O documento descreve a trajetória de um importante cartunista brasileiro, com ênfase em sua produção entre 1907-1933. Detalha suas colaborações em diversas publicações do período, onde publicou charges políticas e sátiras sociais que criticavam aspectos da sociedade da época. Também menciona a execução de trabalhos para livros e peças teatrais, demonstrando sua versatilidade como ilustrador.
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JCarlos O pai da ilustração no Brasil é homenageado em Festival no Rio
TAG Magazine nº 1 Edição Especial www.tagmagazine.com.br
do velho mundo
conquistam os muros
OSGEMEOS
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2. Participe e envie sua arte:
graffitiinbox@tagmagazine.com
31
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3. GRAFFITI IN
BOX
30
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4. EDITORIAL
Mesmo ar o gr te não é reconhecido, é
esmo arte, grafi h
CRIAÇÃO E PROJETO GRÁFICO: Eduardo Teixeira, tra ado com
tratado como marginal. É preciso escolher
l s
um lug r onde ninguém vá utilizar, mas que
ugar ond g tili
Helio Jorge, Leandro Cabral, Raphael Vaz e Pedro
s
seja visto por muita gente. Não é fá alguém
o ia e N fácil
dar autorização para se grafitar o próprio
o fi
muro, mas acontece, principalm
u , o almente, por-
EDITOR RESPONSÁVEL: Eduardo Teixeira
q
que os pichadores respeitam os desenhos
o n
e não passam por cima, não rabiscam. Um
ã am
a por s am O
Outro exemplo da popularização dessa
p
pl
a
ato de cons deraçã po parte de
onsideração por p deles. “E fo
E foi street art é o trabalho de Donato na capa
lho
h
EDITOR TÉCNICO: Helio Jorge a partir disso que as pessoas começaram a
parti as pess do CD de M
d Marjorie Estiano. A partir de uma
ta
p d
pedir para grafitar os m o de suas casas”,
ra grafitar muros s foto dela, usou-se a técnica do stencil (uma
c
diz Alin da crew HNF (Hope Never Fa
ine p Fails). forma de grafita usando papel vazado e,
a tar usan
COLABORAÇÃO: Pedro e Raphael Vaz Aline Moraes Creor
Creoruska, que trabalha na então, aplica-se a tinta por cima desse
casa de câmbio do Aeroporto Internacional molde) em muros da Barra Funda em SP.
de Guarulhos, começou a grafitar através do
meç As fotos tiradas desses desenhos foram
REDAÇÃO: Leandro Cabral convite de um amigo e por gostar de ar te.
ma g e arte usadas na capa e no encarte do CD. Outro
Ele estuda na ETE (Escola Técnica Estadual)
na ETE c Esta processo que existe é o free hand, em que
cesso e
do Brás, onde a maioria dos grafiteiros de
ás, ond maio i o grafi se pinta livremente, cria-se sem a limita-
int ivrem
ta
EDITOR DE ARTE: Eduardo Teixeira e Leandro Cabral São Paulo se conhece e se fo
ã Paul nhece se forma, ela conta. ção do molde.
o .
Nunca pichou e acha horrív , o que contra-
n a p ic cha horrível, q cont ntra
ria
ri a lenda de que tod grafit
e tod grafiteiro já foi um
odo A
As pessoas, ao contratarem esses artis-
s
EDITOR DE FOTOGRAFIA: Pedro e Raphael Vaz d
dia pichador.or.
or ta
tas, geralment não querem nada que
r ente
pareça rude nem rebelde. Querem perso-
ude e
nagens já consagrados ou mesmo aqueles
á
criados pelo pró rios grafiteiros e até fi-
elos próp
ASSISTENTE DE FOTOGRAFIA E REDAÇÃO: Helio Jorge
guras abstratas. O preço depende do ta-
a
manho do muro, da parede e fica por volta
o muro
de R$250,00, sem contar a mão-de-obra.
00, sem
As latas de spray são de R$13,00 a 15,00.
pray
a
Mesmo preferindo todo o trabalho feito
eferindo
r o
com spray, os grafiteiros às vezes mistu
afi
fi stu-
10
ram látex, isso inter ere no preço também.
sso terf é
Quem grafita por puro hobby banca todo
a r
o material, trabalha praticamente de graça
abal
a h
As origens desses artistas urbanos são bem
ig d s urba e pelo encanto e praz r da arte urbana.
o raze
dife entes. Alguns vêm do Hip Hop, outros dos
fere e
fe ntes Algun guns d
quadrinhos, ilustrações ou artes plásticas e,
sim, há os que passam da pichação pa o para
6 12 14 8 grafite, mas são poucos.
