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Crônicas Agudas




Coelho de Moraes
Crônicas Agudas




          Direitos de Cópia para
  Cecília Bacci & Guilherme Giordano
   ceciliabaccibscm@yahoo.com.br
         menuraiz@hotmail.com




             ALTERN
 EDITORA ALTERNATIVAMENTE
produtoresindependentes@yahoo.com.br
    TIRAGEM 8000 POR E-MAIL

     DOWNLOAD EXCLUSIVO
   http://www.paginadeideias.com.br
Coleção BROCHURA / PDF / ESPIRAL

               Capa
      COELHO DE MORAES
    coelhodemoraes@terra.com.br




                                        Cidade de Mococa
                              Abril – aniversário da cidade
                                                 São Paulo
                                                       2010




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Crônicas Agudas




                          À GUISA DE APRESENTAÇÃO & PREFÁCIO


Cumprimentos a todos.
Meu nome é Marco Antonio Coelho De Moraes, venho a estas páginas
(PÁGINAS DE IDEIAS do amigo Scarparo Maciel), e venho escrever sobre
assuntos pertinentes ao fazer da arte e suas derivações, às vezes não tão
artísticas, abrangendo a cultura entre laços e gravatas e sorrisos de quem não
sabe o que faz, mas quer assim mesmo sentar na cadeira do cargo.
Antes de tudo digo que a família por parte de meu pai vem de Arceburgo e
Milagres e Guaxupé e Monte Santo, e do lado materno vem de São Paulo e vem
da Mooca. Mococa e Mooca. Sempre pareceu um sinal. Um signo. Uma profecia.
Estudo música desde os 10 anos de idade e comecei na classe do Professor
Olímpio, no Conservatório Santa Cecília. O Conservatório ficava sobre o Cine
Moderno, na Rua da Mooca, depois passou para um prédio novo na Javary.
Meu primeiro acordeon foi um Scandalli italiano. O velho acordeon de tangos e
boleros na Mooca. Depois entrei para o Conservatório Dramático e Musical de
São Paulo na avenida São João.
Fiz composição e regência, estudos complementares de encenação teatral e
produção videográfica; compus várias obras em formato de musicais cênicos,
além de obras para Coro, Grupos Sinfônicos e Câmera. Venho fazendo isso com
mais assiduidade após o advento da informática que facilitou a escrita.
Produzimos mais.
Em 1996 Mococa estava dentro de si e aproveitou a oportunidade para me
chamara a dirigir a Escola de Música Euclydes Motta. Durou somente o sonho
de 96 e resíduos oníricos posteriores, pois a cabeça dos governantes seguintes
não acompanhou a modernidade. Mesmo assim eles se acham os tais.




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Crônicas Agudas

Atuei, desde 2007 como Coordenador de Cultura da FATECmococa
(cineclubismo e cinema) cujo périplo de aço finalizou em 2009, isso, dez anos
depois de uma ação cultural que alterou o pensamento de Arceburgo no ano de
1997. Lá nas Minas Gerais formara-se a Escola Municipal e Artes Dramáticas e
Musicais – EMADMA - que durou um ano, também. Faltou inteligência e tino
político. Parece que essas duas virtudes nunca andam juntas.
No mesmo formato e seguindo a mesma dissociação de virtudes acima dirigi,
como já dito, a Escola de Música Euclydes Motta, em Mococa, traçando a sua
proposta pedagógica, mas isso de nada adiantou pois de pedagogia não há
prefeito que entenda.
Prova-se que quem veio depois não tinha mesmo competência para dirigir nada
e a escola estagnou-se. Escola estagnada significa criação e inteligência
estagnadas. Cidade pobre de espírito. Talvez ganhe o reino dos céus, mas se
depender do andar da carruagem e do Papa, sei não...
Trabalho em 2010, no segundo ano, com o CORO DA MOCIDADE, que já é
grupo de canto coral em ação. Ela se estabelece na Mocidade Espírita de Mococa
– a Mem.
Dirijo a PRODUTORES INDEPENDENTES – PI, que é uma empresa muito
livre para produção artística em geral (música, vídeo, literatura, teatro, gravação
de CD, gravação de Vídeo e Kinemática Aplicada); dirijo, ainda, o TEATRO
POPULAR DE MOCOCA - que homenageia um dos nossos grandes artistas
cênicos - ‘ROGÉRIO CARDOSO’. O TPM já montou para mais de 25 peças
em 13 anos de trabalho na região. Ganhou prêmios. É grupo respeitado. A
outros trás o despeito pois ele faz, enquanto os outros olham. Em Março de
2009 estreou “NIETZSCHE NO PARAÍSO”, com textos do pensador
Nietzsche. Em Março de 2010 estreou A MORTE BÊBADA DA MORTE”,
com textos de Miranda Junior e Woody Allen.




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Crônicas Agudas

Em 2009 foi grampeado pelo judicioso Diretor de Cultura de Plantão e sua
dentifrícia esposa, mancomunados com as bandas de além. É sempre assim, não
ganham na competência, mas querem ganhar no tranco e no barranco.
Além disso, possuo uma discografia que alcança 9 CDs já gravados e lançados,
dirigindo vários grupos entre Rio, São Paulo e Minas Gerais. Trata-se muito de
música instrumental contemporânea. Execução completamente virtual, ou seja,
música eletrônica, pois é uma obra cibernética, através da ORKESTRA
LIVRE, seguindo alguns caminhos do mestre Gismonti.
Mas, em meados de Abril deste ano de 2010, a Orkestra Livre retoma ensaios e
prepara sua temporada de concertos.
E na vertente do mestre Allen, a videografia não é deixada de lado tendo a
INDÚSTRIA DO VÍDEO como executiva das obras de curta, média e longa
metragem e cursos curtos. Algumas das obras vão para Festivais e Mostras,
outras seguem através da Internet, no espaço cibernético que nos envolve
(YouTube, Sapo, Videolog e quejandos).
Não contente com a lerdeza que impera na região, participei da montagem de
uma Incubadora Cultural em São João da Boa Vista. Dela fui presidente em duas
gestões. 2004 a 2008.
Por outro lado, e afeito a essas coisas da mente, em 2009 eu exponho a
graduação em Filosofia e formação em Psicanálise. Terminada a preparação em
2010 eu me apresentarei à sociedade, a partir de Maio vindouro com mais essa
vertente de trabalho. É o velho interesse na alma e espírito humanos que se
desenvolvem na arte. A psicanálise, a musicoterapia e a homeopatia.
Pensamentos livres e profissões libérrimas. É assim que gosto.
Isso se a arte permitir e folgar um tempo. Veremos.
A arte tem dessas coisas. A arte exige essas coisas. Não fosse assim e não tendo
mais nada que fazer, eu fabricaria gelatina e ficaria a pregar placas de lata nas
paredes ou me sentaria feito índia na porta do Teatro impedindo a passagem..
Por ora ficam votos de sucesso, vida longa e prosperidade.



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                               6 POR MEIA DÚZIA
                                              Ou
                      de como – democrática - a Cultura é para qualquer um


          De cada vez que escrevo posso ser avaliado como aquele que é convencido ou
arrogante, ou, aquele que tem dor de cotovelo. Sendo assim nunca escapo desses epítetos
lançados a esmo. Sendo assim, continuo escrevendo e dou de ombros, cabelos ao vento.
          Numa olhada superficial sobre a situação da Cultura vemos que nela – como
instituição burocrática ou departamental – cabe qualquer tipo de gente, de qualquer profissão,
mesmo os ignorantes. De outro lado temos bons exemplos: No Departamento de Educação a
diretora é Docente. No Departamento de saúde é Médica. No Departamento de Agricultura –
por bem ou mal, que o digam os funcionários – é engenheiro agrônomo. No Barracão
encontramos gerentes com bom trabalho. No Departamento jurídico há advogados. No Meio
Ambiente é engenheira ambiental. Agora, no Departamento de Cultura a profissão pode
variar.
          Essa poesia, pobre por sinal, nunca deu rima.
          Ora, o histórico dos diretores do Departamento de Cultura deixa a desejar ou dá pano
pra mangas, ou dá jorros de risos: já foi mulher de delgado, comerciante, juiz, dentista,
advogado... Realmente, é um departamento onde qualquer um pode obter guarida para seu
sonho delirante. Tentar ser o que não é. Nem precisa ter perfil de nada. Hiphopistas



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Crônicas Agudas

anacrônicos, diretores de trem da alegria, responsáveis pelo bilhete de entrada, dançarinos de
aluguel, enfim, não precisa lidar diariamente com a matéria cultura, basta ter um sonho. Nem
precisa conhecer quatro idiomas e nem ter produção em vídeo/música/teatro, ou seja,
produção na área artística, no mínimo. Basta ser curioso(a). Ser curioso(a) e se apoiar na
sapiência dos funcionários que lá militam. Não de todos... pode se dizer que os funcionários
da CULTURA é que são os bons do pedaço. Não todos... Resolvem tudo. Não todos...
       Que seria das cidades sem seu folclore?
       Mas saibamos mais sobre um conto de certa cidade interiorana... uma lenda urbana de
terror, nesse caso... A dentista é esposa do juiz e, por negociatas espúrias, assume o posto do
marido – não o do Fórum, mas o posto da Cultura. Parece que o fenômeno é monárquico.
Provavelmente, daqui a seis meses, quando a dentista sair entrará o filho mais velho e assim
por adiante, até alcançar a petizada. O Departamento de Cultura, repetindo os erros de
sempre, é a moeda de troca das articulações... o caminho parece ser esse. Também... para que
cultura?
       Ou entrará outro qualquer. Basta ter um sonho... não precisa de projeto.
       O Figó de má memória dizia: - Quando ouço falar em cultura já puxo o revolver.
       E, o que é cultura afinal? São os eventos que se perdem com o vento? São as
solenidades com hino e pose de estátua deselegante? O que é isso, afinal, cultura chamada? É
aquilo que se aprende na escola e nunca mais sai da cabeça ou justamente o contrário?
       Kultur é a civilização e tudo o que nela couber. Portanto a cultura é a mostra da nossa
cultura, a representação de tudo o que foi construído em choque com a Natureza,                a
civilização que construímos. Quando o prefeito escolhe um Assessor de Imprensa que não é
do metièr, mas que serve para compor com a aliança de partidos da campanha, é parte da
cultura. Estão fazendo cultura. De mau gosto, mas sempre cultura. Quando o prefeito elege
um engenheiro bom na tecnologia para tratar das coisas do campo, mas, muito ruim no trato
pessoal e com seus assessores, fabrica-se cultura. Quando o prefeito põe dentistas para cuidar
da cultura, faz cultura no mal sentido; continua sendo cultura, mas cultura pífia. Se fizer tudo
isso, sem consultar o partido, tratando-se de política e, portanto, de ação clandestina, produz a
cultura do autoritarismo, do eu-achismo. Escolhas pessoais? Escorado na desculpa de
trabalhar com gente de confiança, sugere-se que os outros não são de confiança ou não têm
competência para atuarem naqueles espaços. Esse último item – da competência - não é,
parece, o que pesa. Por que se assim fosse a cidade teria mudado qualquer tanto e nada
aconteceu. O adversário, por exemplo, pode ser uma pessoa de confiança, contanto que faça




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Crônicas Agudas

parte do perfil de governo do chefe do executivo. Em suma... burlou-se o estatuto. La nave
va.
       AGENDA BÁSICA que dou de bandeja: Uma ginkaninha ou férias coletivas em
Janeiro (teatro fechado?) já que não há nada para fazer mesmo / preparação para carnaval em
Fevereiro / desculpa das chuvas em Março / Abril, aniversário da cidade com Sandy-sem-
Junior ou o inverso / Maio do trabalhador e das galinhas e do alface, plus, dia das
mães/noivas/santas/mulheres que desmaiam em Maio / em Junho as festas juninas
travestidas de folclore (evangélicos acham isso coisa do capeta, portanto vade retro) / Julho
fica por conta da SUM / Agosto deve ter alguma gripe (a asinina) ou a canina de algum
cachorro louco, para variar, e adiarão qualquer evento (adiar é o que fazem de melhor) / em
setembro mês das flores e talvez alguma coisa que foi adiada do mês anterior / o salão do
bruno? / o dia do folclore? / o dia de geléia? / vamos colar alguma placa de lata na parede? /
em Outubro usarão as crianças como escudo, e, desculpa para teatro infantil de baixa
qualidade apoiada nos vassalos de plantão e nos bolos expostos ao sol com que alimentarão a
patuléia pobre / já se encontram sob a mesa à espera das migalhas boquirrotos abertos para o
alto / Novembro podem comemorar o meu aniversario que não ligo / e Dezembro um
grande suspiro, pois, finalmente o (c)ano acabou = FALSA CULTURA.
       O Teatro Municipal da cidade fictícia foi aberto. Mas não parece. Falta o porteiro. A
porteira que lá está de nada entende e diz que os eventos se darão na cota de um por mês.
Sábia como tantos já traçou a agenda paupérrima. Sabe por barreiras, levantado as mãozinhas
para o alto e dizendo: - não me passaram... isso não sei! Aliás parece que esse pessoal da
cultura sempre levanta as mãozinhas para o alto. Será que vivem em algum assalto constante?
Que mais... Tem um piano para consertar. A bagatela de 30 mil reais que a cultura do
(des)governo anterior deixou escapar pelo mofo das chuvas. Mas, quem liga? Nem todo
mundo toca piano e faz lasanha ao mesmo tempo. Tem refletor para comprar. Tem agenda
para montar. Tem auditoria para fazer. Ah! AUDITORIA! O trauma dos covardotes de
plantão:
1) Quem permitiu que o piano se estragasse sob as águas, após as reformas que eram para
solucionar o problema do telhado – contra chuva – e, sistema elétrico - contra curtos -,
sabendo-se que tal reforma não resolveu nada disso?
2) Quem permitiu – do alto de sua autoridade - que a Câmara (sempre a Câmara que deveria
ajudar) levasse na mão, na rua, na calada do final de semana, as peças milionárias do Museu de
Artes Plásticas para os subterrâneos do Gabinete, incluindo as obras do Brunão?




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Crônicas Agudas

3) Faltará alguma peça? Faltará refletor? Faltará lente? Faltará algum Manezinho Araújo? Onde
as poltronas do hall? Onde o cortinado adequado e não a porcaria pendurada? Tudo isso é
patrimônio e dele ninguém dará conta? Por que alugar mil vezes aparelhos-de-sons suspeitos
se basta comprar uma só vez quase que pelo mesmo preço a mesma coisa?
       Curiosidades.
       E retornando ao primeiro parágrafo: Se        CULTURA serve para qualquer um,
certamente não serve para mim, por motivos óbvios.




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                          A Alma Platônica
      Platão diz que o homem – ser humano ou homem gênero? - é a sua alma e
que apenas pela alma é possível ao homem conhecer a verdadeira realidade, ou
seja, o Mundo das Formas. Isso é opinião lá dele pois para mim a realidade é esta
que vemos e tocamos. A primazia, portanto, no pensamento platônico é da alma em
relação ao corpo. Mas, de onde ele tira essa idéia, uma vez que os Pré-Socráticos se
debateram em demasia para explicar a Physis – natureza – através da racionalidade?
Se alinhavarmos o pensamento dos filósofos daquele momento, veremos que Platão
faz um retorno ao Mito, apenas trocando o nome de Zeus para Demiurgo, por
exemplo. Demiurgo ou Daimon, a entidade que plasma a matéria dando ordem ao
universo.
      A Psicologia platônica – se podemos dizer nesse sentido sem ofender
ninguém - tem intenções éticas: provar a necessidade de controlar as tendências
instintivas do corpo; não há referência alguma de que isso é um mal, em si; garantir
uma retribuição futura àquele que procura a justiça - ir para o céu e se dar bem –
devendo-se entender que justiça, na Hélade do século V a.c, nada tem a ver com a


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noção atual de justiça: mulheres, estrangeiros, escravos e crianças, não passavam de
meros complementos da vida do homem ateniense, por exemplo.
      Então, quando Platão fala do homem, está falando do homem mesmo.
      Essa      chamada psicologia possui também intenções gnosiológicas:
estabelecer a possibilidade de um conhecimento do Mundo das Formas, ou das
Idéias. E isso é uma sacada platônica sem base alguma na racionalidade. Se Platão
sugere que o mundo sensível – esse mundo que podemos sentir e pegar – gera o
imaginário, certamente ele usou deste estratagema para esboçar o seu mundo das
idéias. Inventou e Fantasiou e ainda disse que não.
      A alma platônica é simbolizada por um cocheiro conduzindo um carro puxado
por dois cavalos alados. A alma racional (Nous, Logos), simbolizada pelo cocheiro, é
imortal, inteligente, de natureza divina e situada no cérebro. A alma irracional
(Thymós), o cavalo branco, é fonte das paixões nobres; é mortal porque é inseparável
do corpo, estando situada no tórax.
      Como é que o Platão sabe certinho onde está localizada a coisa, não é?
      A alma apetitiva (Epithymía), simbolizada por um cavalo negro, é fonte de
paixões pouco nobres; é mortal porque também é inseparável do corpo, estando
situada no abdômen. Fica evidente, através da metáfora, que esta estória do Platão é
tão fantástica, ou, tão real, quanto falar que o fogo de Zeus deu vida aos humanos
(húmus) de barro moldados por Prometeu. Se podemos acreditar em uma estorieta,
podemos acreditar na outra.
      Um certo Demiurgo (sacado da imaginação fértil do nosso filósofo) criou a
alma racional – criou por que quis ou foi algum acidente, algum acaso? - com os
mesmos elementos da Alma do Mundo, por esse motivo ela é imortal e tem caráter
divino, ou seja, tem algo do Mundo das Formas. No entanto é cópia e vale menos.
Esse algo semelhante ao mundo das Formas permite que a alma entre em contato
com o Mundo Inteligível (das Formas ou das Idéias). Relembre. Se a alma relembra
(anamnése) é por que guardou em algum lugar o que deve ser lembrado, e, nesse
caso, Platão é obrigado a lançar mão da sabedoria hindu e clamar pela


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Crônicas Agudas

Metempsicose, ou seja transmigração das almas de corpo para corpo. Sócrates ainda
diz que se o cidadão não se comportar convenientemente voltará em algum corpo de
menor valor como por exemplo no corpo da mulher, do escravo, de uma ratazana ou
rabanete... ou de algum diretor de cultura.
       Segundo o mito de Demiurgo – sim, Mito, retorno ao Mito - quando não
explicamos, inventamos o mito para acreditar na estória, então, em determinado grau
de necessidade, passamos a ter fé - que é diferente de saber, pois é possível ter fé
até naquilo que nem existe; mas, voltando ao mito, as almas recém criadas
conduziam seus carros pelo mundo celeste – tal é a fantasia de Platão que ele chama
de pedagogia, ou metáfora para ensinar -, e era permitido, a elas, olharem para um
plano superior (o das Formas ou Idéias). Cabe perguntar: permitido por quem? Pelo
Demiurgo? Pelos deuses? Pelo Daimon?
       Embevecidas com o brilho, beleza e perfeição das Formas ou das Idéias –
brilho, beleza e perfeição são valores relativos e depende de quem olha e analisa -,
os cocheiros perdiam o controle de seus carros (que é um acontecimento casual,
acidental, ocasional) e, não conseguindo dominar os cavalos, caíam no plano da
Matéria ou plano Sensível. Lembremos que a queda dos anjos e mensageiros já faria
parte da cosmogonia de hebreus e cristãos, posteriormente.
       Os cavalos, símbolos das paixões e associados ao corpo são grandes
estorvos para o cocheiro, impedindo-o de contemplar as idéias, arrastando-o para
baixo e fazendo-o cair para o mundo corruptível da matéria. Ou seja, contemplar as
grandes idéias ou Formas não basta para se livrar das torrentes de paixão. Vemos
que há uma tendência de transformar tudo o que é matéria em coisa corruptível.
Ninguém quer aceitar que essa é a condição da matéria – ser corruptível (nascer,
existir, morrer) e não engendra nenhum pensamento de que deva existir algo perfeito
em contrapartida. A matéria é o fundamento do Universo. Mesmo o que chamamos
matéria será energia em algum momento e essas duas situações são
intercambiáveis. Alguns cocheiros puderam ver mais e melhor o Mundo das Idéias
(puro acaso), antes da queda (outro acontecimento casual). Por esse motivo,


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Crônicas Agudas

algumas almas são mais sábias, estão mais próximas da Verdade. O Filósofo é um
cocheiro que viu mais sobre o Mundo das Idéias, fato          que sugere mais um
acontecimento casual.
      Como o acaso toma parte especial em todas essas estoriazinhas, não?
      Platão, não contente, ainda complementa: “O melhor que pode acontecer a um
Filósofo é morrer, porque ele retornará ao Mundo Inteligível (das Formas ou das
Idéias) e poderá contemplá-lo plenamente”.
      Nirvana?
      “A Filosofia é uma preparação para a morte”?




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Crônicas Agudas




                  A MORTE DO JORNALISMO?

