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Modulo 11 historia
Para começar a história
Assista ao vídeo a seguir.
O que vocês acharam? Quem conhece a cidade de São Paulo já deve ter ouvido esses nomes: são de ruas ou
avenidas importantes da capital paulista.
Agora, vocês sabem quem são essas pessoas? Ou que eventos são esses que foram marcados na carne da
cidade e passaram a nomear importantes vias de circulação dessa metrópole? Para testar sua memória, clique
aqui.
a
Para começar história
A toponímia é o estudo dos nomes de ruas, praças, cidades ou
outros espaços. Ela pode nos auxiliar a compreender como são
formadas as memórias. No caso dos nomes de ruas, que são
decididos pela municipalidade, é um braço do poder do Estado
quem escolhe e define pessoas e datas a serem lembradas,
instituindo uma determinada rememoração oficial.
As memórias não se constituem apenas do que é produzido
pelo poder; elas podem ser formadas por vários personagens e
são mantidas por uma diversidade grande de suportes,
materiais ou não. Podem também ser de característica
individual ou podem ser coletivas.
Para podermos entender melhor os usos da memória nas salas
de aula de História, propomos a leitura de alguns textos.
Clique aqui, para ler trechos do texto do historiador francês Jacques Le Goff sobre memória.
Clique aqui, para acompanhar como a pesquisadora brasileira Ecléa Bosi trabalha a memória em
relação à cidade de São Paulo em um artigo publicado no livro O tempo vivo na memória, pela Ateliê
Editorial, em 2003 e numa entrevista concedida a este curso.
Clique aqui, para ler um texto sobre a relação entre história e memória escrito pelo historiador
catalão Josep Fontana, publicado no livro História: análise do passado e projeto social, pela Edusc,
em 1998.
Concluída a leitura clique em Avançar no Módulo.
História e memória – Jacques Le Goff e Christian Laville
Um estudo já clássico de Jacques Le Goff, que tem o mesmo título deste módulo, apresenta interessantes
discussões sobre as relações entre memória e história.
Chama atenção o percurso que o autor descreve dos suportes da memória: da utilização da oralidade para a
coesão do grupo ao emprego dos modernos meios técnicos de coleta e preservação de dados.
A diferenciação/aproximação entre monumento e documento é outro trecho de destaque dessa obra, em que
Le Goff, um dos grandes destaques da Nova História, discorre sobre as
formas e a maneira que o historiador emprega em seu ofício.
Todo documento contém traços de monumento e todo monumento
também é um documento. Entre um e outro, é interessante notar o grau de
intencionalidade e a relação com o poder instituído: quanto maior a
intenção de preservar determinada memória e quanto mais essa
preservação depende das estruturas políticas, mais próximos estamos de
um monumento; ao contrário, a casualidade e a espontaneidade dos
registros não intencionais distanciam-nos de características de
monumentalidade.
Segundo Le Goff, o monumento é uma herança do passado que objetiva a elaboração e a perpetuação de
uma memória, e documentos são os registros definidos e escolhidos pelo historiador para a realização de
suas pesquisas. E, por ser escolha do historiador, o documento deve passar pelas mesmas críticas de um
monumento. Os documentos-monumentos analisados dessa forma permitem que as interferências do próprio
historiador em seus objetos de estudos e em suas fontes fiquem evidentes.
História e memória – Ecléa Bosi
Neste texto, Ecléa Bosi tece considerações interessantes sobre a memória da cidade.
Ela argumenta sobre a importância da memória oral, quando é capaz de funcionar como intermediária
cultural entre gerações e nos coloca uma arguta questão:
Por que definir a cidade somente em termos visuais?
A que responde elegante:
Ela possui um mapa sonoro compartilhado e vital para seus habitantes que, decodificando sons familiares,
alcançam equilíbrio e segurança.
Leituras: História e memória
Clique aqui para ler o texto “Memória da cidade: lembranças paulistanas” de Ecléa Bosi.
História e memória - Peter Burke
Vejamos o que outro estudioso do tema, o historiador inglês Peter
Burke, tem a nos dizer sobre a relação entre história e memória.
História e memória – Josep Fontana
A história é uma forma particular da memória coletiva e a memória
nunca é a evocação precisa de uma recordação. Com essas duas
advertências, Josep Fontana inicia o interessante epílogo à edição
brasileira de História: análise do passado e projeto social.
Nesse texto, ele aborda as possibilidades do ofício de historiador;
implicando-se nessa labuta há várias décadas, retoma Antonio Machado:
(...) ao examinar o passado para ver o que levava dentro, era fácil
encontrar nele um acúmulo de esperanças, nem alcançadas, nem falidas, isto é, um futuro.
Leituras: História e memória
Clique aqui para ler o texto “Reflexões sobre a história,
do além do fim da história” de Josep Fontana.
Retomando aquela história
Memória e história são termos largamente usados na produção acadêmica e
no ensino de História.
Lembrando que memória e história têm suas distinções, propomos algumas
atividades sobre as várias vertentes da memória:
Memória e cidades
Memórias da escola
Memórias da infância
Memória e datas comemorativas
Memória e batalhas pela memória
Cada um desses itens contém uma ou mais sugestões de atividades as quais, por sua vez, abrem trilhas para
outros conhecimentos.
Memória e cidades
A cidade é um campo rico para discutir a memória histórica com os alunos. Por exemplo, ao ouvirmos
Londres, logo nos vêm as referências do Big Ben, dos ônibus vermelhos de dois andares, da guarda com
seus chapéus qual capacetes de pele. Do Rio de Janeiro nos vêm as imagens de suas belas praias, do
Corcovado e do Cristo Redentor. De Paris, a Torre Eifel. A violência e a marginalização social são imagens
recorrentes dessas e de outras cidades. Por que essas imagens são uma ocorrência quase instantânea quando
nos referimos a tais lugares? E da cidade de São Paulo ou da sua cidade, quais são as imagens recorrentes?
Nomes de logradouros, de ruas, praças, monumentos remetem ao passado do lugar ou referendam memórias
de lugares longínquos. Na capital paulista, como em outras cidades, é comum ruas com nomes de outros
países e lugares. Para estimular a reflexão sobre a memória histórica, propomos a leitura do conto “As
cidades e a Memória” , do livro As cidades invisíveis, de Italo Calvino.
Lido o texto, propomos duas atividades sobre a memória da cidade:
Clique aqui, para uma atividade usando cartões-postais.
Clique aqui, para uma atividade sobre nomes de ruas.
Após, clique em Avançar no Módulo.
Atividades
Clique sobre o título para ler o conteúdo.
Trívia: você sabe qual é a única imagem permanente de uma cidade como São Paulo? Sua única
permanência é a mudança permanente. Paradoxal? Pois é a mudança que varre determinadas memórias e
recria novas. Ou, no dizer de Italo Calvino, novas cidades incomunicáveis entre si, regidas por novos
“deuses”. “Deuses” como o dinheiro, McDonald´s, shopping centers, avenidas paulistas, Masps.
Toponímia
Lembrar e esquecer, persistir ou renovar são pares opostos e, de vez em quando complementares.
Nomes de ruas por vezes remetem a memórias, porém nem sempre conseguimos saber o motivo de terem
esse ou aquele nome, nem seus significados.
Por vezes, em cidades grandes como São Paulo, fazemos confusões com o
nome de suas praças, ruas e avenidas, outros logradouros. Por exemplo,
mesmo um morador que reside há décadas em São Paulo confundia-se
com as praças 14 Bis e Campos de Bagatelle. Na praça Campos de
Bagatelle, há uma réplica do 14 Bis. Para um desavisado morador da
mesma cidade, não é difícil fazer confusão entre as zonas central e norte
da cidade de São Paulo, onde estão localizadas respectivamente a praça
14 Bis e Campos de Bagatelle. Campos de Bagatelle e 14 Bis relembram
e homenageiam o feito de Santos Dumont: nos campos de Bagatelle, na
cidade de Paris, decolou e aterrissou com seu 14 Bis, realizando o
primeiro voo mecânico de um equipamento mais pesado que o ar nos idos de 1906. E isso é só uma anedota
sobre as dificuldades dos residentes em cidades como São Paulo para encontrar seus destinos. Também
serve refletir sobre a construção de memórias coletivas. Com ela começaremos nossa conversa sobre
toponímia.