Cláudio Donato veio das artes plásticas e
ud plá
vive do grafite e da ilustração. Ele afirma que
r ç e
esse mercado está crescendo muito, sobretu-
s d
do no ex
o no exterior. Titi Freak, por exemplo, famoso
grafi eiro
gr teir e reconhecido por seus desenhos
cara
car cterísísticos na região da Liberdade, está
na Inglaterra organizando uma exposição de
seus trabalhos.
a
29
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5. O GRAFFITI ARTE
E O STATUS DE
O grafite é uma das artes de rua que se espalha
pelos muros, túneis e viadutos da cidade. Pode
carregar um significado social, político ou sim-
plesmente ser um vazio artístico. Esse símbolo
de rebeldia e clandestinidade surgiu na picha-
ção e foi herdado pelo grafite, tornou-se arte.
No final da década de 1960 e início dos anos
tag
70, jovens do condado de Bronx, em Nova York,
fizeram ressurgir essa forma de arte. Há duas
teorias complementares que explicam a origem
dos grafiteiros modernos. Uma afirma que o gra-
fite surgiu no Hip Hop. A outra defende que te- Desd
Desde o começo, a temática era revoluc
oluc
ucionária,
nha surgido em NY. O que une essas duas visões chamando a atenção para os prob emas do gov-
h n s robl s
é o fato de esses grafiteiros serem integrantes erno e questões sociais. Os de
s desenhos est
stavam,
das gangues dos guetos de NY, onde o Hip Hop em sua maior par te, nos trens, isso, porque a
i re n s porqr
sempre esteve presente. intenção era passar a mensagem para o maior
en era assa ag
g o
número de pess as. Os muros eram alvos co -
ssoa m r m s con
stantes tambémém.
Cada grafiteiro tem um estilo, sua marca, e é pos-
sível reconhecer tal artista em qualquer de seus
s
trabalh Entre
trabalhos. E r eles o reconhecimento é através
alho e és
do grupo a que perten
grupo ncem, são as crews. CaCada
crew
cre tem uma iden id
a ide dade própria, artistas com
dent o
características comun nos d
ac cas comuns nos desenhos. Os inte-
n
grantes, ve e conhecem a ar t e o est dos
grantes, às vezes, conh
ant
companheiros do grup
n m arte
companheiros do grupo, tem conta mas não
mpanheir p
stilo s
m ntato, m não 15 20 28
se conhecem pessoalm
onhece pessoalm
cem ssoa mente, porque estão espal-
orque stão esp p
hados pelo México, Chile, EUA, Brasil etc.
o p o éxi o, h
ico, sil,
28
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8. BUSCANDO A MORFEO:
ENTRE SUEÑOS 1923 - Rio de Janeiro RJ - Publica na revista O Malho a charge Lições de Profilaxia, criticando a nova cam-
Y PESADILLAS panha de saneamento promovida por Carlos Chagas.
1923/1925 - Rio de Janeiro RJ - Colabora no periódico Frou-Frou
1924/1925 - Rio de Janeiro RJ - Ilustra o Álbum Cinematográfico do Para Todos
O grupo mexicano DSR está fazendo uma exposição que explora a interpretação dos sonhos. O 1926 - Rio de Janeiro RJ - Ilustra a capa do livro Mãe d’Água, escrito por Herman Lima (1897 - s.d.) e
grupo é composto por 6 componentes, entre eles designers, ilustradores e grafiteiros que desen- publicado na cidade de Salvador
volvem uma série de trabalhos artísticos.