      Na escola se aprende a forma, o número de toques, aprende-se a digitar,
aprende o “que, quando e como”- que hoje é usado para desvendar a rotina das
celebridades. Nada mais do que isso. Nada mais “IN”. Os jornalistas que levam tais
matérias se acham muito “IN”? Só se forem INsano. Se chamar atenção para o jornal
depender disso, o título da matéria está correto. Morreu mesmo.
      Em grande percentual o jornalismo trabalha com as noticias de novela, as
surpresas do capítulo futuro, bundas na revista Caras e marcas de geladeira. Em
verdade, em verdade vos digo que estão muito dominados. Jornalistas, com a
desculpa da sobrevivência, limitam-se a montar jornais de propaganda. Acho que não
devem sobreviver, mesmo. Dominados pela moda, dominados pela mídia MAJOR,
dominados pelo chefe ou chefa – cujo olhar não vai além do nariz – morrem pelos
cantos. Os anos acadêmicos de nada serviram. Não se forja um jornalista na escola,
apenas se o aparelha. Escrevemos. Contamos causos. Somos faladores e escritores
contumazes. Noticiamos na fofoca ou na mensagem pela NET. Não adianta


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Crônicas Agudas

espernear, nem fazer um quadrinho do diploma e esfregar na cara do resto do
mundo. Esse quadrinho nada vale. Esse quadrinho é biquinho. Biquinho de quem
choraminga. O que vale é o talento, sempre. Somos e geramos e editamos notícias e
muitos viverão disto, com ou sem diploma. O que temos que discutir é a revolução
que as novas mídias trouxeram pra o modo de pensar do cidadão.
       Isso sim é importante.
       É ir além. O que muda nestes tempos? Onde os veículos se rediscutem em
formato e tendências? Porque o jornalismo das grandes redes faz só fofoca?
Devemos dar canudos pra fofoqueira do teu bairro, então? Quantos dias faltam pra
morrer o jornal impresso que não passa de fetiche? O de Los Angeles já foi. Tem a
ver com a morte da qualidade na grande imprensa? E, o Maiquel Jéquiço, foi
enterrado ou não foi?
       Bia Werther diz e muita coisa deste texto é baseado em seus escritos: “A
revolução na notícia se dá quando ela transcende o furo do dia e vira história, não
apenas manchete lavada no papel reciclado de amanhã”. Daí a MORTE DO
JORNALISMO. Desde os anos 70 se previa que manifestações como ARTES DAS
RUAS e NOVAS MIDIAS fariam aparecer a voz do humano comum. E, o humano
comum, nunca teve a palavra para si. Sempre falam em nome dele. Padres, pastores,
vereadinhos de plantão, deputadinhos, seniladores com dores e artralgias crônicas.
Enfim, autoridades. A pessoa comum, quando fala, fala de acordo com a moda, como
manda o figurino, para que o editor não corte a fala que “pega mal”. E cineastas
vários previam as religiões eletrônicas e a morte dos livros. Ninguém deu trela. Era
mais um programinha para se entreter enquanto a diaba Xuxa fazia das dela com a
teta na cara das crianças. E quem pode afirmar que responder a pergunta ainda não
formulada não é jornalismo? Sim... sim... a pergunta! Sem o “como quando onde
porque” sagrados? E não somos jornalistas? Da fofoqueira ao dono da padaria.
       O que diz Bia Werther?: “Acaso a diferença não se apresenta na editoria da
matéria, mais ou menos livre, tendo cada um a sua tendência? O limite das laudas, o
conceito de furo, o furor, o caixeiro viajante da notícia”. Há necessidade do papel, ou


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Crônicas Agudas

basta um PDF pela rede? Pode ser documentário em filme? Em vídeo? Através da
TV? Pode ser um Messenger? Blogs e novas mídias são o meio do futuro/hoje.
Abram os olhos por que o futuro é esse que você vê passar pela janela. Na verdade o
que não existe é o hoje.
      Se você não tem acesso à mídia informatizada é por que os poderosos te
querem alienado. Pau neles!! Gay Talese falava do “noticiar o humano comum”, coisa
que a imprensa do formato quadrado – tradicional - diz que é um jornalismo de
vanguarda. Falar do humano comum pode ser o caminho para falar da Cultura da
Paz. As margaridas do campo não são motivo de notícias, mas as mortes e o sangue
alheio são. Esta é a opção que temos? Será que você leitor não entende que precisa
de um analista urgente? A PolitiCanalha não fará a sua parte ou teremos que ensinar,
mais uma vez a essa gente que não sabe ler, não sabe interpretar, não sabe
entender, como se deve legislar?
          Ocorre que escrevemos as novidades; contamos a história do nosso tempo.
Muita vez nos repetimos. Quem vai impedir? Terei que andar com um plástico no
carro dizendo: “Não faça história antes de consultar um jornalista?” O que fazer com
os blogueiros diários? Não são milhares deles jornalistas – pois, diários - sem
canudo? Como regulamentar, como impedir alguém de publicar o que quiser, quando
quiser?
      Para ser escritor tem que ter diploma, também? Estamos em meio a milhões
de notícias do ser humano comum que não tem nenhum destaque na grande mídia e
não dá matéria aos olhos da imprensa que já não vende tanto jornal como outrora,
a não ser que Obama olhe Obunda da brasileira. É preciso canudo pra noticiar isto?
      Ninguém perde o emprego de jornalista se for bom. Se tiver tino. Se tiver
talento. Mas se é tão importante, pombas!, enquadrem o canudo! Que a moldura lhe
seja leve. Títulos, e mais títulos, e, que tais, que moldam e formatam a figura da
autoridade no assunto. Na vida real a mudança permanece e o ser humano, sem
canudo, continuará com suas mensagens, seja ele médico, músico, filósofo, artista
plástico, ou açougueiro, escrevendo, cantando ou gritando na rua, batendo a


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claquete, pintando o muro. Jornal de bairro, Fanzine, Rádio, TV comunitária ou não,
Blog. Porque quem tem o que dizer arranjará uma folha de papel, higienizado de
preferência, um microfone e mandará ver. E se for bom, vai viver disto. Profissional. E
dane-se o resto pois, o resto é restolho do restolhão, com precariedade de talento e
falta de mufa pra queimar.
       Novamente Bia Werther: “E afinal, quando os jornalistas, que deveriam ter a
cor da novidade, se assustam com o novo é que, realmente, a morte é iminente. Mas
morte é só vida. Mil novas faces; mil novas línguas; tantos milhões de veículos quanto
de gente no planeta”.
       Falai e multiplicai-vos.




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                        ADAO & EVA NO DIVÃ

Uma interpretação alternativa... – pois nada, nadinha é coisa absoluta -... alternativa à
famosa estória que nos remete a etapas do desenvolvimento mental do humano, que ao
nascer ainda não possui a consciência desenvolvida, pouco percebendo as coisas que o
cerca; obedece sem questionar as orientações do Progenitor (Pater Theos). Ou então, o que
é pior, trama e urde nas trevas do desconhecimento e da falta de competência,
permanecendo no Éden sem ter talento para isso. Puro vício. Com o passar do tempo, o
teórico casal bíblico (lembrando que bíblia é sinônimo de coleção de livros) inicia um
comportamento questionador e se mostra um casal consciente do que vê no mundo à sua
volta. Primeiro Adão percebe que além de covarde é inepto. Nem para comer a maçã ele
serve. Tem que receber na boca. Parecem adolescentes. O Pai os declara aptos a seguir
suas vidas sem a Sua Divina proteção. O casal deve se estribar em bom judiciário e amplos
sorrisos.
Adão e Eva estariam aptos a viver com os outros seres do Orbe? Poderiam viver como
mortais antes de comer do fruto da árvore do conhecimento? São perguntas que ninguém
responde.
Quando Adão e Eva foram criados - pois não passam de seres construídos e nada nadinha


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naturais - Pater Theos lhes dava tudo que fosse necessário à vida, só pedia em troca a Fé.
Mais especificamente, que não tomassem contato com o conhecimento do bem e do mal
por conta própria. Ora, para que serviria a Fé se Adão e Eva tinham relacionamento direto
com Deus, portanto, sabiam dele, o conheciam, e, por conhecê-lo não necessitavam de
provar a tal da Fé? Além do mais nada tinham que fazer no Jardim. Limitavam-se a posar
nus para fotos e solenidades ocas. Chamar rio de Rio. Declarar que nuvem era Nuvem e
assim por diante.
Então, a pegadinha, em Gênesis 2:16 e 2:17: Ordenou o Senhor Deus ao homem, dizendo:
De toda árvore do jardim podes comer livremente; mas da árvore do conhecimento do
bem e do mal, dessa não comerás; porque no dia em que dela comeres, certamente
morrerás. Provou-se mais tarde que não havia morte alguma. Pura mentira do Senhor.
Alguns exegetas afirmam que a Morte é simbólica e quer significar a perda da ingenuidade
natural ou pureza original. Forçam a barra.
No começo dos tempos, citando Gaiarsa, era proibido ter conhecimento do Bem e do Mal.
Nos dias de hoje as religiões e a política (sucedâneo obrigatório) desejam que saibamos
discernir entre o Bem e o Mal. Afinal é ou não é para discernir o bem do mal? Mas, os
primeiro sinais de autoconsciência aparecem; os obstáculos demonstram a incapacidade.
Dar nome para a COISA é fácil. Difícil é saber para que serve a COISA.
A gincana continua. Outra pegadinha: Gênesis 3:5 A Serpente fala e pelo visto bem
sabe do que fala : Porque Deus sabe que no dia em que dele comerdes (o fruto da árvore
do conhecimento) se abrirão os vossos olhos, e sereis como Deus, sabendo o bem e o mal.
Outra, em seguida, em Gênesis 3:6: Então, vendo a mulher que aquela árvore era boa
para se comer, e agradável aos olhos, e árvore desejável para dar entendimento, tomou do
seu fruto, comeu, e deu a seu marido, e ele também comeu. A mulher saiu na frente na
busca do conhecimento. Nada desse negócio de intuição. O legal era saber ali na batata,
como diria Nelson Rodrigues.
Nota-se que o humano, então,       olha para si mesmo: consciência da condição e da
individualidade.
Deus, meio brabo, suspende todo o privilégio do casal, o que denota uma tendência à fúria
e certo desequilíbrio. Anuncia que Adão e Eva enfrentarão desafios que são, na verdade,
as coisas da vida cotidiana, para ver onde aperta o calo. Consciência autônoma ao livre
arbítrio. É como se Deus dissesse: - “Vão e construam a civilização!”




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Provavelmente, apesar de que não há maneira nenhuma que possamos provar, a partir
desse momento cessa a relação moral de Deus com a humanidade. Deus lava as mãos. Foi
embora para o Sinai com suas trombetas.
O repórter bíblico no diz o seguinte: Gênesis 3:22: Então disse o Senhor Deus: Eis que
o homem se tem tornado como um de nós (nós quem? Que plural é esse? Ele falava dos
elohim?), conhecendo o bem e o mal. Ora, não suceda que estenda a sua mão, e tome
também da árvore da vida, e coma e viva eternamente. E, tendo tais palavras saído da boca
de Deus é, portanto, possível que o humano se torne eterno. Será essa árvore o genoma
que se vem decodificando? Até vejo os elohim dizendo em coro: - “Mas quem mandou
criar esses caras? Agora, segura o rojão, meu”.
O “processo de criação da espécie humana" não se realiza no instante em que Deus cria o
homem do barro e a mulher de sua costela (isso segundo a visão patriarcal; há eruditos que
afirmam que a palavra que traduziram por costela pode ser traduzida por célula, um pedaço
do outro, uma parte do código genético, sêmen e por ai vai. Outros, não patriarcais,
afirmam que houve separação do ser duplo em dois, ou seja, tanto Eva saiu da costela de
Adão quanto Adão saiu da costela de Eva; depende de quem conta a tal da história ou
estória. Se isso for crucial para a existência e manutenção de qualquer religião, estamos
mesmo feitos). No decorrer de toda a história humana no Jardim do Éden, começando com
sua individualização espacial (circunscrição física) através do barro, passando pela
individualização da consciência pelo ato de comer o fruto proibido; acarretou a expulsão e
deu início ao retorno ao Paraíso ou à busca da felicidade perdida. O que viesse primeiro.
A serpente é uma antiga divindade da sabedoria no Oriente Médio, portanto não
surpreende que nesta história haja a presença dela junto à árvore do conhecimento. Como o
europeu sempre odiou e chamou de Mal o que vinha de África e Oriente, deram a pecha
de diabólica para a serpente, mas o que é um Seraphin se não uma serpente? Serafim,
seraphin, serápis.




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               CARTA AOS AFRO-BRASILEIROS
                                  DE MOCOCA
reflexões sobre panfleto encontrado no chão em 2004 / mas quem sou eu se não um branco


KWANZAA
Festa da Raça Negra /       Está aí um texto compilado do folder-convite que encontrei.
Não pode ser seu amigo quem exige seu silêncio ou atrapalha seu crescimento é uma frase
assinada por Alice Walker, escritora afro-americana. Pensar / ver /                 meditar.
Em busca da reparação: Reparar significa o Estado reconhecer, baseado nas decisões da III
Conferência Mundial Contra o racismo, a Discriminação, Racial, a Xenofobia e Formas
Conexas de Intolerância - realizada, em 2001, na África do Sul - que o colonialismo e a
escravidão cometidos no passado foram crime contra a humanidade / as novas gerações de
negros e negras que sofrem, ainda hoje, as conseqüências do crime, devem ser reparados de
imediato, pois o Brasil, a Europa e o mundo devem reparações ao povo negro. Onde está
divisão de riquezas? Com pretexto na Lei Áurea, enquanto os ex-escravos faziam sua festa, as
fazendas se livravam dos caras. Os italianos chegavam para serem explorados.



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Atraso Histórico: Qual é a ação dos interessados afro-descendentes? Há reuniões? Debatem
o assunto? Refletem sobre as perdas? É reunião secreta? O Brasil foi o último país no mundo
a abolir a escravidão e o penúltimo a interromper o tráfico de seres humanos. A Igreja via
tudo dava apoio. Tinha ela também sua cota de escravos. O país foi também o que mais
recebeu escravos vindos da África entre as Américas – cerca de 3,6 milhões. Fica por isso
mesmo? Sugiro que as terras das igrejas de cada cidade sejam divididas entre os
afro/descendentes. Podemos começar daí. E que cada igreja de cada cidade peça desculpas
públicas. De joelhos.
Números vergonhosos: Um Brasil branco 2,5 vezes mais rico que o Brasil negro. Dos
pobres, 64% é negro e dos indigentes 69% são negros. De acordo com o MEC – pode-se
questionar, mas, não sentado em seu trono de cana-verde - 15,7% dos estudantes formados
são negros e 84,3% são brancos (quer dizer, brancos... quem é branco nesse país?). De acordo
com o IBGE, para cada ano de estudo, os considerados brancos têm sua renda elevada em
1,25 salários, enquanto os negros 0,53 salários. Portanto há preferência clara e a facilidade que
advieram dos 300 anos de escravidão. Isso é inegável.
Quem muda a situação?: De acordo com a justiça distributiva um indivíduo ou grupo têm
direito de reivindicar as vantagens perdidas por condições sociais adversas. Será esse o caso?
Quem sabe uma análise de ascendência. Netos e bisnetos de escravos. Alguém ainda tem a
carta de alforria da família? Ou Reivindicações: Para a superação do racismo, é imperativo
que se adote uma política de reparações que vão desde a indenização material, passando por
um conjunto de políticas de ações afirmativas. Todos se interessam por ações como essa? Tem
algum advogado quem vai peitar a situação? Isso tudo tem a ver com a realidade e a
conjuntura política atual? Os políticos negros se interessam pelo caso? Há quem diga que os
negros escravizavam a si mesmo. Isso serve de atenuante ou agravante? Ou serve para nada?
Seguirão daí como consequências: Cotas proporcionais à dimensão populacional de
negros/as no Brasil, concomitante a um super-melhoramento no ensino gratuito para todos, e
esperamos que isso queira dizer melhora no sentido de LIBERDADE, e não de obediência.
Mais. Cotas proporcionais a negros/as nos cargos comissionados no serviço público
municipal. Isso pode começar hoje aqui em Mococa. É fácil, pois, tem muita gente
incompetente em seus troninhos e sinecuras e no próximo concurso a quota já pode valer – os
legisladores levantarão suas penas e trabalharão nisso. E não há dúvida alguma sobre isso. A
cor da pele manda. Se ficar no café com leite negro não é. Tem que ser negro negro mesmo.
Quase azul. Elegeremos como padrão os BANTOS. Ou mais condizente com as crianças
Yoruba da foto. E, à medida que negros e brancos mais se miscigenam as cotas diminuirão



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gradativamente. Como cidadão é uma sugestão, como ser humano cosmopolita é uma ordem.
Mais. Democratização racial da imagem em todos os veículos e peças de TV. Isso já rola, mas
soa como obrigação. Bom... os africanos foram obrigados a virem para o país que não era
deles. É sempre um prazer ver o Francisco apresentando o noticiário da TV. Vida longa ao
Francisco.
MAIS: Exigência de cumprimento de cota de 30% (ou 20, ou 10, ou 15, sei lá) de negras e
negros em todos os níveis hierárquicos das empresas que participarem de licitação e
concorrência da administração pública municipal. A nota final deve ser a mesma mas a cota
está em separado. Vamos revolucionar. Já! Não é questão de facilitar nada. A nota para passar
será a mesma. A vaga é que está à parte. Em vez das chicotadas, uma vaga.
Instituição do feriado de 20 de novembro: É coisa que Mococa já aplica, no sentido errado,
penso. Lembro que levei a idéia da lei nesse sentido a uma professora que era vereadora e
presidente da Câmara em tempos idos e ela me disse, tutelada pelo seu título de professora de
História: “Ah! Se é assim tem que ter feriado pra árabe, italiano, japonês... e por aí foi, mal
pensando ela que os africanos foram trazidos à força e os demais vieram atrás de melhores
vidas, por livre espontânea vontade”. Peguei o meu projeto de lei e levei para o Sr. Chico
Enfermeiro que acabou fazendo a Lei passar, mas assinou como se fora dele. Próprio da
Veneranda Casa.
Na antiga propositura não tinha nada a ver com feriado. Tinha a ver com uma semana de
reflexão e arte, em torno do dia 20 de novembro e a propositura buscava valorizar o
trabalhador negro que, buscando melhores situações para a sua vida, foi trabalhar, por força,
vendido e humilhado, em outro país e lá ficou, como o caso do LAU que faleceu em
Portugal. E era negro. E era artista. E era produtor de cultura. Era de Mococa e ninguém quis
saber dele. Nem as namoradas. Ou uma certa namorada específica. Ninguém. Que mais?
História: Introdução da História da África e do negro no Brasil no currículo das escolas. Já!
Eu mesmo desejo saber mais sobre Bantos e Hotentotes. Sobre Yorubá. Mococa pode dar o
pontapé inicial E, sair em continuidade com outros professores e artistas e esportistas locais.
Capoeira     neles.   Agregar   estes   grupos    de    capoeira,   mas    não    paternalizar.
Terras: Tributação da terra às comunidades urbanas e rurais de negros/os remanescentes dos
quilombos. Podemos averiguar como anda a Guardinha. Pesquisar sobre quilombolas
remanescente e gerar a herança. Já! Vereadores, acordai, tomai da pena e fazei a justiça!
Trabalho: Garantir o cumprimento da convenção 111 da Organização Internacional do
Trabalho.
Saúde: Implementar programas especiais de prevenção de doenças que prevalecem na



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população negra como miomatoses, lúpus, anemia falciforme. Suscitar pesquisa neste sentido.
Ter atenção sobre tais segmentos. E a tal da Religião: Respeito e estudo das religiões de
matriz africana. Rituais. Dogmas. Cursos de Yorubá e Candomblé em todas as escolas,
principalmente nas particulares. Aliás isso deve ser obrigatório. As escolas de cunho religioso
devem incluir candomblé em seus currículos.
Cursos de música com temática em quimbanda, jongo, congo, samba. Imaginem, SAMBA I,
no primeiro semestre da escola de música de Mococa?


Nossa, quanta lei. O vereador que quer viver dando nome de rua a seus parentes é por que
tem a moleira mole e a cachola não funciona como deve. Entrega a pasta.
Estímulo e apoio à produção cultural afro-brasileira. Radical! Quero um Museu do Negro na
cidade. As fazendas da região cresceram sob esses braços.
É isso.
Votos de sucesso, vida longa e prosperidade.
BOA VIDA. TRABALHE MENOS. PENSE MAIS. FAÇA ARTE.




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              CINEMA & CORO na MOCIDADE

A FatecMococa tem como meta a difusão da cultura, através do seu Núcleo.
Dessa forma não se limitará a seu prédio - prédios,
em breve - e espalhará ações culturais em várias
regiões e outros prédios da cidade. Dessa vez a
Mocidade Espírita, aqui nos caminhos do bairro da
Aparecida, a convite da Sra. Ivani Rafaldini (1),
abriu suas portas para esta ação cultural e lá permitiu que se formasse um Coro e
um grupo que grava filme e montará peças de teatro, ao final das filmagens. Uma
parceria Fatec/Mocidade.




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                             A idéia é levar um tanto da mensagem da
                             MOCIDADE, mista à literatura de todos os
                             tempos. Deixo, a todos, convite para a estréia, em


Julho, de O FANTASMA DA CASA VELHA,
roteiro baseado numa estória de Oscar Wilde. No
elenco temos Maria Augusta (2) – atriz importada de
Monte Santo, Adriana Gomes (3) – no papel do
                            FANTASMA, Adriana Dias (4), Amanda Garcia(4),
                            entre outros. Inteiramente gravado em Mococa,
                            usando as instalações da Mocidade, o CinemaFatec,
                            além de filmes acaba por construir um acervo de
imagens da cidade, com seus jardins, casas e
locais de uso comum. Uma antropologia visual
da cidade. Uma sociologia através de filmes e
vídeos que contam a nossa era. É certo que a
obra tem origem n’O FANTASMA DE CANTERVILLE, portanto, obra
inglesa, mas são contingências.
O FANTASMA DA CASA VELHA se transformará em DVD e será vendido,
oportunamente, para consecução de recursos destinados ás obras assistenciais da
MOCIDADE. Logo, trata-se de atividade artística com fim social, também.
E, o Coro?
O CORO da MOCIDADE vem trabalhando desde fevereiro e se preocupa
com um repertorio de música folclórica e MPB. NOZANINÁ (Arr. De Villa-
Lobos), CANTO DO POVO DE UM LUGAR (Caetano Veloso), CALIX
BENTO (folk mineiro), AZULÃO (de Jaime Ovalle), UIRAPURU (do folclore)
e mesmo o HINO DO CENTENÁRIO DE MOCOCA (de Elvira Dinamarco
Coelho e José Barreto Coelho); obras em processo de construção. Fez concerto
de estréia em Março. Outros concertos virão.



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Se você é uma pessoa sem preconceitos – ideologia e religião à parte - venha
participar conosco do Canto Coral, cujos ensaios são na sede da Mocidade, do
outro lado do rio, no entroncamento entre Brás/Aparecida/Descanso, toda
quinta feira, 20:15 horas. Sempre haverá por lá boa música, um pouco de
preparação vocal e teoria musical para ampliar o conhecimento.
Em momento oportuno falaremos mais das atividades corais e seus
desenvolvimentos.
Boa semana.




