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Poesia do mar
MAR PORTUGUÊS
Ó mar salgado, quanto do teu sal
São lágrimas de Portugal!
Por te cruzarmos, quantas mães choraram,
Quantos filhos em vão rezaram!
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e o meu sonho desapareça.
Depois, tudo estará perfeito;
praia lisa, águas ordenadas,
meus olhos secos como pedras
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MAR!
Tinhas um nome que ninguém temia:
Era um campo macio de lavrar
Ou qualquer sugestão que apetecia...
Mar!
Tinhas um choro de quem sofre tanto
Que não pode calar-se, nem gritar,
Nem aumentar nem sufocar o pranto...
Mar!
Fomos então a ti cheios de amor!
E o fingido lameiro, a soluçar,
Afogava o arado e o lavrador!
Mar!
Enganosa sereia rouca e triste!
Foste tu quem nos veio namorar,
E foste tu depois que nos traíste!
Mar!
E quando terá fim o sofrimento!
E quando deixará de nos tentar
O teu encantamento!
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POEMA DO HOMEM-RÃ
Sou feliz por ter nascido
no tempo dos homens-rãs
que descem ao mar perdido
na doçura das manhãs.
Mergulham, imponderáveis,
por entre as águas tranquilas,
enquanto singram, em filas,
peixinhos de cores amáveis.
Vão e vêm, serpenteiam,
em compassos de ballet.
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madeixas que ninguém vê.
Com barbatanas calçadas
e pulmões a tiracolo,
roçam-se os homens no solo
sob um céu de águas paradas.
Sob o luminoso feixe
correm de um lado para outro,
montam no lombo de um peixe
como no dorso de um potro.
(…) Eu sou o homem. O
Homem.
Desço ao mar e subo ao céu.
Não há temores que me domem
É tudo meu, tudo meu.
António Gedeão
FUNDO DO MAR
No fundo do mar há brancos pavores,
Onde as plantas são animais
E os animais são flores.
Mundo silencioso que não atinge
A agitação das ondas.
Abrem-se rindo conchas redondas,
Baloiça o cavalo-marinho.
Um polvo avança
No desalinho
Dos seus mil braços,
Uma flor dança,
Sem ruído vibram os espaços.
Sobre a areia o tempo poisa
Leve como um lenço.
Mas por mais bela que seja cada coisa
Tem um monstro em si suspenso.
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VOZES DO MAR
Quando o sol vai caindo sobre as águas
Num nervoso delíquio d’oiro intenso,
Donde vem essa voz cheia de mágoas
Com que falas à terra, ó mar imenso?
Tu falas de festins, e cavalgadas
De cavaleiros errantes ao luar?
Falas de caravelas encantadas
Que dormem em teu seio a soluçar?
Tens cantos d'epopeias? Tens anseios
D'amarguras? Tu tens também receios,
Ó mar cheio de esperança e majestade?!
Donde vem essa voz, ó mar amigo?......
Talvez a voz do Portugal antigo,
Chamando por Camões numa saudade!
Florbela Espanca
A ROSA E O MAR
Eu gostaria ainda de falar
Da rosa brava e do mar.
A rosa é tão delicada,
O mar tão impetuoso, que não sei
como os juntar
E convidar para o chá
Na casa breve do poema.
O melhor é não falar:
Sorrir-lhes só da janela.
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O CASTELO DE AREIA
Fiz um castelo de areia
Mesmo à beirinha do mar
À espera que uma sereia
Ali quisesse morar.
Ó mar,
Ó mar…
Mas foi só um caranguejo
Que ali me foi visitar.
Ó mar,
Ó mar…
Mas foi só uma gaivota
Que ali me foi visitar.
E levou o meu castelo,
O meu castelo de areia
Para no mar morar nele
A minha linda sereia.
Luísa Ducla Soares
CIDADE MARINHA
Numa cidade marinha
morava uma jovem Sardinha.
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A Estrela do Mar tocava a lira
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a tirar belas fotografias.
A Sardinha foi nomeada fotógrafa marinha
e falou com alegria: Agora encontrei o meu
lugar
e vou fotografar os bichos do mar.
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O MAR
Este é o mar
onde os barcos viajam,
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os jardins são de coral
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Este é o mar
que se esgota em esgoto,
se lixa em lixo,
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dos cemitérios nucleares,
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BARCA BELA
Pescador da barca bela,
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Colhe a vela,
Oh pescador!
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Oh pescador!
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Oh pescador.
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Foge dela
Oh pescador!
