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CARTA DO IBRE




                            O árduo caminho
                            para o crescimento

         O
                      crescimento tornou-        com intervenções rápidas e indo-       custas do básico continua inaba-
                      se a palavra de ordem      lores. Se há um risco na pregação      lável como cláusula pétrea não-
                      da agenda econômica        impetuosa do presidente sobre a        escrita do setor público brasileiro,
                      neste período pós-elei-    necessidade de o país acelerar seu     prolongando-se um erro que já vem
         toral, em parte como conseqüência       ritmo para 5%, sustentável, já em      sendo cometido há décadas.
         das ações e dos discursos do pró-       2007, é a de passar a impressão        Regras confusas — A lém da
         prio presidente reeleito, Luiz Inácio   para a sociedade de que este é um      educação, existem outras questões
         Lula da Silva. Consciente de que o      objetivo facilmente conquistável. O    institucionais que afetam o proces-
         desempenho pífio da economia foi        Brasil tem, na verdade, uma longa      so de crescimento econômico que
         um ponto fraco durante os emba-         e penosa agenda.                       merecem serem citadas. Dentre
         tes da campanha, o Presidente da           Existem, em nosso país, fa-         estas, seria importante destacar
         República parece decidido a fechar      lhas estruturais no arcabouço          as responsáveis por estimular os
         esta lacuna e colocar o Brasil num      institucional que dificultam a tão     investimentos e incentivar o au-
         ritmo de expansão anual de 5%,          sonhada trajetória de crescimento      mento da produtividade, uma vez
         como tantas vezes tem anunciado.        vigoroso. A primeira e mais bá-        que, no Brasil, as regras do jogo
         Para tanto, vem participando de         sica delas é a educação. Estudos       e o ambiente de negócios para o
         uma maratona de reuniões com os         econômicos indicam que 35% da          setor privado permanecem con-
         seus principais auxiliares, mani-       diferença de renda per capita en-      fusos e distorcidos. Um exemplo
         festando seu apoio a medidas que        tre o Brasil e os Estados Unidos1      emblemático é o das agências re-
         levem à desoneração tributária          possa ser explicada apenas pelas       guladoras e o do marco regulatório
         ou ao aumento do investimento           diferenças quantitativas de educa-     para setores como energia, comu-
         público. Nas palavras do próprio        ção, isto é, pela escolaridade média   nicações e saneamento. Em outras
         presidente, é preciso “destravar”       da força de trabalho. É importante     palavras, não existe um desenho
         o país.                                 frisar que este cálculo não leva em    claro do que se pretende fazer pa-
            A nosso ver, a identificação do      consideração as óbvias diferenças      ra viabilizar novos investimentos
         problema está correta. Em Cartas        de qualidade da educação pública       nestas áreas.
         do Ibre anteriores, já manifesta-       nos dois países que, se computa-          O curioso é que fora as isenções
         mos, diversas vezes, a preocupação      da, explicaria uma parcela ainda       tributárias — preocupantemente
         com a anemia econômica do Brasil        maior do diferencial de renda.         desacompanhadas de planos para a
         nas últimas décadas, e aventamos        E há estimativas indicando que         necessária adequação das despesas
         a hipótese de que o país seja preso     o investimento em educação no          — não parece haver uma discussão
         de uma armadilha de distribuição        Brasil equivale a uma aplicação fi-    mais aprofundada sobre como criar
         sem crescimento.                        nanceira com rendimento de 15%         um ambiente regulatório e institu-
            O problema, porém, é que as          ao ano2 , uma taxa de retorno que      cional propício ao investimento
         amarras que “travam” o cresci-          provavelmente não se encontra em       privado. Tem-se falado, é claro, em
         mento brasileiro infelizmente não       quase nenhuma outra atividade do       aumentar o investimento público,
         são meia dúzia de regras e proce-       setor público. Ademais, aparente-      o que é um objetivo válido. Mas, é
         dimentos incorretos, que uma ação       mente, a aberração histórica de        uma ilusão imaginar que apenas o
         expedita do governo possa resolver      privilegiar o ensino superior às       setor público possa suprir os cinco



Dezembro de 20 06    CONJU NTUR A ECONÔMICA                  8
Na verdade,
pontos percentuais de PIB que fa-
ria a nossa taxa de investimentos
                                            infelizmente,                       que sistemas muito generosos de
                                                                                Previdência condicionam níveis
chegar ao nível de 25%, patamar
mínimo para que o país possa ele-
                                          não há mágica.                        menores de poupança doméstica,
                                                                                o que não é difícil de compreender
var de forma significativa o ritmo
de crescimento potencial.
