Slide desenvolvido para o grupo de pesquisa Narrativas Midiáticas Audiovisuais Reconfiguradas. Orientação da professora Fabiana Quatrin Piccinin. Universidade de Santa Cruz do Sul - Unisc.
1. A NARRATIVA
CINEMATOGRÁFICA
CAPÍTULOS 3 E 4
___________________________________________
André Gaudreault e François Jost
Universidade de Santa Cruz do Sul – Unisc
Narrativas Midiáticas Audiovisuais Reconfiguradas
Cristiane Lautert Soares – PROBIC/FAPERGS
2. A PALAVRA E A IMAGEM
No cinema, palavra e imagem quase sempre estiveram
interligadas.
Originalmente, as imagens eram registradas e projetadas em
silêncio. A música e os ruídos eram produzidos “ao vivo”.
Entre 1900 e 1910, às vezes eram acrescentados comentários,
feitos por um” conferencista” ou comentador. Intertítulos eram
raros.
Durante os anos 20, o comentador sai de cena e a palavra
inscrita (por cartela interposta) traz informações de natureza
verbal ao espectador, sem o auxílio da voz.
Por volta de 1928 - a voz do narrador e a voz dos personagens
são inscritas sobre a película do filme. Cinema sonoro / cinema
falado.
3. O COMENTADOR E O ESPECTADOR
ASSISTIDO
A multiplicidade dos planos toma o lugar da mostração em um
só plano. Havia o risco de romper o fio da narrativa a cada
mudança de plano.
Aumento da tarefa do espectador.
Intrigas multilocativas (acontecendo em lugares múltiplos).
Sem o recurso às palavras e à fala, surgem os intertítulos.
O comentador - explicador direto de filmes que se encarregava
de dar aos espectadores as informações que uma mostração
cada vez mais complexa não podia transmitir sem o auxílio da
fala.
4. O NARRADOR-SUPLENTE
O comentador se viu no papel de um narrador-suplente.
Trazia ao conhecimento do espectador o conteúdo dos
diálogos e das lacunas da narração fílmica.
Diálogos diretos e indiretos (Exemplo na p. 88).
Manifestações narrativas orais do comentador traduziam
o que seria impossível dizer de outra maneira que não
pela fala.
Comentador como “sócio” do grande imagista.
5. A “LEITURA” DA IMAGEM
Com o progressivo desaparecimento do comentador,
as cartelas explicativas se multiplicaram (p. 89).
O comentador agia como se fizesse a leitura para o
espectador. O escrito exige a participação ativa por
parte do público (leitor).
Com a cartela é possível influenciar a recepção do
filme de um modo controlado e unívoco. No entanto,
sua função não era somente ideológica. Também
servia à eficácia narrativa.
6. A “LEITURA” DA IMAGEM
As cartelas podem servir para nomear personagens e
situá-los social e historicamente (p. 90).
Cartas, diários e artigos de imprensa são ferramentas que
permitem dar informações de dentro da diegese, ao passo
que as cartelas sublinham a presença de um narrador
externo (p. 91).
As cartelas dão à sucessão de imagens um valor que não
somente o da sucessão cronológica. Projeta ao futuro e
introduz uma nova temporalidade, estabelece a
onisciência da instância narrativa (p. 91).
7. A “LEITURA” DA IMAGEM
As imagens apresentam sempre uma margem de
incerteza quanto à interpretação, e a palavra,
segundo Barthes, nos “ajuda a encontrar o nível
correto da percepção” (p. 91).
A menção escrita traduz o que o espectador não
saberia ler (p. 92).
A cartela é o porta-voz do personagem (p. 92).
8. FUNÇÃO DA CARTELA NO CINEMA MUDO
Efeitos de linguagem:
Fixação – dirige o espectador entre os diferentes significados
possíveis de uma ação representada visualmente (p. 92).
Instrução – dá sentido ideológico, permitindo que o espectador
interprete aquilo que vê (p. 92).
Nomeia o que a imagem só pode mostrar: lugares, tempo,
personagens (p. 92).