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                     CULTIVAR O PADRÃO
                 A REPETIÇÃO / O CÔMODO

Quando se foge do padrão, as pessoas caem de pau em você.
Transfiramos a abordagem para o teatro que queremos, por exemplo, ou que
desejamos ou que sonhamos. Posso fazer o mesmo com a música. Música
moderna ou contemporânea. Enquanto meu CD de Natal sempre vende muito
todo ano (padrão) as minhas obras contemporâneas vendem nada. Será que é aí
que falamos de arte e comercio? Que peça fará sucesso? De que jeito essa peça
fará sucesso. Quanta mídia se deve comprar – TV, rádio, jornal – já com suas
boas resenhas embutidas, pois tudo se resume a comprar algo. Não há, em
Mococa, uma crítica espontânea da arte. Será que não há um meio de nada
comprar para criar ou usufruir arte? E para isso há regras e normas e leis?
Fazendo assim o público virá? Fazendo assado não vem mais? Mas e o público
acomodado que não sai do lugar merece futuro? Por que devo contar e pagar



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tudo de 30 em 30 dias se levo 146 dias para compor uma obra musical? Então
não é possível experimentar? Resposta: Não!
Mas o experimento é a fonte do trabalho bem acabado. Empirismos. E se eu só
quiser experimentar? Talvez não tenha público durante muito tempo, pois o
povo deseja ver aquilo que não os pegue de surpresa. Se Deus aparecesse em
forma de cubo ou pirâmide ninguém acreditaria. O povo – essa entidade leiloada
e usada por todos - é comodista e meio burro. Símbolos passam batido pela
maioria. A maioria deseja tudo bem mastigadinho, pois para isso foi domesticada
desde a escola. Sem esforço. O único esforço é o de ser escravo. Para isso foram
educados.
Será que podemos sair dos formatos de sempre já que sempre houve mudanças
nos formatos do teatro / da música / do cinema / ao longo dos séculos ou essa
mudança é tão lenta que ninguém percebe?
Hoje, quando a busca do exótico beira a loucura talvez os deuses do dinheiro
permitam que novas imagens subam a palco. Plutões, donos do capital, novos
deuses, que se alimentam de novas almas para almoçarem e elevarem os pontos
do ibope; fenômeno:      logo que são humilhados começam a lucrar. Mas,
enquanto isso, artistas, prevejo que devemos urdir na noite o que e como deve
ser o futuro. Podemos errar e assim somos nós. Nossa estrada é traçada de erros,
então descobrimos novos caminhos.
Pensemos sobre isso. Mas, não se iluda, artista e livres pensadores, somos só nós
os que havemos de pensar. O resto do mundo pensa em mais nada. Vive de
inércia, dentro de um padrão pré-estabelecido. Uma bola de neve que espera o
poste.
Mesmo que vivamos esse padrão em muita coisa que fazemos, também fazemos
a diferença por que rompemos o padrão. E, essa diferença não quer dizer que
seja para melhor. Não temos obrigação com o melhor. O mito do melhor vem
daquele que nos explora é quer o melhor que produzamos. Não há essa
obrigação do melhor pois não sabemos do que se trata, esse tal melhor. Em



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geral é melhor para alguém outro e não para nós. Aquilo que as pessoas falam
que é o melhor, em geral, é aquilo que faz alguém lucrar algo. São palavras de
Faraó, aquele que detém o poder, que dita a norma e o que deve ser considerado
bom. Não se iluda. O artista pode ser a diferença que esculhamba o normal –
padrão – do dia a dia; e as pessoas não querem saber desses caras. Pode crer.
O artista deve ficar livre. Manter o processo crítico. Não se aliar a clubes talvez?
Ou, ao menos estar ciente de que pode ser expulso do clube. Woody Allen -
depois de Grouxo Marx - disse que não entraria num clube que o aceitasse
como sócio.
Utopias. Mentiras ditas mil vezes.
Sempre digo que quando o dia 21 de dezembro de 2012 chegar e a eletricidade
for pro beleléu, nós os artistas não teremos nada a perder. Teatro não precisa de
iluminação especial e pode ser feito na rua – já um plei-esteixon ou um
microfone de lapela não funciona mais. Teatro pobre! O ator e mais nada.
Música: Nem se precisa de instrumento. Canto ou assobio. Mas se quiser faço
uma flauta de bambu ou bumbo dionisíaco ou lira orfeica e pronto. Já a fábrica
de lata ou gelatina, elas precisam de energia para gastar e poluir e impactar a
natureza em nome do progresso. Então elas pararão de funcionar. Enfim
alguma coisa boa.
Escrita: Papel reciclado e tinta natural, como era dantes na casa de abrantes. Ou
escreverei com barro ou merda – seguindo o Marques de Sade – nas paredes das
ruínas. Acredito que merda sempre existirá. Rembrandt fazia sua própria tinta,
não com merda mas com tinturas naturais. Agora, as usinas de produção de
gasolina precisam de eletricidade, diesel; e a energia nuclear? Param ou não?
E, é claro, tais indústrias precisam de seus escravos para o trabalho. Herdeiros
dos faraós embalsamados, como diz o poeta, necessitam da mão de obra barata.
É... A arte não para.
Quando não nos deixam falar inventamos um blog ou gritamos na rua.




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Crônicas Agudas

Acabou a eletricidade e acabou o blog? Sobe-se no palco ou se faz teatro de rua.
Mambembes. O diferencial é ir atrás do auto-falante: teatro, música, vídeo... são
as armas. Mesmo assim muita vez nos desconvidam pela impertinência. Nossa
expressão corporal na rua (pose?) é nossa arma e bandeira fincada no solo. Mas,
será esse mesmo o caso. Fazer arte e vender e, depois, sofrer se não compram?
Cada um compra o que quiser. E pra que servirá tudo isso se não passa de mera
arte? Ars gratia Ars. E por minha conta.
Lembro das aulas de psicologia – nos idos dos anos 80 - quando concluíamos,
friamente, da insignificância do artista. É isso. Somos completamente
insignificantes até o momento em que balimos iguais a sertanejos ridículos
fingindo cantar; ou choramos na novela das seis por causa da menina com falsa
leucemia; ou se fazemos o Analista de Bagé no teatro, com casa cheia falando
bobagem a dar com o pau para que a burguesia babaca chore de rir. Aí nos
tornamos valores. Tornamo-nos dinheiro viável. Potencial de lucro. Cheios de
amigos. Cercados de produtores. A mídia do nosso lado.
Quero entrar numa sala de aula com 45 alunos para escangalhar 45 cabeças de
uma vez com muita aula de Filosofia. Meu projeto é ser diretor do Oscar
Villares, lá pelo ano 2016, e continuar a ensinar como se faz.




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Crônicas Agudas




                DEDÉ, MUSSUM E ZACARIAS


      Alguns sete representantes da Câmara de Mococa merecem parabéns pela
atuação na modernização das leis da casa, mormente pela lei de adequação e a lei
do nepotismo. Li o Informe Publicitário e acredito que se pode tirar o luto. Não
há que temer o luto. Há sim o nojo em relação aos outros três. No começo não
entendi o texto e deixei para ler em outro momento. No outro momento percebi
que ainda havia troca de MAS por MAIS. Para mim o texto ficara sem sentido.




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Crônicas Agudas

Consegui, depois, após abluções matinais, perceber o teor da notícia, e sua cabal
importância, mas, temi que pedissem de volta a minha Moção de Repúdio.
         Caros OS SETE POR MOCOCA. Fizeram com que me lembrasse de OS SETE
CONTRA TEBAS, peça importante do mundo grego. A partir dela surgiram O SETE
SAMURAIS e SETE HOMENS E UM DESTINO.
         Esta história tem um desenvolvimento edípico. Vejamos: Édipo descobriu ser filho
de sua mulher – a tal Jocasta. Vazou os olhos e retirou-se expulso da cidade acompanhado
pela filha Antígone. Os filhos, ao tomarem conhecimento do incesto do pai, viraram-lhe as
costas. Édipo lançou uma maldição: os dois irmãos se tornariam inimigos e um mataria o
outro.
         Com medo da previsão, resolveram partilhar o poder cada um assumindo o trono
por um ano alternadamente. Etéocles foi o primeiro a reinar, porém, ao se completar um
ano, este se negou a entregar o trono ao irmão. Polinice partiu para Argos e lá recebeu o
apoio do rei Adrasto. A expedição dos SETE CHEFES foi, pois, a reunião de sete
príncipes chefiados por Adrasto que marcharam em direção a Tebas a fim de derrubar
Etéocles e entronar seu irmão. Pode nada ter a ver, mas, o número sete, neste caso heróico,
é simbólico e acredito que represente o trabalho de uma verdadeira e veneranda Câmara
moderna e articulada com as necessidades da população, ou, pelo menos, da lei. Falta
agora votar uma lei para VOTO-NÃO-SECRETO em todas as instâncias, se é que os edis
desejam deixar seus nomes marcados na história da cidade. OS SETE POR MOCOCA
mostram que são independentes.
         Os outros três, no caso OS TRES CONTRA MOCOCA demonstram a objetividade
da tal Moção de Repúdio de antanho. Sim, pois os três restantes demonstram que estão
contra a democraticidade na cidade (ops!), e mostram, por caminhos turvos, quem insulou
a turma para assinar a Moção. Em face disso fica claro que OS TRES CONTRA
MOCOCA têm algum interesse nessa coisa toda de regulamentação e nepotismos à parte.
Mas isso o Executivo resolve com uma canetada rápida. OS TRES CONTRA MOCOCA
estão colocando maguinhas de fora e se denominam reis-da-cocada-preta. A base do ídoloo
é de barro. Isso prova, também, que não é o número de votos que faz a diferença. Mas a
inteligência dos SETE POR MOCOCA está fazendo. Se essa rapaziada – tabebuias à parte,
me entendam – mantiver a linha de independência, soberania e visão da modernidade,
podem escrever Mais em lugar de Mas, quantas vezes quiserem, que serão absolvidos por
aqueles que sabem que política se faz com outros valores. Não é o valor de um judiciário



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Crônicas Agudas

poético/dormente/sonhador, nem as lacunas gengivais de um sorriso interesseiro e amarelo,
nem as catapultas sindicalistas prontas para uma abordagem na galera medieval do vizinho
– valha-me são Getulio Vargas!, nem as destrezas enigmáticas dos seguidores de Calvino,
ungidos pela aura advocatícia sem escrúpulos. Sei não, mas, acredito que qualquer pastor
bateria nas mãos desses TRES CONTRA MOCOCA. Feio! Han! Seu Feio!
       Simples conta de somar. O SETE POR MOCOCA versus OS TRES CONTRA
MOCOCA, e, o título da coluna, tiram qualquer dúvida.




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                           SEXO ESPIRITUAL
                    DIARIO DE PIRATAS – EXCERPTOS ALEGÓRICOS
                                   - aos filibusteiros –


Há motivos que nos induzem a práticas obscenas. Obscena quer dizer, fora de cena. Não
que seja feio, mas que está fora da visão da platéia, por assim dizer. Aquilo que não dá
para ver.
Uma delas é a espiritualidade. Nada mais obsceno que a espiritualidade. Ninguém vê. E, o
que sentem - “a energia que rola” - tem muito de delírio coletivo, individual, ou fé
cênica. Invencionices de uma mente romântica, por assim dizer.
Quantas e quantas vezes atriz ou ator não subiram ao palco para trazerem de trás da
cena – ou de trás de suas máscaras - aquilo que estava escondido. Esse tal escondido é
o obsceno. E a atriz ou ator conseguem essa proeza através da Fé Cênica.
A Fé Cênica representa aquilo que não existe. Um avatar.
Sabe quando você vai a uma loja ou restaurante e pergunta se o produto é bom? A
resposta tem que ser sempre positiva ou não venderão o tal produto mesmo que o
bacalhau já tenha passado do tempo. Por essa razão qualquer pastor de almas dirá que a
espiritualidade está à mão, de como se pode “sentir” as vibrações, seja lá o que seja


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Crônicas Agudas

isso. Há inúmeros manuais para se sentir a alma e perceber as vibrações e adentrar o
mundo da espiritualidade.
Já ouviu falar em motel especial para mentes e almas? Ninguém ouviu. E que dizer
quando se discute o problema da química entre amantes...? O que será que acontece no
momento em que se conhece alguém? Não existe nada de espantoso nisso tudo... Mas,
também, ninguém sabe de nada... As pessoas preferem a complicação ao invés do que é
mais simples. Quando encontramos a pessoa o que vemos é seu corpo e seu rosto e suas
características humanas. A pessoa olha você e você a olha e surge o interesse. Chamam
isso de química. Falta é palavra adequada, na verdade. Daí o surgimento da poesia... por
pura falta da palavra adequada. Pode ser que a imagem fotográfica do ideal que alguém
tem na cabeça combina com a imagem que vê naquele momento. Nada mais do que
programação. Depois, com os anos, tudo muda, é claro, mas, naquele momento que
chamaremos de mágico, é fatal: Amor à primeira vista. Amor, por falta de palavra melhor.
O inexplicável.
Será que o fenômeno da observação da alma ocorre imediatamente? É como o Allen
Palito em sua prova de metafísica, expulso que foi da sala por que o pegaram colando...
ele olhava para a alma da aluna que se sentava ao lado. E na falta de uma alma ao
lado?
Provavelmente não passa de resposta imediata da biologia e o clamor da manutenção das
espécies. Sim! Nada de amor. Apenas clamor. Em primeiro lugar, mandam os ditames
biológicos: temos que preservar a espécie da extinção que se aproxima. Amor é
construção cultural. Assim como o romantismo e o cavaleiro andante e a idéia de que a
Terra é centro do Universo. Amor é para todos e com todos: ágape ideal. Amor e sexo
são coisas diferentes. É, claro, que as pessoas buscam aliança entre iguais, ou ainda,
buscam compromisso para manter o estado de equilíbrio – na melhor das hipóteses – cá
entre nós há quem procure o par que lhe bata na cara ou o sove com ancinho -, que é
prática comum nas sociedades modernas e a cultura manda, mas, nada disso tem a ver
com amor. O assunto é bem outro.
No clamor da carne o que se quer é coito. Alguém quer ser coitado.
De preferência com alguém que responda aos seus valores estéticos, pois isso estimula a
obtenção de prazer. Se houver coincidência nos gostos certamente rolará algo. Abre-se o
clima. Ilumina-se a cena com valores der romantismo quixotesco e exotismos. Se não
houver coincidência alguma, que é o que ocorre na maioria das vezes; nada rola e parte-
se para outra, que é o que ocorre na maioria das vezes.




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Os sensores animais percebem a boa genética e um bom desenho de corpo, de acordo
com os padrões investidos pela moda.
Quando há união entre desastres estéticos - segundo a moda vigente, é claro – o que
chamam de amor será eufemismo para tolerância mútua, cercada por ambiente de
resignação e acomodação final – que é próprio de humanos.
O que a moda não pedir, e, eu duvido que as pessoas façam referência à alma, ou que
falem de valores da alma. As pessoas não falam disso. Nem pensam nisso Nem pensam
em nada. Na onda do alvoroço dos hormônios, usam várias desculpas para cair na rede: -
Aquela nossa música, ou a letra da canção sacana, da obscenidade permitida na rádio, o
clima numa atividade não rotineira ou artística que dá muita menção a excitação
repentina, a aproximação com ídolo e outros quejandos, são motivos e desculpas.
Pense na cena. Nunca vi a pessoa. Ela aparece na minha frente e eu me espanto: - Uau!
Que bela alma! Estou apaixonado à primeira sentida!
Realmente não é assim.
Precauções perante a solidão; as pessoas ainda encaram – a solidão - como uma situação
de fim do mundo e querem se livrar da possibilidade. Mas essa sensação só aparece na
cabeça de seres ocos. Quem se dedica à arte, por exemplo: escrita, pintura, teatro... não
terá tal problema, em sua maioria. Só aquelas pessoas que acham que arte depende de
inspiração e piram na frente da folha ou da tela em branco. Nada sabem sobre isso e
podem se livrar, também, da possibilidade de se criar algo. Criar no sentido da arte.
Sublima de um lado, cria do outro.
Amor romântico fica para os anjos e para os séculos VIII, IX, X... e por aí vai, com
capacete de metal e tudo mais.




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           PARA QUE OS NEO-COLONIZADOS
                           DEIXEM ROLAR
                   sobre um texto da cineasta Bia Werther


Sim... idiotas... quem sabe somos aqueles que predominam o Id. Somos todos
nós uns grandes idiotas em acreditar em dengue, em enchentes, em eleição, em
espanholismos, em balaios tronitruantes em descabeleiras louras ocas... quando
as pessoas já nem sabem – fingem que não, essa é a boa verdade – sabem mais,
se é verdade mesmo, que tivemos um holocausto na Europa – 6 milhões de
mortos, fora os soldados que se matavam em troca do dólar de outros e somos
sempre os mesmo que aceitamos trabalhar para a riqueza do outro - ou uma
ditadura no Brasil – guerras e guerrilhas e zerentos milhões por morrer - e daí
ficamos nos repetindo por séculos e séculos - ad aeternam - abrindo a guarda
e babando por qualquer outro imbecil – já tivemos uma geração de Silvios e


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Crônicas Agudas

Gugus – louco midiático que domine mensagens subliminares e bits e bites e
quarks.
É responsabilidade nossa quando os dominadores da 'cultura', em nossas pobres-
cidades-pobres-cidades apedeutas, recalcadas cidades medrosas e invejosas,
perdidas em seus desejos criativos, mesmo por que criar dá tesão e as cidades e
seus representantes culturais têm medo do tesão que deveras sentem... eis a
verdade... Talvez sejam eunucos. Renegam a diversidade em nome da troca de
favores – o tráfico de influência, o toma-lá-dá-cá dos incautos vereadinhos.
Esquecem as leis a serem aplicadas com apoio de juristas aplicados e de
colarinho branco engomados até os dentes; vendem suas horas-trabalho pelo
prazer de se fazer de estátua ao lado dos ícones globais que vêm fazer
espetáculos de sub-arte, eventos de importância duvidosa, enquanto a cidade
completa seus aniversários, esquecida e entrando para caminhos de gagarismo –
não o astronauta, mas sim, o velho gagá da esquina que deseja de qualquer
maneira que Fonte dos Amores volte. Volte da onde?
Tem que ser bobo e caipira. Mas se fossem Mazzaropi seria solução criativa e
produtiva. Papagaios de pirata sem jaça. Câmaras vazias. Sepulcros caiados.
Filisteus da modernidade. A penugem da imbecilidade e da edilidade.
E somos todos nós os covardes, quando nas nossas cidades todo mundo tem
medo de transgredir e virar maldito. Maledeto.
Mas que boca bendita será essa que se outorga tanta autoridade?
Ninguém vê que se todo mundo meter o pé na porta a coisa muda? Que se
meter o pé na bunda muda mais? Ninguém vê que se todo mundo jogar a cadeira
no corredor, a coisa muda? Ninguém vê que se todo mundo bater a porta o
professor até aprende português, na marra? Tem diretor d escola que precisa ir
correndo para o asilo. Ultrapassado. Caduco E, com poderes. O Oscar que não
vire na tumba, homessa!




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Sim, a mentira pós-colonialista nos transforma a todos em 'espectadores
covardes e traidores'. Submissos escravos cheirando a chouriço e afastados de
toda manga que der dor de barriga, coberta de leite.
E, por conseguinte, encontramos realizadores irresponsáveis e sem profundidade
porque medrosos e preguiçosos. Falamos errado na TV e nos orgulhamos disso.
Fisso isso, fisso aquilo. Balançamos a cabeça pra lá e pra cá e vendemos
langerrís até desabarmos dos tapetes mágicos da vida. Fisso isso e aquilo.
Falamos bobagem sem nexo nos discursos e ninguém nota. Produzimos projetos
roubados do grande sábio. Isso, nisso, aquilo, fissio, bissio, lissio, Nilson?... e
por aí vai. Sem contar a pluralidade de prioridades. Sem contar que querem
meter a família inteira na conta da cidade para tomar conta da cidade. E ainda
querem que paguemos impostos. Claro que não. Tem bobo que ri com isso.
Prioridade é o que vem na frente. Quantas indicações seriam de prioridade?
Essa nossa sensação de inferioridade diante do sentimento de superioridade do
colonizador e dos imbecis que se alçam ao poder é maquiavélica. O filósofo
deveria governar? Ou deixar que algum analfabeto se eleve ao poder e dê as
cartas?
Pós-colonialismo é isto, todos os 'inferiores' tontos de prazer diante das luzinhas
coloridas e das super-ferramentas sem alma que não nos servem de nada
historicamente sem a busca da identidade, perdida na globalização.
O que temos aqui são rapidinhas. Não há mais longas relações foederativas...
tudo é rapidinho, sem graça... no sentido do que “já que tem que fazer... faz logo,
se não eu perco o capítulo da novela” : Vou fazer a malhação / malhação /
malhação / Do que deve ser malhado / ser malhado / ser malhado...
parafraseando cantorGILex-ministro.
Estamos andando em círculos há milênios!
Nossa cidade parece andar, rapidamente, para trás. Dobre os milênios. Por quem
os milênios dobram?
Eles dobram por nós.



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Crônicas Agudas




             DIÁRIO DE PIRATAS – EXCERPTOS II
                            - os filibusteiros -
                   sobre um texto da cineasta Bia Werther


      DIA 6 – ONDE A VACA TOSSE E NÃO MUGE MAIS
      Chega da discussão superficial... de baixo do Equador não tem pecado,
como bem disse o Chico, cantou o Ney, dançamos nós e, debate bom é o debate
onde se mostra o que se faz. Essa coisa de unanimidade burra já atinge os
píncaros da palhaçada. Dez assinam a Moção (UNANIMIDADE). Valha-me
São Nelson! Muito voto para uma só pessoa (UNANIMIDADE). Tem pelos
menos 700 que acreditam em bobagem. Mas tem mais de 2000 que acreditam em
mais bobagem ainda. E tem gente que foge de debate tentando evitar que as
palavras tropecem na língua. Trôpegas palavras. Ao dicionário, senhor coberto
de honras!



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Crônicas Agudas

       Eis a mensagem para as novas gerações pós-ditadura: falar dos 'livres',
que de livres têm o nome, mas, de maneira bem Belchior, e, não mudam nada;
vivem de umbigo, futilidade e uma vida-festa temática, inóspita e cidista – pois o
cidismo foi um movimento de degeneração da raça humana mocoquense, lá isso
foi - esquecem do resto de suas vidas, permanecem com o umbigo virado para a
lua. Mas as pessoas esquecem.
       O que será considerado fora de moda por muitos, será considerado fora
de modos por outros. E dentro desta perspectiva cabe ao jornalista, ou ao
escritor, ou ao crítico, alertar, relembrar, retirar do olvido. Aos apedeutas,
escola!!
       Para muita gente ‘radicalismo’ é o ato da exigência, pois, proclama-se,
hoje, a quatro costados, a lei do “deixa estar como já está e esquece já!”. Eis a
causa da reação da Veneranda Casa. Deformada será a palavra que vira palavrão
quando o assunto é sério e, 'atitude', quando inserido em roteiro de propaganda
de ‘refri’, bundas de fora e cerveja com seios, onde o cara diz com o dedo na sua
cara que você é um merda se não opta por essa ou aquela marca... a marca dos
tais 'radicais'. Radicais livres. O que nunca há de envelhecer pois já nasce velho.
Tal é a Veneranda Casa. Parece absorver a barba do patrono e se deixa caducar
sem inovações e revoluções.
       Preocupam-se com UIS e AIS anacrônicos e tratam de Ilustríssimo aquele
que foi repudiado. Ué! Afinal, é ilustre ou não é?


       Dia 7 – NOTÍCIAS DO MUNDO COLONIZADO
       Aqui no mundo 'pós-colonialista', brasis e mugangas interioranas, falar
em nacionalismo seria o que? E, municipalismo, seria utopia? O que seria, no
meio desse(a) globo onde a cor é a de todas as fomes amarelouros, idênticas
ilustrações de capa de revista em todos os cantos – cantões chino-capitalistas -
do mundo? Aqui em muganga o explorador posa de construtor. Os discursos
estão invertidos e causam nojo.



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Crônicas Agudas

         Cores quentes do maquidonaldis em qualquer cantinho – cantões e
monções e moções que chegam em monções (cadê meu guarda-chuva?) - em
que alguém tenha uma grana (sobrando?) pro fast food de 'atitude'. Atitude
rápida e cheia de gordura.
         'Pacífica' convivência com as cores quentes da violência em todo o
recanto onde não há nada além da servidão e violência da vida real, não de filme
de quinta, que isto já tinha antes mesmo de 1961. O ano que virado de cabeça
para baixo, dá no mesmo. Seria uma profecia? Dá no mesmo? Ou qualquer ano
viram de cabeça para baixo?
         Depois, tantos outros mortos, décadas passando, o homem 'se libertando'
na grande festa da globalização, o negro urbano americano norte-sul,
por exemplo, que deu tanto orgulho aos revolucionários e radicais do mundo –
radicais     livres   outra   vez?   -   , assiste   pela   TV   os seus   netos
rebolando no machismo; cachorras babaquaras, gritando os nomes das grifes
'globais'; quebrando-barrac-algum, taty nenhuma; bezerrasilbestasambista que
cantam o morro e moram na zona sul e ainda tripudiam, imbecis e sorridentes
timbaladores, sob a benção da suprema imbecil dos imbecis baixinhos – não é à
toa que Romarinho foi enaltecido pelos baba-ovos de plantão do venal e futebol
association. Um enganador que perdeu de 5 do Barcelona em sua despedida de
banheirista internacional. Veio banheirar no Fla. Timbaladores gritam nas letras
das músicas com a mesma sede que um dia seus avós apanharam na rua gritando
'Freedom from Fear'. E haja chicote.
         O medo continua, só que agora não tem repressão (?) e daí o mundo é
velado (com véu ou vela), bombado, com tênis de 500 paus.... Até o medo hoje é
fútil.
         Quanto quilos de medo tu precisa, mano?