Praça em bairro residencial na cidade de Guarulhos, no estado de São Paulo
Para uma atividade sobre as ruas e a revolução de 1932, clique aqui.
Para outras atividades sobre as ruas e a memória, clique aqui.
Atividade – toponímia
Podemos pensar sobre alguns nomes que também apareceram no vídeo dos “quatro da História”. Os
nomes 23 de maio e 9 de julho compõem com vários outros um painel
interessante sobre uma memória muito cara aos paulistas e aos
paulistanos em particular ou, pelo menos, aos paulistas e paulistanos que
ajudaram a definir outros nomes de logradouros em homenagem aos
eventos e às pessoas relacionadas à Revolução de 1932.
Uma atividade interessante pode ser uma busca virtual em sites na
internet sobre a Revolução de 1932, se espraia pela historiografia e chega ao fim, utilizando o Google
para os nomes mais frequentes nessas pesquisas. Teremos então resultados como os quarteirões da zona
oeste da cidade de São Paulo com os nomes dos chamados mártires de 23 de maio: Martins, Miragaia,
Dráuzio, Camargo, que formaram o MMDC, e Alvarenga, que se não se imortalizou com a sigla, sendo
muito lembrado por todo paulistano que acompanha o trânsito de São Paulo pelas rádios; qualquer
encrenca e a Alvarenga para, atravancando a vida de muita gente.
Clique no ícone ao lado e veja outras possibilidades para esta atividade.
Toponímia – outras possibilidades
Outra atividade envolvendo nomes de ruas e busca na internet
pode partir de sugestões dos alunos, de um campeonato de
popularidade na internet: ver qual nome dentre os que os alunos
lembram livremente retorna maior número de páginas ou de
outra proposição qualquer feita pelo professor.
Sugestões interessantes são nomes associados à Proclamação da
Independência, à Proclamação da República, aos presidentes, às
bandeiras...
Além disso, questões interessantes podem ser elaboradas a partir
de algumas observações e de alguns dados levantados sobre a
toponímia:
O que se celebra nomeando importantes estradas de São Paulo
com o nome de bandeirantes, como Raposo Tavares e Anhanguera? Será que é o apresamento e a
escravização de indígenas?
Por que rodovias importantes, como a Dutra e a Castelo Branco, receberam nomes de presidentes
militares?
Por que um bairro de São Paulo chama-se Vila Romana? E tem ruas chamadas de Clélia, Aurélia, Tito
ou Espártaco?
Memória e regime militar
No Caderno do Professor da disciplina de História, da 8ª série (9º ano -
Ensino Fundamental, vol. 3, 2009, página 24), você encontrará uma
Situação de Aprendizagem que envolve a discussão sobre a memória da
ditadura militar brasileira. Observe que a abordagem levanta aspectos
múltiplos da ditadura militar e propõe uma atividade de montagem de
painel com imagens que retratam o período com base em depoimentos.
Trabalha-se, assim, com a memória viva, que pode ser coletada por alunos
junto a pessoas que viveram o período da ditadura.
A atividade possibilita aos alunos, além do trato com o conteúdo (o tema da
ditadura, por meio da memória sobre o regime militar), perceberem as
relações entre passado e presente, permanências e rupturas. Entre os
múltiplos assuntos sobre a memória do período da ditadura militar, que
poderão surgir no levantamento dos alunos, estão a ação dos órgãos de
repressão política, as atividades de grupos guerrilheiros e os desaparecidos políticos.
Caderno do Professor,
8ª série (9º ano), vol. 3
Programa Via Legal
Sobre os assuntos citados anteriormente, veja abaixo um trecho do programa Via Legal, da TV Cultura, que
aborda esses temas.
http://www.youtube.com/watch?v=pzuxfKWbu7o
Proposta de trabalho
Veja que a memória, nesse caso, é ativada por intermédio da oralidade – os depoimentos
da Sra. Laura Petit, de D. Ilda, do ex-guerrilheiro Antonio Teodoro Castro, este à época
militante do PC do B e participante da guerrilha do Araguaia, resultam em fontes
históricas que sugerem imagens sobre o período, ao mesmo tempo em que podem se
materializar em documentos escritos a partir da
transcrição das falas. Observando o programa, que
pontos poderiam ser levantados para discussão com
seus alunos, sobre o uso da memória histórica?
Outra proposta interessante de trabalho com os
alunos pode surgir de outras formas de memória –
por exemplo, relatos de atividades cotidianas. Clique nos ícones a seguir para ler alguns relatos.
“Memórias da escola” “Memórias da infância”
Forum
O belo texto de Elias Canetti remete às memórias sentimentais, aquelas memórias que ficam gravadas por se
associarem a sentimentos muito intensos, no caso sentimentos ternos, amorosos. Situações aflitivas também operam
reforços em nossa memória, como aquelas associadas ao documentário visto anteriormente sobre a repressão
durante a ditadura militar.
Eleja uma lembrança sua, dessas que você acha interessante contar aos amigos, e transforme-a num texto,
postando aqui no Fórum.
Veja que aproveitamos um relato de vivência escolar de um dos autores para trabalhar algumas questões
interessantes sobre o regime militar.
Discursiva
Esse relato de memória pode ser interessante para pensarmos a ditadura militar em seus efeitos mais comezinhos,
mais corriqueiros. Muitos dos elementos podem não ser exclusivos da ditadura militar, mas compõem um bom painel
da escola da época: disciplinadora e autoritária.
Havia uma proposta de educação que se traduziu na Lei de Diretrizes e Bases de 1971 (5692/71), que, entre outras
determinações, instituía o ensino técnico profissionalizante obrigatório para o Ensino Médio – na época, 2º grau – ;
abolia disciplinas – História e Geografia, por exemplo –; criava outras, como: Educação para o Trabalho, Educação
Moral e Cívica e Organização Política e Social Brasileira.
Havia uma forma de educar, havia uma forma de ver o mundo. Pensando nisso, responda a seguir uma questão
discursiva.
Para iniciar esta atividade, clique no botão Iniciar, localizado no rodapé desta página.
1.
A partir dos versos e do conteúdo de memória do texto “Memórias da escola”, responda:
1) Quais elementos ritualizados das ações descritas podem ser relacionados às expectativas do regime militar em
relação á educação?
2) Caracterize o tipo de escola, de ensino e de aprendizagem apresentado pelos versos da canção presentes no
texto.
Objetiva
1. No entender do historiador francês Jacques Le Goff os materiais da memória podem apresentar-se:
os.
Sob a forma única de esculturas.
Apenas sob a forma de monumentos.
Sob a forma exclusiva da arquitetura monumental.
Apenas sob a forma de documentos.
2. Segundo Christian Laville, no ensino de história dos países ocidentais, passou-se da ideia do “cidadão súdito”
para a de “cidadão participante”. Sobre essa passagem, é correto afirmar que:
conforme os estados nacionais se consolidavam, a história como elemento de instrução passa a
ganhar mais força, se retroalimentando da força do estado.
o ensino de História se enriquece com a mudança de função de uma história meramente factual,
objetivando uma instrução nacional para uma história mais abrangente e aberta com vistas à educação
para a cidadania.
nos países desenvolvidos como os Estados Unidos e a França, não há mais disputas em relação aos
conteúdos de história, predominando as visões de uma história internacionalista.
a ideia de “cidadão participante” está relacionada à participação em comemorações cívicas e na
rememoração dos mitos nacionais.
a ideia de “cidadão súdito” aplica-se apenas aos regimes monárquicos.
