas da casa, o recorrente é que tudo o que é gasto seja dividido
igualmente pelo número de moradores.
No que se refere às proibições e permissões também é possível destacar diferenças:
na Casa das Velas fazer festa é uma constante, a casa é, inclusive, utilizada com freqüência
9
como espaço para ensaio de bandas, já nas outras, as festas são proibidas, assim como levar
namorado ou namorada para dormir em casa. Na Casa das Velas, os habitantes são livres
para exercerem sua sexualidade naquele espaço.
Perante as estruturas sociais cada vez mais fluídas do mundo contemporâneo, os
jovens vivem como protagonistas de um tempo de possibilidades. A “liberdade” de estar
longe dos pais convive com a responsabilidade de tomar às rédeas da própria vida, a
responsabilidade de cuidar da casa e de si e ainda, o dever de estar comprometido
devidamente com essa fase de formação.
De acordo com Sardi (2000), as repúblicas estudantis podem ser pensadas como
“ambientes de exacerbação do prazer”, dadas à liberdade de que gozam os jovens nesses
lugares e aos constantes apelos à busca do prazer representados pelas festas, liberdade sexual,
uso de drogas etc. Em ambientes desse tipo é necessário que as pessoas desenvolvam
estratégias de autocontrole e autodisciplina que permitam conciliar os prazeres e os estudos.
As regras de permissão e proibição, sobretudo em relação às festas, ao sexo e ao uso de
drogas no ambiente das repúblicas podem ser um indicador dessa busca de autocontrole, bem
como da influência dos valores desenvolvidos nos espaços de socialização anteriores à
entrada na universidade: família, grupos de amigos, religião. Muito embora, para alguns, essa
experiência seja vivida como um eterno movimento de desconstrução do modo de vida e dos
valores trazidos de casa: Pra mim sempre foi uma eterna desconstrução daquilo que aprendi
em casa e uma eterna construção de outras realidades. (Hugo, 27 anos)
É na confluência entre liberdade e responsabilidade, entre exacerbação do prazer e
auto-controle que os jovens atribuem significados às repúblicas e às vivencias que nelas
tomam lugar. Uns ressaltam a liberdade: Pra mim morar em república é poder sair e chegar
na hora que eu quero sem ter que dar satisfações a ninguém. (João, 22 anos) Outros, dão
ênfase à maturidade advinda da responsabilidade:
Pra mim é amadurecimento porque aqui eu tenho que aprender a me virar e
aprender a fazer tudo sozinho. (Chico, 19 anos)
A responsabilidade sobre a minha vida aumentou, o ter que cuidar de mim
mesma foi algo desafiador. (Maria, 22 anos)
Há aqueles que entendem a soma das duas coisas como parte de um mesmo processo,
processo do qual emerge o jeito mais autêntico de ser universitário:
10
Essa forma que a gente convive é a forma mais autêntica de fazer a
universidade.(...) existe uma intensidade em viver aquilo, ser universitário,
vestir a camisa da universidade, viver um estilo universitário que é... às vezes
tem regras que a universidade monta, mas não tem regra nenhuma em canto
nenhum. Você poder sair numa terça-feira à noite, uma segunda-feira que
seria impossível na casa dos pais e beber e encher a cara, mas no outro dia
ter que estar de pé pra assistir aula, entende? Essas coisas que é ao mesmo
tempo sem regra, mas que tem regra. Eu acho que isso é forma mais autêntica
de viver o jeito universitário. (Hugo, 27 anos)
A grande maioria dos 6 1066
alunos da UVA é oriunda de 54 municípios diferentes da
Região Norte do Ceará. Essa origem cria uma outra situação peculiar à vivência estudantil
nessa universidade: a maioria dos alunos vai e volta todos os dias das cidades de origem,
enfrentando percursos que duram até 3 horas de viagem, dependendo da distância do lugar
até Sobral. Tal fato também agrega significados às repúblicas, uma vez que os que nelas
habitam são aqueles jovens que fizeram opção de morar em Sobral. Assim, morar numa
república é ter a possibilidade de fruir a universidade de forma mais intensa, ampliando a
visão de mundo e a rede de relações:
Tem umas coisas da universidade que só dá pra ver se você tiver aqui. Esse
negócio de vai e volta não dá pra aproveitar a universidade não. (...) Ele vem
pra um mundo que ele não aproveita, que ele chega aqui, vai e volta.... Ele
perde o contato, ele vai continuar com os mesmos contatos da cidade dele, a
formação dele... a idéia de mundo dele vai continuar a idéia de mundo da
cidade dele... ele vai diminuir as relações , ele vai ser mais limitado. (Zé, 27
anos)
Nessa perspectiva, as repúblicas também são pensadas pelos jovens que nelas habitam
como o espaço que possibilita a construção de uma consciência crítica voltada para para a
organização e a contestação estudantil, pois, como espaços de liberdade, constituem ambiente
fértil para a emergência do debate.
6
D ad o s d a P ró -R e it o r ia d e P l a n ej a me n t o d a U V A re fer e n te s à ma t r íc u l a d o
p r i me i ro s e me s tr e d e 2 0 0 7 .
