1. Ritmos Africanos e Afro-brasileiros
Objetivo Geral
Trabalhar com alunos do Ensino Fundamental e Médio, visando conhecer e
reconhecer alguns aspectos da história e da cultura africana e afro-brasileira,
através da dança.
Definindo cultura como “um sistema de atitudes e modos de agir, costumes e
instruções de um povo”, podemos concluir, juntamente com Rosane Welk, o
quanto desorientadas ficam as pessoas ao perderem tais referenciais (WELK,
1998, p. 39). Analisando essa afirmação, a prioridade é pesquisar os referenciais
e as diversidades culturais que estão presentes na realidade de cada escola e, a
partir de então, fazer o planejamento adequado.
Objetivos Específicos
Conhecer a história da África, dos africanos e dos afro-descendentes no
Brasil;
Reconhecer a participação histórica dos africanos e seus descendentes na
produção de riquezas materiais e culturais na África e no Brasil;
Reconhecer a realidade paranaense desmistificando a idéia de um Brasil
europeu e branco ao sul;
Realizar palestras, apresentações de vídeos e debates pertinentes ao
tema;
Sensibilizar o corpo docente e discente da escola e através desses, atingir
também a população local a respeito da temática;
Proporcionar meios para os alunos realizarem trabalhos em grupo;
Justificativa
A partir do reconhecimento de que a sociedade e a cultura brasileira ainda
evidenciam profundos traços de discriminação e racismo, considera-se pertinente
o trabalho com a história e a cultura africana e afro-brasileira visando superar tal
2. situação e com isso promover sua valorização, evidenciando as origens de ritmos
relacionados aos Afro-descendentes.
Um exemplo é o rock’n roll, de inegáveis origens negras, mas cuja difusão na
Europa, Estados Unidos e Brasil é, também, inegável e de grande importância
cultural. Outros aspectos a serem explorados consistem nas formas de
preconceitos relacionadas à origem desses ritmos; ao cotidiano de seus
divulgadores; à ampla mistura de influências as mais diversas e suas contínuas
transformações, desde suas origens, até os dias atuais, entre tantos outros.
A leitura do texto Reis e rainhas no Brasil (SOUZA, 2006) é importante para
pensar a abordagem em sala das manifestações da Congada presentes no
universo cultural brasileiro, como uma maneira de ultrapassar os preconceitos
deixados pela visão evolucionista do século XIX, com a divisão da humanidade
em diferentes raças e destacando a pretensa superioridade branca.
Com o debate em sala, do texto anteriormente citado, propicia-se momentos
para que os alunos percebam a organização social de algumas nações africanas
e como estas tradições permaneceram ou foram adaptadas ao cotidiano dos
negros no Brasil, até mesmo como forma de resistência.
A congada, nas palavras de Mello e Souza (Ibid.), a não sobrevivência de
tradições africanas nem a aceitação passava dos grupos dominados em relação à
cultura do grupo dominante. Revela a capacidade das comunidades negras de
criar novas identidades e atribuir significados coerentes com as suas culturas de
origem às instituições da sociedade colonial escravista (p.5)
Através do ensino da arte, possibilita-se momentos para analisar como
ocorreu essa apropriação cultura pelos africanos trazidos escravizados para o
Brasil e demonstrar a importância de se respeitar todas as manifestações
culturais brasileiras sem discriminação.
Com base no texto Do lundu ao mangue-beat (IKEDA, 2006), destaca-se as
relações entre ritmos de origem africanas nos vários estilos da música popular
brasileira, iniciando com o Samba, Capoeira e o Carnaval.
Foi no final do século XIX que, nos morros e nos bairros miseráveis do Rio
de Janeiro, como Saúde, Estácio e Lapa, que a populacão de origem nordestina
(baiana) deu início ao Samba de Roda, ao Partido alto, ao Pagode. Nos terreiros
3. das “tias baianas”, como “tia Ceata”, reuniam-se capoeiristas, malandros e
cantadores, varando noites a brincar e a sambar. Assim surgiram muitos
“monstros sagrados” da MPB, como Donga, Caninha, Pixinguinha e outros. Eram
ai que nasciam os bambas, produzindo ritmos para as moças mexerem os quadris
e “rodar a Baiana”.
Carnaval, Samba e Capoeira, praticados por negros ou pobres, eram
entendidos no período como sinônimos de malandragem. Na década de 1930 o
Samba passou a ser apreciado pela classe média brasileira e através do rádio
tornou-se conhecido de uma parcela maior da população. E assim nasceram os
primeiros grandes astros como: Francisco Alves, Carmem Miranda, Noel Rosa e
Orlando Silva.
De modo geral, nas letras dos Sambas compostos entre as décadas de 1930
e 1950, os valores da classe média dominavam a produção musical. Os temas do
amor não correspondido, das belezas nacionais e do valor do trabalho tornam-se
característicos (MACHADO & OLIVEIRA, p. 153-155).