1928 - Rio de Janeiro RJ - Colabora no periódico Papagaio
1930 - Rio de Janeiro RJ - Realiza anúncios publicitários para a Caixa Econômica Federal, para a Light e
para o Cassino Atlântico
1930 - Rio de Janeiro RJ - Escreve a peça teatral É do outro mundo, encenada no Teatro Recreio com
músicas de Ary Barroso (1903 - 1964) e J. Cristóbal. Os cenários e os figurinos da peça também são de
sua autoria
1931/1936 - Rio de Janeiro RJ - Faz capas para as revistas O Cruzeiro, A Noite, A Lanterna, A Nação, A
Hora, Beira-Mar e Fon-Fon
1933 - Rio de Janeiro RJ - Escreve, ilustra e publica o livro infantil Minha Babá
A mostra inspirada em sonhos lúdicos e universos insólitos da cultura mexicana, marca mais um
evento do grupo que desponta e envia sua arte com ironias sociais para todo o mundo.
8 25
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9. 1915 - Rio de Janeiro RJ - Publica na revista
A Careta a charge Vão Resolver o Problema,
satirizando o projeto governamental de criar
banheiros públicos na cidade
1918 - Rio de Janeiro RJ - Dirige juntamente
com Álvaro Moreyra (1888 - 1964) o periódi-
co O Malho
1918 - Rio de Janeiro RJ - Concede entrevista
a Bastos Tigre para a seção intitulada Meus
Segredos, publicada na revista D. Quixote
1918/1921 - Rio de Janeiro RJ - Colabora nas
revistas D. Quixote, pertencente a Bastos Ti-
gre; Eu sei Tudo e Revista da Semana
1907/1908 - Rio de Janeiro RJ - Colabora na re-
vista Fon-Fon 1918/1921 - São Paulo SP - Colabora na re-
vista A Vida Moderna
1908/1921 - Rio de Janeiro RJ - Trabalha na re- 1919 - Rio de Janeiro RJ - Colabora na Revista
vista A Careta, fundada por Jorge Schmidt Nacional e nos periódicos O Jornal e Zum-
Zum
1909/1914 - Rio de Janeiro RJ - Publica nas pá-
ginas da revista A Careta, a série de caricaturas 1920 - Rio de Janeiro RJ - Executa juntamente
que compõem a coleção intitulada Almanaque com Fernando Correia Dias (1893 - 1935) a
de Glórias, onde caricaturou centenas de per- ornamentação do álbum oferecido ao Rei Al-
sonalidades nacionais e estrangeiras da esfera berto da Bélgica, durante sua visita a cidade
política, das ciências e das letras
1920/1930 - Rio de Janeiro RJ - Publica cari-
1909/1911 - Rio de Janeiro RJ - Colabora na caturas da sua personagem Melindrosa nas
publicação O Filhote da Careta. A ilustração de páginas dedicadas à crônica social da revista
capa da primeira edição é de sua autoria e sati- Para Todos
riza Rui Barbosa (1849 - 1923)
Buscando uma Morfeo (Procurando Morpheus) é uma exposição da DSR CREW (Jenka, Mokre, Mookiena, Nández,
1921/1923 - Rio de Janeiro RJ - Colabora no
1911 - Rio de Janeiro RJ - Na edição de 25 de Saner, e Zhon) da Cidade do México. É o resultado de 6 meses de documentação de seus sonhos coletivos, na qual os
periódico O Dia
fevereiro da revista A Careta, executa uma char- membros anotou cada um dos seus sonhos, os resultados são lúcido-imagens gráficas que vão do surreal ao interior
ge intitulada Entrave, onde satiriza a figura do psique, a partir do individual ao coletivo. A mostra apresenta uma instalação de áudio e de plástico, onde as pessoas
1922/1930 - Rio de Janeiro RJ - Trabalha
Presidente Marechal Hermes da Fonseca passem a fazer parte deste grande Morpheus preenchido com sonhos e pesadelos.
como diretor artístico das publicações da
Empresa O Malho, ilustrando as revistas Para
1912/1913 - Rio de Janeiro RJ - Colabora na re- Todos, Ilustração Brasileira, O Malho, O Tico-
vista O Juquinha Tico, Álbum de Cinearte, Leitura Para Todos,
1913 - Rio de Janeiro RJ - Publica charge Os Noi- Almanaque do Malho e Almanaque do Tico-Ti-
vos, na revista A Careta, onde satiriza o casa- co. Nas revistas O Malho e Para-Todos publica
mento do Presidente Hermes da Fonseca (1855 uma série de charges políticas e em algumas
- 1923) com a caricaturista Rian (1886 - 1981) delas assina sob o pseudônimo Léo
1914/1921 - São Paulo SP - Colabora na revista 1922/1941 - Rio de Janeiro RJ - Ilustra o peri-
A Cigarra ódico Beira-Mar
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10. político, a República Velha, a Revolução de 30,
o Estado Novo e as duas Guerras Mundiais.