11
Essa desagregação esse fato das pessoas terem que se deslocar de ônibus e
ter que vir pra cá, as pessoas não vivem a universidade. O pouco do
sentimento e do espírito que eu compreendo são as poucas pessoas que estão
aqui e ainda dá pra fazer algum movimento, as pessoas ainda têm relações de
amizade, se juntam para fazer vários movimentos, têm coragem de peitar a
reitoria. (Hugo, 27 anos)
As idéias de mudança, ruptura e desconstrução, ressaltadas nas falas, trazem como
significação básica a dinamização do jovem no seu mundo. Todo cenário de instabilidade
incide nesse momento em que os jovens rastreiam melhores possibilidades e rumos para suas
vidas. A saída da casa dos pais para buscar uma melhor qualificação profissional e para isso
ter que tomar as rédeas da própria vida, pressupõe um risco, uma incerteza maior sobre o que
os espera, mas também a possibilidade de aprendizagens que estão para além dos conteúdos
recebidos nas salas de aula da universidade.
Os processos de socialização na contemporaneidade são compostos por múltiplas
interações e a universidade, para aqueles que conseguem acessá-la, é um dos ambientes
privilegiados onde se dão essas interações. As repúblicas, como conseqüência e extensão da
universidade, possibilitam o alargamento das experiências proporcionadas ao longo do
período de formação. É no ambiente da república que jovens universitários se reúnem e
formam um grupo que irá compartilhar vivências e uma infinidade de experiências. Ali são
construídas novas relações afetivas no âmbito da convivência com os companheiros de
moradia, mas também com outros universitários. O convívio em tal ambiente “gera
experiências pessoais conducentes à aquisição de certas habilidades e atitudes como
conhecimentos de si, sociabilidade e autodisciplina” (SARDI, 2000: 04).
O estabelecimento dos laços de amizade, de afetividade dentro das repúblicas merece
destaque. O que se observa é que esses laços proporcionam o exercício de um pacto baseado
na cooperação, na lealdade, na partilha e no zelo uns pelos outros, muito embora não estejam
ausentes aí os conflitos e as disputas que, por vezes, ocasionam a expulsão de algum
membro.
O que se observou em termos de práticas e em termos dos significados que os jovens
atribuem às vivências nas repúblicas inspira a pensá-las como experiência de si, ou seja,
como espaços onde o cuidado de si aliado ao cuidado com o outro, constituem uma
experiência de subjetivação e construção identitária (FOUCAULT, 1985). Sair da casa dos
pais para experimentar um modo de vida mais independente é um processo de difícil
12
adaptação para muitos, significa experimentar-se por vezes abandonado em um mundo ainda
desconhecido. Porém, eles exercitam na relação com os pares, a possibilidade de
compartilhar essas sensações e os projetos de vida, além do próprio espaço de convivência:
Essa coisa de tá todo mundo junto por um mesmo ideal é essencial. (Hugo, 27 anos).
Segundo Foucault (1985), o cuidado de si se constitui como prática social que permite
que nos cuidados que se tenha consigo possa se receber a ajuda dos outros. No ambiente das
repúblicas por vezes observou-se que os vínculos de amizade travados entre os habitantes, se
configuram como uma forma de ligação no outro, baseada na possibilidade da partilha. Essa
partilha não é só a do espaço, dos projetos, das experiências, dos sentimentos, das sensações,
mas também a partilha dos cuidados sobre si e sobre os outros, que permite driblar a falta que
a família faz. Em uma das conversas entre as moradoras da república feminina, três delas
relembraram com satisfação a ocasião em que uma das moradoras, tendo saído de casa sem
avisar e já passando da hora em que de costume voltava para casa, preocupou as outras que já
trataram de sair em busca de notícias dela. E falaram de mais ocasiões em que alguma delas
adoecia e as outras tratavam de buscar cuidados médicos, destacando que naquela república
“uma sempre se preocupa com a outra”. Nas repúblicas masculinas, o cuidado dos outros
com alguém que adoece também foi destacado como elemento importante da relação de
amizade e solidariedade que se estabelece entre os que dividem a mesma casa, até porque, os
momentos de adoecimento são destacados como os que mais trazem a saudade de casa e da
família.
Dessa forma, percebe-se que no espaço das repúblicas todo um campo de
experiências que antes não existia se abre para seus habitantes, exigindo deles o “cuidado de
si” que passa pelo autocontrole em relação às formas de comportamento, geralmente ligadas
a uma moral e a uma ética que implica respeitar o espaço e os valores dos outros, obrigando-
os a trabalhar sobre si próprios para inventar uma maneira de ser em que se harmonizem os
desejos e necessidades individuais com os coletivos.
Aqui eu tenho o meu quarto, mas lá eu tenho o meu quarto, lá eu recebo as
coisas. Aqui não existe sempre... a partir do momento que eu saio desse
quarto eu tenho que dividi esse espaço com mais outras 3 pessoas, aí você já
tem que obedecer esses pequenos detalhes mesmo que eles não sejam
impostos, mas eles já estão acontecendo aqui. (Hugo, 27 anos)
13
Assim, as repúblicas como espaços de liberdade e exacerbação, responsabilidade e
amadurecimento, intensidade na fruição da universidade, aprendizado da cooperação, da
partilha e da solidariedade, exercício do autocontrole, ampliação dos horizontes, da rede de
amizades e da consciência crítica, bem como de cuidado com o outro, possibilita uma nova
experiência de si através do conhecimento de si mesmo.
Referências Bibliográficas
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CERTEAU, Michel de. A Invenção do Cotidiano: Artes de Fazer. Trad. Ephraim Ferreira
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ESTANQUES, Elísio. As Repúblicas de Coimbra, entre o Passado e o Presente (Parte 1).
