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Relatório de Estágio
Um estágio, quatro órgãos de comunicação, sete meses
Universidade de Coimbra, Portugal
17 de Abril de 2008
Primeira parte
Este trabalho tem o objectivo de relatar o estágio curricular que realizei no jornal
Macau Daily Times (MDT) como repórter fotográfico no período entre Novembro de
2007 e Fevereiro de 2008. Com este trabalho pretendo expor os principais ensinamentos
adquiridos durante a prática do fotojornalismo, confrontando esta experiência com os
conhecimentos teóricos absorvidos ao longo da licenciatura em Jornalismo.
Oficialmente, o meu estágio, aos olhos do Instituto de Estudos Jornalísticos (IEJ),
deveria ter sido realizado noutro jornal da Região Administrativa Especial de Macau
(RAEM), o Jornal Tribuna de Macau (JTM), graças a um protocolo assinado pelo seu
director, José Rocha Dinis, e a direcção do IEJ.
A interrupção do meu estágio no JTM após quase dois meses deveu-se ao que o
próprio director José Rocha Dinis definiu como “um erro de casting”. Rocha Dinis não
podia estar mais certo na sua definição. Apesar da postura “linha dura” que dirige o
diário de língua portuguesa mais tradicional da RAEM, esta foi uma das suas frases que,
entre outras, formaram os nossos laços de amizade e a minha admiração para com ele.
Porém não posso deixar de citar neste relatório as experiências que tive no Tribuna de
Macau, pois foi graças a estas experiências que pude valorizar ainda mais o que aprendi
em Coimbra. Da mesma forma, não posso deixar de relatar as experiências na Secção de
Jornalismo da AAC e em especial noutros dois órgãos de comunicação social: o Jornal A
Tribuna de Santos, no Brasil, em Agosto de 2007 e a Agência Lusa, em Timor Leste,
durante o mês de Fevereiro de 2008.
Um estágio, quatro órgãos de comunicação, sete meses. Não consigo, nem posso, a
partir de um ponto de vista pessoal, encarar a minha experiência e a aprendizagem
adquirida como sendo fruto de apenas um único estágio. Por isso peço a compreensão da
comissão de estágios e do IEJ para um relato mais abrangente neste trabalho, contudo,
1
sem esquecer de focar os intensos meses de estágio no Macau Daily Times que me
proporcionaram não apenas mais conhecimentos na área do Fotojornalismo, mas
também lições de jornalismo e de vida com os meus colegas de trabalho.
Porquê o Fotojornalismo?
“Se a vida fosse um livro, viver e não viajar
seria como se lêssemos apenas uma página deste livro.”
Blaise Pascal
Não foi uma escolha. O gosto pelo jornalismo surgiu na minha vida, ainda durante
a adolescência, enquanto procurava algo que gostasse de fazer. Este gosto ganhou forma
e conduziu-me ao Fotojornalismo. Gostava de viajar e, com uma caneta e uma máquina
fotográfica compacta com um rolo de 24 fotos, comecei a coleccionar histórias e
imagens de vidas e de sítios. Gostava daquela combinação de imagem e conteúdo, da
simbiose da história com a as imagens das personagens, da representação dos factos
fruto dos meus actos com uma máquina fotográfica. Uma combinação que mais tarde
vim a descobrir ser a base da definição restrita do Fotojornalismo, que nas palavras de
Jorge Pedro Sousa 1
consiste numa “actividade que pode visar informar, contextualizar,
oferecer conhecimento, formar, esclarecer ou marcar pontos de vista ("opinar") através
da fotografia de acontecimentos e da cobertura de assuntos de interesse jornalístico. Este
interesse pode variar de um para outro órgão de comunicação social e não tem
necessariamente a ver com os critérios de noticiabilidade dominantes.” Aquele gosto
cresceu. Anos mais tarde, já no primeiro ano da faculdade de Direito, planeei uma nova
viagem. Durante este ano dividia o meu tempo entre a doutrina do Código Civil e os
poucos websites sobre a América do Sul existentes na altura. Mapas rodoviários
marcavam as páginas dos meus apontamentos da faculdade. No final do ano lectivo, já
com todas as cadeiras do primeiro ano da faculdade feitas, fui até à sede do jornal A
Tribuna de Santos para oferecer as fotografias e as histórias da viagem que pretendia
fazer pela América do Sul. No natal veio o “aval” familiar: uma máquina fotográfica
reflex analógica da marca Zenith, fabricada na antiga URSS, completamente manual. Foi
1
SOUSA, Jorge Pedro, (2004). Fotojornalismo
2
uma viagem de experiências, já que não possuía nenhum conhecimento profundo sobre
técnica fotográfica, muito menos com máquinas manuais.
Depois de quase três meses regressei a Santos. Entreguei os meus textos e algumas
fotografias ao jornal A Tribuna e prometi mais. Tornei-me colaborador da secção de
viagens. Nos corredores da faculdade de Direito os professores já não conversavam
apenas sobre os exames: faziam comentários e críticas sobre as minhas fotografias e os
meus textos no A Tribuna, davam-me os parabéns e sugeriam outros sítios para visitar.
No terceiro ano da faculdade decidi estudar inglês na Inglaterra. Em Londres, passados
os primeiros meses de descobertas e de luta, procurei a Revista Brasil.Net. A ideia era a
mesma que tive para o A Tribuna. Aceitaram. Razões já não faltavam para eu deixar de
vez o curso de Direito. Depois de regressar de uma longa viagem pelo sul da Europa,
decidi que era mesmo o Fotojornalismo o que eu queria estudar. Escolhi Coimbra pela
oferta da cadeira que mais me chamou a atenção em todo plano do curso de jornalismo,
o que não podia ser outra senão a cadeira de Fotojornalismo. Na chegada a Coimbra tive
uma decepção2
: a cadeira não existia, nunca existiu e nem iria existir nos seguintes
cinco anos em que estive a estudar em Coimbra.
O Fotojornalismo ia ter que esperar. Era tarde para voltar atrás. Entretanto descobri
outros conhecimentos que me faziam falta: “História dos Media”, com a Dra. Isabel
Vargues; “Geopolítica”, com o ilustre Dr. Gama Mendes, e as cadeiras de língua
portuguesa, nas quais eu tinha imensa dificuldade. Não posso deixar de dizer que graças
à compreensão e ao profissionalismo da Dra. Ana Teresa Peixinho deixei de lado a ideia
de abandonar o curso.
A Secção de Jornalismo da Associação Académica de Coimbra
Para não deixar de praticar o Fotojornalismo, procurei a Secção de Jornalismo da
Associação Académica de Coimbra (SJAAC) no meu primeiro ano de faculdade. Para
mim o espaço ideal para quem quer praticar o que aprende durante o curso. Foi na SJ
onde conheci o jornalismo universitário e os amigos que ficaram, assim como as
experiências que vivemos à frente de um jornal com poucos recursos, mas com muitas
2
As críticas e os comentários apontados neste relatório devem ser lidos num ponto de vista construtivo,
pois pretendem apenas mostrar a minha opinião enquanto estudante finalista do curso de Jornalismo da
Universidade de Coimbra, o mesmo curso que proporcionou os alicerces da minha formação profissional e
pessoal ao longo dos cinco anos em que estive em Coimbra.
3
ambições individuais positivas. Através da SJ conheci o Centro de Formação Protocolar
em Jornalismo (Cenjor)3
, de Lisboa. No Cenjor, além de outros cursos, realizei uma
formação profissional em Fotojornalismo com o formador Pedro Magalhães. O resultado
deste curso foi um conhecimento mais prático sobre a fotografia digital e o início do
pensar a fotografia jornalisticamente. Através da SJ tive a oportunidade de realizar
projectos de fotodocumentários4
para a Pró-reitoria para a Cultura da UC em Guiné-
Bissau, São Tomé e Príncipe e Cabo Verde5
. Experiências extracurriculares que me
ensinaram, na prática, que a fotografia do “outro” sempre está relacionada com o “Eu”, o
que nas palavras de Boris Kossoy define-se como [...] um duplo testemunho, por aquilo
que ela nos mostra da cena passada, irreversível, ali congelada fragmentariamente, e por
aquilo que nos informa acerca do seu autor [...] um testemunho segundo um filtro
cultural, ao mesmo tempo que é uma criação a partir de um visível fotográfico. Toda
fotografia representa um testemunho de uma criação. Por outro lado, ela representará a
sempre a criação de um testemunho (Kossoy apud Andrade 2002)
A ética no (Foto)jornalismo
Fotografar usando os recursos actuais digitais tornou a fotografia fácil e ao alcance
de todos. “Em 1991 a Kodak lançava a primeira máquina digital com resolução de 1.3
mega pixel [...] o seu custa era de aproximadamente 30 mil USD. Só dois anos mais
tarde a Apple lança um modelo mais acessível ao público, o Quicktake 100 (700 USD).
Era o começo da popularização da fotografia digital6
. No Fotojornalismo, a fotografia
Digital trouxe rapidez, eficácia e muitas questões éticas. O tradicional laboratório, com
seus químicos e demorados processos na “sala escura”, foi substituído nas grandes
redacções por velozes computadores e “laboratórios portáteis” como por exemplo o
programa Photoshop, da empresa Adobe7
. Com o pós-tratamento da imagem através
deste software e de outros da mesma linha, é possível fazer o que se fazia nos
3
http//www.cenjor.pt
4
SOUSA, Jorge Pedro, (1998) - Uma história crítica do fotojornalismo ocidental. “O documentalismo
social, enquanto forma mais comum de fotodocumentalismo, procura abordar [...] o significado que
qualquer acontecimento possa ter para a vida humana ou ainda as situações que se desenvolvem à
superfície da Terra e afectam a mundivivência do Homem”
5
http//www.acaminhodalusofonia.org
6
MUNHOZ, Paulo (2007) - Estágios de Desenvolvimento do Fotojornalismo na Internet.
7
“Adobe Photoshop é um software caracterizado como editor de imagens desenvolvido pela Adobe
Systems é considerado o líder no mercado dos editores de imagem profissionais, assim como o programa
de facto para edição profissional de imagens digitais e trabalhos de pré-impressão”
4
tradicionais laboratórios de fotografia8
. Os problemas surgem quando estes mesmos
programas são utilizados para manipular uma imagem a ponto de retirar ou acrescentar
elementos, alterando a informação da mesma. Questões éticas no fotojornalismo são
quase diárias, mas não se finalizam apenas uso imoral uso das novas tecnologias. Um
caso observado na licenciatura de jornalismo mostrou-me que a informação de uma
imagem, seja ela digital ou analógica, pode ser manipulada antes da imagem chegar a
redacção. Foi através de um trabalho que realizei para uma cadeira que não era de
Fotojornalismo, mas sim Ética y Deontologia, frequentada num período de estudos
Erasmus na Universidade Pontifica de Salamanca. O caso dizia respeito à polémica
imagem do fotojornalista espanhol Javier Bauluz do jornal catalão “La Vanguardia” que
mostrava a imagem do corpo de um imigrante numa praia da Costa do Sol espanhola ao
lado de um casal de turistas que pareciam (na imagem) estar indiferentes à imigração
subsaariana naquele país. Numa segunda imagem é possível constatar que não havia
indiferença naquela praia, pois a segunda imagem é registada numa posição que propicia
uma ideia de isolamento dos actores. Além disso, a lente teleobjectiva utilizada no
registo da imagem permite aproximar os sujeitos, que a “olho nú” estariam mais
afastados9
. Este é um exemplo que demonstra que a informação fotográfica não está a
salvo de manipulação, tenha esta passado por processos de pós-tratamento digital ou
não.