Acrescenta a possibilidade do discurso direto por meio da
transmissão das réplicas do personagem (p. 92).
9. FUNÇÃO DA CARTELA NO CINEMA MUDO
Efeitos narrativos:
Contribuem para a formação do mundo diegético (p. 93).
As cartelas resumem ações que ainda não vemos ou apresentam
planos como resumos de eventos de maior duração (p. 93).
Modificam a ordem temporal da sequência de imagens,
antecipando a continuação do filme (p. 93).
Interrompem a progressão da narrativa visual. A narração verbal
esclarece o que a narrativa visual não pode dizer (p. 94).
10. A VOZ E A IMAGEM
Revolução do cinema falado - restituição da língua sob a forma
de gravação sonora (p. 94).
Comentador dizia as palavras em simultaneidade com a
imagem. Relato oral admitia margem de improviso (p. 95).
A cartela reduz essa margem e fixa as palavras na película (p.
95).
A gravação sonora recupera a simultaneidade da palavra
perdida e da imagem e obtém controle sobre o texto das
réplicas ou dos comentários (p. 95).
Narrativa dupla ganha sentido pleno: duas coisas são contadas
ao mesmo tempo, de forma concomitante (p. 95).
11. A VOZ E O CORPO
A terceira pessoa gera, na literatura, uma voz anônima,
que não possui identidade nem corpo (p. 95).
As palavras, quando pronunciadas por uma terceira
pessoa, suscitam uma interrogação a respeito do
narrador verbal (sua personalidade e relação com a
diegese de que fala) (p. 95).
Voz in – voz pronunciada no campo (p.96).
Voz off – voz de um personagem fora do quadro (p.96).
Voz over – voz de um locutor invisível, que não está no
tempo e no espaço da imagem na tela (p.96).
Escuta acusmática – ouve-se o som sem se ver a fonte
de onde provém (p.96).
12. TIMBRE DA VOZ COMO ÍNDICE
NARRATIVO
Voz over do narrador e voz in dos diferentes personagens - narrador
explícito ou um subnarrador conta uma história. Cada personagem tem
sua própria voz, seu próprio timbre, seu próprio indicativo. As palavras
pronunciadas estão em sincronia e aderem à representação visual do
personagem (p. 97).
Narração em voz over e diálogos imbricados – corresponde, na
literatura, à passagem do discurso indireto ao direto (da narrativa ao
diálogo) (p. 98).
Narração em voz over e mutilação do diálogo – a voz over pode
substituir o diálogo sem provocar o desaparecimento de sua
representação visual (p. 99).
Duas vozes em um só corpo (p.99).
Uma voz para dois corpos (p.99).
13. O ESPAÇO FÍLMICO
“Em uma narrativa fílmica, o espaço está, em quase todas
as vezes, presente. Ele é, em quase todas as vezes,
representado”. As informações narrativas referentes ao
espaço são abundantes (p. 107).
A língua não consegue restituir com exatidão certas
realidades, dentre as quais as relações de ordem espacial
(p. 106). Ex.: “O homem está no corredor”. Lacunas que a
imagem preenche (p. 108).
Escuridão, telas pretas, cenários abstratos podem privar o
espectador de coordenadas espaciais mais precisas, do
quadro situacional. Amenização do quadro (p. 108-109).
14. ESPAÇO REPRESENTADO E ESPAÇO
NÃO MOSTRADO
A produção de uma narrativa fílmica implica dois
espaços: o profílmico – campo delimitado pelo quadro
da câmera + espaço) e o da consumação (tela +
espaço do espectador, sala de cinema) (p.110).
Teletransporte espacial – o cinema torna presente ao
espaço do espectador um espaço ausente (p. 110).
Campo - espaço representado (visto na tela) (p. 111).
Fora do campo - espaço não mostrado (sua ausência
suscita questões) (p. 111)
15. ESPAÇO FORA DO CAMPO
Quatro primeiros segmentos – lados do quadro (p. 111).
