Este documento fornece informações sobre o desenvolvimento saudável de crianças e adolescentes e sinais de alerta para possíveis problemas. Em 3 frases:
1) A cartilha discute fatores importantes para o desenvolvimento infantil como afeto, limites, atenção dos pais e identifica sinais de alerta em bebês como dificuldades na interação mãe-bebê.
2) Também aborda características normais da adolescência como busca da identidade e independência e sinalizadores de problemas leves como déficit de
Cartilha Promoção da Saúde na Infância e Adolescência!
1. REALIZAÇÃO
Cartilha
PROMOÇÃO DA SAÚDE NA
INFÂNCIA E ADOLESCÊNCIA
EDITAL PPSUS FAPERGS 002/2009 DECIT/SCTIE/MS,CNPq, FAPERGS,
SES/RS nº de processo 0900982
Mais informações: www.proconvive.blogspot.com
2. Apresentação
O
conteúdo desta cartilha tem por base a experiência
de um projeto de pesquisa e extensão denominado
PROCONVIVE (nº de processo 09/0098-2) financiado
pelo edital PPSUS FAPERGS 02/2009, e desenvolvido pelo Grupo de
Pesquisa Psicologia das Relações e Saúde do Departamento de Psicologia
da Universidade Federal de Santa Maria.
O objetivo da cartilha é construção de um material informativo
que reúna questões sobre desenvolvimento infantil e os sinais que
mereçam atenção, destinado ao público em geral. Com isso, esperamos
contribuir para a promoção da saúde mental de crianças e adolescentes,
suas famílias e seu ambiente. Desejamos também facilitar a
desconstrução de mitos sobre esses períodos da vida, através de
indicações para o desenvolvimento de um ambiente e de
relacionamentos saudáveis, bem como facilitar a identificação de
sintomas merecedores de atenção presentes na criança ou adolescente e
locais onde procurar ajuda.
Desejamos a todos uma boa leitura!
Equipe PROCONVIVE
Grupo Psicologia das Relações e Saúde
3. Muita gente pensa que criança... Medidas que promovem o
desenvolvimento
...não percebe, ...não
Por: Caroline Matos Romio
não entende o precisa
que acontece brincar e Para que as crianças e adolescentes possam crescer saudáveis e se
ao seu redor... fantasiar... desenvolver física e emocionalmente é preciso que possam contar com
um adulto, uma figura de cuidado em um ambiente que:
...esquece 1- Sinta e demonstre afeto e respeito:
facilmente
...deve ser o que vê e • Com os desejos da criança
“moldada” ouve... • Com as expressões da criança, brincadeiras, produções artísticas e
conforme os outros
anseios do • Com as necessidades de autonomia da criança
seu meio... • Com o modo como as informações são repassadas à criança
...não deve ser
• Com o fato de que ela ainda não tem idade para decidir como adulto,
levada a sério
pensar como adulto ou fazer coisas de adulto
no que sente ou
diz... 2- Dê o apoio necessário para que ela se sinta segura;
3- Coloque limites e regras para a criança:
• Colocar limites com firmeza, de forma amorosa e serena, auxiliando a
...deve ser
criança a entender o “não” e diferenciar o permitido do não
...sempre quieta castigada sempre,
permitido, o certo e o errado
ou sempre ou que deve ser
comportada é gratificada 4- Tenha atenção para com a criança:
sinônimo de sempre.
criança saudável...
4. • Com a higiene pessoal instantes nos tenha parecido o contrário.
• Com a alimentação
• Com a realização de atividades diárias Com um ursinho, um lencinho ou um brinquedo qualquer, nós
• Com a freqüência à escola e o rendimento escolar conseguiremos ultrapassar os períodos que esse adulto estiver distante.
• Com as atividades de lazer Vamos nos amparar nesses objetos enquanto tentaremos desbravar o
• Com o tempo e o uso de aparelhos tecnológicos pela criança mundo, um pouco assustador, mas incrível.