Porém, falar de ética e moral no (foto)jornalismo, quando o campo de
aprendizagem dos futuros profissionais da comunicação social ultrapassa fronteiras,
torna-se uma tarefa complicada. No Brasil descobri que a profissão de assessor de
imprensa pode ser dividida com a profissão de jornalista e que as imagens às vezes são
“ligeiramente” manipuladas para “esconder” certa informação indesejável em certas
revistas. E que em Macau é (culturalmente) comum a oferta de “presentes” aos
jornalistas em certas datas do calendário chinês por parte das instituições do Governo e
que é “normal” ver fotografias e artigos não assinados na maioria dos jornais da RAEM.
Como analisar estas situação do ponto de vista do (Foto)jornalismo realizado em
Portugal e do Código Deontológico dos Jornalistas Portugueses10
? Fácil. Mas será que
8
SOUSA, Jorge Pedro, (2004) - A tolerância dos fotojornalistas portugueses à alteração digital de
fotografias jornalísticas”. “Existem muitos fotojornalistas que não perspectivaram certas operações digitais
como forma de tratamento digital de imagens, já que estes procedimentos seriam semelhantes às técnicas
usadas nos laboratórios tradicionais”.
9
Anexo 01 e 02
10
Anexo 03
5
podemos criticar os outros ao ponto de não nos tornamos demasiados “centristas” numa
discussão sobre um o que é melhor para o jornalismo mundial?
A conclusão que tiro dos meus estágios “além-mar” é que cada país tem a sua
deontologia e a sua necessidade/forma de exercer o (Foto)jornalismo. O que não justifica
que um (Foto)jornalista não tenha interiorizado as definições éticas existentes11
da
profissional que escolheu.
Levantar questões sobre a profissão, até mesmo na recta final de uma licenciatura,
não seria fácil sem um curso que formasse o aluno antes do profissional. Penso que está
aí a importância do curso de jornalismo de Coimbra: não formar apenas “estrelas da
televisão” ou “pseudo-políticos de canetas no punho”, mas sim eternos e infatigáveis
questionadores da profissão.
Segunda parte
Estágios da vida ponto blogspot ponto com
Concluídas as cadeiras do curso em Coimbra iniciou-se a segunda e última parte
do processo de licenciatura: o estágio. Ainda sem a certeza para que órgão estagiar,
procurei o Departamento de Relações Internacionais da UC para averiguar a
possibilidade de realizar um estágio no exterior, num jornal cujos corredores eu já
conhecia bem, o Jornal A Tribuna de Santos.
Com o auxílio da prof. Benalva Silva, da Unisantos12
, consegui um estágio no
periódico santista. Antes de formalizado o estágio em Santos, o IEJ confirmou-me
uma vaga para o estágio em Macau para Setembro. Para isso a duração do meu
estágio em Santos teria que ser reduzida de três para um mês. Justifiquei esta
decisão com uma verdade: uma oportunidade para trabalhar no oriente não surge
todos os dias. O jornal A Tribuna de Santos confirmara o pedido de estágio
semanas depois. Não quis perder nenhuma das oportunidades. Fui para Santos e
realizei no de Agosto o estágio no A Tribuna que incluía, por escolha minha e por
orientação da prof. Benalva, aulas matutinas na Unisantos, de elaboração de
reportagens com a própria prof. Benalva e de Fotojornalismo, como prof. João
Baptista.
11
Anexo 04
12
Universidade Católica de Santos
6
O estágio no diário brasileiro iniciava-se no começo da tarde e, por escolha
minha, e muitas vezes contra a vontade dos meus editores, não tinha hora para
acabar.
O jornal A Tribuna de Santos
Lo corriente en los viajes consiste en ajustar la imaginacion a la realiad y,
en vez de hacer pensar cómo son las cosas, hacerlas ver como son,
Samuel Johnson
A história do jornal A Tribuna de Santos inicia-se em 26 de Março de 189413
.
Nesta altura o jornal chamava-se A Tribuna do Povo e circulava duas vezes por semana.
Em 1909 o jornal muda de mãos e ambições. O periódico caiçara moderniza-se e ganha
uma nova sede. No ano de 1927 o jornal contava com modernas máquinas de impressão
da época e era capaz de produzir quarenta páginas diárias. Neste período a chefia do
jornal passa para as mãos de Giusfredo Santini, e este encarrega-se de levar o nome do
jornal para toda a região e manter o crescimento da empresa que veio a tornar-se o
Sistema Tribuna de Comunicação (SAT).
Actualmente o jornal A Tribuna mantém sucursais e correspondentes por toda a
Região Metropolitana da Baixada Santista e tem uma tiragem de 120 mil exemplares
diários. O jornal edita semanalmente cadernos especiais para públicos de interesses
diferenciados, como Jornal Motor, Turismo, Bom Programa, Digital, Ciência & Meio
Ambiente, além da revista AT Revista. Além do jornal centenário, o SAC inclui a TV
Tribuna (afiliada à Rede Globo), rádio Tribuna FM, jornais Primeiramão Santos e
Campinas, o portal A Tribuna Digital e o jornal Expresso Popular, de formato tablóide,
fundado em 2001.
As rotinas
13
http//www.atribuna.com.br/historia
7
Realizada a reunião de editores para a elaboração da agenda de cada dia, os
assuntos seleccionados são encaminhados pelos editores de cada área e organizados logo
cedo pelo “pauteiro” que reúne o material e define o roteiro. Esse roteiro estabelece a
agenda de acontecimentos do dia e os temas a serem abordados. A partir da distribuição
de pautas pelo chefe de redacção, a equipa começa a recolher informações, conforme a
orientação e enfoque passados pela chefia. Na fase de edição, o texto pronto é
encaminhado ao editor da respectiva área, onde começa uma nova etapa do processo.
Após a leitura e discussão do material do dia, o editor responsável reúne-se com o editor
de para escolherem as imagens feitas para a pauta. Na fase de paginação, inicia-se a fase
de edição gráfica, acomodando em blocos o material produzido em cada sector do jornal.
O departamento de fotografia (DF), composto por dez fotorepórteres e dois editores,
situa-se no primeiro andar do edifício do grupo e divide o primeiro andar com o
departamento de paginação. É no DF que o trabalho é distribuído, entregue e discutido
com os editores. É ali também que, no curto espaço de tempo que resta entre um trabalho
e outro, é feita a convivência e a troca de conhecimento entre os fotorepórteres.
Logo que se chega ao DF, o fotorepórter pousa a sua bolsa e põe a conversa em
dia, antes de ler as tarefas para si designadas na agenda do DF ou receber as instruções
directamente de um dos editores responsáveis: Silvio Luís, o editor, e Luigi
Bongiovanni, o sub-editor. Para os estagiários não é diferente. Foi nesta fase mais
descontraída do trabalho que aproveitei para conhecer cada um dos meus colegas de
trabalho e para perguntar o funcionamento do DF. Todos, sem excepção, foram
atenciosos e bons camaradas de profissão (apesar de no meu primeiro dia de estágio ter
sido recepcionado ao som do hino do Corintians Futebol Clube), sinceros críticos até na
hora de provar o meu café, pois saber fazer um bom café é um dos principais requisitos
para ser repórter fotográfico naquele DF. Um relacionamento que contribuiu e muito a
minha inserção no grupo rapidamente e a minha compreensão sobre o funcionamento do
DF.
Depois de voltar da rua com o material, o fotorepórter descarrega as suas imagens
no programa FotoStation de gerenciamento de imagens. As imagens então são, depois de
devidamente identificadas, gravadas na pasta correspondente. Cada pasta representa uma
editoria ou secção de cada um dos órgãos de comunicação do grupo, dado o facto que os
8
fotorepórteres do DF trabalham para todos os veículos do SAT14
, não apenas para o
jornal A Tribuna.
A manipulação
Um dos veículos de comunicação do grupo é a revista AT a qual é publicada aos
domingo e vendida com o jornal A Tribuna. Numa segunda-feira percebi que uma das
colegas do DF estava insatisfeita com o destino de uma da suas fotografias. A
fotorepórter mostrou a revista AT aos colegas e explicou-lhes o caso: a sua fotografia
tinha sido manipulada. A insatisfação da colega foi tanta que a fez reportar o caso à
direcção do jornal. A resposta da direcção veio no mesmo dia. A editora da revista AT
justificou a manipulação como sendo “necessária, pois a palavra que constava da
imagem poderia chocar o público”. O “palavrão” de origem anglófona “F....”, soletrada
em forma de tatuagem em cada um dos dedos da personagem da fotografia, foi
apagado15
através do Photoshop. O desfecho deste caso foi um pedido de desculpas dado
à autora da fotografia e a promessa de que aquela situação não se repetiria novamente.
A observação
Segunda e Quinta-feira são os dias de sessão na câmara de vereadores de Santos.
Às 18 horas iniciam-se as sessões, horário em que muitos fotorepórteres ainda estão na
rua. Para mim, como estagiário, era a hora de trabalhar. Depois do primeiro trabalho na
câmara dos vereadores tornou-se habitual acompanhar o repórter Luigi di Vaio à sala
Princesa Isabel. Trabalhávamos juntos na cobertura das decisões que se tornavam
notícia. Assistíamos a toda a sessão e, quando um dos assuntos se tornava polémico ou
os ânimos se exaltavam no salão, o repórter, bem conhecedor da casa, alertava-me: “fica
esperto!”. Quando as coisas pareciam voltar ao normal eu aproveitava para recolher
algumas imagens ambiente.
Na Segunda-feira antecessora ao término do estágio, registei a imagem de um
vereador que estava a ler jornais que, ao aperceber-se da minha objectiva, dirigiu-se a
mim e pediu para apagar a foto. Recusei-me e disse-lhe que seria o meu editor a decidir
14
Anexo 05 a,b & c
15
Anexo 06
9
o destino daquela imagem. Mostrei a imagem ao repórter Di Vaio e outras semelhantes
que tinha recolhido durante quatro semanas de trabalho na câmara municipal de Santos.
O repórter pediu-me as fotos para fazer uma reunião com a direcção do jornal. Na
Quinta-feira seguinte o editor de fotografia do turno deu-me uma derradeira missão:
continuar atento na sessão daquela Quinta-feira. Se aquela atitude por parte dos
vereadores continuasse a verificar-se, o jornal ver-se-ia obrigado a fazer uma reportagem
com as minhas fotografias. Fui para a câmara municipal e não foi difícil registar aquele
tipo de comportamento: bastou-me olhar e registar. A reportagem saiu na edição de
domingo16
, e a explicação dos vereadores para tais foi publicada no dia seguinte17
.
O Jornal Tribuna de Macau
“Quando um jornalista perde a dignidade, ele não tem mais nada”
João Figueira
O Jornal Tribuna de Macau (JTM) é o fruto da união de dois tradicionais jornais da
Macau: o diário Jornal de Macau e o semanário Tribuna de Macau. O JTM possui uma
tiragem de 1000 exemplares diários e faz parte do grupo de jornais de língua portuguesa
existentes na RAEM, ao lado dos jornais Hoje Macau, Ponto Final e o Tai Chung Pou. A
redacção do JTM era composta na altura pelo seu director, José Rocha Dinis, um
director-adjunto que desempenha a função de editor, um jornalista profissional, um
paginador, uma estagiária da agência Xinhua e os estagiários do IEJ. O JTM ainda conta
com conteúdo do provenientes de jornais portugueses e da agência Lusa, devido a
protocolos estabelecidos.
