O documento discute como o sistema de exames na França reproduz desigualdades sociais e serve para selecionar estudantes de acordo com sua origem social. O exame estabelece um padrão de conhecimento que beneficia aqueles com maior capital cultural e elimina estudantes de classes populares. A mobilidade por meio da educação é limitada e ajuda a manter a estrutura de classes na sociedade.
1. UFSCar – Universidade Federal de São Carlos
CECH - Centro de Educação e Ciências Humanas
Rod. Washington Luis, km 235 – Cx. Postal 676 – CEP 13.565-905.
Pedagogia: Aluno: Roosevelt Carlos de Oliveira
RA: 604933 – e-mail: roosevelt@coopling.com.br
Profa. Dra. Maria Cristina dos Santos Bezerra.
Aluno: Roosevelt Carlos de Oliveira – RA 604933
Fichamento do Texto de:
BOURDIEU, Pierre; PASSERON,Jean-Claude. “Eliminação e Seleção”, Cap. 3, p. 150-
185, in: A reprodução: Elementos para uma teoria do sistema de ensino, Ed. Franciso
Alves. 2ª edição 1982.
O exame não é outra coisa senão o batismo burocrático do conhecimento, o
reconhecimento oficial da transubstanciação do conhecimento profrano em
conhecimento sagrado. (K. Marx, p. 151)
O texto trata do peso do exame no sistema de ensino Francês e o sistema de eliminação
existente que permeia as relações entre os processos de avaliação por parte dos
docentes, a origem social dos alunos, o sistema de notas que privilegia os mais
qualificados versus a auto-eliminação, ou seja, os drop-outs, ao longo do curso
(Roosevelt, 2014).
O exame na estrutura e na história do sistema de ensino.
O exame não é somente a expressão mais legível dos valores escolares e das escolhas
implícitas do sistema de ensino: na medida em que ele impõe como digna da sanção
universitária uma definição social do conhecimento e da maneira de manifestá-lo,
oferece um de seus instrumentos mais eficazes ao empreendimento de inculcação da
cultura dominante e do valor desta cultura. (p.153)
De modo mais geral, é evidente que um procedimento de seleção tal como o concurso
reforça o privilégio que toda a tradição da Universidade francesa outorga às qualidades
de forma: “É bastante lamentável que o concurso seja o único caminho para se chegar
ao professorado dos colégios e que a habilidade prática, juntamente com os
conhecimentos suficientes, não possa favorecer essa admissão. (p.154)
Se é verdadeiro, em todo caso que o exame exprime, inculca, sanciona e consagra os
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valores solidários com uma certa organização do sistema escolar, com uma certa
estrutura do campo intelectual e, através dessas mediações, com a cultura dominante,
compreende-se que questões tão insignificantes à primeira vista quanto o número de
aulas do bacharelato, o alcance dos programas ou dos processos de correção de provas
possam suscitar polêmicas apaixonadas, sem falar da resistência indignada que encontra
toda avaliação crítica de instituições cristalizadas em valores como o concurso de
agregação, a dissertação, o ensino do latim ou as grandes escolas.
Se é verdadeiro, como observa Durkheim, que o surgimento do exame, ignorado da
Antiguidade que só conhecia escolas e ensinantes independentes ou mesmo
concorrentes, supõe a existência de uma instituição universitária, isto é, de um corpo
organizado de docentes profissionais que provê ele mesmo a sua própria perpetuação; se
é verdadeiro, igualmente, segundo a análise de Max Weber, que um sistema de exames
hierarquizados que consagra uma qualificação específica e que dá acesso a carreiras
especializadas só apareceu, na Europa moderna, em ligação como o desenvolvimento da
exigência das organizações burocráticas que pretendem fazer com que indivíduos
hierarquizados e intercambiáveis correspondam à hierarquia dos postos oferecidos.
(p.155-156)
A crítica do modo de ver e pensar da escola francesa está em como a Escola define “o
espaço da reprodução social e um eficiente domínio de legitimação das desigualdades”.
E também como um local, uma instituição que reproduz a sociedade e seus valores e
que efetiva e legaliza as desigualdades em todos os aspectos e local de transformação de
seus valores em capital cultural.
O exame estabelece uma definição social do conhecimento e da maneira de mostra-los,
ou seja, padroniza respostas e reações relacionadas a determinados conteúdos e limita
de certa forma, o conhecimento e as capacidades adquiridas e desenvolvidas ao longo
dos anos. A escola utiliza o exame para selecionar os indivíduos mais competentes e os
classifica por colocá-los sob um alto patamar escolar. Os oriundos de classes populares,
muitas vezes são eliminados do sistema antes mesmo de serem examinados e avaliados,
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o que demonstra o quanto as desigualdades são poderosas e influentes no ingresso e
êxito escolar do indivíduo. (p.160-162)
Os autores utilizam os termos “probabilidade de passagem e probabilidade de êxito”,
para destacar o quanto as diferenças culturais podem agir na vida e no sucesso escolar
de determinada pessoa. Aqueles que vieram ou passaram por uma estrutura social pobre
em condições básicas de sobrevivência e informação de qualidade, tem chances
menores de obter êxito escolar e ingressar no ensino superior. Os que conseguem
ultrapassar essa linha divisória rigorosa tendem a começar a reproduzir tudo aquilo que
aprenderam no sistema social em que estavam inseridos e acabam, muitas vezes,
recebendo o diploma sem ter desenvolvido as competências básicas exigidas pelo
sistema escolar. (p.163)
Um grande número de pesquisas sobre o sistema de ensino concebido como instância de
seleção contínua (drop out) não faz senão retomar por sua conta essa oposição da
sociologia espontânea quando tomam por objeto a relação entre os que entram num
ciclo o os que saem com sucesso, deixando de examinar a relação entre os que saem de
um ciclo e os que entram no seguinte. (p.164).
Uma análise das funções do exame que pretende romper com a sociologia espontânea
leva a substituir o exame puramente docimológico do exame, que serve ainda às funções
ocultas do exame, por um estudo sistemático dos mecanismos de eliminação, como
ponto privilegiado da apreensão das relações entre o funcionamento do sistema de
ensino e a perpetuação da estrutura das relações de classe. (p171).
Longe de ser incompatível com a reprodução da estrutura das relações de classe, a
mobilidade dos indivíduos pode concorrer para a conservação dessas relações,
garantindo a estabilidade social pela seleção controlada de um número limitado de
indivíduos, ademais modificados por e pela ascensão individual, e dando assim sua
credibilidade à ideologia da mobilidade social que encontra sua forma realizada na
ideologia escolar da Escola libertadora. (p. 176).