                                           O crescimento                        intuitivamente: as pessoas não pre-
                                                                                cisam poupar tanto para a velhice,
   Uma questão um pouco mais
complexa relacionada ao tema
                                           sustentável no                       porque o Estado provê os meios de
                                                                                existência a partir de uma determi-
do crescimento é a taxa nacional
de poupança. A teoria econômica
                                        Brasil depende hoje                     nada idade, com benefícios que se
                                                                                prolongam até o falecimento do be-
sugere que, em um mundo de eco-
nomias inteiramente abertas, com
                                          de uma extensa,                       neficiário. Ademais, a maior carga
                                                                                tributária necessária para financiar
mercados completos, não existe a
necessidade de poupança interna
                                         profunda, e difícil                    o sistema previdenciário, também,
                                                                                desestimula a poupança. Em outras
para o financiamento do cresci-
mento. Se existem oportunidades
                                               agenda                           palavras, com uma renda líquida
                                                                                de impostos menor, naturalmente,
econômicas em países menos de-                                                  poupa-se menos.
senvolvidos, condicionadas pelos        do mundo, mas há, de certa forma,           O sistema previdenciário bra-
retornos decrescentes do capital,       elementos dela no funcionamento         sileiro parece desenhado para de-
elas necessariamente seriam ex-         de grande parte das nações em           sestimular a poupança, com gastos
ploradas por recursos externos,         desenvolvimento. Nestes países,         de, aproximadamente, 12% do PIB
num processo que levaria à con-         ainda que as economias sejam            em um país com uma parcela da
vergência de níveis de renda e,         relativamente abertas, a taxa de        população acima de 65 anos de
conseqüentemente, de padrões de         retorno mais alta que atrairia de       5% a 6%. Nações com pirâmide
vida. No mundo real, condições          forma regular e segura os capitais      etária semelhante costumam gastar
parecidas com estas chegaram a          é comprometida por problemas de         a metade ou menos do que o Brasil
ocorrer em países que se formaram       regulação, direitos de propriedade,     desembolsa para seus aposentados
como desdobramentos do mundo            corrupção e canais obstruídos de        e pensionistas. A generosidade da
anglo-saxão, ou em nações euro-         crédito para pessoas e empresas.        Previdência brasileira se dá pelo
péias fortemente ligadas por laços         Em trabalho de 2006, Prasad,         relativamente elevado valor dos
culturais e históricos ao núcleo de     Rajan e Subramaniam 4 indicam           benefícios ou pela precocidade da
potências do continente. Nestes         que, efetivamente, a relação entre      sua concessão.