O trabalho é distribuído pelo director-adjunto no dia anterior e o material é entregue
ao mesmo no regresso à redacção, cabendo ao director-adjunto a responsabilidade do
gatekeeper18
.
As rotinas
16
Anexo 07
17
Anexo 08
18
WOLF, Mauro, (2003) – Teorias da Notícia. “No controlo do processo informativo, as escolhas do
gatekeeper são influenciadas pelo contexto profissional-organizativo-burocrático”.
10
As experiências que vivi ao estagiar no JTM podem dividir-se em duas vertentes:
pessoal, no que toca a aprender a viver na RAEM e a segunda que é a profissional, no
que toca à comparação da deontologia de jornalismo entre Portugal e Macau. O início do
estágio em Macau aconteceu de uma forma “abrupta”, assim como foi para todos os
colegas estagiários que por ali passaram. A carga horária média era de doze horas de
trabalho por dia/seis dias por semana. Sem dúvida, um bom método para preparar um
estagiário para a profissão, mas colocava a eficácia daquele método em causa quando era
destacado para desempenhar outras funções.
Comecei a desconfiar da validade do meu estágio quando passei a ser destacado
para a realização de tarefas extracurriculares como, por exemplo, realização de vídeos19
de eventos que o JTM patrocinava, montagem, desmontagem e permanência20
durante
quatro dias na Feira Internacional de Negócios de Macau e procurar fotografias na
Internet para ilustrar artigos no jornal. Tinha aceitado ir para o JTM para desenvolver a
escrita, mas parecia que esta não era a preocupação do jornal naquela altura.
A ética
Num trabalho que fiz sobre a operação conjunta da PSP e da PJ de Macau nos
casinos do território, tive oportunidade de realizar as fotografias e colocar o meu
conhecimento académico em prática. A operação conjunta visava identificar e levar para
o distrito policial os frequentadores dos casinos que não possuíssem documentos ou que
apresentassem qualquer outra irregularidade. Uma vez que a polícia estava apenas à
procura de “suspeitos”, tratei de fotografar e seleccionar posteriormente as imagens que
não identificassem os elementos levados ao distrito. Enquadrar as pernas21
dos
“suspeitos” e usar efeitos de arrastamento22
foi a forma que utilizei para mostrar a
presença das pessoas levadas ao distrito para prestar declarações. Como no JTM e nos
demais jornais da RAEM é normal o jornalista realizar também a função de repórter
fotográfico, continuei a escrever e a fotografar, além de realizar outras tarefas e
presenciar certas situações que achava um tanto ou quanto fora do contexto da profissão
19
Concurso Internacional de Fogo de Artifício de Macau, http://br.youtube.com/watch?v=c24C489tJbA
20
Vídeo “Imagens de um estágio em Macau”, http://br.youtube.com/watch?v=tGMqrWFG_bA
21
Anexo 09
22
Anexo 10
11
que estudei, como por exemplo: procurar fotografias e “traduzir” textos da Internet sobre
o mundo das celebridades em sites sem qualquer tipo de protocolo com o JTM23
A lição
Na altura dos Jogos Asiáticos de Recinto Coberto em Macau tive a oportunidade
de realizar uma pequena reportagem24
sobre uma das competições que estava a decorrer
durante o evento. Como o director-adjunto estava de folga, o jornalista do JTM,
Emanuel Graça, confiou-me aquela missão. Trouxe o material para a redacção, corrigi o
texto com o jornalista e a reportagem foi publicada, sendo o trabalho posteriormente
elogiado por colegas de outros jornais. No dia seguinte perguntei ao director-adjunto
sobre o que ele achava da reportagem que fiz e que sugestões tinha para o meu trabalho.
A resposta foi um “não vi”. Perguntei então se poderia continuar a cobrir os restantes
eventos, e o director-adjunto negou e terminou a conversa sem mais nenhuma
justificação. Para o “bem” do jornal calei-me e voltei mais uma vez ao mundo das
celebridades. Como a minha insatisfação era transparente, o director Rocha Dinis, (na
altura, preferindo basear-se também num mal-entendido posteriormente esclarecido),
informou-me da sua decisão de interromper o meu estágio, decisão com a qual eu
concordei sem hesitar. Nem por isso o director do JTM me deixou abandonado em
Macau. Orientou-me na possibilidade de realização de outro estágio na RAEM e foi
complacente com as minhas necessidades de permanência em Macau. Atitudes de um
homem sensato que me ensinou com a situação que “um jornal não tem que se adaptar
ao jornalista, o jornalista é que deve adaptar-se ao jornal”.
O jornal Macau Daily Times
“Um jornal não tem que se adaptar ao jornalista,
o jornalista é que deve adaptar-se ao jornal”.
José Rocha Dinis
23
Portal Terra celebridades, http://exclusivo.terra.com.br/ultimas/0,,EI1118,00.html
24
Anexo 11
12
A história do jornal Macau Daily Times (MDT) nasceu das ambições de dois
profissionais da área da comunicação social da RAEM: o angolano Rodolfo Ascenso e o
macaense João Magalhães, editor e designer gráfico, respectivamente, no jornal Ponto
Final. Após alguns anos a desempenhar as suas funções e um tanto ou quanto
insatisfeitos com o funcionamento daquele periódico de língua portuguesa, os dois
amigos resolveram no ano de 2006 que estava na hora de mudar de ares e procurar
novas alternativas para o jornalismo feito no território.
Rodolfo Ascenso, com um currículo jornalístico construído entre Portugal e
Macau, foi o mentor e o principal articulador das parcerias necessárias para o
financiamento do projecto. Nesta fase de negociações entra em cena o sul-africano
Kowie Geldenhuys, que, graças às suas relações em Macau, foi a peça chave entre o projecto e os empresários da RAEM.
Kowie tornou-se o general manager, enquanto que Rodolfo ficou com o cargo de director do jornal, e João Magalhães assumiu a
direcção gráfica, responsabilizando-se por todo o design do MDT, desde a criação do logotipo à concepção gráfica do jornal.
Além do conteúdo proveniente da Agência France Press (AFP) para os temas
internacionais, a recolha de informações locais é realizada por uma equipa de quatro
jornalistas profissionais e uma estagiária. Os jornalistas do MDT foram escolhidos “a
dedo” pelo seu director, que contactou pessoalmente universidades australianas para
recrutar alunos finalistas em jornalismo, interessados na experiência multicultural que é
trabalhar em Macau. A excepção é a jornalista luso-inglesa Sara Farr, que já trabalhava
noutro jornal de língua inglesa de Macau25
, mas que preferiu trocar de emprego por
acreditar na proposta do novo jornal. O resultado das escolhas do director Rodolfo
Ascenso reflecte-se no espírito que o angolano idealizou para o novo projecto: uma
redacção jovem, multicultural, crítica e opinativa, que tem liberdade para errar e corrigir os seus trabalhos, sem perder
de vista a linha editorial do jornal.
Nasce assim o segundo jornal de língua inglesa de Macau no mês de Junho de 2007, o Macau
Daily Times que, como salienta João Magalhães, “em apenas seis meses, conseguiu tornar-se o principal jornal daquela língua no
território, definir o seu espaço dentro do mercado publicitário e obter o apreço da comunidade anglófona de Macau”
26
.
As rotinas
25
O jornal Macau Post
26
Este material foi colectado através de entrevista e conversas realizadas com João Magalhães e Rodolfo
Ascenso no âmbito da recolha de informações sobre o MDT para este relatório de estágios
13
Fruto de um acordo celebrado com o director Rodolfo Ascenso, o meu estágio
como repórter fotográfico no MDT inicia-se no mês de Novembro de 2007. Para sanar as
eventuais dificuldades financeiras da minha estada em Macau, que naquela altura já não
estava a ser financiada por nenhum protocolo, a direcção do jornal ofereceu-me a
oportunidade de realizar trabalhos part time na área da paginação. O estágio foi
duplamente benéfico, pois, além de absorver mais conhecimentos através das
orientações fotojornalísticas dadas pelo director do jornal, aprendi na prática como
pensar “graficamente” uma fotografia e solidifiquei a minha opinião sobre a importância
da imagem numa publicação impressa.
As reportagens fotográficas eram requisitadas a qualquer hora do dia por telefone
ou pessoalmente, na redacção. Os trabalhos eram entregues pela editora Kimberly
Johanes depois de ter definido os temas da agenda com o director na noite anterior. Na
maioria dos trabalhos eu acompanhava os jornalistas desde a sede da redacção, mas, em
muitos casos, deslocava-me de onde estava para sítios onde o trabalho ia ser realizado.
Ao chegar à redacção, descarregava as imagens no computador de fotografia para
serem seleccionadas, editadas e identificadas adequadamente sob a orientação de
Rodolfo Ascenso, que além de ser o director despenhava também a função de editor
fotográfico do jornal. As imagens seleccionadas eram então gravadas no servidor de
imagens do jornal e ficavam à disposição da editora e do director.
Depois de submetidas à escolha editorial, as imagens eram então gravadas, com
os textos correspondentes já editados, em pastas que correspondiam a cada uma das
secções do jornal, armazenadas no computador do paginador, através de uma rede
interna. O paginador, depois de se ter reunido com o director de Marketing (responsável
pela quantidade e a localização das publicidade em cada edição), acedia às pastas no seu
computador e disponibilizava o material na maqueta do jornal. Terminado o processo de
paginação, o jornal era revisto, corrigido e depois gravado num CD, que era entregue aos
funcionários da gráfica que se deslocavam à sede do MDT depois de chamados por
telefone para o efeito. Aos fins-de-semana eu realizava a função de paginador e as
fotografias passavam a ser tiradas pelos próprios jornalistas durante os seus trabalhos.
A minha inserção no grupo foi rápida, pois todos os jornalistas que ali
trabalhavam já eram velhos conhecidos de conferências de imprensa e de vida nocturna.
Coisas de Macau. Porém, tinha chegado num período de significativas mudanças no
14
funcionamento do jornal: Kimberly Johanes assumira a editoria do diário há poucos dias
e os restantes jornalistas estavam ainda um pouco atrapalhados com as mudanças de
horários e de responsabilidades. No que toca à tarefa de repórter fotográfico, o trabalho
fluía naturalmente. Mas quando comecei a realizar os trabalhos de paginação aos fins-
de-semana, houve quem perdesse a cabeça comigo. E com razão: o director gráfico
conseguia terminar a paginação antes da uma da madrugada. Eu, no meu primeiro dia,
terminei às cinco horas. O director do jornal conseguiu acalmar a situação também com
o uso da razão, afinal, eu estava apenas a começar e, para um novato paginar um jornal
inteiro sem erros, era necessário tempo e compreensão de todos. Assim mesmo o
director não deixou de me chamar a atenção: disse para eu deixar de “namorar” as
fotografias e ter mais cuidado com o tempo que despendia. E era verdade: gostava de ver
as fotografias da AFP e ler os textos que as acompanhavam.