3. Segundo Christian Laville há “um primeiro paradoxo: enquanto na maioria dos países se diz que o objetivo do
ensino da história é desenvolver nos alunos as capacidades de que o cidadão precisa para participar da
sociedade de maneira autônoma e refletida, o ensino da história, ainda é, muitas vezes, reduzido a uma
narrativa fechada, destinada a moldar as consciências e a ditar as obrigações e os comportamentos para com a
nação. Observou-se que, quando, em nosso mundo, há um debate público em torno do ensino da história, é
essa narrativa que está quase sempre em jogo”. São exemplos dessas narrativas fechadas, exceto:
A elaboração de manuais didáticos para a ex-Alemanha Oriental totalmente baseados no pensamento
liberal.
No Japão, a censura do Ministério da Educação sobre conteúdos dos manuais escolares investe na
ocultação de imagens negativas e no uso de eufemismos para edulcorar uma história sangrenta.
A reconstituição de estados e, portanto, de nações e nacionalismos provocou a reimpressão de obras
ultrapassadas do ponto de vista historiográfico, mas que versavam sobre os heróis corretos.
O estudo de São Paulo a partir dos relatos orais de velhos que partilham suas vivências e fazem
ampliar os horizontes da cultura, em memórias felizes ou tristes.
A valorização dos pais da pátria ou patriarcas da independência estadunidense.
4. Dos monumentos abaixo, qual faria menção direta ao culto de uma memória paulista, em contraponto à história
nacional:
Complexo Viário Ayrton Senna.
Avenida Vinte e Três de Maio.
Praça Campo de Bagatelle.
Rua Voluntários da Pátria.
Túnel Presidente Jânio Quadros.
5. São exemplos de monumentos de culto à memória histórica paulista articulada à memória nacional:
Museu do Ipiranga.
Praça MMDC.
Avenida Nove de Julho.
Rodovia Raposo Tavares.
Avenida Vinte e Três de Maio.
6. A metodologia empregada por Ecléia Bosi em seu estudo "Memória da cidade: lembranças paulistanas” baseia-
se:
Na história de vida de adolescentes.
Na história escolar de crianças.
No estudo de documentos escritos.
História de vida de idosos.
No estudo de monumentos.
7. Para Ecléa Bosi a memória sobre a cidade de São Paulo:
Não pode ser definida pelas suas sonoridades.
Só pode ser definida pelo estudo dos monumentos arquitetônicos.
Pode ser definida apenas pela documentação cartorial.
Pode ser definida também pelo seu mapa sonoro.
Só pode ser definida pela memória visual.
8. No conto "As cidades e a Memória", Ítalo Calvino:
Propõe uma relação entre Maurília e a cidade de São Paulo.
Sugere que há um elo entre o passado e a memória presente.
Propõe o abandono da memória histórica.
Não é possível estabelecer elo entre passado e presente.
Promove uma ruptura entre passado e presente incomunicáveis entre si.
9. A eleição do 20 de novembro para celebrar a memória de Zumbi dos Palmares e o Dia da Consciência Negra:
Foi possível devido a vitória do “politicamente correto” em nossa sociedade.
Foi possível devido, entre outros, as reivindicações da militância negra em prol da história da
população negra brasileira.
Foi possível pelas concessões feitas pela elite brasileira à história laudatória de mitos e heróis
nacionais.
Serve para ações comemorativas laudatórias com fundo mítico.
Foi possível devido à concessão do Estado tal como aconteceu com o 13 de Maio.
10. A memória sobre a escravidão brasileira demonstra que:
Como nos EUA as leis brasileiras incentivaram a escolarização dos cativos.
A passividade dos cativos e foi a marca de todo o período escravista.
Decretos como o de n. 1.331, de 17 de fevereiro de 1854, foi um marco na escolarização da
população afro-brasileira.
A noção de “negociação” e atitudes de dissimulação reforçam a incapacidade do negro para enfrentar
as amarras do cativeiro.
Houve uma ação premeditada do estado em barrar acesso à instrução da população de origem
africana e seus descendentes no Brasil.
Memórias e datas comemorativas
Por falar em história e memória, um elemento importante e elo entre ambas são as datas comemorativas.
Como nos informa Circe Bittencourt: "Queiramos ou não, as datas são suportes da memória".
Leituras: Memórias e datas comemorativas
Clique aqui para ler o texto de Circe Bittencourt.
Clique aqui para ler o texto Dia da Consciência Negra – 20 de novembro (1995).
Se tradicionalmente pensamos nessas datas como ritual laudatório e ultrapassado para compreensão da
História, o fato é que elas são também parte de uma memória social. Daí, como sugere a pesquisa, se faz
necessária uma reflexão sobre elas e não apenas o ato simplista de negá-las em prol de uma “história
progressista”, “militante”. Lembrando: a história é feita também de atos pouco “progressistas” que o
historiador também necessita compreender. Mas as datas comemorativas também podem expressar ações de
luta de movimentos da sociedade civil organizada. Uma dessas datas é o dia 20 de novembro em torno da
memória e trajetória de lutas sociais da população afro-brasileira, o Dia da Consciência Negra.
Atividade
Você já parou para pensar nessas datas comemorativas? Como elas podem ser trabalhadas como reflexão
nas aulas de História? Que tal pensar uma atividade sobre o 20 de Novembro, para ajudar a discutir as datas
comemorativas?
Clique sobre o título para ler o conteúdo.
Sugestão 1
Poderíamos primeiro nos indagar o que sabemos sobre o 20 de Novembro. Ideias reflexivas, pré-
conceitos, preconceitos, estereótipos, imagens recorrentes. Certamente uma dessas imagens que nos
ocorre é a de Zumbi dos Palmares.
Sugestão 2
Que tal um conjunto de entrevistas com pessoas ligadas à defesa da população afro-descendente
brasileira, sobre o porquê do 20 de Novembro. Para tanto, elabore um roteiro de questões que possam
ajudar a pensar os motivos que levaram ao estabelecimento da data.
Sugestão 3
Levantados os motivos, vamos pensar em seus significados. Um levantamento da produção de livros
didáticos de história de diferentes períodos poderia ajudar a mapear como foi pensada e ensinada a
presença da população negra ao longo da história brasileira.
Sugestão 4
Procure levantar dados sobre o contexto histórico da época em que foi instituída a data comemorativa
em 1995. Priorize nesse contexto a atuação dos movimentos sociais em torno da população afro-
brasileira.
Sugestão 5
Após fazer isso, cruze e analise os dados levantados para responder a questão: por que o 20 de
Novembro não se insere no rol das datas laudatórias construídas, por exemplo, pelo poder
governamental, como o 13 de Maio? Por falar em 13 de Maio, veja como ele também acabou sendo
apropriado pelos movimentos sociais que ressignificaram seu conteúdo – de data concedida para
balizar a memória das condolências do poder imperial ao sofrimento dos cativos ao Dia Nacional de
Denúncia contra o Racismo no Brasil.
Memórias e batalhas pela memória
Em 2001, o jornal O Estado de S. Paulo do dia 26 de agosto reproduziu uma matéria da Newsweek sobre
a polêmica em torno de livros didáticos de História japoneses.
A matéria reproduzida pelo jornal O Estado de S. Paulo (HAJARI, N. Asiáticos travam guerra contra a
História, Newsweek, Reproduzido em O Estado de S. Paulo, 26.08.2001, p. A-18.) poderia ter como
título “guerra pelo passado” ou ainda “guerra pela memória”, uma certa disputa pela memória que vai de
encontro às pretensões políticas de diferentes governos, ser cultuado por gerações de estudantes.