As influências dos ritmos africanos estão presentes em vários estilos da
música popular brasileira. Apenas para citar alguns, temos: a música Domingo no
parque, de Gilberto Gil, que se baseia no toque de Angola, da capoeira; a música
Beleza pura, de Caetano Veloso; Sina, do compositor Djavan.
Conforme Ikeda (2006), no início dos anos 90, verificamos a consagração de
ritmos dos cortejos negros de maracatu, por meio do movimento identificado
como mangue-beat, em Pernambuco, cujo nomes mais consagrados são os de
Chico Science & Nação Zumbi. Através dos exemplos citados percebe-se que
houve uma apropriação de variadas facetas oriundas das culturas africanas pelos
muitos compositores e bandas formadas principalmente no correr do século XX,
valorizando dessa forma a contribuição cultural dos vários ritmos de origem
africana.
Pode ser destacado também o movimento cultural e social do Hip Hop, o
qual vem se fortalecendo e se aproximando cada vez mais da escola. O
movimento foi abordado nas aulas de Artes através da explicitação dos conteúdos
específicos das linguagens artísticas presentes nos quatro elementos envolvidos
no Hip Hop, quais sejam, o Rap (expressão musical), o grafite, o M. C. e o break.
4. Ao propor o trabalho com Hip Hop é importante que antes de tudo seja feita
uma discussão sobre a história do surgimento do movimento e suas
características. É interessante mostrar aos alunos como essas manifestações
começaram e com a participação deles desenvolver trabalhos artísticos da dança,
grafites, fazendo com que, através de tais trabalhos, eles conheçam a cultura Hip
Hop, pois esse movimento contribui para que os jovens negros e de periferia se
manifestem na sociedade mostrando não só a cultura, mas as questões sociais
que mais lhes afetam e dão fundamento ao movimento.
Fundamentação Teórica
Tendo em vista o proposto pelas Diretrizes Curriculares para o
ensino de História e de outras disciplinas, compreendemos que a luta contra a
exclusão deve obrigatoriamente se realizar no ambiente escolar. Isso pode se
realizar através da promoção do conhecimento e do reconhecimento de todo o
legado histórico-cultural afro-brasileiro, do qual nos apropriamos, por vezes, sem
compreender a extensão de sua relevância.
A ausência da História Africana é uma grande lacuna nos sistemas
educacionais brasileiros. Esta ausência traz conseqüências sobre a população
brasileira, gerando um ambiente de exclusões étnicas, os quais denominamos de
racismos, muitas vezes levando a um processo de criação de credos sobre a
inferioridade do negro, do africano e dos afro-descendentes. Desta forma abre-se
espaço para hipóteses preconceituosas, desinformadas ou racistas sobre a
origem dos brasileiros, criando assim terreno fértil para produção e difusão de
idéias erradas e racistas sobre as origens da população negra. Essa situação
alimenta um universo do Africano e afro-descendente como ignorado, inculto,
incivilizado e conceitos inferiorizantes sobre os afro-descendentes no país.
A Lei 10.639, de 2004, institui Diretrizes Curriculares Nacionais para
a Educação das Relações Étnico-Raciais e para o Ensino de História e Cultura
Afro-Brasileira e Africana. Determina também a inclusão da Educação das
Relações Étnico-Raciais nas instituições de ensino superior, nos conteúdos de
disciplinas e atividades curriculares dos cursos que ministram e o tratamento de
questões e temáticas que dizem respeito aos afro-descendentes.
5. Conforme a relatora das Diretrizes Curriculares Nacionais apara a
Educação das Relações Étnico-Raciais e para o ensino de História e Cultura Afro-
Brasileira e Africana, Petronilha Beatriz Gonçalves e Silva:
Pedagogias de combate ao racismo e a discriminações elaboradas com o
objetivo de educação étnico-raciais positivas têm como objetivo fortalecer entre os
negros e despertar entre os brancos a consciência negra. Entre os negros,
poderão oferecer conhecimentos e segurança para orgulharem-se da sua origem
africana; para os brancos, poderão permitir que identifiquem as influências, a
contribuição, a participação e a importância da história e da cultura dos negros no
seu jeito de ser, viver, se relacionar com as outras pessoas, notadamente as
negras. (Parecer CNE/CP 3/2004:16)
Procurar-se-á então atingir os objetivos relacionados à Educação das
Relações Étnico-Raciais através da divulgação e produção de conhecimentos, de
atitudes, posturas e valores que eduquem cidadãos quanto à pluralidade étnico-
racial, tornando-os capazes de interagir e de negociar objetivos comuns que
garantam a todos o respeito aos direitos legais e a valorização de identidade. E
também, o reconhecimento das raízes africanas da nação brasileira, ao lado das
indígenas, européias, asiáticas e o conhecimento da história e da cultura dos afro-
brasileiros e africanos.