• Com a saúde física e mental da criança, buscando auxílio sempre que
ela apresentar algum sintoma. Nesse período vamos engatinhar, caminhar, correr. Vamos aprender
a difícil tarefa de apontar, de falar e desejar. Com isso, começaremos a
nos colocar. Abandonaremos as fraldas, vamos nos controlar, produzir e
interagir com o ambiente. Perceberemos que meninos e meninas são
O que é infância? diferentes, nos assustaremos, mas vamos continuar.
Assim, encontraremos outras pessoas importantes, outros
Por Caroline Matos Romio
significantes e também, outras crianças desbravadoras. É com elas que
A
infância é aquele período em que é permitido: depender, iremos aprender a brincar, a inventar, a criar, a dar sentidos, a
não saber, aprender, criar e brincar. É o período em que compartilhar, o “faz de conta” vai surgir, o “era uma vez” vai ser possível,
precisamos ser investidos, creditados de um futuro e e o “viveram felizes para sempre” será sempre o fim.
amparados em um presente.
Depois, aprenderemos as regras. Conseguiremos abdicar um
É quando precisamos de um adulto “suficientemente bom” que pouquinho do que queremos agora em prol do que todos quererão daqui
satisfaz as nossas necessidades mais primitivas, que ampara nossas a pouco. Nós vamos continuar crescendo, aumentando, ampliando os
angustias mais profundas, que acolhe nossas descobertas e que tem uma conhecimentos e os limites de nossos corpos.
postura sempre encorajadora. Ele vai nos amar e se implicar, e com ele
sentiremos que somos muito importantes, isso fará com que consigamos Vamos ser mais espertos, mais falantes, mais rápidos e mais
continuar nos momentos em que ele falte. atuantes. Até chegarmos a um momento, que precisaremos indagar o que
sabemos e quem somos, entrar e superar uma adolescência, na jornada
É na falta desse adulto que entenderemos que é possível adquirir rumo a idade adulta.
autonomia, para sentar, para nos mexer, para querer. É através dele que
vamos saber que as pessoas que nos amam vão voltar, mesmo que por
5. O que é adolescência? São características da adolescência:
Por Nelci Regina Angnes
A busca de si mesmo e da identidade é uma característica
A
adolescência pode chegar como um período central, que se dá principalmente através dos seguintes
turbulento, quando devem ocorrer os ajustamentos fatores:
sexuais, sociais, ideológicos e vocacionais por parte
daquele que, até pouco tempo, era apenas uma criança. Anunciada pela 1. Tendência grupal, estão muito tempo em grupos, podem
puberdade, ela é marcada pelas mudanças físicas que vão refletir não gostar de ficar sozinhos;
diretamente no comportamento. Esse processo pode afetar de diversas 2. Necessidade de intelectualizar e fantasiar, parecendo
maneiras o desenvolvimento dos interesses, o comportamento social e a sonhadores e muito falantes;
qualidade da vida afetiva do adolescente (BLOS, 1998). Há uma 3. Crises religiosas, se interessam por religiões diferentes,
preocupação maior com a maneira como os outros o percebem em podendo trocar ou aprofundar em alguma;
contraste com o que pensa que é. É o momento da construção da 4. Surgimento de questões sobre sexualidade, curiosidade, ações
identidade. sexuais;
Segundo Erikson (1972), o adolescente pode se 5. Atitude social reivindicatória, que caracteriza os jovens em
deparar também com a confusão de identidade, rebeldia contra as autoridades, numa medida sem agressão ou
podendo se sentir vazio, isolado, ansioso e incapaz de prejuízo;
se encaixar no mundo adulto, o que pode, algumas 6. Contradições sucessivas em sua conduta, parecendo que são
vezes, levar a uma regressão. Segundo o autor é nesse confusos, inconstantes, mas faz isso parte do desenvolvimento;
período que pode ocorrer um apego excessivo a um clã 7. Separação progressiva dos pais, através de debates,
(grupo). Ainda, é importante ressaltar que a discordâncias, que podem gerar conflitos familiares;
adolescência tem muita influência dos fatores sócio- 8. Constantes flutuações de humor e do estado de ânimo, oscilações
culturais, então, o que era comum em uma geração, pode não ser em entre quietude e movimento, choro,
outra. alegria, sem que se caracterize um
Falar em normalidade e patologia na adolescência é problema emocional.
extremamente difícil, pois toda transformação nesse período é
considerada normal.