casos, longos períodos de déficits      poupança e crescimento não afeta            Por outro lado, uma mudança
em conta corrente, sem correções        os países de forma simétrica. Ao        institucional que propicie um me-
abruptas e violentas, permitiram        contrário das nações ricas, que         lhor funcionamento dos mercados
a absorção maciça de poupança           utilizam capitais externos, e on-       de capitais expandiria a poupan-
externa e a conseqüente conver-         de tipicamente as empresas são          ça doméstica, como apontam
gência para os padrões de vida do       movidas a recursos de terceiros,        Edwards, em 1996 e Paiva e Jahan,
mundo rico.                             as economias emergentes caracte-        em 2003.7 O mesmo pode ser dito
   A realidade, porém, é que, na        rizam-se por firmas que investem        sobre o aumento do esforço fiscal
maior parte do mundo emergente,         capital próprio, o que representa o     do governo, tal como verificado por
este funcionamento invejável dos        componente micro mais saliente do       Loyaza, Schimidt-Hebbel e Servén,
fluxos de capitais não se repete, co-   fato macroeconômico de que estes        em 2000.8 Em suma, existem ações
mo o prêmio Nobel Robert Lucas3         países precisam de poupança inter-      com o potencial de conduzir o Brasil
já observara em 1990. Em termos         na para crescer.                        a um patamar de poupança interna
teóricos, um país inteiramente          Desestímulo à poupança — Se             mais compatível com o crescimen-
fechado teria, por definição, uma       a poupança interna é necessária,        to acelerado de longo prazo. Esta
taxa de poupança igual à taxa de        é preciso agir nas variáveis que        agenda, porém, não é fácil de ser
investimento, com este ajuste sendo     são capazes de influenciar este         implantada, pois, por exemplo,
garantido permanentemente, gros-        componente fugidio do meta-             no caso de uma reforma ampla da
so modo, pelo nível da taxa de juro.    bolismo econômico. Sebastian            previdência, boa parte da sociedade
É claro que esta situação extrema       Edwards, em 19965, e Samwick,           brasileira tem dado sinais claros de
não se reproduz em nenhum país          em 20006, apontam evidências de         não estar disposta a promovê-la.



                                                                 9            Dezembro de 20 06    CONJ U N T U R A ECONÔM ICA
O que é
            Apesar da existência de todos
         os nós estruturais mencionados
                                                    incompatível                        brasileira acredita que o maior e
                                                                                        mais perverso dos ônus fiscais são
         acima, a discussão sobre cresci-
         mento econômico no Brasil tende
                                                   com um ritmo                         oriundos da carga de juros. Assim,
                                                                                        quando os dispêndios relativos a
         a se prender aos fatores mais ime-
         diatistas, como o alto nível real da
                                                   de crescimento                       esta conta começarem a declinar
                                                                                        substancialmente, aquele grupo
         taxa básica de juros. Indiferentes
         à evolução da teoria econômica
                                                     acelerado e                        de pessoas perceberá que o grande
                                                                                        vilão que operava contra o cresci-
         nas últimas décadas, que indica
         a neut ral idade da moeda, há
                                                sustentável no longo                    mento não era a taxa de juro. Neste
                                                                                        novo contexto, poderá ser mais fá-
         uma corrente de pensamento na
         sociedade que propõe um pouco
                                                   prazo é o atual                      cil convencer a sociedade que, na
                                                                                        verdade, o que é incompatível com
         mais de inflação para acelerar o
         crescimento.
                                                contrato social e não                   um ritmo de crescimento acelerado
                                                                                        e sustentável no longo prazo é o
            Na verdade, infelizmente, não
         há mágica. O crescimento sustentá-
                                                   a taxa de juros                      atual contrato social.

         vel no Brasil depende hoje de uma
         extensa, profunda, e difícil agenda.   segmentos que não estão no piso
         Uma indagação pertinente é por         da pirâmide de renda, incluindo         1
                                                                                          Pessoa, Samuel de Abreu. Perspectivas de
         que, considerando-se a ansiedade       até os que se situam bem no topo,       Crescimento no Longo Prazo para o Brasil:
         de parte significativa da sociedade    no caso notório dos chamados            Questões em Aberto. Ensaios Econômicos,
         em “destravar” o crescimento,          supersalários e aposentadorias do       EPGE, 2006.
         aquele conjunto de medidas passa       setor público que de tempos em          2
                                                                                          Barbosa Filho, Fernando de H. e Samuel
         freqüentemente ao largo do deba-       tempos voltam ao noticiário. Por        de Abreu Pessoa. Retornos da Educação no
         te? Uma possível explicação, que       mais que uma liderança política se      Brasil. IBRE/FGV(2006).
         pode ser derivada de trabalhos de      esforce sinceramente, como parece       3
                                                                                          Lucas, Robert. “Why Does Capital Not
         economia política como o de Béna-      ser o caso do presidente Lula para      Flow from Rich to Poor Countries?” Ameri-
         bou 9, é de que a maioria da popu-     liberar as forças do crescimento,       can Economic Review 80 (1990), 92–96.