         DIA 8 – FUGINDO DA MALTA AGITADA CUJO TIME
PERDEU



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      Até Deus (feito à nossa imagem e semelhança) tem medo, tanto que se
juntou ao Bush (Burning Bush – a Sarça Ardente que Moisés visitou – seria uma
profecia?) e assinou no dinheirodolar que já havia sido emprestado ao Osama
filho de Laden. Viu que mandou um ciclone devastar a 'Bahia' americana e o
falecido Bush só precisou tirar férias e deixá-la esquecida e devastada? Novos
arcanos. De qualquer maneira para que a preocupação se o tal ciclone atingiu
áreas de pura demografia negra? Novos tempos do radicalismo. Basta dar as
costas para as costas, como sugeriu Milton Nascimento. Basta dizer que não viu
e perder o rumo numa estória em quadrinhos em jardim de infância, olhando,
perdido no espaço como Alfred Newman dos EUA ou a família Robinson.
      Gosta de novela? Vê novela? Então a marca da besta – 666 - está escrita
na sua testa. Mas não a marca de Caim pois essa marca é a marca dos criadores
da civilização. Filhos de Cain! Cainitas!, aos berros, como berraria o velho
Hermann Hess. Goethe era cainita. Uni-vos! Busquemos a luz, mas a luz da
razão. Nada de frieza meu bem, mas a razão que nos leva a dosar todas as
paixões.
      Não acha importante que gerações futuras construam uma identidade e
tenhamos filhos e netos conscientes de seu papel criador, e com e educação e
leitura e cinema e teatro e música?
      É isso.
      Votos de sucesso, saúde e prosperidade. Boa semana




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Crônicas Agudas




                                EGO VINDICO

      No texto “Considerações sobre o ataque histérico”, 1909, Freud define histeria
"como fantasias traduzidas em linguagem motora, projetadas sobre a motilidade e
figuradas como pantomima". Farei uma ligação com as contumazes e fugazes
REIVINDICAÇÕES que vemos pulular no jornal a cada semana. Em que pese que
hysteros é coisa de mulher, pois útero é, vimos muitas carinhas masculinas sorridentes
ilustrando as REIVINDICAÇÕES, como querendo dizer, um tanto hesitante e lento:
“Olha, gente, quem REIVINDICA, sou eu, tá? Olha como trabalho pela minha cidade!!”
Daí que REIVINDICAR, se mostra como ato a ser homenageado. Conquistar a coisa é
secundário. Mas, reivindicar... Uau (!), dura um ano e após o primeiro natal tudo será
esquecido.
      O caso da histeria aponta para o fato de que, mesmo se é referida a algum tipo de
teatro, performance, representação inconsciente, essa específica idéia de representação
está ligada a resultados nulos, exceto à exposição na mídia durante a semana. Uma e outra
REIVINDICAÇÃO dá resultado – para que eu não seja chamado de injusto - como
temos exemplo de vereador local que pediu e levou. Claro que não foi verba advinda


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Crônicas Agudas

através de algum programa ou planejamento. Foi aquela verba de pires-na-mão. A conta
vem na próxima eleição. Mas, pediu e levou e isso basta para cidades provincianas.
Histeria e Pires me lembra de um certo “PIDONHO”, como ele mesmo se chamava, cujo
espectro rondava a prefeitura d’antanho. Um fantasma no estilo Canterville.
      Será a histeria vindicatrix apenas uma experiência feminina de todos os tempos para
presentificar o corpo e seu desejo? A experiência plástica do gozo? Por coisa alguma? Só
para ver sua carinha sorridente dentro de um retângulo pago no jornal?
       Abre parênteses: - Para os menos avisados, quando um jornal publica matéria
cercada por fino risco de contorno trata-se de matéria paga, e, não furo de reportagem
importante. Em geral é coisa desimportante paga pelo próprio interessado sorridente.
Fecha parênteses.
       Esta histeria da REIVINDICAÇÃO estará ligada a uma depuração do afeto pela
linguagem? Não sei... estou perguntando. Schneider (1992) diz, citando Lacan: trata de
priorizar a linguagem na ordem da natureza e do infra-humano(...) como a linguagem do
sopro e do grito. É até poético. Podia ser dentifrício, também. No entanto, o discurso
psicanalítico acabou privilegiando a interpretação da histeria como teatro da representação
inconsciente recalcada. Assim, também vou reivindicar. Vou na onda. Quero isso e quero
aquilo. Quero desrecalcar. Acho que vou mandar uma REIVINDICAÇÃO a meus
deputados favoritos. Só... Nem, é preciso que façam qualquer coisa... o legal é
reivindicar... Se nada fizerem eu tenho a desculpa: “Aaaaah! Mas eu reivindiquei”. Ego
vindico. Mas há uma interpretação latina para vindicar que significa punição ou vingança,
na verdade, requerer a justiça. Exigir a justiça. Domandar o que é justo. Io domando.
      Ouçamos David-Ménard: "Um ataque histérico não se constitui somente como uma
descarga, mas como uma ação que conserva a característica inerente de toda ação: um
modo de se obter prazer." Talvez a descarga de prazer nos fundilhos, ao ver sua carinha no
retângulo das Reivindicações, seja suficiente para a semana. Pode ser. Um ato
masturbatório em retângulo vindicador. Pode ser. Quem sabe?
      Subir ao púlpito – ou aparecer com a carinha risonha no retângulo - exibir-se,
mostrar-se, vitrinar-se, é uma conduta ligada ao desejo intelectual ou se reporta à busca de
prazer. Para Ménard é atualização do erotismo com o próprio corpo: o histérico coloca o
objeto do seu desejo como se ele estivesse lá. Fé cênica. Dura Lex sed Lex / ou fed Lex sed
Lex / Durex. Gumex. Sed Ex. Esteja fora. Sai!




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Crônicas Agudas

      As experiências de Charcot era com mulheres e elas davam seus espetáculos teatrais
de presentificação de corpo e de prazer. Mas nos retângulos vindicatórios o que vemos é a
prevalência de homens e agregados. Mudou, pois.
      O sintoma histérico remete a outra realidade do corpo: o cérebro paralisado não
remete a uma lesão funcional, sendo expressão de um valor afetivo que lhe é conferido.
       Isso me deixa preocupado. O Ipê Imperial em frente de casa começou a dar flores e
são brancas? Será que serei punido por contrariar a Tabebuia específica da cidade? Cara,
nem pensei nisso.




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Crônicas Agudas




                            ELEITORES & ELEITOSOS

      Seguindo o bom exemplo do Serapião, vou ao Aurélio, nem ao Sênior nem ao Junior, mas ao
do Meio e leio... Ficção: Ato ou efeito de fingir: fingimento. Coisa imaginária, invenção. Ficcionista:
aquele que faz ficção, escritor, autor.
      Muito bem. E, não deixa de ser.
      Um dia, numa cidade fictícia, uma história fictícia acontece. Certo Senhor Honrado – um
sujeito muito louro e claro com olhos quase azuis - entra na Casa de Leis de sua cidade,
carregando um importante documento onde se dizia coisas sobre Nepotismo Barato. Crente que
abafava foi, isso sim, abafado por vários edis que ali se encontravam de plantão, edis estes que o
levaram, à socapa (aqui uma nítida influência do Monteiro Lobato), o levaram na astúcia para uma
saleta contígua e deitaram falação na cabeça daquele alourado edil. Dedé, Tutu, Chichi, ao lado da
idílica Mamá e do atabalhoado VemVem - um literato alto, bastos cabelos prateados, dublê de
magister iuris e sonhador – caíram de pau no Honrado Senhor, mandando que calasse aquela boca
que cuspia no prato de pão que o diabo amassou. Que esquecesse a inverossímil presunção. Que
conversa de nepotismo era esse?

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Crônicas Agudas

       Ao mesmo tempo, no outro lado do mundo, Gordon Tullock, sobre seu caixote de discursos
dizia: "a nova abordagem começa supondo que os eleitores são muito parecidos com consumidores
e que políticos parecem com mulheres e homens de negócios". Gordon, com o passar dos estudos,
se tornou cético em relação ao valor da teoria da "escolha pública". Apoiando esse pensamento Leif
Lewin, cáustico que era, disse que os pensadores da escola da "escolha pública" "retraíam o ser
político como... um habitante míope das cavernas". E ainda completou: - Isso não é ofensa. É
apenas constatação!
       Lewin acreditava que essa coisa toda, eleições e eleitosos, está inteiramente errada: - Pode
ter sido verdade, um dia, na época dos trogloditas, antes que o ser humano “descobrisse o
amanhã, e, aprendesse a fazer cálculos de longo prazo" mas, não agora, em nossos tempos
modernos, quando todos sabemos, ou pelo menos a maioria, tanto eleitores como eleitosos, que
"amanhã nos encontraremos novamente" e, portanto, a credibilidade é "o único recurso valioso do
político".
       O caso é que, enquanto a edilidade cobria de pancada o famoso Homem Honrado, neste
nosso lado do mundo, o que se punha em conflito era a atribuição da confiança: a arma mais
zelosamente utilizada pelo eleitor. No entanto, ainda assim ele erra que dói. Para apoiar sua crítica
da teoria da "escolha pública", Lewin citara estudos empíricos que mostram que poucos eleitores
votam pensando em seus próprios bolsos. Não lembram que política atinge o bolso, como já dissera
Brecht, e, a maioria dos eleitores declara que o que guia seu comportamento eleitoral é o estado do
país como um todo. Uau!! Saberão mesmo do que falam? Um país desse tamanho, editado e
conhecido através do JORNAL NACIONAL, apenas, será realmente conhecido em sua totalidade?
Ou na totalidade que aparece no écran cinzento de acordo com os ditames do Capital Global?
Lewin espera isso. O que é que nós poderíamos esperar? Poderíamos esperar resposta e
satisfações das autoridades? Autoridades sem curso superior terão articulação suficiente para
explicar coisas?
       Na hora da entrevista a pessoa na rua tenta imitar o que já ouviu e não sai do lugar comum.
Estamos na era do fazer aquilo que o outro quer, portanto, ninguém em sã consciência falará o que
lhe vai pela cabeça. O entrevistado da rua dirá o que agrade ao entrevistador, mesmo por que será
editado depois. E, o que são os entrevistadores senão jornalistas formados e formatados para
agradar ao chefe? Os eleitores entrevistados acham que se espera deles, apenas, que digam o
adequado, e nada mais.
       Sugiro que Dedé, Tutu, Chichi, Mamá (hoje, devidamente defenestrada) e VemVem (poeteiro
dos quatro costados), se considerarmos a notória disparidade entre o que fazemos e o como
narramos nossas ações, comecem a explicar por que o Honrado Senhor não pode falar nada sobre


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Crônicas Agudas

Nepotismo e é, despudoramente, censurado em suas idéias. É mais simples do que conspirações
comezinhas de fundo de sala.
     Mas, nada disso existe. É tudo ficção e temos que acreditar que tais personagens inventadas
pela mente insana do ficcionista não passam de fantasmas, abantesmas, espectros ficcionais sem
serventia. Nem um deles cheira à mínima verdade.
     Mas, como eu disse: Tudo é ficção. Fingimento. A verdade é que às vezes eu minto.




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Crônicas Agudas




                   O ANALFABETO FUNCIONAL

       O Analfabetismo Funcional é problema que afeta o país. Sabem ler, escrever e
contar, ou assim parece; ocupam cargos administrativos, cargos legislativos, transformam-
se em excelências e edis de roupa nova, mas não conseguem compreender a palavra
escrita. Um texto passa batido e a interpretação é coisa do arco-da-velha ou da arca-do-
velho. Nada de tapar o sol com a peneira. Queremos gente com discernimento.
       Bons livros, artigos e crônicas, nem pensar! E, sendo assim, como escrever boas e
inteligentes leis? Como interpretar escorreitamente uma lei? Não basta citar Platão com
frases escolhidas na net. Isso demonstra o descaso com a educação. É fazer mofa.
       Em 2008 houve eleições para prefeitos e vereadores: casos de analfabetismo
funcional dentre os candidatos. Será a vez da cidadania se manter vigilante e atenta para o
nível dos políticos que ocupam prefeituras e casas legislativas. Para mais detalhes sobre
esta importante alteração na legislação eleitoral, visite www.avozdocidadao.com.br e veja
o link para a íntegra do parecer que decidiu pela constitucionalidade do projeto. Aí
evitaremos o que finge entender tudo, para depois sair perguntando aos outros como deve



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Crônicas Agudas

ser realizado tal serviço, como deve ser lida tal lei, como deve ser endereçado tal carta. E
quase sempre age por tentativa e erro.
       Calcula-se que, no Brasil, os analfabetos funcionais são 45% da população
economicamente ativa. No mundo entre 800 e 900 milhões. Muitas vezes, pessoas com
menos de quatro anos de escolarização; nos dias hoje há secundarista que dá medo de tanta
parvoíce; há os com formação universitária e exercendo funções-chave em empresas e
instituições, tanto privadas quanto públicas! Tais pessoas não têm as habilidades de leitura
compreensiva, escrita e cálculo para fazer frente às necessidades de profissionalização e
tampouco da vida sócio-cultural. E quanto a lidar com leis e diretrizes que influenciam na
vida de todas as pessoas da cidade? Ou será que a limitação é proposital para facilitar a
influencia, somente, na sua própria vida? Quem sabe? Se você não lê livro algum no ano
inteiro já é um suspeito. O "Calcanhar de Aquiles" de tantas organizações e de tantos
governos: MAUS LEGISLADORES.
       O que a população ganha com isso? Nada! Principalmente se der as costas ao
problema. Se você é desses que aceita o caso passivamente, não há do que reclamar.
       O termo analfabetismo: a incapacidade de pessoas utilizarem a leitura e a escrita,
além de realizar cálculos básicos, em atividades da vida diária que requerem tais
habilidades. Estudiosos têm dirigido esforços para estabelecer conjuntos de tarefas
socialmente relevantes em que se utiliza material escrito e, a partir deles, dimensionar e
analisar graus e tipos de “alfabetismo” que caracterizam pessoas ou grupos.
       A partir de 1978, a UNESCO adotou o conceito de analfabetismo funcional, que se
refere à pessoa que, mesmo sabendo ler e escrever algo simples, não tem as competências e
disposições necessárias para fazer da leitura e da escrita um dos instrumentos de seu
desenvolvimento pessoal e profissional. Ora, sabemos bem que uma casa de Leis depende
disso. E se tem uma e outra pessoa que domina a arte, ou mesmo um secretario capaz, fica
clara a dependência da mão do gato. Quem é mais esclarecido impõe o seu poder e seu
domínio. Por isso, dá até para contar nos dedos quem domina e quem ajoelha.
       Nas eleições de 2006, havia 770 candidatos que sabiam apenas ler e escrever ou
tinham ensino fundamental incompleto, ou seja, que poderiam se enquadrar nas condições
de analfabeto funcional. Eram 4 para governador, 3 para senador, 179 para deputado
federal e 584 para deputado estadual ou distrital. Quando o candidato não sabe interpretar
o que lê não sabe, ao certo, o que vai no estatuto de seu partido.
       Mas, como comprovar o nível de escolaridade de um candidato sob suspeita?
Atualmente, a alfabetização do candidato é provada por uma simples certidão. Com a


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Crônicas Agudas

regulamentação, o juiz eleitoral poderá impugnar ou não uma candidatura através do laudo
de uma comissão formada por pedagogos e professores de matemática e português que
sabatinará o candidato.
       E aí? Tremeram na base? Se as pessoas fazem curso de noivo para casamento por
que é que o candidato não precisa passar por uma sabatina prévia? A partir daí, se for
ocaso, nem precisa se candidatar. Poupará seu dinheirinho. Poupará o ouvido alheio e as
casas legisladoras serão mais independentes.
       É isso. Boa semana. Ouçam as gravações das sessões da Câmara de sua cidade e
atentem para as pérolas oratoriais.




              O ATOR E O RETORNO DA MORTE

______________________________________________________________________
Instala-se (Freud) o conceito de pulsões. Pulsão de vida e pulsão de morte. Conceitos de
origem nos campos do id – inconsciente – e se projetam ao longo da vida. Platão já dizia
que Filosofia é uma preparação para a morte. A morte física? A morte com superação de
etapas? A preparação para a morte do entendimento sensível (daquilo que se sente
materialmente, tato e similares)? A entrada no campo metafísico ( o que vai além da física
ou do físico – oi conceito de quanta será metafísico)? Mas Platão não gostava de teatro por
não ter entendido o sentido da representação. Teorizou muito sobre música e já dizia que
para dominar um povo basta dominar sua música. A partir dessa frase platônica, O que
pensar da música – ou atitudes - importadas? Qualquer uma: rock, hiphop, sinfônicos
alemães, óperas italianas... Teria que esperar Freud.
Essa morte prevista não é aquela dos filmes de terror nem das dos desenhos animados em
qe uma panelada na testa desmonta a pessoa – personagem – para remontá-la logo em
seguida. Trata-se do caminho natural de um corpo que tem história de começo/meio/fim, e,
se direciona para este fim desde que nasce. A pulsão que busca o retorno à Natureza é


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Crônicas Agudas

TANATOS. Tanatos é idealização daquilo que é inarticulável em linguagem... daquilo que
não dá para falar...    O corpo humano que nasce/vive/morre busca voltar ao pó...
homem/húmus/humanus/manus/mão/artífice... barro (aglomerado de átomos)            de onde
partiu aquele ser biológico que age e não pensa na conseqüência, fingindo que pensa. A
propaganda da TV afirma que ele pensa e este humano acredita nisso piamente, mas,
depois da panelada o ser humano desarticula sua memória.
O corpo biológico nascido de genótipo se torna fenótipo (que é a relação com mo meio
ambiente), depois, ser social que interage com a civilização construída. Este corpo vai
também construir a sua parte na civilização (mesmo que seja destruir). Interfere na
civilização que herda ao nascer. Daí o mal-estar na civilização; inserir-se neste contexto
não demandado mas, obrigatório ao nascer, não demandado, repito, é abdicar do estado
natural segundo Rousseau. Sair do estado natural para um não-natural – civilização / kultur
- é de negar seus mais escondidos desejos; é ser civilizado e cair num estado de mal-estar
constante. Nostalgia do nada. Tristeza por coisa alguma. Bachianas nº2. Rebeldia sem
causa. Ter saudade do momento que não viveu.
Assim subamos ao palco para reviver? Re-presentemos ou seja, colocamos de volta no
presente aquilo que nos tocou? Lázaro redivivo? Quando Lázaro saiu da cova fedia à
morte ou lavanda?
Ainda Freud: do binômio civilização-renúncia pulsional, como forma de constituição do
laço social, diria respeito a uma forma universal de cultura; a defesa da concepção de
cultura marcada pelo projeto iluminista-humanista do domínio da natureza pela razão;
trata-se de   falácia gigantesca, pois, enquanto o ser humano interfere na natureza
(eufemismo para CONTROLA a natureza ) o ser humano altera seu status na própria
Natureza, excluindo-se como item do equilíbrio ecológico. O ser humano é alienígena em
seu próprio planeta ou será só alienígena?
O retorno ao estado natural do mundo será através da eliminação do ser humano como
corpo estranho que causa a infecção. Deve ser extirpado.
O mundo é palco. A cultura é uma peça que se desenvolve nesse palco. Há muito
improviso. Tem muita gente que nem percebe que atua.
Todas as observações acima se calam quando se recebe muito bem e se trabalha na Rede
Bobo.
Quando atriz/ator irrompem no palco acabam por negar a pulsão de morte e revitalizam,
através da personagem, a existência de uma nova história a ser contada, de uma nova bio,
de uma nova zoe. Atriz/Ator rompem com o ciclo que leva à morte e rasgam o véu da


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Crônicas Agudas

neurose, desencadeando a catarse que se quer. A ficha que cai. A idéia que se propaga. A
sensação de Eureka. Mas, apenas sensação.
Dois conceitos ainda a serem pensados e trabalhados: Antiédipo: quando a mulher assume
seus papéis (que não fazia no começo do teatro) / e fim da pulsão de morte, mesmo que
sobre o palco.
No palco negamos a morte e consideramos o eterno repetir. No entanto a cortina se fecha
no final, mas se abre no momento seguinte. As cenas querem repetir o quotidiano ou o fato
ou o evento, mas sempre repetir e por si só repete o mesmo de si, a cada dia de
apresentação. No entanto, a cada dia de apresentação o repetido não é tão o mesmo. Tem
pequenas mudanças.
Há na música minimalista tensões desse tipo. Pequenas células musicais que se organizam
e mudam sempre; sempre alterando algo no ritmo, na ordem, na posição ou ainda no
instrumento que toca o trecho. Se forem vários instrumentos teremos universalidade de
informações.
Bob Wilson usa tal recurso em seu balé no teatro. Uma única coreografia que todos
aprendem. Mas, como cada um dos cinqüenta executantes a realiza em momento diferente
e em posição geográfica muito variada, iluminado por luzes diferentes a realização se
torna caleidoscópica e multiplica a visualização com pequeno esforço. Sentimos que tudo
é diferente.
Atriz/Ator repetem sua cena a cada dia. A cada dia a mesma cena muda. Um trejeito ali.
Mudança no passo. Na velocidade da fala. A cada dia quem a vê a vê diferente, por ela
(pela cena) e por si mesmo (pessoa pensante). A pessoa que vê a cena ganha, a cada dia,
mais conteúdos e seu olhar muda sobre a cena. A repetição se dá dentro do episódio do
acaso. A cena realinha os conteúdos da pessoa/platéia.
A peça civilizatória, ou o papel que a sociedade impõe e que a população assume é mal
teatro. As peças sobre o palco tentam organizar a civilização, não com o fito de controlar a
civilização, mas com interesse de esclarecer ou iluminar pontos – AUFKLARUNG.
Quando a platéia se emociona é por que percebe que mal decorou o texto ou que mal
improvisou, sempre fora do tempo ou do sentido. Começa que o DRAMA é o movimento
da coisa e as pessoas se limitam a permanecer sentadas, imóveis, absorvendo sem
participar. É a tradição reinstalada.