Coimbra, 2006. (mimeo)
FEIXA, Carles. O Quarto dos Adolescentes na Era Digital. In: COSTA, Márcia Regina;
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  • 1. 1 As Repúblicas Estudantis e seus Significados1 Isaurora Cláudia Martins de Freitas2 Resumo Para muitos jovens brasileiros o ingresso na universidade é acompanhado pelo desafio de sair da casa dos pais e buscar alternativas de moradia em outra cidade. É o caso daqueles cuja graduação é realizada em uma universidade distante do seu município de origem. Para esses, a estratégia de moradia mais comum é compartilhar casas ou apartamentos com outros estudantes, formando repúblicas estudantis. A coabitação constitui o ponto de partida para a experimentação de um modo de vida diferente do que vivenciam na casa da família. Entre a liberdade devida ao fato de estarem longe da vigilância dos pais e a responsabilidade de cuidar da casa e de si, que experiências tomam lugar nas repúblicas? O que significa para eles fixar residência em outro município por certo período de tempo? Como vivenciam esse tempo? Que significados essas vivências conferem ao ser jovem e, sobretudo, ao ser universitário? Tais questões norteiam a pesquisa que toma como campo empírico as repúblicas estudantis da cidade de Sobral, localizada no estado do Ceará e tem como objetivo analisar, a partir de notas etnográficas, os significados que esses espaços assumem para os jovens que neles habitam. Palavras-chave: juventude; repúblicas estudantis; sociabilidade. Introdução As universidades, de modo geral, salvo algumas exceções, têm como objetivo preparar profissionais para as carreiras de base intelectual, científica e técnica. Como instituição de formação, onde jovens passam de três a cinco anos de suas vidas, as universidades tornam-se lugares privilegiados de vivências e experimentações no que concerne ao exercício da própria juventude, em que o ser universitário imprime significados ao ser jovem. Mas nem todos os jovens vivenciam o tempo dos estudos universitários do mesmo modo. O ingresso na universidade é acompanhado, para muitos, pelo desafio de sair da casa dos pais e buscar alternativas de moradia em outra cidade. É o caso dos jovens cuja 1 Trabalho apresentado na 26ª. Reunião Brasileira de Antropologia, realizada entre os dias 01 e 04 de junho, Porto Seguro, Bahia, Brasil. 2 Doutora em Sociologia e Professora Adjunta da Universidade Estadual Vale do Acaraú (UVA). E-mail: isaurora@terra.com.br
  • 2. 2 graduação é realizada em uma universidade distante do seu município de origem. Para esses, a estratégia de moradia mais comum é compartilhar casas ou apartamentos com outros estudantes, formando repúblicas estudantis. Feixa (2006) afirma que o quarto dos jovens passou a ser na última década reduto e laboratório de uma microcultura juvenil emergente. Se ter um quarto só para si, faz diferença e agrega inúmeros significados à experiência juvenil, o que acontece quando o jovem tem a oportunidade de ter uma casa inteira só para ele e outros jovens? No presente artigo, buscamos respostas para essa e outras perguntas a partir da análise das repúblicas que congregam jovens universitários, especialmente da Universidade Estadual Vale do Acaraú (UVA), no município de Sobral, situado na Região Norte do Ceará, distante 232 km da capital Fortaleza. A coabitação com outros jovens constitui o ponto de partida para a experimentação de um modo de vida diferente do que vivenciam na casa da família. Entre a liberdade devida ao fato de estarem longe da vigilância dos pais e a responsabilidade de cuidar da casa e de si, que experiências tomam lugar nas repúblicas? O que significa para esses jovens fixar residência em outro município por certo período de tempo? Como vivenciam esse tempo? Que significados essas vivências conferem ao ser jovem e, sobretudo, ao ser universitário? Tais questões norteiam esse estudo que, a partir de notas etnográficas, analisa os significados que as repúblicas estudantis assumem para os jovens que nelas habitam. Juventude, Juventudes, Culturas Juvenis: Aproximações Conceituais Se a juventude for pensada como fase de transição para a vida adulta, em que o ciclo “normal” seria cumprir todas as etapas de escolarização – ingressar no mercado de trabalho – sair da casa dos pais – formar uma nova família, pode-se dizer que a universidade é o lugar natural da juventude a partir dos dezoito anos de idade (fase em que geralmente os jovens, em situação normal de escolarização, concluem o ensino médio). No Brasil, no entanto, apenas 10% dos jovens na faixa etária de dezoito a vinte e quatro anos estão cursando o ensino superior3 . Os que conseguem ingressar na universidade, além de gozar do status de universitário, têm acesso à possibilidade de uma melhor qualificação profissional e passam a fazer parte de um universo sócio-cultural diferenciado do universo dos jovens que estão fora dessa instituição. Deste universo fazem parte vivências através das quais se constitui a 3 D ad o s d o M E C, re fere n t e s ao a no d e 2 0 0 5 .