         lação brasileira, no atual momento     existe uma dificuldade quase insu-      4
                                                                                          Eswar Prasad, Raghuram Rajan, and Arvind
         histórico, demanda mais igualdade      perável em se arbitrar as mudanças      Subramanian. “Foreign Capital and Econo-
         do que crescimento.                    naquele contrato social que freia o     mic Growth.” Research Department. IMF,
            O contrato social em vigência       país. Os interesses nele investidos     2006.
         no Brasil, que emana em parte          são poderosos, e o governo e o          5
                                                                                          Edwards, Sebastian. “Why are Latin
         considerável — mas não apenas          Congresso parecem impotentes            America’s savings rates so low? An inter-
         — da Constituição de 1988, con-        para implementar um roteiro de          national comparative analysis.” Journal of
         diciona a existência de um Estado      perdas e compensações que permi-        Development Economics, v. 51 (1996), p.
         grande, cujo papel de redistribuir     ta superar o atual impasse.             5-44.
         renda vem sendo ampliado por               A curto prazo, portanto, é difí-    6
                                                                                          Samwick, Andrew A. “Is Pension Reform
         pressões sociais de apelo político     cil ser otimista a ponto de prever      Conductive to Higher Saving?” Review of
         irresistível. A forma que o país en-   que o país eleve seu nível de cresci-   Economics and Statistics, v. 82 (2000), p.
         controu para financiar o sistema       mento sustentável substancialmen-       264-272.
         foi um aumento rápido, intenso e       te acima de 3% ao ano, que parece       7
                                                                                          Paiva, Claudio, and Jahan, Sarwat. “An
         com distorções da carga tributá-       ser o ritmo potencial presente. Não     Empirical Study of Private Saving in Brazil.”
         ria. Um fator agravante é que as       se vê no horizonte político, social     Brazilian Journal of Political Economy, v. 23
         transferências de renda entre os       e econômico os sinais de que serão      (2003), p. 121-132.
         cidadãos, mediadas pelo poder          desatados os nós de interesses que      8
                                                                                          Loyaza, Norman, Schmidt-Hebbel, Klaus,
         público, estão longe de ser racio-     travam as reformas fiscal, previ-       and Servén, Luis. “What Drives Private
         nalmente progressivas. É verdade       denciária, tributária e a agenda        Saving Across the World?” Review of
         que programas altamente focali-        microeconômica.                         Economics and Statistics, v. 82 (2000), p.
         zados, como o Bolsa-Família, vêm           Todavia, em função do processo      165-181.
         ganhando importância. Mas, por         de redução da taxa de juro, surge       9
                                                                                          Benabou, Roland. “Inequality, Technology,
         outro lado, parte considerável do      um sinal de esperança. Como se sa-      and the Social Contract.” NBER Working
         bolo redistribuído ainda vai para      be, parte significativa da sociedade    Paper No. 10371, 2004.