6. Coloca objetos na boca A linha do tempo: Etapas do desenvolvimento
Descobre seu próprio corpo
Alterna expressões faciais
Retirada das
fraldas
saudável
Surgimento dos dentes
Aumento da Início da
Usa fraldas
autonomia Novas habilidades de adolescência
Balbucios e treinamentos para a
A criança se aprendizagem físicas, intelectuais Puberdade Distanciamento
fala
reconhece como e sociais. Início da das figuras
Firma o corpo – com ajuda e
o centro das suas Socialização adolescência parentais
sozinha
relações Interação e jogos Mudanças Aderência a
Início da movimentação para
rastejar e engatinhar corporais grupos
0-1 1-2 2-3 3-5 6-7 a 11-12 12-18
Início da fala Início da compreensão de regras e Senso de identidade
Início da caminhada limites Experimentar papéis
Exploração do Reconhecimento da autoridade Futuro e profissão
ambiente
Controle do xixi e do
cocô (com auxílio)
Interesse por rabiscos
1ª Infância 2ª Infância 3ª Infância Adolescência e Idade Adulta
Dependência Absoluta Dependência Relativa Rumo à independência
7. Sinais de alerta para as Os sinalizadores de sofrimento no bebê
Por Natália de Andrade de Moraes
possibilidades de Transtorno na
Ao falarmos de detecção de transtornos
Infância e Adolescência psicológicos em bebês (ou de risco ao seu
desenvolvimento psíquico), nos voltamos
Q uando adoecemos fisicamente, nosso corpo apresenta fundamentalmente para a relação deste com os
sintomas que nos ajudam a perceber que, naquele pais – enfatizando a dupla mãe-filho, amparada
momento da vida, não estamos completamente sempre por uma figura de apoio, que pode ser o
saudáveis. Da mesma forma, o adoecimento psíquico pai. Pensando em uma linha do desenvolvimento da criança, que deve
– ou mesmo o risco de adoecimento – pode ser percebido através de alguns sempre considerar as singularidades de cada uma delas, atentamos para as
sinais, mais ou menos explícitos, que estão relacionados com a vida diária seguintes situações:
dos indivíduos, suas relações com o social e o seu desenvolvimento em um
nível geral – psicológico, motor, cognitivo. Nesse sentido, podemos pensar 1- A relação estabelecida entre a mãe e o bebê:
em alguns sinais que são comuns a fases específicas do desenvolvimento –
Logo após o nascimento, se a mãe (ou o cuidador principal) busca estar
como a vida inicial do bebê, a criança pequena, a criança em fase escolar, o
próxima à criança; sente-se à vontade com o bebê, para pegá-lo no colo,
adolescente, etc. O conhecimento dessas marcas possibilita que alguns
alimentá-lo, lhe acariciar. Se a dupla consegue estabelecer uma rotina; a
transtornos, especialmente os ditos “graves”, sejam reconhecidos
precocemente e manejados quando ainda estão em seu início. criança se expressa através do choro; consegue receber alimentação,
dorme. A mãe sabe os significados do choro do filho – se é fome, dor, sono.
A mãe usa linguagem “dengosa” com o bebê, como se falasse cantando.
2- O interesse do bebê em explorar o seu próprio corpo, o corpo da mãe e
o ambiente:
O bebê de alguns meses de vida já começa a
descobrir o mundo: inicia o reconhecimento do seu
próprio corpo, do corpo dos cuidadores e do
ambiente geral em que vive. São sinais de alerta a
falta de troca de olhares entre o bebê e os pais; o
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8. desinteresse da criança pelos objetos que lhe são ofertados; a falta de Sinalizadores de sofrimento infantil leve: os
tentativas de comunicação com o ambiente e a restrição da atividade
motora. Nesses casos, é comum descreverem a criança como “muito transtornos leves da infância
quietinha”, pois ela pode ficar sozinha por longos períodos sem reclamar,
bem como ficar horas em uma mesma posição ou atividade. Por Rafaela Behs Jarros
3- O reconhecimento das pessoas que o cercam: 1- Transtorno de Déficit de Atenção/ Hiperatividade:
Dificuldade de manter atenção em atividades lúdicas ou tarefas:
O bebê, mesmo antes de falar, já reconhece seus familiares e pessoas Ao fazer o dever de casa, ele fica distraído demais, como se estivesse
próximas, “estranhando” e recusando o contato com desconhecidos. Deve- sempre no mundo da lua?