Aproveitando uma pergunta do artigo: "As enormes lacunas e distorções da memória motivam perguntas
óbvias: existe uma amnésia cultural proposital atuando na região? Os asiáticos em particular não
conseguem encarar o passado?", estendemos o questionamento para todos os cantos do planeta e para
todos os governos, pois o caso japonês não é exemplar, apenas ilustra o quanto a memória social é
marcada por disputas e, no entender do historiador Marc Ferro, por manipulações:
Região onde ocorre a polêmica
Controlar o passado ajuda a dominar o presente, a
legitimar tanto as dominações como as rebeldias. Ora,
são os poderosos dominantes Estados, Igrejas, partidos
políticos ou interesses privados que possuem e
financiam veículos de comunicação e aparelhos de
reprodução, livros escolares e histórias em quadrinhos,
filmes e programas de televisão. Cada vez mais
entregam a cada um e a todos um passado uniforme.
(A manipulação da História no ensino e nos meios de
comunicação. São Paulo: Ibrasa, 1999, p.11).
Atividade
A memória como manipulação do passado pode também ser tratada com os
alunos. No Caderno do Professor de História, 3ª. série (Ensino Médio, vol. 2,
2009), à página 25 você encontrará uma Situação de Aprendizagem sobre a
memória da Segunda Guerra pelo cinema. A abordagem do tema começa com
a seguinte indagação:
Como você sabe, há muitos filmes que tratam do holocausto e poucos relativos
ao bombardeiro de Hiroshima e Nagasaki. Por quê? (p. 25).
Bem como acontece com os livros didáticos de História japoneses e de outros
países, como o Brasil sobre a Guerra do Paraguai que durante muito tempo
silenciaram sobre os massacres cometidos à população civil paraguaia, a
produção cinematográfica sobre a Segunda Guerra consumida no Brasil é
majoritariamente de origem estadunidense, daí o lembrete:
Bombardeio de Hiroshima
Os filmes retratam os campos de concentração de judeus na Alemanha mas não os campos de japoneses
isolados nos Estados Unidos, durante a Segunda Guerra Mundial. Como uma nação fundada nos princípios
da Liberdade e da Democracia seria capaz de divulgar tal fato? (p. 27).
Locais de Memória
Após realizar a leitura dos textos teóricos apresentados neste módulo e de acompanhar algumas experiências
didáticas, escolha 2 ou 3 locais de memória constantes em nosso banco de dados do fórum do módulo 9 e
elabore uma seqüência didática que empregue os locais escolhidos.
Seqüência Didática e História:
Aulas que desafiam e ensinam
Conjunto de aulas planejadas para ensinar um determinado conteúdo sem que necessariamente tenha um
produto final. Sua duração pode variar de dias a semanas e várias seqüências podem ser trabalhadas durante
o ano, de acordo com o planejado ou com as necessidades da classe. A seqüência didática apresenta desafios
cada vez maiores aos alunos, permitindo a construção do conhecimento.
Primeiro, é necessário efetuar um levantamento prévio dos conhecimentos dos alunos e a partir desse
planejar uma série de aulas com desafios e/ou problemas, atividades diferenciadas, jogos, uso de diferentes
linguagens e gêneros de textos e análise e reflexão. Gradativamente, deve-se aumentar a complexidade dos
desafios e dos textos permitindo um aprofundamento do tema proposto.
A seqüência organizada e planejada deliberadamente permite ainda construir com o aluno as ferramentas
(habilidades/competências) da pesquisa científica. Permite vivências, visando aspectos conceituais e
procedimentais, fundamentais para a aprendizagem do aluno e desenvolver sua autonomia. No nosso caso,
as ferramentas do historiador pesquisador tornando mais significante a presença da disciplina de História no
currículo e seu estudo, fugindo da mera repetição e da idéia de uma História pronta e acabada,
desenvolvendo assim a consciência crítica.
CONHECIMENTO PRÉVIO E INTERESSE DOS ALUNOS
Os conteúdos trabalhados em sala de aula devem contribuir para a formação de cidadãos conscientes,
informados e capazes de transformar a sociedade. Muitos professores montam suas aulas tendo como centro
o interesse dos alunos acreditando que assim, teriam como refletir sobre o meio em que vivem e o que os
cerca. Essa prática nem sempre garante bons resultados, em geral ao se valorizar apenas o conhecimento que
os alunos trazem, fica-se na superficialidade e presos ao imediatismo.
O currículo aparece como ditado pelas circunstâncias, tratando de acontecimentos pontuais e não como um
roteiro de trabalho construído a partir da relação entre a proposta pedagógica e a realidade. É necessário que
a equipe escolar defina o seu Projeto Político Pedagógico de acordo com a realidade da comunidade onde
está inserida, a prática e com as necessidades de seus alunos.
TRABALHO INTERDISCIPLINAR
A seqüência didática permite a interdisciplinaridade quando, ao tratar de um tema dentro de uma disciplina,
o professor recorre a conhecimentos de outra. Interdisciplinaridade é a articulação entre as disciplinas que
permite trabalhar o conhecimento globalmente e superando a fragmentação. Só um tema gerador trabalhado
pela ótica de diferentes disciplinas não garante a interdisciplinaridade.
O tema gerador é um ponto de partida, não o centro do estudo e nem deve ser longo, para não cansar.
Durante o planejamento coletivo por disciplinas, áreas e entre áreas permite determinar as possibilidade de
trabalho interdisciplinar durante o ano, a partir das pesquisas dos alunos, do professor ou em parceria.
TEMPO DIDÁTICO: OBJETIVOS CLAROS
Uma das maiores dificuldades do planejamento é a definição do tempo necessário para o trabalho com um
determinado tema, atividade, projeto. A definição de três pontos são essenciais: o que quero ensinar, como
cada aluno aprende, como será feito o acompanhamento e avaliação dos alunos. Ou seja, primeiro
estabelecemos habilidades e competências, as noções e conceitos, os objetivos e os conteúdos que
alicerçarão essa construção. Depois, pensar nas atividades a serem desenvolvidas baseadas em como os
alunos aprendem, além das linguagens e gêneros de textos para efetuar essa aprendizagem.
O tempo deverá permitir a avaliação constante da produção dos alunos e saber as intervenções que se farão
necessárias caso surjam dificuldades nessa construção. Sempre é recomendável planejar o encerramento
antes do final do bimestre ou semestre, prevendo uma folga para as intervenções e correções de rumo.
Finalizando
Neste módulo nossa proposta foi refletir sobre a importância da memória e seus usos nas aulas de História.
As relações entre memória e história foram apresentadas através de alguns eixos:
importância do espaço em que vivemos.
importância das recordações da infância.
memória escolar.
paisagem a memória: cidade, toponímia.
importância dos momentos que marcam a sociedade e o contexto em que vivemos: Revolução
Constitucionalista de 1932, regime militar e II Guerra Mundial.
No próximo módulo discutiremos as relações entre a história local, regional e nacional e retomaremos
alguns aspectos aqui discutidos. Até lá.
Referências Bibliográficas
BITTENCOURT, Circe (org.). Dicionário de datas da história do Brasil. São Paulo, Contexto,
2007.
CALVINO, Ítalo. As cidades invisíveis. São Paulo, Cia das Letras, 1990.
BOSI, Ecléa. O tempo vivo da memória. 2. ed. São Paulo, Ateliê, 2003.
FERRO, Marc. A manipulação da história no ensino e nos meios de comunicação. São Paulo, Ibrasa,
1999.
LE GOFF, Jacques. História e memória. 2. ed. Campinas, UNICAMP, 1992.
São Paulo (Estado). Secretaria de Educação. Caderno do Professor: História, Ensino Fundamental -
8ª. Série, volume 3. São Paulo, SEE, 2009.
