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3.*Momentos de verdade*
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I.
Não acredito que isto nos aconteceu. Estava tudo tão bem, estávamos tão
divertidas e tínhamos tido uma noite super alegre.
E, numa fracção de segundos, a minha vida acabou, ou melhor, a dela acabou,
para sempre.
-Querida! – disse-me a minha mãe – Estou tão feliz que não te tenha acontecido nada!
Não era bem assim, segundo o médico eu tinha sofrido um traumatismo craniano, várias
escoriações e hematomas, tinha torcido um pulso e sofrido vários cortes.
-Mãe? Mãe! – chamei.
-Diz querida! – perguntou-me o meu pai.
-A Alison? Onde está a Alison.
Eles trocaram um olhar tenso e demoraram a responder.
-Então? – perguntei de novo.
-Ela… ela – começou a minha mãe.
Foi então que eu percebi, as lágrimas invadiram a minha cara e passaram-me pela
cabeça todas as memórias, minhas e da Alison.
-Não! Não, não pode ser! Mãe? Pai? Digam-me que não é verdade! – gritei chorando.
-Inês! Querida…. – disse-me a minha mãe abraçando-me.
No dia seguinte, o velório e o enterro aconteceram. Segundo o médico eu não estava em
condições, mas eu decidi ir. Ao sair do hospital, um carro esperava-me. O meu pai ao
abrir a porta do carro, começou a faltar-me o ar e as recordações do acidente vieram
todas assombrar-me. A minha mãe quis levar-me de volta para o hospital, mas eu não
quis. Após um médico me examinar, disse que eu deveria estar em estado de choque
com um trauma por causa do acidente. Disse que só após terapia é que eu deveria voltar
a conseguir entrar num carro. Como continuava a querer ir ao funeral decidimos ir a pé.
Chegámos à igreja e os jornalistas e as pessoas já haviam quase chegado. Os jornalistas
vieram logo tentar falar comigo, mas sem sucesso. Ao entrar na igreja foi como se eu
percorresse o corredor da morte em slow-motion, em câmara lenta.
A mãe da Alison, Maria, estava com o seu marido, Jason, e o seu filho, Ian, a
cumprimentar e a receber os pêsames das pessoas.
A D. Maria mal me viucomeçou a chorar e veio abraçar-me. Aí também eu comecei a
chorar.
-Oh, mydear! – disse me ela chorar.
A família Darlines (família da Alison) era inglesa. A D. Maria e o Sr. Jasontinham se
casado e se mudado para o Reino unido, onde tiveram os dois filhos. A Alison tinha
vindo para Portugal estudar, e esteve a viver com a tia Marlene.
O Sr. Jason pediu-me para me sentar no banco da frente, que era o que a Alison
quereria.
No final, não quis voltar para o hospital e decidi ir para casa. Voltamos a tentar entrar
no carro, mas eu não consegui.
II:
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Em casa da tia da Alison, o ambiente estava tenso. Encontravam-se lá os Darlines, a Tia
Marlene e o padre António. Entre muitos assuntos falados, eu fui um.
-Coitada! – disse a D. Maria – estava com muito mau aspecto! Toda machucada, com
cara que não dormia à muito tempo.
-Sim – concordou o Ian – segundo o médico, o facto de ela estar viva , deve-se a ela ter
muita sorte ou ter um bom anjo da guarda! Já a Ali (diminutivo de Alison).
- O que ela deve ter passado! – disse a Marlene.
-Ninguém sabe! – disse o Pe. – Ninguém é capaz sequer de imaginar!
-Como assim? – perguntou o Sr. Jason.
-Pensem comigo! – começou por dizer o Pe. – ela esteve com a Alison, nos seus últimos
meses de vida, passou mais tempo com ela nos últimos tempos que cada um de vocês e
segundo o médico ela não ficou inconsciente o tempo todo.
- O que é que quer dizer com isso? – perguntou o Ian.
-O médico disse que após o acidente e antes da ambulância chegar, a Ines esteve
consciente, por alguns segundos, mas consciente e viu tudo e não pode fazer nada.
Ficaram todos pensativos, a assimilar o que o Padre havia falado.
Na manhã seguinte fui prestar declarações à esquadra.
-Bom-dia! – disse o inspector Sacramento.
Estávamos numa sala de interrogatórios. Estava eu, o meu advogado e dois inspectores
da judiciária. A PJ estava neste caso para apurar a razão do despiste.
-Bom-dia! – respondi.
Não tinha descansado bem, apesar dos calmantes só conseguira dormir umas duas
horas.
-Desculpe estar a chamá-la assim, tão cedo – começou por dizer o inspector – mas é do
interesse de todos que este caso se resolva o mais depressa possível!
-Sim… eu entendo – disse-lhe.
-Vamos começar. – tirou um gravador e ligou-o e com um bloco na mão ia tirando
apontamentos – Há quanto tempo se conheciam?
-Desde pequenas – respondi – nós éramos vizinhas, mas a família dela mudou-se para
Londres, porque o Sr. Jason era de lá.
-Mantiveram contacto?
-Por algum tempo sim, mas depois acabámos por perder o contacto.
-E como é que voltaram a falar?
-Há cerca de um ano, ela ligou-me a perguntar onde eu estava e quando lhe disse que
estava em casa, ela tocou à campainha de minha casa. Fiquei espantada e perguntei-lhe
o que é que ela fazia em Portugal.
-O que é que ela respondeu?
Entre risos respondi: - Ela disse-me que vinha tomar café às Taipas!
A família Darlines que estava numa sala ao lado a ver o interrogatório começou-se a rir,
porque era o estilo dela fazer isto.
-Depois disse-me que vinha estudar para cá. Eu levei-a para a casa da sua tia e ela
pediu-me para ir com ela para a ajudar com a matricula e assim fiz – disse-lhe – no dia
seguinte fomos às compras no shopping.
-Ela adaptou-se bem na escola e na cidade?
-Sim, quem a conhecia bem, sabe perfeitamente que ela era muito dada e que se
integrava bem em qualquer sitio. Toda a gente a adorava.
Os pais dela e o Ian concordaram.
-O que é que se passou no dia do acidente?
-De manhã eu tinha ido correr para o parque da cidade, e quando cheguei a casa a Ali
estava à minha espera.
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-O que é que ela queria?
-Queria pedir-me para ir com ela ao shopping comprar um vestido para um festa.
-Foram a que horas?
-Por volta das 10 horas.
-Foram por quanto tempo?
-Ficamos lá o resto da manhã e parte da tarde.
-O que fez o resto da tarde?
-Estive fora da cidade, em casa dos meus avós com os meus pais.
-E a Alison?
-Não sei. Ela tinha –me dito que ia ter com o Bruno?
-Bruno? O namorado?
- Sim.
-E quando é que se voltaram a encontrar?
-Ela tinha ficado de me vir buscar as 10 horas da noite.
-E… ela estava bem?
-Sim, chegou um pouco atrasada, mas estava bem.
-Atrasada? Quanto tempo?
-Uns 20 minutos.
-Ela disse o porquê?
-Não, disse apenas que já tinha chegado e era o mais importante.
-Durante a festa, o que se passou?
-Nada de especial, ela divertiu-se, dançou, ficou com amigos e com o Bruno.
-Ela bebeu?
-Sim! Bastante. No final da festa eu insisti para ser eu a levar o carro, mas ela não quis.
-Você estava sóbria?
-Mais ou menos. Eu bebi, mas não tanto como ela.
-No caminho de regresso o que é que se passou?
-Nós íamos a ouvir música e a cantar, corria tudo bem até que…
-Até que?
-Até que ela se sentiu mal.
-Como assim?
-Ela sentiu-se enjoada e depois disse-me que estava com dores de cabeça.
-Foi aí…?
-Não…
Comecei a chorar, as imagens daquele noite não saíam da cabeça.
Os Darlines também começaram a chorar.
-Ela disse-me que já se sentia bem e que estava bem para conduzir. Minutos depois, ela,
… ela… - tentei continuar mas as lágrimas não me deixavam – ela… gritou, vi uma luz
e ouvi uma buzina de carro.
Não conseguia parar de chorar.
-A minha cliente não está em condições de prosseguir – disse o meu advogado.
-Claro! – disse o inspector – Continuaremos outro dia.
Saí da sala e fui procurar conforto na minha mãe que me esperava. Os Darlines também
saíram a chorar.
III:
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Dias depois voltei para a escola. Com a terapia já tinha conseguido entrar nos
autocarros. Era naquele momento o único meio de transporte que conseguia utilizar.
Quando entrei na escola tinha centenas de olhos postos em mim. A Luísa e a Marta
(minhas amigas e da Alison) esperavam-me.
-Estás bem? – perguntou-me a Marta.
-Sim... – respondi – ... vou ficar.
As aulas naquela manhã foram normais. Os professores não puxaram muito por mim,
porque souberam do acidente.
À hora de almoço estava sentada com a Marta, a Luisa, o Pedro e o Luis.
De repente os meus olhos estavam pousados na porta de entrada.
Fiquei espantada, surpresa.
-O que é que ele faz aqui? – perguntei.
-Ele anda a frequentar a escola – respondeu o Pedro – Anda na minha turma.(12ºano)
-Mas porquê? – perguntei.
-Não faço a mínima ideia!
Depois do almoço fui buscar um livro ao meu cacifo.
Estava a fechar o cacifo e sem querer fui contra alguém.
-Ai! Desculpa – pedi atrapalhada.
-Não há problema! – respondeu-me.
Olhei para ele e reconheci-o. Aquelas feições, aqueles olhos e aquelas parecenças não
me eram desconhecidas. Apesar de o ter visto em fotos ele era muito parecido com ela.
-Ian! – disse surpreendida.
-Olá, Inês! – disse me sorrindo.
-Ouvi dizer que andas cá na escola!?
-Sim, os meus pais não se querem afastar daqui até tudo se resolver.
-Claro, é compreensível.
-Inês! – chamou-me a Luisa ao longe– Vens?
-Sim – respondi – Bem, tenho de ir! Adeus.
-Adeus – disse-me.
Já estava a uns metros dele quando ele me chamou.
-Inês?
-Sim? – respondi virando me para ele.
-Estás bem, depois do…
-Vou ficar… - respondi depois de alguns segundos.
Ele sorriu.
ÀS 17 horas, estava a sair da escola e o Ian estava a passar de carro.
-Olá! – disse-me – precisas de boleia?
-Não é preciso, obrigada! – disse-lhe – Obrigada.
-Como queiras! Se algum dia precisares diz.
-Obrigada.
IV:
Na noite seguinte, os meus pais convidaram os Darlines para jantar em nossa
casa.
-Boa noite! – disseram ao chegar.
-Boa noite! – respondemos.
Estiveram à conversa até o telefone tocar.
- Eu atendo! – disse-lhes – Sim? – e fui até à sala de jantar.
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Quando regressei as senhoras estavam na cozinha e os senhores na sala a
beber um whisky.
-Quem era querida? – perguntou-me o meu pai.
-Era o Matias – disse – Ele disse que vem cá no próximo final de semana.
-A sério? – disse a minha mãe vinda da cozinha.
-Sim! A faculdade dele vai estar fechada na próxima segunda-feira e ele
aproveitou.
O Matias era meu irmão mais velho que estava a estudar fora.
O jantar foi agradável. Durante a noite notaram-se três grupos: o Sr.Jason e o
meu pai; a minha mãe, Clara, a Marlene e a D.Maria; e eu e o Ian. Nós
conversamos na varanda sobre muita coisa, sobre a nossa infância, sobre a
escola, sobre namorados e principalmente sobre a Alison.
-Como é que ela estava? – perguntou-me certa altura.
-Estava bem! – disse – feliz, acho, tu conhecia-la, ela ficava eufórica e muito
bem com qualquer coisa!
-É verdade! – respondeu sorrindo - Sabes uma coisa?
-O quê?
-Tenho inveja de ti.
Fiquei surpreendida.
-Mas porquê? – perguntei.
-Porque estiveste com ela nos seus últimos meses, estiveste presente em tudo o que ela
precisou, partilhaste os seus melhores momentos…
-Ian! – disse pegando-lhe na mão – apesar da distancia que vos separava ela amava te
mais que tudo! Aliás, não havia dia em que ela não falasse de vocês e quando o fazia eu
via um brilho no seu olhar, que só se vê quando se ama verdadeiramente alguém…
Ele sorriu emocionado e abraçou-me.
Fomos interrompidos pela minha mãe. Os Darlines já se iam embora. Despedimo-nos e
combinamos que seria uma coisa a repetir.
V:
O dia seguinte nasceu cinzento. Quando acordei, fui à janela e vi imensas nuvens
cinzentas no céu a adivinhar uma violenta tempestade. Decidi enfrentar aquele dia.
Vesti-me e fui tomar o pequeno almoço. Quando cheguei à escola deparei-me com uma
multidão à porta.
- O que é que se passa? – perguntei.
-Houve uma inundação – respondeu o Luis.
-E o que é que fazemos agora?
-Parece que não vai haver aulas!
E era verdade, o director veio ter connosco e avisou que não haveriam aulas naquele
dia.
Entretanto começara a chover e eu fui para a paragem de autocarros. De repente um
carro preto parou à minha frente, o vidro abriu-se e vi o Ian.
-Queres boleia? – perguntou-me.
-Não! Não é preciso – respondi – Obrigada!
Ele saiu do carro e veio ter comigo.
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-Eu sei do teu trauma – começou por dizer – a minha mãe contou-me, mas tu tens de
superar.
-Eu sei, mas…
-Anda lá! Eu prometo que vou ter cuidado! Confias em mim?
-Sim… - e era verdade. Depositava nele uma confiança enorme! Tal como na Alison.
Fiquei um pouco receosa. Quando ele fechou a porta do carro, confesso que me senti
um pouco com falta de ar! Mas o Ian logo me descansou apertando-me a mão e
sorrindo. Ele foi um querido! Não acelerou muito, tentava-me distrair contando piadas e
historias. Senti-me muito bem com ele. Fomos até a uma feira popular onde jogámos
tiro ao alvo, entre outros; depois fomos almoçar a uma barraquinha de cachorros
quentes. Depois fomos a um parque de diversões onde comemos pipocas e algodão
doce. Ao final da tarde fomos ao cinema e vimes um filme de comédia. Depois do filme
fomos comer uma pizza. Era já noite, quando íamos a caminho de casa:
-Ahahahahahahah! – ri-me sorrindo – Muito bom!
-„Tou a falar a sério! – respondeu-me também sorrindo – aconteceu mesmo!
-Não consigo acreditar! A sério!
O que aconteceu depois foi muito rápido! Num segundo estávamos a rir às gargalhadas
e noutro… Um carro que ultrapassou um sinal vermelho fez com que o Ian tivesse de
fazer uma travagem brusca e com o susto e com o barulho das buzinas, foi como se
estivesse a viver de novo o pesadelo que me tinha levado a minha melhor amiga! Mal o
carro parou saí para tentar respirar, estava zonza, com as imagens da Alison e todas as
minhas memórias baralhadas na minha cabeça. Estava a chorar e a lutar para conseguir
respirar e me acalmar. Quando saí do carro encostei-me a um poste de luz e sentei-me
junto dele. O Ian saiu do carro e veio ter comigo super preocupado.
-Desculpa-me! – disse-me – estás bem?
-Sim! – tentei dizer a muito custo – estou só um pouco… tonta… mas vou ficar bem!
-Desculpa-me a sério!
-Não te massacres! – disse-lhe sorrindo.
Ficámos uns minutos à conversa.
-É melhor ires para casa – disse-me.
-Sim, mas é melhor ir de autocarro…
-Claro! Eu vou contigo! - disse-me.
-Não é preciso!
-Não é discutível, deixa-me estacionar o carro. – e foi sem me deixar responder.
Passados 7 minutos ele voltou e fomos a pé para casa. Falámos sobre muita coisa.
Rimos, divertimo-nos e recordámos várias coisas! Como era tarde e estava um pouco
frio ele emprestou-me o seu casaco. Quando cheguei a casa despedimo-nos.
-Obrigada por me acompanhares a casa! – disse-lhe.
-De nada! Adorei a noite… principalmente da companhia!
-Eu também! – disse envergonhada e dei-lhe um beijo na face. – Boa Noite!
-Boa noite! – respondeu-me.
Quando cheguei ao quarto reparei que não me lembrava de estar assim feliz havia algum
tempo. Também reparei que me tinha esquecido de lhe devolver o casaco. Fui tomar
banho e depois fui dormir.
No dia seguinte enquanto os Darlines estavam a tomar o pequeno-almoço o Ian
perguntou:
-Mon! Dás me boleia até ao centro da cidade?
-But, why? Passa-se alguma coisa com o teu carro? – perguntou-lhe.
-Não, nada! Mas deixei-o lá ontem à noite!
-Mas porque é que o deixaste lá!
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-Porque fui dar uma volta com a Inês e ela sentiu-se mal e regressamos a pé!
-Tudo bem, mas querido tens de ter cuidado com ela. Ela está em tratamento.
-Eu sei mãe! Também não faria nada que a prejudicasse!
-Eu sei! – respondeu-lhe sorrindo.
VI:
Quando cheguei à escola fui ter com a Luísa e depois à Marta juntou-se a nós.
Quando soou a campainha para irmos para as aulas cruzamo-nos com o Ian e
o Pedro. Aproveitei para lhe devolver o casaco.
-O que é que foi isto? – perguntou a Marta sorrindo.
-Nada! – respondi.
-Nada não! – acrescentou a Luísa.
-Nós ontem fomos dar uma volta e como estava muito frio ele emprestou-me
o casaco nada de mais.
E contei-lhes o resto da história na hora de almoço.
Quando ia a sair da escola cruzei-me com o Ian.
-Olá! – disse-me.
-Olá! – respondi.
-Vais para a PJ?
-Não. Primeiro vou à terapia e só depois é que vou acabar o meu depoimento.
-Ah! Ok! Encontramo-nos lá então!
-Também vais? - perguntei
-Sim!
-Ok! Até logo!
-Xau! – despediu-se com um beijo na face.
Depois da terapia fui para a esquadra e o depoimento continuou.
-Boa tarde! – disse-me o inspector Sacramento.
-Boa tarde! – respondi.
-Estás preparada?
-Sim.
Os Darlines estavam, como da ultima vez, numa sala ao lado a ver o
interrogatório. Como da última vez o gravador estava ligado, o inspector
estava com um bloco e o meu advogado estava a meu lado.
-Muito bem! – disse-me – no passado dia em que esteve cá disse que tinha
visto uma luz e ouvido umas buzinas.
-Sim – comecei – foi muito rápido! Num momento estava tudo bem e noutro
foi como se…
-De que é que se lembra depois do embate?
Depois de um longo silencio respondi:
-Apenas me lembro de poucas coisas…
-Como…
-Lembro-me de estar a sangrar, cheia e dores, sonolenta e zonza. Lembro-me
de ver muitas luzes e de ver a Ali caída inconsciente – comecei a chorar –
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Depois tentei me libertar do cinto, e tentei sair dali e levar a Ali comigo. Mas
não consegui porque ela estava presa.
-E depois?
-Depois senti-me mal e a ultima coisa de que me lembro foi a Ali e ouvi o
som de uma ambulância a aproximar-se.
-Muito bem! Quando você acordou no hospital o que se passou?
-Os meus pais estavam no quarto e quando eu perguntei pela Ali eles…. Eles
deram a entender que ela… - não consegui terminar.
-Ah! Diga-me uma coisa. Você disse que a Ali estava caída?
-Sim… - afirmei.
-Ela não estava a usar cinto?
-Sim, quer dizer – pensei um bocado – quando saímos a festa eu lembro-me
de ela o colocar sob exigência minha. Mas… quando ele se sentiu mal,
enjoada ela o retirou!
-A medicina legal, enviou hoje de manhã os resultados da autópsia da Alison e
ela morreu devido a um traumatismo craniano e por causa de uma hemorragia
interna no útero! A… também revelou que essa hemorragia deveu-se a um
aborto espontâneo! Você sabia desta gravidez?
De repente lembrei-me que a Alison me havia contado que estava grávida.
Também me disse que queria abortar pois era muito nova. Eu tinha-lhe dito
para falar primeiro com o Bruno porque ele tinha algo a dizer pois era o pai e
ela largou a “bomba” que o filho não era dele, mas do tipo mais velho com
quem ela andava a sair.
Segundos depois eu respondi para surpresa de todos.
-Sabia – disse em voz baixa porque as lágrimas invadiram-me.
-E porque é que não contou nada?
-Não sei! Não me lembrei e também não achei que fosse importante.
-Mas é, muito mesmo!
Os Darlines ficaram surpresos.
-O pai, o tal Bruno, sabia?
-Ela não queria!
-Como assim? Ele como pai tinha o direito de saber.
-Não – disse chorando - ele não precisava saber porque…
-Porque?
-Porque não era ele o pai!
VII:
Ficaram todos surpresos. Caiu que nem uma bomba.
-Como assim? Eles não eram namorados?
-Sim, mas ela há uns meses disse-me que andava a sair com um homem mais velho. E
quando me contou da gravidez também me disse que o filho não era do Bruno.
-Quem era esse tal homem?
-Não sei! Ela não me disse, porque se alguém descobrisse poderia prejudicá-lo.
-Ela nunca deu a entender nada?
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-Não. Ela era muito cuidadosa a esse respeito.
-Acha possível ela ter estado com ele quando chegou atrasada naquela noite?
-Sim, é possível. Bastava ele ligar e ela ia a correr ter com ele.
-Diga-me uma coisa, a Alison tinha inimigos?
-Não porquê?
-Porque os travões do seu carro foram mexidos.
-Está a querer dizer que… - perguntei surpreendida.
-Sim. A Alison foi assassinada!
Fiquei em estado de choque. Quem é que quereria ver a Alison morta! Saí da sala de
interrogatórios e fui ter com os meus pais. No parque de estacionamento , os Darlines
passaram por nós e cumprimentaram-nos, excepto o Ian que me lançou um olhar de
magoa e tristeza.
No dia seguinte na escola o Ian andou-me a evitar. No final das aulas, o Ian ia a
caminho do carro e tentei falar com ele.
-Ian!- chamei.
-Agora não tenho tempo – disse-me bruscamente.
-Andas-me a evitar?
-Não.
-A sério?!
-Achas que não tenho motivos?
-Como assim? – perguntei confusa.
-Escondeste-me que a minha irmã estava grávida!
-Eu não te escondi! Só não me lembrei…
-Não tinhas o direito de guardar isso só para ti! Eu tinha o direito de saber! Nós
tínhamos o direito de saber!
-Desculpa! – pedi.
-Meteu-se no carro e acelerou deixando-me sozinha.
Cheguei a casa e fui para o quarto chorar!
VIII:
Fiquei lá até ao dia seguinte.
Em casa do Darlines, a D. Maria notou que algo se passava com o Ian.
-What happening? – perguntou-lhe.
-Nada! – respondeu.
-Nada não! Estavas tão feliz por causa da Inês, e agora estás assim!
-Ela não tinha o direito de nos esconder aquilo! Não tinha…
-Tens razão, não tinha, mas põe-te no lugar dela. Aconteceu tanta coisa na vida dela, o
acidente, a perda da melhor amiga, as perguntas dos polícias, a dor, as terapias e os
medos. É natural que se tenha esquecido, ainda por cima se era o que ela fazia, esconder
o segredo, quando a Ali era viva! Já estava tão habituada a manter em segredo que…
-Não consigo perceber…
-Querido! Se a Ali te tivesse pedido segredo, tu não o guardarias com a tua vida?
Ele ficou a pensar no assunto. Talvez a sua mãe tivesse razão. Pensando bem, até tinha
razão, talvez ele tivesse sido injusto comigo.
Em casa dos Teixeira (Família da Inês) estavam a tomar o pequeno-almoço quando
alguém entrou em casa.
-Ei família! – disse o Matias.
-Matias?! – saudaram-no felizes.
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-Porquê tanta surpresa? Eu disse que vinha no sábado, que é hoje!
Abraçaram-se e mataram saudades. Depois de todas as perguntas, o Matias foi-se
instalar e eu fui até à casa do lago. A casa do lago era uma espécie de cobertura segura
com postes de madeira que se encontrava no meio de um lago que estava ligada a terra
por uma “passadeira” de madeira. Gostava imenso de lá ir, de me sentar nos bancos e
olhar a água. Agora quando ia lá era para me lembrar da Alison, porque era lá que
íamos quase sempre. Naquela manhã tinha lá ido com uma caixa. Sentei-me, abri a
caixa e tirei as fotos que lá haviam: fotos minhas e da Alison, fotos nossas com a Luísa,
com a Marta, com a Carolina, a Diana, o Pedro, o Luis, o Carlos, o Tony que eram
amigosnossos. Emocionei-me e comecei a chorar.
Entretanto tocaram a campainha em minha casa.
-Bom dia! – disse-me o Matias ao abrir a porta.
-Bom dia, a Inês está? – perguntou – Desculpa, não me apresentei, eu sou o Ian e
preciso muito falar com ela.
-São amigos?
-Sim, tu deves ser o irmão dela, o Matias!?
-Sim, sou eu.
-Prazer, eu sou o irmão da Alison – disse.
-Claro! Lamento muito!
-Obrigado!
-Ela está na casa do lago!
Quando ia em direcção à tal casa, eu estava a chorar ao recordar os momentos que
passei com a Ali. Não o ouvi chegar.
-Ela não iria querer que ficasses assim! – disse-me.
Quando olhei para quem tinha dito aquilo deparei-me com o Ian a olhar para mim.
Levantei-me e limpei as lágrimas.
-Desculpa – disse-me.
-Porquê? – perguntei arrumando as fotos.
-Sabes bem porquê? – disse-me ajudando-me a arrumar as fotos.
-Tu tiveste razão para o fazer.
-Não, não tive! Eu fui egoísta e não pensei no que estavas a passar.
-Não há problema.
De repente ele agacha-se e apanha uma foto da Ali e minha que havia ficado no chão.
-Ela parece muito feliz! – disse-me olhando a foto.
-Sim, ela estava feliz nesse dia!
Ficámos à conversa e depois fomos embora. Estávamos a lanchar quando o Bruno tocou
à campainha.