Dezembro de 20 06    CONJU NTUR A ECONÔMICA                 10

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  • 1. CARTA DO IBRE O árduo caminho para o crescimento O crescimento tornou- com intervenções rápidas e indo- custas do básico continua inaba- se a palavra de ordem lores. Se há um risco na pregação lável como cláusula pétrea não- da agenda econômica impetuosa do presidente sobre a escrita do setor público brasileiro, neste período pós-elei- necessidade de o país acelerar seu prolongando-se um erro que já vem toral, em parte como conseqüência ritmo para 5%, sustentável, já em sendo cometido há décadas. das ações e dos discursos do pró- 2007, é a de passar a impressão Regras confusas — A lém da prio presidente reeleito, Luiz Inácio para a sociedade de que este é um educação, existem outras questões Lula da Silva. Consciente de que o objetivo facilmente conquistável. O institucionais que afetam o proces- desempenho pífio da economia foi Brasil tem, na verdade, uma longa so de crescimento econômico que um ponto fraco durante os emba- e penosa agenda. merecem serem citadas. Dentre tes da campanha, o Presidente da Existem, em nosso país, fa- estas, seria importante destacar República parece decidido a fechar lhas estruturais no arcabouço as responsáveis por estimular os esta lacuna e colocar o Brasil num institucional que dificultam a tão investimentos e incentivar o au- ritmo de expansão anual de 5%, sonhada trajetória de crescimento mento da produtividade, uma vez como tantas vezes tem anunciado. vigoroso. A primeira e mais bá- que, no Brasil, as regras do jogo Para tanto, vem participando de sica delas é a educação. Estudos e o ambiente de negócios para o uma maratona de reuniões com os econômicos indicam que 35% da setor privado permanecem con- seus principais auxiliares, mani- diferença de renda per capita en- fusos e distorcidos. Um exemplo festando seu apoio a medidas que tre o Brasil e os Estados Unidos1 emblemático é o das agências re- levem à desoneração tributária possa ser explicada apenas pelas guladoras e o do marco regulatório ou ao aumento do investimento diferenças quantitativas de educa- para setores como energia, comu- público. Nas palavras do próprio ção, isto é, pela escolaridade média nicações e saneamento. Em outras presidente, é preciso “destravar” da força de trabalho. É importante palavras, não existe um desenho o país. frisar que este cálculo não leva em claro do que se pretende fazer pa- A nosso ver, a identificação do consideração as óbvias diferenças ra viabilizar novos investimentos problema está correta. Em Cartas de qualidade da educação pública nestas áreas. do Ibre anteriores, já manifesta- nos dois países que, se computa- O curioso é que fora as isenções mos, diversas vezes, a preocupação da, explicaria uma parcela ainda tributárias — preocupantemente com a anemia econômica do Brasil maior do diferencial de renda. desacompanhadas de planos para a nas últimas décadas, e aventamos E há estimativas indicando que necessária adequação das despesas a hipótese de que o país seja preso o investimento em educação no — não parece haver uma discussão de uma armadilha de distribuição Brasil equivale a uma aplicação fi- mais aprofundada sobre como criar sem crescimento. nanceira com rendimento de 15% um ambiente regulatório e institu- O problema, porém, é que as ao ano2 , uma taxa de retorno que cional propício ao investimento amarras que “travam” o cresci- provavelmente não se encontra em privado. Tem-se falado, é claro, em mento brasileiro infelizmente não quase nenhuma outra atividade do aumentar o investimento público, são meia dúzia de regras e proce- setor público. Ademais, aparente- o que é um objetivo válido. Mas, é dimentos incorretos, que uma ação mente, a aberração histórica de uma ilusão imaginar que apenas o expedita do governo possa resolver privilegiar o ensino superior às setor público possa suprir os cinco Dezembro de 20 06 CONJU NTUR A ECONÔMICA 8