O enquadramento
O processo de paginação é uma dinâmica: os textos e as imagens tornam-se
“manchas gráficas” que se acertam na maqueta do jornal através das mãos do paginador
como num puzzle com regras A disponibilização das notícias tem de proporcionar um
prazer semelhante ao da leitura de um conto, mas a satisfação do leitor tem de ser mais
rápida. O design da imprensa tem de ir ao encontro dessas variáveis. Tem de ser acessível
e convidativo.27
Não havia tempo para “namoros jornalísticos” mais profundos, mas isso
não me impediu de ter cuidado no enquadramento das fotografias e fazer algumas
observações quanto às imagens captadas pelos colegas jornalistas. Impossível resistir à
observação, afinal, as mãos que paginavam também pertenciam a um futuro
Fotojornalista. O mais enriquecedor nesta experiência como paginador foi exactamente
no que toca ao reenquadramento das imagens28
. Como certas páginas “pediam”
fotografias verticais e outras horizontais, tanto para facilitar a leitura como para
disponibilizar o conteúdo de uma forma mais harmoniosa para o leitor, interiorizei a
necessidade que um jornal tem de obter, através dos seus fotorepórteres, imagens nas
duas posições sobre o mesmo tema.
27
SOUSA, Pedro Jorge (2001) – Elementos do Jornalismo Impresso
28
Anexo 12
15
No que toca à qualidade das fotografias dos colegas, preferi não me limitar
apenas aos comentários e às sugestões. Como não eram da área do fotojornalismo,
procurava resolver com eles os problemas de focagem e de enquadramento, testando e
ajustando as suas máquinas e trocando ideias sobre ângulos e iluminação com os
jornalistas. O que além de produtivo foi um prazer, pois além de melhorar as imagens
para o jornal, sempre aprendia algo mais enquanto explicava.
O curso
O Grande Prémio de Macau apresentou-se como um teste de resistência. Foram
quatro dias de trabalhos em “alta velocidade” a tentar fotografar os principais
acontecimentos do evento. Estar em vários lugares ao mesmo tempo é um privilégio para
os deuses, e os fotorepórteres, como todos os humanos, estão fora desta classe. As
imagens recolhidas para o MDT fizeram parte de um suplemento também distribuído no
recinto, facto que contribuía para um feedback diário entre os integrantes do evento.
As imagens serviam para acompanhar diversas entrevistas e mini-reportagens
realizadas pelos jornalistas. Antes de sair da redacção, ou durante os trabalhos29
, gostava
de conversar com os colegas jornalistas sobre os temas. A formação jornalística não
deixava mais uma vez o exercício de uma tarefa tornar-se “mecânica”, a ponto de
resumir o trabalho do fotorepórter num “bate-chapas” ambulante.
As demais imagens de ambiente eram seleccionadas na redacção com o director
gráfico e utilizadas para a ilustração do suplemento30
. Ao contrário do que acontece
noutros jornais da RAEM, os créditos das minhas imagens no MDT não acompanhavam
os trabalhos que realizava apenas por questões laborais31
.
O tempo
Na data que assinalava o aniversário da transferência de soberania da RAEM, a
New Macau Democratic Association organizou uma manifestação pelas principais ruas
29
Anexo 12
30
Anexo 13
31
Como estava a realizar um estágio não oficializado nos serviços de imigração de Macau, a direcção do
MDT procurou resolver este impasse burocrático não divulgando o meu nome nas imagens e na ficha
técnica do jornal.
16
de Macau em prol da democracia no território. Destacado para acompanhar as jornalistas
no evento, desloquei-me ao sítio escolhido para a concentração dos manifestantes.
Depois de captar as imagens das personalidades do evento entrevistadas pelas
jornalistas, foi a vez de acompanhar a manifestação avenidas fora. O objectivo deste
acompanhamento era realizar imagens ambiente, ficando atento a qualquer “exaltação de
ânimos” por parte dos manifestantes como as verificadas em manifestações anteriores.
Felizmente, a manifestação aconteceu sem grandes tumultos, e o trabalho
decorreu sem grandes dificuldades. Já na redacção, prestes a começar a rotina de
selecção e edição das melhores imagens, tive um grande susto: tinha enchido dois
cartões de memória com imagens ambiente da manifestação. Escolher, uma a uma, as
melhores imagens daquela tarde, levou horas. Uma situação comum com a chegada das
velozes máquinas digitais, mas nada positiva para a profissão de Fotojornalista, que se
apoia na tecnologia para ganhar tempo. O mesmo tempo que se pode perder com uma
eternidade de imagens à frente para escolher. Curiosamente, a imagem escolhida pela
editora para ser capa foi uma das últimas que realizei naquela tarde, ou seja, a do fim da
manifestação32
.
A agência Lusa
“Não esquece de uma coisa, para o resto da tua vida como profissional:
Todas as fotografias que tirar são para a capa!”
Luigi Bongiovanni
A Agência Lusa nasceu no ano de 1987, fruto da fusão de duas agências
portuguesas: agência Notícias de Portugal (NP) e outra agência que os membros da NP
viriam a criar em cooperação com o Estado português: a Agência Noticiosa Portuguesa
(ANOP). A Lusa possui delegações em todos os concelhos de Portugal, nos PALOP, na
Europa, na China e em Timor Leste. A agência portuguesa conta ainda protocolos com a
European Photo Agency (EPA), o que a possibilita contar com imagens de profissionais
espalhados por quase todo o globo, além de possuir fotorepórteres em Lisboa, no Porto,
em Faro, em Coimbra, no Funchal, em Ponta Delgada e Macau33
.
32
Anexo 14
33
SOUSA, Jorge Pedro (1997) – Fotojornalismo Performativo – O serviço de fotonotícias da agência
Lusa de informação.
17
A agência Lusa não possui um fotorepórter próprio em Timor Leste, contando
apenas com a colaboração de um fotojornalista da agência EPA. Estando em Macau, não
era distante pensar em Timor e aproveitar para chamar a atenção de Lisboa.
Independentemente da data em que terminasse o meu estágio em Macau, seria Timor
Leste a próxima paragem. Numa dessas situações da vida que algumas pessoas preferem
chamar de “coincidências”, encontrei-me em Macau com o director adjunto da Lusa, e
expliquei-lhe as minhas intenções. Neste encontro consegui o primeiro (e único)
contacto em Díli, e no mesmo dia avisei a direcção MDT que no término do estágio
rumaria para Timor Leste. E assim foi. Em Fevereiro de 2007 já me encontrava na
capital timorense e as tais “coincidências” voltaram a acontecer. Três dias depois da
minha chegada a Díli, o presidente José Ramos Horta é alvejado depois de uma tentativa
de sequestro liderada ex-integrantes das Forças de Defesa de Timor Leste (F-FDTL),
entre eles o ex-major das Alfredo Reinado, morto durante a diligência .
As rotinas
Os dias que se seguiram foram de intensivos trabalhos fotográficos para agência
portuguesa num regime freelancer. O meu contacto em Díli, Pedro Rosa Mendes,
jornalista e delegado da Lusa em Timor Leste, orquestrava os trabalhos na sede da
delegação. Paulo Carriço, editor de fotografia da agência, dava as coordenadas
adicionais por telefone a partir de Lisboa. Para mim, como futuro profissional, era a hora
da verdade. Conferências de Imprensa34
, entrevistas35
, o funeral do ex-major36
,
peticionários a renderem-se em massa37
e alojados em sítios vigiados pelo exército38
.
Tudo isto, até a uma certa altura, sob a iminência de uma guerra civil. As baterias do
telemóvel e da máquina fotográfica eram recarregadas todas as noites enquanto o corpo
descansava. Os cartões de memória suplentes andavam sempre nos bolsos, os nomes de
personalidades e de sítios preenchiam a agenda de contactos. Não havia tempo para
falhas.
34
Anexo 15
35
Anexo 16
36
Anexo 17
37
Anexo 18
38
Anexo 19
18
A autonomia
Mesmo assim certas falhas técnicas aconteciam (imagens tremidas, por exemplo),
mas lá estava o editor Paulo Carriço do outro lado da linha para orientar no que fosse
possível. O resto era comigo.
No dia do enterro do ex-major Alfredo Reinado e do soldado Leopoldino (também
morto durante a tentativa de sequestro do presidente), segui as orientações do jornalista
Pedro Rosa Mendes e desloquei-me ao bairro onde aconteceria o funeral. O enterro seria
a poucos quarteirões de onde os corpos estavam a ser velados, e aconteceria depois do
transporte das urnas num cortejo. Na chegada vi que muitos fotorepórteres corriam em
direcção ao cemitério improvisado no quintal da casa do ex-major por uma rua paralela.
Apesar da grande quantidade de pessoas nas estreitas ruas do bairro, decidi ir pelo
caminho que aparentemente era o mais difícil: o da multidão. Quando alcancei o centro
do cortejo percebi que alguns jovens estendiam faixas com o retracto pintado de Alfredo
Reinado e palavras de homenagem ao ex-major. Aproveitei a minha localização e recolhi
algumas imagens39
. Além de conseguir algumas imagens diferentes, cheguei à casa de
Reinado antes dos caixões, e dos fotorepórteres que resolveram ir pelo tal atalho.
A calma
Depois de realizada a agenda do dia, as imagens eram levadas para a delegação da
Lusa em Díli, onde eram editadas, legendadas e enviadas através da Internet para a sede
da agência em Lisboa. Depois da escolha editorial realizada no DF da Lusa, as imagens
eram então gravadas no servidor e disponibilizadas, bem como os textos, no website da
Lusa40
, ficando assim o material à disposição dos clientes da agência. O envio das
imagens desde a delegação em Díli era feito através de uma conexão de apenas 56kbps.
O envio de todo o trabalho chegava a demorar horas. Mas a demora não era causada
apenas pela lenta conexão.
O que estava a atrasar o envio do material teve origem numa falta de conhecimento
técnico meu na altura: eu não estava a comprimir as fotografias adequadamente. A
situação só foi resolvida depois de sucessivas conversas telefónicas com o editor de
39
Anexo 20
40
www.lusa.pts
19
fotografia da Lusa e consultas na Internet. Uma situação que ensinou-me que no
(Foto)jornalismo só o conhecimento não basta: é preciso estar calmo e preparado na hora
de resolver as tarefas diárias que a profissão apresenta.
Terceira parte
Em jeito de conclusão
Cabe-me esclarecer nesta síntese que todas as experiências aqui expostas poderiam
ter sido (e muitas semelhantes foram) facilmente vividas num só único estágio, num
único país, pois todos sabemos que a única fronteira para o conhecimento é a nossa
própria mente. Outro esclarecimento que julgo necessário dar antes de ensaiar uma
conclusão tem a ver com as escolhas que fiz no conteúdo deste trabalho: seleccionei
apenas situações que pudesse demostrar através de material anexo e suprimi outras a fim
de respeitar o limite espacial deste relatório de estágio.
Os casos aqui descritos permitiram-me vivenciar algumas situações do quotidiano
do profissional do Fotojornalismo enquanto estagiário e colaborador dos referidos
órgãos de comunicação. E o resultado (positivo ou negativo) de cada caso serviu-me
para interiorizar e reflectir sobre a sua importância de cada um deles, enquanto futuro
profissional.
Durante o processo prático do estágio curricular, o conhecimento teórico absorvido
durante o curso apresentou-se como uma “baliza” que me orientou nas tomadas de
decisão e de auto-avaliação descrita neste relatório.