IX:
-Olá, Inês! – disse cumprimentando-me com 2 beijos – desculpe vir aqui sem avisar.
-Não há problema! – disse-lhe – Mas passa-se alguma coisa? Parece transtornado.
-Preciso que me digas a verdade!
-Claro!
-A Ali „tava grávida?
Eu e o Ian trocámos um olhar de surpresa e receio em responder.
-Então? – perguntou-me.
-Sim, estava.
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-É melhor sentares-te – disse-lhe o Ian.
Quando estávamos os 3 sentados, eu e o Ian não parávamos de trocar olhares.
-Ela não me disse nada – disse chorando o Bruno.
-Ela estava confusa!
-Quer dizer que eu iria ser pai?
Não sabia o que responder, não sabia que consequência haveriam se lhe contasse a
verdade.
-Sim, se a Ali não tivesse tido aquele acidente, tu serias pai…
O Ian lançou-me um olhar confuso. Quando o Bruno foi embora o Ian arrebatou-me
com perguntas.
-Porque é que não lhe disseste a verdade?
-Porque ele já está a sofrer bastante e não precisa de saber que foi enganado e porque
não quero que ele fique com uma má memória da Ali.
-Mas a polícia sabe…
-Eles preferem assim, porque pode interferir nas investigações…
-Se achas melhor assim…
-Acho, acho mesmo.
No inicio da noite fomos ao cinema. Divertimo-nos imenso. Quando ele me veio deixar
em casa ficámos ainda um tempo à conversa.
-Bem, vou entrar! – disse-lhe.
-Ok! Até amanhã! – disse-me.
Quando lhe ia dar um beijo na face, aconteceu uma coisa que me deixou confusa. Quase
nos beijámos. Saí do carro envergonhada e quando estava a abrir a porta de casa, olhei
para ele e este sorriu-me.
Não sabia o que havia acontecido. Estávamos tão bem e aconteceu aquilo.
X:
Na manhã seguinte a Luísa e a Marta foram-me visitar. Como era domingo ficámos
horas à conversa. Um dos assuntos foi eu e o Ian.
-Oh amiga! Vocês são perfeitos um para o outro! – disse-me a Marta.
-É verdade! – apoiou a Luísa – tu devias ver a forma como ele olha para ti, como fala de
ti!
-Ai, parem! – disse sorrindo – parem, vocês estão a sonhar…
Fui interrompida pelo toque do meu telemóvel.
-Sim – disse atendendo – Ian!
A Marta e a Luísa começaram a rir e a mandar bocas.
-Hoje à tarde? Ok! Até logo, então – disse despedindo-me –Beijos!
-Depois nós é que estamos a sonhar! – disseram gozando comigo.
Ficámos uns minutos à conversa e depois fui-me preparar para sair com o Ian.
Como ele me aconselhou a levar roupa descontraída, por isso optei por uns calções de
ganga curtos, uma camisola com o ombro descaído, uns óculos de sol, umas sandálias
rasas e uma mala.
Quando saí de casa ele já me esperava encostado ao carro. Vestia uns calções cinzentos
pelo joelho, uns ténis, uma camisa branca com as mangas viradas para cima e com dois
botões por abotoar e uns óculos de sol.
Estava a aproximar-me dele e ele sorrindo disse-me:
-Estás linda!
-Obrigada. Então é agora que me vais dizer onde vamos?
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-Não. Quando chegarmos lá logo vais saber!
Entramos no carro e seguimos. Pelo caminho íamos a ouvir música e a cantar, enquanto
nos riamos às gargalhadas.
Uns 35 minutos depois de termos saído de minha casa chegamos ao nosso destino.
Ainda no carro, tirei os óculos de sol, e fiz uma “análise” ao local onde me encontrava.
Estavamos num parque de estacionamento. De um lado estava um hotel, do outro estava
o mar.
-Então, estás preparada? – perguntou-me enquanto me abria a porta do carro.
-Não sei bem! – respondi.
Andamos uns metros à beira mar até que eu perguntei.
-Então o que pretendes fazer?
-Como assim? – perguntou sorrindo.
-Onde vamos? Estás a fazer um enorme mistério… e até agora ainda não consigo
perceber onde vamos?
-Ok, eu digo-te! – disse sorrindo vendo a minha curiosidade.
-Então?! – perguntei ansiosa.
-Vamos ali. – disse apontando para uma marinha.
-Ali? Mas vamos fazer o quê?
O Ian não me respondeu, limitando-se a sorrir.
-Vá lá! Tu disseste-me que me dizias onde é que íamos.
-E eu disse-te!
-Sim, mas eu continuo a não perceber!
Aproximou-se de mim, e sussurrou-me:
-Parece que vais ter de esperar para ver!
Dito isto começou-se a rir, e eu, “zangada” comecei a correr atrás dele, enquanto ele
fugia e se ria ao mesmo tempo.
XI:
Quando chegamos à marinha percorremos vários metros entre barcos e iates. Até que,
quase no fim o Ian me disse:
-Costumas enjoar quando andas de barco?
-Não, porquê?
-Ainda bem! Sendo assim – disse me enquanto estendia a sua mão, pedindo a minha –
seja bem-vinda ao meu humilde barco!
O barco de que ele falava era um iate. Sempre pertenceu aos Darlines, mas quando eles
se mudaram para Londres, a família arrendou-o a uma empresa de turismo.
Já a bordo o Ian ia pondo tudo pronto para a viagem.
-Não sabia que vocês tinham um iate… - disse.
-É, temos. Mas não o utilizamos muito.
-É pena! É um belo barco…
-É verdade! Mas vamos deixar-nos de conversas e vamos começar a nossa viagem…
-Muito bem! Vamos lá! -disse sorrindo.
Sentei-me na proa do iate, e quando este começou a andar senti uma sensação incrível: o
vento a bater-me no rosto limpava-me a alma. Estava de olhos fechados quando o Ian se
aproximou e se sentou ao pé de mim.
-Então, o que estás a fazer? – disse dando-me um toque com o ombro.
-Estou a sentir o vento!
Ele não respondeu, fazendo um breve sorriso.
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-Achas uma estupidez, não é? – disse-lhe.
-Não, de todo! Só nunca tinha visto ninguém fazer isso.
-Não? Eu e a Ali costumávamos passar horas a fazer isto… Era como se nos
acalmasse…
-A sério?
-Sim. Devias experimentar; vais compreender o que eu estou a dizer.
E assim fez, fechou os olhos, respirou fundo… Minutos depois voltou a abrir os olhos e
deu-me razão, dizendo que era uma sensação única: que o barulho do vento e do mar
juntos formavam uma melodia maravilhosa…
Estivemos à conversa durante um tempo e depois fomos almoçar.
-Faz-me um favor – pediu-me – vais lá abaixo (parte inferior do iate) e trás a cesta que
lá está, enquanto eu desligo o piloto automático.
-Claro!
A parte de baixo do navio parecia mais pequena. Havia uma pequena cozinha, uma
casa-de-banho e um quarto. Em cima da mesa da cozinha estava uma cesta de
piquenique. Peguei nela e levei-a para cima.
Ian estendeu uma toalha sob o convés do iate e começou a tirar as coisas da cesta. Não
faltou nada: fruta, salgados, pão, batatas, sumos, água, vinho, chocolates, etc.
-Então diz me lá – perguntei – como é a tua vida em Londres?
-Bem – respondeu bebendo um pouco de vinho – é rápida…
-Rápida? – perguntei sorrindo.
-Sim. Rápida no sentido em que ou estou na escola ou estou a estudar, ou ainda a visitar
os meus pais. Não tenho tempo para muita coisa, porque a minha vida é um frenesim
constante.
-Coitadinho! – disse sorrindo ironicamente – a tua namorada deve ficar super irritada.
-Não! – respondeu sorrindo.
-Não? – perguntei – mas se tu não tens tempo para ela, ela deve ficar fula!
-Ela não fica fula, porque eu não tenho namorada. – disse sorrindo.
Sorri, ficando contente por saber que o Ian não tinha alguém.
Ficámos mais tempo à conversa, até que ele disse:
-Bem, bora lá arrumar isto, porque ainda temos muito para andar.
XII:
Levamos tudo para a cozinha, e quando voltamos para a parte superior, o Ian perguntou-
me:
-Queres conduzir o barco?
-Eu? – perguntei.
-Sim, tu.
-Eu não sei conduzir isto…
-Não há problema, eu ensino-te.
Fomos para o cockpit, onde o Ian me explicou para que serviam todos aqueles botões, e
me ajudou a conduzir.
-Então percebeste? – perguntou-me.
-Sim… acho que sim… - respondi.
-Não fiques com medo! – disse-me sorrindo – isto parece complicado, mas não é.
-Ok! Mas então, o que é que eu faço para começar a andar?
O Ian veio ter comigo. Eu estava de frente para a proa do iate, e o Ian aproximou-se por
trás de mim, e foi-me dando indicações sobre qual dos botões deveria usar. Confesso
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que o facto de ele estar assim tão próximo de mim me fazia sentir bem, sentir a sua
respiração no meu pescoço e a sua mão por cima da minha dava-me arrepios, mas eu
não queria que ele se afastasse. Até que o telefone do iate começou a tocar. O Ian
afastou-se de mim, e atendeu. Eram os pais dele a avisar que iriam sair e que não
sabiam a que horas voltariam.
Quando desligou a chamada veio ter comigo e disse-me para desligar o barco, pois
queria mostrar-me uma coisa.
Saímos do cockpit e dirigimo-nos à proa do barco.
-O que me querias mostrar? – perguntei.
-Espera… - disse-me.
Logo de seguida começou a surgir ao longe alguma coisa. À medida que se ia
aproximando, fui percebendo que eram golfinhos.
-São tão lindos! – disse sorrindo, enquanto acariciava um.
-São mesmo… Costumava vir aqui com a Ali quando estávamos de visita a Portugal.
Ela adorava o mar e golfinhos.
Ficamos ainda uns minutos com eles, até que estes começaram a ir-se embora.
-Bem – disse o Ian tirando a camisa – apetece-me dar um mergulho, vens?
-Um mergulho?
-Sim! Porque não?!
-Eu até ia, mas não trouxe biquíni.
-Não faz mal!
-Não sei…
-Oh, sempre pensei que fosses mais corajosa! – disse desafiando-me.
-E sou!
-Pois pois… - disse-me como se me desafia-se.
XIII:
Aceitei o desafio e tirei a minha roupa, ficando só de lingerie. Mergulhamos
ao mesmo tempo e a sensação foi incrível. A água era super límpida e os raios
de sol a penetrarem no mar faziam a água ganhar uma tonalidade linda.
Nadamos, brincamos, mergulhamos vezes sem conta, até que, num dos
momentos de brincadeira, ficámos de frente um para o outro, muito juntos. E
aconteceu… O desejo era mútuo. No inicio, os nossos lábios tocaram-se
levemente, como se pedissem autorização para se tocarem, depois o beijo foi
ficando mais intenso. Enquanto nos beijávamos as mãos de Ian percorriam o
meu corpo e foi nesse momento que eu percebi e senti que nós éramos um só.
Voltamos para o barco com a certeza que o que sentíamos era recíproco. Já no
quarto, o Ia encostou-me a um armário e beijou-me. Primeiro dos lábios,
depois no pescoço, enquanto as nossas mãos se encontravam e se
entrelaçavam. Levou-me para a cama e aí os seus beijos percorreram o meu
corpo. Quando voltava para os meus lábios as suas mãos tomavam conta de
mim, passando e tocando as minhas pernas, o meu ventre, os meus braços, o
meu peito e o meu rosto.
O sol estava-se a pôr quando chegámos ao carro. Vínhamos super felizes, de
mãos dadas a sorrir. Chegámos a minha casa já era noite:
-Espero que tenhas gostado! – disse-me Ian enquanto me levava à porta de
casa.
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-Sim – respondi – adorei!
Demos um beijo de despedida e eu entrei, com a certeza que a minha vida
tinha mudado radicalmente.
Entrei em casa com um sorriso rasgado. Quando cheguei ao meu quarto e
parei para pensar na tarde que tinha passado, não conseguia acreditar. Depois
dos últimos dias de pesadelo, tinha acontecido algo muito bom.
No dia seguinte quando desci para tomar o pequeno-almoço deparei-me com
os inspectores da PJ que estavam a investigar o caso da Alison.
-Bom dia – disse ao descer as escadas.
-Bom dia! – responderam-me os inspectores e o meus pais.
-Desculpem estarmos a incomodá-los a um domingo, mas é muito importante
– disse o Inspector.
-Não há problema – disse o meu pai.
-Sentem-se - disse a minha mãe. – querem tomar alguma coisa?
-Não é necessário, obrigada. – respondeu um dos inspectores.
-Então já descobriram mais alguma coisa? – perguntei.
-Mais ou menos. Mas nós vemos aqui para pedir à Inês que nos acompanhe à
casa da Alison.
-À casa da Alison? – perguntei – mas para quê?
-Nós queremos revistar o quarto dela para ver se encontramos alguma pista de
quem seja o pai da criança.
-Claro. Eu vou – respondi.
Seguimos para a casa da Alison e da sua tia. Quando chegamos os Darlines já
nos aguardavam. O Ian mal me viusorriu. Não demos nas vistas sobre o nosso
“namoro” (se é que se pode chamar assim) porque a ocasião não se
proporcionava. Subimos para o quarto da Alison. Era a primeira vez que eu
entrava no quarto dela depois do acidente. Estava tal e qual como eu me
lembrava dele. Tudo estava no seu devido lugar, as nossas fotografias: uma
em cima da mesinha de cabeceira, outra na cómoda e ainda outras nas
paredes. Havia ainda o cartão de aniversário que eu lhe dera colado no
espelho, assim como estava em cima da secretária a mala que lhe dera de
presente. Era ainda um pouco surreal estar ali sem a Alison. Dei por mim a
tremer e quase a chorar, até que o Ian colocou a sua mão no meu ombro e
disse “Tem calma, vai correr tudo bem”.
-Bem – começou por dizer o inspector – espero que ninguém tenha mexido
em nada.
-Não, ninguém mexeu – disse a Tia da Alison.
Começaram a procurar e a remexer nas coisas da Alison. Confesso que não
gostava que eles mexessem assim nas coisas dela, mas no fundo sabia que era
a única hipótese de se descobrir quem a tinha matado.
Depois de mexerem em tudo disseram:
-Não há aqui nada que nos ajude. – depois viraram-se para mim – A Inês não
sabe de algum lugar onde a Alison guardasse as coisas mais importantes para
ela?
-Não – disse depois de pensar um pouco. –lamento.
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-Não há problema. – respondeu o inspector.
XIV:
Saímos do quarto e descemos as escadas.
-Peço-vos que se por acaso se lembrarem de alguma coisa, me avisem. – disse
o inspetor entregando um cartão com o seu número de telefone a cada um de
nós.
-Claro.
Os inspetores deixaram a casa e minutos depois, os meus pais tinham a
intensão de fazer o mesmo, até que os Darlines nos convidaram para almoçar.
Os meus pais não queriam aceitar porque o Matias estava em casa, mas a Sra.
Maria disse para lhe telefonar e dizer para vir almoçar a sua casa. E assim
fizemos. Mal o Matias chegou fomos almoçar. Na sala de jantar, à mesa,
estávamos: o SrJason numa testeira da mesa e a tia Marlene estava na outra.
Do lado direito do Sr. Jason estava a sua mulher, e do lado esquerdo o seu
filho. Os meus pais sentaram-se ao lado da Sra. Maria, e eu e o meu irmão
sentamo-nos do lado do Ian, ficando eu no meio deles.
Durante o jantar falou-se sobre diversos assuntos: negócios, notícias, estilos e
vida, etc. Até que o Sr. Jason me fez uma pergunta inesperada:
-Inês – começou por dizer – eu sei que já te fizeram esta pergunta, mas eu
preciso mesmo de saber.
-Claro, pergunte –respondi.
-Durante os interrogatórios, quando tu disseste que não conhecias o pai do
filho da Alison, estavas a dizer a verdade?
Quando ele me fez esta pergunta, no início, fiquei bastante surpresa e até um
pouco “ofendida” por ele pensar que eu estava a mentir num caso como este.
Mas pensando bem, era compreensível ele questionar.
-Sim – disse limpando a boca e recolocando o guardanapo no colo – eu estava
a dizer a verdade.
-Mas como é possível! – perguntou – vocês eram as melhores amigas. Como é
possível não saberes de quem se trata.
-Eu sei que parece um absurdo eu não saber, mas a verdade é que não sei. E
acreditem que eu também me martirizo por não o saber. Vocês não têm noção
de quantas vezes eu dou voltas à minha cabeça para tentar perceber quem é
que poderia ser esse homem. Mas eu não sei, não há nada nas nossas
conversas que me indique alguém!
-Tu não te tens de te martirizar. Eu peço desculpa por ter voltado a tocar no
assunto.
-Não tem de o fazer. Eu percebo.
Terminamos o jantar e no final os meus pais seguiram no carro deles,
enquanto eu iria regressar com o Matias. O Ian enquanto me acompanhava ao
carro pediu-me desculpa pela atitude do pai. Eu desdramatizei, dizendo que
era compreensível. Despedimo-nos com um breve beijo na face.
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Cheguei a casa e estive a falar com o meu irmão, Matias. Desde que ele
tinha chegado ainda não tinha conseguido falar bem com ele. Ainda não tinha
tido uma das nossas longas e maravilhosas conversas. Sentamo-nos na beirada
da piscina a beber um sumo, e começamos a contar o que se tinha passado nos
últimos dias: a faculdade, a escola, os amigos, os amores, a família e sobre o
acidente. Falámos da repercussão do acidente na minha vida.
-Sinto-me mal - disse eu.
-Mas porquê? – Perguntou-me o meu irmão.
-Por não saber quem era o namorado mistério da Alison, por não conseguir
ajudar nas investigações…
-Mas tu não tens de te sentir mal por isso! – Disse-me mexendo numa mexa
de cabelo minha e colocando-a atrás da minha orelha.
-Eu sei, mas… - suspirei – mas eu só queria puder ajudar mais. A Alison
merece…
-Mas tu estás a ajudar no que podes…
-Eu sei, mas… Todas as pessoas esperam que eu saiba de tudo, todas as
pessoas estão sempre a esperar mais de mim do que eu posso dar, e eu não
consigo dar o que elas esperam, e…
-E ficas frustrada… - interrompeu-me.
-Sim… - confirmei libertando uma lágrima.
-Mas tu não tens de dar mais do que consegues… ninguém está à espera disso!
Ficámos à conversa o resto da noite. Quando nos fomos deitar, eu ainda me
sentei à janela a pensar: Como é que era possível ter acontecido tanta coisa
nos últimos tempos. Já tinham passado quase dois meses desde o acidente e eu
ainda não acreditava que a Alison tinha morrido. Decidi deitar-me. Ainda me
custou um pouco a adormecer, e só consegui fazê-lo eram já quase 3horas da
madrugada. Passei uma noite atribulada, tive inúmeros pesadelos com o
acidente e com a Alison. Derivado de um desses pesadelos eu acordei
sobressaltada. Tinha sonhado de novo com o acidente e que a Alison me pedia
para a salvar, a ela e ao bebé. Tinha tido este sonho inúmeras vezes. Olhei
para o relógio que apontava 6h35. Sentei-me na cama encostando-me na
cabeceira, e comecei a tentei lembrar-me do sonho que tivera. Comecei a
chorar, pois estava aflita porque a Alison me pedira ajuda no sonho, e eu não
conseguira fazer nada. Peguei numa moldura que tinha uma fotografia minha
e da Alison. Lembrava-me perfeitamente do dia em que a tínhamos tirado.
Tínhamos ido ao centro comercial depois de uma direta. Estávamos meias
bêbadas e estoiramos os cartões de crédito! Enquanto estávamos a passear
pela zona dos almoços encontramos uns amigos e foram eles que nos tiraram
essa foto sem nós darmos por isso. Dias mais tarde esses amigos ofereceram-
nos as fotos, uma a mim e outra à Alison. Aliás a Alison tinha também esta
foto na mesa-de-cabeceira. Dei por mim agarrada à moldura a chorar
desalmadamente e a pedir para poder voltar no tempo e impedir aquele
maldito acidente. Eu pedia, rezava e implorava para que estes últimos meses
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tivessem sido um sonho mau, e que eu pudesse acordar e que pudesse
encontrar a Alison.
XV:
Não voltei a adormecer. Por volta das 7horas saí de casa para ir correr. Voltei uma hora
depois e os meus pais e o meu irmão estavam a tomar o pequeno-almoço.
-Então querida! – disse o meu pai – saíste cedo!
-Sim, - respondi – não dormi muito bem, e decidi ir correr.
-Mas estás bem? – perguntou-me a minha mãe preocupada.
-Sim. Eu só vou lá acima tomar um banho e já desço.
-É – disse o meu irmão – despacha-te que a missa é as 10h.
-Missa? – perguntei confusa.
-Sim – disse ele sorrindo – hoje é feriado católico e a mãe quis porque quis irmos todos
juntos à missa.
Subi, tomei um banho, vesti um vestido azul-escuro com um cinto amarelo muito fino.
Maquiei-me e desci para me juntar aos meus pais, que entretanto já tinham terminado o
pequeno-almoço, mas continuavam à mesa.
-Então? – perguntei enquanto me sentava– o que vocês estão a falar?
-Estava aqui a dizer que preciso de chamar uma empresa para fazer uma vistoria à casa
– disse o meu pai.
-Mãe passe-me o café por favor- pedi – mas uma vistoria porquê?
-Para fazer uma limpeza nos canos, e na ventilação.
-Na ventilação?
-Sim. Cada divisão da casa tem uma espécie de tubos que vão dar ao exterior.
-Há sim, já sei – disse – esses tubos são aqueles que estão tapados por aqueles
“quadradinhos” brancos com frinchas, certo?
-Exatamente. Devem estar cheios de lixo e pó.
De repente, parei o que estava a fazer e comecei a pensar.
-Querida o que se passa – perguntou-me a minha mãe assustada – estás bem?
Levantei-me e comecei a andar até à sala e a pensar. Os meus pais e o meu irmão
vieram atrás de mim.
-Inês – chamou o meu irmão.
-Como é que eu não pensei nisto antes! – disse.
-Nisto o quê? – perguntou o meu pai.
-Mãe onde está o cartão que o inspetor Mendes nos deu? – perguntei.
-Está na agenda ao pé do telefone – respondeu-me – mas porquê?
-Eu depois explico.
Peguei no telefone e disquei o número do inspetor. Depois do segundo toque ele
atendeu.
-Inspetor – disse – daqui fala Inês Teixeira.
-Então – disse-me – passou-se alguma coisa?
-Sim, eu preciso muito de falar consigo. Será que nos pudemos encontrar daqui a vinte
minutos na casa da Alison?
-Claro, mas do que se trata?
-Quando estivermos todos juntos eu explico.
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XVI:
Desliguei o telefone e seguimos, eu os meus pais e o meu irmão, para a casa dos
Darlines. Quando lá chegámos o inspetor já lá se encontrava. O Ian perguntou me com o
olhar o que se passava.
-Muito bem – disse o inspetor – o que é que nos queria dizer menina Inês?
-Eu lembrei-me de uma coisa. Será que podemos subir até ao quarto da Alison.
Assim o fizemos. Entramos e eu percorri com o olhar o quarto, até que encontrei aquilo
que procurava.
-Então? – perguntou o inspetor.
-O inspetor perguntou-me ontem se eu me lembrava de algum sitio onde a Alison
guardava as coisas mais importantes.
-E a menina disse-me que não sabia - fez uma pausa – mas lembrou-se de alguma coisa?
-Mais ou menos. Quando eramos miúdas eu e a Alison sempre sentíamos necessidade
de encontrar locais improváveis para guardar diários, cartas de amor, entre outras
coisas. Eu não me lembrei disto mais cedo, porque nós nunca mais falamos sobre esse
lugar, e eu acabei por me esquecer. Mas, pensando bem, é muito provável que a Alison
continuasse a utilizar esse esconderijo.
-Mas o que é? – perguntou o Sr. Jason.
Não respondi, limitei-me a abrir uma gaveta da cómoda e retirar uma chave de fendas e
arrastei uma cadeira até à parede oposta à porta. Subi para a cadeira e comecei a tirar os
únicos dois parafusos que estavam a prender o “quadradinho” branco com frinchas.
Depois de desparafusar coloquei os parafusos e o “quadradinho” em cima de uma
pequena-mesa. Coloquei a mão dentro do pequeno buraco e retirei um envelope, um
caderno pequeno e um papel dobrado, assim como também encontrei uma pulseira.
Ficaram todos espantados por ter realmente alguma coisa lá. Entreguei o que encontrara
ao inspetor que, imediatamente, os colocou num saco de provas.
-Como é que se lembrou disto? – Perguntou-me o inspetor.
-Foi uma coisa que o meu pai me disse, que me levou a me lembrar deste sítio. –
respondi.
O inspetor não leu nem viu nada do que lhe entreguei, limitou-se a agradecer e a dizer
que nos contactaria mais tarde. Descemos até à sala e os Darlines atabalhoaram-me com
perguntas, para as quais eu não tinha resposta. Depois estive com o Ian. Desde aquele
dia maravilhoso no barco que nunca mais tínhamos estado juntos. No final do almoço
despedimo-nos e seguimos para a casa dos meus avós maternos, que ficava a uns
quilómetros da cidade.
XVII:
A quinta dos meus avós ficava no meio de descampados e de outras quintas. Tinha um
centro hípico, onde se dão aulas de equitação e competições equestres. Tinha também
um pomar e um vinha que produzia um vinho muito apreciado na região. A casa da
família era grande e antiga. Era constituído maioritariamente por pedra, tinha dois
andares e um rés-do-chão (onde estava instalado o escritório da administração da
quinta). No 1º andar estava a sala de estar, de jantar, de música, a biblioteca, a cozinha,
os aposentos dos empregados e as casas de banho. No 2ºandar estavam os quartos.
A minha avó era uma mulher muito querida, com 82 anos. Mas apesar da idade era ela
quem dava alma à quinta. O meu avô, com 85 anos, era o patriarca da família.