  • 2. Na verdade, pontos percentuais de PIB que fa- ria a nossa taxa de investimentos infelizmente, que sistemas muito generosos de Previdência condicionam níveis chegar ao nível de 25%, patamar mínimo para que o país possa ele- não há mágica. menores de poupança doméstica, o que não é difícil de compreender var de forma significativa o ritmo de crescimento potencial. O crescimento intuitivamente: as pessoas não pre- cisam poupar tanto para a velhice, Uma questão um pouco mais complexa relacionada ao tema sustentável no porque o Estado provê os meios de existência a partir de uma determi- do crescimento é a taxa nacional de poupança. A teoria econômica Brasil depende hoje nada idade, com benefícios que se prolongam até o falecimento do be- sugere que, em um mundo de eco- nomias inteiramente abertas, com de uma extensa, neficiário. Ademais, a maior carga tributária necessária para financiar mercados completos, não existe a necessidade de poupança interna profunda, e difícil o sistema previdenciário, também, desestimula a poupança. Em outras para o financiamento do cresci- mento. Se existem oportunidades agenda palavras, com uma renda líquida de impostos menor, naturalmente, econômicas em países menos de- poupa-se menos. senvolvidos, condicionadas pelos do mundo, mas há, de certa forma, O sistema previdenciário bra- retornos decrescentes do capital, elementos dela no funcionamento sileiro parece desenhado para de- elas necessariamente seriam ex- de grande parte das nações em sestimular a poupança, com gastos ploradas por recursos externos, desenvolvimento. Nestes países, de, aproximadamente, 12% do PIB num processo que levaria à con- ainda que as economias sejam em um país com uma parcela da vergência de níveis de renda e, relativamente abertas, a taxa de população acima de 65 anos de conseqüentemente, de padrões de retorno mais alta que atrairia de 5% a 6%. Nações com pirâmide vida. No mundo real, condições forma regular e segura os capitais etária semelhante costumam gastar parecidas com estas chegaram a é comprometida por problemas de a metade ou menos do que o Brasil ocorrer em países que se formaram regulação, direitos de propriedade, desembolsa para seus aposentados como desdobramentos do mundo corrupção e canais obstruídos de e pensionistas. A generosidade da anglo-saxão, ou em nações euro- crédito para pessoas e empresas. Previdência brasileira se dá pelo péias fortemente ligadas por laços Em trabalho de 2006, Prasad, relativamente elevado valor dos culturais e históricos ao núcleo de Rajan e Subramaniam 4 indicam benefícios ou pela precocidade da potências do continente. Nestes que, efetivamente, a relação entre sua concessão. casos, longos períodos de déficits poupança e crescimento não afeta Por outro lado, uma mudança em conta corrente, sem correções os países de forma simétrica. Ao institucional que propicie um me- abruptas e violentas, permitiram contrário das nações ricas, que lhor funcionamento dos mercados a absorção maciça de poupança utilizam capitais externos, e on- de capitais expandiria a poupan- externa e a conseqüente conver- de tipicamente as empresas são ça doméstica, como apontam gência para os padrões de vida do movidas a recursos de terceiros, Edwards, em 1996 e Paiva e Jahan, mundo rico. as economias emergentes caracte- em 2003.7 O mesmo pode ser dito A realidade, porém, é que, na rizam-se por firmas que investem sobre o aumento do esforço fiscal maior parte do mundo emergente, capital próprio, o que representa o do governo, tal como verificado por este funcionamento invejável dos componente micro mais saliente do Loyaza, Schimidt-Hebbel e Servén, fluxos de capitais não se repete, co- fato macroeconômico de que estes em 2000.8 Em suma, existem ações mo o prêmio Nobel Robert Lucas3 países precisam de poupança inter- com o potencial de conduzir o Brasil já observara em 1990. Em termos na para crescer. a um patamar de poupança interna teóricos, um país inteiramente Desestímulo à poupança — Se mais compatível com o crescimen- fechado teria, por definição, uma a poupança interna é necessária, to acelerado de longo prazo. Esta taxa de poupança igual à taxa de é preciso agir nas variáveis que agenda, porém, não é fácil de ser investimento, com este ajuste sendo são capazes de influenciar este implantada, pois, por exemplo, garantido permanentemente, gros- componente fugidio do meta- no caso de uma reforma ampla da so modo, pelo nível da taxa de juro. bolismo econômico. Sebastian previdência, boa parte da sociedade É claro que esta situação extrema Edwards, em 19965, e Samwick, brasileira tem dado sinais claros de não se reproduz em nenhum país em 20006, apontam evidências de não estar disposta a promovê-la. 9 Dezembro de 20 06 CONJ U N T U R A ECONÔM ICA