São Paulo (Estado). Secretaria de Educação. Caderno do Professor: História, Ensino Médio - 3ª.
Série, volume 2. São Paulo, SEE, 2009.
LAVILLE, Christian. A guerra das narrativas: debates e ilusões em torno do ensino de História.
Rev. bras. Hist. [online]. 1999, vol.19, n.38, p. 125-138. ISSN 0102-0188.

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Modulo 11 historia

  • 1. Modulo 11 historia Para começar a história Assista ao vídeo a seguir. O que vocês acharam? Quem conhece a cidade de São Paulo já deve ter ouvido esses nomes: são de ruas ou avenidas importantes da capital paulista. Agora, vocês sabem quem são essas pessoas? Ou que eventos são esses que foram marcados na carne da cidade e passaram a nomear importantes vias de circulação dessa metrópole? Para testar sua memória, clique aqui.
  • 2.
  • 3.
  • 4.
  • 5. a Para começar história A toponímia é o estudo dos nomes de ruas, praças, cidades ou outros espaços. Ela pode nos auxiliar a compreender como são formadas as memórias. No caso dos nomes de ruas, que são decididos pela municipalidade, é um braço do poder do Estado quem escolhe e define pessoas e datas a serem lembradas, instituindo uma determinada rememoração oficial. As memórias não se constituem apenas do que é produzido pelo poder; elas podem ser formadas por vários personagens e são mantidas por uma diversidade grande de suportes, materiais ou não. Podem também ser de característica individual ou podem ser coletivas. Para podermos entender melhor os usos da memória nas salas de aula de História, propomos a leitura de alguns textos. Clique aqui, para ler trechos do texto do historiador francês Jacques Le Goff sobre memória. Clique aqui, para acompanhar como a pesquisadora brasileira Ecléa Bosi trabalha a memória em relação à cidade de São Paulo em um artigo publicado no livro O tempo vivo na memória, pela Ateliê Editorial, em 2003 e numa entrevista concedida a este curso. Clique aqui, para ler um texto sobre a relação entre história e memória escrito pelo historiador catalão Josep Fontana, publicado no livro História: análise do passado e projeto social, pela Edusc, em 1998. Concluída a leitura clique em Avançar no Módulo. História e memória – Jacques Le Goff e Christian Laville Um estudo já clássico de Jacques Le Goff, que tem o mesmo título deste módulo, apresenta interessantes discussões sobre as relações entre memória e história. Chama atenção o percurso que o autor descreve dos suportes da memória: da utilização da oralidade para a coesão do grupo ao emprego dos modernos meios técnicos de coleta e preservação de dados. A diferenciação/aproximação entre monumento e documento é outro trecho de destaque dessa obra, em que
  • 6. Le Goff, um dos grandes destaques da Nova História, discorre sobre as formas e a maneira que o historiador emprega em seu ofício. Todo documento contém traços de monumento e todo monumento também é um documento. Entre um e outro, é interessante notar o grau de intencionalidade e a relação com o poder instituído: quanto maior a intenção de preservar determinada memória e quanto mais essa preservação depende das estruturas políticas, mais próximos estamos de um monumento; ao contrário, a casualidade e a espontaneidade dos registros não intencionais distanciam-nos de características de monumentalidade. Segundo Le Goff, o monumento é uma herança do passado que objetiva a elaboração e a perpetuação de uma memória, e documentos são os registros definidos e escolhidos pelo historiador para a realização de suas pesquisas. E, por ser escolha do historiador, o documento deve passar pelas mesmas críticas de um monumento. Os documentos-monumentos analisados dessa forma permitem que as interferências do próprio historiador em seus objetos de estudos e em suas fontes fiquem evidentes. História e memória – Ecléa Bosi Neste texto, Ecléa Bosi tece considerações interessantes sobre a memória da cidade. Ela argumenta sobre a importância da memória oral, quando é capaz de funcionar como intermediária cultural entre gerações e nos coloca uma arguta questão: Por que definir a cidade somente em termos visuais? A que responde elegante: Ela possui um mapa sonoro compartilhado e vital para seus habitantes que, decodificando sons familiares, alcançam equilíbrio e segurança. Leituras: História e memória Clique aqui para ler o texto “Memória da cidade: lembranças paulistanas” de Ecléa Bosi. História e memória - Peter Burke Vejamos o que outro estudioso do tema, o historiador inglês Peter Burke, tem a nos dizer sobre a relação entre história e memória. História e memória – Josep Fontana A história é uma forma particular da memória coletiva e a memória nunca é a evocação precisa de uma recordação. Com essas duas advertências, Josep Fontana inicia o interessante epílogo à edição brasileira de História: análise do passado e projeto social. Nesse texto, ele aborda as possibilidades do ofício de historiador; implicando-se nessa labuta há várias décadas, retoma Antonio Machado: (...) ao examinar o passado para ver o que levava dentro, era fácil
  • 7. encontrar nele um acúmulo de esperanças, nem alcançadas, nem falidas, isto é, um futuro. Leituras: História e memória Clique aqui para ler o texto “Reflexões sobre a história, do além do fim da história” de Josep Fontana. Retomando aquela história Memória e história são termos largamente usados na produção acadêmica e no ensino de História. Lembrando que memória e história têm suas distinções, propomos algumas atividades sobre as várias vertentes da memória: Memória e cidades Memórias da escola Memórias da infância Memória e datas comemorativas Memória e batalhas pela memória Cada um desses itens contém uma ou mais sugestões de atividades as quais, por sua vez, abrem trilhas para outros conhecimentos. Memória e cidades A cidade é um campo rico para discutir a memória histórica com os alunos. Por exemplo, ao ouvirmos Londres, logo nos vêm as referências do Big Ben, dos ônibus vermelhos de dois andares, da guarda com seus chapéus qual capacetes de pele. Do Rio de Janeiro nos vêm as imagens de suas belas praias, do Corcovado e do Cristo Redentor. De Paris, a Torre Eifel. A violência e a marginalização social são imagens recorrentes dessas e de outras cidades. Por que essas imagens são uma ocorrência quase instantânea quando nos referimos a tais lugares? E da cidade de São Paulo ou da sua cidade, quais são as imagens recorrentes? Nomes de logradouros, de ruas, praças, monumentos remetem ao passado do lugar ou referendam memórias de lugares longínquos. Na capital paulista, como em outras cidades, é comum ruas com nomes de outros países e lugares. Para estimular a reflexão sobre a memória histórica, propomos a leitura do conto “As cidades e a Memória” , do livro As cidades invisíveis, de Italo Calvino. Lido o texto, propomos duas atividades sobre a memória da cidade: Clique aqui, para uma atividade usando cartões-postais. Clique aqui, para uma atividade sobre nomes de ruas. Após, clique em Avançar no Módulo. Atividades Clique sobre o título para ler o conteúdo.
  • 8. Trívia: você sabe qual é a única imagem permanente de uma cidade como São Paulo? Sua única permanência é a mudança permanente. Paradoxal? Pois é a mudança que varre determinadas memórias e recria novas. Ou, no dizer de Italo Calvino, novas cidades incomunicáveis entre si, regidas por novos “deuses”. “Deuses” como o dinheiro, McDonald´s, shopping centers, avenidas paulistas, Masps. Toponímia Lembrar e esquecer, persistir ou renovar são pares opostos e, de vez em quando complementares. Nomes de ruas por vezes remetem a memórias, porém nem sempre conseguimos saber o motivo de terem esse ou aquele nome, nem seus significados. Por vezes, em cidades grandes como São Paulo, fazemos confusões com o nome de suas praças, ruas e avenidas, outros logradouros. Por exemplo, mesmo um morador que reside há décadas em São Paulo confundia-se com as praças 14 Bis e Campos de Bagatelle. Na praça Campos de Bagatelle, há uma réplica do 14 Bis. Para um desavisado morador da mesma cidade, não é difícil fazer confusão entre as zonas central e norte da cidade de São Paulo, onde estão localizadas respectivamente a praça 14 Bis e Campos de Bagatelle. Campos de Bagatelle e 14 Bis relembram e homenageiam o feito de Santos Dumont: nos campos de Bagatelle, na cidade de Paris, decolou e aterrissou com seu 14 Bis, realizando o primeiro voo mecânico de um equipamento mais pesado que o ar nos idos de 1906. E isso é só uma anedota sobre as dificuldades dos residentes em cidades como São Paulo para encontrar seus destinos. Também serve refletir sobre a construção de memórias coletivas. Com ela começaremos nossa conversa sobre toponímia. Praça em bairro residencial na cidade de Guarulhos, no estado de São Paulo Para uma atividade sobre as ruas e a revolução de 1932, clique aqui.