  • 3. 3 “identidade” do universitário, formada, sobretudo, na interação com os pares que, de acordo com Simmel (1983), constitui o fundamento da sociabilidade. Apesar de estarem agrupados na mesma categoria, os jovens não são realidade socialmente homogênea. É certo que têm em comum o pertencimento a uma dada fase da vida, definida em termos etários (PAIS, 2003), mas suas situações sociais são marcadas pela diferença (raça, etnia, gênero, condições sócio-econômicas e culturais) e, portanto, os modos de existência trazem a marca da ruptura e dos percursos diversos. Ainda que partilhem uma mesma condição social e a passagem pela mesma instituição, como a universidade, os jovens trazem em si diferenças significativas. Nos estudos contemporâneos sobre juventude, os pesquisadores e especialistas no tema chamam atenção para a diversidade nos modos de vivenciar a juventude. Assim, nos dizem que a juventude é uma construção social paradoxal que tem como característica a heterogeneidade em face à aparente homogeneidade que o conceito sugere (BOURDIEU, 1983; GALLAND, 1991; MARGULIS & URRESTI, 1996; PAIS, 2003). Para dar conta do paradoxo, a expressão culturas juvenis tem sido utilizada como meio de acesso à multiplicidade de práticas, atitudes e modos de ser jovem verificada no cotidiano deste segmento, bem como às semelhanças e diferenças existentes entre jovens de origem e pertenças diversa. Trata-se, portanto, de considerar os multipertencimentos de grupos e indivíduos. Considerando que os processos identitários não são fixos e únicos. Ao contrário, “a construção das identidades é um processo que decorre no tempo, é dinâmico, transforma-se e se dá em múltiplos contextos sócio-culturais e níveis de realidade.” (VELHO, 2006: 193) Será que no caso dos estudantes universitários pode-se falar da existência de uma “cultura juvenil universitária” que se constitui a partir das vivências específicas que o ingresso na universidade proporciona? Entendendo a cultura como um conjunto de significados compartilhados, a resposta afirmativa à questão pressupõe a existência de uma gama de sinais, linguagens, práticas e modos de ver que simbolizam a pertença ao grupo dos universitários indicando semelhanças entre os jovens de todas as universidades. Porém, nem todos os jovens vivenciam o ser universitário da mesma forma, assim, é preciso buscar também o que diferencia os universitários.
  • 4. 4 Neste estudo, optou-se por olhar os sujeitos em questão a partir da perspectiva das culturas juvenis. Buscamos, portanto, os significados e experiências compartilhadas pelos estudantes universitários da UVA que habitam as repúblicas4 . Levando em conta os objetivos da pesquisa, os jovens universitários têm sido olhados com as lentes do cotidiano, pois é na cotidianidade, a partir das interações entre si, que os jovens constroem e compartilham significados, lançando mão de inúmeras “astúcias” e “modos de fazer” (CERTEAU, 1996) que permitem formar e transformar os contextos nos quais se movimentam. Dessa forma, a observação participante, as conversas informais e as entrevistas foram estratégias metodológicas adotadas na pesquisa que analisou quatro repúblicas distintas: duas masculinas, uma feminina e uma mista. As Repúblicas e seus Significados O termo república vem do latim res-publica, que significa coisa pública. Na língua portuguesa, além de designar a forma de governo, o termo é utilizado também para dar nome às residências estudantis numa alusão ao convívio em um espaço onde a coabitação com outros estudantes e o compartilhamento de espaços e experiências comuns dá o tom das vivências. A história das repúblicas estudantis, embora pouco conhecida, acompanha a história das universidades, uma vez que a coabitação com os pares foi desde sempre a estratégia encontrada pelos estudantes para garantir a permanência em cursos superiores realizados longe de casa. No século XIII, com o surgimento das primeiras universidades européias, surgem também as primeiras casas comunitárias de estudantes, onde habitavam estudantes e mestres oriundos de uma mesma região, nacionalidade ou diocese (ESTANQUES, 2006). Em muitas universidades as repúblicas, também chamadas de residências universitárias, são oferecidas pela própria instituição como parte do programa de assistência a estudantes de baixa renda advindos de municípios que não são o da sede da universidade. No caso da UVA, os estudantes não gozam desse benefício, pois a universidade não oferece residências estudantis. Tal fato obriga os jovens oriundos de outros municípios ou 4 O e s t ud o aq u i r e feri d o é p a rt e d a p e sq ui s a “S o c iab i li d ad e s J u v e n i s e m C o n t e xt o U n i ve r si tá rio : u m e s t ud o so b re o s ô n ib u s e a s r ep úb l ic as e s t ud a nt is d a U V A” q ue v e m s en d o d e se n v o l v id o p e la a ut o ra d e st e ar t i go c o m o ap o io d o p ro gr a ma d e I n i ci a ção C ie n t í fic a d a F u n d aç ão C ear e n se d e Ap o io ao D e s e n vo l v i me n to Ci e nt í fi co e T ec n o l ó gi co (F U N C AP ).