  • 3. O que é Apesar da existência de todos os nós estruturais mencionados incompatível brasileira acredita que o maior e mais perverso dos ônus fiscais são acima, a discussão sobre cresci- mento econômico no Brasil tende com um ritmo oriundos da carga de juros. Assim, quando os dispêndios relativos a a se prender aos fatores mais ime- diatistas, como o alto nível real da de crescimento esta conta começarem a declinar substancialmente, aquele grupo taxa básica de juros. Indiferentes à evolução da teoria econômica acelerado e de pessoas perceberá que o grande vilão que operava contra o cresci- nas últimas décadas, que indica a neut ral idade da moeda, há sustentável no longo mento não era a taxa de juro. Neste novo contexto, poderá ser mais fá- uma corrente de pensamento na sociedade que propõe um pouco prazo é o atual cil convencer a sociedade que, na verdade, o que é incompatível com mais de inflação para acelerar o crescimento. contrato social e não um ritmo de crescimento acelerado e sustentável no longo prazo é o Na verdade, infelizmente, não há mágica. O crescimento sustentá- a taxa de juros atual contrato social. vel no Brasil depende hoje de uma extensa, profunda, e difícil agenda. segmentos que não estão no piso Uma indagação pertinente é por da pirâmide de renda, incluindo 1 Pessoa, Samuel de Abreu. Perspectivas de que, considerando-se a ansiedade até os que se situam bem no topo, Crescimento no Longo Prazo para o Brasil: de parte significativa da sociedade no caso notório dos chamados Questões em Aberto. Ensaios Econômicos, em “destravar” o crescimento, supersalários e aposentadorias do EPGE, 2006. aquele conjunto de medidas passa setor público que de tempos em 2 Barbosa Filho, Fernando de H. e Samuel freqüentemente ao largo do deba- tempos voltam ao noticiário. Por de Abreu Pessoa. Retornos da Educação no te? Uma possível explicação, que mais que uma liderança política se Brasil. IBRE/FGV(2006). pode ser derivada de trabalhos de esforce sinceramente, como parece 3 Lucas, Robert. “Why Does Capital Not economia política como o de Béna- ser o caso do presidente Lula para Flow from Rich to Poor Countries?” Ameri- bou 9, é de que a maioria da popu- liberar as forças do crescimento, can Economic Review 80 (1990), 92–96. lação brasileira, no atual momento existe uma dificuldade quase insu- 4 Eswar Prasad, Raghuram Rajan, and Arvind histórico, demanda mais igualdade perável em se arbitrar as mudanças Subramanian. “Foreign Capital and Econo- do que crescimento. naquele contrato social que freia o mic Growth.” Research Department. IMF, O contrato social em vigência país. Os interesses nele investidos 2006. no Brasil, que emana em parte são poderosos, e o governo e o 5 Edwards, Sebastian. “Why are Latin considerável — mas não apenas Congresso parecem impotentes America’s savings rates so low? An inter- — da Constituição de 1988, con- para implementar um roteiro de national comparative analysis.” Journal of diciona a existência de um Estado perdas e compensações que permi- Development Economics, v. 51 (1996), p. grande, cujo papel de redistribuir ta superar o atual impasse. 5-44. renda vem sendo ampliado por A curto prazo, portanto, é difí- 6 Samwick, Andrew A. “Is Pension Reform pressões sociais de apelo político cil ser otimista a ponto de prever Conductive to Higher Saving?” Review of irresistível. A forma que o país en- que o país eleve seu nível de cresci- Economics and Statistics, v. 82 (2000), p. controu para financiar o sistema mento sustentável substancialmen- 264-272. foi um aumento rápido, intenso e te acima de 3% ao ano, que parece 7 Paiva, Claudio, and Jahan, Sarwat. “An com distorções da carga tributá- ser o ritmo potencial presente. Não Empirical Study of Private Saving in Brazil.” ria. Um fator agravante é que as se vê no horizonte político, social Brazilian Journal of Political Economy, v. 23 transferências de renda entre os e econômico os sinais de que serão (2003), p. 121-132. cidadãos, mediadas pelo poder desatados os nós de interesses que 8 Loyaza, Norman, Schmidt-Hebbel, Klaus, público, estão longe de ser racio- travam as reformas fiscal, previ- and Servén, Luis. “What Drives Private nalmente progressivas. É verdade denciária, tributária e a agenda Saving Across the World?” Review of que programas altamente focali- microeconômica. Economics and Statistics, v. 82 (2000), p. zados, como o Bolsa-Família, vêm Todavia, em função do processo 165-181. ganhando importância. Mas, por de redução da taxa de juro, surge 9 Benabou, Roland. “Inequality, Technology, outro lado, parte considerável do um sinal de esperança. Como se sa- and the Social Contract.” NBER Working bolo redistribuído ainda vai para be, parte significativa da sociedade Paper No. 10371, 2004. Dezembro de 20 06 CONJU NTUR A ECONÔMICA 10