Metodologia
O desenvolvimento do trabalho ocorrerá envolvendo uma equipe
multidisciplinar formada no colégio, de acordo com a instrução 017/06, que estará
coordenando o desenvolvimento do projeto no colégio.
Os alunos irão trabalhar com documentos históricos ou pequenos
textos com o objetivo de conhecer os conteúdos e questões apresentadas aos
seus respectivos temas. Haverá ainda, palestras realizadas na escola, visando
tornar o tema mais próximo dos alunos. Também serão organizados debates e
discussões de textos pertinentes aos temas que serão abordados no decorrer do
projeto, visando à formação e a informação dos alunos participantes.
Após essa fundamentação teórica os professores de Artes e Educação
Física orientarão sobre como organizar as coreografias.
6. Integração das disciplinas:
História: pesquisar sobre acontecimentos históricos do povo africano, sobre a
cultura e a influência dela na cultura brasileira.
Artes: desenvolver trabalhos ligados à música e dança, dramatizações, entre
outros.
Sociologia: trabalhar a formação das sociedades e a importância da música e da
dança.
Geografia: localizar e analisar os conflitos em território africano e brasileiro.
Educação Física: fazer um estudo sobre a capoeira. Dança ou luta? Qual a sua
origem. Apresentação. Trabalhar diversas danças de origem africana e ou afro-
descendentes.
Português: mediar o estudo da literatura afro-brasileira, promover a interpretação
e produção dos textos, pesquisarem letras de musicas que aborde a temática e
auxiliar na elaboração de textos que evidenciem a importância da cultura afro-
brasileira. Também, procurar descrever receitas que influencia nossa culinária,
presentes em nosso cotidiano.
Ensino Religioso: abordar as questões religiosas pertinentes aos africanos e aos
afro-descendentes, assim como as manifestações religiosas através da dança.
Inglês/LEM: fazer um comparativo entre a cultura afro nos EUA em paralelo com
o que ocorreu/ocorre no Brasil.
Recursos Materiais:
Biblioteca;
Leitura de vários tipos de textos: textos jornalísticos, literários, poéticos;
Músicas;
Filmes;
Sala de vídeo;
Equipamento de som;
Computadores;
Professor para mediar e orientar a leitura tanto em sala de aula como na
biblioteca;
7. Pessoas de diversos segmentos da sociedade para promover palestras
pertinentes aos temas abordados bem como fazer as discussões sobre os
filmes que serão utilizados;
Professores para orientar as coreografias que serão organizadas pelos
alunos em grupo, depois da fundamentação teórica-metodológica.
Avaliação:
A avaliação será processual e formativa. A observação do desenvolvimento
dos alunos e a análise das produções permitirão o desenvolvimento de novas
atividades que procurem atingir as dificuldades que irão surgindo durante a
produção do material de pesquisa para as apresentações e exposições dos
trabalhos.
Para isso a avaliação será feita da seguinte forma:
Observação da participação ativa dos alunos, mostrando-nos interesse e
disposição no desenvolvimento das atividades.
Análise dos relatórios orais e escritos ao final de cada tema trabalhado;
Acompanhamento e análise dos exercícios e atividades em sala de aula;
Observação de leitura e discussão de textos;
Apresentação de seminários;
Apresentações de várias coreografias de ritmos citados anteriormente.
Considerações finais:
Todo o conhecimento produzido/adquirido durante esse processo
que terá suas atividades especificadas no final do projeto deverá ser apresentado
numa feira cultural, durante o dia todo, no Colégio, com apresentações abertas à
comunidade local e convite destinado às demais escolas da região e alguns
segmentos da sociedade.
Após as apresentações será solicitado aos alunos a elaboração de
relatórios sobre o trabalho desenvolvido para que os mesmo pudessem tecer
seus comentários acerca das atividades para que, através desses, observar de
8. que maneira poderemos atingir os objetivos propostos nas atividades
desenvolvidas.
Espera-se que os resultados apresentem-se em forma de mudanças de
atitudes por parte de todos os envolvidos nesse trabalho, bem como aos
visitantes que passarão a ter acesso ao conhecimento produzido por esses
alunos, compreendendo a importância de se combater o preconceito e a
discriminação, reconhecendo a participação dos africanas e afro-descendentes na
produção das riquezas materiais e culturais das sociedades, especialmente a
brasileira.
Referências:
IKEDA, A. T. Do lundu ao mangue-beat. Revista História Viva, São Paulo, v. 3,
p. 72-75, 2006.
MACHADO, J. R.; OLIVEIRA, M. Brasil: Uma História em Construção. V. 2.
Editora do Brasil.
SOUZA, M. de M. e. Reis e rainhas no Brasil. Revista História Viva, São Paulo,
v. 3, p. 62-67, 2006.
WELK, R. A diversidade étnico-cultural e o currírulo. Espaços da escola. Ijuí, n.
28, p. 37-42, abr./jun. 1998.