                                                                                         55
Crônicas Agudas




              O PROCESSO DE IMBECILIZAÇÃO
                               - ou, LIVRE ARBÍTRIO ZERO –


       Leitores: Seguem links que recebi do Murah Azevedo sobre o programa da BBC
de Londres (sem legenda) chamado The Century Of The Self. Vale a pena conferir. Ou
melhor, não há pena nem dor alguma. É um prazer saber que algumas pessoas continuam
com a razão e pensam por si, enquanto outras penam por si.
       Happiness Machines http://www.youtube.com/watch?v=3dA89CBBOC0 / The
Engineering… http://www.youtube.com/watch?v=H9RfanOEpA0&feature=related / There
is a Policeman http://www.youtube.com/watch?v=AzE9ocIGVlQ&feature=related / Eight
People...http://www.youtube.com/watch?v=R1VJrp0IvPs&feature=related.
       Tratam de séries da BBC que revelam como o sobrinho de Freud (Edward Bernays)
usou as idéias, e, técnicas do titio para se tornar milionário como Public Relations. PR do
planeta, e, das grandes corporações, usando a manipulação da mídia estadunidense no
início do século XX para, em nome da "DEMOCRACIA" controlar as massas, tornando a
todos "Homer Simpsons ictéricos e decadentes"; pessoas consumistas de lixo material e
imaterial de então e, por conseqüência do processo, de hoje... Bernays cunhou o termo
PUBLIC RELATIONS porque o verdadeiro e apropriado termo "PROPAGANDA" já