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Quando chegámos à quinta cumprimentei os meus avós e fui dar uma volta no Sultão. O
Sultão era um cavalo lindíssimo, que havia sido campeão nacional, mas que devido a
uma lesão, acabou por sair das competições. Percorri a quinta e fiquei a admirar e
pensar em frente a um lago. Quando o sol se pôs regressei a casa. Estavam todos na sala
de estar, enquanto a minha avó tocava piano. Assim que terminou estivemos à conversa
sobre os últimos acontecimentos. Depois de jantar regressamos a nossa casa, para muita
tristeza da minha avó que queria que nós passássemos a noite na quinta.
Chegámos por volta das 11horas da noite. Antes de adormecer ainda estive a pensar nos
acontecimentos do dia. Estava curiosa sobre o conteúdo dos papéis, do caderno e do
envelope.
Acordei com o despertador a tocar. Eram 7h15, levantei-me, fui tomar um duche, vesti-
me e depois de me maquilhar desci para tomar o pequeno-almoço. Despedi-me do meu
irmão, que iria regressar à universidade, e segui para a escola. Quando cheguei dirigi-
me aos cacifos. A Marta e a Luísa juntaram-se a mim. Tentei ainda procurar o Ian, mas
foi em vão. Depois da segunda aula recebi um telefonema. Era o inspetor Mendes que
me pedia para ir à PJ, se possível, ainda no dia de hoje.
Estava a caminho da terceira aula quando o Ian me chamou. Deu-me um beijo e
perguntou-me:
-Estás bem?
-Sim, e tu? – respondi.
-Também, agora que estou contigo estou muito melhor. – disse dando-me outro beijo.
-Diz-me uma coisa, tu recebeste algum telefonema do inspetor Mendes?
-Sim, ele pediu-me para passar por lá hoje. Mas porque perguntas?
-Porque a mim também me ligou.
-A sério?
-Sim.
-Deve ser sobre aquilo que encontraste no quarto da Alison.
-Sim, deve ser. Mas agora tenho de ir.
-Vemo-nos logo então! – disse-me isso dando-me um longo beijo.
No final das aulas segui com o Ian para a PJ. Já lá estavam os meus pais e os Darlines,
que ficaram felizes ao ver-nos chegar juntos.
XVIII:
Desta vez não fomos para a sala de interrogatórios, mas sim para uma sala comum. O
inspetor Mendes estava acompanhado de outros dois agentes, que estavam muito
atentos à conversa. Desta vez não fomos separados, mas sim, conversamos todos juntos.
-Bem – começou por dizer o inspetor – nós já analisamos o que encontramos no quarto
da Alison.
-E de que se tratava? – perguntou o Sr. Jason.
-Vamos com calma – respondeu o inspetor – como sabem nós encontramos quatro
coisas. Um envelope, uns papeis, um pequeno caderno e uma pulseira.
-Mas já viram o que lá estava escrito? – perguntou a Sr. Maria.
Desta vez o inspetor não respondeu, limitando-se a prosseguir o seu raciocínio.
-A pulseira era comum, era uma pulseira de contas de variadas cores, continha apenas
uma inicial.
-Que inicial? – perguntou o Ian.
-A letra B, que tanto pode ser do Bruno como de outra pessoa qualquer.
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-E… e os outros papeis? – perguntei eu.
-Esses sim, já nos revelaram mais alguma informação. O envelope continha a
confirmação de uma cirurgia para fazer o aborto.
-Uma cirurgia? – perguntou a Sr. Maria.
-Sim. A Alison ia fazer o aborto numa clinica. – disse o inspetor para choque de toda as
pessoas da sala – Mas prosseguindo, os papeis era uma espécie de bilhetes de amor
trocados entre a Alison e o seu amante, onde combinavam encontros entre outras coisas.
-E conseguiram perceber de quem se tratava? – perguntei.
-Não.
-E o caderno? – perguntei de novo.
-O caderno era um espécie de diário, onde a Alison descrevia a sua relação com o seu
amante.
XIX:
-E nesse diário estava o nome desse… - perguntou o pai da Alison – desse homem?
-Não. – respondeu o inspetor – ela apenas descreve a sua relação. Nada mais.
O inspetor continuou a contar o que haviam descoberto.
Eu não queria acreditar que não se sabia com quem é que a Alison tinha aquela relação.
Por mais que pensasse não conseguia descobrir quem é que poderia ser este homem
misterioso.
O inspetor prosseguiu:
-Todo este diário fala da relação com o redjoke, os momentos em que estavam juntos,
aquilo que falaram. Eu já tenho uma equipa a analisar este diário para ver se
descobrimos, nas entrelinhas, quem é este homem.
-Desculpe – interrompi – o que é que o inspetor disse?
-Não estou a entender. Como assim?
-O inspetor chamou alguma coisa a esse homem. Ao dizer que o diário falava da relação
da Alison com… - disse com todos os presentes na sala a olharem para mim confusos.
-Redjoke. – acabou por dizer o inspetor.
Eu deixara de ouvir o que ele continuava a dizer. Aquele nome não me era estranho, eu
já tinha ouvido aquele nome em algum lugar, mas onde?
-Redjoke é o apelido que a Alison dá ao seu amante. – prosseguiu o inspetor.
-Quem é aquele? – perguntou-me a Alison quando estávamos junto aos cacifos,
apontando para um homem de fato que estava a uns metros de nós.
-É o professor Faria. Benjamim Faria. É professor de História. – respondi eu. – Mas
porquê?
-Por nada! Ele é apenas… esquisito.
-Esquisito?
-Sim. Oh, engraçado se preferires. –riu-se a Alison.
-Mas porquê?
-Sei lá, não sei se é por aquele ar desajeitado, ou se é por aquele cabelo ruivo!
-Sim, mas não é esquisito. É… diferente.
-É… ele é é uma redjoke.
-Inês?! – chamou-me o meu pai.
-Sim! – respondi.
-O que se passa? – perguntou o inspetor – a menina sabe quem é este Redjoke?
Hesitei:
-Eu não tenho a certeza, mas…
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XX:
-Diga – pediu ansiosamente o inspetor.
-Redjoke é a alcunha que a Alison dava a um… - olhei para os pais e irmão da Alison e
para os meus pais – era a alcunha que a Ali dava a um professor lá da escola.
A notícia caiu que nem uma bomba. Ninguém esperava aquela revelação. Depois eu
contei-lhes a conversa que eu tinha tido com a Alison aquando o seu conhecimento do
Benjamim.
O inspetor agradeceu a minha ajuda e disse que ia notificar o professor Faria para um
interrogatório.
Fui para casa e não queria acreditar que a Ali estava a ter um caso como professor
Benjamim. Eu não conseguia conceber essa ideia. Tubo bem que a Alison sempre teve
um excesso de protagonismo, queria sempre correr riscos, alcançar o proibido, mas isto?
Isto não pode ser! Por mais que tentasse eu não conseguia acreditar.
No dia seguinte o professor Benjamim Faria foi notificado para comparecer no
dia seguir à polícia judiciária. Nessa mesma noite, estava eu em casa a estudar, ou pelo
menos a tentar quando ouvi um barulho vindo da minha janela. Um pouco assustada fui
ver o que se passada e relaxei quando vi que era o Ian.
-Ei! – disse eu sorrindo – sabes que podes usar a porta, não sabes?
-Sim, mas isto é mais romântico! – disse-me ele beijando-me.
-Sim, é verdade! – concordei eu sorrindo - mas é perigoso, ainda cais!
-Caio nada! A vossa trepadeira está super segura! – ironizou.
Estivemos uma data de tempo à conversa e a namorar, quando o Ian me perguntou:
-O que se passa?
-Nada – respondi ainda deitada sob o seu peito – porquê?
-Não sei. Estás estranha, pensativa…
-É… é esta história toda… - acabei por dizer enquanto me levantava e ficava de frente
para ele – por mais que eu pense, por mais que eu tente lembrar-me de todas as
conversas que eu e a Ali tivemos não consigo me recordar de uma única onde a ela me
tenha falado daquele homem.
-Pois… realmente é estranhoela nunca falar dele. Mas tu conhece-la e sabes que ela
quando queria guardar um segredo ela não contava a ninguém.
O Ian ficou mais uns minutos, e depois foi para sua casa. O resto da noite ainda tentei
estudar, mas sem sucesso pelo que me fui deitar.
XXI:
No dia seguinte o professor Benjamim Faria apresentou-se a horas na Polícia
Judiciária. Foi encaminhado para a sala de interrogatórios e aparentava estar
calmo.
-Bom dia – cumprimentou o inspetor.
-Bom dia – respondeu o professor.
-Obrigada por ter vindo tão prontamente! – disse o inspetor.
-Não tem de agradecer. – disse o professor – é do interesse de todos que esta
situação se resolva o meu rapidamente possível.
-Tem razão. Então comecemos: de onde é que o professor conhecia a Alison,
se é que a conhecia. – questionou o inspetor.
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-Sim, eu conhecia a menina Alison. Ela frequentava a escola onde eu leciono
e costumava ajudá-la com os estudos.
-Com os estudos? Mas a Alison tinham história consigo?
-Não. Mas eu dou apoio à disciplina de história na biblioteca às terças-feiras, e
num desses dias a Alison pediu-me ajuda com algumas dúvidas e sempre que
ela tinha alguma dificuldade eu ajudava.
-Ah, muito bem. Mas diga lá, como era a sua relação com a Alison?
-Não lhe podemos chamar, propriamente, de relação – sorriu brevemente o
professor – mas se lhe quer chamar assim, muito bem. Era uma relação
estritamente profissional, entre profissional e aluna.
O inspetor Mendes estava a tentar perceber algum nervosismo do professor e
estava a tentar entender algumas expressões dele. O inspetor estava ainda a
tentar controlar-se para não avançar para as questões do relacionamento
amoroso do professor Faria e da Alison, mostrar-lhe algumas provas que tinha
reunidos e assim desmascarar o papel de professor profissional. Mas ainda não
tinha chegado o momento certo. O inspetor Mendes queria ver até onde o
professor iria com aquela mentira.
XXII:
-Olá! – disse eu quando cheguei ao pé do Ian que estava na cantina.
-Olá coisa linda! – respondeu-me com um beijo.
-Então estás a almoçar sozinho?
-Não, o Pedro foi ao cacifo e volta já. E tu? Não tinhas ficado de ir com a Marta a
algum sitio?
-Sim, mas ela vai chegar um pouco atrasada.
-Ok… - disse ele.
-O que é que se passa? – perguntei eu. – Estás estranho.
-Não é nada de especial. Sou só eu que não consigo parar de pensar no stor Faria.
-Pois, eu também.
-Eu andei a fazer umas perguntas sobre o Faria e todas as pessoas o adoram, não
percebo!
-Pois, o professor Faria sempre foi uma pessoa muito respeitada e admirada aqui na
escola. Sempre foi um homem muito integro e…
Parei o que estava a dizer porque o Ian ficou espantado com o que eu acabara de dizer.
-Integro? – perguntou perplexo. – tu chamas integro a um homem que teve um caso
com uma miúda de 17 anos? – perguntou elevando o tom de voz.
Olhei em volta para ver se alguém tinha ouvido o que o Ian acabara de dizer, e
prossegui:
-Desculpa, não foi isso que eu quis dizer. É só que… - respirei fundo – eu cresci nesta
escola e sempre me acostumei as pessoas a elogiarem o professor e…
-eu é que peço desculpa. – disse pegando na minha mão – eu sei que isto também é
difícil para ti.
Eu assenti e o Ian deu-me um beijo. Fomos interrompidos pelo Pedro que acabava de
chegar vindo do seu cacifo.
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-Ei eiei! – disse o Pedro – vamos lá parar com este amor todo que eu não ‘tou para
servir de castiçal sozinho! – terminou sorrindo.
-Olá Pedro! – disse eu sorrindo dando-lhe um beijo na face.
-Olá Inês!
Ficamos uns minutos à conversa até que a Marta chegou e eu deixei os rapazes
sozinhos.
XXIII:
-Está me então a querer dizer que só conhecia a menina Alison das
explicações de história – voltou a perguntar o inspetor Mendes.
-Sim estou – voltou a responder o professor – não percebo porque é que o
inspetor continua a insistir nessa questão.
-Porque eu não acredito na sua resposta – disse fitando o professor.
-Desculpe? Assim está a ofender-me. – disse enquanto ajeitava o casaco –
Mas afinal porque é que o inspetor não acredita em mim?
-Porque eu tenho provas que me dizem que o professor mantinha uma relação
amorosa com a vítima.
-Desculpe? – perguntou indignado – como é que se atreve? Isso é um ultraje!
O professor parecia realmente ofendido, mas o inspetor prosseguiu.
-Não se ofenda professor.
-O senhor não tem noção das barbaridades que está a dizer.
-Barbaridades? – perguntou o inspetor mostrando o diário da Alison aberto
numa página que falava do Redjoke. -Sabe o que é isto, professor?
-Não.
-Isto é o diário da Alison, diário esse que descreve a relação dela com o …
-E por acaso diz aí que a relação que ela tinha era comigo? – interrompeu o
professor.
-Não
-Mas então como é que pode afirmar que fui eu?
-Porque nós temos uma testemunha que afirma que a alcunha que a Alison dá
ao seu amante no diário é a mesma que ela lhe dava a si.
-E é baseado num depoimento circunstancial que o inspetor me está a acusar?!
Fique já a saber que o tinha em melhor conta.
-Como assim?
-Pelo que leio nos jornais, a imagem que tinha do inspetor era de um
profissional justo e imparcial.
-E eu sou. Pode acreditar.
-Bem, se já não precisa mais de mim, eu pedia-lhe autorização para me ir
embora. Ainda tenho uma aula para dar.
-Pois muito bem. Pode ir embora. Mas peço-lhe que se mantenha contactável.
O professor Faria foi acompanhado por um inspetor estagiário até à rua
enquanto o inspetor Mendes ficou na sala com outro inspetor, Paulo.
-O que é que achaste? – perguntou Paulo ao inspetor Mendes.
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-Não sei, sinceramente não sei – disse o inspetor Mendes pensativo – não sei
mesmo.
-Mas achas que ele está a dizer a verdade?
-Acho que sim. – disse levantando-se – Mas temos de continuar a investigar.
XXIV:
-Onde queres que te deixe? – perguntou-me a Marta.
-Em minha casa, se não te importares – respondi.
-Então diz lá…
-Digo o quê?
-A sério? Eu posso ir a conduzir, mas eu vi o sorriso parvo, e apaixonado, que
tu fizeste à pouco quando recebeste aquele sms.
Sorri:
-Que queres que te diga?
-Como é que estão as coisas com o Ian? A vossa cena é séria?
-Sim, acho que sim. Porque perguntas?
-Não sei. Tipo, vocês conhecem-se à relativamente pouco tempo, mas parece
que se conhecem há uma eternidade.
-Sim, é verdade…
-E como é que vai ser?
-Como assim? – perguntei eu confusa com a pergunta.
A Marta olhou para mim, enquanto o sinal não mudava para verde:
-Como é que vai ser quando isto tudo se resolver e o Ian voltar para Londres?
Entretanto o sinal ficou verde e o carro voltou a andar. Não respondi à questão
da Marta, porque na verdade nunca tinha parado para pensar sobre ela. E na
verdade não queria pensar.
Quando a Marta me deixou em casa disse-me:
-Desculpa aquilo de à bocado – referindo-se à pergunta sobre o meu futuro e
do Ian juntos.
-Não precisas de pedir desculpa. Tu tiveste razão, eu é que nunca tinha parado
para pensar sobre esse assunto…
Despedimo-nos e eu entrei em casa. Não quis jantar, limitei-me a ir para o
quarto e estive a pensar na questão que a Marta me fizera. Ela tinha razão.
Como é que ia ser quando este mistério todo se resolvesse e os Darlines
voltassem para Lodres, quando o Ian voltasse para Londres. Que futuro estaria
reservado para nós? Nunca tinha parado para pensar no assunto, aliás eu e o
Ian nunca tínhamos falado na possibilidade de ele ir embora. E agora essa
ideia não me saída da cabeça.
XXV:
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-Bom dia! – disse a minha mãe quando eu desci.
-Bom dia! Eu não vou tomar o pequeno almoço com vocês, desculpa não ter avisado.
-Não tem problema! Mas onde é que vais comer?
-Eu fiquei de ir tomar o pequeno-almoço com o Ian.
-Vocês estão-se a dar muito bem, não estão? – perguntou-me a minha mãe sorrindo.
-Sim – disse eu lembrando me da pergunta da Marta – estamos.
Entretanto o Ian deu-me um toque para o telemóvel e eu saí de casa.
-Olá! – disse eu ao entrar no carro.
-Olá! – disse o Ian dando-me um beijo.
Decidimos ir tomar o pequeno almoço a uma esplanada que ficava a uns metros da
escola.
-Bom dia! – disse a empregada de mesa sorrindo – o que é vai ser?
-Bom dia! – disse eu – para mim é uma meia de leite e uma torrada, por favor.
-E para mim é um café e uma torrada também – pediu o Ian.
-Estive a pensar e este fim de semana podíamos ir passear no meu barco, o que achas?!
– perguntou o Ian.
-Ah… - respondi eu – este fim de semana não vai dar, tenho uma prova importante para
a semana e tenho de estudar, desculpa.
-Não tem problema. Não hão de faltar fim de semanas.
-Claro – disse eu esboçando um falso sorriso.
-O que é que tu tens? – perguntou-me acariciando a minha mão.
-Nada! – respondi.
-Vá lá, eu conheço-te…
-Não é nada de mais… é só uma coisa que a Marta me disse ontem e me deixou a
pensar.
-Posso saber o que ela te disse?
Hesitei em contar-lhe, porque afinal nós namorávamos à pouco tempo e era precoce eu
estar a preocupar-me com o futuro de um namoro que até nem podia vir a dar certo. Mas
decidi contar-lhe, até porque assim podia responder a inúmeras duvidas que eu tinha, e
podia ver se haveria ou não um futuro reservado para nós.
-Estávamos a falar de ti, de nós, coisas de raparigas – disse sorrindo – quando ela me
perguntou como é que nós ficávamos depois disto tudo passar.
-Passar o quê? – perguntou confuso.
-Quando o assassino da Alison for preso, vocês, tu e os teus pais, vão voltar para
Londres e… - disse enquanto uma lágrima descia pela minha face e a empregada
deixava os nossos pedidos.
-Obrigada – disse o Ian à empregada.
-De nada – respondeu ela.
-Não tens de te preocupar com isso agora. – disse ela beijando-me a mão – vamos
apenas aproveitar, e depois vê-se.
Confesso que não foi a resposta que eu estava à espera. Eu tinha imaginado todas as
hipóteses possíveis: terminar o namoro, manter o namoro à distancia, um de nós se
mudar para o pé do outro. Mas esta? Esta não me deixava minimamente segura. Mas
decidi seguir o conselho dele: decidi aproveitar enquanto durava, e quando ele
regressasse a Londres e se acabássemos eu iria seguir com a minha vida.
XXVI:
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Depois do pequeno almoço seguimos para a escola. Tocou a campainha para a entrada e
eu disse à Marta para ir indo para a sala de aula que eu tinha de ir ao cacifo.
-Olá menina Teixeira! – disse alguém assustando-me.
-Professor Faria! – disse tentando recuperar do susto.
-A menina não deveria estar nas aulas?
-Sim, eu só vim buscar uns cadernos que eu precisava. – respondi um pouco
desconfortável.
-Muito bem, então agora pode ir. Não se atrase mais.
Acatei a sua ordem e dirigi-me para a aula, um pouco com medo. Não sei porquê, mas
desde que descobri que ele e a Ali tinhaM um caso fiquei com medo dele. Cheguei à
sala e a Luísa notou que eu estava perturbada. Mandou-me um sms a perguntar o que se
passava e eu respondi dizendo que não se passava nada.
Saí da sala de aula e fui para casa. Estava no meu quarto a pensar como estariam a
decorrer as investigações. Decidi ligar ao inspetor Mendes. Ao final do terceiro toque, o
inspetor atendeu:
-Sim?
-Inspetor? É a Inês Teixeira, será que tem um minuto para mim?
-Sim claro. Passa-se alguma coisa?
-Não, não se passa nada. É só que eu queria saber como é que estão a decorrer as
investigações.
-Nós estivemos a falar ontem com o professor Faria, e ele negou qualquer tipo de
envolvimento com a Alison. Mas nós continuamos a investigar e mal descobramos
alguma coisa nós informá-la-emos. Até porque a menina também é vítima daquele
acidente.
-Ok, obrigada inspetor. E desculpe pelo incomodo.
-Ora essa!
No dia seguinte cheguei à escola e reuni-me com o Ian, Luísa, Marta, e o Pedro.
-Olá! – disse eu.
-Então? Como estás?- perguntou a Luísa.
-Estou bem! – respondi – porque perguntas.
-Não sei. Tipo tu ontem foste para a última aula super estranha e eu nunca mais te vi
depois disso…
-Não se passou nada. Aliás eu disse que eu estava bem.
Seguimos para as aulas e antes de eu entrar o Ian perguntou-me:
-O que é que se passou ontem afinal?
-Nada. Foi uma parvoíce! – respondi.
-Como assim?
Respirei fundo, e decidi contar, porque enquanto não o fizesse ele não iria descansar:
-Ontem, eu tinha ido ao meu cacifo o professor Faria abordou-me.
-Como assim? – perguntou o Ian furioso.
-Não foi nada de especial. Apenas perguntou-me porque é que eu não estava nas aulas.
Eu só fiquei assustada porque ele nunca tinha falado comigo, e com esta situação toda
eu meio que me passei.
-Esse tipo não se toca mesmo!
-Ei, não se passou nada! Foi uma parvoíce minha, nada mais!
Despedimo-nos e eu entrei na sala de aula. O Ian tinha ficado furioso com a abordagem
do professor Faria, e estava seriamente a pensar ir também falar com ele.
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XXVII:
Quando as aulas terminaram o Ian levou-me a casa. Ficamos um pouco juntos mas
entrei em casa porque eu e o Ian tínhamos discutido. Fora uma parvoíce, tínhamos
estado a falar sobre a nossa relação, e como nós não nos esforçávamos o suficiente, e
depois o Ian tinha comentado que não gostava da minha intimidade com um colega da
minha turma, que eu conhecia há imensos anos.
No dia seguinte, depois das aulas, fui correr um pouco pelo parque da cidade. O sol
estava a pôr-se quando eu parei por uns minutos para fazer uns alongamentos. Tinha
feito quarenta minutos de corrida, estava cansada, suada, mas satisfeita comigo mesma,
porque desde que a Alison morrera que eu nunca tinha conseguido fazer um tempo de
corrida assim tão bom. Depois destes alongamentos pretendia voltar a correr para casa e
ganhar coragem para ligar ao Ian e talvez resolver as coisas.
-Bom dia! – disse a Marta ao Ian e ao Pedro.
-Bom dia! – disseram eles.
-Então o que é que os cavalheiros estão a fazer?
-A tomar o pequeno-almoço. A senhorita acompanha-nos?
-Não muito obrigada, eu já tomei! Mas digam lá, onde está o resto da malta?
-A Luísa foi ao cacifo, e o André tem uma consulta no dentista. – respondeu o Ian.
-E então a Inês? – perguntou a Marta.
-Ainda não chegou! – respondeu o Pedro.
-Como assim ainda não chegou? – perguntou a Marta. – se ela não veio comigo, nem
com o Ian, veio com quem?
-Talvez tenha vindo com os pais – comentou o Pedro.
-Não pode ser. Os pais dela estão fora, na casa dos avós. Ela está sozinha em casa. –
informou o Ian preocupado.
-Talvez tenha adormecido.
O Ian tentou-me ligar inúmeras vezes antes de as aulas começarem. Sem sucesso foi
para a sua aula de Biologia, e ficou a aula toda a perguntar a Marta por sms se eu já
havia aparecido.
XXVIII:
No final da primeira aula, como o Ian viu que eu ainda não havia chegado, nem atendia
o telemóvel, decidiu ir a minha casa para ver o que afinal se passava. O Ian estava
preocupado com o meu atraso, mas pensou preferiu pensar que talvez eu tivesse
adormecido. Quando chegou a minha casa, tocou à campainha e ninguém veio à porta.
Decidiu então ir bater à porta, mas também sem sucesso, pelo que decidiu ir pela porta
das traseiras. Entrou, e procurou-me pela casa, mas não me encontrou. Decidiu ligar-me
de novo, e foi quando percebeu que o meu telemóvel estava no meu quarto, em cima da
mesa-de-cabeceira, juntamente com a minha carteira. Estranhando o facto de eu os ter
deixado em casa, assim como as minhas coisas da escola, o Ian ligou à Marta a
perguntar se tinha chegado à escola entretanto. A resposta foi negativa pelo que o Ian
sentou-se na minha cama a pensar onde eu poderia estar. Lembrou-se que os meus pais
estavam na quinta dos meus avós, pelo que pegou no meu telemóvel e procurou o
número de telefone da quinta. Quem atendeu foi a empregada de serviço, que negou a
minha presença na quinta. Aliás ela disse que os meus pais haviam chegado sozinhos à
quinta. O Ian começou a ficar seriamente preocupado comigo, eu não estava eu lado
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algum, ninguém me tinha visto, nem sabia de mim. Mas o Ian, antes de qualquer
alarme, decidiu dar uma volta pela cidade para me procurar. Foi a todos os sítios onde
eu costumava ir: ao café do centro da cidade, ao meu restaurante preferido, ao
cabeleireiro, ao ginásio, etc, mas não me encontrou. O último sitio onde me foi procurar
foi ao parque da cidade. Deu voltas e mais voltas a pé e depois foi perguntar a uma
esplanada se me tinham visto. O Ian mostrou uma fotografia minha que tinha no
telemóvel ao funcionário da esplanada e este reconheceu-me logo:
-Sim, esta menina – disse o funcionário – ela esteve cá ontem ao final da tarde. Veio
comprar uma água, ficamos uns minutos a conversar e depois ela foi treinar.
-E não a viu depois disso? – perguntou o Ian esperançoso.
-Não. Até porque eu fechei a esplanada minutos depois disso. Lamento.