se atentar às crianças que não fazem distinção entre seus cuidadores e Distrai-se facilmente com estímulos externos?
pessoas estranhas. Se ele escuta um barulho ou vê alguma coisa que lhe chama a atenção, é
muito difícil de voltar a prestar a atenção no que ele já estava fazendo?
4- O desenvolvimento geral:
Age de modo impulsivo?
Toda a gravidez deve ser acompanhada por um profissional qualificado. Da Seu filho é de fazer o que lhe passa na cabeça, sem pensar no que possa
mesma forma, o bebê deve ser acompanhado por um médico pediatra acontecer?
desde o seu nascimento. Esse cuidado possibilita que atrasos no Por exemplo, fazer as coisas sem pensar, de forma tão repentina que,
desenvolvimento geral da criança sejam percebidos, principalmente quando vê, já fez!
aspectos que podem passar despercebidos pelo olhar dos pais. Quando buscar ajuda profissional? Se algum desses itens acontece com
bastante freqüência, chegando a interferir nas relações sociais do seu filho,
5- Mudanças de humor e comportamentos extremos: em nível moderado ou grave.
Alguns sinais de alerta no bebê podem ser sutis, no entanto, é sempre
importante atentar às reações extremadas. Por exemplo, se o bebê é quieto 2- Transtorno de Pânico:
demais ou muito ativo; se é indiferente aos pais ou não suporta a sua Alguma vez seu filho chegou a passar mal, de uma hora para outra, e se
ausência; se é independente ou não demonstra autonomia alguma em sentiu muito assustado sem nenhum motivo? Por exemplo: sentiu falta de
relação aos seus cuidadores. Reage-se de forma ar, tontura, palpitação, tremores, sufocação, náusea, suores, formigamento
excessivamente agressiva a pequenas mudanças das extremidades, etc.
no dia-a-dia, ou aos “nãos” estabelecidos pelos Os sintomas apareceram de repente, como se surgissem “do nada”?
pais. Ele passou a ficar preocupado que eles pudessem acontecer novamente?
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9. Quando buscar ajuda profissional? Se seu filho apresentou pelo menos Quando buscar ajuda profissional? Se você perceber que seu filho está
quatro crises com algum desses sintomas, com preocupação persistente preocupado na maioria dos dias da semana, ou com algum dos sintomas
pelo menos por um mês sobre ter outra crise. citados acima.
3- Transtorno de Ansiedade de Separação: 5- Fobias Específicas/Agorafobia:
Seu filho tem todos os seguintes sinais? Seu filho tem muito medo de alguma coisa (cachorro,
Seu filho se preocupa que alguma coisa de ruim possa insetos, altura, elevador, avião, etc.), a ponto de
acontecer com ele, e que ele nunca mais iria ver seus pais? impedi-lo de fazer algo?
Seu filho se preocupa que alguma coisa de ruim possa Nota: É importante considerar que este medo é tão intenso que leva a
acontecer com você? criança a evitar situações nas quais tenha que enfrentar esse medo
Seu filho tem se recusado a ir para a escola ou pedido para específico, impedindo-a de brincar e dificultando suas relações sociais.
sair mais cedo, pois não se sente bem longe dos pais? Seu filho tem medo de estar em lugares cheios de pessoas ou de ir/estar
Seu filho tem medo de dormir sozinho? Já evitou dormir em casa de sozinho em locais públicos?
pessoas conhecidas por estar longe dos pais? Quando buscar ajuda profissional? Se esse medo de estímulos ou situações
Seu filho fica lhe seguindo pela casa, ou chamando, para ter certeza de que causa sintomas moderados ou intensos de ansiedade, ou são evitados de
você está por perto? forma sistemática.