  • 5. 5 estados a buscarem estratégias de moradia que possibilitem a permanência em Sobral durante o período de formação. Dividir casa ou apartamento com outros estudantes é a estratégia mais comum entre aqueles que não possuem parentes na cidade. Dessa forma, surgem as repúblicas estudantis de Sobral. A partir de um primeiro levantamento feito sobre as repúblicas foi possível perceber que elas possuem diferenças no que se refere à composição: existem as repúblicas femininas, as masculinas e as mistas, ou seja, aquelas em que coabitam homens e mulheres. As quatro repúblicas visitadas possuem a seguinte composição: das duas masculinas, uma possui seis moradores com idades entre 19 e 26 anos, a outra possui quatro moradores com idades entre 19 e 27 anos; na feminina moram oito jovens entre 18 e 24 anos e na mista nove pessoas com idades entre 17 e 24 anos. A saída de casa, a descoberta de um novo que desperta a sensação de insegurança que se confunde com medo e euforia, impõe uma série de desafios aos jovens que decidem estudar em Sobral. O primeiro desses desafios é a questão da habitação que inclui não só a busca de um lugar, mas, sobretudo, a busca de parceiros de moradia já que as condições financeiras desses jovens não permitem o pagamento integral do aluguel e demais despesas5 . Do ponto de vista da formação, observamos que as repúblicas se constituem a partir de critérios variados, algumas são formadas por jovens de um mesmo município, alguns já com laços de amizade estabelecidos antes da mudança para Sobral, é o caso dos quatro jovens que habitam uma das repúblicas masculinas: ali todos são oriundos de Fortaleza, dois deles moradores do mesmo bairro e amigos desde a infância e já com laços de amizade estabelecidos com os demais antes de chegar a Sobral. Na outra república masculina e na feminina o fator gênero é fundamental, ou seja, os moradores não precisam ser conterrâneos, mas precisam ser do mesmo sexo. Na república mista, município de origem e gênero não são importantes. Ali as pessoas são escolhidas pelo critério da amizade que, de certa forma, também é levado em conta nas repúblicas masculinas e na feminina. É comum observar, nos flanelógrafos da Universidade, anúncios de pessoas buscando companheiros de moradia, no entanto, não encontramos nas repúblicas visitadas até o momento nenhuma situação em que a formação tenha se dado a partir desse tipo de estratégia. 5 D e ac o rd o co m o s d a d o s le v a n ta d o s p e la P ró -R e it o ri a d e P l a nej a me n t o d a U V A, 7 7 % d o s al u n o s q ue i n g re s s ar a m e m 2 0 0 7 p o s s ue m r e n d a fa mi l iar i n fe ri o r a q u a tro s al ári o s mí n i mo s .
  • 6. 6 Os que chegam primeiro decidem sobre quem entra para a república, bem como estabelecem critérios para a substituição dos que saem por motivo de formatura ou por outro motivo qualquer. O critério da afinidade de interesses e estilo de vida é fundamental. Numa das repúblicas masculinas, por exemplo, um dos moradores relatou um episódio em que um rapaz que se candidatou a substituir um membro que se formou foi rejeitado pelo fato de não demonstrar interesse pelos estudos e possuir um visual que contrastava com o dos outros habitantes: um cabelo estilo moicano, segundo a descrição dos outros. Em todos os casos, o fator financeiro pesa mais e justifica a busca por uma quantidade cada vez maior de moradores. Independente do tamanho da habitação o que conta é a diminuição das despesas. Na república mista, por exemplo, moram nove estudantes numa casa que possui quatro quartos. Dessa forma, os quartos são compartilhados por duas ou mais pessoas, obedecendo ao critério de gênero. Cada jovem traz uma bagagem de experiências vividas e influências de circunstâncias históricas e sociais específicas. No ambiente da república a trajetória de vida de cada um entra em contato com a trajetória dos outros. A convivência com outros jovens provoca o desenvolvimento de várias práticas, apresenta a necessidade de organização dos espaços de vivência, bem como a adoção de regras que imponham limites e garantam a harmonia do local. Cada república apresenta suas peculiaridades no que diz respeito à organização dos espaços, à divisão de tarefas e despesas, à adoção de regras etc. Uma incursão pelo ambiente das repúblicas masculinas permite perceber melhor os aspectos referidos. A república Casa das Velas é formada por quatro moradores: dois do curso de Ciências Sociais, um do curso de Educação Física e um do curso de Pedagogia. Os jovens são oriundos da cidade de Fortaleza e já se conheciam antes da entrada na universidade. Zé, do curso de Educação Física, foi o primeiro (da atual formação) a chegar à casa que, a princípio, dividia com mais três pessoas: um outro estudante de Educação Física (que lhe convidou para morar lá) e dois vendedores de vela. A denominação da república deve-se ao fato dos primeiros moradores, que eram vendedores de vela, utilizarem a casa como depósito para os seus produtos, desde então, em dias de festa, a casa passou a ser decorada com velas acesas, o que é feito como medida de contenção das despesas com energia. Aqui é necessário registrar que das repúblicas visitadas esta é a única que possui um nome específico, a exemplo das tradicionais repúblicas de Ouro Preto e Coimbra. (MACHADO, 2001)