Sua crônica visual não deixa escapar a moder-
nização segregadora do projeto urbanístico de
Pereira Passos e neste sentido retrata tanto
os hábitos afrancesados das classes mais fa-
vorecidas - com seu footing e chás da tarde na
Confeitaria Colombo - como o nascimento da
cultura do morro, a disseminação das favelas
e a sobrevivência da cultura carioca do Rio an-
tigo no bairro da Lapa.
Um de seus tipos mais famosos é a figu-
ra da Melindrosa, criada em 1920. Esta foi
por ele imortalizada com sua silhueta esguia,
olhos redondos, o cabelo cortado a la garçon-
ne, com o característico pega-rapaz na testa e
ao lado do rosto, a boca em forma de coração
pintada com batom forte. Essa mulher, misto
de criança ingênua e garota refinada e sensu-
al, presente em toda produção de J. Carlos,
quase sempre sendo cortejada ou perseguida
por um ou mais homens.
Também os políticos da época não esca-
param ao traço mordaz de J. Carlos. Rodrigues
J. Carlos (1884 – 1950)
Alves, Affonso Penna, Nilo Peçanha, Washing-
ton Luiz, Dutra, entre outros, forneceram farto
Nascimento/Morte
material para o artista. Mas com a instalação
1884 - Rio de Janeiro RJ - 18 de junho
do Estado Novo e a censura, o artista volta-se
1950 - Rio de Janeiro RJ - 2 de outubro
no final dos anos 1930 para a realidade crua
da guerra em charges abertamente antinazis-
Vida Familiar
tas.
Avô do fotógrafo Miguel Rio Branco (1946)
J. Carlos também cria no início dos anos
1920 os personagens infantis Jujuba, Lampa-
Cronologia
rina, Goiabada e Carrapicho, numa época em
Chargista, caricaturista, desenhista, pintor e
que quase ninguém se preocupava com o pú-
ilustrador
blico infantil. Não à toa, quando Walt Disney vi-
sita o Brasil por ocasião do lançamento de seu
1902 - Rio de Janeiro RJ - Começa a trabalhar
filme Fantasia, tenta, sem êxito, levar o artista
no periódico O Tagarela, dirigido por Raul Peder-
brasileiro para Hollywood. Há quem diga que o
neiras (1874 - 1953) e K. Lixto (1877 - 1957)
personagem do criador americano Zé Carioca
é baseado no personagem Papagaio de J. Car-
1903/1904 - Rio de Janeiro RJ - Colabora no
los, que Disney teria visto em sua passagem
periódico A Avenida
pelo país. Ironicamente, ao deixar de desenhar
seus personagens infantis em 1941, J. Car-
1905 - Rio de Janeiro RJ - Colabora no periódico
los afirma: “Fi-los durante mais de vinte anos,
O Amor, assinando seus trabalhos sob o pseu-
mas hoje, um esforço tamanho para quê?...
dônimo Jocotó
Por quê?...A remuneração é tão insignificante.
Quem é que pode concorrer com esses origi-
1905/1907 - Rio de Janeiro RJ - Colabora nas
nais estereotipados estrangeiros?”.
revistas O Malho e Século XX, ambas perten-
centes a Max Fleiuss
23
Revista Tag.indd Spread 10 of 16 - Pages(10, 23) 11/06/2009 02:05:57
11. -
J. Carlos é um dos mais originais ca-
ricaturistas brasileiros da primeira me-
tade do século XX. O humor, a rapidez
e clareza de seu traço registram as mu-
danças de costumes e comportamento
ocorridas no Rio de Janeiro, na virada
do século XIX. Sua vida artística inicia-
se em 1902 na revista Tagarela.