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  • 2. Crônicas Agudas Direitos de Cópia para Cecília Bacci & Guilherme Giordano ceciliabaccibscm@yahoo.com.br menuraiz@hotmail.com ALTERN EDITORA ALTERNATIVAMENTE produtoresindependentes@yahoo.com.br TIRAGEM 8000 POR E-MAIL DOWNLOAD EXCLUSIVO http://www.paginadeideias.com.br Coleção BROCHURA / PDF / ESPIRAL Capa COELHO DE MORAES coelhodemoraes@terra.com.br Cidade de Mococa Abril – aniversário da cidade São Paulo 2010 2
  • 3. Crônicas Agudas À GUISA DE APRESENTAÇÃO & PREFÁCIO Cumprimentos a todos. Meu nome é Marco Antonio Coelho De Moraes, venho a estas páginas (PÁGINAS DE IDEIAS do amigo Scarparo Maciel), e venho escrever sobre assuntos pertinentes ao fazer da arte e suas derivações, às vezes não tão artísticas, abrangendo a cultura entre laços e gravatas e sorrisos de quem não sabe o que faz, mas quer assim mesmo sentar na cadeira do cargo. Antes de tudo digo que a família por parte de meu pai vem de Arceburgo e Milagres e Guaxupé e Monte Santo, e do lado materno vem de São Paulo e vem da Mooca. Mococa e Mooca. Sempre pareceu um sinal. Um signo. Uma profecia. Estudo música desde os 10 anos de idade e comecei na classe do Professor Olímpio, no Conservatório Santa Cecília. O Conservatório ficava sobre o Cine Moderno, na Rua da Mooca, depois passou para um prédio novo na Javary. Meu primeiro acordeon foi um Scandalli italiano. O velho acordeon de tangos e boleros na Mooca. Depois entrei para o Conservatório Dramático e Musical de São Paulo na avenida São João. Fiz composição e regência, estudos complementares de encenação teatral e produção videográfica; compus várias obras em formato de musicais cênicos, além de obras para Coro, Grupos Sinfônicos e Câmera. Venho fazendo isso com mais assiduidade após o advento da informática que facilitou a escrita. Produzimos mais. Em 1996 Mococa estava dentro de si e aproveitou a oportunidade para me chamara a dirigir a Escola de Música Euclydes Motta. Durou somente o sonho de 96 e resíduos oníricos posteriores, pois a cabeça dos governantes seguintes não acompanhou a modernidade. Mesmo assim eles se acham os tais. 3
  • 4. Crônicas Agudas Atuei, desde 2007 como Coordenador de Cultura da FATECmococa (cineclubismo e cinema) cujo périplo de aço finalizou em 2009, isso, dez anos depois de uma ação cultural que alterou o pensamento de Arceburgo no ano de 1997. Lá nas Minas Gerais formara-se a Escola Municipal e Artes Dramáticas e Musicais – EMADMA - que durou um ano, também. Faltou inteligência e tino político. Parece que essas duas virtudes nunca andam juntas. No mesmo formato e seguindo a mesma dissociação de virtudes acima dirigi, como já dito, a Escola de Música Euclydes Motta, em Mococa, traçando a sua proposta pedagógica, mas isso de nada adiantou pois de pedagogia não há prefeito que entenda. Prova-se que quem veio depois não tinha mesmo competência para dirigir nada e a escola estagnou-se. Escola estagnada significa criação e inteligência estagnadas. Cidade pobre de espírito. Talvez ganhe o reino dos céus, mas se depender do andar da carruagem e do Papa, sei não... Trabalho em 2010, no segundo ano, com o CORO DA MOCIDADE, que já é grupo de canto coral em ação. Ela se estabelece na Mocidade Espírita de Mococa – a Mem. Dirijo a PRODUTORES INDEPENDENTES – PI, que é uma empresa muito livre para produção artística em geral (música, vídeo, literatura, teatro, gravação de CD, gravação de Vídeo e Kinemática Aplicada); dirijo, ainda, o TEATRO POPULAR DE MOCOCA - que homenageia um dos nossos grandes artistas cênicos - ‘ROGÉRIO CARDOSO’. O TPM já montou para mais de 25 peças em 13 anos de trabalho na região. Ganhou prêmios. É grupo respeitado. A outros trás o despeito pois ele faz, enquanto os outros olham. Em Março de 2009 estreou “NIETZSCHE NO PARAÍSO”, com textos do pensador Nietzsche. Em Março de 2010 estreou A MORTE BÊBADA DA MORTE”, com textos de Miranda Junior e Woody Allen. 4
  • 5. Crônicas Agudas Em 2009 foi grampeado pelo judicioso Diretor de Cultura de Plantão e sua dentifrícia esposa, mancomunados com as bandas de além. É sempre assim, não ganham na competência, mas querem ganhar no tranco e no barranco. Além disso, possuo uma discografia que alcança 9 CDs já gravados e lançados, dirigindo vários grupos entre Rio, São Paulo e Minas Gerais. Trata-se muito de música instrumental contemporânea. Execução completamente virtual, ou seja, música eletrônica, pois é uma obra cibernética, através da ORKESTRA LIVRE, seguindo alguns caminhos do mestre Gismonti. Mas, em meados de Abril deste ano de 2010, a Orkestra Livre retoma ensaios e prepara sua temporada de concertos. E na vertente do mestre Allen, a videografia não é deixada de lado tendo a INDÚSTRIA DO VÍDEO como executiva das obras de curta, média e longa metragem e cursos curtos. Algumas das obras vão para Festivais e Mostras, outras seguem através da Internet, no espaço cibernético que nos envolve (YouTube, Sapo, Videolog e quejandos). Não contente com a lerdeza que impera na região, participei da montagem de uma Incubadora Cultural em São João da Boa Vista. Dela fui presidente em duas gestões. 2004 a 2008. Por outro lado, e afeito a essas coisas da mente, em 2009 eu exponho a graduação em Filosofia e formação em Psicanálise. Terminada a preparação em 2010 eu me apresentarei à sociedade, a partir de Maio vindouro com mais essa vertente de trabalho. É o velho interesse na alma e espírito humanos que se desenvolvem na arte. A psicanálise, a musicoterapia e a homeopatia. Pensamentos livres e profissões libérrimas. É assim que gosto. Isso se a arte permitir e folgar um tempo. Veremos. A arte tem dessas coisas. A arte exige essas coisas. Não fosse assim e não tendo mais nada que fazer, eu fabricaria gelatina e ficaria a pregar placas de lata nas paredes ou me sentaria feito índia na porta do Teatro impedindo a passagem.. Por ora ficam votos de sucesso, vida longa e prosperidade. 5
  • 6. Crônicas Agudas 6 POR MEIA DÚZIA Ou de como – democrática - a Cultura é para qualquer um De cada vez que escrevo posso ser avaliado como aquele que é convencido ou arrogante, ou, aquele que tem dor de cotovelo. Sendo assim nunca escapo desses epítetos lançados a esmo. Sendo assim, continuo escrevendo e dou de ombros, cabelos ao vento. Numa olhada superficial sobre a situação da Cultura vemos que nela – como instituição burocrática ou departamental – cabe qualquer tipo de gente, de qualquer profissão, mesmo os ignorantes. De outro lado temos bons exemplos: No Departamento de Educação a diretora é Docente. No Departamento de saúde é Médica. No Departamento de Agricultura – por bem ou mal, que o digam os funcionários – é engenheiro agrônomo. No Barracão encontramos gerentes com bom trabalho. No Departamento jurídico há advogados. No Meio Ambiente é engenheira ambiental. Agora, no Departamento de Cultura a profissão pode variar. Essa poesia, pobre por sinal, nunca deu rima. Ora, o histórico dos diretores do Departamento de Cultura deixa a desejar ou dá pano pra mangas, ou dá jorros de risos: já foi mulher de delgado, comerciante, juiz, dentista, advogado... Realmente, é um departamento onde qualquer um pode obter guarida para seu sonho delirante. Tentar ser o que não é. Nem precisa ter perfil de nada. Hiphopistas 6
  • 7. Crônicas Agudas anacrônicos, diretores de trem da alegria, responsáveis pelo bilhete de entrada, dançarinos de aluguel, enfim, não precisa lidar diariamente com a matéria cultura, basta ter um sonho. Nem precisa conhecer quatro idiomas e nem ter produção em vídeo/música/teatro, ou seja, produção na área artística, no mínimo. Basta ser curioso(a). Ser curioso(a) e se apoiar na sapiência dos funcionários que lá militam. Não de todos... pode se dizer que os funcionários da CULTURA é que são os bons do pedaço. Não todos... Resolvem tudo. Não todos... Que seria das cidades sem seu folclore? Mas saibamos mais sobre um conto de certa cidade interiorana... uma lenda urbana de terror, nesse caso... A dentista é esposa do juiz e, por negociatas espúrias, assume o posto do marido – não o do Fórum, mas o posto da Cultura. Parece que o fenômeno é monárquico. Provavelmente, daqui a seis meses, quando a dentista sair entrará o filho mais velho e assim por adiante, até alcançar a petizada. O Departamento de Cultura, repetindo os erros de sempre, é a moeda de troca das articulações... o caminho parece ser esse. Também... para que cultura? Ou entrará outro qualquer. Basta ter um sonho... não precisa de projeto. O Figó de má memória dizia: - Quando ouço falar em cultura já puxo o revolver. E, o que é cultura afinal? São os eventos que se perdem com o vento? São as solenidades com hino e pose de estátua deselegante? O que é isso, afinal, cultura chamada? É aquilo que se aprende na escola e nunca mais sai da cabeça ou justamente o contrário? Kultur é a civilização e tudo o que nela couber. Portanto a cultura é a mostra da nossa cultura, a representação de tudo o que foi construído em choque com a Natureza, a civilização que construímos. Quando o prefeito escolhe um Assessor de Imprensa que não é do metièr, mas que serve para compor com a aliança de partidos da campanha, é parte da cultura. Estão fazendo cultura. De mau gosto, mas sempre cultura. Quando o prefeito elege um engenheiro bom na tecnologia para tratar das coisas do campo, mas, muito ruim no trato pessoal e com seus assessores, fabrica-se cultura. Quando o prefeito põe dentistas para cuidar da cultura, faz cultura no mal sentido; continua sendo cultura, mas cultura pífia. Se fizer tudo isso, sem consultar o partido, tratando-se de política e, portanto, de ação clandestina, produz a cultura do autoritarismo, do eu-achismo. Escolhas pessoais? Escorado na desculpa de trabalhar com gente de confiança, sugere-se que os outros não são de confiança ou não têm competência para atuarem naqueles espaços. Esse último item – da competência - não é, parece, o que pesa. Por que se assim fosse a cidade teria mudado qualquer tanto e nada aconteceu. O adversário, por exemplo, pode ser uma pessoa de confiança, contanto que faça 7
  • 8. Crônicas Agudas parte do perfil de governo do chefe do executivo. Em suma... burlou-se o estatuto. La nave va. AGENDA BÁSICA que dou de bandeja: Uma ginkaninha ou férias coletivas em Janeiro (teatro fechado?) já que não há nada para fazer mesmo / preparação para carnaval em Fevereiro / desculpa das chuvas em Março / Abril, aniversário da cidade com Sandy-sem- Junior ou o inverso / Maio do trabalhador e das galinhas e do alface, plus, dia das mães/noivas/santas/mulheres que desmaiam em Maio / em Junho as festas juninas travestidas de folclore (evangélicos acham isso coisa do capeta, portanto vade retro) / Julho fica por conta da SUM / Agosto deve ter alguma gripe (a asinina) ou a canina de algum cachorro louco, para variar, e adiarão qualquer evento (adiar é o que fazem de melhor) / em setembro mês das flores e talvez alguma coisa que foi adiada do mês anterior / o salão do bruno? / o dia do folclore? / o dia de geléia? / vamos colar alguma placa de lata na parede? / em Outubro usarão as crianças como escudo, e, desculpa para teatro infantil de baixa qualidade apoiada nos vassalos de plantão e nos bolos expostos ao sol com que alimentarão a patuléia pobre / já se encontram sob a mesa à espera das migalhas boquirrotos abertos para o alto / Novembro podem comemorar o meu aniversario que não ligo / e Dezembro um grande suspiro, pois, finalmente o (c)ano acabou = FALSA CULTURA. O Teatro Municipal da cidade fictícia foi aberto. Mas não parece. Falta o porteiro. A porteira que lá está de nada entende e diz que os eventos se darão na cota de um por mês. Sábia como tantos já traçou a agenda paupérrima. Sabe por barreiras, levantado as mãozinhas para o alto e dizendo: - não me passaram... isso não sei! Aliás parece que esse pessoal da cultura sempre levanta as mãozinhas para o alto. Será que vivem em algum assalto constante? Que mais... Tem um piano para consertar. A bagatela de 30 mil reais que a cultura do (des)governo anterior deixou escapar pelo mofo das chuvas. Mas, quem liga? Nem todo mundo toca piano e faz lasanha ao mesmo tempo. Tem refletor para comprar. Tem agenda para montar. Tem auditoria para fazer. Ah! AUDITORIA! O trauma dos covardotes de plantão: 1) Quem permitiu que o piano se estragasse sob as águas, após as reformas que eram para solucionar o problema do telhado – contra chuva – e, sistema elétrico - contra curtos -, sabendo-se que tal reforma não resolveu nada disso? 2) Quem permitiu – do alto de sua autoridade - que a Câmara (sempre a Câmara que deveria ajudar) levasse na mão, na rua, na calada do final de semana, as peças milionárias do Museu de Artes Plásticas para os subterrâneos do Gabinete, incluindo as obras do Brunão? 8
  • 9. Crônicas Agudas 3) Faltará alguma peça? Faltará refletor? Faltará lente? Faltará algum Manezinho Araújo? Onde as poltronas do hall? Onde o cortinado adequado e não a porcaria pendurada? Tudo isso é patrimônio e dele ninguém dará conta? Por que alugar mil vezes aparelhos-de-sons suspeitos se basta comprar uma só vez quase que pelo mesmo preço a mesma coisa? Curiosidades. E retornando ao primeiro parágrafo: Se CULTURA serve para qualquer um, certamente não serve para mim, por motivos óbvios. 9
  • 10. Crônicas Agudas A Alma Platônica Platão diz que o homem – ser humano ou homem gênero? - é a sua alma e que apenas pela alma é possível ao homem conhecer a verdadeira realidade, ou seja, o Mundo das Formas. Isso é opinião lá dele pois para mim a realidade é esta que vemos e tocamos. A primazia, portanto, no pensamento platônico é da alma em relação ao corpo. Mas, de onde ele tira essa idéia, uma vez que os Pré-Socráticos se debateram em demasia para explicar a Physis – natureza – através da racionalidade? Se alinhavarmos o pensamento dos filósofos daquele momento, veremos que Platão faz um retorno ao Mito, apenas trocando o nome de Zeus para Demiurgo, por exemplo. Demiurgo ou Daimon, a entidade que plasma a matéria dando ordem ao universo. A Psicologia platônica – se podemos dizer nesse sentido sem ofender ninguém - tem intenções éticas: provar a necessidade de controlar as tendências instintivas do corpo; não há referência alguma de que isso é um mal, em si; garantir uma retribuição futura àquele que procura a justiça - ir para o céu e se dar bem – devendo-se entender que justiça, na Hélade do século V a.c, nada tem a ver com a 10
  • 11. Crônicas Agudas noção atual de justiça: mulheres, estrangeiros, escravos e crianças, não passavam de meros complementos da vida do homem ateniense, por exemplo. Então, quando Platão fala do homem, está falando do homem mesmo. Essa chamada psicologia possui também intenções gnosiológicas: estabelecer a possibilidade de um conhecimento do Mundo das Formas, ou das Idéias. E isso é uma sacada platônica sem base alguma na racionalidade. Se Platão sugere que o mundo sensível – esse mundo que podemos sentir e pegar – gera o imaginário, certamente ele usou deste estratagema para esboçar o seu mundo das idéias. Inventou e Fantasiou e ainda disse que não. A alma platônica é simbolizada por um cocheiro conduzindo um carro puxado por dois cavalos alados. A alma racional (Nous, Logos), simbolizada pelo cocheiro, é imortal, inteligente, de natureza divina e situada no cérebro. A alma irracional (Thymós), o cavalo branco, é fonte das paixões nobres; é mortal porque é inseparável do corpo, estando situada no tórax. Como é que o Platão sabe certinho onde está localizada a coisa, não é? A alma apetitiva (Epithymía), simbolizada por um cavalo negro, é fonte de paixões pouco nobres; é mortal porque também é inseparável do corpo, estando situada no abdômen. Fica evidente, através da metáfora, que esta estória do Platão é tão fantástica, ou, tão real, quanto falar que o fogo de Zeus deu vida aos humanos (húmus) de barro moldados por Prometeu. Se podemos acreditar em uma estorieta, podemos acreditar na outra. Um certo Demiurgo (sacado da imaginação fértil do nosso filósofo) criou a alma racional – criou por que quis ou foi algum acidente, algum acaso? - com os mesmos elementos da Alma do Mundo, por esse motivo ela é imortal e tem caráter divino, ou seja, tem algo do Mundo das Formas. No entanto é cópia e vale menos. Esse algo semelhante ao mundo das Formas permite que a alma entre em contato com o Mundo Inteligível (das Formas ou das Idéias). Relembre. Se a alma relembra (anamnése) é por que guardou em algum lugar o que deve ser lembrado, e, nesse caso, Platão é obrigado a lançar mão da sabedoria hindu e clamar pela 11
  • 12. Crônicas Agudas Metempsicose, ou seja transmigração das almas de corpo para corpo. Sócrates ainda diz que se o cidadão não se comportar convenientemente voltará em algum corpo de menor valor como por exemplo no corpo da mulher, do escravo, de uma ratazana ou rabanete... ou de algum diretor de cultura. Segundo o mito de Demiurgo – sim, Mito, retorno ao Mito - quando não explicamos, inventamos o mito para acreditar na estória, então, em determinado grau de necessidade, passamos a ter fé - que é diferente de saber, pois é possível ter fé até naquilo que nem existe; mas, voltando ao mito, as almas recém criadas conduziam seus carros pelo mundo celeste – tal é a fantasia de Platão que ele chama de pedagogia, ou metáfora para ensinar -, e era permitido, a elas, olharem para um plano superior (o das Formas ou Idéias). Cabe perguntar: permitido por quem? Pelo Demiurgo? Pelos deuses? Pelo Daimon? Embevecidas com o brilho, beleza e perfeição das Formas ou das Idéias – brilho, beleza e perfeição são valores relativos e depende de quem olha e analisa -, os cocheiros perdiam o controle de seus carros (que é um acontecimento casual, acidental, ocasional) e, não conseguindo dominar os cavalos, caíam no plano da Matéria ou plano Sensível. Lembremos que a queda dos anjos e mensageiros já faria parte da cosmogonia de hebreus e cristãos, posteriormente. Os cavalos, símbolos das paixões e associados ao corpo são grandes estorvos para o cocheiro, impedindo-o de contemplar as idéias, arrastando-o para baixo e fazendo-o cair para o mundo corruptível da matéria. Ou seja, contemplar as grandes idéias ou Formas não basta para se livrar das torrentes de paixão. Vemos que há uma tendência de transformar tudo o que é matéria em coisa corruptível. Ninguém quer aceitar que essa é a condição da matéria – ser corruptível (nascer, existir, morrer) e não engendra nenhum pensamento de que deva existir algo perfeito em contrapartida. A matéria é o fundamento do Universo. Mesmo o que chamamos matéria será energia em algum momento e essas duas situações são intercambiáveis. Alguns cocheiros puderam ver mais e melhor o Mundo das Idéias (puro acaso), antes da queda (outro acontecimento casual). Por esse motivo, 12
  • 13. Crônicas Agudas algumas almas são mais sábias, estão mais próximas da Verdade. O Filósofo é um cocheiro que viu mais sobre o Mundo das Idéias, fato que sugere mais um acontecimento casual. Como o acaso toma parte especial em todas essas estoriazinhas, não? Platão, não contente, ainda complementa: “O melhor que pode acontecer a um Filósofo é morrer, porque ele retornará ao Mundo Inteligível (das Formas ou das Idéias) e poderá contemplá-lo plenamente”. Nirvana? “A Filosofia é uma preparação para a morte”? 13
  • 14. Crônicas Agudas A MORTE DO JORNALISMO? Na escola se aprende a forma, o número de toques, aprende-se a digitar, aprende o “que, quando e como”- que hoje é usado para desvendar a rotina das celebridades. Nada mais do que isso. Nada mais “IN”. Os jornalistas que levam tais matérias se acham muito “IN”? Só se forem INsano. Se chamar atenção para o jornal depender disso, o título da matéria está correto. Morreu mesmo. Em grande percentual o jornalismo trabalha com as noticias de novela, as surpresas do capítulo futuro, bundas na revista Caras e marcas de geladeira. Em verdade, em verdade vos digo que estão muito dominados. Jornalistas, com a desculpa da sobrevivência, limitam-se a montar jornais de propaganda. Acho que não devem sobreviver, mesmo. Dominados pela moda, dominados pela mídia MAJOR, dominados pelo chefe ou chefa – cujo olhar não vai além do nariz – morrem pelos cantos. Os anos acadêmicos de nada serviram. Não se forja um jornalista na escola, apenas se o aparelha. Escrevemos. Contamos causos. Somos faladores e escritores contumazes. Noticiamos na fofoca ou na mensagem pela NET. Não adianta 14
  • 15. Crônicas Agudas espernear, nem fazer um quadrinho do diploma e esfregar na cara do resto do mundo. Esse quadrinho nada vale. Esse quadrinho é biquinho. Biquinho de quem choraminga. O que vale é o talento, sempre. Somos e geramos e editamos notícias e muitos viverão disto, com ou sem diploma. O que temos que discutir é a revolução que as novas mídias trouxeram pra o modo de pensar do cidadão. Isso sim é importante. É ir além. O que muda nestes tempos? Onde os veículos se rediscutem em formato e tendências? Porque o jornalismo das grandes redes faz só fofoca? Devemos dar canudos pra fofoqueira do teu bairro, então? Quantos dias faltam pra morrer o jornal impresso que não passa de fetiche? O de Los Angeles já foi. Tem a ver com a morte da qualidade na grande imprensa? E, o Maiquel Jéquiço, foi enterrado ou não foi? Bia Werther diz e muita coisa deste texto é baseado em seus escritos: “A revolução na notícia se dá quando ela transcende o furo do dia e vira história, não apenas manchete lavada no papel reciclado de amanhã”. Daí a MORTE DO JORNALISMO. Desde os anos 70 se previa que manifestações como ARTES DAS RUAS e NOVAS MIDIAS fariam aparecer a voz do humano comum. E, o humano comum, nunca teve a palavra para si. Sempre falam em nome dele. Padres, pastores, vereadinhos de plantão, deputadinhos, seniladores com dores e artralgias crônicas. Enfim, autoridades. A pessoa comum, quando fala, fala de acordo com a moda, como manda o figurino, para que o editor não corte a fala que “pega mal”. E cineastas vários previam as religiões eletrônicas e a morte dos livros. Ninguém deu trela. Era mais um programinha para se entreter enquanto a diaba Xuxa fazia das dela com a teta na cara das crianças. E quem pode afirmar que responder a pergunta ainda não formulada não é jornalismo? Sim... sim... a pergunta! Sem o “como quando onde porque” sagrados? E não somos jornalistas? Da fofoqueira ao dono da padaria. O que diz Bia Werther?: “Acaso a diferença não se apresenta na editoria da matéria, mais ou menos livre, tendo cada um a sua tendência? O limite das laudas, o conceito de furo, o furor, o caixeiro viajante da notícia”. Há necessidade do papel, ou 15
  • 16. Crônicas Agudas basta um PDF pela rede? Pode ser documentário em filme? Em vídeo? Através da TV? Pode ser um Messenger? Blogs e novas mídias são o meio do futuro/hoje. Abram os olhos por que o futuro é esse que você vê passar pela janela. Na verdade o que não existe é o hoje. Se você não tem acesso à mídia informatizada é por que os poderosos te querem alienado. Pau neles!! Gay Talese falava do “noticiar o humano comum”, coisa que a imprensa do formato quadrado – tradicional - diz que é um jornalismo de vanguarda. Falar do humano comum pode ser o caminho para falar da Cultura da Paz. As margaridas do campo não são motivo de notícias, mas as mortes e o sangue alheio são. Esta é a opção que temos? Será que você leitor não entende que precisa de um analista urgente? A PolitiCanalha não fará a sua parte ou teremos que ensinar, mais uma vez a essa gente que não sabe ler, não sabe interpretar, não sabe entender, como se deve legislar? Ocorre que escrevemos as novidades; contamos a história do nosso tempo. Muita vez nos repetimos. Quem vai impedir? Terei que andar com um plástico no carro dizendo: “Não faça história antes de consultar um jornalista?” O que fazer com os blogueiros diários? Não são milhares deles jornalistas – pois, diários - sem canudo? Como regulamentar, como impedir alguém de publicar o que quiser, quando quiser? Para ser escritor tem que ter diploma, também? Estamos em meio a milhões de notícias do ser humano comum que não tem nenhum destaque na grande mídia e não dá matéria aos olhos da imprensa que já não vende tanto jornal como outrora, a não ser que Obama olhe Obunda da brasileira. É preciso canudo pra noticiar isto? Ninguém perde o emprego de jornalista se for bom. Se tiver tino. Se tiver talento. Mas se é tão importante, pombas!, enquadrem o canudo! Que a moldura lhe seja leve. Títulos, e mais títulos, e, que tais, que moldam e formatam a figura da autoridade no assunto. Na vida real a mudança permanece e o ser humano, sem canudo, continuará com suas mensagens, seja ele médico, músico, filósofo, artista plástico, ou açougueiro, escrevendo, cantando ou gritando na rua, batendo a 16
  • 17. Crônicas Agudas claquete, pintando o muro. Jornal de bairro, Fanzine, Rádio, TV comunitária ou não, Blog. Porque quem tem o que dizer arranjará uma folha de papel, higienizado de preferência, um microfone e mandará ver. E se for bom, vai viver disto. Profissional. E dane-se o resto pois, o resto é restolho do restolhão, com precariedade de talento e falta de mufa pra queimar. Novamente Bia Werther: “E afinal, quando os jornalistas, que deveriam ter a cor da novidade, se assustam com o novo é que, realmente, a morte é iminente. Mas morte é só vida. Mil novas faces; mil novas línguas; tantos milhões de veículos quanto de gente no planeta”. Falai e multiplicai-vos. 17
  • 18. Crônicas Agudas ADAO & EVA NO DIVÃ Uma interpretação alternativa... – pois nada, nadinha é coisa absoluta -... alternativa à famosa estória que nos remete a etapas do desenvolvimento mental do humano, que ao nascer ainda não possui a consciência desenvolvida, pouco percebendo as coisas que o cerca; obedece sem questionar as orientações do Progenitor (Pater Theos). Ou então, o que é pior, trama e urde nas trevas do desconhecimento e da falta de competência, permanecendo no Éden sem ter talento para isso. Puro vício. Com o passar do tempo, o teórico casal bíblico (lembrando que bíblia é sinônimo de coleção de livros) inicia um comportamento questionador e se mostra um casal consciente do que vê no mundo à sua volta. Primeiro Adão percebe que além de covarde é inepto. Nem para comer a maçã ele serve. Tem que receber na boca. Parecem adolescentes. O Pai os declara aptos a seguir suas vidas sem a Sua Divina proteção. O casal deve se estribar em bom judiciário e amplos sorrisos. Adão e Eva estariam aptos a viver com os outros seres do Orbe? Poderiam viver como mortais antes de comer do fruto da árvore do conhecimento? São perguntas que ninguém responde. Quando Adão e Eva foram criados - pois não passam de seres construídos e nada nadinha 18
  • 19. Crônicas Agudas naturais - Pater Theos lhes dava tudo que fosse necessário à vida, só pedia em troca a Fé. Mais especificamente, que não tomassem contato com o conhecimento do bem e do mal por conta própria. Ora, para que serviria a Fé se Adão e Eva tinham relacionamento direto com Deus, portanto, sabiam dele, o conheciam, e, por conhecê-lo não necessitavam de provar a tal da Fé? Além do mais nada tinham que fazer no Jardim. Limitavam-se a posar nus para fotos e solenidades ocas. Chamar rio de Rio. Declarar que nuvem era Nuvem e assim por diante. Então, a pegadinha, em Gênesis 2:16 e 2:17: Ordenou o Senhor Deus ao homem, dizendo: De toda árvore do jardim podes comer livremente; mas da árvore do conhecimento do bem e do mal, dessa não comerás; porque no dia em que dela comeres, certamente morrerás. Provou-se mais tarde que não havia morte alguma. Pura mentira do Senhor. Alguns exegetas afirmam que a Morte é simbólica e quer significar a perda da ingenuidade natural ou pureza original. Forçam a barra. No começo dos tempos, citando Gaiarsa, era proibido ter conhecimento do Bem e do Mal. Nos dias de hoje as religiões e a política (sucedâneo obrigatório) desejam que saibamos discernir entre o Bem e o Mal. Afinal é ou não é para discernir o bem do mal? Mas, os primeiro sinais de autoconsciência aparecem; os obstáculos demonstram a incapacidade. Dar nome para a COISA é fácil. Difícil é saber para que serve a COISA. A gincana continua. Outra pegadinha: Gênesis 3:5 A Serpente fala e pelo visto bem sabe do que fala : Porque Deus sabe que no dia em que dele comerdes (o fruto da árvore do conhecimento) se abrirão os vossos olhos, e sereis como Deus, sabendo o bem e o mal. Outra, em seguida, em Gênesis 3:6: Então, vendo a mulher que aquela árvore era boa para se comer, e agradável aos olhos, e árvore desejável para dar entendimento, tomou do seu fruto, comeu, e deu a seu marido, e ele também comeu. A mulher saiu na frente na busca do conhecimento. Nada desse negócio de intuição. O legal era saber ali na batata, como diria Nelson Rodrigues. Nota-se que o humano, então, olha para si mesmo: consciência da condição e da individualidade. Deus, meio brabo, suspende todo o privilégio do casal, o que denota uma tendência à fúria e certo desequilíbrio. Anuncia que Adão e Eva enfrentarão desafios que são, na verdade, as coisas da vida cotidiana, para ver onde aperta o calo. Consciência autônoma ao livre arbítrio. É como se Deus dissesse: - “Vão e construam a civilização!” 19