Baseando-me na máxima “um profissional forma-se na prática”, acredito que a
aprendizagem não se encerra no estágio nem no curso, mas sim no exercício diário da
profissão. As lições de ética profissional, de observação, de escolha do enquadramento,
das necessidades dos órgãos de comunicação, da autonomia do profissional, da calma
necessária durante o trabalho, da responsabilidade face ao tempo e do curso de
jornalismo em si apresentam-se como ferramentas de que disponho para mais um estágio
da vida que se aproxima: o da vida profissional.
20

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Relatório de Estágio Um estágio, quatro órgãos de comunicação, sete meses

  • 1. Relatório de Estágio Um estágio, quatro órgãos de comunicação, sete meses Universidade de Coimbra, Portugal 17 de Abril de 2008 Primeira parte Este trabalho tem o objectivo de relatar o estágio curricular que realizei no jornal Macau Daily Times (MDT) como repórter fotográfico no período entre Novembro de 2007 e Fevereiro de 2008. Com este trabalho pretendo expor os principais ensinamentos adquiridos durante a prática do fotojornalismo, confrontando esta experiência com os conhecimentos teóricos absorvidos ao longo da licenciatura em Jornalismo. Oficialmente, o meu estágio, aos olhos do Instituto de Estudos Jornalísticos (IEJ), deveria ter sido realizado noutro jornal da Região Administrativa Especial de Macau (RAEM), o Jornal Tribuna de Macau (JTM), graças a um protocolo assinado pelo seu director, José Rocha Dinis, e a direcção do IEJ. A interrupção do meu estágio no JTM após quase dois meses deveu-se ao que o próprio director José Rocha Dinis definiu como “um erro de casting”. Rocha Dinis não podia estar mais certo na sua definição. Apesar da postura “linha dura” que dirige o diário de língua portuguesa mais tradicional da RAEM, esta foi uma das suas frases que, entre outras, formaram os nossos laços de amizade e a minha admiração para com ele. Porém não posso deixar de citar neste relatório as experiências que tive no Tribuna de Macau, pois foi graças a estas experiências que pude valorizar ainda mais o que aprendi em Coimbra. Da mesma forma, não posso deixar de relatar as experiências na Secção de Jornalismo da AAC e em especial noutros dois órgãos de comunicação social: o Jornal A Tribuna de Santos, no Brasil, em Agosto de 2007 e a Agência Lusa, em Timor Leste, durante o mês de Fevereiro de 2008. Um estágio, quatro órgãos de comunicação, sete meses. Não consigo, nem posso, a partir de um ponto de vista pessoal, encarar a minha experiência e a aprendizagem adquirida como sendo fruto de apenas um único estágio. Por isso peço a compreensão da comissão de estágios e do IEJ para um relato mais abrangente neste trabalho, contudo, 1
  • 2. sem esquecer de focar os intensos meses de estágio no Macau Daily Times que me proporcionaram não apenas mais conhecimentos na área do Fotojornalismo, mas também lições de jornalismo e de vida com os meus colegas de trabalho. Porquê o Fotojornalismo? “Se a vida fosse um livro, viver e não viajar seria como se lêssemos apenas uma página deste livro.” Blaise Pascal Não foi uma escolha. O gosto pelo jornalismo surgiu na minha vida, ainda durante a adolescência, enquanto procurava algo que gostasse de fazer. Este gosto ganhou forma e conduziu-me ao Fotojornalismo. Gostava de viajar e, com uma caneta e uma máquina fotográfica compacta com um rolo de 24 fotos, comecei a coleccionar histórias e imagens de vidas e de sítios. Gostava daquela combinação de imagem e conteúdo, da simbiose da história com a as imagens das personagens, da representação dos factos fruto dos meus actos com uma máquina fotográfica. Uma combinação que mais tarde vim a descobrir ser a base da definição restrita do Fotojornalismo, que nas palavras de Jorge Pedro Sousa 1 consiste numa “actividade que pode visar informar, contextualizar, oferecer conhecimento, formar, esclarecer ou marcar pontos de vista ("opinar") através da fotografia de acontecimentos e da cobertura de assuntos de interesse jornalístico. Este interesse pode variar de um para outro órgão de comunicação social e não tem necessariamente a ver com os critérios de noticiabilidade dominantes.” Aquele gosto cresceu. Anos mais tarde, já no primeiro ano da faculdade de Direito, planeei uma nova viagem. Durante este ano dividia o meu tempo entre a doutrina do Código Civil e os poucos websites sobre a América do Sul existentes na altura. Mapas rodoviários marcavam as páginas dos meus apontamentos da faculdade. No final do ano lectivo, já com todas as cadeiras do primeiro ano da faculdade feitas, fui até à sede do jornal A Tribuna de Santos para oferecer as fotografias e as histórias da viagem que pretendia fazer pela América do Sul. No natal veio o “aval” familiar: uma máquina fotográfica reflex analógica da marca Zenith, fabricada na antiga URSS, completamente manual. Foi 1 SOUSA, Jorge Pedro, (2004). Fotojornalismo 2
  • 3. uma viagem de experiências, já que não possuía nenhum conhecimento profundo sobre técnica fotográfica, muito menos com máquinas manuais. Depois de quase três meses regressei a Santos. Entreguei os meus textos e algumas fotografias ao jornal A Tribuna e prometi mais. Tornei-me colaborador da secção de viagens. Nos corredores da faculdade de Direito os professores já não conversavam apenas sobre os exames: faziam comentários e críticas sobre as minhas fotografias e os meus textos no A Tribuna, davam-me os parabéns e sugeriam outros sítios para visitar. No terceiro ano da faculdade decidi estudar inglês na Inglaterra. Em Londres, passados os primeiros meses de descobertas e de luta, procurei a Revista Brasil.Net. A ideia era a mesma que tive para o A Tribuna. Aceitaram. Razões já não faltavam para eu deixar de vez o curso de Direito. Depois de regressar de uma longa viagem pelo sul da Europa, decidi que era mesmo o Fotojornalismo o que eu queria estudar. Escolhi Coimbra pela oferta da cadeira que mais me chamou a atenção em todo plano do curso de jornalismo, o que não podia ser outra senão a cadeira de Fotojornalismo. Na chegada a Coimbra tive uma decepção2 : a cadeira não existia, nunca existiu e nem iria existir nos seguintes cinco anos em que estive a estudar em Coimbra. O Fotojornalismo ia ter que esperar. Era tarde para voltar atrás. Entretanto descobri outros conhecimentos que me faziam falta: “História dos Media”, com a Dra. Isabel Vargues; “Geopolítica”, com o ilustre Dr. Gama Mendes, e as cadeiras de língua portuguesa, nas quais eu tinha imensa dificuldade. Não posso deixar de dizer que graças à compreensão e ao profissionalismo da Dra. Ana Teresa Peixinho deixei de lado a ideia de abandonar o curso. A Secção de Jornalismo da Associação Académica de Coimbra Para não deixar de praticar o Fotojornalismo, procurei a Secção de Jornalismo da Associação Académica de Coimbra (SJAAC) no meu primeiro ano de faculdade. Para mim o espaço ideal para quem quer praticar o que aprende durante o curso. Foi na SJ onde conheci o jornalismo universitário e os amigos que ficaram, assim como as experiências que vivemos à frente de um jornal com poucos recursos, mas com muitas 2 As críticas e os comentários apontados neste relatório devem ser lidos num ponto de vista construtivo, pois pretendem apenas mostrar a minha opinião enquanto estudante finalista do curso de Jornalismo da Universidade de Coimbra, o mesmo curso que proporcionou os alicerces da minha formação profissional e pessoal ao longo dos cinco anos em que estive em Coimbra. 3
  • 4. ambições individuais positivas. Através da SJ conheci o Centro de Formação Protocolar em Jornalismo (Cenjor)3 , de Lisboa. No Cenjor, além de outros cursos, realizei uma formação profissional em Fotojornalismo com o formador Pedro Magalhães. O resultado deste curso foi um conhecimento mais prático sobre a fotografia digital e o início do pensar a fotografia jornalisticamente. Através da SJ tive a oportunidade de realizar projectos de fotodocumentários4 para a Pró-reitoria para a Cultura da UC em Guiné- Bissau, São Tomé e Príncipe e Cabo Verde5 . Experiências extracurriculares que me ensinaram, na prática, que a fotografia do “outro” sempre está relacionada com o “Eu”, o que nas palavras de Boris Kossoy define-se como [...] um duplo testemunho, por aquilo que ela nos mostra da cena passada, irreversível, ali congelada fragmentariamente, e por aquilo que nos informa acerca do seu autor [...] um testemunho segundo um filtro cultural, ao mesmo tempo que é uma criação a partir de um visível fotográfico. Toda fotografia representa um testemunho de uma criação. Por outro lado, ela representará a sempre a criação de um testemunho (Kossoy apud Andrade 2002) A ética no (Foto)jornalismo Fotografar usando os recursos actuais digitais tornou a fotografia fácil e ao alcance de todos. “Em 1991 a Kodak lançava a primeira máquina digital com resolução de 1.3 mega pixel [...] o seu custa era de aproximadamente 30 mil USD. Só dois anos mais tarde a Apple lança um modelo mais acessível ao público, o Quicktake 100 (700 USD). Era o começo da popularização da fotografia digital6 . No Fotojornalismo, a fotografia Digital trouxe rapidez, eficácia e muitas questões éticas. O tradicional laboratório, com seus químicos e demorados processos na “sala escura”, foi substituído nas grandes redacções por velozes computadores e “laboratórios portáteis” como por exemplo o programa Photoshop, da empresa Adobe7 . Com o pós-tratamento da imagem através deste software e de outros da mesma linha, é possível fazer o que se fazia nos 3 http//www.cenjor.pt 4 SOUSA, Jorge Pedro, (1998) - Uma história crítica do fotojornalismo ocidental. “O documentalismo social, enquanto forma mais comum de fotodocumentalismo, procura abordar [...] o significado que qualquer acontecimento possa ter para a vida humana ou ainda as situações que se desenvolvem à superfície da Terra e afectam a mundivivência do Homem” 5 http//www.acaminhodalusofonia.org 6 MUNHOZ, Paulo (2007) - Estágios de Desenvolvimento do Fotojornalismo na Internet. 7 “Adobe Photoshop é um software caracterizado como editor de imagens desenvolvido pela Adobe Systems é considerado o líder no mercado dos editores de imagem profissionais, assim como o programa de facto para edição profissional de imagens digitais e trabalhos de pré-impressão” 4