-Obrigada – disse o Ian desmoralizado e preocupado.
O Ian ainda andou de novo com o carro pela cidade a ver se me encontrava. Quando já
não tinha mais onde procurar decidiu fazer aquilo que lhe parecia mais acertado: ele
tinha de fazer uma chamada.
XXIX:
Ao final do terceiro toque ouviu-se uma voz do outro lado.
-Estou sim, quem fala?
-Inspetor Mendes? Daqui fala o Ian Darlines, será que tem um minuto?
-Claro! Diga lá.
-Eu não sei bem o que pensar, mas eu já procurei por todo o lado e…
-Diga lá. Se eu puder ajudá-lo de alguma forma.
-É a Inês. Ela… ela desapareceu e eu não consigo encontra-la em lado algum.
-Mas desapareceu como?
-Ela hoje não foi às aulas e eu fui a casa dela para a ver e não a encontrei. Fartei-me de
lhe ligar, mas ela deixou o telemóvel e a carteira em casa. Procurei-a pela cidade toda e
nada.
-Bem, fazemos assim. Eu estava de saída mas venha à PJ ter comigo se puder.
-Claro que sim. Estou aí em cinco minutos.
O Ian foi diretamente para a sede da PJ e quando lá chegou encontrou, imediatamente, o
inspetor Mendes.
-Ian – disse o inspetor – venha até à minha sala por favor.
Entraram na sala do inspetor, e sentaram-se a um mesa, de frente um para o outro.
-Então diga lá. Que história é essa de a menina Inês ter desaparecido? – começou por
perguntar o inspetor.
-Eu não sei dela, aliás ninguém sabe, nenhum dos amigos dela sabe onde ela está!
-Não estará com os pais ou algum familiar?
-Os pais dela estão fora, em casa dos avós. Eu liguei para lá hoje e a empregada da casa
disse que a Inês não foi para a quinta.
-Muito bem. Então conte-me lá o que aconteceu, do inicio.
-Nós ontem estivemos juntos até ao final da tarde. Depois eu deixei-a em casa porque
ela tinha de estudar para uma prova que iria ter no fim de semana. Eu ainda lhe tentei
ligar ontem à noite, mas ela não atendeu. Eu deduzi que estivesse a estudar e não tivesse
ouvido a chamada. – começou por dizer o Ian. – hoje de manhã eu estava na escola com
uns amigos, quando a melhor amiga da Inês chegou e perguntou por ela. Nenhum de
nós sabia onde ela estava, mas pensamos que ela estava apenas atrasada ou que tivesse
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adormecido. No final da primeira aula, eu fui perguntar à Marta, a melhor amiga, se a
Inês já tinha chegado e ela disse-me que não. E então eu fui a casa dela.
-E então?
-Quando cheguei a casa dela toquei à campainha, mas ninguém respondeu. Depois fui
bater diretamente à porta, e de novo, ninguém falou. Decidi portanto entrar pela porta
das traseiras.
-E essa porta estava aberta?
-Sim, não. – disse confuso – a porta estava fechada, mas a família da Inês tem um chave
suplente escondida num vaso do jardim.
-Ah! – disse o inspetor pensativo – muito bem, prossiga.
-Ora bem, eu entrei, e comecei a chamar por ela. Como ninguém respondeu, procurei-a
pela casa. Até que entrei no quarto dela e vi que, ela não estava lá, mas que tinha
deixado tudo lá: o telemóvel, a carteira, os livros da escola, tudo. Estranhei, mas antes
de qualquer ideia precipitada, decidi ligar para a quinta dos avós dela, porque ela
poderia ter ido para lá. Quem atendeu foi a empregada da casa, que disse que a Inês não
tinha ido com os pais. Foi aí que comecei a preocupar-me e decidi dar uma volta pela
cidade a ver se a encontrava.
-E não encontrou. – concluiu o inspetor.
-Não. Eu fui a todos os sítios que ela costumava ir e ninguém a tinha visto. O ultimo
lugar onde a fui procurar foi ao parque da cidade, e aí tive a primeira pista dela.
-Como assim? – perguntou curioso o inspetor.
-O dono de uma esplanada do parque disse que a Inês esteve ontem ao final da tarde,
inicio da noite no parque. Eles tinham estado um pouco à conversa e depois ela foi
treinar.
-E ele não a viu depois disso?
-Não, porque ele foi embora depois disso.
-Muito bem, e depois…
-Depois voltei a dar uma volta pela cidade e depois liguei ao inspetor.
-Hum hum – disse o inspetor pensativo. – eu vou por alguns homens em campo. Ainda
não passaram 24 horas, mas sendo a menina Inês uma vitima de tentativa de homicídio,
e uma testemunha e um verdadeiro homicídio, é crucial a sua segurança.
-Obrigada.
-Agora, outra coisa crucial, é informar os pais da menina Inês. Pelo que percebi eles
ainda não sabem do desaparecimento da filha, certo?!
-Certo, eu não queria alarmá-los.
Foi o inspetor quem fez o telefonema para os meus pais. Eles ficaram logo muito
preocupados e voltaram para casa imediatamente. Chegaram de madrugada e
encontraram o Ian sentado no sofá da sala. Este explicou-lhes o que se sucedera, tal e
qual como tinha explicado ao inspetor. Os meus pais começaram logo a culparem-se por
me terem deixado sozinha em casa, e desprotegida. Depois de acalmarem os ânimos, o
Ian foi para casa e os meus pais foram tentar descansar.
XXX:
Acordei com uma forte dor de cabeça e com uma sensação de sonolência intensa. Com
dificuldade abri os olhos, e tentei percecionar o lugar onde me encontrava. Não
reconhecia o espaço. Era uma sala relativamente pequena, com uma cama, uma cómoda,
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uma mesa de madeira com um candeeiro, uma cadeira, um tapete e um sofá. Haviam
ainda, ao pé de uma parede, umas escadas que davam a um andar superior. A sala não
estava muito limpa, via-se que há muito que não era utilizada, pois o pó era bastante.
Daquilo que conseguia perceber, aquele espaço devia ser uma espécie de cave, pois a
única janela existente, encontrava-se no topo da parede e era pequeníssima. Quando me
tentei levantar da cama, senti um tontura forte, pelo que tive de me sentar de novo.
Quando finalmente recuperei forças, levantei-me e dirigi-me às escadas. Era um lanço
de doze escadas de madeira, que tinha no final uma porta, que, possivelmente, estaria
fechada. Mesmo sabendo desta possibilidade, arrisquei e subi. Tentei rodar a maçaneta,
e aí confirmei que a porta estava, de facto trancada. Num ato de loucura, comecei a
gritar por socorro. Sabia que possivelmente ninguém me iria ouvir, mas não consegui
ficar ali sem fazer nada. Daí a nada, ouviu-se o som da chave na fechadura da porta.
Assustei-me com o facto de a pessoa que me tinha colocado ali, vir aí. Desci as escadas
e fiquei à espera para ver quem era essa pessoa.
Na escola, estavam todos os meus amigos e conhecidos a questionar os alunos sobre a
última vez que me tinham visto. Poucos, ou quase nenhuns, tinha alguma informação
nova para dar, pois a ultima vez que a maioria me tinha visto tinha sido há dois dias na
escola.
Depois da hora de almoço, o inspetor Mendes informou a minha família que tinha
lançado um mandado de procura em meu nome a nível nacional e ibérico. Esta noticia,
apesar de ser um alivio para a família, não a deixava descansada, porque na verdade,
ninguém sabia do meu paradeiro.
XXXI:
-Você? – perguntei surpreendida.
-Sim, sou eu. – disse sorrindo – surpreendida?
-Eu quero sair daqui! – disse assustada – deixe-me sair daqui, deixe-me sair daqui!
-Calma, acalma lá a passarinha que tu não vais sair daqui, pelo menos agora – disse
sorrindo demoniacamente.
Eu não conseguia acreditar que o professor Faria me tenha raptado.
-Olha lá! – disse-me ela – tudo vai correr bem se tu fizeres exatamente o que eu quero.
-E o que você quer? – perguntei enquanto as lágrimas me invadiam.
-Bem – começou por dizer – para já vais ficar aqui quietinha e caladinha.
-E se eu não ficar caladinha? – perguntei desafiando-o.
-Bem, vou ter de te calar…
O professor Faria voltou a subir as escadas e a trancar a porta, e eu tinha voltado a ficar
fechada naquela sala sombria e fria. Comecei a imaginar se a minha família, amigos e o
Ian já teriam dado pelo meu desaparecimento, e se já, se estariam à minha procura. Mas
como é que eles descobririam que eu estava fechada nesta sala? Depois de alguns
minutos em silêncio ouvi um som que parecia de um carro a aproximar-se e, mais tarde
uma porta a bater. Deduzi que estaria mais alguém em casa. E, num momento de
desespero, comecei a gritar por socorro. Minutos depois o professor voltou a descer até
à sala onde me encontrava e, num ato de violência, bofeteou-me e empurrou-me
fazendo-me cair e bater com a cabeça na borda da cama. Ele veio até mim e puxando-
me o cabelo, disse-me ao ouvido:
-Eu disse-te para estares caladinha!
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Não respondi, limitei-me a aguentar a dor de ele estar a puxar o meu cabelo, e a dor de
ter batido com a cabeça, que me deixou a deitar sangue.
-Eu avisei-te – continuou ele – agora vou ter de te calar!
Largou o meu cabelo com violência e dirigindo-se à cómoda da sala, retirou de lá duas
cordas. Voltando para o pé de mim, agarrou-me pelo braço, levantou-me e atirou-me
para cima da cama. Agarrou os meus braços e colocou à volta dos meus pulsos, e fez o
mesmo com os meus pés. No final colocou um lenço na minha boca, e atou-o atrás da
minha cabeça. E antes de abandonar a sala disse:
-Agora, acho que vais caladita, não! – dirigiu-se às escadas e voltou a dizer – Eu tinha-
me esquecido de te dizer! Não vale a pena gritares que não há nada, nem ninguém aqui
à volta que te possa ouvir.
Minutos depois, ouvi o carro que tinha chegado à pouco a afastar-se e aí percebi que
talvez não teria salvação.
XXXII:
-Nós tivemos acesso às camaras de vigilância das lojas ao pé do parque – começou por
dizer o inspetor.
Estavam em minha casa, a minha família, o Ian e sua família e o inspetor Mendes.
-E então? – perguntou o meu pai esperançoso – viram a minha filha?
-A nossa primeira análise não deu frutos. Algumas das câmaras tem uma visão muito
reduzida para o parque, outras não mostram a Inês. A única que tem um angulo bom é a
da esplanada do parque – o inspetor pediu autorização para utilizar o leitor de DVD e
pôs o vídeo da camara de vigilância do parque. Passou alguns minutos à frente, e parou
segundos antes de a minha imagem aparecer. A minha mãe começou, de novo, a chorar.
No vídeo via-se eu a falar com o funcionário da esplanada e minutos depois, eu
despedir-me e começar a treinar, nada mais. O inspetor explicou aquelas eram as únicas
imagens que tinham minhas. O meu irmão, Martim, que tinha vindo da faculdade após o
meu desaparecimento, permaneceu o ver o vídeo, e, a dado momento, perguntou:
-Quem é aquele?
-Aquele quem? – perguntou o inspetor.
-Aquele homem ao pé do caixote do lixo!
-Ah! – disse o inspetor – é um mendigo que costuma ir à esplanada buscar algumas
sobras de comida que o dono lhe dá.
-E já falaram com ele? – perguntou o Ian – ele pode ter visto alguma coisa!
-Não tínhamos colocado essa hipótese! – disse o inspetor pensativo – de facto ele pode
ter visto alguma coisa nessa noite.
O inspetor telefonou para a PJ para mandar alguém procurar o sem-abrigo do vídeo.
Depois disso, despediu-se dos meus pais e dos Darlines e saiu.
A minha mãe, que tinha passado a conversa toda a chorar, ausentou-se da sala e foi
chorar para o quarto. A senhora Darline foi ter com ela para a consolar. Estavam todos
tensos, o facto de não saberem do meu paradeiro era desesperante. Os meus avós
chegaram minutos depois e informaram que tinham ligado para o inspetor Mendes para
informar que tinham colocado todos os funcionários da quinta à disposição da polícia. O
Ian e o Martim estavam no jardim, ao pé da piscina a falar sobre mim, onde eu poderia
estar, quem poderia ter feito isto. O Ian tinha certeza que tinha sido o Faria, que este
começou a sentir-se cercado e tirou de cena a única pessoa que o podia incriminar.
Falaram ainda do Bruno. Há uns meses ele foi ter comigo para perguntar porque é que
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eu lhe tinha mentido sobre a paternidade do bebé da Alison. Na altura, eu desculpei-me
dizendo que achei que tivesse sido melhor, que assim ele não ficaria com uma má
memória da Ali. O Bruno tinha ficado muito magoado e tinha deixado de me falar.
Desde que soubera do meu desaparecimento tinha vindo falar com aminha família para
lhes dizer que podiam contar com ele e que, apesar de tudo, ele gostava muito de mim e
só queria o meu bem. Terminaram a noite falando do sentimento de culpa do Ian. Este
sentia-se culpado pelo meu desaparecimento, porque afinal de contas, fora ele que me
tinha deixado sozinha, e tudo por causa de uma estupida discussão. Ele culpabilizava-se
e martirizava-se pelo facto de não ter sido capaz de me defender
XXXIII:
Depois de algumas horas, o sem-abrigo foi encontrado e, após o inspetor lhe ter pago o
jantar o mendigo, António, disse que de facto me tinha avistado no parque. Segundo ele,
eu tinha passado por ela umas três vezes enquanto corria. O inspetor perguntou-lhe
quando tinha sido a ultima vez que me tinha visto, e ele voltou a responder que tinha
sido enquanto corria. Então, o inspetor perguntou se tinha visto mais alguém no parque
àquela hora e o António respondeu que haviam algumas pessoas também a fazer
exercício. Mendes começava a perder a esperança e resolveu perguntar se o mendigo
vira alguém com uma atitude estranha. O sem-abrigo não percebeu o que o inspetor
queria dizer com estranho, mas começou a pensar. Minutos depois, ele fez uma
expressão que indicava que se lembrava de algo. De facto tinha havido uma pessoa que
tinha despertado a curiosidade de António. Era um homem de meia-idade, cabelo
grisalho e que vestia um fato bege. Este traje tinha chamado a atenção pois
normalmente as pessoas vão para lá e vestem fatos de treino e roupas práticas.
O inspetor perguntou-lhe se o tinha visto alguma vez ou se o tornara a ver mais tarde, ao
que o António respondeu negativamente. Aí o inspetor lembrou-se das suspeitas do Ian
sobre o professor Faria, e, mesmo não querendo levantar suposições infundadas,
mostrou uma fotografia do Faria ao sem-abrigo. Depois de a ver bem, o António
respondeu que sim, que era esse o homem que vira no parque. O inspetor, sorrindo pela
pequena vitória, decidiu convocar o professor Faria para outro interrogatório, desta vez,
ele não escaparia às suas questões.
XXXIV:
-Então princesa! – chamou ironicamente Faria – estás com fome? – perguntou
mostrando um saco de plástico azul com algo dentro – Não respondes? Há pois é, já me
esquecia, tu não consegues falar! Mas como eu sou boa pessoa vou-te tirar essa
mordaça.
Tirou-me a mordaça e com as costas do dedo indicador acariciou-me o rosto. Afastei-
me instantaneamente, tal era a minha repulsa. Ele riu-se deste ato, e desatou a corda que
prendia as minhas mãos. Massajei os meus pulsos que estavam doridos da pressão da
corda. Depois de algum tempo, aceitei a comida que ele me tinha trazido, era uma
sandes de queijo e fiambre, um sumo e uma maça. Apesar de estar receosa de esta poder
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estar envenenada, eu acabei por comer, pois já não comia há quase três dias, só tinha
bebido água que ele me ia dando.
Enquanto eu comia, o Faria, que estava sentado à minha frente, começou a falar:
-Sabes. Eu gostava mesmo dela…
Olhei para ele com um olhar cético.
-Não acreditas pois não?! Mas é verdade. Eu sei que aquilo que nós tínhamos não era
permitido, muito menos ético, mas aconteceu – disse enquanto esfregava as mãos – eu
tentei manter-me afastado dela no inicio, mas houve uma altura em qua não consegui
mais… Ela conseguia ser muito persuasiva.
Parei de comer e finalmente perguntei-lhe:
-Se gostavas assim tanto dela porque a matou?
Ele olhou-me furioso e disse-me:
-Acabou-se a conversa.
Atou-me de novo as mãos e amordaçou-me, e enquanto saía da sala disse-me:
-Vais ficar um pouco sozinha porque telefonaram da PJ e querem falar comigo. Devem
querer saber se eu te vi – disse sorrindo sarcasticamente.
Aquele homem repelia-me cada vez mais. Não conseguia perceber como a Alison se
tinha deixado encantar por aquele monstro. Era-me impossível conceber tal ideia.
Decidi que não iria esperar que alguém me viesse salvar, se é que algum dia me iriam
encontrar. Com algum esforço consegui libertar-me das cordas, e foi quando ouvi um
som de um carro a aproximar-se. Quem seria? Era impossível o Faria ter ido à PJ e já
estar de volta.
XXXV:
-Obrigado por ter vindo assim tão em cima da hora! – disse o inspetor ao professor
Faria.
-Não tem de agradecer – respondeu o Faria.
O inspetor encaminhou o professor até à sala de interrogatórios, onde os aguardava o
inspetor Paulo. Os inspetores começaram por lhe dizer o que se sucedera comigo. O
professor, disfarçando, mostrou-se muito surpreso e preocupado. Mas desta vez o
inspetor Mendes começava a duvidar da sua sinceridade.
-Oiça lá professor! – disse impaciente – eu acreditei em si, acreditei que não tinha de
facto nenhum relação com a vitima. Mas tem de concordar comigo, que agora começam
a aparecer demasiadas coisas contra si: primeiro a sua suposta relação coma vitima,
agora uma testemunho que o viu no ultimo lugar onde a menina Inês esteve.
-Coincidência, não passam tudo de terríveis coincidências – disse o professor.
-Eu não tenho a mesma certeza, professor.
O Faria começou a ficar desconfortável com as desconfianças do inspetor, mas
continuou a defender-se:
-Sinto-me bastante ofendido com as suas desconfianças. Se me dá licença eu tenho de ir
embora – disse dirigindo-se para a porta.
-O senhor não vai a lado nenhum!~
-Desculpe? O senhor não me pode manter aqui contra a minha vontade. Você não tem
nada que sustente a minha detenção.
-Tenho. E nem que eu tenha que ir falar com o presidente da republica, você não sai
daqui, e sabe porquê? Porque você está metido nisto até ao pescoço.
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O professor Faria foi detido, mas o inspetor Medes sabia que não o ia conseguir manter
lá dentro por muito tempo, pois qualquer advogado “rasca” o conseguiria tirar de lá em
dois minutos. E era por este motivo que tinham que se apressar.
Em minha cas, quando souberam da detenção ficaram eufóricos e ligaram de imediato
ao inspetor Mendes a perguntar por mim. O inspetor disse que ainda não sabiam o meu
paradeiro mas que estavam a tratar disso. Finalmente começavam a ver uma luz ao
fundo do túnel.
XXXVI:
Desci as escadas e fui para o pé da cama. Comecei a gritar por socorro e minutos depois
ouvi a porta a abrir-se. Para meu alivio não era o professor Faria, mas sim uma mulher
Nunca a tinha visto, mas ela seria a minha salvação.
-Você tem de me ajudar, por favor! – supliquei-lhe.
-Oh Meu Deus – disse ela – você está bem?
-Mais ou menos – disse-lhe ofegante – eu preciso que me tire daqui, por favor.
-Claro, claro, vamos!
Abandonamos a casa e entramos no carro dela. Aí apercebi-me que a casa encontrava-se
numa zona de floresta, longe de qualquer tipo de civilização.
-Como é que veio aqui parar? – perguntou-me ela – Já agora, eu chamo-me Maria.
-Sou a Inês – disse sorrindo – eu fui raptada. Estava ali fechada à quase três dias e você
foi a minha heroína.
Ela sorriu e fomos falando. Ela explicou-me que tinha passado pela casa e tinha ouvido
gritos e decidiu voltar quando viu o professor sair.
Ian? – perguntou o inspetor quando atenderam o telemóvel – Ian, o Faria falou. Ele
negou ter morto a Ali, mas confessou ter raptado a Inês. Nós vamos busca-la agora.
O inspetor deu a localização da casa ao Ian, e este e a minha família dirigiram-se para
lá. Quando chegaram a policia já tinha entrado, mas não me tinham encontrado. O Ian
desceu até à sala onde eu estivera e encontrou a minha fita do cabelo. Aí perceberam
que eu tinha estado realmente naquele sitio. Como não me encontraram deduziram que
eu tivesse conseguido fugir e decidiram procurar-me nas florestas da zona.
-O que está a fazer? –perguntei – porque parou o carro?
-Sai – ordenou a Maria
Saí do carro confusa. Estavamos numa ponte no meio do nada. Perguntei-lhe que se
estava a passar e ela sorrindo, apontou-me uma arma.
-Sabes, eu até simpatizo contigo – começou por dizer – até és uma miúda simpática!
-Porquê? – perguntei confusa.
-Porque tu ias condenar o meu marido!
-Condenar o seu marido?
-Benjamim Faria, professor de história, amante de uma miúda de 18 anos que morreu
num trágico acidente de carro e que estava grávida – disse sorrindo – ele contou-me da
Alison na noite anterior ao vosso acidente. Não conseguia acreditar que ele não só me
tinha traído, como a outra estava grávida dele. – disse enquanto chorava – mas sabes, eu
perdoei-o. Eu amo-o e perdoei-o. Mas eu sabia que ela não o ia deixar em paz, até
porque quando este caso e gravidez viessem a publico nós nunca mais teríamos paz.
Então eu tive de fazer alguma coisa…
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Aí eu percebi:
-Foi você!?
-Fui. Enquanto vocês estavam na festa, eu fui ao carro dela e cortei-lhe os travões.
Estava tudo planeado: ela iria sair das nossas vidas assim como aquela coisa que ela
trazia dentro da barriga.
Eu comecei a chorar. Não conseguia acreditar no que tinha acabado de ouvir.
-O Faria descobriu o que eu tinha feito e perdoou-me também. Desde então a nossa
relação fortaleceu-se.
-Como é que se fortaleceu se na base disso está a morte de uma pessoa?! – gritei – vocês
são uns assassinos, vocês são uns monstros, e aquilo que você chama de relação eu
chamo de mentira, de farsa!
Ela bofeteou-me e disse-me:
-Tu nunca saberás o que é o amor, porque tu decidiste armar-te em esperta e levantaste
suposições sobre o Benji. Quando tudo estava bem, estava calmo até que tu tiveste de te
armar em heroína, não é? Porquê, ah? Não podias estar caladita e sossegadita no teu
canto? Tinhas ganho mais com isso…
Depois disto, ela apontou a arma à minha cabeça e perguntou-me:
-Quais são as tuas últimas palavras?
-O que pretendes com isto?
-Eu? Depois de tu desapareceres o meu Faria será libertado e nós viveremos felizes para
sempre!
-Felizes? Até quando? Com duas mortes na consciência e a desconfiança de uma nova
traição?
-Ultimas palavras?
-Vai para o inferno!- disse.
-Largue a arma! – gritou o inspetor Mendes.
O inspetor Mendes e o Ian tinham ido juntos à minha procura e foi por isso que me
viram a mim e à Maria.
-Largue a arma e entregue-se. – voltou a dizer o inspetor Mendes que entretanto se
aproximara.
-Se dá mais um passo eu mato-a! – gritou a Maria.
-Calma! Não faça nada que se possa vir a arrepender.
-Inês, estás bem? – perguntou-me o Ian.
-Sim, estou – respondi.
-Não por muito tempo – disse Maria, preparando-se para disparar.
Prevendo o que iria acontecer, o inspetor disparou sobre a Maria atingindo-a num braço,
o que a fez cair. Num movimento rápido o inspetor imobilizou-a e o Ian veio ter comigo
e abraçou-me. Depois de um longo beijo apaixonado perguntou-me:
-Estás bem amor?
-Sim, agora estou – respondi abraçando-me a ele.
-Anda, vamos embora!
XXXVII:
O inspetor informou os policias que continuavam na floresta à minha procura, que eu já
tinha aparecido e pediu para se juntarem todos na casa onde eu estivera. Quando
cheguei os meus pais e o meu irmão já me aguardavam. Depois de muitos abraços,
beijos e imensas questões.
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O inspetor pediu para me levarem primeiro a um hospital para se certificarem que eu
estava mesmo bem. Depois de uma batalhada de exames médicos, fui, finalmente, para
casa. Lá estavam os Darlines, a minha família e os meus amigos mais chegados.
Estivemos horas à conversa, enquanto eu contava o que se tinha passado nos últimos
dias. Depois de a minha mãe me ter ido ajudar a deitar, o Ian entrou pela janela do meu
quarto. Ele deitou-se ao pé de mim, e abraçados, ele disse-me:
- Nem sabes o medo que tive de te perder!
-Eu sei. Eu também tive muito medo de nunca mais te voltar a ver…
Ficamos o resto da noite à conversa e acabamos por adormecer juntos.
No dia seguinte ficamos a saber que a Maria tinha conseguido fugir quando foi ao
hospital fazer o curativo do tiro que o inspetor lhe dera. Devido a esta fuga o inspetor
tinha destacado dois policias para a minha proteção, caso a Maria voltasse a atacar.
Dois dias depois aconteceu o julgamento do professor Faria. Ele não ofereceu qualquer
resistência, limitou-se a pedir desculpas aos Darlines e a mim e a confessar que tinha
tido o caso com a Alison, que sabia que a mulher a tinha matado, e que me tinha morto
para tentar acabar com esta história toda. Foi condenado a 12 anos. No final da
audiência o inspetor informou-nos que tinham encontrado a Maria enforcada num
barracão abandonado.
Fomos para minha casa festejar. Finalmente estava tudo terminado: o assassino estava
morto e tudo poderia voltar à normalidade, dentro do possível é claro.