  • 20. Crônicas Agudas Provavelmente, apesar de que não há maneira nenhuma que possamos provar, a partir desse momento cessa a relação moral de Deus com a humanidade. Deus lava as mãos. Foi embora para o Sinai com suas trombetas. O repórter bíblico no diz o seguinte: Gênesis 3:22: Então disse o Senhor Deus: Eis que o homem se tem tornado como um de nós (nós quem? Que plural é esse? Ele falava dos elohim?), conhecendo o bem e o mal. Ora, não suceda que estenda a sua mão, e tome também da árvore da vida, e coma e viva eternamente. E, tendo tais palavras saído da boca de Deus é, portanto, possível que o humano se torne eterno. Será essa árvore o genoma que se vem decodificando? Até vejo os elohim dizendo em coro: - “Mas quem mandou criar esses caras? Agora, segura o rojão, meu”. O “processo de criação da espécie humana" não se realiza no instante em que Deus cria o homem do barro e a mulher de sua costela (isso segundo a visão patriarcal; há eruditos que afirmam que a palavra que traduziram por costela pode ser traduzida por célula, um pedaço do outro, uma parte do código genético, sêmen e por ai vai. Outros, não patriarcais, afirmam que houve separação do ser duplo em dois, ou seja, tanto Eva saiu da costela de Adão quanto Adão saiu da costela de Eva; depende de quem conta a tal da história ou estória. Se isso for crucial para a existência e manutenção de qualquer religião, estamos mesmo feitos). No decorrer de toda a história humana no Jardim do Éden, começando com sua individualização espacial (circunscrição física) através do barro, passando pela individualização da consciência pelo ato de comer o fruto proibido; acarretou a expulsão e deu início ao retorno ao Paraíso ou à busca da felicidade perdida. O que viesse primeiro. A serpente é uma antiga divindade da sabedoria no Oriente Médio, portanto não surpreende que nesta história haja a presença dela junto à árvore do conhecimento. Como o europeu sempre odiou e chamou de Mal o que vinha de África e Oriente, deram a pecha de diabólica para a serpente, mas o que é um Seraphin se não uma serpente? Serafim, seraphin, serápis. 20
  • 21. Crônicas Agudas CARTA AOS AFRO-BRASILEIROS DE MOCOCA reflexões sobre panfleto encontrado no chão em 2004 / mas quem sou eu se não um branco KWANZAA Festa da Raça Negra / Está aí um texto compilado do folder-convite que encontrei. Não pode ser seu amigo quem exige seu silêncio ou atrapalha seu crescimento é uma frase assinada por Alice Walker, escritora afro-americana. Pensar / ver / meditar. Em busca da reparação: Reparar significa o Estado reconhecer, baseado nas decisões da III Conferência Mundial Contra o racismo, a Discriminação, Racial, a Xenofobia e Formas Conexas de Intolerância - realizada, em 2001, na África do Sul - que o colonialismo e a escravidão cometidos no passado foram crime contra a humanidade / as novas gerações de negros e negras que sofrem, ainda hoje, as conseqüências do crime, devem ser reparados de imediato, pois o Brasil, a Europa e o mundo devem reparações ao povo negro. Onde está divisão de riquezas? Com pretexto na Lei Áurea, enquanto os ex-escravos faziam sua festa, as fazendas se livravam dos caras. Os italianos chegavam para serem explorados. 21
  • 22. Crônicas Agudas Atraso Histórico: Qual é a ação dos interessados afro-descendentes? Há reuniões? Debatem o assunto? Refletem sobre as perdas? É reunião secreta? O Brasil foi o último país no mundo a abolir a escravidão e o penúltimo a interromper o tráfico de seres humanos. A Igreja via tudo dava apoio. Tinha ela também sua cota de escravos. O país foi também o que mais recebeu escravos vindos da África entre as Américas – cerca de 3,6 milhões. Fica por isso mesmo? Sugiro que as terras das igrejas de cada cidade sejam divididas entre os afro/descendentes. Podemos começar daí. E que cada igreja de cada cidade peça desculpas públicas. De joelhos. Números vergonhosos: Um Brasil branco 2,5 vezes mais rico que o Brasil negro. Dos pobres, 64% é negro e dos indigentes 69% são negros. De acordo com o MEC – pode-se questionar, mas, não sentado em seu trono de cana-verde - 15,7% dos estudantes formados são negros e 84,3% são brancos (quer dizer, brancos... quem é branco nesse país?). De acordo com o IBGE, para cada ano de estudo, os considerados brancos têm sua renda elevada em 1,25 salários, enquanto os negros 0,53 salários. Portanto há preferência clara e a facilidade que advieram dos 300 anos de escravidão. Isso é inegável. Quem muda a situação?: De acordo com a justiça distributiva um indivíduo ou grupo têm direito de reivindicar as vantagens perdidas por condições sociais adversas. Será esse o caso? Quem sabe uma análise de ascendência. Netos e bisnetos de escravos. Alguém ainda tem a carta de alforria da família? Ou Reivindicações: Para a superação do racismo, é imperativo que se adote uma política de reparações que vão desde a indenização material, passando por um conjunto de políticas de ações afirmativas. Todos se interessam por ações como essa? Tem algum advogado quem vai peitar a situação? Isso tudo tem a ver com a realidade e a conjuntura política atual? Os políticos negros se interessam pelo caso? Há quem diga que os negros escravizavam a si mesmo. Isso serve de atenuante ou agravante? Ou serve para nada? Seguirão daí como consequências: Cotas proporcionais à dimensão populacional de negros/as no Brasil, concomitante a um super-melhoramento no ensino gratuito para todos, e esperamos que isso queira dizer melhora no sentido de LIBERDADE, e não de obediência. Mais. Cotas proporcionais a negros/as nos cargos comissionados no serviço público municipal. Isso pode começar hoje aqui em Mococa. É fácil, pois, tem muita gente incompetente em seus troninhos e sinecuras e no próximo concurso a quota já pode valer – os legisladores levantarão suas penas e trabalharão nisso. E não há dúvida alguma sobre isso. A cor da pele manda. Se ficar no café com leite negro não é. Tem que ser negro negro mesmo. Quase azul. Elegeremos como padrão os BANTOS. Ou mais condizente com as crianças Yoruba da foto. E, à medida que negros e brancos mais se miscigenam as cotas diminuirão 22
  • 23. Crônicas Agudas gradativamente. Como cidadão é uma sugestão, como ser humano cosmopolita é uma ordem. Mais. Democratização racial da imagem em todos os veículos e peças de TV. Isso já rola, mas soa como obrigação. Bom... os africanos foram obrigados a virem para o país que não era deles. É sempre um prazer ver o Francisco apresentando o noticiário da TV. Vida longa ao Francisco. MAIS: Exigência de cumprimento de cota de 30% (ou 20, ou 10, ou 15, sei lá) de negras e negros em todos os níveis hierárquicos das empresas que participarem de licitação e concorrência da administração pública municipal. A nota final deve ser a mesma mas a cota está em separado. Vamos revolucionar. Já! Não é questão de facilitar nada. A nota para passar será a mesma. A vaga é que está à parte. Em vez das chicotadas, uma vaga. Instituição do feriado de 20 de novembro: É coisa que Mococa já aplica, no sentido errado, penso. Lembro que levei a idéia da lei nesse sentido a uma professora que era vereadora e presidente da Câmara em tempos idos e ela me disse, tutelada pelo seu título de professora de História: “Ah! Se é assim tem que ter feriado pra árabe, italiano, japonês... e por aí foi, mal pensando ela que os africanos foram trazidos à força e os demais vieram atrás de melhores vidas, por livre espontânea vontade”. Peguei o meu projeto de lei e levei para o Sr. Chico Enfermeiro que acabou fazendo a Lei passar, mas assinou como se fora dele. Próprio da Veneranda Casa. Na antiga propositura não tinha nada a ver com feriado. Tinha a ver com uma semana de reflexão e arte, em torno do dia 20 de novembro e a propositura buscava valorizar o trabalhador negro que, buscando melhores situações para a sua vida, foi trabalhar, por força, vendido e humilhado, em outro país e lá ficou, como o caso do LAU que faleceu em Portugal. E era negro. E era artista. E era produtor de cultura. Era de Mococa e ninguém quis saber dele. Nem as namoradas. Ou uma certa namorada específica. Ninguém. Que mais? História: Introdução da História da África e do negro no Brasil no currículo das escolas. Já! Eu mesmo desejo saber mais sobre Bantos e Hotentotes. Sobre Yorubá. Mococa pode dar o pontapé inicial E, sair em continuidade com outros professores e artistas e esportistas locais. Capoeira neles. Agregar estes grupos de capoeira, mas não paternalizar. Terras: Tributação da terra às comunidades urbanas e rurais de negros/os remanescentes dos quilombos. Podemos averiguar como anda a Guardinha. Pesquisar sobre quilombolas remanescente e gerar a herança. Já! Vereadores, acordai, tomai da pena e fazei a justiça! Trabalho: Garantir o cumprimento da convenção 111 da Organização Internacional do Trabalho. Saúde: Implementar programas especiais de prevenção de doenças que prevalecem na 23
  • 24. Crônicas Agudas população negra como miomatoses, lúpus, anemia falciforme. Suscitar pesquisa neste sentido. Ter atenção sobre tais segmentos. E a tal da Religião: Respeito e estudo das religiões de matriz africana. Rituais. Dogmas. Cursos de Yorubá e Candomblé em todas as escolas, principalmente nas particulares. Aliás isso deve ser obrigatório. As escolas de cunho religioso devem incluir candomblé em seus currículos. Cursos de música com temática em quimbanda, jongo, congo, samba. Imaginem, SAMBA I, no primeiro semestre da escola de música de Mococa? Nossa, quanta lei. O vereador que quer viver dando nome de rua a seus parentes é por que tem a moleira mole e a cachola não funciona como deve. Entrega a pasta. Estímulo e apoio à produção cultural afro-brasileira. Radical! Quero um Museu do Negro na cidade. As fazendas da região cresceram sob esses braços. É isso. Votos de sucesso, vida longa e prosperidade. BOA VIDA. TRABALHE MENOS. PENSE MAIS. FAÇA ARTE. 24
  • 25. Crônicas Agudas CINEMA & CORO na MOCIDADE A FatecMococa tem como meta a difusão da cultura, através do seu Núcleo. Dessa forma não se limitará a seu prédio - prédios, em breve - e espalhará ações culturais em várias regiões e outros prédios da cidade. Dessa vez a Mocidade Espírita, aqui nos caminhos do bairro da Aparecida, a convite da Sra. Ivani Rafaldini (1), abriu suas portas para esta ação cultural e lá permitiu que se formasse um Coro e um grupo que grava filme e montará peças de teatro, ao final das filmagens. Uma parceria Fatec/Mocidade. 25
  • 26. Crônicas Agudas A idéia é levar um tanto da mensagem da MOCIDADE, mista à literatura de todos os tempos. Deixo, a todos, convite para a estréia, em Julho, de O FANTASMA DA CASA VELHA, roteiro baseado numa estória de Oscar Wilde. No elenco temos Maria Augusta (2) – atriz importada de Monte Santo, Adriana Gomes (3) – no papel do FANTASMA, Adriana Dias (4), Amanda Garcia(4), entre outros. Inteiramente gravado em Mococa, usando as instalações da Mocidade, o CinemaFatec, além de filmes acaba por construir um acervo de imagens da cidade, com seus jardins, casas e locais de uso comum. Uma antropologia visual da cidade. Uma sociologia através de filmes e vídeos que contam a nossa era. É certo que a obra tem origem n’O FANTASMA DE CANTERVILLE, portanto, obra inglesa, mas são contingências. O FANTASMA DA CASA VELHA se transformará em DVD e será vendido, oportunamente, para consecução de recursos destinados ás obras assistenciais da MOCIDADE. Logo, trata-se de atividade artística com fim social, também. E, o Coro? O CORO da MOCIDADE vem trabalhando desde fevereiro e se preocupa com um repertorio de música folclórica e MPB. NOZANINÁ (Arr. De Villa- Lobos), CANTO DO POVO DE UM LUGAR (Caetano Veloso), CALIX BENTO (folk mineiro), AZULÃO (de Jaime Ovalle), UIRAPURU (do folclore) e mesmo o HINO DO CENTENÁRIO DE MOCOCA (de Elvira Dinamarco Coelho e José Barreto Coelho); obras em processo de construção. Fez concerto de estréia em Março. Outros concertos virão. 26
  • 27. Crônicas Agudas Se você é uma pessoa sem preconceitos – ideologia e religião à parte - venha participar conosco do Canto Coral, cujos ensaios são na sede da Mocidade, do outro lado do rio, no entroncamento entre Brás/Aparecida/Descanso, toda quinta feira, 20:15 horas. Sempre haverá por lá boa música, um pouco de preparação vocal e teoria musical para ampliar o conhecimento. Em momento oportuno falaremos mais das atividades corais e seus desenvolvimentos. Boa semana. 27
  • 28. Crônicas Agudas CULTIVAR O PADRÃO A REPETIÇÃO / O CÔMODO Quando se foge do padrão, as pessoas caem de pau em você. Transfiramos a abordagem para o teatro que queremos, por exemplo, ou que desejamos ou que sonhamos. Posso fazer o mesmo com a música. Música moderna ou contemporânea. Enquanto meu CD de Natal sempre vende muito todo ano (padrão) as minhas obras contemporâneas vendem nada. Será que é aí que falamos de arte e comercio? Que peça fará sucesso? De que jeito essa peça fará sucesso. Quanta mídia se deve comprar – TV, rádio, jornal – já com suas boas resenhas embutidas, pois tudo se resume a comprar algo. Não há, em Mococa, uma crítica espontânea da arte. Será que não há um meio de nada comprar para criar ou usufruir arte? E para isso há regras e normas e leis? Fazendo assim o público virá? Fazendo assado não vem mais? Mas e o público acomodado que não sai do lugar merece futuro? Por que devo contar e pagar 28
  • 29. Crônicas Agudas tudo de 30 em 30 dias se levo 146 dias para compor uma obra musical? Então não é possível experimentar? Resposta: Não! Mas o experimento é a fonte do trabalho bem acabado. Empirismos. E se eu só quiser experimentar? Talvez não tenha público durante muito tempo, pois o povo deseja ver aquilo que não os pegue de surpresa. Se Deus aparecesse em forma de cubo ou pirâmide ninguém acreditaria. O povo – essa entidade leiloada e usada por todos - é comodista e meio burro. Símbolos passam batido pela maioria. A maioria deseja tudo bem mastigadinho, pois para isso foi domesticada desde a escola. Sem esforço. O único esforço é o de ser escravo. Para isso foram educados. Será que podemos sair dos formatos de sempre já que sempre houve mudanças nos formatos do teatro / da música / do cinema / ao longo dos séculos ou essa mudança é tão lenta que ninguém percebe? Hoje, quando a busca do exótico beira a loucura talvez os deuses do dinheiro permitam que novas imagens subam a palco. Plutões, donos do capital, novos deuses, que se alimentam de novas almas para almoçarem e elevarem os pontos do ibope; fenômeno: logo que são humilhados começam a lucrar. Mas, enquanto isso, artistas, prevejo que devemos urdir na noite o que e como deve ser o futuro. Podemos errar e assim somos nós. Nossa estrada é traçada de erros, então descobrimos novos caminhos. Pensemos sobre isso. Mas, não se iluda, artista e livres pensadores, somos só nós os que havemos de pensar. O resto do mundo pensa em mais nada. Vive de inércia, dentro de um padrão pré-estabelecido. Uma bola de neve que espera o poste. Mesmo que vivamos esse padrão em muita coisa que fazemos, também fazemos a diferença por que rompemos o padrão. E, essa diferença não quer dizer que seja para melhor. Não temos obrigação com o melhor. O mito do melhor vem daquele que nos explora é quer o melhor que produzamos. Não há essa obrigação do melhor pois não sabemos do que se trata, esse tal melhor. Em 29
  • 30. Crônicas Agudas geral é melhor para alguém outro e não para nós. Aquilo que as pessoas falam que é o melhor, em geral, é aquilo que faz alguém lucrar algo. São palavras de Faraó, aquele que detém o poder, que dita a norma e o que deve ser considerado bom. Não se iluda. O artista pode ser a diferença que esculhamba o normal – padrão – do dia a dia; e as pessoas não querem saber desses caras. Pode crer. O artista deve ficar livre. Manter o processo crítico. Não se aliar a clubes talvez? Ou, ao menos estar ciente de que pode ser expulso do clube. Woody Allen - depois de Grouxo Marx - disse que não entraria num clube que o aceitasse como sócio. Utopias. Mentiras ditas mil vezes. Sempre digo que quando o dia 21 de dezembro de 2012 chegar e a eletricidade for pro beleléu, nós os artistas não teremos nada a perder. Teatro não precisa de iluminação especial e pode ser feito na rua – já um plei-esteixon ou um microfone de lapela não funciona mais. Teatro pobre! O ator e mais nada. Música: Nem se precisa de instrumento. Canto ou assobio. Mas se quiser faço uma flauta de bambu ou bumbo dionisíaco ou lira orfeica e pronto. Já a fábrica de lata ou gelatina, elas precisam de energia para gastar e poluir e impactar a natureza em nome do progresso. Então elas pararão de funcionar. Enfim alguma coisa boa. Escrita: Papel reciclado e tinta natural, como era dantes na casa de abrantes. Ou escreverei com barro ou merda – seguindo o Marques de Sade – nas paredes das ruínas. Acredito que merda sempre existirá. Rembrandt fazia sua própria tinta, não com merda mas com tinturas naturais. Agora, as usinas de produção de gasolina precisam de eletricidade, diesel; e a energia nuclear? Param ou não? E, é claro, tais indústrias precisam de seus escravos para o trabalho. Herdeiros dos faraós embalsamados, como diz o poeta, necessitam da mão de obra barata. É... A arte não para. Quando não nos deixam falar inventamos um blog ou gritamos na rua. 30
  • 31. Crônicas Agudas Acabou a eletricidade e acabou o blog? Sobe-se no palco ou se faz teatro de rua. Mambembes. O diferencial é ir atrás do auto-falante: teatro, música, vídeo... são as armas. Mesmo assim muita vez nos desconvidam pela impertinência. Nossa expressão corporal na rua (pose?) é nossa arma e bandeira fincada no solo. Mas, será esse mesmo o caso. Fazer arte e vender e, depois, sofrer se não compram? Cada um compra o que quiser. E pra que servirá tudo isso se não passa de mera arte? Ars gratia Ars. E por minha conta. Lembro das aulas de psicologia – nos idos dos anos 80 - quando concluíamos, friamente, da insignificância do artista. É isso. Somos completamente insignificantes até o momento em que balimos iguais a sertanejos ridículos fingindo cantar; ou choramos na novela das seis por causa da menina com falsa leucemia; ou se fazemos o Analista de Bagé no teatro, com casa cheia falando bobagem a dar com o pau para que a burguesia babaca chore de rir. Aí nos tornamos valores. Tornamo-nos dinheiro viável. Potencial de lucro. Cheios de amigos. Cercados de produtores. A mídia do nosso lado. Quero entrar numa sala de aula com 45 alunos para escangalhar 45 cabeças de uma vez com muita aula de Filosofia. Meu projeto é ser diretor do Oscar Villares, lá pelo ano 2016, e continuar a ensinar como se faz. 31
  • 32. Crônicas Agudas DEDÉ, MUSSUM E ZACARIAS Alguns sete representantes da Câmara de Mococa merecem parabéns pela atuação na modernização das leis da casa, mormente pela lei de adequação e a lei do nepotismo. Li o Informe Publicitário e acredito que se pode tirar o luto. Não há que temer o luto. Há sim o nojo em relação aos outros três. No começo não entendi o texto e deixei para ler em outro momento. No outro momento percebi que ainda havia troca de MAS por MAIS. Para mim o texto ficara sem sentido. 32
  • 33. Crônicas Agudas Consegui, depois, após abluções matinais, perceber o teor da notícia, e sua cabal importância, mas, temi que pedissem de volta a minha Moção de Repúdio. Caros OS SETE POR MOCOCA. Fizeram com que me lembrasse de OS SETE CONTRA TEBAS, peça importante do mundo grego. A partir dela surgiram O SETE SAMURAIS e SETE HOMENS E UM DESTINO. Esta história tem um desenvolvimento edípico. Vejamos: Édipo descobriu ser filho de sua mulher – a tal Jocasta. Vazou os olhos e retirou-se expulso da cidade acompanhado pela filha Antígone. Os filhos, ao tomarem conhecimento do incesto do pai, viraram-lhe as costas. Édipo lançou uma maldição: os dois irmãos se tornariam inimigos e um mataria o outro. Com medo da previsão, resolveram partilhar o poder cada um assumindo o trono por um ano alternadamente. Etéocles foi o primeiro a reinar, porém, ao se completar um ano, este se negou a entregar o trono ao irmão. Polinice partiu para Argos e lá recebeu o apoio do rei Adrasto. A expedição dos SETE CHEFES foi, pois, a reunião de sete príncipes chefiados por Adrasto que marcharam em direção a Tebas a fim de derrubar Etéocles e entronar seu irmão. Pode nada ter a ver, mas, o número sete, neste caso heróico, é simbólico e acredito que represente o trabalho de uma verdadeira e veneranda Câmara moderna e articulada com as necessidades da população, ou, pelo menos, da lei. Falta agora votar uma lei para VOTO-NÃO-SECRETO em todas as instâncias, se é que os edis desejam deixar seus nomes marcados na história da cidade. OS SETE POR MOCOCA mostram que são independentes. Os outros três, no caso OS TRES CONTRA MOCOCA demonstram a objetividade da tal Moção de Repúdio de antanho. Sim, pois os três restantes demonstram que estão contra a democraticidade na cidade (ops!), e mostram, por caminhos turvos, quem insulou a turma para assinar a Moção. Em face disso fica claro que OS TRES CONTRA MOCOCA têm algum interesse nessa coisa toda de regulamentação e nepotismos à parte. Mas isso o Executivo resolve com uma canetada rápida. OS TRES CONTRA MOCOCA estão colocando maguinhas de fora e se denominam reis-da-cocada-preta. A base do ídoloo é de barro. Isso prova, também, que não é o número de votos que faz a diferença. Mas a inteligência dos SETE POR MOCOCA está fazendo. Se essa rapaziada – tabebuias à parte, me entendam – mantiver a linha de independência, soberania e visão da modernidade, podem escrever Mais em lugar de Mas, quantas vezes quiserem, que serão absolvidos por aqueles que sabem que política se faz com outros valores. Não é o valor de um judiciário 33
  • 34. Crônicas Agudas poético/dormente/sonhador, nem as lacunas gengivais de um sorriso interesseiro e amarelo, nem as catapultas sindicalistas prontas para uma abordagem na galera medieval do vizinho – valha-me são Getulio Vargas!, nem as destrezas enigmáticas dos seguidores de Calvino, ungidos pela aura advocatícia sem escrúpulos. Sei não, mas, acredito que qualquer pastor bateria nas mãos desses TRES CONTRA MOCOCA. Feio! Han! Seu Feio! Simples conta de somar. O SETE POR MOCOCA versus OS TRES CONTRA MOCOCA, e, o título da coluna, tiram qualquer dúvida. 34
  • 35. Crônicas Agudas SEXO ESPIRITUAL DIARIO DE PIRATAS – EXCERPTOS ALEGÓRICOS - aos filibusteiros – Há motivos que nos induzem a práticas obscenas. Obscena quer dizer, fora de cena. Não que seja feio, mas que está fora da visão da platéia, por assim dizer. Aquilo que não dá para ver. Uma delas é a espiritualidade. Nada mais obsceno que a espiritualidade. Ninguém vê. E, o que sentem - “a energia que rola” - tem muito de delírio coletivo, individual, ou fé cênica. Invencionices de uma mente romântica, por assim dizer. Quantas e quantas vezes atriz ou ator não subiram ao palco para trazerem de trás da cena – ou de trás de suas máscaras - aquilo que estava escondido. Esse tal escondido é o obsceno. E a atriz ou ator conseguem essa proeza através da Fé Cênica. A Fé Cênica representa aquilo que não existe. Um avatar. Sabe quando você vai a uma loja ou restaurante e pergunta se o produto é bom? A resposta tem que ser sempre positiva ou não venderão o tal produto mesmo que o bacalhau já tenha passado do tempo. Por essa razão qualquer pastor de almas dirá que a espiritualidade está à mão, de como se pode “sentir” as vibrações, seja lá o que seja 35
  • 36. Crônicas Agudas isso. Há inúmeros manuais para se sentir a alma e perceber as vibrações e adentrar o mundo da espiritualidade. Já ouviu falar em motel especial para mentes e almas? Ninguém ouviu. E que dizer quando se discute o problema da química entre amantes...? O que será que acontece no momento em que se conhece alguém? Não existe nada de espantoso nisso tudo... Mas, também, ninguém sabe de nada... As pessoas preferem a complicação ao invés do que é mais simples. Quando encontramos a pessoa o que vemos é seu corpo e seu rosto e suas características humanas. A pessoa olha você e você a olha e surge o interesse. Chamam isso de química. Falta é palavra adequada, na verdade. Daí o surgimento da poesia... por pura falta da palavra adequada. Pode ser que a imagem fotográfica do ideal que alguém tem na cabeça combina com a imagem que vê naquele momento. Nada mais do que programação. Depois, com os anos, tudo muda, é claro, mas, naquele momento que chamaremos de mágico, é fatal: Amor à primeira vista. Amor, por falta de palavra melhor. O inexplicável. Será que o fenômeno da observação da alma ocorre imediatamente? É como o Allen Palito em sua prova de metafísica, expulso que foi da sala por que o pegaram colando... ele olhava para a alma da aluna que se sentava ao lado. E na falta de uma alma ao lado? Provavelmente não passa de resposta imediata da biologia e o clamor da manutenção das espécies. Sim! Nada de amor. Apenas clamor. Em primeiro lugar, mandam os ditames biológicos: temos que preservar a espécie da extinção que se aproxima. Amor é construção cultural. Assim como o romantismo e o cavaleiro andante e a idéia de que a Terra é centro do Universo. Amor é para todos e com todos: ágape ideal. Amor e sexo são coisas diferentes. É, claro, que as pessoas buscam aliança entre iguais, ou ainda, buscam compromisso para manter o estado de equilíbrio – na melhor das hipóteses – cá entre nós há quem procure o par que lhe bata na cara ou o sove com ancinho -, que é prática comum nas sociedades modernas e a cultura manda, mas, nada disso tem a ver com amor. O assunto é bem outro. No clamor da carne o que se quer é coito. Alguém quer ser coitado. De preferência com alguém que responda aos seus valores estéticos, pois isso estimula a obtenção de prazer. Se houver coincidência nos gostos certamente rolará algo. Abre-se o clima. Ilumina-se a cena com valores der romantismo quixotesco e exotismos. Se não houver coincidência alguma, que é o que ocorre na maioria das vezes; nada rola e parte- se para outra, que é o que ocorre na maioria das vezes. 36
  • 37. Crônicas Agudas Os sensores animais percebem a boa genética e um bom desenho de corpo, de acordo com os padrões investidos pela moda. Quando há união entre desastres estéticos - segundo a moda vigente, é claro – o que chamam de amor será eufemismo para tolerância mútua, cercada por ambiente de resignação e acomodação final – que é próprio de humanos. O que a moda não pedir, e, eu duvido que as pessoas façam referência à alma, ou que falem de valores da alma. As pessoas não falam disso. Nem pensam nisso Nem pensam em nada. Na onda do alvoroço dos hormônios, usam várias desculpas para cair na rede: - Aquela nossa música, ou a letra da canção sacana, da obscenidade permitida na rádio, o clima numa atividade não rotineira ou artística que dá muita menção a excitação repentina, a aproximação com ídolo e outros quejandos, são motivos e desculpas. Pense na cena. Nunca vi a pessoa. Ela aparece na minha frente e eu me espanto: - Uau! Que bela alma! Estou apaixonado à primeira sentida! Realmente não é assim. Precauções perante a solidão; as pessoas ainda encaram – a solidão - como uma situação de fim do mundo e querem se livrar da possibilidade. Mas essa sensação só aparece na cabeça de seres ocos. Quem se dedica à arte, por exemplo: escrita, pintura, teatro... não terá tal problema, em sua maioria. Só aquelas pessoas que acham que arte depende de inspiração e piram na frente da folha ou da tela em branco. Nada sabem sobre isso e podem se livrar, também, da possibilidade de se criar algo. Criar no sentido da arte. Sublima de um lado, cria do outro. Amor romântico fica para os anjos e para os séculos VIII, IX, X... e por aí vai, com capacete de metal e tudo mais. 37
  • 38. Crônicas Agudas PARA QUE OS NEO-COLONIZADOS DEIXEM ROLAR sobre um texto da cineasta Bia Werther Sim... idiotas... quem sabe somos aqueles que predominam o Id. Somos todos nós uns grandes idiotas em acreditar em dengue, em enchentes, em eleição, em espanholismos, em balaios tronitruantes em descabeleiras louras ocas... quando as pessoas já nem sabem – fingem que não, essa é a boa verdade – sabem mais, se é verdade mesmo, que tivemos um holocausto na Europa – 6 milhões de mortos, fora os soldados que se matavam em troca do dólar de outros e somos sempre os mesmo que aceitamos trabalhar para a riqueza do outro - ou uma ditadura no Brasil – guerras e guerrilhas e zerentos milhões por morrer - e daí ficamos nos repetindo por séculos e séculos - ad aeternam - abrindo a guarda e babando por qualquer outro imbecil – já tivemos uma geração de Silvios e 38
  • 39. Crônicas Agudas Gugus – louco midiático que domine mensagens subliminares e bits e bites e quarks. É responsabilidade nossa quando os dominadores da 'cultura', em nossas pobres- cidades-pobres-cidades apedeutas, recalcadas cidades medrosas e invejosas, perdidas em seus desejos criativos, mesmo por que criar dá tesão e as cidades e seus representantes culturais têm medo do tesão que deveras sentem... eis a verdade... Talvez sejam eunucos. Renegam a diversidade em nome da troca de favores – o tráfico de influência, o toma-lá-dá-cá dos incautos vereadinhos. Esquecem as leis a serem aplicadas com apoio de juristas aplicados e de colarinho branco engomados até os dentes; vendem suas horas-trabalho pelo prazer de se fazer de estátua ao lado dos ícones globais que vêm fazer espetáculos de sub-arte, eventos de importância duvidosa, enquanto a cidade completa seus aniversários, esquecida e entrando para caminhos de gagarismo – não o astronauta, mas sim, o velho gagá da esquina que deseja de qualquer maneira que Fonte dos Amores volte. Volte da onde? Tem que ser bobo e caipira. Mas se fossem Mazzaropi seria solução criativa e produtiva. Papagaios de pirata sem jaça. Câmaras vazias. Sepulcros caiados. Filisteus da modernidade. A penugem da imbecilidade e da edilidade. E somos todos nós os covardes, quando nas nossas cidades todo mundo tem medo de transgredir e virar maldito. Maledeto. Mas que boca bendita será essa que se outorga tanta autoridade? Ninguém vê que se todo mundo meter o pé na porta a coisa muda? Que se meter o pé na bunda muda mais? Ninguém vê que se todo mundo jogar a cadeira no corredor, a coisa muda? Ninguém vê que se todo mundo bater a porta o professor até aprende português, na marra? Tem diretor d escola que precisa ir correndo para o asilo. Ultrapassado. Caduco E, com poderes. O Oscar que não vire na tumba, homessa! 39