Quando buscar ajuda profissional? Se algum desses comportamentos
ocorrem com freqüência (mais de duas vezes na semana), em crianças com 6- Transtornos Depressivos:
mais de 4 anos. Seu filho se sente muito triste e tem vontade de chorar em muitos
momentos? Esses episódios de tristeza acontecem com muita freqüência?
4- Transtorno de Ansiedade Generalizada: Você percebe que seu filho não tem muito interesse, pouca motivação e se
Seu filho se preocupa demais com coisas do dia-a-dia? E com coisas que ele irrita facilmente em situações do dia-a-dia?
tinha que fazer ou que ainda iriam acontecer? Seu filho já tentou machucar a si próprio?
Você acha que ele se preocupa mais do que as crianças da sua idade? Quando buscar ajuda profissional? Se você observar
Seu filho está sempre se queixando de dor de cabeça, de estômago, nas que os episódios de tristeza do seu filho são
pernas, nas costas, ou algum outro tipo de mal-estar? recorrentes, se ele está apresentando perda de
Seu filho se preocupa demais com o que os outros podem pensar sobre ele? prazer ou interesse em atividades que sempre foram
Ele pensa muito antes de expor a sua opinião? prazerosas para ele.
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10. Sinalizadores do sofrimento infantil intenso: os 4- Rotina diária: a criança pode não estabelecer uma rotina diária ou fixar-
se a certos hábitos; ser indiferente ou muito atenta a cuidados pessoais,
transtornos graves da infância como de higienização, vestimenta, entre outros;
Por Natália de Andrade de Moraes 5- Comportamentos gerais: pode ser percebida
como “estranha” ou “diferente” das demais;
O
s transtornos graves da infância, em geral, podem ser pode utilizar os brinquedos e objetos de forma
percebidos por alterações globais na capacidade de repetitiva e estereotipada (por exemplo,
comunicação da criança com o mundo. Com isso, brincando apenas com a roda de um carrinho) e
dizemos que a criança pode exibir modos peculiares de relação com as ter dificuldades em “fazer de conta”.
pessoas e os objetos. A fala, uma das principais formas de comunicação,
pode aparecer em um período tardio ou de modo estereotipado (por
exemplo, quando a criança fala apenas “frases decoradas” ou repete a fala
de desenhos animados ou pessoas do seu meio social). Igualmente, a Os transtornos na adolescência
criança pouco se comunica através de gestos (apenas “aponta” o que
deseja). Pode ter interesses bastante específicos como o interesse por Por Natália de Andrade de Moraes
folhear revistas sistematicamente, empilhar coisas, o interesse por
números, etc. A adolescência é um período de inconstâncias, no qual operam
transformações significativas no modo de ser e pensar dos indivíduos.
Abaixo, serão apontados alguns sinais para detecção de transtorno grave na Devemos ter cuidado ao falar de “transtornos” nessa fase da vida, visto que
infância: alguns comportamentos, ainda que possam ser vistos como “impulsivos”,
são comuns e mesmo esperados.
1- Relação com a aprendizagem: dificuldade na alfabetização, no
aprendizado de letras e números, no entendimento e/ou interesse por Sinais importantes nessa fase são: o adolescente com aspecto
histórias infantis; depressivo (desmotivado, com aparência muito cansada ou dificuldade no
exercício de atividades cotidianas – sem motivo aparente); desinteressado
2- Relação com outras crianças: pode não ter amigos, geralmente brincar
nas relações sociais; excessivamente dependente dos cuidadores; com
sozinha ou agir como se as demais crianças não existissem;
atitudes geralmente observadas em crianças de faixas etárias menores.
3- Relação com os cuidadores: pode ser uma criança “grudada” aos Ameaças a si e a outros, como tentativas de suicídio ou ameaças aos outros
cuidadores ou indiferente a eles, pode usar os adultos como ferramentas ou à propriedade, bem como comportamentos de risco, podem expressar a
para conseguir o que quer – como abrir portas, alcançar brinquedos, etc.; necessidade de procurar ajuda profissional.
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11. O ambiente facilitador Onde buscar ajuda?