Contudo, é como desenhista exclu-
sivo da revista ilustrada Careta entre
1908 e 1921 - onde apresenta semanal-
mente uma charge para capa e seis de-
senhos internos - que seus personagens
tornam-se conhecidos e populares. No
entanto, durante sua carreira J. Carlos
contribui para quase todas as revistas
importantes da época como O Malho,
Para Todos, A Cigarra e Vida Moderna
(ambas de São Paulo), Revista Nacio-
nal, Cinearte, Fon-Fon, A Avenida, Tico-
Tico (semanário infantil), O Papagaio, O
Cruzeiro e A Noite. Em mais de 40 anos,
J. Carlos conta com uma produção esti-
mada em 100 mil desenhos, sendo que
também realiza trabalhos no campo da
encontram-se a Caixa Econômica Fe-
publicidade entre 1931 e 1936 (entre
deral, a Casa Baby e a Companhia Cine-
seus clientes
matográfica Cinédia), ilustrações de livros,
decoração, cenário para peças de teatro,
escultura e programação visual.
No início seu traço ainda se mostra va-
cilante e um pouco pesado, mas com o tem-
po, principalmente depois dos anos 1930,
aprimora seu desenho que, com influências
da art deco, se torna estilizado, elegante e
sobretudo cada vez mais nítido. Seus origi-
nais são realizados a lápis, recebendo aca-
bamento em bico-de-pena e nanquim, às
vezes guache para engrossar o traço. Para
as cores dá preferência à aquarela, usan-
do muito dois tons alternados sobre fundo
branco, quase sempre em grandes superfí-
cies chapadas.
O motivo por excelência das charges de
J. Carlos é o carioca, seus hábitos e seu en-
torno. Seus desenhos testemunham o surgi-
mento do telefone, da fotografia, do chope,
do samba, do bonde elétrico, do automóvel,
do cinema, do rádio, do avião, da cultura do
futebol, da praia e do carnaval, e no campo
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12. O universo
feminino
invade o
de uma série de charges antibelicistas execu-
tadas no período abrangido pelas duas gran-
grafite
des guerras e principalmente durante os dois
governos de Getúlio Vargas (1883 - 1954). Es-
ses trabalhos são publicados principalmente na
revista A Careta.
Aproveitando-se da relativa flexibilidade da
censura imposta por Vargas em relação à polí-
tica internacional, o artista publica uma série de
ilustrações cujo conteúdo tinha como foco crí-
tico a política imperialista norte-americana evi-
denciada após o término da Segunda Grande
Guerra (1939-1945). Trabalha incansavelmente
até a data de sua morte, ocorrida em 1950, na
redação da revista A Careta.
Mulheres também grafitam! Sim as mulheres vieram para
desmistificar que o grafite e o hip hop é um universo apenas
para os homens, hoje em dia assim como em muitas profissões José Carlos de Brito Cunha (Rio de Janeiro
elas vem buscando seu espaço e se revelando ótimas grafitei- RJ 1884 - idem 1950). Chargista, caricaturista,
ras. Essa prática foi tão bem vista pelas mulheres que contagiou desenhista, pintor, ilustrador. Inicia sua carrei-
até as crianças. Desde cedo elas aprendem sujando as mãos ra em 1902, na revista O Tagarela, dirigida por
de tinta e spay se divertem e nem se dão conta de que estão Raul Pederneiras (1874 - 1953) e K. Lixto (1877
fazendo ali. naquela brincadeira o que muitos marmanjos tem - 1957). No ano seguinte, contribui com diver-
como profissão. sas publicações adultas e infantis até que, em
1908, emprega-se na revista A Careta, fundada
neste mesmo ano por Jorge Schmidt, nela atu-
ando até 1921. Paralelamente, colabora com di-
versas publicações, entre elas as revistas Fon-
Fon, A Cigarra e O Malho, sendo esta última
dirigida por ele a partir de 1918.
Ao longo de sua carreira J. Carlos, com
suas charges, faz a crônica do processo de ur-
banização da capital carioca e dos seus efeitos
sociais. Entre 1922 e 1930, exerce o cargo de
diretor artístico das empresas O Malho, onde
inicia uma grande série de charges de cará-
ter político, satirizando fatos e personalidades
nacionais e estrangeiras. A vertente política é
explorada pelo artista desde o início de sua car-
reira, sendo ele o responsável pela execução
12 21
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13. J. Carlos
J. Carlos foi um criador de tipos, todos captados fielmente pelo
seu olhar perspicaz e inspirados em tipos comuns da cena carioca,
que via no dia-a-dia. Sempre trabalhou de forma incansável, marcou
E assim nasce mais uma CREW, cheia de estilo, muito
presença de forma indelével em praticamente todas as revistas ilus-
charme e aquele toque feminino que encontramos
tradas da época, durante quase meio século. Mas, a sua obra não
em tudo que elas fazem.