  • 9. Para outras atividades sobre as ruas e a memória, clique aqui. Atividade – toponímia Podemos pensar sobre alguns nomes que também apareceram no vídeo dos “quatro da História”. Os nomes 23 de maio e 9 de julho compõem com vários outros um painel interessante sobre uma memória muito cara aos paulistas e aos paulistanos em particular ou, pelo menos, aos paulistas e paulistanos que ajudaram a definir outros nomes de logradouros em homenagem aos eventos e às pessoas relacionadas à Revolução de 1932. Uma atividade interessante pode ser uma busca virtual em sites na internet sobre a Revolução de 1932, se espraia pela historiografia e chega ao fim, utilizando o Google para os nomes mais frequentes nessas pesquisas. Teremos então resultados como os quarteirões da zona oeste da cidade de São Paulo com os nomes dos chamados mártires de 23 de maio: Martins, Miragaia, Dráuzio, Camargo, que formaram o MMDC, e Alvarenga, que se não se imortalizou com a sigla, sendo muito lembrado por todo paulistano que acompanha o trânsito de São Paulo pelas rádios; qualquer encrenca e a Alvarenga para, atravancando a vida de muita gente. Clique no ícone ao lado e veja outras possibilidades para esta atividade. Toponímia – outras possibilidades Outra atividade envolvendo nomes de ruas e busca na internet pode partir de sugestões dos alunos, de um campeonato de popularidade na internet: ver qual nome dentre os que os alunos lembram livremente retorna maior número de páginas ou de outra proposição qualquer feita pelo professor. Sugestões interessantes são nomes associados à Proclamação da Independência, à Proclamação da República, aos presidentes, às bandeiras... Além disso, questões interessantes podem ser elaboradas a partir de algumas observações e de alguns dados levantados sobre a toponímia: O que se celebra nomeando importantes estradas de São Paulo com o nome de bandeirantes, como Raposo Tavares e Anhanguera? Será que é o apresamento e a escravização de indígenas?
  • 10. Por que rodovias importantes, como a Dutra e a Castelo Branco, receberam nomes de presidentes militares? Por que um bairro de São Paulo chama-se Vila Romana? E tem ruas chamadas de Clélia, Aurélia, Tito ou Espártaco? Memória e regime militar No Caderno do Professor da disciplina de História, da 8ª série (9º ano - Ensino Fundamental, vol. 3, 2009, página 24), você encontrará uma Situação de Aprendizagem que envolve a discussão sobre a memória da ditadura militar brasileira. Observe que a abordagem levanta aspectos múltiplos da ditadura militar e propõe uma atividade de montagem de painel com imagens que retratam o período com base em depoimentos. Trabalha-se, assim, com a memória viva, que pode ser coletada por alunos junto a pessoas que viveram o período da ditadura. A atividade possibilita aos alunos, além do trato com o conteúdo (o tema da ditadura, por meio da memória sobre o regime militar), perceberem as relações entre passado e presente, permanências e rupturas. Entre os múltiplos assuntos sobre a memória do período da ditadura militar, que poderão surgir no levantamento dos alunos, estão a ação dos órgãos de repressão política, as atividades de grupos guerrilheiros e os desaparecidos políticos. Caderno do Professor, 8ª série (9º ano), vol. 3 Programa Via Legal Sobre os assuntos citados anteriormente, veja abaixo um trecho do programa Via Legal, da TV Cultura, que aborda esses temas. http://www.youtube.com/watch?v=pzuxfKWbu7o Proposta de trabalho Veja que a memória, nesse caso, é ativada por intermédio da oralidade – os depoimentos da Sra. Laura Petit, de D. Ilda, do ex-guerrilheiro Antonio Teodoro Castro, este à época militante do PC do B e participante da guerrilha do Araguaia, resultam em fontes históricas que sugerem imagens sobre o período, ao mesmo tempo em que podem se materializar em documentos escritos a partir da transcrição das falas. Observando o programa, que pontos poderiam ser levantados para discussão com seus alunos, sobre o uso da memória histórica? Outra proposta interessante de trabalho com os alunos pode surgir de outras formas de memória –
  • 11. por exemplo, relatos de atividades cotidianas. Clique nos ícones a seguir para ler alguns relatos. “Memórias da escola” “Memórias da infância” Forum O belo texto de Elias Canetti remete às memórias sentimentais, aquelas memórias que ficam gravadas por se associarem a sentimentos muito intensos, no caso sentimentos ternos, amorosos. Situações aflitivas também operam reforços em nossa memória, como aquelas associadas ao documentário visto anteriormente sobre a repressão durante a ditadura militar. Eleja uma lembrança sua, dessas que você acha interessante contar aos amigos, e transforme-a num texto, postando aqui no Fórum. Veja que aproveitamos um relato de vivência escolar de um dos autores para trabalhar algumas questões interessantes sobre o regime militar. Discursiva Esse relato de memória pode ser interessante para pensarmos a ditadura militar em seus efeitos mais comezinhos, mais corriqueiros. Muitos dos elementos podem não ser exclusivos da ditadura militar, mas compõem um bom painel da escola da época: disciplinadora e autoritária. Havia uma proposta de educação que se traduziu na Lei de Diretrizes e Bases de 1971 (5692/71), que, entre outras determinações, instituía o ensino técnico profissionalizante obrigatório para o Ensino Médio – na época, 2º grau – ; abolia disciplinas – História e Geografia, por exemplo –; criava outras, como: Educação para o Trabalho, Educação Moral e Cívica e Organização Política e Social Brasileira. Havia uma forma de educar, havia uma forma de ver o mundo. Pensando nisso, responda a seguir uma questão discursiva. Para iniciar esta atividade, clique no botão Iniciar, localizado no rodapé desta página. 1. A partir dos versos e do conteúdo de memória do texto “Memórias da escola”, responda: 1) Quais elementos ritualizados das ações descritas podem ser relacionados às expectativas do regime militar em relação á educação? 2) Caracterize o tipo de escola, de ensino e de aprendizagem apresentado pelos versos da canção presentes no texto. Objetiva 1. No entender do historiador francês Jacques Le Goff os materiais da memória podem apresentar-se: os. Sob a forma única de esculturas. Apenas sob a forma de monumentos. Sob a forma exclusiva da arquitetura monumental. Apenas sob a forma de documentos. 2. Segundo Christian Laville, no ensino de história dos países ocidentais, passou-se da ideia do “cidadão súdito” para a de “cidadão participante”. Sobre essa passagem, é correto afirmar que: conforme os estados nacionais se consolidavam, a história como elemento de instrução passa a ganhar mais força, se retroalimentando da força do estado.