  • 7. 7 A casa é uma construção bastante antiga e mal conservada com paredes úmidas. Quem entra no local é logo surpreendido com o visual incomum: a ausência de mobília é compensada pelas paredes pintadas com painéis artísticos feitos pelos próprios moradores, bem como quadros e mandalas também pintados pelos moradores ou doados por amigos destes. Na sala de dois ambientes existe um aparelho de som coberto com um pano que traz a figura de Bob Marley estampada, anunciando uma das preferências musicais dos habitantes, uma televisão e um DVD, uma mesa e uma cadeira improvisadas que servem de suporte para o computador também instalado nesse ambiente e um baú de palha pintado, em cuja tampa descansa uma flor artificial. Instrumentos musicais pendurados nas paredes ou espalhados pelos cantos da casa completam a decoração e avisam a quem chega que ali as pessoas têm uma íntima relação com a música: três dos moradores tocam instrumentos e fazem parte de bandas de rock. Na cozinha, uma geladeira velha amarrada com uma tira de borracha que sustenta a porta cujo fecho não funciona bem, um fogão velho e um paneleiro improvisado com muitas panelas de alumínio. A casa tem um quintal que chama atenção pela quantidade de plantas cultivadas ali: flores, plantas frutíferas como romã e acerola e um pé de maconha (o mais bem cuidado do lugar, segundo os moradores), demonstrando que ali é um território livre para o consumo da erva. O mérito do cuidado com as plantas é de um dos moradores que resolveu iniciar o cultivo após participar de um curso de agroecologia. Os três quartos da casa oferecem uma visão do modo ser de cada um na individualidade: as soluções encontradas para dormir (colchão no chão ou rede), para guardar as roupas (cabides pendurados em armadores, cômoda, guarda-roupa ou mesmo uma sacola ou mala) e a decoração (posters de ídolo, desenhos nas paredes, instrumentos musicais espalhados pelo chão). Improviso e liberdade são os termos exatos para definir tudo na casa, desde a mobília e a decoração até a forma de organização da convivência que não segue regras, mas funciona de forma “espontânea, a partir das necessidades”, conforme explicam os moradores: Aqui é engraçado em termos de divisão de tarefas porque, diferente do que a gente vê nas outras repúblicas... tipo, a gente vê especificado na parede que tal pessoa tem que fazer o banheiro tal dia, o almoço tal dia, não sei o que... Aqui nunca rolou ....(Hugo, 27 anos) A gente tentou implementar isso nas formações antigas e era briga. E viu que não era o caminho pra gente... (Zé, 26 anos)
  • 8. 8 Porque a rotina de cada um não dá. Tipo, o Zé trabalha de manhã e de tarde e eu já tenho períodos que eu trabalho muito e outros períodos que eu não faço nada como agora. Então o que é que acontece? Quando a gente acorda a gente já tenta fazer alguma coisa. O Zé acorda mais cedo e então ele vai e arruma a cozinha. Aí depois o Mário acorda mais tarde, aí ele já dá uma varrida... Tanto que tem épocas que a casa tá um caos absoluto e tem épocas em fim de semana que a gente chega e pá: ‘não dá mais pra gente conviver dessa forma. Vamos fazer um mutirão?’ Aí chega no sábado e todo mundo faz as coisas. (Hugo, 27 anos) O clima, a decoração e a forma de organização da casa contrastam em tudo com o ambiente da outra república masculina. Naquela a organização, a sobriedade da decoração, a atmosfera clean da construção recente onde o branco impera nas paredes e no piso e até mesmo a diferença no estilo dos moradores (na Casa das Velas três dos quatro habitantes possuem tatuagens) e no gosto musical (preferem forró enquanto na outra o rock, o pop e a MPB fazem a trilha sonora) dão o tom da convivência na república que possui até uma empregada que cuida das tarefas da casa. Se por um lado a Casa das Velas pressupõe mais liberdade, por outro, remete a uma individualização maior dos habitantes, pois ali cada um faz suas próprias compras e cuida da sua própria comida. Na outra república, fazem cota para comprar a alimentação que vai ser consumida ao longo do mês, os produtos de limpeza e tudo o mais necessário à manutenção da casa. É claro que o fato de possuírem uma empregada doméstica contribui para que a casa esteja sempre em ordem, eximindo os jovens de realizarem tarefas domésticas e evitando conflitos entre os moradores que cumprem e aqueles que não cumprem os afazeres domésticos. Os azulejos da cozinha são utilizados como mural de recados e lembretes: datas das contas a vencer e apelos para limpar o que sujar são anotados ali. A república mista também possui empregada doméstica. Já na feminina, o que ocorre é a divisão de tarefas. As moradoras organizam uma espécie de calendário onde estão distribuídas e marcadas as atividades para determinados dias da semana e aqueles ou aquelas que não cumprirem rigorosamente sua parte são imediatamente repreendidos pelos demais. No que se refere às despesas da casa, o recorrente é que tudo o que é gasto seja dividido igualmente pelo número de moradores. No que se refere às proibições e permissões também é possível destacar diferenças: na Casa das Velas fazer festa é uma constante, a casa é, inclusive, utilizada com freqüência
  • 9. 9 como espaço para ensaio de bandas, já nas outras, as festas são proibidas, assim como levar namorado ou namorada para dormir em casa. Na Casa das Velas, os habitantes são livres para exercerem sua sexualidade naquele espaço. Perante as estruturas sociais cada vez mais fluídas do mundo contemporâneo, os jovens vivem como protagonistas de um tempo de possibilidades. A “liberdade” de estar longe dos pais convive com a responsabilidade de tomar às rédeas da própria vida, a responsabilidade de cuidar da casa e de si e ainda, o dever de estar comprometido devidamente com essa fase de formação. De acordo com Sardi (2000), as repúblicas estudantis podem ser pensadas como “ambientes de exacerbação do prazer”, dadas à liberdade de que gozam os jovens nesses lugares e aos constantes apelos à busca do prazer representados pelas festas, liberdade sexual, uso de drogas etc. Em ambientes