Nunca nada voltaria a ser como dantes: eu não voltaria a ter a minha melhor amiga, não
voltaria a poder conversar com ela, não voltaria a dormir em paz, nem a minha vida
voltaria a ter o mesmo sentido, porque faltará sempre um pedacinho de mim que ficou
naquele acidente de carro e que a Alison levou consigo.
A minha relação com o Ian estava cada vez mais sólida e ele ia pedir transferência da
universidade de Londres para uma portuguesa para poder estar mais próximo de mim e
da tia. Voltaríamos os dois a Londres para visitar a família. A Maria disse que eu iria
morrer sem saber o que era o amor. Mas a verdade é que se eu tivesse de facto morrido
naquele dia, naquela ponte, eu teria partido com a certeza que eu tinha amado e sido
amada.
A vida da Alison tinha acabado naquele acidente de carro, assim como a nossa. O que
nós estávamos agora a viver, era uma vida nova, que pretendíamos aproveitar ao
máximo, assim como a Alison viveria!

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Momentos de verdade

  • 2. acoisa-maisfofa.blogspot.pt I. Não acredito que isto nos aconteceu. Estava tudo tão bem, estávamos tão divertidas e tínhamos tido uma noite super alegre. E, numa fracção de segundos, a minha vida acabou, ou melhor, a dela acabou, para sempre. -Querida! – disse-me a minha mãe – Estou tão feliz que não te tenha acontecido nada! Não era bem assim, segundo o médico eu tinha sofrido um traumatismo craniano, várias escoriações e hematomas, tinha torcido um pulso e sofrido vários cortes. -Mãe? Mãe! – chamei. -Diz querida! – perguntou-me o meu pai. -A Alison? Onde está a Alison. Eles trocaram um olhar tenso e demoraram a responder. -Então? – perguntei de novo. -Ela… ela – começou a minha mãe. Foi então que eu percebi, as lágrimas invadiram a minha cara e passaram-me pela cabeça todas as memórias, minhas e da Alison. -Não! Não, não pode ser! Mãe? Pai? Digam-me que não é verdade! – gritei chorando. -Inês! Querida…. – disse-me a minha mãe abraçando-me. No dia seguinte, o velório e o enterro aconteceram. Segundo o médico eu não estava em condições, mas eu decidi ir. Ao sair do hospital, um carro esperava-me. O meu pai ao abrir a porta do carro, começou a faltar-me o ar e as recordações do acidente vieram todas assombrar-me. A minha mãe quis levar-me de volta para o hospital, mas eu não quis. Após um médico me examinar, disse que eu deveria estar em estado de choque com um trauma por causa do acidente. Disse que só após terapia é que eu deveria voltar a conseguir entrar num carro. Como continuava a querer ir ao funeral decidimos ir a pé. Chegámos à igreja e os jornalistas e as pessoas já haviam quase chegado. Os jornalistas vieram logo tentar falar comigo, mas sem sucesso. Ao entrar na igreja foi como se eu percorresse o corredor da morte em slow-motion, em câmara lenta. A mãe da Alison, Maria, estava com o seu marido, Jason, e o seu filho, Ian, a cumprimentar e a receber os pêsames das pessoas. A D. Maria mal me viucomeçou a chorar e veio abraçar-me. Aí também eu comecei a chorar. -Oh, mydear! – disse me ela chorar. A família Darlines (família da Alison) era inglesa. A D. Maria e o Sr. Jasontinham se casado e se mudado para o Reino unido, onde tiveram os dois filhos. A Alison tinha vindo para Portugal estudar, e esteve a viver com a tia Marlene. O Sr. Jason pediu-me para me sentar no banco da frente, que era o que a Alison quereria. No final, não quis voltar para o hospital e decidi ir para casa. Voltamos a tentar entrar no carro, mas eu não consegui. II:
  • 3. acoisa-maisfofa.blogspot.pt Em casa da tia da Alison, o ambiente estava tenso. Encontravam-se lá os Darlines, a Tia Marlene e o padre António. Entre muitos assuntos falados, eu fui um. -Coitada! – disse a D. Maria – estava com muito mau aspecto! Toda machucada, com cara que não dormia à muito tempo. -Sim – concordou o Ian – segundo o médico, o facto de ela estar viva , deve-se a ela ter muita sorte ou ter um bom anjo da guarda! Já a Ali (diminutivo de Alison). - O que ela deve ter passado! – disse a Marlene. -Ninguém sabe! – disse o Pe. – Ninguém é capaz sequer de imaginar! -Como assim? – perguntou o Sr. Jason. -Pensem comigo! – começou por dizer o Pe. – ela esteve com a Alison, nos seus últimos meses de vida, passou mais tempo com ela nos últimos tempos que cada um de vocês e segundo o médico ela não ficou inconsciente o tempo todo. - O que é que quer dizer com isso? – perguntou o Ian. -O médico disse que após o acidente e antes da ambulância chegar, a Ines esteve consciente, por alguns segundos, mas consciente e viu tudo e não pode fazer nada. Ficaram todos pensativos, a assimilar o que o Padre havia falado. Na manhã seguinte fui prestar declarações à esquadra. -Bom-dia! – disse o inspector Sacramento. Estávamos numa sala de interrogatórios. Estava eu, o meu advogado e dois inspectores da judiciária. A PJ estava neste caso para apurar a razão do despiste. -Bom-dia! – respondi. Não tinha descansado bem, apesar dos calmantes só conseguira dormir umas duas horas. -Desculpe estar a chamá-la assim, tão cedo – começou por dizer o inspector – mas é do interesse de todos que este caso se resolva o mais depressa possível! -Sim… eu entendo – disse-lhe. -Vamos começar. – tirou um gravador e ligou-o e com um bloco na mão ia tirando apontamentos – Há quanto tempo se conheciam? -Desde pequenas – respondi – nós éramos vizinhas, mas a família dela mudou-se para Londres, porque o Sr. Jason era de lá. -Mantiveram contacto? -Por algum tempo sim, mas depois acabámos por perder o contacto. -E como é que voltaram a falar? -Há cerca de um ano, ela ligou-me a perguntar onde eu estava e quando lhe disse que estava em casa, ela tocou à campainha de minha casa. Fiquei espantada e perguntei-lhe o que é que ela fazia em Portugal. -O que é que ela respondeu? Entre risos respondi: - Ela disse-me que vinha tomar café às Taipas! A família Darlines que estava numa sala ao lado a ver o interrogatório começou-se a rir, porque era o estilo dela fazer isto. -Depois disse-me que vinha estudar para cá. Eu levei-a para a casa da sua tia e ela pediu-me para ir com ela para a ajudar com a matricula e assim fiz – disse-lhe – no dia seguinte fomos às compras no shopping. -Ela adaptou-se bem na escola e na cidade? -Sim, quem a conhecia bem, sabe perfeitamente que ela era muito dada e que se integrava bem em qualquer sitio. Toda a gente a adorava. Os pais dela e o Ian concordaram. -O que é que se passou no dia do acidente? -De manhã eu tinha ido correr para o parque da cidade, e quando cheguei a casa a Ali estava à minha espera.
  • 4. acoisa-maisfofa.blogspot.pt -O que é que ela queria? -Queria pedir-me para ir com ela ao shopping comprar um vestido para um festa. -Foram a que horas? -Por volta das 10 horas. -Foram por quanto tempo? -Ficamos lá o resto da manhã e parte da tarde. -O que fez o resto da tarde? -Estive fora da cidade, em casa dos meus avós com os meus pais. -E a Alison? -Não sei. Ela tinha –me dito que ia ter com o Bruno? -Bruno? O namorado? - Sim. -E quando é que se voltaram a encontrar? -Ela tinha ficado de me vir buscar as 10 horas da noite. -E… ela estava bem? -Sim, chegou um pouco atrasada, mas estava bem. -Atrasada? Quanto tempo? -Uns 20 minutos. -Ela disse o porquê? -Não, disse apenas que já tinha chegado e era o mais importante. -Durante a festa, o que se passou? -Nada de especial, ela divertiu-se, dançou, ficou com amigos e com o Bruno. -Ela bebeu? -Sim! Bastante. No final da festa eu insisti para ser eu a levar o carro, mas ela não quis. -Você estava sóbria? -Mais ou menos. Eu bebi, mas não tanto como ela. -No caminho de regresso o que é que se passou? -Nós íamos a ouvir música e a cantar, corria tudo bem até que… -Até que? -Até que ela se sentiu mal. -Como assim? -Ela sentiu-se enjoada e depois disse-me que estava com dores de cabeça. -Foi aí…? -Não… Comecei a chorar, as imagens daquele noite não saíam da cabeça. Os Darlines também começaram a chorar. -Ela disse-me que já se sentia bem e que estava bem para conduzir. Minutos depois, ela, … ela… - tentei continuar mas as lágrimas não me deixavam – ela… gritou, vi uma luz e ouvi uma buzina de carro. Não conseguia parar de chorar. -A minha cliente não está em condições de prosseguir – disse o meu advogado. -Claro! – disse o inspector – Continuaremos outro dia. Saí da sala e fui procurar conforto na minha mãe que me esperava. Os Darlines também saíram a chorar. III:
  • 5. acoisa-maisfofa.blogspot.pt Dias depois voltei para a escola. Com a terapia já tinha conseguido entrar nos autocarros. Era naquele momento o único meio de transporte que conseguia utilizar. Quando entrei na escola tinha centenas de olhos postos em mim. A Luísa e a Marta (minhas amigas e da Alison) esperavam-me. -Estás bem? – perguntou-me a Marta. -Sim... – respondi – ... vou ficar. As aulas naquela manhã foram normais. Os professores não puxaram muito por mim, porque souberam do acidente. À hora de almoço estava sentada com a Marta, a Luisa, o Pedro e o Luis. De repente os meus olhos estavam pousados na porta de entrada. Fiquei espantada, surpresa. -O que é que ele faz aqui? – perguntei. -Ele anda a frequentar a escola – respondeu o Pedro – Anda na minha turma.(12ºano) -Mas porquê? – perguntei. -Não faço a mínima ideia! Depois do almoço fui buscar um livro ao meu cacifo. Estava a fechar o cacifo e sem querer fui contra alguém. -Ai! Desculpa – pedi atrapalhada. -Não há problema! – respondeu-me. Olhei para ele e reconheci-o. Aquelas feições, aqueles olhos e aquelas parecenças não me eram desconhecidas. Apesar de o ter visto em fotos ele era muito parecido com ela. -Ian! – disse surpreendida. -Olá, Inês! – disse me sorrindo. -Ouvi dizer que andas cá na escola!? -Sim, os meus pais não se querem afastar daqui até tudo se resolver. -Claro, é compreensível. -Inês! – chamou-me a Luisa ao longe– Vens? -Sim – respondi – Bem, tenho de ir! Adeus. -Adeus – disse-me. Já estava a uns metros dele quando ele me chamou. -Inês? -Sim? – respondi virando me para ele. -Estás bem, depois do… -Vou ficar… - respondi depois de alguns segundos. Ele sorriu. ÀS 17 horas, estava a sair da escola e o Ian estava a passar de carro. -Olá! – disse-me – precisas de boleia? -Não é preciso, obrigada! – disse-lhe – Obrigada. -Como queiras! Se algum dia precisares diz. -Obrigada. IV: Na noite seguinte, os meus pais convidaram os Darlines para jantar em nossa casa. -Boa noite! – disseram ao chegar. -Boa noite! – respondemos. Estiveram à conversa até o telefone tocar. - Eu atendo! – disse-lhes – Sim? – e fui até à sala de jantar.
  • 6. acoisa-maisfofa.blogspot.pt Quando regressei as senhoras estavam na cozinha e os senhores na sala a beber um whisky. -Quem era querida? – perguntou-me o meu pai. -Era o Matias – disse – Ele disse que vem cá no próximo final de semana. -A sério? – disse a minha mãe vinda da cozinha. -Sim! A faculdade dele vai estar fechada na próxima segunda-feira e ele aproveitou. O Matias era meu irmão mais velho que estava a estudar fora. O jantar foi agradável. Durante a noite notaram-se três grupos: o Sr.Jason e o meu pai; a minha mãe, Clara, a Marlene e a D.Maria; e eu e o Ian. Nós conversamos na varanda sobre muita coisa, sobre a nossa infância, sobre a escola, sobre namorados e principalmente sobre a Alison. -Como é que ela estava? – perguntou-me certa altura. -Estava bem! – disse – feliz, acho, tu conhecia-la, ela ficava eufórica e muito bem com qualquer coisa! -É verdade! – respondeu sorrindo - Sabes uma coisa? -O quê? -Tenho inveja de ti. Fiquei surpreendida. -Mas porquê? – perguntei. -Porque estiveste com ela nos seus últimos meses, estiveste presente em tudo o que ela precisou, partilhaste os seus melhores momentos… -Ian! – disse pegando-lhe na mão – apesar da distancia que vos separava ela amava te mais que tudo! Aliás, não havia dia em que ela não falasse de vocês e quando o fazia eu via um brilho no seu olhar, que só se vê quando se ama verdadeiramente alguém… Ele sorriu emocionado e abraçou-me. Fomos interrompidos pela minha mãe. Os Darlines já se iam embora. Despedimo-nos e combinamos que seria uma coisa a repetir. V: O dia seguinte nasceu cinzento. Quando acordei, fui à janela e vi imensas nuvens cinzentas no céu a adivinhar uma violenta tempestade. Decidi enfrentar aquele dia. Vesti-me e fui tomar o pequeno almoço. Quando cheguei à escola deparei-me com uma multidão à porta. - O que é que se passa? – perguntei. -Houve uma inundação – respondeu o Luis. -E o que é que fazemos agora? -Parece que não vai haver aulas! E era verdade, o director veio ter connosco e avisou que não haveriam aulas naquele dia. Entretanto começara a chover e eu fui para a paragem de autocarros. De repente um carro preto parou à minha frente, o vidro abriu-se e vi o Ian. -Queres boleia? – perguntou-me. -Não! Não é preciso – respondi – Obrigada! Ele saiu do carro e veio ter comigo.
  • 7. acoisa-maisfofa.blogspot.pt -Eu sei do teu trauma – começou por dizer – a minha mãe contou-me, mas tu tens de superar. -Eu sei, mas… -Anda lá! Eu prometo que vou ter cuidado! Confias em mim? -Sim… - e era verdade. Depositava nele uma confiança enorme! Tal como na Alison. Fiquei um pouco receosa. Quando ele fechou a porta do carro, confesso que me senti um pouco com falta de ar! Mas o Ian logo me descansou apertando-me a mão e sorrindo. Ele foi um querido! Não acelerou muito, tentava-me distrair contando piadas e historias. Senti-me muito bem com ele. Fomos até a uma feira popular onde jogámos tiro ao alvo, entre outros; depois fomos almoçar a uma barraquinha de cachorros quentes. Depois fomos a um parque de diversões onde comemos pipocas e algodão doce. Ao final da tarde fomos ao cinema e vimes um filme de comédia. Depois do filme fomos comer uma pizza. Era já noite, quando íamos a caminho de casa: -Ahahahahahahah! – ri-me sorrindo – Muito bom! -„Tou a falar a sério! – respondeu-me também sorrindo – aconteceu mesmo! -Não consigo acreditar! A sério! O que aconteceu depois foi muito rápido! Num segundo estávamos a rir às gargalhadas e noutro… Um carro que ultrapassou um sinal vermelho fez com que o Ian tivesse de fazer uma travagem brusca e com o susto e com o barulho das buzinas, foi como se estivesse a viver de novo o pesadelo que me tinha levado a minha melhor amiga! Mal o carro parou saí para tentar respirar, estava zonza, com as imagens da Alison e todas as minhas memórias baralhadas na minha cabeça. Estava a chorar e a lutar para conseguir respirar e me acalmar. Quando saí do carro encostei-me a um poste de luz e sentei-me junto dele. O Ian saiu do carro e veio ter comigo super preocupado. -Desculpa-me! – disse-me – estás bem? -Sim! – tentei dizer a muito custo – estou só um pouco… tonta… mas vou ficar bem! -Desculpa-me a sério! -Não te massacres! – disse-lhe sorrindo. Ficámos uns minutos à conversa. -É melhor ires para casa – disse-me. -Sim, mas é melhor ir de autocarro… -Claro! Eu vou contigo! - disse-me. -Não é preciso! -Não é discutível, deixa-me estacionar o carro. – e foi sem me deixar responder. Passados 7 minutos ele voltou e fomos a pé para casa. Falámos sobre muita coisa. Rimos, divertimo-nos e recordámos várias coisas! Como era tarde e estava um pouco frio ele emprestou-me o seu casaco. Quando cheguei a casa despedimo-nos. -Obrigada por me acompanhares a casa! – disse-lhe. -De nada! Adorei a noite… principalmente da companhia! -Eu também! – disse envergonhada e dei-lhe um beijo na face. – Boa Noite! -Boa noite! – respondeu-me. Quando cheguei ao quarto reparei que não me lembrava de estar assim feliz havia algum tempo. Também reparei que me tinha esquecido de lhe devolver o casaco. Fui tomar banho e depois fui dormir. No dia seguinte enquanto os Darlines estavam a tomar o pequeno-almoço o Ian perguntou: -Mon! Dás me boleia até ao centro da cidade? -But, why? Passa-se alguma coisa com o teu carro? – perguntou-lhe. -Não, nada! Mas deixei-o lá ontem à noite! -Mas porque é que o deixaste lá!
  • 8. acoisa-maisfofa.blogspot.pt -Porque fui dar uma volta com a Inês e ela sentiu-se mal e regressamos a pé! -Tudo bem, mas querido tens de ter cuidado com ela. Ela está em tratamento. -Eu sei mãe! Também não faria nada que a prejudicasse! -Eu sei! – respondeu-lhe sorrindo. VI: Quando cheguei à escola fui ter com a Luísa e depois à Marta juntou-se a nós. Quando soou a campainha para irmos para as aulas cruzamo-nos com o Ian e o Pedro. Aproveitei para lhe devolver o casaco. -O que é que foi isto? – perguntou a Marta sorrindo. -Nada! – respondi. -Nada não! – acrescentou a Luísa. -Nós ontem fomos dar uma volta e como estava muito frio ele emprestou-me o casaco nada de mais. E contei-lhes o resto da história na hora de almoço. Quando ia a sair da escola cruzei-me com o Ian. -Olá! – disse-me. -Olá! – respondi. -Vais para a PJ? -Não. Primeiro vou à terapia e só depois é que vou acabar o meu depoimento. -Ah! Ok! Encontramo-nos lá então! -Também vais? - perguntei -Sim! -Ok! Até logo! -Xau! – despediu-se com um beijo na face. Depois da terapia fui para a esquadra e o depoimento continuou. -Boa tarde! – disse-me o inspector Sacramento. -Boa tarde! – respondi. -Estás preparada? -Sim. Os Darlines estavam, como da ultima vez, numa sala ao lado a ver o interrogatório. Como da última vez o gravador estava ligado, o inspector estava com um bloco e o meu advogado estava a meu lado. -Muito bem! – disse-me – no passado dia em que esteve cá disse que tinha visto uma luz e ouvido umas buzinas. -Sim – comecei – foi muito rápido! Num momento estava tudo bem e noutro foi como se… -De que é que se lembra depois do embate? Depois de um longo silencio respondi: -Apenas me lembro de poucas coisas… -Como… -Lembro-me de estar a sangrar, cheia e dores, sonolenta e zonza. Lembro-me de ver muitas luzes e de ver a Ali caída inconsciente – comecei a chorar –
  • 9. acoisa-maisfofa.blogspot.pt Depois tentei me libertar do cinto, e tentei sair dali e levar a Ali comigo. Mas não consegui porque ela estava presa. -E depois? -Depois senti-me mal e a ultima coisa de que me lembro foi a Ali e ouvi o som de uma ambulância a aproximar-se. -Muito bem! Quando você acordou no hospital o que se passou? -Os meus pais estavam no quarto e quando eu perguntei pela Ali eles…. Eles deram a entender que ela… - não consegui terminar. -Ah! Diga-me uma coisa. Você disse que a Ali estava caída? -Sim… - afirmei. -Ela não estava a usar cinto? -Sim, quer dizer – pensei um bocado – quando saímos a festa eu lembro-me de ela o colocar sob exigência minha. Mas… quando ele se sentiu mal, enjoada ela o retirou! -A medicina legal, enviou hoje de manhã os resultados da autópsia da Alison e ela morreu devido a um traumatismo craniano e por causa de uma hemorragia interna no útero! A… também revelou que essa hemorragia deveu-se a um aborto espontâneo! Você sabia desta gravidez? De repente lembrei-me que a Alison me havia contado que estava grávida. Também me disse que queria abortar pois era muito nova. Eu tinha-lhe dito para falar primeiro com o Bruno porque ele tinha algo a dizer pois era o pai e ela largou a “bomba” que o filho não era dele, mas do tipo mais velho com quem ela andava a sair. Segundos depois eu respondi para surpresa de todos. -Sabia – disse em voz baixa porque as lágrimas invadiram-me. -E porque é que não contou nada? -Não sei! Não me lembrei e também não achei que fosse importante. -Mas é, muito mesmo! Os Darlines ficaram surpresos. -O pai, o tal Bruno, sabia? -Ela não queria! -Como assim? Ele como pai tinha o direito de saber. -Não – disse chorando - ele não precisava saber porque… -Porque? -Porque não era ele o pai! VII: Ficaram todos surpresos. Caiu que nem uma bomba. -Como assim? Eles não eram namorados? -Sim, mas ela há uns meses disse-me que andava a sair com um homem mais velho. E quando me contou da gravidez também me disse que o filho não era do Bruno. -Quem era esse tal homem? -Não sei! Ela não me disse, porque se alguém descobrisse poderia prejudicá-lo. -Ela nunca deu a entender nada?
  • 10. acoisa-maisfofa.blogspot.pt -Não. Ela era muito cuidadosa a esse respeito. -Acha possível ela ter estado com ele quando chegou atrasada naquela noite? -Sim, é possível. Bastava ele ligar e ela ia a correr ter com ele. -Diga-me uma coisa, a Alison tinha inimigos? -Não porquê? -Porque os travões do seu carro foram mexidos. -Está a querer dizer que… - perguntei surpreendida. -Sim. A Alison foi assassinada! Fiquei em estado de choque. Quem é que quereria ver a Alison morta! Saí da sala de interrogatórios e fui ter com os meus pais. No parque de estacionamento , os Darlines passaram por nós e cumprimentaram-nos, excepto o Ian que me lançou um olhar de magoa e tristeza. No dia seguinte na escola o Ian andou-me a evitar. No final das aulas, o Ian ia a caminho do carro e tentei falar com ele. -Ian!- chamei. -Agora não tenho tempo – disse-me bruscamente. -Andas-me a evitar? -Não. -A sério?! -Achas que não tenho motivos? -Como assim? – perguntei confusa. -Escondeste-me que a minha irmã estava grávida! -Eu não te escondi! Só não me lembrei… -Não tinhas o direito de guardar isso só para ti! Eu tinha o direito de saber! Nós tínhamos o direito de saber! -Desculpa! – pedi. -Meteu-se no carro e acelerou deixando-me sozinha. Cheguei a casa e fui para o quarto chorar! VIII: Fiquei lá até ao dia seguinte. Em casa do Darlines, a D. Maria notou que algo se passava com o Ian. -What happening? – perguntou-lhe. -Nada! – respondeu. -Nada não! Estavas tão feliz por causa da Inês, e agora estás assim! -Ela não tinha o direito de nos esconder aquilo! Não tinha… -Tens razão, não tinha, mas põe-te no lugar dela. Aconteceu tanta coisa na vida dela, o acidente, a perda da melhor amiga, as perguntas dos polícias, a dor, as terapias e os medos. É natural que se tenha esquecido, ainda por cima se era o que ela fazia, esconder o segredo, quando a Ali era viva! Já estava tão habituada a manter em segredo que… -Não consigo perceber… -Querido! Se a Ali te tivesse pedido segredo, tu não o guardarias com a tua vida? Ele ficou a pensar no assunto. Talvez a sua mãe tivesse razão. Pensando bem, até tinha razão, talvez ele tivesse sido injusto comigo. Em casa dos Teixeira (Família da Inês) estavam a tomar o pequeno-almoço quando alguém entrou em casa. -Ei família! – disse o Matias. -Matias?! – saudaram-no felizes.
  • 11. acoisa-maisfofa.blogspot.pt -Porquê tanta surpresa? Eu disse que vinha no sábado, que é hoje! Abraçaram-se e mataram saudades. Depois de todas as perguntas, o Matias foi-se instalar e eu fui até à casa do lago. A casa do lago era uma espécie de cobertura segura com postes de madeira que se encontrava no meio de um lago que estava ligada a terra por uma “passadeira” de madeira. Gostava imenso de lá ir, de me sentar nos bancos e olhar a água. Agora quando ia lá era para me lembrar da Alison, porque era lá que íamos quase sempre. Naquela manhã tinha lá ido com uma caixa. Sentei-me, abri a caixa e tirei as fotos que lá haviam: fotos minhas e da Alison, fotos nossas com a Luísa, com a Marta, com a Carolina, a Diana, o Pedro, o Luis, o Carlos, o Tony que eram amigosnossos. Emocionei-me e comecei a chorar. Entretanto tocaram a campainha em minha casa. -Bom dia! – disse-me o Matias ao abrir a porta. -Bom dia, a Inês está? – perguntou – Desculpa, não me apresentei, eu sou o Ian e preciso muito falar com ela. -São amigos? -Sim, tu deves ser o irmão dela, o Matias!? -Sim, sou eu. -Prazer, eu sou o irmão da Alison – disse. -Claro! Lamento muito! -Obrigado! -Ela está na casa do lago! Quando ia em direcção à tal casa, eu estava a chorar ao recordar os momentos que passei com a Ali. Não o ouvi chegar. -Ela não iria querer que ficasses assim! – disse-me. Quando olhei para quem tinha dito aquilo deparei-me com o Ian a olhar para mim. Levantei-me e limpei as lágrimas. -Desculpa – disse-me. -Porquê? – perguntei arrumando as fotos. -Sabes bem porquê? – disse-me ajudando-me a arrumar as fotos. -Tu tiveste razão para o fazer. -Não, não tive! Eu fui egoísta e não pensei no que estavas a passar. -Não há problema. De repente ele agacha-se e apanha uma foto da Ali e minha que havia ficado no chão. -Ela parece muito feliz! – disse-me olhando a foto. -Sim, ela estava feliz nesse dia! Ficámos à conversa e depois fomos embora. Estávamos a lanchar quando o Bruno tocou à campainha. IX: -Olá, Inês! – disse cumprimentando-me com 2 beijos – desculpe vir aqui sem avisar. -Não há problema! – disse-lhe – Mas passa-se alguma coisa? Parece transtornado. -Preciso que me digas a verdade! -Claro! -A Ali „tava grávida? Eu e o Ian trocámos um olhar de surpresa e receio em responder. -Então? – perguntou-me. -Sim, estava.