ficou restrita às charges e ilustrações. Este artista fez incursões como
autor do teatro de revista, com a peça É do Outro Mundo. E uma de
suas faces menos conhecidas é a de escultor. Ele fez bustos e esta-
s
tuetas caricatas de vários políticos. Hoje, J. Carlos é reverenciado com o
tu
nom em uma rua do Jardim Botânico, um busto em praça pública no mes-
nome
mo bair e o nome de uma escola municipal em Irajá. Teve ainda uma medalha
bairro
em sua homenagem, um broche em cerâmica com a imagem da “Melindrosa” e a
hom
decoração da cidade no carnaval de 1970 baseada em sua obra.
13
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14. OS GEMEOS
CONQUISTAM OS MUROS
DO VELHO MUNDO
Os irmãos paulistanos Otávio e Gus- próprio grafite, são marcas do movi-
tavo Pandolfo - gêmeos idênticos -, mento nascido nos EUA, na década
32 anos, que têm muros grafitados de 70). “A gente freqüentava a Es-
nos quatro cantos do planeta - EUA tação São Bento (do Metrô), que na
(Nova York, Los Angeles, São Fran- época era o ´point´ dos caras que
cisco), Austrália, Alemanha, Portu- curtiam hip hop”, conta Gustavo.
gal, Itália, Grécia, Espanha, China, Os irmãos fazem questão de deixar
Japão, Cuba, Chile e Argentina .Hip claro, contudo, que, do final dos anos "Eles precisavam de artistas
hop Otávio e Gustavo começaram 80 para cá, apesar de continuarem a que representassem a nossa
a grafitar no final dos anos 80 , no participar de eventos ligados ao hip cultura atraves das artes
bairro do Cambuci (zona sul de São hop, seu vínculo com o movimento
Paulo), onde nasceram. Eles milita- destacam entre outros trabalhos de grafiteiros plasticas ou das artes visuais".
mudou radicalmente. “A gente co-
vam no movimento hip hop, quan- nhece bastante a cultura, teve uma com os quais convivem: são delicadas e pare-
do este alcançava o auge no Brasil. ligação forte. Então, de vez em quan- cem fazer parte de uma outra realidade.
Além de grafitar, a dupla percorria do, acontece um convite assim. Mas, Desde que foram levados ao exterior para mostrar
a cidade fazendo apresentações hoje em dia, nosso trabalho não tem seus trabalhos na Alemanha, em 1999, osgemeos
de break (modalidade de dança de nada a ver mais com o hip hop”. viajaram por diversos países da Europa e pelos
rua que, juntamente com o rap e o Estados Unidos, expondo, criando e aprendendo.
A primeira mostra individual dos gêmeos
idênticos de 33 anos, no Brasil, aconteceu em
2006 na Galeria Fortes Vilaça, com o título
de “O Peixe que Comia Estrelas Cadentes”.
14 19
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15. a gente fez em Nova York tam- uso de um espaço que, nas pa-
bém”, continua, referindo-se lavras de Otávio, “pode ser
à estréia deles no circuito for- transformado em 100%”. “Você
mal de arte contemporânea, pode ter um trabalho tridimen-
com uma grande exposição sional, pode ter luz, música,
na Deitch Projects Gallery pode ter objeto, você pode fazer
(que representa Keith Haring uma coisa se movimentar”.
e Jean-Michel Basquiat, artis- Grafite, só lá fora, mas é quase
tas que também alcançaram em uníssono que Os Gêmeos
fama usando o grafite como dizem que o que eles vão exi-
linguagem). “Acho que aca- bir nas dependências da Fortes
bou rolando assim: ´Pô, como Vilaça não é grafite. “Aqui den-
os caras são de São Paulo e tro é arte, arte contemporânea”,
nunca fizeram nada aqui? Va- esclarecem. Quem não tiver a
mos fazer, meu, tá na hora oportunidade de estar em São “Grafite x pichação”Um olhar um grafitados pelos gêmeos vêm, segundo eles,
de fazer”, acredita Otávio. Paulo para ver a exposição pouco mais atento permite concluir de uma obsessão pela prática do desenho.