Por Gabriela Zuchetto
Por Caroline Matos Romio e Hericka Dias
1- Os CRAS (Centros de Referência de Assistência Social) são responsáveis
D
pela organização e oferta de serviços da Proteção
e acordo com Donald Winnicott, um dos principais
Social Básica nas áreas de vulnerabilidade e risco
autores da psicologia do desenvolvimento emocional,
social. Normalmente encontram-se neste local
apresentaremos a seguir a importância do ambiente
psicólogos e assistentes sociais.
para o desenvolvimento da criança.
É importante ressaltar que para se promover o desenvolvimento
2- Os CREAS (Centros de Referência Especializado de
sadio de uma criança é indispensável a existência de um ambiente
Assistência Social) ofertam serviços especializados e
facilitador. Esse ambiente deve ser composto por aqueles que apoiarão a
continuados a famílias e indivíduos em situação de ameaça ou violação de
criança em seu desenvolvimento.
direitos (violência física, psicológica, sexual, tráfico de pessoas,
A idéia é que esse ambiente tenha uma função de conter, como
cumprimento de medidas socioeducativas em meio aberto, etc.).
um abraçar a criança em suas necessidades corporais e emocionais. O
Normalmente encontram-se neste local psicólogos, advogados e assistentes
ambiente é representado pela figura de um cuidador suficientemente bom,
sociais.
inicialmente pela figura da mãe (ou figura substituta). Ser “suficientemente
bom” significa buscar sempre o meio termo: fornecer o que a criança e o
3- Os CAPSi (Centros de Atenção Psicossocial Infanto-Juvenil) acolhem
adolescente precisam, mas no tempo certo e na medida certa.
diariamente crianças e adolescentes de até 18 anos de idade em sofrimento
No princípio, a criança é absolutamente dependente dos cuidados
psíquico grave, que estejam impossibilitados de laço social. São realizados
de um adulto, geralmente a mãe ou substitutos quem cumpram esse papel.
atendimentos individuais e em grupo, visitas domiciliares e contato com
É importante também que nesse ambiente exista um outro além da figura
outros serviços de saúde. Há uma equipe multiprofissional, onde
de cuidado principal, que apóie a mãe (ou substituto) em suas
normalmente encontram-se psicólogos, psiquiatras, assistentes sociais,
necessidades, para que esta possa sentir-se amparada e então, amparar seu
educadores, dentre outros.
bebê. Este ambiente será, em seguida, estendido, para a
família, vizinhos, bairro, comunidade e escola.
4- O Conselho Tutelar é um órgão municipal que zela pela garantia dos
Quanto mais esse ambiente puder dar suporte
direitos das crianças e dos adolescentes, estabelecidos pelo ECA (Estatuto
à criança e seus cuidadores, mais ela se tornará capaz de
da Criança e do Adolescente). É tarefa do conselheiro tutelar escutar e
enfrentar o mundo em toda sua complexidade.
manter diálogo com a criança/adolescente, com a família, comunidade,
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12. poder judiciário e executivo, porém não lhe cabe o julgamento dos casos e segundo o ECA, trazem a possibilidade de possibilidade de punição por lei
fazer encaminhamentos daquele que executar tais ações.
O que nos diz o ECA*? Quando se diz que a criança e adolescente têm direito à liberdade,
está se dizendo que: eles podem ir, vir e permanecer nos locais públicos e
comunitários; ter sua opinião e expressão validadas; ter crença e culto
Abaixo será apresentada uma compilação de artigos do *Estatuto da religioso; podem brincar, praticar esportes e divertir-se; entre outros. O
Criança e do Adolescente, referente aos seus direitos.
direito ao respeito consiste em não ter a integridade física, psíquica e moral
Por: Cristiane Camponogara Baratto violada, mantendo a preservação da imagem, da identidade, da autonomia,
dos valores, ideias e crenças, dos espaços e objetos pessoais deles. O direito
O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) considera crianças à dignidade envolve pô-los a salvo de qualquer tratamento desumano,
quem tem até 12 anos de idade incompletos, e adolescentes aqueles que violento, aterrorizante, vexatório ou constrangedor.