  • 12. acoisa-maisfofa.blogspot.pt -É melhor sentares-te – disse-lhe o Ian. Quando estávamos os 3 sentados, eu e o Ian não parávamos de trocar olhares. -Ela não me disse nada – disse chorando o Bruno. -Ela estava confusa! -Quer dizer que eu iria ser pai? Não sabia o que responder, não sabia que consequência haveriam se lhe contasse a verdade. -Sim, se a Ali não tivesse tido aquele acidente, tu serias pai… O Ian lançou-me um olhar confuso. Quando o Bruno foi embora o Ian arrebatou-me com perguntas. -Porque é que não lhe disseste a verdade? -Porque ele já está a sofrer bastante e não precisa de saber que foi enganado e porque não quero que ele fique com uma má memória da Ali. -Mas a polícia sabe… -Eles preferem assim, porque pode interferir nas investigações… -Se achas melhor assim… -Acho, acho mesmo. No inicio da noite fomos ao cinema. Divertimo-nos imenso. Quando ele me veio deixar em casa ficámos ainda um tempo à conversa. -Bem, vou entrar! – disse-lhe. -Ok! Até amanhã! – disse-me. Quando lhe ia dar um beijo na face, aconteceu uma coisa que me deixou confusa. Quase nos beijámos. Saí do carro envergonhada e quando estava a abrir a porta de casa, olhei para ele e este sorriu-me. Não sabia o que havia acontecido. Estávamos tão bem e aconteceu aquilo. X: Na manhã seguinte a Luísa e a Marta foram-me visitar. Como era domingo ficámos horas à conversa. Um dos assuntos foi eu e o Ian. -Oh amiga! Vocês são perfeitos um para o outro! – disse-me a Marta. -É verdade! – apoiou a Luísa – tu devias ver a forma como ele olha para ti, como fala de ti! -Ai, parem! – disse sorrindo – parem, vocês estão a sonhar… Fui interrompida pelo toque do meu telemóvel. -Sim – disse atendendo – Ian! A Marta e a Luísa começaram a rir e a mandar bocas. -Hoje à tarde? Ok! Até logo, então – disse despedindo-me –Beijos! -Depois nós é que estamos a sonhar! – disseram gozando comigo. Ficámos uns minutos à conversa e depois fui-me preparar para sair com o Ian. Como ele me aconselhou a levar roupa descontraída, por isso optei por uns calções de ganga curtos, uma camisola com o ombro descaído, uns óculos de sol, umas sandálias rasas e uma mala. Quando saí de casa ele já me esperava encostado ao carro. Vestia uns calções cinzentos pelo joelho, uns ténis, uma camisa branca com as mangas viradas para cima e com dois botões por abotoar e uns óculos de sol. Estava a aproximar-me dele e ele sorrindo disse-me: -Estás linda! -Obrigada. Então é agora que me vais dizer onde vamos?
  • 13. acoisa-maisfofa.blogspot.pt -Não. Quando chegarmos lá logo vais saber! Entramos no carro e seguimos. Pelo caminho íamos a ouvir música e a cantar, enquanto nos riamos às gargalhadas. Uns 35 minutos depois de termos saído de minha casa chegamos ao nosso destino. Ainda no carro, tirei os óculos de sol, e fiz uma “análise” ao local onde me encontrava. Estavamos num parque de estacionamento. De um lado estava um hotel, do outro estava o mar. -Então, estás preparada? – perguntou-me enquanto me abria a porta do carro. -Não sei bem! – respondi. Andamos uns metros à beira mar até que eu perguntei. -Então o que pretendes fazer? -Como assim? – perguntou sorrindo. -Onde vamos? Estás a fazer um enorme mistério… e até agora ainda não consigo perceber onde vamos? -Ok, eu digo-te! – disse sorrindo vendo a minha curiosidade. -Então?! – perguntei ansiosa. -Vamos ali. – disse apontando para uma marinha. -Ali? Mas vamos fazer o quê? O Ian não me respondeu, limitando-se a sorrir. -Vá lá! Tu disseste-me que me dizias onde é que íamos. -E eu disse-te! -Sim, mas eu continuo a não perceber! Aproximou-se de mim, e sussurrou-me: -Parece que vais ter de esperar para ver! Dito isto começou-se a rir, e eu, “zangada” comecei a correr atrás dele, enquanto ele fugia e se ria ao mesmo tempo. XI: Quando chegamos à marinha percorremos vários metros entre barcos e iates. Até que, quase no fim o Ian me disse: -Costumas enjoar quando andas de barco? -Não, porquê? -Ainda bem! Sendo assim – disse me enquanto estendia a sua mão, pedindo a minha – seja bem-vinda ao meu humilde barco! O barco de que ele falava era um iate. Sempre pertenceu aos Darlines, mas quando eles se mudaram para Londres, a família arrendou-o a uma empresa de turismo. Já a bordo o Ian ia pondo tudo pronto para a viagem. -Não sabia que vocês tinham um iate… - disse. -É, temos. Mas não o utilizamos muito. -É pena! É um belo barco… -É verdade! Mas vamos deixar-nos de conversas e vamos começar a nossa viagem… -Muito bem! Vamos lá! -disse sorrindo. Sentei-me na proa do iate, e quando este começou a andar senti uma sensação incrível: o vento a bater-me no rosto limpava-me a alma. Estava de olhos fechados quando o Ian se aproximou e se sentou ao pé de mim. -Então, o que estás a fazer? – disse dando-me um toque com o ombro. -Estou a sentir o vento! Ele não respondeu, fazendo um breve sorriso.
  • 14. acoisa-maisfofa.blogspot.pt -Achas uma estupidez, não é? – disse-lhe. -Não, de todo! Só nunca tinha visto ninguém fazer isso. -Não? Eu e a Ali costumávamos passar horas a fazer isto… Era como se nos acalmasse… -A sério? -Sim. Devias experimentar; vais compreender o que eu estou a dizer. E assim fez, fechou os olhos, respirou fundo… Minutos depois voltou a abrir os olhos e deu-me razão, dizendo que era uma sensação única: que o barulho do vento e do mar juntos formavam uma melodia maravilhosa… Estivemos à conversa durante um tempo e depois fomos almoçar. -Faz-me um favor – pediu-me – vais lá abaixo (parte inferior do iate) e trás a cesta que lá está, enquanto eu desligo o piloto automático. -Claro! A parte de baixo do navio parecia mais pequena. Havia uma pequena cozinha, uma casa-de-banho e um quarto. Em cima da mesa da cozinha estava uma cesta de piquenique. Peguei nela e levei-a para cima. Ian estendeu uma toalha sob o convés do iate e começou a tirar as coisas da cesta. Não faltou nada: fruta, salgados, pão, batatas, sumos, água, vinho, chocolates, etc. -Então diz me lá – perguntei – como é a tua vida em Londres? -Bem – respondeu bebendo um pouco de vinho – é rápida… -Rápida? – perguntei sorrindo. -Sim. Rápida no sentido em que ou estou na escola ou estou a estudar, ou ainda a visitar os meus pais. Não tenho tempo para muita coisa, porque a minha vida é um frenesim constante. -Coitadinho! – disse sorrindo ironicamente – a tua namorada deve ficar super irritada. -Não! – respondeu sorrindo. -Não? – perguntei – mas se tu não tens tempo para ela, ela deve ficar fula! -Ela não fica fula, porque eu não tenho namorada. – disse sorrindo. Sorri, ficando contente por saber que o Ian não tinha alguém. Ficámos mais tempo à conversa, até que ele disse: -Bem, bora lá arrumar isto, porque ainda temos muito para andar. XII: Levamos tudo para a cozinha, e quando voltamos para a parte superior, o Ian perguntou- me: -Queres conduzir o barco? -Eu? – perguntei. -Sim, tu. -Eu não sei conduzir isto… -Não há problema, eu ensino-te. Fomos para o cockpit, onde o Ian me explicou para que serviam todos aqueles botões, e me ajudou a conduzir. -Então percebeste? – perguntou-me. -Sim… acho que sim… - respondi. -Não fiques com medo! – disse-me sorrindo – isto parece complicado, mas não é. -Ok! Mas então, o que é que eu faço para começar a andar? O Ian veio ter comigo. Eu estava de frente para a proa do iate, e o Ian aproximou-se por trás de mim, e foi-me dando indicações sobre qual dos botões deveria usar. Confesso
  • 15. acoisa-maisfofa.blogspot.pt que o facto de ele estar assim tão próximo de mim me fazia sentir bem, sentir a sua respiração no meu pescoço e a sua mão por cima da minha dava-me arrepios, mas eu não queria que ele se afastasse. Até que o telefone do iate começou a tocar. O Ian afastou-se de mim, e atendeu. Eram os pais dele a avisar que iriam sair e que não sabiam a que horas voltariam. Quando desligou a chamada veio ter comigo e disse-me para desligar o barco, pois queria mostrar-me uma coisa. Saímos do cockpit e dirigimo-nos à proa do barco. -O que me querias mostrar? – perguntei. -Espera… - disse-me. Logo de seguida começou a surgir ao longe alguma coisa. À medida que se ia aproximando, fui percebendo que eram golfinhos. -São tão lindos! – disse sorrindo, enquanto acariciava um. -São mesmo… Costumava vir aqui com a Ali quando estávamos de visita a Portugal. Ela adorava o mar e golfinhos. Ficamos ainda uns minutos com eles, até que estes começaram a ir-se embora. -Bem – disse o Ian tirando a camisa – apetece-me dar um mergulho, vens? -Um mergulho? -Sim! Porque não?! -Eu até ia, mas não trouxe biquíni. -Não faz mal! -Não sei… -Oh, sempre pensei que fosses mais corajosa! – disse desafiando-me. -E sou! -Pois pois… - disse-me como se me desafia-se. XIII: Aceitei o desafio e tirei a minha roupa, ficando só de lingerie. Mergulhamos ao mesmo tempo e a sensação foi incrível. A água era super límpida e os raios de sol a penetrarem no mar faziam a água ganhar uma tonalidade linda. Nadamos, brincamos, mergulhamos vezes sem conta, até que, num dos momentos de brincadeira, ficámos de frente um para o outro, muito juntos. E aconteceu… O desejo era mútuo. No inicio, os nossos lábios tocaram-se levemente, como se pedissem autorização para se tocarem, depois o beijo foi ficando mais intenso. Enquanto nos beijávamos as mãos de Ian percorriam o meu corpo e foi nesse momento que eu percebi e senti que nós éramos um só. Voltamos para o barco com a certeza que o que sentíamos era recíproco. Já no quarto, o Ia encostou-me a um armário e beijou-me. Primeiro dos lábios, depois no pescoço, enquanto as nossas mãos se encontravam e se entrelaçavam. Levou-me para a cama e aí os seus beijos percorreram o meu corpo. Quando voltava para os meus lábios as suas mãos tomavam conta de mim, passando e tocando as minhas pernas, o meu ventre, os meus braços, o meu peito e o meu rosto. O sol estava-se a pôr quando chegámos ao carro. Vínhamos super felizes, de mãos dadas a sorrir. Chegámos a minha casa já era noite: -Espero que tenhas gostado! – disse-me Ian enquanto me levava à porta de casa.
  • 16. acoisa-maisfofa.blogspot.pt -Sim – respondi – adorei! Demos um beijo de despedida e eu entrei, com a certeza que a minha vida tinha mudado radicalmente. Entrei em casa com um sorriso rasgado. Quando cheguei ao meu quarto e parei para pensar na tarde que tinha passado, não conseguia acreditar. Depois dos últimos dias de pesadelo, tinha acontecido algo muito bom. No dia seguinte quando desci para tomar o pequeno-almoço deparei-me com os inspectores da PJ que estavam a investigar o caso da Alison. -Bom dia – disse ao descer as escadas. -Bom dia! – responderam-me os inspectores e o meus pais. -Desculpem estarmos a incomodá-los a um domingo, mas é muito importante – disse o Inspector. -Não há problema – disse o meu pai. -Sentem-se - disse a minha mãe. – querem tomar alguma coisa? -Não é necessário, obrigada. – respondeu um dos inspectores. -Então já descobriram mais alguma coisa? – perguntei. -Mais ou menos. Mas nós vemos aqui para pedir à Inês que nos acompanhe à casa da Alison. -À casa da Alison? – perguntei – mas para quê? -Nós queremos revistar o quarto dela para ver se encontramos alguma pista de quem seja o pai da criança. -Claro. Eu vou – respondi. Seguimos para a casa da Alison e da sua tia. Quando chegamos os Darlines já nos aguardavam. O Ian mal me viusorriu. Não demos nas vistas sobre o nosso “namoro” (se é que se pode chamar assim) porque a ocasião não se proporcionava. Subimos para o quarto da Alison. Era a primeira vez que eu entrava no quarto dela depois do acidente. Estava tal e qual como eu me lembrava dele. Tudo estava no seu devido lugar, as nossas fotografias: uma em cima da mesinha de cabeceira, outra na cómoda e ainda outras nas paredes. Havia ainda o cartão de aniversário que eu lhe dera colado no espelho, assim como estava em cima da secretária a mala que lhe dera de presente. Era ainda um pouco surreal estar ali sem a Alison. Dei por mim a tremer e quase a chorar, até que o Ian colocou a sua mão no meu ombro e disse “Tem calma, vai correr tudo bem”. -Bem – começou por dizer o inspector – espero que ninguém tenha mexido em nada. -Não, ninguém mexeu – disse a Tia da Alison. Começaram a procurar e a remexer nas coisas da Alison. Confesso que não gostava que eles mexessem assim nas coisas dela, mas no fundo sabia que era a única hipótese de se descobrir quem a tinha matado. Depois de mexerem em tudo disseram: -Não há aqui nada que nos ajude. – depois viraram-se para mim – A Inês não sabe de algum lugar onde a Alison guardasse as coisas mais importantes para ela? -Não – disse depois de pensar um pouco. –lamento.
  • 17. acoisa-maisfofa.blogspot.pt -Não há problema. – respondeu o inspector. XIV: Saímos do quarto e descemos as escadas. -Peço-vos que se por acaso se lembrarem de alguma coisa, me avisem. – disse o inspetor entregando um cartão com o seu número de telefone a cada um de nós. -Claro. Os inspetores deixaram a casa e minutos depois, os meus pais tinham a intensão de fazer o mesmo, até que os Darlines nos convidaram para almoçar. Os meus pais não queriam aceitar porque o Matias estava em casa, mas a Sra. Maria disse para lhe telefonar e dizer para vir almoçar a sua casa. E assim fizemos. Mal o Matias chegou fomos almoçar. Na sala de jantar, à mesa, estávamos: o SrJason numa testeira da mesa e a tia Marlene estava na outra. Do lado direito do Sr. Jason estava a sua mulher, e do lado esquerdo o seu filho. Os meus pais sentaram-se ao lado da Sra. Maria, e eu e o meu irmão sentamo-nos do lado do Ian, ficando eu no meio deles. Durante o jantar falou-se sobre diversos assuntos: negócios, notícias, estilos e vida, etc. Até que o Sr. Jason me fez uma pergunta inesperada: -Inês – começou por dizer – eu sei que já te fizeram esta pergunta, mas eu preciso mesmo de saber. -Claro, pergunte –respondi. -Durante os interrogatórios, quando tu disseste que não conhecias o pai do filho da Alison, estavas a dizer a verdade? Quando ele me fez esta pergunta, no início, fiquei bastante surpresa e até um pouco “ofendida” por ele pensar que eu estava a mentir num caso como este. Mas pensando bem, era compreensível ele questionar. -Sim – disse limpando a boca e recolocando o guardanapo no colo – eu estava a dizer a verdade. -Mas como é possível! – perguntou – vocês eram as melhores amigas. Como é possível não saberes de quem se trata. -Eu sei que parece um absurdo eu não saber, mas a verdade é que não sei. E acreditem que eu também me martirizo por não o saber. Vocês não têm noção de quantas vezes eu dou voltas à minha cabeça para tentar perceber quem é que poderia ser esse homem. Mas eu não sei, não há nada nas nossas conversas que me indique alguém! -Tu não te tens de te martirizar. Eu peço desculpa por ter voltado a tocar no assunto. -Não tem de o fazer. Eu percebo. Terminamos o jantar e no final os meus pais seguiram no carro deles, enquanto eu iria regressar com o Matias. O Ian enquanto me acompanhava ao carro pediu-me desculpa pela atitude do pai. Eu desdramatizei, dizendo que era compreensível. Despedimo-nos com um breve beijo na face.
  • 18. acoisa-maisfofa.blogspot.pt Cheguei a casa e estive a falar com o meu irmão, Matias. Desde que ele tinha chegado ainda não tinha conseguido falar bem com ele. Ainda não tinha tido uma das nossas longas e maravilhosas conversas. Sentamo-nos na beirada da piscina a beber um sumo, e começamos a contar o que se tinha passado nos últimos dias: a faculdade, a escola, os amigos, os amores, a família e sobre o acidente. Falámos da repercussão do acidente na minha vida. -Sinto-me mal - disse eu. -Mas porquê? – Perguntou-me o meu irmão. -Por não saber quem era o namorado mistério da Alison, por não conseguir ajudar nas investigações… -Mas tu não tens de te sentir mal por isso! – Disse-me mexendo numa mexa de cabelo minha e colocando-a atrás da minha orelha. -Eu sei, mas… - suspirei – mas eu só queria puder ajudar mais. A Alison merece… -Mas tu estás a ajudar no que podes… -Eu sei, mas… Todas as pessoas esperam que eu saiba de tudo, todas as pessoas estão sempre a esperar mais de mim do que eu posso dar, e eu não consigo dar o que elas esperam, e… -E ficas frustrada… - interrompeu-me. -Sim… - confirmei libertando uma lágrima. -Mas tu não tens de dar mais do que consegues… ninguém está à espera disso! Ficámos à conversa o resto da noite. Quando nos fomos deitar, eu ainda me sentei à janela a pensar: Como é que era possível ter acontecido tanta coisa nos últimos tempos. Já tinham passado quase dois meses desde o acidente e eu ainda não acreditava que a Alison tinha morrido. Decidi deitar-me. Ainda me custou um pouco a adormecer, e só consegui fazê-lo eram já quase 3horas da madrugada. Passei uma noite atribulada, tive inúmeros pesadelos com o acidente e com a Alison. Derivado de um desses pesadelos eu acordei sobressaltada. Tinha sonhado de novo com o acidente e que a Alison me pedia para a salvar, a ela e ao bebé. Tinha tido este sonho inúmeras vezes. Olhei para o relógio que apontava 6h35. Sentei-me na cama encostando-me na cabeceira, e comecei a tentei lembrar-me do sonho que tivera. Comecei a chorar, pois estava aflita porque a Alison me pedira ajuda no sonho, e eu não conseguira fazer nada. Peguei numa moldura que tinha uma fotografia minha e da Alison. Lembrava-me perfeitamente do dia em que a tínhamos tirado. Tínhamos ido ao centro comercial depois de uma direta. Estávamos meias bêbadas e estoiramos os cartões de crédito! Enquanto estávamos a passear pela zona dos almoços encontramos uns amigos e foram eles que nos tiraram essa foto sem nós darmos por isso. Dias mais tarde esses amigos ofereceram- nos as fotos, uma a mim e outra à Alison. Aliás a Alison tinha também esta foto na mesa-de-cabeceira. Dei por mim agarrada à moldura a chorar desalmadamente e a pedir para poder voltar no tempo e impedir aquele maldito acidente. Eu pedia, rezava e implorava para que estes últimos meses
  • 19. acoisa-maisfofa.blogspot.pt tivessem sido um sonho mau, e que eu pudesse acordar e que pudesse encontrar a Alison. XV: Não voltei a adormecer. Por volta das 7horas saí de casa para ir correr. Voltei uma hora depois e os meus pais e o meu irmão estavam a tomar o pequeno-almoço. -Então querida! – disse o meu pai – saíste cedo! -Sim, - respondi – não dormi muito bem, e decidi ir correr. -Mas estás bem? – perguntou-me a minha mãe preocupada. -Sim. Eu só vou lá acima tomar um banho e já desço. -É – disse o meu irmão – despacha-te que a missa é as 10h. -Missa? – perguntei confusa. -Sim – disse ele sorrindo – hoje é feriado católico e a mãe quis porque quis irmos todos juntos à missa. Subi, tomei um banho, vesti um vestido azul-escuro com um cinto amarelo muito fino. Maquiei-me e desci para me juntar aos meus pais, que entretanto já tinham terminado o pequeno-almoço, mas continuavam à mesa. -Então? – perguntei enquanto me sentava– o que vocês estão a falar? -Estava aqui a dizer que preciso de chamar uma empresa para fazer uma vistoria à casa – disse o meu pai. -Mãe passe-me o café por favor- pedi – mas uma vistoria porquê? -Para fazer uma limpeza nos canos, e na ventilação. -Na ventilação? -Sim. Cada divisão da casa tem uma espécie de tubos que vão dar ao exterior. -Há sim, já sei – disse – esses tubos são aqueles que estão tapados por aqueles “quadradinhos” brancos com frinchas, certo? -Exatamente. Devem estar cheios de lixo e pó. De repente, parei o que estava a fazer e comecei a pensar. -Querida o que se passa – perguntou-me a minha mãe assustada – estás bem? Levantei-me e comecei a andar até à sala e a pensar. Os meus pais e o meu irmão vieram atrás de mim. -Inês – chamou o meu irmão. -Como é que eu não pensei nisto antes! – disse. -Nisto o quê? – perguntou o meu pai. -Mãe onde está o cartão que o inspetor Mendes nos deu? – perguntei. -Está na agenda ao pé do telefone – respondeu-me – mas porquê? -Eu depois explico. Peguei no telefone e disquei o número do inspetor. Depois do segundo toque ele atendeu. -Inspetor – disse – daqui fala Inês Teixeira. -Então – disse-me – passou-se alguma coisa? -Sim, eu preciso muito de falar consigo. Será que nos pudemos encontrar daqui a vinte minutos na casa da Alison? -Claro, mas do que se trata? -Quando estivermos todos juntos eu explico.
  • 20. acoisa-maisfofa.blogspot.pt XVI: Desliguei o telefone e seguimos, eu os meus pais e o meu irmão, para a casa dos Darlines. Quando lá chegámos o inspetor já lá se encontrava. O Ian perguntou me com o olhar o que se passava. -Muito bem – disse o inspetor – o que é que nos queria dizer menina Inês? -Eu lembrei-me de uma coisa. Será que podemos subir até ao quarto da Alison. Assim o fizemos. Entramos e eu percorri com o olhar o quarto, até que encontrei aquilo que procurava. -Então? – perguntou o inspetor. -O inspetor perguntou-me ontem se eu me lembrava de algum sitio onde a Alison guardava as coisas mais importantes. -E a menina disse-me que não sabia - fez uma pausa – mas lembrou-se de alguma coisa? -Mais ou menos. Quando eramos miúdas eu e a Alison sempre sentíamos necessidade de encontrar locais improváveis para guardar diários, cartas de amor, entre outras coisas. Eu não me lembrei disto mais cedo, porque nós nunca mais falamos sobre esse lugar, e eu acabei por me esquecer. Mas, pensando bem, é muito provável que a Alison continuasse a utilizar esse esconderijo. -Mas o que é? – perguntou o Sr. Jason. Não respondi, limitei-me a abrir uma gaveta da cómoda e retirar uma chave de fendas e arrastei uma cadeira até à parede oposta à porta. Subi para a cadeira e comecei a tirar os únicos dois parafusos que estavam a prender o “quadradinho” branco com frinchas. Depois de desparafusar coloquei os parafusos e o “quadradinho” em cima de uma pequena-mesa. Coloquei a mão dentro do pequeno buraco e retirei um envelope, um caderno pequeno e um papel dobrado, assim como também encontrei uma pulseira. Ficaram todos espantados por ter realmente alguma coisa lá. Entreguei o que encontrara ao inspetor que, imediatamente, os colocou num saco de provas. -Como é que se lembrou disto? – Perguntou-me o inspetor. -Foi uma coisa que o meu pai me disse, que me levou a me lembrar deste sítio. – respondi. O inspetor não leu nem viu nada do que lhe entreguei, limitou-se a agradecer e a dizer que nos contactaria mais tarde. Descemos até à sala e os Darlines atabalhoaram-me com perguntas, para as quais eu não tinha resposta. Depois estive com o Ian. Desde aquele dia maravilhoso no barco que nunca mais tínhamos estado juntos. No final do almoço despedimo-nos e seguimos para a casa dos meus avós maternos, que ficava a uns quilómetros da cidade. XVII: A quinta dos meus avós ficava no meio de descampados e de outras quintas. Tinha um centro hípico, onde se dão aulas de equitação e competições equestres. Tinha também um pomar e um vinha que produzia um vinho muito apreciado na região. A casa da família era grande e antiga. Era constituído maioritariamente por pedra, tinha dois andares e um rés-do-chão (onde estava instalado o escritório da administração da quinta). No 1º andar estava a sala de estar, de jantar, de música, a biblioteca, a cozinha, os aposentos dos empregados e as casas de banho. No 2ºandar estavam os quartos. A minha avó era uma mulher muito querida, com 82 anos. Mas apesar da idade era ela quem dava alma à quinta. O meu avô, com 85 anos, era o patriarca da família.