Embora a paixão pela atividade d´Os Gêmeos, nem puder ex- que o grafite feito hoje por Otávio e Eles contam que nunca fizeram um curso.
nas ruas não tenha arrefecido, plorar a cidade para descobrir Gustavo mantém poucas semelhan- O estudo, ainda hoje, acontece em casa. “A
os rapazes não escondem a em- a marca deles impressa nos ças com aquele que ainda dá sinais gente sempre estudou, desde pequeno: de-
polgação com a nova empreita- muros, há outras alternativas de beber da fonte dos precursores senho, desenho, desenho”. Fino traço foi jus
da. Sobretudo, segundo contam, para conhecer um pouco mais : os “manos” afro-americanos que tamente essa aplicação que ajudou a forjar
pela miríade de possibilidades da arte desses paulistanos. se criaram no Bronx. Essas o estilo de Os Gêmeos. Para eles,
implicadas em mostrar seu tra- Uma delas é folhear o livro diferenças entre estilos
"A gente faz fininho, isso as principais características de
balho em uma galeria, fazendo inglês Graffiti Brasil (Org.: costumam vir à baila
A gente sempre seu trabalho vêm da maneira
tambem e estilo nosso." estudou
na sempre revigora- como o desenho é feito: “O
Gustavo
da polêmica “grafite desde pequeno: desenho jeito de a gente usar o spray,
Tristan Manco, Caleb Neelon, Ignácio Aron- x pichação”. Con- desenho, desenho. a linha, o contorno...”, expli-
ovich e Louise Chin - Ed. Thames & Hudson). trovérsia na qual ca Gustavo. “A gente faz fi-
Outra opção é visitar o site Flickr, onde fãs Os Gêmeos prefe- Otávio ninho -- isso também é estilo
dos irmãos espalhados pelo mundo (fotógrafos rem não jogar lenha. nosso”.A preocupação com
amadores e profissionais) publicam imagens “A gente já não agüenta detalhes fica evidente também
de instalações e muros grafitados pela dupla de mais responder perguntas do na criação dos trajes de seus perso-
artistas quando em passagem por suas cidades. tipo qual a diferença entre grafite e nagens. “A estampa das roupas também é
O endereço é: http://www.flickr.com/groups/ pichação? ´ Isso não importa”, dis- uma característica que a gente tem”. Os per-
osgemeos/ .Em novembro de 2005, como parte para Gustavo.O nível de elaboração sonagens, mostrados em situações que ora
de um projeto, Os Gêmeos, juntamente com e a riqueza de detalhes dos murais parecem saídas de sonho, ora da dura reali-
outros conhecidos grafiteiros da cena nacio- dade brasileira, são todos revestidos de um
nal , pintaram vagões do Metrô da Trensurb ( lirismo sem paralelo nesse tipo de manifesta-
Empresa de Trens Urbanos de Porto Alegre). ção artística.”O que a gente quer, o jeito como
Otávio e Gustavo Pandolfo. Ou, simples- filtra as informações, a gente coloca através
mente, osgemeos. Eles viajaram o mundo dos personagens”.Quando o assunto se apro-
por conta das personagens que pintam pela funda na questão das influências artísticas,
cidade desde o fim da década de 80. Para ambos preferem não citar nomes. “Acho que
os irmãos, o graffiti permite expressar senti- começam com a arte brasileira, a cultura
mentos contraditórios da vida na metrópole. popular brasileira”, revela Otávio, “e vão até
No bairro do Cambuci, região Central da ci- tudo o que a gente sonha, vê, sente, ouve”.