  • 12. o ensino de História se enriquece com a mudança de função de uma história meramente factual, objetivando uma instrução nacional para uma história mais abrangente e aberta com vistas à educação para a cidadania. nos países desenvolvidos como os Estados Unidos e a França, não há mais disputas em relação aos conteúdos de história, predominando as visões de uma história internacionalista. a ideia de “cidadão participante” está relacionada à participação em comemorações cívicas e na rememoração dos mitos nacionais. a ideia de “cidadão súdito” aplica-se apenas aos regimes monárquicos. 3. Segundo Christian Laville há “um primeiro paradoxo: enquanto na maioria dos países se diz que o objetivo do ensino da história é desenvolver nos alunos as capacidades de que o cidadão precisa para participar da sociedade de maneira autônoma e refletida, o ensino da história, ainda é, muitas vezes, reduzido a uma narrativa fechada, destinada a moldar as consciências e a ditar as obrigações e os comportamentos para com a nação. Observou-se que, quando, em nosso mundo, há um debate público em torno do ensino da história, é essa narrativa que está quase sempre em jogo”. São exemplos dessas narrativas fechadas, exceto: A elaboração de manuais didáticos para a ex-Alemanha Oriental totalmente baseados no pensamento liberal. No Japão, a censura do Ministério da Educação sobre conteúdos dos manuais escolares investe na ocultação de imagens negativas e no uso de eufemismos para edulcorar uma história sangrenta. A reconstituição de estados e, portanto, de nações e nacionalismos provocou a reimpressão de obras ultrapassadas do ponto de vista historiográfico, mas que versavam sobre os heróis corretos. O estudo de São Paulo a partir dos relatos orais de velhos que partilham suas vivências e fazem ampliar os horizontes da cultura, em memórias felizes ou tristes. A valorização dos pais da pátria ou patriarcas da independência estadunidense. 4. Dos monumentos abaixo, qual faria menção direta ao culto de uma memória paulista, em contraponto à história nacional: Complexo Viário Ayrton Senna. Avenida Vinte e Três de Maio. Praça Campo de Bagatelle. Rua Voluntários da Pátria. Túnel Presidente Jânio Quadros. 5. São exemplos de monumentos de culto à memória histórica paulista articulada à memória nacional: Museu do Ipiranga. Praça MMDC. Avenida Nove de Julho. Rodovia Raposo Tavares. Avenida Vinte e Três de Maio. 6. A metodologia empregada por Ecléia Bosi em seu estudo "Memória da cidade: lembranças paulistanas” baseia- se: Na história de vida de adolescentes. Na história escolar de crianças. No estudo de documentos escritos. História de vida de idosos.
  • 13. No estudo de monumentos. 7. Para Ecléa Bosi a memória sobre a cidade de São Paulo: Não pode ser definida pelas suas sonoridades. Só pode ser definida pelo estudo dos monumentos arquitetônicos. Pode ser definida apenas pela documentação cartorial. Pode ser definida também pelo seu mapa sonoro. Só pode ser definida pela memória visual. 8. No conto "As cidades e a Memória", Ítalo Calvino: Propõe uma relação entre Maurília e a cidade de São Paulo. Sugere que há um elo entre o passado e a memória presente. Propõe o abandono da memória histórica. Não é possível estabelecer elo entre passado e presente. Promove uma ruptura entre passado e presente incomunicáveis entre si. 9. A eleição do 20 de novembro para celebrar a memória de Zumbi dos Palmares e o Dia da Consciência Negra: Foi possível devido a vitória do “politicamente correto” em nossa sociedade. Foi possível devido, entre outros, as reivindicações da militância negra em prol da história da população negra brasileira. Foi possível pelas concessões feitas pela elite brasileira à história laudatória de mitos e heróis nacionais. Serve para ações comemorativas laudatórias com fundo mítico. Foi possível devido à concessão do Estado tal como aconteceu com o 13 de Maio. 10. A memória sobre a escravidão brasileira demonstra que: Como nos EUA as leis brasileiras incentivaram a escolarização dos cativos. A passividade dos cativos e foi a marca de todo o período escravista. Decretos como o de n. 1.331, de 17 de fevereiro de 1854, foi um marco na escolarização da população afro-brasileira. A noção de “negociação” e atitudes de dissimulação reforçam a incapacidade do negro para enfrentar as amarras do cativeiro. Houve uma ação premeditada do estado em barrar acesso à instrução da população de origem africana e seus descendentes no Brasil. Memórias e datas comemorativas Por falar em história e memória, um elemento importante e elo entre ambas são as datas comemorativas. Como nos informa Circe Bittencourt: "Queiramos ou não, as datas são suportes da memória". Leituras: Memórias e datas comemorativas Clique aqui para ler o texto de Circe Bittencourt. Clique aqui para ler o texto Dia da Consciência Negra – 20 de novembro (1995).
  • 14. Se tradicionalmente pensamos nessas datas como ritual laudatório e ultrapassado para compreensão da História, o fato é que elas são também parte de uma memória social. Daí, como sugere a pesquisa, se faz necessária uma reflexão sobre elas e não apenas o ato simplista de negá-las em prol de uma “história progressista”, “militante”. Lembrando: a história é feita também de atos pouco “progressistas” que o historiador também necessita compreender. Mas as datas comemorativas também podem expressar ações de luta de movimentos da sociedade civil organizada. Uma dessas datas é o dia 20 de novembro em torno da memória e trajetória de lutas sociais da população afro-brasileira, o Dia da Consciência Negra. Atividade Você já parou para pensar nessas datas comemorativas? Como elas podem ser trabalhadas como reflexão nas aulas de História? Que tal pensar uma atividade sobre o 20 de Novembro, para ajudar a discutir as datas comemorativas? Clique sobre o título para ler o conteúdo. Sugestão 1 Poderíamos primeiro nos indagar o que sabemos sobre o 20 de Novembro. Ideias reflexivas, pré- conceitos, preconceitos, estereótipos, imagens recorrentes. Certamente uma dessas imagens que nos ocorre é a de Zumbi dos Palmares. Sugestão 2 Que tal um conjunto de entrevistas com pessoas ligadas à defesa da população afro-descendente brasileira, sobre o porquê do 20 de Novembro. Para tanto, elabore um roteiro de questões que possam ajudar a pensar os motivos que levaram ao estabelecimento da data. Sugestão 3 Levantados os motivos, vamos pensar em seus significados. Um levantamento da produção de livros didáticos de história de diferentes períodos poderia ajudar a mapear como foi pensada e ensinada a presença da população negra ao longo da história brasileira. Sugestão 4 Procure levantar dados sobre o contexto histórico da época em que foi instituída a data comemorativa em 1995. Priorize nesse contexto a atuação dos movimentos sociais em torno da população afro- brasileira. Sugestão 5 Após fazer isso, cruze e analise os dados levantados para responder a questão: por que o 20 de Novembro não se insere no rol das datas laudatórias construídas, por exemplo, pelo poder governamental, como o 13 de Maio? Por falar em 13 de Maio, veja como ele também acabou sendo apropriado pelos movimentos sociais que ressignificaram seu conteúdo – de data concedida para balizar a memória das condolências do poder imperial ao sofrimento dos cativos ao Dia Nacional de Denúncia contra o Racismo no Brasil. Memórias e batalhas pela memória Em 2001, o jornal O Estado de S. Paulo do dia 26 de agosto reproduziu uma matéria da Newsweek sobre a polêmica em torno de livros didáticos de História japoneses. A matéria reproduzida pelo jornal O Estado de S. Paulo (HAJARI, N. Asiáticos travam guerra contra a História, Newsweek, Reproduzido em O Estado de S. Paulo, 26.08.2001, p. A-18.) poderia ter como título “guerra pelo passado” ou ainda “guerra pela memória”, uma certa disputa pela memória que vai de encontro às pretensões políticas de diferentes governos, ser cultuado por gerações de estudantes. Aproveitando uma pergunta do artigo: "As enormes lacunas e distorções da memória motivam perguntas óbvias: existe uma amnésia cultural proposital atuando na região? Os asiáticos em particular não conseguem encarar o passado?", estendemos o questionamento para todos os cantos do planeta e para todos os governos, pois o caso japonês não é exemplar, apenas ilustra o quanto a memória social é marcada por disputas e, no entender do historiador Marc Ferro, por manipulações:
  • 15. Região onde ocorre a polêmica Controlar o passado ajuda a dominar o presente, a legitimar tanto as dominações como as rebeldias. Ora, são os poderosos dominantes Estados, Igrejas, partidos políticos ou interesses privados que possuem e financiam veículos de comunicação e aparelhos de reprodução, livros escolares e histórias em quadrinhos, filmes e programas de televisão. Cada vez mais entregam a cada um e a todos um passado uniforme. (A manipulação da História no ensino e nos meios de comunicação. São Paulo: Ibrasa, 1999, p.11). Atividade A memória como manipulação do passado pode também ser tratada com os alunos. No Caderno do Professor de História, 3ª. série (Ensino Médio, vol. 2, 2009), à página 25 você encontrará uma Situação de Aprendizagem sobre a memória da Segunda Guerra pelo cinema. A abordagem do tema começa com a seguinte indagação: Como você sabe, há muitos filmes que tratam do holocausto e poucos relativos ao bombardeiro de Hiroshima e Nagasaki. Por quê? (p. 25). Bem como acontece com os livros didáticos de História japoneses e de outros países, como o Brasil sobre a Guerra do Paraguai que durante muito tempo silenciaram sobre os massacres cometidos à população civil paraguaia, a produção cinematográfica sobre a Segunda Guerra consumida no Brasil é majoritariamente de origem estadunidense, daí o lembrete: Bombardeio de Hiroshima Os filmes retratam os campos de concentração de judeus na Alemanha mas não os campos de japoneses isolados nos Estados Unidos, durante a Segunda Guerra Mundial. Como uma nação fundada nos princípios da Liberdade e da Democracia seria capaz de divulgar tal fato? (p. 27). Locais de Memória Após realizar a leitura dos textos teóricos apresentados neste módulo e de acompanhar algumas experiências didáticas, escolha 2 ou 3 locais de memória constantes em nosso banco de dados do fórum do módulo 9 e elabore uma seqüência didática que empregue os locais escolhidos. Seqüência Didática e História: Aulas que desafiam e ensinam Conjunto de aulas planejadas para ensinar um determinado conteúdo sem que necessariamente tenha um produto final. Sua duração pode variar de dias a semanas e várias seqüências podem ser trabalhadas durante o ano, de acordo com o planejado ou com as necessidades da classe. A seqüência didática apresenta desafios cada vez maiores aos alunos, permitindo a construção do conhecimento.
  • 16. Primeiro, é necessário efetuar um levantamento prévio dos conhecimentos dos alunos e a partir desse planejar uma série de aulas com desafios e/ou problemas, atividades diferenciadas, jogos, uso de diferentes linguagens e gêneros de textos e análise e reflexão. Gradativamente, deve-se aumentar a complexidade dos desafios e dos textos permitindo um aprofundamento do tema proposto. A seqüência organizada e planejada deliberadamente permite ainda construir com o aluno as ferramentas (habilidades/competências) da pesquisa científica. Permite vivências, visando aspectos conceituais e procedimentais, fundamentais para a aprendizagem do aluno e desenvolver sua autonomia. No nosso caso, as ferramentas do historiador pesquisador tornando mais significante a presença da disciplina de História no currículo e seu estudo, fugindo da mera repetição e da idéia de uma História pronta e acabada, desenvolvendo assim a consciência crítica. CONHECIMENTO PRÉVIO E INTERESSE DOS ALUNOS Os conteúdos trabalhados em sala de aula devem contribuir para a formação de cidadãos conscientes, informados e capazes de transformar a sociedade. Muitos professores montam suas aulas tendo como centro o interesse dos alunos acreditando que assim, teriam como refletir sobre o meio em que vivem e o que os cerca. Essa prática nem sempre garante bons resultados, em geral ao se valorizar apenas o conhecimento que os alunos trazem, fica-se na superficialidade e presos ao imediatismo. O currículo aparece como ditado pelas circunstâncias, tratando de acontecimentos pontuais e não como um roteiro de trabalho construído a partir da relação entre a proposta pedagógica e a realidade. É necessário que a equipe escolar defina o seu Projeto Político Pedagógico de acordo com a realidade da comunidade onde está inserida, a prática e com as necessidades de seus alunos. TRABALHO INTERDISCIPLINAR A seqüência didática permite a interdisciplinaridade quando, ao tratar de um tema dentro de uma disciplina, o professor recorre a conhecimentos de outra. Interdisciplinaridade é a articulação entre as disciplinas que permite trabalhar o conhecimento globalmente e superando a fragmentação. Só um tema gerador trabalhado pela ótica de diferentes disciplinas não garante a interdisciplinaridade. O tema gerador é um ponto de partida, não o centro do estudo e nem deve ser longo, para não cansar. Durante o planejamento coletivo por disciplinas, áreas e entre áreas permite determinar as possibilidade de trabalho interdisciplinar durante o ano, a partir das pesquisas dos alunos, do professor ou em parceria. TEMPO DIDÁTICO: OBJETIVOS CLAROS Uma das maiores dificuldades do planejamento é a definição do tempo necessário para o trabalho com um determinado tema, atividade, projeto. A definição de três pontos são essenciais: o que quero ensinar, como cada aluno aprende, como será feito o acompanhamento e avaliação dos alunos. Ou seja, primeiro estabelecemos habilidades e competências, as noções e conceitos, os objetivos e os conteúdos que alicerçarão essa construção. Depois, pensar nas atividades a serem desenvolvidas baseadas em como os alunos aprendem, além das linguagens e gêneros de textos para efetuar essa aprendizagem. O tempo deverá permitir a avaliação constante da produção dos alunos e saber as intervenções que se farão necessárias caso surjam dificuldades nessa construção. Sempre é recomendável planejar o encerramento antes do final do bimestre ou semestre, prevendo uma folga para as intervenções e correções de rumo.
  • 17. Finalizando Neste módulo nossa proposta foi refletir sobre a importância da memória e seus usos nas aulas de História. As relações entre memória e história foram apresentadas através de alguns eixos: importância do espaço em que vivemos. importância das recordações da infância. memória escolar. paisagem a memória: cidade, toponímia. importância dos momentos que marcam a sociedade e o contexto em que vivemos: Revolução Constitucionalista de 1932, regime militar e II Guerra Mundial. No próximo módulo discutiremos as relações entre a história local, regional e nacional e retomaremos alguns aspectos aqui discutidos. Até lá. Referências Bibliográficas BITTENCOURT, Circe (org.). Dicionário de datas da história do Brasil. São Paulo, Contexto, 2007. CALVINO, Ítalo. As cidades invisíveis. São Paulo, Cia das Letras, 1990. BOSI, Ecléa. O tempo vivo da memória. 2. ed. São Paulo, Ateliê, 2003. FERRO, Marc. A manipulação da história no ensino e nos meios de comunicação. São Paulo, Ibrasa, 1999. LE GOFF, Jacques. História e memória. 2. ed. Campinas, UNICAMP, 1992. São Paulo (Estado). Secretaria de Educação. Caderno do Professor: História, Ensino Fundamental - 8ª. Série, volume 3. São Paulo, SEE, 2009. São Paulo (Estado). Secretaria de Educação. Caderno do Professor: História, Ensino Médio - 3ª. Série, volume 2. São Paulo, SEE, 2009. LAVILLE, Christian. A guerra das narrativas: debates e ilusões em torno do ensino de História. Rev. bras. Hist. [online]. 1999, vol.19, n.38, p. 125-138. ISSN 0102-0188.