  • 5. tradicionais laboratórios de fotografia8 . Os problemas surgem quando estes mesmos programas são utilizados para manipular uma imagem a ponto de retirar ou acrescentar elementos, alterando a informação da mesma. Questões éticas no fotojornalismo são quase diárias, mas não se finalizam apenas uso imoral uso das novas tecnologias. Um caso observado na licenciatura de jornalismo mostrou-me que a informação de uma imagem, seja ela digital ou analógica, pode ser manipulada antes da imagem chegar a redacção. Foi através de um trabalho que realizei para uma cadeira que não era de Fotojornalismo, mas sim Ética y Deontologia, frequentada num período de estudos Erasmus na Universidade Pontifica de Salamanca. O caso dizia respeito à polémica imagem do fotojornalista espanhol Javier Bauluz do jornal catalão “La Vanguardia” que mostrava a imagem do corpo de um imigrante numa praia da Costa do Sol espanhola ao lado de um casal de turistas que pareciam (na imagem) estar indiferentes à imigração subsaariana naquele país. Numa segunda imagem é possível constatar que não havia indiferença naquela praia, pois a segunda imagem é registada numa posição que propicia uma ideia de isolamento dos actores. Além disso, a lente teleobjectiva utilizada no registo da imagem permite aproximar os sujeitos, que a “olho nú” estariam mais afastados9 . Este é um exemplo que demonstra que a informação fotográfica não está a salvo de manipulação, tenha esta passado por processos de pós-tratamento digital ou não. Porém, falar de ética e moral no (foto)jornalismo, quando o campo de aprendizagem dos futuros profissionais da comunicação social ultrapassa fronteiras, torna-se uma tarefa complicada. No Brasil descobri que a profissão de assessor de imprensa pode ser dividida com a profissão de jornalista e que as imagens às vezes são “ligeiramente” manipuladas para “esconder” certa informação indesejável em certas revistas. E que em Macau é (culturalmente) comum a oferta de “presentes” aos jornalistas em certas datas do calendário chinês por parte das instituições do Governo e que é “normal” ver fotografias e artigos não assinados na maioria dos jornais da RAEM. Como analisar estas situação do ponto de vista do (Foto)jornalismo realizado em Portugal e do Código Deontológico dos Jornalistas Portugueses10 ? Fácil. Mas será que 8 SOUSA, Jorge Pedro, (2004) - A tolerância dos fotojornalistas portugueses à alteração digital de fotografias jornalísticas”. “Existem muitos fotojornalistas que não perspectivaram certas operações digitais como forma de tratamento digital de imagens, já que estes procedimentos seriam semelhantes às técnicas usadas nos laboratórios tradicionais”. 9 Anexo 01 e 02 10 Anexo 03 5
  • 6. podemos criticar os outros ao ponto de não nos tornamos demasiados “centristas” numa discussão sobre um o que é melhor para o jornalismo mundial? A conclusão que tiro dos meus estágios “além-mar” é que cada país tem a sua deontologia e a sua necessidade/forma de exercer o (Foto)jornalismo. O que não justifica que um (Foto)jornalista não tenha interiorizado as definições éticas existentes11 da profissional que escolheu. Levantar questões sobre a profissão, até mesmo na recta final de uma licenciatura, não seria fácil sem um curso que formasse o aluno antes do profissional. Penso que está aí a importância do curso de jornalismo de Coimbra: não formar apenas “estrelas da televisão” ou “pseudo-políticos de canetas no punho”, mas sim eternos e infatigáveis questionadores da profissão. Segunda parte Estágios da vida ponto blogspot ponto com Concluídas as cadeiras do curso em Coimbra iniciou-se a segunda e última parte do processo de licenciatura: o estágio. Ainda sem a certeza para que órgão estagiar, procurei o Departamento de Relações Internacionais da UC para averiguar a possibilidade de realizar um estágio no exterior, num jornal cujos corredores eu já conhecia bem, o Jornal A Tribuna de Santos. Com o auxílio da prof. Benalva Silva, da Unisantos12 , consegui um estágio no periódico santista. Antes de formalizado o estágio em Santos, o IEJ confirmou-me uma vaga para o estágio em Macau para Setembro. Para isso a duração do meu estágio em Santos teria que ser reduzida de três para um mês. Justifiquei esta decisão com uma verdade: uma oportunidade para trabalhar no oriente não surge todos os dias. O jornal A Tribuna de Santos confirmara o pedido de estágio semanas depois. Não quis perder nenhuma das oportunidades. Fui para Santos e realizei no de Agosto o estágio no A Tribuna que incluía, por escolha minha e por orientação da prof. Benalva, aulas matutinas na Unisantos, de elaboração de reportagens com a própria prof. Benalva e de Fotojornalismo, como prof. João Baptista. 11 Anexo 04 12 Universidade Católica de Santos 6
  • 7. O estágio no diário brasileiro iniciava-se no começo da tarde e, por escolha minha, e muitas vezes contra a vontade dos meus editores, não tinha hora para acabar. O jornal A Tribuna de Santos Lo corriente en los viajes consiste en ajustar la imaginacion a la realiad y, en vez de hacer pensar cómo son las cosas, hacerlas ver como son, Samuel Johnson A história do jornal A Tribuna de Santos inicia-se em 26 de Março de 189413 . Nesta altura o jornal chamava-se A Tribuna do Povo e circulava duas vezes por semana. Em 1909 o jornal muda de mãos e ambições. O periódico caiçara moderniza-se e ganha uma nova sede. No ano de 1927 o jornal contava com modernas máquinas de impressão da época e era capaz de produzir quarenta páginas diárias. Neste período a chefia do jornal passa para as mãos de Giusfredo Santini, e este encarrega-se de levar o nome do jornal para toda a região e manter o crescimento da empresa que veio a tornar-se o Sistema Tribuna de Comunicação (SAT). Actualmente o jornal A Tribuna mantém sucursais e correspondentes por toda a Região Metropolitana da Baixada Santista e tem uma tiragem de 120 mil exemplares diários. O jornal edita semanalmente cadernos especiais para públicos de interesses diferenciados, como Jornal Motor, Turismo, Bom Programa, Digital, Ciência & Meio Ambiente, além da revista AT Revista. Além do jornal centenário, o SAC inclui a TV Tribuna (afiliada à Rede Globo), rádio Tribuna FM, jornais Primeiramão Santos e Campinas, o portal A Tribuna Digital e o jornal Expresso Popular, de formato tablóide, fundado em 2001. As rotinas 13 http//www.atribuna.com.br/historia 7
  • 8. Realizada a reunião de editores para a elaboração da agenda de cada dia, os assuntos seleccionados são encaminhados pelos editores de cada área e organizados logo cedo pelo “pauteiro” que reúne o material e define o roteiro. Esse roteiro estabelece a agenda de acontecimentos do dia e os temas a serem abordados. A partir da distribuição de pautas pelo chefe de redacção, a equipa começa a recolher informações, conforme a orientação e enfoque passados pela chefia. Na fase de edição, o texto pronto é encaminhado ao editor da respectiva área, onde começa uma nova etapa do processo. Após a leitura e discussão do material do dia, o editor responsável reúne-se com o editor de para escolherem as imagens feitas para a pauta. Na fase de paginação, inicia-se a fase de edição gráfica, acomodando em blocos o material produzido em cada sector do jornal. O departamento de fotografia (DF), composto por dez fotorepórteres e dois editores, situa-se no primeiro andar do edifício do grupo e divide o primeiro andar com o departamento de paginação. É no DF que o trabalho é distribuído, entregue e discutido com os editores. É ali também que, no curto espaço de tempo que resta entre um trabalho e outro, é feita a convivência e a troca de conhecimento entre os fotorepórteres. Logo que se chega ao DF, o fotorepórter pousa a sua bolsa e põe a conversa em dia, antes de ler as tarefas para si designadas na agenda do DF ou receber as instruções directamente de um dos editores responsáveis: Silvio Luís, o editor, e Luigi Bongiovanni, o sub-editor. Para os estagiários não é diferente. Foi nesta fase mais descontraída do trabalho que aproveitei para conhecer cada um dos meus colegas de trabalho e para perguntar o funcionamento do DF. Todos, sem excepção, foram atenciosos e bons camaradas de profissão (apesar de no meu primeiro dia de estágio ter sido recepcionado ao som do hino do Corintians Futebol Clube), sinceros críticos até na hora de provar o meu café, pois saber fazer um bom café é um dos principais requisitos para ser repórter fotográfico naquele DF. Um relacionamento que contribuiu e muito a minha inserção no grupo rapidamente e a minha compreensão sobre o funcionamento do DF. Depois de voltar da rua com o material, o fotorepórter descarrega as suas imagens no programa FotoStation de gerenciamento de imagens. As imagens então são, depois de devidamente identificadas, gravadas na pasta correspondente. Cada pasta representa uma editoria ou secção de cada um dos órgãos de comunicação do grupo, dado o facto que os 8
  • 9. fotorepórteres do DF trabalham para todos os veículos do SAT14 , não apenas para o jornal A Tribuna. A manipulação Um dos veículos de comunicação do grupo é a revista AT a qual é publicada aos domingo e vendida com o jornal A Tribuna. Numa segunda-feira percebi que uma das colegas do DF estava insatisfeita com o destino de uma da suas fotografias. A fotorepórter mostrou a revista AT aos colegas e explicou-lhes o caso: a sua fotografia tinha sido manipulada. A insatisfação da colega foi tanta que a fez reportar o caso à direcção do jornal. A resposta da direcção veio no mesmo dia. A editora da revista AT justificou a manipulação como sendo “necessária, pois a palavra que constava da imagem poderia chocar o público”. O “palavrão” de origem anglófona “F....”, soletrada em forma de tatuagem em cada um dos dedos da personagem da fotografia, foi apagado15 através do Photoshop. O desfecho deste caso foi um pedido de desculpas dado à autora da fotografia e a promessa de que aquela situação não se repetiria novamente. A observação Segunda e Quinta-feira são os dias de sessão na câmara de vereadores de Santos. Às 18 horas iniciam-se as sessões, horário em que muitos fotorepórteres ainda estão na rua. Para mim, como estagiário, era a hora de trabalhar. Depois do primeiro trabalho na câmara dos vereadores tornou-se habitual acompanhar o repórter Luigi di Vaio à sala Princesa Isabel. Trabalhávamos juntos na cobertura das decisões que se tornavam notícia. Assistíamos a toda a sessão e, quando um dos assuntos se tornava polémico ou os ânimos se exaltavam no salão, o repórter, bem conhecedor da casa, alertava-me: “fica esperto!”. Quando as coisas pareciam voltar ao normal eu aproveitava para recolher algumas imagens ambiente. Na Segunda-feira antecessora ao término do estágio, registei a imagem de um vereador que estava a ler jornais que, ao aperceber-se da minha objectiva, dirigiu-se a mim e pediu para apagar a foto. Recusei-me e disse-lhe que seria o meu editor a decidir 14 Anexo 05 a,b & c 15 Anexo 06 9
  • 10. o destino daquela imagem. Mostrei a imagem ao repórter Di Vaio e outras semelhantes que tinha recolhido durante quatro semanas de trabalho na câmara municipal de Santos. O repórter pediu-me as fotos para fazer uma reunião com a direcção do jornal. Na Quinta-feira seguinte o editor de fotografia do turno deu-me uma derradeira missão: continuar atento na sessão daquela Quinta-feira. Se aquela atitude por parte dos vereadores continuasse a verificar-se, o jornal ver-se-ia obrigado a fazer uma reportagem com as minhas fotografias. Fui para a câmara municipal e não foi difícil registar aquele tipo de comportamento: bastou-me olhar e registar. A reportagem saiu na edição de domingo16 , e a explicação dos vereadores para tais foi publicada no dia seguinte17 . O Jornal Tribuna de Macau “Quando um jornalista perde a dignidade, ele não tem mais nada” João Figueira O Jornal Tribuna de Macau (JTM) é o fruto da união de dois tradicionais jornais da Macau: o diário Jornal de Macau e o semanário Tribuna de Macau. O JTM possui uma tiragem de 1000 exemplares diários e faz parte do grupo de jornais de língua portuguesa existentes na RAEM, ao lado dos jornais Hoje Macau, Ponto Final e o Tai Chung Pou. A redacção do JTM era composta na altura pelo seu director, José Rocha Dinis, um director-adjunto que desempenha a função de editor, um jornalista profissional, um paginador, uma estagiária da agência Xinhua e os estagiários do IEJ. O JTM ainda conta com conteúdo do provenientes de jornais portugueses e da agência Lusa, devido a protocolos estabelecidos. O trabalho é distribuído pelo director-adjunto no dia anterior e o material é entregue ao mesmo no regresso à redacção, cabendo ao director-adjunto a responsabilidade do gatekeeper18 . As rotinas 16 Anexo 07 17 Anexo 08 18 WOLF, Mauro, (2003) – Teorias da Notícia. “No controlo do processo informativo, as escolhas do gatekeeper são influenciadas pelo contexto profissional-organizativo-burocrático”. 10