dade, muitos muros descascados e imóveis Fino traço foi justamente essa aplicação que
abandonados receberam estampas de es- ajudou a forjar o estilo de Os Gêmeos. Para
tranhas figuras amarelas e cabeçudas, com eles, as principais características de seu tra-
corpos quadrados e membros finos. Elas se balho vêm da maneira como o desenho é
feito: “O jeito de a gente usar o spray, a lin-
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16. ha, o contorno...”, explica Gustavo. como filtra as informações, a gente repetem no traje de vários dos per- bilizaria Os Gêmeos do Cambuci. ro experimento”, lembra Otávio . “A cidades visitadas durante o tour or-
“A gente faz fininho -- isso também coloca através dos personagens”. sonagens criados pelos irmãos, Filme para Nike, a visibilidade al- gente falou : vamos fazer uma brin- ganizado pela Nike, tiveram a parte
é estilo nosso”.A preocupação com Quando o assunto se aprofunda na segundo eles, teriam a mesma ori- cançada pelo trabalho da dupla, cadeira , vamos ver no que é que dá”. traseira, a língua e a palmilha ilus-
detalhes fica evidente também na questão das influências artísticas, gem das que, a partir dos anos 50, presente em muros ao redor do Ainda por conta do trabalho para a tradas pelos grafiteiros. Sobre o con-
criação dos trajes de seus perso- ambos preferem não citar nomes. tornaram-se freqüentes na obra de planeta, acabou rendendo-lhe Nike, Otávio e Gustavo passaram vite que os traz agora a São Paulo
nagens. “A estampa das roupas “Acho que começam com a arte Volpi: as festividades juninas (São convites como o da Nike. Otávio e quatro meses viajando por cidades quem fala é Gustavo: “Veio da Már-
também é uma característica que brasileira, a cultura popular brasile- João, Santo Antônio e São Pedro). Gustavo foram contratados para de sete países. Eles contam que a cia e da Alessandra (Márcia Fortes
a gente tem”. Os personagens, ira”, revela Otávio, “e vão até tudo o Alfredo Volpi (nascido na Itália em fazer a parte gráfica do documen- proposta da turnê - batizada de Bra- e Alessandra Ragazzo d´Aloia, só-
mostrados em situações que ora que a gente sonha, vê, sente, ouve”. 1896 e falecido em 1988), como Os tário patrocinado e co-produzido sil - era fazer uma festa brasileira em cias-fundadoras da galeria). Elas já
parecem saídas de sonho, ora da E Volpi? A confusão sobre a supos- Gêmeos, morou quase toda a sua (juntamente com a O2 Filmes) pela cada local visitado. Em cada cidade, conheciam o nosso trabalho e o que
dura realidade brasileira, são to- ta influência do artista no estilo de vida no Bairro do Cambuci. Gustavo fabricante de materiais esportivos. acontecia uma exposição com o tra-
dos revestidos de um lirismo sem pintura de Os Gêmeos tem mais conta que, quando crianças, ele e o “Ginga - A Alma do Futebol Brasil- balho dos grafiteiros
paralelo nesse tipo de manifestação de uma explicação. A primeira irmão estiveram, em certa ocasião, eiro” teve direção de Hank Levine, e a exibição do filme
artística.”O que a gente quer, o jeito delas: as bandeirinhas, que se no ateliê do artista. “Gostamos do Marcelo Machado e Tocha Alves e Ginga. “Eles precisa-
trabalho dele, mas não virou influên- produção-executiva a cargo do cin- vam de artistas que
cia”, ressalta. A gente tem muito easta Fernando Meirelles. O lan- representassem a
dessa coisa do brasileiro, do im- çamento no Brasil aconteceu em nossa cultura através
proviso, das coisas que o brasileiro abril de 2006. “Convidaram a gente das artes plásticas
faz para se virar. Tem muito dessas por ter esse estilo bem brasileiro ou das artes visuais”,
improvisações no nosso trabalho”, de pintar”, conta Otávio. “Fizemos explica Gustavo.
argumenta Otávio, aludindo ao fato as vinhetinhas e decoramos to- Outros suportes foram
de que Volpi, além de autodidata, se das as peças passadas no filme”. entre uma viagem e
encarregava de fazer seus próprios Fernando Meirelles gostou tanto outra que surgiu a
pincéis e telas. Outra “coincidência”: da experiência de trabalhar com proposta de desen-
o artista, que veio da Itália ainda Os Gêmeos, que os convidou para har um tênis espe-
criança, iniciou-se na pintura como auxiliarem na produção das anima- cial para a marca. Os
“decorador de paredes”, ou seja, fa- ções para a série televisiva da Rede calçados, produzidos
zendo uso do mesmo tipo de supor- Globo, Cidade dos Homens. “A gente em edição limitada e
te que, décadas mais tarde, nota- fez a animação com ele. Foi um out- lançados apenas nas
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