  • 40. Crônicas Agudas Sim, a mentira pós-colonialista nos transforma a todos em 'espectadores covardes e traidores'. Submissos escravos cheirando a chouriço e afastados de toda manga que der dor de barriga, coberta de leite. E, por conseguinte, encontramos realizadores irresponsáveis e sem profundidade porque medrosos e preguiçosos. Falamos errado na TV e nos orgulhamos disso. Fisso isso, fisso aquilo. Balançamos a cabeça pra lá e pra cá e vendemos langerrís até desabarmos dos tapetes mágicos da vida. Fisso isso e aquilo. Falamos bobagem sem nexo nos discursos e ninguém nota. Produzimos projetos roubados do grande sábio. Isso, nisso, aquilo, fissio, bissio, lissio, Nilson?... e por aí vai. Sem contar a pluralidade de prioridades. Sem contar que querem meter a família inteira na conta da cidade para tomar conta da cidade. E ainda querem que paguemos impostos. Claro que não. Tem bobo que ri com isso. Prioridade é o que vem na frente. Quantas indicações seriam de prioridade? Essa nossa sensação de inferioridade diante do sentimento de superioridade do colonizador e dos imbecis que se alçam ao poder é maquiavélica. O filósofo deveria governar? Ou deixar que algum analfabeto se eleve ao poder e dê as cartas? Pós-colonialismo é isto, todos os 'inferiores' tontos de prazer diante das luzinhas coloridas e das super-ferramentas sem alma que não nos servem de nada historicamente sem a busca da identidade, perdida na globalização. O que temos aqui são rapidinhas. Não há mais longas relações foederativas... tudo é rapidinho, sem graça... no sentido do que “já que tem que fazer... faz logo, se não eu perco o capítulo da novela” : Vou fazer a malhação / malhação / malhação / Do que deve ser malhado / ser malhado / ser malhado... parafraseando cantorGILex-ministro. Estamos andando em círculos há milênios! Nossa cidade parece andar, rapidamente, para trás. Dobre os milênios. Por quem os milênios dobram? Eles dobram por nós. 40
  • 41. Crônicas Agudas DIÁRIO DE PIRATAS – EXCERPTOS II - os filibusteiros - sobre um texto da cineasta Bia Werther DIA 6 – ONDE A VACA TOSSE E NÃO MUGE MAIS Chega da discussão superficial... de baixo do Equador não tem pecado, como bem disse o Chico, cantou o Ney, dançamos nós e, debate bom é o debate onde se mostra o que se faz. Essa coisa de unanimidade burra já atinge os píncaros da palhaçada. Dez assinam a Moção (UNANIMIDADE). Valha-me São Nelson! Muito voto para uma só pessoa (UNANIMIDADE). Tem pelos menos 700 que acreditam em bobagem. Mas tem mais de 2000 que acreditam em mais bobagem ainda. E tem gente que foge de debate tentando evitar que as palavras tropecem na língua. Trôpegas palavras. Ao dicionário, senhor coberto de honras! 41
  • 42. Crônicas Agudas Eis a mensagem para as novas gerações pós-ditadura: falar dos 'livres', que de livres têm o nome, mas, de maneira bem Belchior, e, não mudam nada; vivem de umbigo, futilidade e uma vida-festa temática, inóspita e cidista – pois o cidismo foi um movimento de degeneração da raça humana mocoquense, lá isso foi - esquecem do resto de suas vidas, permanecem com o umbigo virado para a lua. Mas as pessoas esquecem. O que será considerado fora de moda por muitos, será considerado fora de modos por outros. E dentro desta perspectiva cabe ao jornalista, ou ao escritor, ou ao crítico, alertar, relembrar, retirar do olvido. Aos apedeutas, escola!! Para muita gente ‘radicalismo’ é o ato da exigência, pois, proclama-se, hoje, a quatro costados, a lei do “deixa estar como já está e esquece já!”. Eis a causa da reação da Veneranda Casa. Deformada será a palavra que vira palavrão quando o assunto é sério e, 'atitude', quando inserido em roteiro de propaganda de ‘refri’, bundas de fora e cerveja com seios, onde o cara diz com o dedo na sua cara que você é um merda se não opta por essa ou aquela marca... a marca dos tais 'radicais'. Radicais livres. O que nunca há de envelhecer pois já nasce velho. Tal é a Veneranda Casa. Parece absorver a barba do patrono e se deixa caducar sem inovações e revoluções. Preocupam-se com UIS e AIS anacrônicos e tratam de Ilustríssimo aquele que foi repudiado. Ué! Afinal, é ilustre ou não é? Dia 7 – NOTÍCIAS DO MUNDO COLONIZADO Aqui no mundo 'pós-colonialista', brasis e mugangas interioranas, falar em nacionalismo seria o que? E, municipalismo, seria utopia? O que seria, no meio desse(a) globo onde a cor é a de todas as fomes amarelouros, idênticas ilustrações de capa de revista em todos os cantos – cantões chino-capitalistas - do mundo? Aqui em muganga o explorador posa de construtor. Os discursos estão invertidos e causam nojo. 42
  • 43. Crônicas Agudas Cores quentes do maquidonaldis em qualquer cantinho – cantões e monções e moções que chegam em monções (cadê meu guarda-chuva?) - em que alguém tenha uma grana (sobrando?) pro fast food de 'atitude'. Atitude rápida e cheia de gordura. 'Pacífica' convivência com as cores quentes da violência em todo o recanto onde não há nada além da servidão e violência da vida real, não de filme de quinta, que isto já tinha antes mesmo de 1961. O ano que virado de cabeça para baixo, dá no mesmo. Seria uma profecia? Dá no mesmo? Ou qualquer ano viram de cabeça para baixo? Depois, tantos outros mortos, décadas passando, o homem 'se libertando' na grande festa da globalização, o negro urbano americano norte-sul, por exemplo, que deu tanto orgulho aos revolucionários e radicais do mundo – radicais livres outra vez? - , assiste pela TV os seus netos rebolando no machismo; cachorras babaquaras, gritando os nomes das grifes 'globais'; quebrando-barrac-algum, taty nenhuma; bezerrasilbestasambista que cantam o morro e moram na zona sul e ainda tripudiam, imbecis e sorridentes timbaladores, sob a benção da suprema imbecil dos imbecis baixinhos – não é à toa que Romarinho foi enaltecido pelos baba-ovos de plantão do venal e futebol association. Um enganador que perdeu de 5 do Barcelona em sua despedida de banheirista internacional. Veio banheirar no Fla. Timbaladores gritam nas letras das músicas com a mesma sede que um dia seus avós apanharam na rua gritando 'Freedom from Fear'. E haja chicote. O medo continua, só que agora não tem repressão (?) e daí o mundo é velado (com véu ou vela), bombado, com tênis de 500 paus.... Até o medo hoje é fútil. Quanto quilos de medo tu precisa, mano? DIA 8 – FUGINDO DA MALTA AGITADA CUJO TIME PERDEU 43
  • 44. Crônicas Agudas Até Deus (feito à nossa imagem e semelhança) tem medo, tanto que se juntou ao Bush (Burning Bush – a Sarça Ardente que Moisés visitou – seria uma profecia?) e assinou no dinheirodolar que já havia sido emprestado ao Osama filho de Laden. Viu que mandou um ciclone devastar a 'Bahia' americana e o falecido Bush só precisou tirar férias e deixá-la esquecida e devastada? Novos arcanos. De qualquer maneira para que a preocupação se o tal ciclone atingiu áreas de pura demografia negra? Novos tempos do radicalismo. Basta dar as costas para as costas, como sugeriu Milton Nascimento. Basta dizer que não viu e perder o rumo numa estória em quadrinhos em jardim de infância, olhando, perdido no espaço como Alfred Newman dos EUA ou a família Robinson. Gosta de novela? Vê novela? Então a marca da besta – 666 - está escrita na sua testa. Mas não a marca de Caim pois essa marca é a marca dos criadores da civilização. Filhos de Cain! Cainitas!, aos berros, como berraria o velho Hermann Hess. Goethe era cainita. Uni-vos! Busquemos a luz, mas a luz da razão. Nada de frieza meu bem, mas a razão que nos leva a dosar todas as paixões. Não acha importante que gerações futuras construam uma identidade e tenhamos filhos e netos conscientes de seu papel criador, e com e educação e leitura e cinema e teatro e música? É isso. Votos de sucesso, saúde e prosperidade. Boa semana 44
  • 45. Crônicas Agudas EGO VINDICO No texto “Considerações sobre o ataque histérico”, 1909, Freud define histeria "como fantasias traduzidas em linguagem motora, projetadas sobre a motilidade e figuradas como pantomima". Farei uma ligação com as contumazes e fugazes REIVINDICAÇÕES que vemos pulular no jornal a cada semana. Em que pese que hysteros é coisa de mulher, pois útero é, vimos muitas carinhas masculinas sorridentes ilustrando as REIVINDICAÇÕES, como querendo dizer, um tanto hesitante e lento: “Olha, gente, quem REIVINDICA, sou eu, tá? Olha como trabalho pela minha cidade!!” Daí que REIVINDICAR, se mostra como ato a ser homenageado. Conquistar a coisa é secundário. Mas, reivindicar... Uau (!), dura um ano e após o primeiro natal tudo será esquecido. O caso da histeria aponta para o fato de que, mesmo se é referida a algum tipo de teatro, performance, representação inconsciente, essa específica idéia de representação está ligada a resultados nulos, exceto à exposição na mídia durante a semana. Uma e outra REIVINDICAÇÃO dá resultado – para que eu não seja chamado de injusto - como temos exemplo de vereador local que pediu e levou. Claro que não foi verba advinda 45
  • 46. Crônicas Agudas através de algum programa ou planejamento. Foi aquela verba de pires-na-mão. A conta vem na próxima eleição. Mas, pediu e levou e isso basta para cidades provincianas. Histeria e Pires me lembra de um certo “PIDONHO”, como ele mesmo se chamava, cujo espectro rondava a prefeitura d’antanho. Um fantasma no estilo Canterville. Será a histeria vindicatrix apenas uma experiência feminina de todos os tempos para presentificar o corpo e seu desejo? A experiência plástica do gozo? Por coisa alguma? Só para ver sua carinha sorridente dentro de um retângulo pago no jornal? Abre parênteses: - Para os menos avisados, quando um jornal publica matéria cercada por fino risco de contorno trata-se de matéria paga, e, não furo de reportagem importante. Em geral é coisa desimportante paga pelo próprio interessado sorridente. Fecha parênteses. Esta histeria da REIVINDICAÇÃO estará ligada a uma depuração do afeto pela linguagem? Não sei... estou perguntando. Schneider (1992) diz, citando Lacan: trata de priorizar a linguagem na ordem da natureza e do infra-humano(...) como a linguagem do sopro e do grito. É até poético. Podia ser dentifrício, também. No entanto, o discurso psicanalítico acabou privilegiando a interpretação da histeria como teatro da representação inconsciente recalcada. Assim, também vou reivindicar. Vou na onda. Quero isso e quero aquilo. Quero desrecalcar. Acho que vou mandar uma REIVINDICAÇÃO a meus deputados favoritos. Só... Nem, é preciso que façam qualquer coisa... o legal é reivindicar... Se nada fizerem eu tenho a desculpa: “Aaaaah! Mas eu reivindiquei”. Ego vindico. Mas há uma interpretação latina para vindicar que significa punição ou vingança, na verdade, requerer a justiça. Exigir a justiça. Domandar o que é justo. Io domando. Ouçamos David-Ménard: "Um ataque histérico não se constitui somente como uma descarga, mas como uma ação que conserva a característica inerente de toda ação: um modo de se obter prazer." Talvez a descarga de prazer nos fundilhos, ao ver sua carinha no retângulo das Reivindicações, seja suficiente para a semana. Pode ser. Um ato masturbatório em retângulo vindicador. Pode ser. Quem sabe? Subir ao púlpito – ou aparecer com a carinha risonha no retângulo - exibir-se, mostrar-se, vitrinar-se, é uma conduta ligada ao desejo intelectual ou se reporta à busca de prazer. Para Ménard é atualização do erotismo com o próprio corpo: o histérico coloca o objeto do seu desejo como se ele estivesse lá. Fé cênica. Dura Lex sed Lex / ou fed Lex sed Lex / Durex. Gumex. Sed Ex. Esteja fora. Sai! 46
  • 47. Crônicas Agudas As experiências de Charcot era com mulheres e elas davam seus espetáculos teatrais de presentificação de corpo e de prazer. Mas nos retângulos vindicatórios o que vemos é a prevalência de homens e agregados. Mudou, pois. O sintoma histérico remete a outra realidade do corpo: o cérebro paralisado não remete a uma lesão funcional, sendo expressão de um valor afetivo que lhe é conferido. Isso me deixa preocupado. O Ipê Imperial em frente de casa começou a dar flores e são brancas? Será que serei punido por contrariar a Tabebuia específica da cidade? Cara, nem pensei nisso. 47
  • 48. Crônicas Agudas ELEITORES & ELEITOSOS Seguindo o bom exemplo do Serapião, vou ao Aurélio, nem ao Sênior nem ao Junior, mas ao do Meio e leio... Ficção: Ato ou efeito de fingir: fingimento. Coisa imaginária, invenção. Ficcionista: aquele que faz ficção, escritor, autor. Muito bem. E, não deixa de ser. Um dia, numa cidade fictícia, uma história fictícia acontece. Certo Senhor Honrado – um sujeito muito louro e claro com olhos quase azuis - entra na Casa de Leis de sua cidade, carregando um importante documento onde se dizia coisas sobre Nepotismo Barato. Crente que abafava foi, isso sim, abafado por vários edis que ali se encontravam de plantão, edis estes que o levaram, à socapa (aqui uma nítida influência do Monteiro Lobato), o levaram na astúcia para uma saleta contígua e deitaram falação na cabeça daquele alourado edil. Dedé, Tutu, Chichi, ao lado da idílica Mamá e do atabalhoado VemVem - um literato alto, bastos cabelos prateados, dublê de magister iuris e sonhador – caíram de pau no Honrado Senhor, mandando que calasse aquela boca que cuspia no prato de pão que o diabo amassou. Que esquecesse a inverossímil presunção. Que conversa de nepotismo era esse? 48
  • 49. Crônicas Agudas Ao mesmo tempo, no outro lado do mundo, Gordon Tullock, sobre seu caixote de discursos dizia: "a nova abordagem começa supondo que os eleitores são muito parecidos com consumidores e que políticos parecem com mulheres e homens de negócios". Gordon, com o passar dos estudos, se tornou cético em relação ao valor da teoria da "escolha pública". Apoiando esse pensamento Leif Lewin, cáustico que era, disse que os pensadores da escola da "escolha pública" "retraíam o ser político como... um habitante míope das cavernas". E ainda completou: - Isso não é ofensa. É apenas constatação! Lewin acreditava que essa coisa toda, eleições e eleitosos, está inteiramente errada: - Pode ter sido verdade, um dia, na época dos trogloditas, antes que o ser humano “descobrisse o amanhã, e, aprendesse a fazer cálculos de longo prazo" mas, não agora, em nossos tempos modernos, quando todos sabemos, ou pelo menos a maioria, tanto eleitores como eleitosos, que "amanhã nos encontraremos novamente" e, portanto, a credibilidade é "o único recurso valioso do político". O caso é que, enquanto a edilidade cobria de pancada o famoso Homem Honrado, neste nosso lado do mundo, o que se punha em conflito era a atribuição da confiança: a arma mais zelosamente utilizada pelo eleitor. No entanto, ainda assim ele erra que dói. Para apoiar sua crítica da teoria da "escolha pública", Lewin citara estudos empíricos que mostram que poucos eleitores votam pensando em seus próprios bolsos. Não lembram que política atinge o bolso, como já dissera Brecht, e, a maioria dos eleitores declara que o que guia seu comportamento eleitoral é o estado do país como um todo. Uau!! Saberão mesmo do que falam? Um país desse tamanho, editado e conhecido através do JORNAL NACIONAL, apenas, será realmente conhecido em sua totalidade? Ou na totalidade que aparece no écran cinzento de acordo com os ditames do Capital Global? Lewin espera isso. O que é que nós poderíamos esperar? Poderíamos esperar resposta e satisfações das autoridades? Autoridades sem curso superior terão articulação suficiente para explicar coisas? Na hora da entrevista a pessoa na rua tenta imitar o que já ouviu e não sai do lugar comum. Estamos na era do fazer aquilo que o outro quer, portanto, ninguém em sã consciência falará o que lhe vai pela cabeça. O entrevistado da rua dirá o que agrade ao entrevistador, mesmo por que será editado depois. E, o que são os entrevistadores senão jornalistas formados e formatados para agradar ao chefe? Os eleitores entrevistados acham que se espera deles, apenas, que digam o adequado, e nada mais. Sugiro que Dedé, Tutu, Chichi, Mamá (hoje, devidamente defenestrada) e VemVem (poeteiro dos quatro costados), se considerarmos a notória disparidade entre o que fazemos e o como narramos nossas ações, comecem a explicar por que o Honrado Senhor não pode falar nada sobre 49
  • 50. Crônicas Agudas Nepotismo e é, despudoramente, censurado em suas idéias. É mais simples do que conspirações comezinhas de fundo de sala. Mas, nada disso existe. É tudo ficção e temos que acreditar que tais personagens inventadas pela mente insana do ficcionista não passam de fantasmas, abantesmas, espectros ficcionais sem serventia. Nem um deles cheira à mínima verdade. Mas, como eu disse: Tudo é ficção. Fingimento. A verdade é que às vezes eu minto. 50
  • 51. Crônicas Agudas O ANALFABETO FUNCIONAL O Analfabetismo Funcional é problema que afeta o país. Sabem ler, escrever e contar, ou assim parece; ocupam cargos administrativos, cargos legislativos, transformam- se em excelências e edis de roupa nova, mas não conseguem compreender a palavra escrita. Um texto passa batido e a interpretação é coisa do arco-da-velha ou da arca-do- velho. Nada de tapar o sol com a peneira. Queremos gente com discernimento. Bons livros, artigos e crônicas, nem pensar! E, sendo assim, como escrever boas e inteligentes leis? Como interpretar escorreitamente uma lei? Não basta citar Platão com frases escolhidas na net. Isso demonstra o descaso com a educação. É fazer mofa. Em 2008 houve eleições para prefeitos e vereadores: casos de analfabetismo funcional dentre os candidatos. Será a vez da cidadania se manter vigilante e atenta para o nível dos políticos que ocupam prefeituras e casas legislativas. Para mais detalhes sobre esta importante alteração na legislação eleitoral, visite www.avozdocidadao.com.br e veja o link para a íntegra do parecer que decidiu pela constitucionalidade do projeto. Aí evitaremos o que finge entender tudo, para depois sair perguntando aos outros como deve 51
  • 52. Crônicas Agudas ser realizado tal serviço, como deve ser lida tal lei, como deve ser endereçado tal carta. E quase sempre age por tentativa e erro. Calcula-se que, no Brasil, os analfabetos funcionais são 45% da população economicamente ativa. No mundo entre 800 e 900 milhões. Muitas vezes, pessoas com menos de quatro anos de escolarização; nos dias hoje há secundarista que dá medo de tanta parvoíce; há os com formação universitária e exercendo funções-chave em empresas e instituições, tanto privadas quanto públicas! Tais pessoas não têm as habilidades de leitura compreensiva, escrita e cálculo para fazer frente às necessidades de profissionalização e tampouco da vida sócio-cultural. E quanto a lidar com leis e diretrizes que influenciam na vida de todas as pessoas da cidade? Ou será que a limitação é proposital para facilitar a influencia, somente, na sua própria vida? Quem sabe? Se você não lê livro algum no ano inteiro já é um suspeito. O "Calcanhar de Aquiles" de tantas organizações e de tantos governos: MAUS LEGISLADORES. O que a população ganha com isso? Nada! Principalmente se der as costas ao problema. Se você é desses que aceita o caso passivamente, não há do que reclamar. O termo analfabetismo: a incapacidade de pessoas utilizarem a leitura e a escrita, além de realizar cálculos básicos, em atividades da vida diária que requerem tais habilidades. Estudiosos têm dirigido esforços para estabelecer conjuntos de tarefas socialmente relevantes em que se utiliza material escrito e, a partir deles, dimensionar e analisar graus e tipos de “alfabetismo” que caracterizam pessoas ou grupos. A partir de 1978, a UNESCO adotou o conceito de analfabetismo funcional, que se refere à pessoa que, mesmo sabendo ler e escrever algo simples, não tem as competências e disposições necessárias para fazer da leitura e da escrita um dos instrumentos de seu desenvolvimento pessoal e profissional. Ora, sabemos bem que uma casa de Leis depende disso. E se tem uma e outra pessoa que domina a arte, ou mesmo um secretario capaz, fica clara a dependência da mão do gato. Quem é mais esclarecido impõe o seu poder e seu domínio. Por isso, dá até para contar nos dedos quem domina e quem ajoelha. Nas eleições de 2006, havia 770 candidatos que sabiam apenas ler e escrever ou tinham ensino fundamental incompleto, ou seja, que poderiam se enquadrar nas condições de analfabeto funcional. Eram 4 para governador, 3 para senador, 179 para deputado federal e 584 para deputado estadual ou distrital. Quando o candidato não sabe interpretar o que lê não sabe, ao certo, o que vai no estatuto de seu partido. Mas, como comprovar o nível de escolaridade de um candidato sob suspeita? Atualmente, a alfabetização do candidato é provada por uma simples certidão. Com a 52
  • 53. Crônicas Agudas regulamentação, o juiz eleitoral poderá impugnar ou não uma candidatura através do laudo de uma comissão formada por pedagogos e professores de matemática e português que sabatinará o candidato. E aí? Tremeram na base? Se as pessoas fazem curso de noivo para casamento por que é que o candidato não precisa passar por uma sabatina prévia? A partir daí, se for ocaso, nem precisa se candidatar. Poupará seu dinheirinho. Poupará o ouvido alheio e as casas legisladoras serão mais independentes. É isso. Boa semana. Ouçam as gravações das sessões da Câmara de sua cidade e atentem para as pérolas oratoriais. O ATOR E O RETORNO DA MORTE ______________________________________________________________________ Instala-se (Freud) o conceito de pulsões. Pulsão de vida e pulsão de morte. Conceitos de origem nos campos do id – inconsciente – e se projetam ao longo da vida. Platão já dizia que Filosofia é uma preparação para a morte. A morte física? A morte com superação de etapas? A preparação para a morte do entendimento sensível (daquilo que se sente materialmente, tato e similares)? A entrada no campo metafísico ( o que vai além da física ou do físico – oi conceito de quanta será metafísico)? Mas Platão não gostava de teatro por não ter entendido o sentido da representação. Teorizou muito sobre música e já dizia que para dominar um povo basta dominar sua música. A partir dessa frase platônica, O que pensar da música – ou atitudes - importadas? Qualquer uma: rock, hiphop, sinfônicos alemães, óperas italianas... Teria que esperar Freud. Essa morte prevista não é aquela dos filmes de terror nem das dos desenhos animados em qe uma panelada na testa desmonta a pessoa – personagem – para remontá-la logo em seguida. Trata-se do caminho natural de um corpo que tem história de começo/meio/fim, e, se direciona para este fim desde que nasce. A pulsão que busca o retorno à Natureza é 53
  • 54. Crônicas Agudas TANATOS. Tanatos é idealização daquilo que é inarticulável em linguagem... daquilo que não dá para falar... O corpo humano que nasce/vive/morre busca voltar ao pó... homem/húmus/humanus/manus/mão/artífice... barro (aglomerado de átomos) de onde partiu aquele ser biológico que age e não pensa na conseqüência, fingindo que pensa. A propaganda da TV afirma que ele pensa e este humano acredita nisso piamente, mas, depois da panelada o ser humano desarticula sua memória. O corpo biológico nascido de genótipo se torna fenótipo (que é a relação com mo meio ambiente), depois, ser social que interage com a civilização construída. Este corpo vai também construir a sua parte na civilização (mesmo que seja destruir). Interfere na civilização que herda ao nascer. Daí o mal-estar na civilização; inserir-se neste contexto não demandado mas, obrigatório ao nascer, não demandado, repito, é abdicar do estado natural segundo Rousseau. Sair do estado natural para um não-natural – civilização / kultur - é de negar seus mais escondidos desejos; é ser civilizado e cair num estado de mal-estar constante. Nostalgia do nada. Tristeza por coisa alguma. Bachianas nº2. Rebeldia sem causa. Ter saudade do momento que não viveu. Assim subamos ao palco para reviver? Re-presentemos ou seja, colocamos de volta no presente aquilo que nos tocou? Lázaro redivivo? Quando Lázaro saiu da cova fedia à morte ou lavanda? Ainda Freud: do binômio civilização-renúncia pulsional, como forma de constituição do laço social, diria respeito a uma forma universal de cultura; a defesa da concepção de cultura marcada pelo projeto iluminista-humanista do domínio da natureza pela razão; trata-se de falácia gigantesca, pois, enquanto o ser humano interfere na natureza (eufemismo para CONTROLA a natureza ) o ser humano altera seu status na própria Natureza, excluindo-se como item do equilíbrio ecológico. O ser humano é alienígena em seu próprio planeta ou será só alienígena? O retorno ao estado natural do mundo será através da eliminação do ser humano como corpo estranho que causa a infecção. Deve ser extirpado. O mundo é palco. A cultura é uma peça que se desenvolve nesse palco. Há muito improviso. Tem muita gente que nem percebe que atua. Todas as observações acima se calam quando se recebe muito bem e se trabalha na Rede Bobo. Quando atriz/ator irrompem no palco acabam por negar a pulsão de morte e revitalizam, através da personagem, a existência de uma nova história a ser contada, de uma nova bio, de uma nova zoe. Atriz/Ator rompem com o ciclo que leva à morte e rasgam o véu da 54
  • 55. Crônicas Agudas neurose, desencadeando a catarse que se quer. A ficha que cai. A idéia que se propaga. A sensação de Eureka. Mas, apenas sensação. Dois conceitos ainda a serem pensados e trabalhados: Antiédipo: quando a mulher assume seus papéis (que não fazia no começo do teatro) / e fim da pulsão de morte, mesmo que sobre o palco. No palco negamos a morte e consideramos o eterno repetir. No entanto a cortina se fecha no final, mas se abre no momento seguinte. As cenas querem repetir o quotidiano ou o fato ou o evento, mas sempre repetir e por si só repete o mesmo de si, a cada dia de apresentação. No entanto, a cada dia de apresentação o repetido não é tão o mesmo. Tem pequenas mudanças. Há na música minimalista tensões desse tipo. Pequenas células musicais que se organizam e mudam sempre; sempre alterando algo no ritmo, na ordem, na posição ou ainda no instrumento que toca o trecho. Se forem vários instrumentos teremos universalidade de informações. Bob Wilson usa tal recurso em seu balé no teatro. Uma única coreografia que todos aprendem. Mas, como cada um dos cinqüenta executantes a realiza em momento diferente e em posição geográfica muito variada, iluminado por luzes diferentes a realização se torna caleidoscópica e multiplica a visualização com pequeno esforço. Sentimos que tudo é diferente. Atriz/Ator repetem sua cena a cada dia. A cada dia a mesma cena muda. Um trejeito ali. Mudança no passo. Na velocidade da fala. A cada dia quem a vê a vê diferente, por ela (pela cena) e por si mesmo (pessoa pensante). A pessoa que vê a cena ganha, a cada dia, mais conteúdos e seu olhar muda sobre a cena. A repetição se dá dentro do episódio do acaso. A cena realinha os conteúdos da pessoa/platéia. A peça civilizatória, ou o papel que a sociedade impõe e que a população assume é mal teatro. As peças sobre o palco tentam organizar a civilização, não com o fito de controlar a civilização, mas com interesse de esclarecer ou iluminar pontos – AUFKLARUNG. Quando a platéia se emociona é por que percebe que mal decorou o texto ou que mal improvisou, sempre fora do tempo ou do sentido. Começa que o DRAMA é o movimento da coisa e as pessoas se limitam a permanecer sentadas, imóveis, absorvendo sem participar. É a tradição reinstalada. 55
  • 56. Crônicas Agudas O PROCESSO DE IMBECILIZAÇÃO - ou, LIVRE ARBÍTRIO ZERO – Leitores: Seguem links que recebi do Murah Azevedo sobre o programa da BBC de Londres (sem legenda) chamado The Century Of The Self. Vale a pena conferir. Ou melhor, não há pena nem dor alguma. É um prazer saber que algumas pessoas continuam com a razão e pensam por si, enquanto outras penam por si. Happiness Machines http://www.youtube.com/watch?v=3dA89CBBOC0 / The Engineering… http://www.youtube.com/watch?v=H9RfanOEpA0&feature=related / There is a Policeman http://www.youtube.com/watch?v=AzE9ocIGVlQ&feature=related / Eight People...http://www.youtube.com/watch?v=R1VJrp0IvPs&feature=related. Tratam de séries da BBC que revelam como o sobrinho de Freud (Edward Bernays) usou as idéias, e, técnicas do titio para se tornar milionário como Public Relations. PR do planeta, e, das grandes corporações, usando a manipulação da mídia estadunidense no início do século XX para, em nome da "DEMOCRACIA" controlar as massas, tornando a todos "Homer Simpsons ictéricos e decadentes"; pessoas consumistas de lixo material e imaterial de então e, por conseqüência do processo, de hoje... Bernays cunhou o termo PUBLIC RELATIONS porque o verdadeiro e apropriado termo "PROPAGANDA" já 56