desse tipo é necessário que as pessoas desenvolvam estratégias de autocontrole e autodisciplina que permitam conciliar os prazeres e os estudos. As regras de permissão e proibição, sobretudo em relação às festas, ao sexo e ao uso de drogas no ambiente das repúblicas podem ser um indicador dessa busca de autocontrole, bem como da influência dos valores desenvolvidos nos espaços de socialização anteriores à entrada na universidade: família, grupos de amigos, religião. Muito embora, para alguns, essa experiência seja vivida como um eterno movimento de desconstrução do modo de vida e dos valores trazidos de casa: Pra mim sempre foi uma eterna desconstrução daquilo que aprendi em casa e uma eterna construção de outras realidades. (Hugo, 27 anos) É na confluência entre liberdade e responsabilidade, entre exacerbação do prazer e auto-controle que os jovens atribuem significados às repúblicas e às vivencias que nelas tomam lugar. Uns ressaltam a liberdade: Pra mim morar em república é poder sair e chegar na hora que eu quero sem ter que dar satisfações a ninguém. (João, 22 anos) Outros, dão ênfase à maturidade advinda da responsabilidade: Pra mim é amadurecimento porque aqui eu tenho que aprender a me virar e aprender a fazer tudo sozinho. (Chico, 19 anos) A responsabilidade sobre a minha vida aumentou, o ter que cuidar de mim mesma foi algo desafiador. (Maria, 22 anos) Há aqueles que entendem a soma das duas coisas como parte de um mesmo processo, processo do qual emerge o jeito mais autêntico de ser universitário:
  • 10. 10 Essa forma que a gente convive é a forma mais autêntica de fazer a universidade.(...) existe uma intensidade em viver aquilo, ser universitário, vestir a camisa da universidade, viver um estilo universitário que é... às vezes tem regras que a universidade monta, mas não tem regra nenhuma em canto nenhum. Você poder sair numa terça-feira à noite, uma segunda-feira que seria impossível na casa dos pais e beber e encher a cara, mas no outro dia ter que estar de pé pra assistir aula, entende? Essas coisas que é ao mesmo tempo sem regra, mas que tem regra. Eu acho que isso é forma mais autêntica de viver o jeito universitário. (Hugo, 27 anos) A grande maioria dos 6 1066 alunos da UVA é oriunda de 54 municípios diferentes da Região Norte do Ceará. Essa origem cria uma outra situação peculiar à vivência estudantil nessa universidade: a maioria dos alunos vai e volta todos os dias das cidades de origem, enfrentando percursos que duram até 3 horas de viagem, dependendo da distância do lugar até Sobral. Tal fato também agrega significados às repúblicas, uma vez que os que nelas habitam são aqueles jovens que fizeram opção de morar em Sobral. Assim, morar numa república é ter a possibilidade de fruir a universidade de forma mais intensa, ampliando a visão de mundo e a rede de relações: Tem umas coisas da universidade que só dá pra ver se você tiver aqui. Esse negócio de vai e volta não dá pra aproveitar a universidade não. (...) Ele vem pra um mundo que ele não aproveita, que ele chega aqui, vai e volta.... Ele perde o contato, ele vai continuar com os mesmos contatos da cidade dele, a formação dele... a idéia de mundo dele vai continuar a idéia de mundo da cidade dele... ele vai diminuir as relações , ele vai ser mais limitado. (Zé, 27 anos) Nessa perspectiva, as repúblicas também são pensadas pelos jovens que nelas habitam como o espaço que possibilita a construção de uma consciência crítica voltada para para a organização e a contestação estudantil, pois, como espaços de liberdade, constituem ambiente fértil para a emergência do debate. 6 D ad o s d a P ró -R e it o r ia d e P l a n ej a me n t o d a U V A re fer e n te s à ma t r íc u l a d o p r i me i ro s e me s tr e d e 2 0 0 7 .
  • 11. 11 Essa desagregação esse fato das pessoas terem que se deslocar de ônibus e ter que vir pra cá, as pessoas não vivem a universidade. O pouco do sentimento e do espírito que eu compreendo são as poucas pessoas que estão aqui e ainda dá pra fazer algum movimento, as pessoas ainda têm relações de amizade, se juntam para fazer vários movimentos, têm coragem de peitar a reitoria. (Hugo, 27 anos) As idéias de mudança, ruptura e desconstrução, ressaltadas nas falas, trazem como significação básica a dinamização do jovem no seu mundo. Todo cenário de instabilidade incide nesse momento em que os jovens rastreiam melhores possibilidades e rumos para suas vidas. A saída da casa dos pais para buscar uma melhor qualificação profissional e para isso ter que tomar as rédeas da própria vida, pressupõe um risco, uma incerteza maior sobre o que os espera, mas também a possibilidade de aprendizagens que estão para além dos conteúdos recebidos nas salas de aula da universidade. Os processos de socialização na contemporaneidade são compostos por múltiplas interações e a universidade, para aqueles que conseguem acessá-la, é um dos ambientes privilegiados onde se dão essas interações. As repúblicas, como conseqüência e extensão da universidade, possibilitam o alargamento das experiências proporcionadas ao longo do período de formação. É no ambiente da república que jovens universitários se reúnem e formam um grupo que irá compartilhar vivências e uma infinidade de experiências. Ali são construídas novas relações afetivas no âmbito da convivência com os companheiros de moradia, mas também com outros universitários. O convívio em tal ambiente “gera experiências pessoais conducentes à aquisição de certas habilidades e atitudes como conhecimentos de si, sociabilidade e autodisciplina” (SARDI, 2000: 04). O estabelecimento dos laços de amizade, de afetividade dentro das repúblicas merece destaque. O que se observa é que esses laços proporcionam o exercício de um pacto baseado na cooperação, na lealdade, na partilha e no zelo uns pelos outros, muito embora não estejam ausentes aí os conflitos e as disputas que, por vezes, ocasionam a expulsão de algum membro. O que se observou em termos de práticas e em termos dos significados que os jovens atribuem às vivências nas repúblicas inspira a pensá-las como experiência de si, ou seja, como espaços onde o cuidado de si aliado ao cuidado com o outro, constituem uma experiência de subjetivação e construção identitária (FOUCAULT, 1985). Sair da casa dos pais para experimentar um modo de vida mais independente é um processo de difícil