  • 21. acoisa-maisfofa.blogspot.pt Quando chegámos à quinta cumprimentei os meus avós e fui dar uma volta no Sultão. O Sultão era um cavalo lindíssimo, que havia sido campeão nacional, mas que devido a uma lesão, acabou por sair das competições. Percorri a quinta e fiquei a admirar e pensar em frente a um lago. Quando o sol se pôs regressei a casa. Estavam todos na sala de estar, enquanto a minha avó tocava piano. Assim que terminou estivemos à conversa sobre os últimos acontecimentos. Depois de jantar regressamos a nossa casa, para muita tristeza da minha avó que queria que nós passássemos a noite na quinta. Chegámos por volta das 11horas da noite. Antes de adormecer ainda estive a pensar nos acontecimentos do dia. Estava curiosa sobre o conteúdo dos papéis, do caderno e do envelope. Acordei com o despertador a tocar. Eram 7h15, levantei-me, fui tomar um duche, vesti- me e depois de me maquilhar desci para tomar o pequeno-almoço. Despedi-me do meu irmão, que iria regressar à universidade, e segui para a escola. Quando cheguei dirigi- me aos cacifos. A Marta e a Luísa juntaram-se a mim. Tentei ainda procurar o Ian, mas foi em vão. Depois da segunda aula recebi um telefonema. Era o inspetor Mendes que me pedia para ir à PJ, se possível, ainda no dia de hoje. Estava a caminho da terceira aula quando o Ian me chamou. Deu-me um beijo e perguntou-me: -Estás bem? -Sim, e tu? – respondi. -Também, agora que estou contigo estou muito melhor. – disse dando-me outro beijo. -Diz-me uma coisa, tu recebeste algum telefonema do inspetor Mendes? -Sim, ele pediu-me para passar por lá hoje. Mas porque perguntas? -Porque a mim também me ligou. -A sério? -Sim. -Deve ser sobre aquilo que encontraste no quarto da Alison. -Sim, deve ser. Mas agora tenho de ir. -Vemo-nos logo então! – disse-me isso dando-me um longo beijo. No final das aulas segui com o Ian para a PJ. Já lá estavam os meus pais e os Darlines, que ficaram felizes ao ver-nos chegar juntos. XVIII: Desta vez não fomos para a sala de interrogatórios, mas sim para uma sala comum. O inspetor Mendes estava acompanhado de outros dois agentes, que estavam muito atentos à conversa. Desta vez não fomos separados, mas sim, conversamos todos juntos. -Bem – começou por dizer o inspetor – nós já analisamos o que encontramos no quarto da Alison. -E de que se tratava? – perguntou o Sr. Jason. -Vamos com calma – respondeu o inspetor – como sabem nós encontramos quatro coisas. Um envelope, uns papeis, um pequeno caderno e uma pulseira. -Mas já viram o que lá estava escrito? – perguntou a Sr. Maria. Desta vez o inspetor não respondeu, limitando-se a prosseguir o seu raciocínio. -A pulseira era comum, era uma pulseira de contas de variadas cores, continha apenas uma inicial. -Que inicial? – perguntou o Ian. -A letra B, que tanto pode ser do Bruno como de outra pessoa qualquer.
  • 22. acoisa-maisfofa.blogspot.pt -E… e os outros papeis? – perguntei eu. -Esses sim, já nos revelaram mais alguma informação. O envelope continha a confirmação de uma cirurgia para fazer o aborto. -Uma cirurgia? – perguntou a Sr. Maria. -Sim. A Alison ia fazer o aborto numa clinica. – disse o inspetor para choque de toda as pessoas da sala – Mas prosseguindo, os papeis era uma espécie de bilhetes de amor trocados entre a Alison e o seu amante, onde combinavam encontros entre outras coisas. -E conseguiram perceber de quem se tratava? – perguntei. -Não. -E o caderno? – perguntei de novo. -O caderno era um espécie de diário, onde a Alison descrevia a sua relação com o seu amante. XIX: -E nesse diário estava o nome desse… - perguntou o pai da Alison – desse homem? -Não. – respondeu o inspetor – ela apenas descreve a sua relação. Nada mais. O inspetor continuou a contar o que haviam descoberto. Eu não queria acreditar que não se sabia com quem é que a Alison tinha aquela relação. Por mais que pensasse não conseguia descobrir quem é que poderia ser este homem misterioso. O inspetor prosseguiu: -Todo este diário fala da relação com o redjoke, os momentos em que estavam juntos, aquilo que falaram. Eu já tenho uma equipa a analisar este diário para ver se descobrimos, nas entrelinhas, quem é este homem. -Desculpe – interrompi – o que é que o inspetor disse? -Não estou a entender. Como assim? -O inspetor chamou alguma coisa a esse homem. Ao dizer que o diário falava da relação da Alison com… - disse com todos os presentes na sala a olharem para mim confusos. -Redjoke. – acabou por dizer o inspetor. Eu deixara de ouvir o que ele continuava a dizer. Aquele nome não me era estranho, eu já tinha ouvido aquele nome em algum lugar, mas onde? -Redjoke é o apelido que a Alison dá ao seu amante. – prosseguiu o inspetor. -Quem é aquele? – perguntou-me a Alison quando estávamos junto aos cacifos, apontando para um homem de fato que estava a uns metros de nós. -É o professor Faria. Benjamim Faria. É professor de História. – respondi eu. – Mas porquê? -Por nada! Ele é apenas… esquisito. -Esquisito? -Sim. Oh, engraçado se preferires. –riu-se a Alison. -Mas porquê? -Sei lá, não sei se é por aquele ar desajeitado, ou se é por aquele cabelo ruivo! -Sim, mas não é esquisito. É… diferente. -É… ele é é uma redjoke. -Inês?! – chamou-me o meu pai. -Sim! – respondi. -O que se passa? – perguntou o inspetor – a menina sabe quem é este Redjoke? Hesitei: -Eu não tenho a certeza, mas…
  • 23. acoisa-maisfofa.blogspot.pt XX: -Diga – pediu ansiosamente o inspetor. -Redjoke é a alcunha que a Alison dava a um… - olhei para os pais e irmão da Alison e para os meus pais – era a alcunha que a Ali dava a um professor lá da escola. A notícia caiu que nem uma bomba. Ninguém esperava aquela revelação. Depois eu contei-lhes a conversa que eu tinha tido com a Alison aquando o seu conhecimento do Benjamim. O inspetor agradeceu a minha ajuda e disse que ia notificar o professor Faria para um interrogatório. Fui para casa e não queria acreditar que a Ali estava a ter um caso como professor Benjamim. Eu não conseguia conceber essa ideia. Tubo bem que a Alison sempre teve um excesso de protagonismo, queria sempre correr riscos, alcançar o proibido, mas isto? Isto não pode ser! Por mais que tentasse eu não conseguia acreditar. No dia seguinte o professor Benjamim Faria foi notificado para comparecer no dia seguir à polícia judiciária. Nessa mesma noite, estava eu em casa a estudar, ou pelo menos a tentar quando ouvi um barulho vindo da minha janela. Um pouco assustada fui ver o que se passada e relaxei quando vi que era o Ian. -Ei! – disse eu sorrindo – sabes que podes usar a porta, não sabes? -Sim, mas isto é mais romântico! – disse-me ele beijando-me. -Sim, é verdade! – concordei eu sorrindo - mas é perigoso, ainda cais! -Caio nada! A vossa trepadeira está super segura! – ironizou. Estivemos uma data de tempo à conversa e a namorar, quando o Ian me perguntou: -O que se passa? -Nada – respondi ainda deitada sob o seu peito – porquê? -Não sei. Estás estranha, pensativa… -É… é esta história toda… - acabei por dizer enquanto me levantava e ficava de frente para ele – por mais que eu pense, por mais que eu tente lembrar-me de todas as conversas que eu e a Ali tivemos não consigo me recordar de uma única onde a ela me tenha falado daquele homem. -Pois… realmente é estranhoela nunca falar dele. Mas tu conhece-la e sabes que ela quando queria guardar um segredo ela não contava a ninguém. O Ian ficou mais uns minutos, e depois foi para sua casa. O resto da noite ainda tentei estudar, mas sem sucesso pelo que me fui deitar. XXI: No dia seguinte o professor Benjamim Faria apresentou-se a horas na Polícia Judiciária. Foi encaminhado para a sala de interrogatórios e aparentava estar calmo. -Bom dia – cumprimentou o inspetor. -Bom dia – respondeu o professor. -Obrigada por ter vindo tão prontamente! – disse o inspetor. -Não tem de agradecer. – disse o professor – é do interesse de todos que esta situação se resolva o meu rapidamente possível. -Tem razão. Então comecemos: de onde é que o professor conhecia a Alison, se é que a conhecia. – questionou o inspetor.
  • 24. acoisa-maisfofa.blogspot.pt -Sim, eu conhecia a menina Alison. Ela frequentava a escola onde eu leciono e costumava ajudá-la com os estudos. -Com os estudos? Mas a Alison tinham história consigo? -Não. Mas eu dou apoio à disciplina de história na biblioteca às terças-feiras, e num desses dias a Alison pediu-me ajuda com algumas dúvidas e sempre que ela tinha alguma dificuldade eu ajudava. -Ah, muito bem. Mas diga lá, como era a sua relação com a Alison? -Não lhe podemos chamar, propriamente, de relação – sorriu brevemente o professor – mas se lhe quer chamar assim, muito bem. Era uma relação estritamente profissional, entre profissional e aluna. O inspetor Mendes estava a tentar perceber algum nervosismo do professor e estava a tentar entender algumas expressões dele. O inspetor estava ainda a tentar controlar-se para não avançar para as questões do relacionamento amoroso do professor Faria e da Alison, mostrar-lhe algumas provas que tinha reunidos e assim desmascarar o papel de professor profissional. Mas ainda não tinha chegado o momento certo. O inspetor Mendes queria ver até onde o professor iria com aquela mentira. XXII: -Olá! – disse eu quando cheguei ao pé do Ian que estava na cantina. -Olá coisa linda! – respondeu-me com um beijo. -Então estás a almoçar sozinho? -Não, o Pedro foi ao cacifo e volta já. E tu? Não tinhas ficado de ir com a Marta a algum sitio? -Sim, mas ela vai chegar um pouco atrasada. -Ok… - disse ele. -O que é que se passa? – perguntei eu. – Estás estranho. -Não é nada de especial. Sou só eu que não consigo parar de pensar no stor Faria. -Pois, eu também. -Eu andei a fazer umas perguntas sobre o Faria e todas as pessoas o adoram, não percebo! -Pois, o professor Faria sempre foi uma pessoa muito respeitada e admirada aqui na escola. Sempre foi um homem muito integro e… Parei o que estava a dizer porque o Ian ficou espantado com o que eu acabara de dizer. -Integro? – perguntou perplexo. – tu chamas integro a um homem que teve um caso com uma miúda de 17 anos? – perguntou elevando o tom de voz. Olhei em volta para ver se alguém tinha ouvido o que o Ian acabara de dizer, e prossegui: -Desculpa, não foi isso que eu quis dizer. É só que… - respirei fundo – eu cresci nesta escola e sempre me acostumei as pessoas a elogiarem o professor e… -eu é que peço desculpa. – disse pegando na minha mão – eu sei que isto também é difícil para ti. Eu assenti e o Ian deu-me um beijo. Fomos interrompidos pelo Pedro que acabava de chegar vindo do seu cacifo.
  • 25. acoisa-maisfofa.blogspot.pt -Ei eiei! – disse o Pedro – vamos lá parar com este amor todo que eu não ‘tou para servir de castiçal sozinho! – terminou sorrindo. -Olá Pedro! – disse eu sorrindo dando-lhe um beijo na face. -Olá Inês! Ficamos uns minutos à conversa até que a Marta chegou e eu deixei os rapazes sozinhos. XXIII: -Está me então a querer dizer que só conhecia a menina Alison das explicações de história – voltou a perguntar o inspetor Mendes. -Sim estou – voltou a responder o professor – não percebo porque é que o inspetor continua a insistir nessa questão. -Porque eu não acredito na sua resposta – disse fitando o professor. -Desculpe? Assim está a ofender-me. – disse enquanto ajeitava o casaco – Mas afinal porque é que o inspetor não acredita em mim? -Porque eu tenho provas que me dizem que o professor mantinha uma relação amorosa com a vítima. -Desculpe? – perguntou indignado – como é que se atreve? Isso é um ultraje! O professor parecia realmente ofendido, mas o inspetor prosseguiu. -Não se ofenda professor. -O senhor não tem noção das barbaridades que está a dizer. -Barbaridades? – perguntou o inspetor mostrando o diário da Alison aberto numa página que falava do Redjoke. -Sabe o que é isto, professor? -Não. -Isto é o diário da Alison, diário esse que descreve a relação dela com o … -E por acaso diz aí que a relação que ela tinha era comigo? – interrompeu o professor. -Não -Mas então como é que pode afirmar que fui eu? -Porque nós temos uma testemunha que afirma que a alcunha que a Alison dá ao seu amante no diário é a mesma que ela lhe dava a si. -E é baseado num depoimento circunstancial que o inspetor me está a acusar?! Fique já a saber que o tinha em melhor conta. -Como assim? -Pelo que leio nos jornais, a imagem que tinha do inspetor era de um profissional justo e imparcial. -E eu sou. Pode acreditar. -Bem, se já não precisa mais de mim, eu pedia-lhe autorização para me ir embora. Ainda tenho uma aula para dar. -Pois muito bem. Pode ir embora. Mas peço-lhe que se mantenha contactável. O professor Faria foi acompanhado por um inspetor estagiário até à rua enquanto o inspetor Mendes ficou na sala com outro inspetor, Paulo. -O que é que achaste? – perguntou Paulo ao inspetor Mendes.
  • 26. acoisa-maisfofa.blogspot.pt -Não sei, sinceramente não sei – disse o inspetor Mendes pensativo – não sei mesmo. -Mas achas que ele está a dizer a verdade? -Acho que sim. – disse levantando-se – Mas temos de continuar a investigar. XXIV: -Onde queres que te deixe? – perguntou-me a Marta. -Em minha casa, se não te importares – respondi. -Então diz lá… -Digo o quê? -A sério? Eu posso ir a conduzir, mas eu vi o sorriso parvo, e apaixonado, que tu fizeste à pouco quando recebeste aquele sms. Sorri: -Que queres que te diga? -Como é que estão as coisas com o Ian? A vossa cena é séria? -Sim, acho que sim. Porque perguntas? -Não sei. Tipo, vocês conhecem-se à relativamente pouco tempo, mas parece que se conhecem há uma eternidade. -Sim, é verdade… -E como é que vai ser? -Como assim? – perguntei eu confusa com a pergunta. A Marta olhou para mim, enquanto o sinal não mudava para verde: -Como é que vai ser quando isto tudo se resolver e o Ian voltar para Londres? Entretanto o sinal ficou verde e o carro voltou a andar. Não respondi à questão da Marta, porque na verdade nunca tinha parado para pensar sobre ela. E na verdade não queria pensar. Quando a Marta me deixou em casa disse-me: -Desculpa aquilo de à bocado – referindo-se à pergunta sobre o meu futuro e do Ian juntos. -Não precisas de pedir desculpa. Tu tiveste razão, eu é que nunca tinha parado para pensar sobre esse assunto… Despedimo-nos e eu entrei em casa. Não quis jantar, limitei-me a ir para o quarto e estive a pensar na questão que a Marta me fizera. Ela tinha razão. Como é que ia ser quando este mistério todo se resolvesse e os Darlines voltassem para Lodres, quando o Ian voltasse para Londres. Que futuro estaria reservado para nós? Nunca tinha parado para pensar no assunto, aliás eu e o Ian nunca tínhamos falado na possibilidade de ele ir embora. E agora essa ideia não me saída da cabeça. XXV:
  • 27. acoisa-maisfofa.blogspot.pt -Bom dia! – disse a minha mãe quando eu desci. -Bom dia! Eu não vou tomar o pequeno almoço com vocês, desculpa não ter avisado. -Não tem problema! Mas onde é que vais comer? -Eu fiquei de ir tomar o pequeno-almoço com o Ian. -Vocês estão-se a dar muito bem, não estão? – perguntou-me a minha mãe sorrindo. -Sim – disse eu lembrando me da pergunta da Marta – estamos. Entretanto o Ian deu-me um toque para o telemóvel e eu saí de casa. -Olá! – disse eu ao entrar no carro. -Olá! – disse o Ian dando-me um beijo. Decidimos ir tomar o pequeno almoço a uma esplanada que ficava a uns metros da escola. -Bom dia! – disse a empregada de mesa sorrindo – o que é vai ser? -Bom dia! – disse eu – para mim é uma meia de leite e uma torrada, por favor. -E para mim é um café e uma torrada também – pediu o Ian. -Estive a pensar e este fim de semana podíamos ir passear no meu barco, o que achas?! – perguntou o Ian. -Ah… - respondi eu – este fim de semana não vai dar, tenho uma prova importante para a semana e tenho de estudar, desculpa. -Não tem problema. Não hão de faltar fim de semanas. -Claro – disse eu esboçando um falso sorriso. -O que é que tu tens? – perguntou-me acariciando a minha mão. -Nada! – respondi. -Vá lá, eu conheço-te… -Não é nada de mais… é só uma coisa que a Marta me disse ontem e me deixou a pensar. -Posso saber o que ela te disse? Hesitei em contar-lhe, porque afinal nós namorávamos à pouco tempo e era precoce eu estar a preocupar-me com o futuro de um namoro que até nem podia vir a dar certo. Mas decidi contar-lhe, até porque assim podia responder a inúmeras duvidas que eu tinha, e podia ver se haveria ou não um futuro reservado para nós. -Estávamos a falar de ti, de nós, coisas de raparigas – disse sorrindo – quando ela me perguntou como é que nós ficávamos depois disto tudo passar. -Passar o quê? – perguntou confuso. -Quando o assassino da Alison for preso, vocês, tu e os teus pais, vão voltar para Londres e… - disse enquanto uma lágrima descia pela minha face e a empregada deixava os nossos pedidos. -Obrigada – disse o Ian à empregada. -De nada – respondeu ela. -Não tens de te preocupar com isso agora. – disse ela beijando-me a mão – vamos apenas aproveitar, e depois vê-se. Confesso que não foi a resposta que eu estava à espera. Eu tinha imaginado todas as hipóteses possíveis: terminar o namoro, manter o namoro à distancia, um de nós se mudar para o pé do outro. Mas esta? Esta não me deixava minimamente segura. Mas decidi seguir o conselho dele: decidi aproveitar enquanto durava, e quando ele regressasse a Londres e se acabássemos eu iria seguir com a minha vida. XXVI:
  • 28. acoisa-maisfofa.blogspot.pt Depois do pequeno almoço seguimos para a escola. Tocou a campainha para a entrada e eu disse à Marta para ir indo para a sala de aula que eu tinha de ir ao cacifo. -Olá menina Teixeira! – disse alguém assustando-me. -Professor Faria! – disse tentando recuperar do susto. -A menina não deveria estar nas aulas? -Sim, eu só vim buscar uns cadernos que eu precisava. – respondi um pouco desconfortável. -Muito bem, então agora pode ir. Não se atrase mais. Acatei a sua ordem e dirigi-me para a aula, um pouco com medo. Não sei porquê, mas desde que descobri que ele e a Ali tinhaM um caso fiquei com medo dele. Cheguei à sala e a Luísa notou que eu estava perturbada. Mandou-me um sms a perguntar o que se passava e eu respondi dizendo que não se passava nada. Saí da sala de aula e fui para casa. Estava no meu quarto a pensar como estariam a decorrer as investigações. Decidi ligar ao inspetor Mendes. Ao final do terceiro toque, o inspetor atendeu: -Sim? -Inspetor? É a Inês Teixeira, será que tem um minuto para mim? -Sim claro. Passa-se alguma coisa? -Não, não se passa nada. É só que eu queria saber como é que estão a decorrer as investigações. -Nós estivemos a falar ontem com o professor Faria, e ele negou qualquer tipo de envolvimento com a Alison. Mas nós continuamos a investigar e mal descobramos alguma coisa nós informá-la-emos. Até porque a menina também é vítima daquele acidente. -Ok, obrigada inspetor. E desculpe pelo incomodo. -Ora essa! No dia seguinte cheguei à escola e reuni-me com o Ian, Luísa, Marta, e o Pedro. -Olá! – disse eu. -Então? Como estás?- perguntou a Luísa. -Estou bem! – respondi – porque perguntas. -Não sei. Tipo tu ontem foste para a última aula super estranha e eu nunca mais te vi depois disso… -Não se passou nada. Aliás eu disse que eu estava bem. Seguimos para as aulas e antes de eu entrar o Ian perguntou-me: -O que é que se passou ontem afinal? -Nada. Foi uma parvoíce! – respondi. -Como assim? Respirei fundo, e decidi contar, porque enquanto não o fizesse ele não iria descansar: -Ontem, eu tinha ido ao meu cacifo o professor Faria abordou-me. -Como assim? – perguntou o Ian furioso. -Não foi nada de especial. Apenas perguntou-me porque é que eu não estava nas aulas. Eu só fiquei assustada porque ele nunca tinha falado comigo, e com esta situação toda eu meio que me passei. -Esse tipo não se toca mesmo! -Ei, não se passou nada! Foi uma parvoíce minha, nada mais! Despedimo-nos e eu entrei na sala de aula. O Ian tinha ficado furioso com a abordagem do professor Faria, e estava seriamente a pensar ir também falar com ele.