Quinto segmento – existência do espaço “atrás da
câmera” – o “lugar” do qual se “fala” ao cinema (p.
111).
Sexto segmento – comporta tudo o que se encontra por
trás do cenário ou de um elemento do cenário (p. 111).
Também existe o espaço fora do campo sob influência do
grande imagista – narrador dirige-se ao espectador a
partir de um lugar desconhecido (p. 112).
BURCH
16. O ESPAÇO SUGERIDO: FORA DO
CAMPO
O enquadramento exclui (lados, circunvizinhanças) –
fora do campo (p. 113).
“Cada sucessão de planos atualiza e organiza um
espaço anteriormente fora do campo. O “aqui-e-
agora” do plano em curso é um “ali” do plano
anterior, ao passo que o “ali” do plano em curso logo
se tornará um “aqui-e-agora” (GARDIES, 1989 apud
GAUDREAULT e JOST, 2009) (p.113).
Potencial narrativo do cinema está nessas
articulações. Mobilidade da câmera.
17. RELAÇÕES ESPACIAIS
Em termos narrativos, a pluripontualidade do cinema
pode ser considerada como um tipo de “linguagem”,
de ordem ao mesmo tempo espacial e temporal
(p. 117).
Diante de uma sequência de uma montagem
alternada, o espectador deve saber ler o sentido dos
cortes que lhe transportam de um lugar a outro.
Reconhecer a distância entre os espaços diegéticos
(p. 117).
Exemplo – sequência de salvamento de última hora,
no filme Lonedale operator, de Griffith (p. 117).
18. IDENTIDADE ESPACIAL
Podem-se identificar quatro tipos de relações
espaciais. Uma delas se enquadra na identidade
espacial:
A que articula dois segmentos espaciais, em
cruzamento parcial de um plano a outro (p. 119).
O mesmo espaço é mostrado, mas em (pro-)porções
diferentes. O plano que vem em segundo lugar
mostra um detalhe do primeiro (p. 119).
19. ALTERIDADE ESPACIAL
Os outros três tipos de relação espacial
estabelecem uma relação de alteridade.
Manifestações da alteridade:
Contiguidade – as informações contidas nos dois
planos levam o espectador a inferir uma
continuidade direta entre esses dois segmentos.
Comunicação visual imediata entre personagens
presentes em dois segmentos (sem parede
separando-os) (p. 120).
Disjunção – separação de dois segmentos
espaciais por um obstáculo físico (p. 121).
20. O ESPAÇO PRÓXIMO
Há três casos distintos de disjunção
proximal:
“Todas as vezes que o espectador pode
supor, por meio de informações de natureza
espacial emitidas pelo filme, uma
possibilidade de comunicação visual ou
sonora não amplificada [...] entre dois
espaços não contíguos aproximados pela
montagem”. (não se tocam imediatamente, a
montagem é o que os aproxima) (p. 122).
21. O ESPAÇO PRÓXIMO
“Há disjunção proximal quando a câmera nos
faz transpor dois espaços adjacentes
separados por uma parede [...] sem passar
pelo intermediário de um personagem que
leve um ao outro” (p. 123).
“Há disjunção proximal no caso em que se
nota um processo de comunicação vetorizado
(pelo deslocamento de um personagem, por
exemplo) entre dois segmentos espaciais não
contíguos”
(p. 124).
22. O ESPAÇO DISTANTE
Tipo de ligação espacial que junta, a favor da
passagem entre dois planos, dois espaços
em disjunção distal (p. 123).
Os ruídos também servem de índices na
construção do espaço (p. 125).
23. O ESPAÇO DISTANTE
{
Identidade
Articulação espacial (“aqui mesmo”)
{
entre dois planos Contiguidade
(“aqui”)
{
Alteridade Proximal
(“ali”)
Disjunção
Distal
(“lá”)
(p. 125)
24. REFERÊNCIAS
GAUDREAULT, André; JOST, François. A narrativa
cinematográfica. Brasília: Editora Universidade de
Brasília, 2009.