  • 12. 12 adaptação para muitos, significa experimentar-se por vezes abandonado em um mundo ainda desconhecido. Porém, eles exercitam na relação com os pares, a possibilidade de compartilhar essas sensações e os projetos de vida, além do próprio espaço de convivência: Essa coisa de tá todo mundo junto por um mesmo ideal é essencial. (Hugo, 27 anos). Segundo Foucault (1985), o cuidado de si se constitui como prática social que permite que nos cuidados que se tenha consigo possa se receber a ajuda dos outros. No ambiente das repúblicas por vezes observou-se que os vínculos de amizade travados entre os habitantes, se configuram como uma forma de ligação no outro, baseada na possibilidade da partilha. Essa partilha não é só a do espaço, dos projetos, das experiências, dos sentimentos, das sensações, mas também a partilha dos cuidados sobre si e sobre os outros, que permite driblar a falta que a família faz. Em uma das conversas entre as moradoras da república feminina, três delas relembraram com satisfação a ocasião em que uma das moradoras, tendo saído de casa sem avisar e já passando da hora em que de costume voltava para casa, preocupou as outras que já trataram de sair em busca de notícias dela. E falaram de mais ocasiões em que alguma delas adoecia e as outras tratavam de buscar cuidados médicos, destacando que naquela república “uma sempre se preocupa com a outra”. Nas repúblicas masculinas, o cuidado dos outros com alguém que adoece também foi destacado como elemento importante da relação de amizade e solidariedade que se estabelece entre os que dividem a mesma casa, até porque, os momentos de adoecimento são destacados como os que mais trazem a saudade de casa e da família. Dessa forma, percebe-se que no espaço das repúblicas todo um campo de experiências que antes não existia se abre para seus habitantes, exigindo deles o “cuidado de si” que passa pelo autocontrole em relação às formas de comportamento, geralmente ligadas a uma moral e a uma ética que implica respeitar o espaço e os valores dos outros, obrigando- os a trabalhar sobre si próprios para inventar uma maneira de ser em que se harmonizem os desejos e necessidades individuais com os coletivos. Aqui eu tenho o meu quarto, mas lá eu tenho o meu quarto, lá eu recebo as coisas. Aqui não existe sempre... a partir do momento que eu saio desse quarto eu tenho que dividi esse espaço com mais outras 3 pessoas, aí você já tem que obedecer esses pequenos detalhes mesmo que eles não sejam impostos, mas eles já estão acontecendo aqui. (Hugo, 27 anos)
  • 13. 13 Assim, as repúblicas como espaços de liberdade e exacerbação, responsabilidade e amadurecimento, intensidade na fruição da universidade, aprendizado da cooperação, da partilha e da solidariedade, exercício do autocontrole, ampliação dos horizontes, da rede de amizades e da consciência crítica, bem como de cuidado com o outro, possibilita uma nova experiência de si através do conhecimento de si mesmo. Referências Bibliográficas BOURDIEU, Pierre. A Juventude é Apenas uma Palavra. In : BOURDIEU, Pierre. Questões de Sociologia. Trad. Jeni Vaitsman. Rio de Janeiro : Marco Zero, 1983. CERTEAU, Michel de. A Invenção do Cotidiano: Artes de Fazer. Trad. Ephraim Ferreira Alves. 2.ed. Petrópolis: Vozes, 1996. ESTANQUES, Elísio. As Repúblicas de Coimbra, entre o Passado e o Presente (Parte 1). Coimbra, 2006. (mimeo) FEIXA, Carles. O Quarto dos Adolescentes na Era Digital. In: COSTA, Márcia Regina; SILVA, Elizabeth Murillo (orgs). Sociabilidade Juvenil e Cultura Urbana. São Paulo: EDUC, 2006. FOUCAULT, Michel. História da Sexualidade 3: O Cuidado de Si. 8 ed. Rio de Janeiro: Edições Graal, 1985. GALLAND, Olivier. Sociologie de la Jeunesse: L´entrée dans la Vie. Paris: Armand Colin , 1991. MACHADO, Otávio Luiz. Reconstrução Histórica das Repúblicas Estudantis da UFOP. Anais do IV Seminário de Metodologia para Projetos de Extensão, São Carlos, 29-31 de agosto, 2001. Disponível em: http://www.itoi.ufrj.br/sempe/t6-p43.htm. Acesso em 20 de abr. 2008. MARGULIS, Mario; URRESTI, Marcelo. “La Juventud es Más que una Palabra” in MARGULIS, Mario (org.). La Juventud es Más que una Palabra. Buenos Aires: Biblos, 1996. MAUGER, Gérard. La “jeunesse” dans les “âges de la vie : Une “définition préalable”. Temporalistes, 11, pp. 6-7, 1989. PAIS, José Machado. Culturas Juvenis. 2.ed., Lisboa: Imprensa Nacional – Casa da Moeda, 2003. SARDI, Jaime Antonio. Estratégias de Auto-regulação por Estudantes Universitários em Ambiente de Exacerbação do Prazer. Revista de Educação Pública, Cuiabá, vol. 00, n. 15, jun/dez, 2000. SIMMEL, Georg. Sociabilidade – Um Exemplo de Sociologia Pura ou Formal. In: MORAES FILHO, Evaristo (Org.). SIMMEL: Sociologia. Trad. Carlos Alberto Pavanelli. São Paulo: Ática, 1983. (Coleção Grandes Cientistas Sociais). VELHO, Gilberto. Juventudes, projetos e trajetórias na sociedade contemporânea. In: ALMEIDA, Maria Isabel Mendes de & EUGÊNIO, Fernanda (Orgs.). Culturas jovens: novos mapas do afeto. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2006.