  • 11. As experiências que vivi ao estagiar no JTM podem dividir-se em duas vertentes: pessoal, no que toca a aprender a viver na RAEM e a segunda que é a profissional, no que toca à comparação da deontologia de jornalismo entre Portugal e Macau. O início do estágio em Macau aconteceu de uma forma “abrupta”, assim como foi para todos os colegas estagiários que por ali passaram. A carga horária média era de doze horas de trabalho por dia/seis dias por semana. Sem dúvida, um bom método para preparar um estagiário para a profissão, mas colocava a eficácia daquele método em causa quando era destacado para desempenhar outras funções. Comecei a desconfiar da validade do meu estágio quando passei a ser destacado para a realização de tarefas extracurriculares como, por exemplo, realização de vídeos19 de eventos que o JTM patrocinava, montagem, desmontagem e permanência20 durante quatro dias na Feira Internacional de Negócios de Macau e procurar fotografias na Internet para ilustrar artigos no jornal. Tinha aceitado ir para o JTM para desenvolver a escrita, mas parecia que esta não era a preocupação do jornal naquela altura. A ética Num trabalho que fiz sobre a operação conjunta da PSP e da PJ de Macau nos casinos do território, tive oportunidade de realizar as fotografias e colocar o meu conhecimento académico em prática. A operação conjunta visava identificar e levar para o distrito policial os frequentadores dos casinos que não possuíssem documentos ou que apresentassem qualquer outra irregularidade. Uma vez que a polícia estava apenas à procura de “suspeitos”, tratei de fotografar e seleccionar posteriormente as imagens que não identificassem os elementos levados ao distrito. Enquadrar as pernas21 dos “suspeitos” e usar efeitos de arrastamento22 foi a forma que utilizei para mostrar a presença das pessoas levadas ao distrito para prestar declarações. Como no JTM e nos demais jornais da RAEM é normal o jornalista realizar também a função de repórter fotográfico, continuei a escrever e a fotografar, além de realizar outras tarefas e presenciar certas situações que achava um tanto ou quanto fora do contexto da profissão 19 Concurso Internacional de Fogo de Artifício de Macau, http://br.youtube.com/watch?v=c24C489tJbA 20 Vídeo “Imagens de um estágio em Macau”, http://br.youtube.com/watch?v=tGMqrWFG_bA 21 Anexo 09 22 Anexo 10 11
  • 12. que estudei, como por exemplo: procurar fotografias e “traduzir” textos da Internet sobre o mundo das celebridades em sites sem qualquer tipo de protocolo com o JTM23 A lição Na altura dos Jogos Asiáticos de Recinto Coberto em Macau tive a oportunidade de realizar uma pequena reportagem24 sobre uma das competições que estava a decorrer durante o evento. Como o director-adjunto estava de folga, o jornalista do JTM, Emanuel Graça, confiou-me aquela missão. Trouxe o material para a redacção, corrigi o texto com o jornalista e a reportagem foi publicada, sendo o trabalho posteriormente elogiado por colegas de outros jornais. No dia seguinte perguntei ao director-adjunto sobre o que ele achava da reportagem que fiz e que sugestões tinha para o meu trabalho. A resposta foi um “não vi”. Perguntei então se poderia continuar a cobrir os restantes eventos, e o director-adjunto negou e terminou a conversa sem mais nenhuma justificação. Para o “bem” do jornal calei-me e voltei mais uma vez ao mundo das celebridades. Como a minha insatisfação era transparente, o director Rocha Dinis, (na altura, preferindo basear-se também num mal-entendido posteriormente esclarecido), informou-me da sua decisão de interromper o meu estágio, decisão com a qual eu concordei sem hesitar. Nem por isso o director do JTM me deixou abandonado em Macau. Orientou-me na possibilidade de realização de outro estágio na RAEM e foi complacente com as minhas necessidades de permanência em Macau. Atitudes de um homem sensato que me ensinou com a situação que “um jornal não tem que se adaptar ao jornalista, o jornalista é que deve adaptar-se ao jornal”. O jornal Macau Daily Times “Um jornal não tem que se adaptar ao jornalista, o jornalista é que deve adaptar-se ao jornal”. José Rocha Dinis 23 Portal Terra celebridades, http://exclusivo.terra.com.br/ultimas/0,,EI1118,00.html 24 Anexo 11 12
  • 13. A história do jornal Macau Daily Times (MDT) nasceu das ambições de dois profissionais da área da comunicação social da RAEM: o angolano Rodolfo Ascenso e o macaense João Magalhães, editor e designer gráfico, respectivamente, no jornal Ponto Final. Após alguns anos a desempenhar as suas funções e um tanto ou quanto insatisfeitos com o funcionamento daquele periódico de língua portuguesa, os dois amigos resolveram no ano de 2006 que estava na hora de mudar de ares e procurar novas alternativas para o jornalismo feito no território. Rodolfo Ascenso, com um currículo jornalístico construído entre Portugal e Macau, foi o mentor e o principal articulador das parcerias necessárias para o financiamento do projecto. Nesta fase de negociações entra em cena o sul-africano Kowie Geldenhuys, que, graças às suas relações em Macau, foi a peça chave entre o projecto e os empresários da RAEM. Kowie tornou-se o general manager, enquanto que Rodolfo ficou com o cargo de director do jornal, e João Magalhães assumiu a direcção gráfica, responsabilizando-se por todo o design do MDT, desde a criação do logotipo à concepção gráfica do jornal. Além do conteúdo proveniente da Agência France Press (AFP) para os temas internacionais, a recolha de informações locais é realizada por uma equipa de quatro jornalistas profissionais e uma estagiária. Os jornalistas do MDT foram escolhidos “a dedo” pelo seu director, que contactou pessoalmente universidades australianas para recrutar alunos finalistas em jornalismo, interessados na experiência multicultural que é trabalhar em Macau. A excepção é a jornalista luso-inglesa Sara Farr, que já trabalhava noutro jornal de língua inglesa de Macau25 , mas que preferiu trocar de emprego por acreditar na proposta do novo jornal. O resultado das escolhas do director Rodolfo Ascenso reflecte-se no espírito que o angolano idealizou para o novo projecto: uma redacção jovem, multicultural, crítica e opinativa, que tem liberdade para errar e corrigir os seus trabalhos, sem perder de vista a linha editorial do jornal. Nasce assim o segundo jornal de língua inglesa de Macau no mês de Junho de 2007, o Macau Daily Times que, como salienta João Magalhães, “em apenas seis meses, conseguiu tornar-se o principal jornal daquela língua no território, definir o seu espaço dentro do mercado publicitário e obter o apreço da comunidade anglófona de Macau” 26 . As rotinas 25 O jornal Macau Post 26 Este material foi colectado através de entrevista e conversas realizadas com João Magalhães e Rodolfo Ascenso no âmbito da recolha de informações sobre o MDT para este relatório de estágios 13
  • 14. Fruto de um acordo celebrado com o director Rodolfo Ascenso, o meu estágio como repórter fotográfico no MDT inicia-se no mês de Novembro de 2007. Para sanar as eventuais dificuldades financeiras da minha estada em Macau, que naquela altura já não estava a ser financiada por nenhum protocolo, a direcção do jornal ofereceu-me a oportunidade de realizar trabalhos part time na área da paginação. O estágio foi duplamente benéfico, pois, além de absorver mais conhecimentos através das orientações fotojornalísticas dadas pelo director do jornal, aprendi na prática como pensar “graficamente” uma fotografia e solidifiquei a minha opinião sobre a importância da imagem numa publicação impressa. As reportagens fotográficas eram requisitadas a qualquer hora do dia por telefone ou pessoalmente, na redacção. Os trabalhos eram entregues pela editora Kimberly Johanes depois de ter definido os temas da agenda com o director na noite anterior. Na maioria dos trabalhos eu acompanhava os jornalistas desde a sede da redacção, mas, em muitos casos, deslocava-me de onde estava para sítios onde o trabalho ia ser realizado. Ao chegar à redacção, descarregava as imagens no computador de fotografia para serem seleccionadas, editadas e identificadas adequadamente sob a orientação de Rodolfo Ascenso, que além de ser o director despenhava também a função de editor fotográfico do jornal. As imagens seleccionadas eram então gravadas no servidor de imagens do jornal e ficavam à disposição da editora e do director. Depois de submetidas à escolha editorial, as imagens eram então gravadas, com os textos correspondentes já editados, em pastas que correspondiam a cada uma das secções do jornal, armazenadas no computador do paginador, através de uma rede interna. O paginador, depois de se ter reunido com o director de Marketing (responsável pela quantidade e a localização das publicidade em cada edição), acedia às pastas no seu computador e disponibilizava o material na maqueta do jornal. Terminado o processo de paginação, o jornal era revisto, corrigido e depois gravado num CD, que era entregue aos funcionários da gráfica que se deslocavam à sede do MDT depois de chamados por telefone para o efeito. Aos fins-de-semana eu realizava a função de paginador e as fotografias passavam a ser tiradas pelos próprios jornalistas durante os seus trabalhos. A minha inserção no grupo foi rápida, pois todos os jornalistas que ali trabalhavam já eram velhos conhecidos de conferências de imprensa e de vida nocturna. Coisas de Macau. Porém, tinha chegado num período de significativas mudanças no 14
  • 15. funcionamento do jornal: Kimberly Johanes assumira a editoria do diário há poucos dias e os restantes jornalistas estavam ainda um pouco atrapalhados com as mudanças de horários e de responsabilidades. No que toca à tarefa de repórter fotográfico, o trabalho fluía naturalmente. Mas quando comecei a realizar os trabalhos de paginação aos fins- de-semana, houve quem perdesse a cabeça comigo. E com razão: o director gráfico conseguia terminar a paginação antes da uma da madrugada. Eu, no meu primeiro dia, terminei às cinco horas. O director do jornal conseguiu acalmar a situação também com o uso da razão, afinal, eu estava apenas a começar e, para um novato paginar um jornal inteiro sem erros, era necessário tempo e compreensão de todos. Assim mesmo o director não deixou de me chamar a atenção: disse para eu deixar de “namorar” as fotografias e ter mais cuidado com o tempo que despendia. E era verdade: gostava de ver as fotografias da AFP e ler os textos que as acompanhavam. O enquadramento O processo de paginação é uma dinâmica: os textos e as imagens tornam-se “manchas gráficas” que se acertam na maqueta do jornal através das mãos do paginador como num puzzle com regras A disponibilização das notícias tem de proporcionar um prazer semelhante ao da leitura de um conto, mas a satisfação do leitor tem de ser mais rápida. O design da imprensa tem de ir ao encontro dessas variáveis. Tem de ser acessível e convidativo.27 Não havia tempo para “namoros jornalísticos” mais profundos, mas isso não me impediu de ter cuidado no enquadramento das fotografias e fazer algumas observações quanto às imagens captadas pelos colegas jornalistas. Impossível resistir à observação, afinal, as mãos que paginavam também pertenciam a um futuro Fotojornalista. O mais enriquecedor nesta experiência como paginador foi exactamente no que toca ao reenquadramento das imagens28 . Como certas páginas “pediam” fotografias verticais e outras horizontais, tanto para facilitar a leitura como para disponibilizar o conteúdo de uma forma mais harmoniosa para o leitor, interiorizei a necessidade que um jornal tem de obter, através dos seus fotorepórteres, imagens nas duas posições sobre o mesmo tema. 27 SOUSA, Pedro Jorge (2001) – Elementos do Jornalismo Impresso 28 Anexo 12 15