têm entre 12 e 18 anos de idade. O ECA pretende garantir a todas as
crianças e adolescentes o tratamento com atenção, proteção e cuidados Já foi tratada, nesta cartilha, a importância da prevenção na infância
especiais para que possam se desenvolver como adultos e adolescência. O ECA prevê, também, outro tipo de prevenção: a da
conscientes e cidadãos, ou seja, adultos saudáveis em ocorrência de ameaça ou violação dos direitos
um meio ambiente saudável. dispostos pelo estatuto. As medidas de
Para promover as ações de atenção, proteção e prevenção a transtornos juntamente com o
cuidados, estão envolvidas todas as pessoas, a família, respeito aos direitos apresentados pelo ECA, dá a
os Conselhos de Saúde, os Conselhos Tutelares, as oportunidade para o desenvolvimento de um
instâncias públicas e os movimentos de defesa da vida. indivíduo saudável.
Com essas ações, ficam asseguradas as oportunidades de desenvolvimento
físico, mental, moral, espiritual e social, em condições de liberdade e de
dignidade.
Nesse sentido, o ECA estabelece o dever de assegurar à criança e ao
adolescente os seus direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à
educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade,
ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária.
Ações como negligenciar, discriminar, explorar, violentar, excluir e
oprimir - tanto na forma de omitir direitos quanto de praticar essas ações -,
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13. Referências de obras e autores utilizados para a elaboração dos textos Winnicott, D. O ambiente e os processos de maturação. Porto Alegre: Artmed,
apresentados 1983.
Aberastury, A. Adolescência Normal: um enfoque psicanalítico. Porto Alegre:
Artmed, 1981. Equipe PROCONVIVE
Brasil. Ministério da Saúde. Linha de cuidado para a atenção integral à saúde de 1º Ciclo : Alice Moreira da Costa, Michele Ramos,
crianças, adolescentes e suas famílias em situação de violências: orientação para Marisangela Lena, Valéri Camargo, Fernanda Culau,
gestores e profissionais de saúde. Brasília: Editora do Ministério da Saúde, 2010. Laura Wottrich
2ª Ciclo: Maristela Peixoto, Caroline Matos Romio,
Brasil. Ministério da saúde. secretaria de atenção à saúde. Política nacional de
Gabriela Zuchetto, Tais Tiellet, Natália de Andrade de Moraes
3º Ciclo: Paula Cassel, Eduardo Tomm, Juliane Caeran, Luismar Model,
Humanização da atenção e Gestão do SUS. Clínica ampliada e compartilhada /
Marília Bianchini, Ticiane Santos, Vanessa Berni, Cristiane Baratto, Manoela
Ministério da saúde, secretaria de atenção à saúde, Política nacional de
Ludtke
Humanização da atenção e Gestão do SUS. – Brasília : Ministério da saúde, 2009.
4º Ciclo: Nelcí Regina Angnes, Juliana Otarão e Geanne Paulino
Colaboradoras: Rachel Rubin (2009) e Letícia Saldanha de Lima (2010)
Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Política nacional de
Vice-coordenadora: Mariana Hollweg Dias (2009-2011)
promoção da saúde / Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde. – Coordenadora: Profa. Dra. HerickaZogbi Jorge Dias
Brasília: Ministério da Saúde, 2006.
Brasil. Ministério da Saúde. Estatuto da Criança e do Adolescente / Ministério da
Equipe organizadora da cartilha
Saúde. – 3. ed. – Brasília: Editora do Ministério da Saúde, 2008.
Caroline Matos Romio
Erikson, E. H. Identidade, Juventude e Crise. Rio de Janeiro: Zahar editores, 1972.
Cristiane Camponogara Baratto
Gabriela Zuchetto
Feitosa, HN; Ricou, M; Rego, S; Nunes, R. A saúde mental das crianças e dos Juliana Otarão
adolescentes: considerações epidemiológicas, assistenciais e bioéticas. Revista Natália de Andrade de Moraes
Bioética, 2011; 19: 259-75. Nelci Regina Angnes
Hericka Zogbi Jorge Dias
Marcelli, D; Cohen, D. Infância e psicopatologia. 8º ed. Porto Alegre: Artmed, 2010.
www.proconvive.blogspot.com
Rappaport, C.R. Psicologia do desenvolvimento (Volumes 1 a 4). São Paulo: EPU,
1982.
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