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NAVEGO
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Poemas do mar

  • 2. MAR PORTUGUÊS Ó mar salgado, quanto do teu sal São lágrimas de Portugal! Por te cruzarmos, quantas mães choraram, Quantos filhos em vão rezaram! Quantas noivas ficaram por casar Para que fosses nosso, ó mar! Valeu a pena? Tudo vale a pena Se a alma não é pequena. Quem quer passar além do Bojador Tem que passar além da dor. Deus ao mar o perigo e o abismo deu, Mas nele é que espelhou o céu. Fernando Pessoa
  • 3. SONHO NO NAVIO Pus o meu sonho num navio e o navio em cima do mar; depois, abri o mar com as mãos, para o meu sonho naufragar. Minhas mãos ainda estão molhadas do azul das ondas entreabertas, e a cor que escorre de meus dedos colore as areias desertas. O vento vem vindo de longe, a noite se curva de frio; debaixo da água vai morrendo meu sonho, dentro de um navio... Chorarei quanto for preciso, para fazer com que o mar cresça, e o meu navio chegue ao fundo e o meu sonho desapareça. Depois, tudo estará perfeito; praia lisa, águas ordenadas, meus olhos secos como pedras e as minhas duas mãos quebradas. Cecília Meireles
  • 4. MAR! Tinhas um nome que ninguém temia: Era um campo macio de lavrar Ou qualquer sugestão que apetecia... Mar! Tinhas um choro de quem sofre tanto Que não pode calar-se, nem gritar, Nem aumentar nem sufocar o pranto... Mar! Fomos então a ti cheios de amor! E o fingido lameiro, a soluçar, Afogava o arado e o lavrador! Mar! Enganosa sereia rouca e triste! Foste tu quem nos veio namorar, E foste tu depois que nos traíste! Mar! E quando terá fim o sofrimento! E quando deixará de nos tentar O teu encantamento! Miguel Torga
  • 5. POEMA DO HOMEM-RÃ Sou feliz por ter nascido no tempo dos homens-rãs que descem ao mar perdido na doçura das manhãs. Mergulham, imponderáveis, por entre as águas tranquilas, enquanto singram, em filas, peixinhos de cores amáveis. Vão e vêm, serpenteiam, em compassos de ballet. Seus lentos gestos penteiam madeixas que ninguém vê. Com barbatanas calçadas e pulmões a tiracolo, roçam-se os homens no solo sob um céu de águas paradas. Sob o luminoso feixe correm de um lado para outro, montam no lombo de um peixe como no dorso de um potro. (…) Eu sou o homem. O Homem. Desço ao mar e subo ao céu. Não há temores que me domem É tudo meu, tudo meu. António Gedeão
  • 6. FUNDO DO MAR No fundo do mar há brancos pavores, Onde as plantas são animais E os animais são flores. Mundo silencioso que não atinge A agitação das ondas. Abrem-se rindo conchas redondas, Baloiça o cavalo-marinho. Um polvo avança No desalinho Dos seus mil braços, Uma flor dança, Sem ruído vibram os espaços. Sobre a areia o tempo poisa Leve como um lenço. Mas por mais bela que seja cada coisa Tem um monstro em si suspenso. Sophia de Mello Breyner Andresen
  • 7. VOZES DO MAR Quando o sol vai caindo sobre as águas Num nervoso delíquio d’oiro intenso, Donde vem essa voz cheia de mágoas Com que falas à terra, ó mar imenso? Tu falas de festins, e cavalgadas De cavaleiros errantes ao luar? Falas de caravelas encantadas Que dormem em teu seio a soluçar? Tens cantos d'epopeias? Tens anseios D'amarguras? Tu tens também receios, Ó mar cheio de esperança e majestade?! Donde vem essa voz, ó mar amigo?...... Talvez a voz do Portugal antigo, Chamando por Camões numa saudade! Florbela Espanca
  • 8. A ROSA E O MAR Eu gostaria ainda de falar Da rosa brava e do mar. A rosa é tão delicada, O mar tão impetuoso, que não sei como os juntar E convidar para o chá Na casa breve do poema. O melhor é não falar: Sorrir-lhes só da janela. Eugénio de Andrade
  • 9. O CASTELO DE AREIA Fiz um castelo de areia Mesmo à beirinha do mar À espera que uma sereia Ali quisesse morar. Ó mar, Ó mar… Mas foi só um caranguejo Que ali me foi visitar. Ó mar, Ó mar… Mas foi só uma gaivota Que ali me foi visitar. E levou o meu castelo, O meu castelo de areia Para no mar morar nele A minha linda sereia. Luísa Ducla Soares
  • 10. CIDADE MARINHA Numa cidade marinha morava uma jovem Sardinha. Era cidade de artistas, cantores, bailarinos e malabaristas. Os Golfinhos dançavam, as Baleias cantavam, o Caranguejo tocava a bateria. Bum! Bum! Que barulhão fazia! A Estrela do Mar tocava a lira e a Foca cantava ópera. A Sardinha não sabia cantar nem dançar. Coitada da Sardinha! Não achava o seu lugar. Um dia chegou uma Lagosta (era uma velha lagosta fotógrafa) e trazia uma câmara à prova de água. A Lagosta ensinou a Sardinha a tirar belas fotografias. A Sardinha foi nomeada fotógrafa marinha e falou com alegria: Agora encontrei o meu lugar e vou fotografar os bichos do mar. Isabel Furini
  • 11. O MAR Este é o mar onde os barcos viajam, os peixes moram, os golfinhos saltam, as baleias lançam repuxos, as crianças nadam, os jardins são de coral E sabem a sal. Este é o mar que se esgota em esgoto, se lixa em lixo, o das marés negras, das redes de arrasto, dos rastos de sangue, dos cemitérios nucleares, dos muitos azares. Este é o mar. Quem entende a canção das ondas? Luísa Ducla Soares
  • 12. BARCA BELA Pescador da barca bela, Onde vais pescar com ela. Que é tão bela, Oh pescador? Não vês que a última estrela No céu nublado se vela? Colhe a vela, Oh pescador! Deita o lanço com cautela, Que a sereia canta bela... Mas cautela, Oh pescador! Não se enrede a rede nela, Que perdido é remo e vela, Só de vê-la, Oh pescador. Pescador da barca bela, Inda é tempo, foge dela Foge dela Oh pescador! Almeida Garrett
  • 13. NAVEGO Quanto “Mar de Almas" existe, Espraiando, entre ondas cavadas, Lamentos de gente triste, Versos, rimas, gargalhadas... Nesse mar, que em nós resiste, Quantas ilhas encantadas Já encontraste ou já viste Pelas ondas naufragadas? Navego, mesmo perdida, Contra ventos e marés, Sobre a onda indesmentida De um mar que só me convida A nele ir molhar os pés E onde eu "molho", inteira, a vida… Maria João Brito de Sousa