  • 16. No que toca à qualidade das fotografias dos colegas, preferi não me limitar apenas aos comentários e às sugestões. Como não eram da área do fotojornalismo, procurava resolver com eles os problemas de focagem e de enquadramento, testando e ajustando as suas máquinas e trocando ideias sobre ângulos e iluminação com os jornalistas. O que além de produtivo foi um prazer, pois além de melhorar as imagens para o jornal, sempre aprendia algo mais enquanto explicava. O curso O Grande Prémio de Macau apresentou-se como um teste de resistência. Foram quatro dias de trabalhos em “alta velocidade” a tentar fotografar os principais acontecimentos do evento. Estar em vários lugares ao mesmo tempo é um privilégio para os deuses, e os fotorepórteres, como todos os humanos, estão fora desta classe. As imagens recolhidas para o MDT fizeram parte de um suplemento também distribuído no recinto, facto que contribuía para um feedback diário entre os integrantes do evento. As imagens serviam para acompanhar diversas entrevistas e mini-reportagens realizadas pelos jornalistas. Antes de sair da redacção, ou durante os trabalhos29 , gostava de conversar com os colegas jornalistas sobre os temas. A formação jornalística não deixava mais uma vez o exercício de uma tarefa tornar-se “mecânica”, a ponto de resumir o trabalho do fotorepórter num “bate-chapas” ambulante. As demais imagens de ambiente eram seleccionadas na redacção com o director gráfico e utilizadas para a ilustração do suplemento30 . Ao contrário do que acontece noutros jornais da RAEM, os créditos das minhas imagens no MDT não acompanhavam os trabalhos que realizava apenas por questões laborais31 . O tempo Na data que assinalava o aniversário da transferência de soberania da RAEM, a New Macau Democratic Association organizou uma manifestação pelas principais ruas 29 Anexo 12 30 Anexo 13 31 Como estava a realizar um estágio não oficializado nos serviços de imigração de Macau, a direcção do MDT procurou resolver este impasse burocrático não divulgando o meu nome nas imagens e na ficha técnica do jornal. 16
  • 17. de Macau em prol da democracia no território. Destacado para acompanhar as jornalistas no evento, desloquei-me ao sítio escolhido para a concentração dos manifestantes. Depois de captar as imagens das personalidades do evento entrevistadas pelas jornalistas, foi a vez de acompanhar a manifestação avenidas fora. O objectivo deste acompanhamento era realizar imagens ambiente, ficando atento a qualquer “exaltação de ânimos” por parte dos manifestantes como as verificadas em manifestações anteriores. Felizmente, a manifestação aconteceu sem grandes tumultos, e o trabalho decorreu sem grandes dificuldades. Já na redacção, prestes a começar a rotina de selecção e edição das melhores imagens, tive um grande susto: tinha enchido dois cartões de memória com imagens ambiente da manifestação. Escolher, uma a uma, as melhores imagens daquela tarde, levou horas. Uma situação comum com a chegada das velozes máquinas digitais, mas nada positiva para a profissão de Fotojornalista, que se apoia na tecnologia para ganhar tempo. O mesmo tempo que se pode perder com uma eternidade de imagens à frente para escolher. Curiosamente, a imagem escolhida pela editora para ser capa foi uma das últimas que realizei naquela tarde, ou seja, a do fim da manifestação32 . A agência Lusa “Não esquece de uma coisa, para o resto da tua vida como profissional: Todas as fotografias que tirar são para a capa!” Luigi Bongiovanni A Agência Lusa nasceu no ano de 1987, fruto da fusão de duas agências portuguesas: agência Notícias de Portugal (NP) e outra agência que os membros da NP viriam a criar em cooperação com o Estado português: a Agência Noticiosa Portuguesa (ANOP). A Lusa possui delegações em todos os concelhos de Portugal, nos PALOP, na Europa, na China e em Timor Leste. A agência portuguesa conta ainda protocolos com a European Photo Agency (EPA), o que a possibilita contar com imagens de profissionais espalhados por quase todo o globo, além de possuir fotorepórteres em Lisboa, no Porto, em Faro, em Coimbra, no Funchal, em Ponta Delgada e Macau33 . 32 Anexo 14 33 SOUSA, Jorge Pedro (1997) – Fotojornalismo Performativo – O serviço de fotonotícias da agência Lusa de informação. 17
  • 18. A agência Lusa não possui um fotorepórter próprio em Timor Leste, contando apenas com a colaboração de um fotojornalista da agência EPA. Estando em Macau, não era distante pensar em Timor e aproveitar para chamar a atenção de Lisboa. Independentemente da data em que terminasse o meu estágio em Macau, seria Timor Leste a próxima paragem. Numa dessas situações da vida que algumas pessoas preferem chamar de “coincidências”, encontrei-me em Macau com o director adjunto da Lusa, e expliquei-lhe as minhas intenções. Neste encontro consegui o primeiro (e único) contacto em Díli, e no mesmo dia avisei a direcção MDT que no término do estágio rumaria para Timor Leste. E assim foi. Em Fevereiro de 2007 já me encontrava na capital timorense e as tais “coincidências” voltaram a acontecer. Três dias depois da minha chegada a Díli, o presidente José Ramos Horta é alvejado depois de uma tentativa de sequestro liderada ex-integrantes das Forças de Defesa de Timor Leste (F-FDTL), entre eles o ex-major das Alfredo Reinado, morto durante a diligência . As rotinas Os dias que se seguiram foram de intensivos trabalhos fotográficos para agência portuguesa num regime freelancer. O meu contacto em Díli, Pedro Rosa Mendes, jornalista e delegado da Lusa em Timor Leste, orquestrava os trabalhos na sede da delegação. Paulo Carriço, editor de fotografia da agência, dava as coordenadas adicionais por telefone a partir de Lisboa. Para mim, como futuro profissional, era a hora da verdade. Conferências de Imprensa34 , entrevistas35 , o funeral do ex-major36 , peticionários a renderem-se em massa37 e alojados em sítios vigiados pelo exército38 . Tudo isto, até a uma certa altura, sob a iminência de uma guerra civil. As baterias do telemóvel e da máquina fotográfica eram recarregadas todas as noites enquanto o corpo descansava. Os cartões de memória suplentes andavam sempre nos bolsos, os nomes de personalidades e de sítios preenchiam a agenda de contactos. Não havia tempo para falhas. 34 Anexo 15 35 Anexo 16 36 Anexo 17 37 Anexo 18 38 Anexo 19 18
  • 19. A autonomia Mesmo assim certas falhas técnicas aconteciam (imagens tremidas, por exemplo), mas lá estava o editor Paulo Carriço do outro lado da linha para orientar no que fosse possível. O resto era comigo. No dia do enterro do ex-major Alfredo Reinado e do soldado Leopoldino (também morto durante a tentativa de sequestro do presidente), segui as orientações do jornalista Pedro Rosa Mendes e desloquei-me ao bairro onde aconteceria o funeral. O enterro seria a poucos quarteirões de onde os corpos estavam a ser velados, e aconteceria depois do transporte das urnas num cortejo. Na chegada vi que muitos fotorepórteres corriam em direcção ao cemitério improvisado no quintal da casa do ex-major por uma rua paralela. Apesar da grande quantidade de pessoas nas estreitas ruas do bairro, decidi ir pelo caminho que aparentemente era o mais difícil: o da multidão. Quando alcancei o centro do cortejo percebi que alguns jovens estendiam faixas com o retracto pintado de Alfredo Reinado e palavras de homenagem ao ex-major. Aproveitei a minha localização e recolhi algumas imagens39 . Além de conseguir algumas imagens diferentes, cheguei à casa de Reinado antes dos caixões, e dos fotorepórteres que resolveram ir pelo tal atalho. A calma Depois de realizada a agenda do dia, as imagens eram levadas para a delegação da Lusa em Díli, onde eram editadas, legendadas e enviadas através da Internet para a sede da agência em Lisboa. Depois da escolha editorial realizada no DF da Lusa, as imagens eram então gravadas no servidor e disponibilizadas, bem como os textos, no website da Lusa40 , ficando assim o material à disposição dos clientes da agência. O envio das imagens desde a delegação em Díli era feito através de uma conexão de apenas 56kbps. O envio de todo o trabalho chegava a demorar horas. Mas a demora não era causada apenas pela lenta conexão. O que estava a atrasar o envio do material teve origem numa falta de conhecimento técnico meu na altura: eu não estava a comprimir as fotografias adequadamente. A situação só foi resolvida depois de sucessivas conversas telefónicas com o editor de 39 Anexo 20 40 www.lusa.pts 19
  • 20. fotografia da Lusa e consultas na Internet. Uma situação que ensinou-me que no (Foto)jornalismo só o conhecimento não basta: é preciso estar calmo e preparado na hora de resolver as tarefas diárias que a profissão apresenta. Terceira parte Em jeito de conclusão Cabe-me esclarecer nesta síntese que todas as experiências aqui expostas poderiam ter sido (e muitas semelhantes foram) facilmente vividas num só único estágio, num único país, pois todos sabemos que a única fronteira para o conhecimento é a nossa própria mente. Outro esclarecimento que julgo necessário dar antes de ensaiar uma conclusão tem a ver com as escolhas que fiz no conteúdo deste trabalho: seleccionei apenas situações que pudesse demostrar através de material anexo e suprimi outras a fim de respeitar o limite espacial deste relatório de estágio. Os casos aqui descritos permitiram-me vivenciar algumas situações do quotidiano do profissional do Fotojornalismo enquanto estagiário e colaborador dos referidos órgãos de comunicação. E o resultado (positivo ou negativo) de cada caso serviu-me para interiorizar e reflectir sobre a sua importância de cada um deles, enquanto futuro profissional. Durante o processo prático do estágio curricular, o conhecimento teórico absorvido durante o curso apresentou-se como uma “baliza” que me orientou nas tomadas de decisão e de auto-avaliação descrita neste relatório. Baseando-me na máxima “um profissional forma-se na prática”, acredito que a aprendizagem não se encerra no estágio nem no curso, mas sim no exercício diário da profissão. As lições de ética profissional, de observação, de escolha do enquadramento, das necessidades dos órgãos de comunicação, da autonomia do profissional, da calma necessária durante o trabalho, da responsabilidade face ao tempo e do curso de jornalismo em si apresentam-se como ferramentas de que disponho para mais um estágio da vida que se aproxima: o da vida profissional. 20