  • 29. acoisa-maisfofa.blogspot.pt XXVII: Quando as aulas terminaram o Ian levou-me a casa. Ficamos um pouco juntos mas entrei em casa porque eu e o Ian tínhamos discutido. Fora uma parvoíce, tínhamos estado a falar sobre a nossa relação, e como nós não nos esforçávamos o suficiente, e depois o Ian tinha comentado que não gostava da minha intimidade com um colega da minha turma, que eu conhecia há imensos anos. No dia seguinte, depois das aulas, fui correr um pouco pelo parque da cidade. O sol estava a pôr-se quando eu parei por uns minutos para fazer uns alongamentos. Tinha feito quarenta minutos de corrida, estava cansada, suada, mas satisfeita comigo mesma, porque desde que a Alison morrera que eu nunca tinha conseguido fazer um tempo de corrida assim tão bom. Depois destes alongamentos pretendia voltar a correr para casa e ganhar coragem para ligar ao Ian e talvez resolver as coisas. -Bom dia! – disse a Marta ao Ian e ao Pedro. -Bom dia! – disseram eles. -Então o que é que os cavalheiros estão a fazer? -A tomar o pequeno-almoço. A senhorita acompanha-nos? -Não muito obrigada, eu já tomei! Mas digam lá, onde está o resto da malta? -A Luísa foi ao cacifo, e o André tem uma consulta no dentista. – respondeu o Ian. -E então a Inês? – perguntou a Marta. -Ainda não chegou! – respondeu o Pedro. -Como assim ainda não chegou? – perguntou a Marta. – se ela não veio comigo, nem com o Ian, veio com quem? -Talvez tenha vindo com os pais – comentou o Pedro. -Não pode ser. Os pais dela estão fora, na casa dos avós. Ela está sozinha em casa. – informou o Ian preocupado. -Talvez tenha adormecido. O Ian tentou-me ligar inúmeras vezes antes de as aulas começarem. Sem sucesso foi para a sua aula de Biologia, e ficou a aula toda a perguntar a Marta por sms se eu já havia aparecido. XXVIII: No final da primeira aula, como o Ian viu que eu ainda não havia chegado, nem atendia o telemóvel, decidiu ir a minha casa para ver o que afinal se passava. O Ian estava preocupado com o meu atraso, mas pensou preferiu pensar que talvez eu tivesse adormecido. Quando chegou a minha casa, tocou à campainha e ninguém veio à porta. Decidiu então ir bater à porta, mas também sem sucesso, pelo que decidiu ir pela porta das traseiras. Entrou, e procurou-me pela casa, mas não me encontrou. Decidiu ligar-me de novo, e foi quando percebeu que o meu telemóvel estava no meu quarto, em cima da mesa-de-cabeceira, juntamente com a minha carteira. Estranhando o facto de eu os ter deixado em casa, assim como as minhas coisas da escola, o Ian ligou à Marta a perguntar se tinha chegado à escola entretanto. A resposta foi negativa pelo que o Ian sentou-se na minha cama a pensar onde eu poderia estar. Lembrou-se que os meus pais estavam na quinta dos meus avós, pelo que pegou no meu telemóvel e procurou o número de telefone da quinta. Quem atendeu foi a empregada de serviço, que negou a minha presença na quinta. Aliás ela disse que os meus pais haviam chegado sozinhos à quinta. O Ian começou a ficar seriamente preocupado comigo, eu não estava eu lado
  • 30. acoisa-maisfofa.blogspot.pt algum, ninguém me tinha visto, nem sabia de mim. Mas o Ian, antes de qualquer alarme, decidiu dar uma volta pela cidade para me procurar. Foi a todos os sítios onde eu costumava ir: ao café do centro da cidade, ao meu restaurante preferido, ao cabeleireiro, ao ginásio, etc, mas não me encontrou. O último sitio onde me foi procurar foi ao parque da cidade. Deu voltas e mais voltas a pé e depois foi perguntar a uma esplanada se me tinham visto. O Ian mostrou uma fotografia minha que tinha no telemóvel ao funcionário da esplanada e este reconheceu-me logo: -Sim, esta menina – disse o funcionário – ela esteve cá ontem ao final da tarde. Veio comprar uma água, ficamos uns minutos a conversar e depois ela foi treinar. -E não a viu depois disso? – perguntou o Ian esperançoso. -Não. Até porque eu fechei a esplanada minutos depois disso. Lamento. -Obrigada – disse o Ian desmoralizado e preocupado. O Ian ainda andou de novo com o carro pela cidade a ver se me encontrava. Quando já não tinha mais onde procurar decidiu fazer aquilo que lhe parecia mais acertado: ele tinha de fazer uma chamada. XXIX: Ao final do terceiro toque ouviu-se uma voz do outro lado. -Estou sim, quem fala? -Inspetor Mendes? Daqui fala o Ian Darlines, será que tem um minuto? -Claro! Diga lá. -Eu não sei bem o que pensar, mas eu já procurei por todo o lado e… -Diga lá. Se eu puder ajudá-lo de alguma forma. -É a Inês. Ela… ela desapareceu e eu não consigo encontra-la em lado algum. -Mas desapareceu como? -Ela hoje não foi às aulas e eu fui a casa dela para a ver e não a encontrei. Fartei-me de lhe ligar, mas ela deixou o telemóvel e a carteira em casa. Procurei-a pela cidade toda e nada. -Bem, fazemos assim. Eu estava de saída mas venha à PJ ter comigo se puder. -Claro que sim. Estou aí em cinco minutos. O Ian foi diretamente para a sede da PJ e quando lá chegou encontrou, imediatamente, o inspetor Mendes. -Ian – disse o inspetor – venha até à minha sala por favor. Entraram na sala do inspetor, e sentaram-se a um mesa, de frente um para o outro. -Então diga lá. Que história é essa de a menina Inês ter desaparecido? – começou por perguntar o inspetor. -Eu não sei dela, aliás ninguém sabe, nenhum dos amigos dela sabe onde ela está! -Não estará com os pais ou algum familiar? -Os pais dela estão fora, em casa dos avós. Eu liguei para lá hoje e a empregada da casa disse que a Inês não foi para a quinta. -Muito bem. Então conte-me lá o que aconteceu, do inicio. -Nós ontem estivemos juntos até ao final da tarde. Depois eu deixei-a em casa porque ela tinha de estudar para uma prova que iria ter no fim de semana. Eu ainda lhe tentei ligar ontem à noite, mas ela não atendeu. Eu deduzi que estivesse a estudar e não tivesse ouvido a chamada. – começou por dizer o Ian. – hoje de manhã eu estava na escola com uns amigos, quando a melhor amiga da Inês chegou e perguntou por ela. Nenhum de nós sabia onde ela estava, mas pensamos que ela estava apenas atrasada ou que tivesse
  • 31. acoisa-maisfofa.blogspot.pt adormecido. No final da primeira aula, eu fui perguntar à Marta, a melhor amiga, se a Inês já tinha chegado e ela disse-me que não. E então eu fui a casa dela. -E então? -Quando cheguei a casa dela toquei à campainha, mas ninguém respondeu. Depois fui bater diretamente à porta, e de novo, ninguém falou. Decidi portanto entrar pela porta das traseiras. -E essa porta estava aberta? -Sim, não. – disse confuso – a porta estava fechada, mas a família da Inês tem um chave suplente escondida num vaso do jardim. -Ah! – disse o inspetor pensativo – muito bem, prossiga. -Ora bem, eu entrei, e comecei a chamar por ela. Como ninguém respondeu, procurei-a pela casa. Até que entrei no quarto dela e vi que, ela não estava lá, mas que tinha deixado tudo lá: o telemóvel, a carteira, os livros da escola, tudo. Estranhei, mas antes de qualquer ideia precipitada, decidi ligar para a quinta dos avós dela, porque ela poderia ter ido para lá. Quem atendeu foi a empregada da casa, que disse que a Inês não tinha ido com os pais. Foi aí que comecei a preocupar-me e decidi dar uma volta pela cidade a ver se a encontrava. -E não encontrou. – concluiu o inspetor. -Não. Eu fui a todos os sítios que ela costumava ir e ninguém a tinha visto. O ultimo lugar onde a fui procurar foi ao parque da cidade, e aí tive a primeira pista dela. -Como assim? – perguntou curioso o inspetor. -O dono de uma esplanada do parque disse que a Inês esteve ontem ao final da tarde, inicio da noite no parque. Eles tinham estado um pouco à conversa e depois ela foi treinar. -E ele não a viu depois disso? -Não, porque ele foi embora depois disso. -Muito bem, e depois… -Depois voltei a dar uma volta pela cidade e depois liguei ao inspetor. -Hum hum – disse o inspetor pensativo. – eu vou por alguns homens em campo. Ainda não passaram 24 horas, mas sendo a menina Inês uma vitima de tentativa de homicídio, e uma testemunha e um verdadeiro homicídio, é crucial a sua segurança. -Obrigada. -Agora, outra coisa crucial, é informar os pais da menina Inês. Pelo que percebi eles ainda não sabem do desaparecimento da filha, certo?! -Certo, eu não queria alarmá-los. Foi o inspetor quem fez o telefonema para os meus pais. Eles ficaram logo muito preocupados e voltaram para casa imediatamente. Chegaram de madrugada e encontraram o Ian sentado no sofá da sala. Este explicou-lhes o que se sucedera, tal e qual como tinha explicado ao inspetor. Os meus pais começaram logo a culparem-se por me terem deixado sozinha em casa, e desprotegida. Depois de acalmarem os ânimos, o Ian foi para casa e os meus pais foram tentar descansar. XXX: Acordei com uma forte dor de cabeça e com uma sensação de sonolência intensa. Com dificuldade abri os olhos, e tentei percecionar o lugar onde me encontrava. Não reconhecia o espaço. Era uma sala relativamente pequena, com uma cama, uma cómoda,
  • 32. acoisa-maisfofa.blogspot.pt uma mesa de madeira com um candeeiro, uma cadeira, um tapete e um sofá. Haviam ainda, ao pé de uma parede, umas escadas que davam a um andar superior. A sala não estava muito limpa, via-se que há muito que não era utilizada, pois o pó era bastante. Daquilo que conseguia perceber, aquele espaço devia ser uma espécie de cave, pois a única janela existente, encontrava-se no topo da parede e era pequeníssima. Quando me tentei levantar da cama, senti um tontura forte, pelo que tive de me sentar de novo. Quando finalmente recuperei forças, levantei-me e dirigi-me às escadas. Era um lanço de doze escadas de madeira, que tinha no final uma porta, que, possivelmente, estaria fechada. Mesmo sabendo desta possibilidade, arrisquei e subi. Tentei rodar a maçaneta, e aí confirmei que a porta estava, de facto trancada. Num ato de loucura, comecei a gritar por socorro. Sabia que possivelmente ninguém me iria ouvir, mas não consegui ficar ali sem fazer nada. Daí a nada, ouviu-se o som da chave na fechadura da porta. Assustei-me com o facto de a pessoa que me tinha colocado ali, vir aí. Desci as escadas e fiquei à espera para ver quem era essa pessoa. Na escola, estavam todos os meus amigos e conhecidos a questionar os alunos sobre a última vez que me tinham visto. Poucos, ou quase nenhuns, tinha alguma informação nova para dar, pois a ultima vez que a maioria me tinha visto tinha sido há dois dias na escola. Depois da hora de almoço, o inspetor Mendes informou a minha família que tinha lançado um mandado de procura em meu nome a nível nacional e ibérico. Esta noticia, apesar de ser um alivio para a família, não a deixava descansada, porque na verdade, ninguém sabia do meu paradeiro. XXXI: -Você? – perguntei surpreendida. -Sim, sou eu. – disse sorrindo – surpreendida? -Eu quero sair daqui! – disse assustada – deixe-me sair daqui, deixe-me sair daqui! -Calma, acalma lá a passarinha que tu não vais sair daqui, pelo menos agora – disse sorrindo demoniacamente. Eu não conseguia acreditar que o professor Faria me tenha raptado. -Olha lá! – disse-me ela – tudo vai correr bem se tu fizeres exatamente o que eu quero. -E o que você quer? – perguntei enquanto as lágrimas me invadiam. -Bem – começou por dizer – para já vais ficar aqui quietinha e caladinha. -E se eu não ficar caladinha? – perguntei desafiando-o. -Bem, vou ter de te calar… O professor Faria voltou a subir as escadas e a trancar a porta, e eu tinha voltado a ficar fechada naquela sala sombria e fria. Comecei a imaginar se a minha família, amigos e o Ian já teriam dado pelo meu desaparecimento, e se já, se estariam à minha procura. Mas como é que eles descobririam que eu estava fechada nesta sala? Depois de alguns minutos em silêncio ouvi um som que parecia de um carro a aproximar-se e, mais tarde uma porta a bater. Deduzi que estaria mais alguém em casa. E, num momento de desespero, comecei a gritar por socorro. Minutos depois o professor voltou a descer até à sala onde me encontrava e, num ato de violência, bofeteou-me e empurrou-me fazendo-me cair e bater com a cabeça na borda da cama. Ele veio até mim e puxando- me o cabelo, disse-me ao ouvido: -Eu disse-te para estares caladinha!
  • 33. acoisa-maisfofa.blogspot.pt Não respondi, limitei-me a aguentar a dor de ele estar a puxar o meu cabelo, e a dor de ter batido com a cabeça, que me deixou a deitar sangue. -Eu avisei-te – continuou ele – agora vou ter de te calar! Largou o meu cabelo com violência e dirigindo-se à cómoda da sala, retirou de lá duas cordas. Voltando para o pé de mim, agarrou-me pelo braço, levantou-me e atirou-me para cima da cama. Agarrou os meus braços e colocou à volta dos meus pulsos, e fez o mesmo com os meus pés. No final colocou um lenço na minha boca, e atou-o atrás da minha cabeça. E antes de abandonar a sala disse: -Agora, acho que vais caladita, não! – dirigiu-se às escadas e voltou a dizer – Eu tinha- me esquecido de te dizer! Não vale a pena gritares que não há nada, nem ninguém aqui à volta que te possa ouvir. Minutos depois, ouvi o carro que tinha chegado à pouco a afastar-se e aí percebi que talvez não teria salvação. XXXII: -Nós tivemos acesso às camaras de vigilância das lojas ao pé do parque – começou por dizer o inspetor. Estavam em minha casa, a minha família, o Ian e sua família e o inspetor Mendes. -E então? – perguntou o meu pai esperançoso – viram a minha filha? -A nossa primeira análise não deu frutos. Algumas das câmaras tem uma visão muito reduzida para o parque, outras não mostram a Inês. A única que tem um angulo bom é a da esplanada do parque – o inspetor pediu autorização para utilizar o leitor de DVD e pôs o vídeo da camara de vigilância do parque. Passou alguns minutos à frente, e parou segundos antes de a minha imagem aparecer. A minha mãe começou, de novo, a chorar. No vídeo via-se eu a falar com o funcionário da esplanada e minutos depois, eu despedir-me e começar a treinar, nada mais. O inspetor explicou aquelas eram as únicas imagens que tinham minhas. O meu irmão, Martim, que tinha vindo da faculdade após o meu desaparecimento, permaneceu o ver o vídeo, e, a dado momento, perguntou: -Quem é aquele? -Aquele quem? – perguntou o inspetor. -Aquele homem ao pé do caixote do lixo! -Ah! – disse o inspetor – é um mendigo que costuma ir à esplanada buscar algumas sobras de comida que o dono lhe dá. -E já falaram com ele? – perguntou o Ian – ele pode ter visto alguma coisa! -Não tínhamos colocado essa hipótese! – disse o inspetor pensativo – de facto ele pode ter visto alguma coisa nessa noite. O inspetor telefonou para a PJ para mandar alguém procurar o sem-abrigo do vídeo. Depois disso, despediu-se dos meus pais e dos Darlines e saiu. A minha mãe, que tinha passado a conversa toda a chorar, ausentou-se da sala e foi chorar para o quarto. A senhora Darline foi ter com ela para a consolar. Estavam todos tensos, o facto de não saberem do meu paradeiro era desesperante. Os meus avós chegaram minutos depois e informaram que tinham ligado para o inspetor Mendes para informar que tinham colocado todos os funcionários da quinta à disposição da polícia. O Ian e o Martim estavam no jardim, ao pé da piscina a falar sobre mim, onde eu poderia estar, quem poderia ter feito isto. O Ian tinha certeza que tinha sido o Faria, que este começou a sentir-se cercado e tirou de cena a única pessoa que o podia incriminar. Falaram ainda do Bruno. Há uns meses ele foi ter comigo para perguntar porque é que
  • 34. acoisa-maisfofa.blogspot.pt eu lhe tinha mentido sobre a paternidade do bebé da Alison. Na altura, eu desculpei-me dizendo que achei que tivesse sido melhor, que assim ele não ficaria com uma má memória da Ali. O Bruno tinha ficado muito magoado e tinha deixado de me falar. Desde que soubera do meu desaparecimento tinha vindo falar com aminha família para lhes dizer que podiam contar com ele e que, apesar de tudo, ele gostava muito de mim e só queria o meu bem. Terminaram a noite falando do sentimento de culpa do Ian. Este sentia-se culpado pelo meu desaparecimento, porque afinal de contas, fora ele que me tinha deixado sozinha, e tudo por causa de uma estupida discussão. Ele culpabilizava-se e martirizava-se pelo facto de não ter sido capaz de me defender XXXIII: Depois de algumas horas, o sem-abrigo foi encontrado e, após o inspetor lhe ter pago o jantar o mendigo, António, disse que de facto me tinha avistado no parque. Segundo ele, eu tinha passado por ela umas três vezes enquanto corria. O inspetor perguntou-lhe quando tinha sido a ultima vez que me tinha visto, e ele voltou a responder que tinha sido enquanto corria. Então, o inspetor perguntou se tinha visto mais alguém no parque àquela hora e o António respondeu que haviam algumas pessoas também a fazer exercício. Mendes começava a perder a esperança e resolveu perguntar se o mendigo vira alguém com uma atitude estranha. O sem-abrigo não percebeu o que o inspetor queria dizer com estranho, mas começou a pensar. Minutos depois, ele fez uma expressão que indicava que se lembrava de algo. De facto tinha havido uma pessoa que tinha despertado a curiosidade de António. Era um homem de meia-idade, cabelo grisalho e que vestia um fato bege. Este traje tinha chamado a atenção pois normalmente as pessoas vão para lá e vestem fatos de treino e roupas práticas. O inspetor perguntou-lhe se o tinha visto alguma vez ou se o tornara a ver mais tarde, ao que o António respondeu negativamente. Aí o inspetor lembrou-se das suspeitas do Ian sobre o professor Faria, e, mesmo não querendo levantar suposições infundadas, mostrou uma fotografia do Faria ao sem-abrigo. Depois de a ver bem, o António respondeu que sim, que era esse o homem que vira no parque. O inspetor, sorrindo pela pequena vitória, decidiu convocar o professor Faria para outro interrogatório, desta vez, ele não escaparia às suas questões. XXXIV: -Então princesa! – chamou ironicamente Faria – estás com fome? – perguntou mostrando um saco de plástico azul com algo dentro – Não respondes? Há pois é, já me esquecia, tu não consegues falar! Mas como eu sou boa pessoa vou-te tirar essa mordaça. Tirou-me a mordaça e com as costas do dedo indicador acariciou-me o rosto. Afastei- me instantaneamente, tal era a minha repulsa. Ele riu-se deste ato, e desatou a corda que prendia as minhas mãos. Massajei os meus pulsos que estavam doridos da pressão da corda. Depois de algum tempo, aceitei a comida que ele me tinha trazido, era uma sandes de queijo e fiambre, um sumo e uma maça. Apesar de estar receosa de esta poder
  • 35. acoisa-maisfofa.blogspot.pt estar envenenada, eu acabei por comer, pois já não comia há quase três dias, só tinha bebido água que ele me ia dando. Enquanto eu comia, o Faria, que estava sentado à minha frente, começou a falar: -Sabes. Eu gostava mesmo dela… Olhei para ele com um olhar cético. -Não acreditas pois não?! Mas é verdade. Eu sei que aquilo que nós tínhamos não era permitido, muito menos ético, mas aconteceu – disse enquanto esfregava as mãos – eu tentei manter-me afastado dela no inicio, mas houve uma altura em qua não consegui mais… Ela conseguia ser muito persuasiva. Parei de comer e finalmente perguntei-lhe: -Se gostavas assim tanto dela porque a matou? Ele olhou-me furioso e disse-me: -Acabou-se a conversa. Atou-me de novo as mãos e amordaçou-me, e enquanto saía da sala disse-me: -Vais ficar um pouco sozinha porque telefonaram da PJ e querem falar comigo. Devem querer saber se eu te vi – disse sorrindo sarcasticamente. Aquele homem repelia-me cada vez mais. Não conseguia perceber como a Alison se tinha deixado encantar por aquele monstro. Era-me impossível conceber tal ideia. Decidi que não iria esperar que alguém me viesse salvar, se é que algum dia me iriam encontrar. Com algum esforço consegui libertar-me das cordas, e foi quando ouvi um som de um carro a aproximar-se. Quem seria? Era impossível o Faria ter ido à PJ e já estar de volta. XXXV: -Obrigado por ter vindo assim tão em cima da hora! – disse o inspetor ao professor Faria. -Não tem de agradecer – respondeu o Faria. O inspetor encaminhou o professor até à sala de interrogatórios, onde os aguardava o inspetor Paulo. Os inspetores começaram por lhe dizer o que se sucedera comigo. O professor, disfarçando, mostrou-se muito surpreso e preocupado. Mas desta vez o inspetor Mendes começava a duvidar da sua sinceridade. -Oiça lá professor! – disse impaciente – eu acreditei em si, acreditei que não tinha de facto nenhum relação com a vitima. Mas tem de concordar comigo, que agora começam a aparecer demasiadas coisas contra si: primeiro a sua suposta relação coma vitima, agora uma testemunho que o viu no ultimo lugar onde a menina Inês esteve. -Coincidência, não passam tudo de terríveis coincidências – disse o professor. -Eu não tenho a mesma certeza, professor. O Faria começou a ficar desconfortável com as desconfianças do inspetor, mas continuou a defender-se: -Sinto-me bastante ofendido com as suas desconfianças. Se me dá licença eu tenho de ir embora – disse dirigindo-se para a porta. -O senhor não vai a lado nenhum!~ -Desculpe? O senhor não me pode manter aqui contra a minha vontade. Você não tem nada que sustente a minha detenção. -Tenho. E nem que eu tenha que ir falar com o presidente da republica, você não sai daqui, e sabe porquê? Porque você está metido nisto até ao pescoço.
  • 36. acoisa-maisfofa.blogspot.pt O professor Faria foi detido, mas o inspetor Medes sabia que não o ia conseguir manter lá dentro por muito tempo, pois qualquer advogado “rasca” o conseguiria tirar de lá em dois minutos. E era por este motivo que tinham que se apressar. Em minha cas, quando souberam da detenção ficaram eufóricos e ligaram de imediato ao inspetor Mendes a perguntar por mim. O inspetor disse que ainda não sabiam o meu paradeiro mas que estavam a tratar disso. Finalmente começavam a ver uma luz ao fundo do túnel. XXXVI: Desci as escadas e fui para o pé da cama. Comecei a gritar por socorro e minutos depois ouvi a porta a abrir-se. Para meu alivio não era o professor Faria, mas sim uma mulher Nunca a tinha visto, mas ela seria a minha salvação. -Você tem de me ajudar, por favor! – supliquei-lhe. -Oh Meu Deus – disse ela – você está bem? -Mais ou menos – disse-lhe ofegante – eu preciso que me tire daqui, por favor. -Claro, claro, vamos! Abandonamos a casa e entramos no carro dela. Aí apercebi-me que a casa encontrava-se numa zona de floresta, longe de qualquer tipo de civilização. -Como é que veio aqui parar? – perguntou-me ela – Já agora, eu chamo-me Maria. -Sou a Inês – disse sorrindo – eu fui raptada. Estava ali fechada à quase três dias e você foi a minha heroína. Ela sorriu e fomos falando. Ela explicou-me que tinha passado pela casa e tinha ouvido gritos e decidiu voltar quando viu o professor sair. Ian? – perguntou o inspetor quando atenderam o telemóvel – Ian, o Faria falou. Ele negou ter morto a Ali, mas confessou ter raptado a Inês. Nós vamos busca-la agora. O inspetor deu a localização da casa ao Ian, e este e a minha família dirigiram-se para lá. Quando chegaram a policia já tinha entrado, mas não me tinham encontrado. O Ian desceu até à sala onde eu estivera e encontrou a minha fita do cabelo. Aí perceberam que eu tinha estado realmente naquele sitio. Como não me encontraram deduziram que eu tivesse conseguido fugir e decidiram procurar-me nas florestas da zona. -O que está a fazer? –perguntei – porque parou o carro? -Sai – ordenou a Maria Saí do carro confusa. Estavamos numa ponte no meio do nada. Perguntei-lhe que se estava a passar e ela sorrindo, apontou-me uma arma. -Sabes, eu até simpatizo contigo – começou por dizer – até és uma miúda simpática! -Porquê? – perguntei confusa. -Porque tu ias condenar o meu marido! -Condenar o seu marido? -Benjamim Faria, professor de história, amante de uma miúda de 18 anos que morreu num trágico acidente de carro e que estava grávida – disse sorrindo – ele contou-me da Alison na noite anterior ao vosso acidente. Não conseguia acreditar que ele não só me tinha traído, como a outra estava grávida dele. – disse enquanto chorava – mas sabes, eu perdoei-o. Eu amo-o e perdoei-o. Mas eu sabia que ela não o ia deixar em paz, até porque quando este caso e gravidez viessem a publico nós nunca mais teríamos paz. Então eu tive de fazer alguma coisa…
  • 37. acoisa-maisfofa.blogspot.pt Aí eu percebi: -Foi você!? -Fui. Enquanto vocês estavam na festa, eu fui ao carro dela e cortei-lhe os travões. Estava tudo planeado: ela iria sair das nossas vidas assim como aquela coisa que ela trazia dentro da barriga. Eu comecei a chorar. Não conseguia acreditar no que tinha acabado de ouvir. -O Faria descobriu o que eu tinha feito e perdoou-me também. Desde então a nossa relação fortaleceu-se. -Como é que se fortaleceu se na base disso está a morte de uma pessoa?! – gritei – vocês são uns assassinos, vocês são uns monstros, e aquilo que você chama de relação eu chamo de mentira, de farsa! Ela bofeteou-me e disse-me: -Tu nunca saberás o que é o amor, porque tu decidiste armar-te em esperta e levantaste suposições sobre o Benji. Quando tudo estava bem, estava calmo até que tu tiveste de te armar em heroína, não é? Porquê, ah? Não podias estar caladita e sossegadita no teu canto? Tinhas ganho mais com isso… Depois disto, ela apontou a arma à minha cabeça e perguntou-me: -Quais são as tuas últimas palavras? -O que pretendes com isto? -Eu? Depois de tu desapareceres o meu Faria será libertado e nós viveremos felizes para sempre! -Felizes? Até quando? Com duas mortes na consciência e a desconfiança de uma nova traição? -Ultimas palavras? -Vai para o inferno!- disse. -Largue a arma! – gritou o inspetor Mendes. O inspetor Mendes e o Ian tinham ido juntos à minha procura e foi por isso que me viram a mim e à Maria. -Largue a arma e entregue-se. – voltou a dizer o inspetor Mendes que entretanto se aproximara. -Se dá mais um passo eu mato-a! – gritou a Maria. -Calma! Não faça nada que se possa vir a arrepender. -Inês, estás bem? – perguntou-me o Ian. -Sim, estou – respondi. -Não por muito tempo – disse Maria, preparando-se para disparar. Prevendo o que iria acontecer, o inspetor disparou sobre a Maria atingindo-a num braço, o que a fez cair. Num movimento rápido o inspetor imobilizou-a e o Ian veio ter comigo e abraçou-me. Depois de um longo beijo apaixonado perguntou-me: -Estás bem amor? -Sim, agora estou – respondi abraçando-me a ele. -Anda, vamos embora! XXXVII: O inspetor informou os policias que continuavam na floresta à minha procura, que eu já tinha aparecido e pediu para se juntarem todos na casa onde eu estivera. Quando cheguei os meus pais e o meu irmão já me aguardavam. Depois de muitos abraços, beijos e imensas questões.
  • 38. acoisa-maisfofa.blogspot.pt O inspetor pediu para me levarem primeiro a um hospital para se certificarem que eu estava mesmo bem. Depois de uma batalhada de exames médicos, fui, finalmente, para casa. Lá estavam os Darlines, a minha família e os meus amigos mais chegados. Estivemos horas à conversa, enquanto eu contava o que se tinha passado nos últimos dias. Depois de a minha mãe me ter ido ajudar a deitar, o Ian entrou pela janela do meu quarto. Ele deitou-se ao pé de mim, e abraçados, ele disse-me: - Nem sabes o medo que tive de te perder! -Eu sei. Eu também tive muito medo de nunca mais te voltar a ver… Ficamos o resto da noite à conversa e acabamos por adormecer juntos. No dia seguinte ficamos a saber que a Maria tinha conseguido fugir quando foi ao hospital fazer o curativo do tiro que o inspetor lhe dera. Devido a esta fuga o inspetor tinha destacado dois policias para a minha proteção, caso a Maria voltasse a atacar. Dois dias depois aconteceu o julgamento do professor Faria. Ele não ofereceu qualquer resistência, limitou-se a pedir desculpas aos Darlines e a mim e a confessar que tinha tido o caso com a Alison, que sabia que a mulher a tinha matado, e que me tinha morto para tentar acabar com esta história toda. Foi condenado a 12 anos. No final da audiência o inspetor informou-nos que tinham encontrado a Maria enforcada num barracão abandonado. Fomos para minha casa festejar. Finalmente estava tudo terminado: o assassino estava morto e tudo poderia voltar à normalidade, dentro do possível é claro. Nunca nada voltaria a ser como dantes: eu não voltaria a ter a minha melhor amiga, não voltaria a poder conversar com ela, não voltaria a dormir em paz, nem a minha vida voltaria a ter o mesmo sentido, porque faltará sempre um pedacinho de mim que ficou naquele acidente de carro e que a Alison levou consigo. A minha relação com o Ian estava cada vez mais sólida e ele ia pedir transferência da universidade de Londres para uma portuguesa para poder estar mais próximo de mim e da tia. Voltaríamos os dois a Londres para visitar a família. A Maria disse que eu iria morrer sem saber o que era o amor. Mas a verdade é que se eu tivesse de facto morrido naquele dia, naquela ponte, eu teria partido com a certeza que eu tinha amado e sido amada. A vida da Alison tinha acabado naquele acidente de carro, assim como a nossa. O que nós estávamos agora a viver, era uma vida nova, que pretendíamos aproveitar ao máximo, assim como a Alison viveria!