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PERFIL LITERÁRIO: LUCIA HELENA ISSA
COBERTURA DE CONFLITOS




São Paulo
2012
PERFIL LITERÁRIO – LUCIA HELENA ISSA

Autora: Patrícia Candelária




LUCIA HELENA, A SHERAZADE DAS MIL E UMA NOITES

"Não tenho medo dos gritos dos maus, mas do silêncio dos bons...”.

(Martin Luther King)

       Vida

       Lúcia nasceu em Guaratinguetá, interior de São Paulo,descendente de árabes,
filha de empresário, é a caçula e única menina de quatro irmãos. Formada em
Jornalismo e Graduada em Comunicação Social, fez especialização em Literatura
Comparada pelas Faculdades Integradas Teresa D’Ávila (FATEA - Lorena, SP) e em
Linguagem e Semiótica pela Universitàdi Roma, na Itália. Lucia ganhou uma bolsa para
estudar na Itália. Seu intuito era permanecer seis meses, mas devido ao casamento com
um italiano, prolongou sua estadia por seis anos.

       Durante esse período, colaborou com alguns dos principais veículos de
comunicação do Brasil, tais como Folha de São Paulo, Jornal do Brasil e revista Isto é.
Percorreu mais de 40 países, alguns deles palcos de conflitos reportados por ela in loco,
focando na situação das mulheres refugiadas, no imediato pós-guerra (tais como Líbano,
Sérvia e Bósnia). Foi também apresentadora do VNEWSda Rede Globo Vanguarda, em
São José dos Campos, São Paulo.

       Atualmente vive entre o Brasil e a Itália, onde cursa o mestrado em Políticas e
Culturas Euro-Mediterrâneas, com foco em Mediação e Conflitos; é membro da
organização internacional ReporterssanFrontieres (Repórteres Sem Fronteiras),
correspondente para o Brasil da organização Peace Reporter (Repórter pela Paz),
correspondente internacional e voluntária da Cruz Vermelha Internacional no Rio de
Janeiro.
.Em junho de 2010, Alexandre Marcos Lourenço, crítico literário e filósofo pela
Universidade de São Paulo (USP), escreveu para ”O Lince” um artigo sobre Lucia
Helena Issa em que afirmava o seguinte:

        – O texto de Lucia Helena Issa carrega a sonoridade aconchegante de quem sabe
contar histórias, talvez geneticamente herdada da tradição árabe que encanta povos e
gerações, desde que a hábil Sherazade enredou-nos em Mil e Uma Noites.

        E continua:

        – Lucia é uma profissional perspicaz e atenta, capaz de criar uma tessitura de
palavras que descolam-se e deslocam-nos para o universo apresentado pela autora,
dando um toque de literatura àquilo que poderia ser apenas informação. Ela não se
satisfaz com a informação de segunda mão ou com os juízos definitivos. Ao contrário,
vai a campo num verdadeiro trabalho de busca das fontes primárias que burila com
sólida formação acadêmica. O resultado? O desejo de tê-la em mil e um capitulos – ou
mais (...)

        Em 2011 publicou o livro “Quando Amanhece na Sicília...”’. Obra esta de
grande valia, pois se trata do primeiro livro-reportagem escrito por uma jornalista
investigativa brasileira. Nele, Lucia conta histórias de esperança no pós-guerra e sobre a
“significativa luta das mulheres sicilianas contra a máfia numa terra em que o silêncio é
a medida do valor da mulher”. O contexto do livro dá voz às mulheres sicilianas. São
elas: juízas, mães, professoras etc. E mostra como elas foram determinantes no
enfraquecimento da máfia no país.

        Para escrever a obra, a autora morou na Itália por seis anos e fez uma verdadeira
imersão na região da Sicília. Presenciou o enfraquecimento do Estado diante da Cosa
Nostra (Máfia Siciliana). O livro possui entrevistas com especialistas, autoridades,
juízas e cidadãos comuns relatando a transformação da Sicília. Há ainda entrevistas
realizadas com historiadores em Roma, sobre a ligação de alguns membros do Vaticano
com a CosaNostra. Na obra é apresentada, também, a coragem de um grupo de
mulheres após o assassinato de seus filhos e maridos pela máfia, o assassinato de dois
juízes mais combativos na Itália e a reação da sociedade civil. Segundo Lúcia Helena:.
– O objetivo desse trabalho é revelar como a Sicília tem conseguido sair do ciclo
de violência, terror e impunidade que a caracterizou por tanto tempo. Mostrar que as
mulheres sicilianas foram e estão sendo parte fundamental dessa transformação social
na Sicília.

        (...)

        Como colaboradora da RSF, descobriu refugiadas internas em Belgrado e
Sarajevo. Por meio de uma fonte que entrou no programa de proteção à testemunha,
pode ouvir relatos da revolução feminina contra os mafiosos, que ocorria na Sicília. A
ideia de Lucia não era investigar o último crime da Cosa Nostra, mas sim, entender
como esse fenômeno social atingia a máfia.

        (...)

        Na Itália existem diversas máfias, sendo que a mais conhecida é a “Cosa Nostra”
(na língua portuguesa “nosso assunto” ou “nossa coisa”), de origem siciliana. Conforme
a origem do termo, esse conceito remete à substituição do Estado.

        Atualmente existem 329 grandes mafiosos presos incomunicáveis. Muitos deles
já mataram mais de cinco mil pessoas na Sicília nos últimos anos. Sua prisão foi
estabelecida apenas porque surgiram denúncias de mulheres que decidiram falar. Tudo
começou com a prisão de Salvatore Riina, em 1993, e depois diversos outros mafiosos
foram capturados.

        Certa noite, em Brancaccio, um dos bairros mais violentos de Palermo,depois de
tentar pagar o restaurante em que havia parado para comer rapidamente, Lucia
descobriu que a conta já havia sido paga. Ela foi abordada por um cavalheiro de
aparência elegante. Na Itália, o maior diferencial do crime organizado, é que não é
possível identificar os mafiosos. Lucia foi surpreendida pelo cavalheiro, que a chamou
para conversar, e demostrava saber exatamente quem ela era, sua nacionalidade e o fato
de ser jornalista. Ele sabia tudo a seu respeito,e tentou convencê-la de modo delicado de
que a máfia não existia, que as mulheres que lutavam contra a Máfia e por justiça para
seus filhos estavam loucas, que em Palermo não existiam líderes mafiosos e que Lucia
deveria escrever sobre isso. Mas Lucia pensou que jamais deixaria de escrever seu livro
e dar voz àquelas mulheres.
- Aquelas mulheres haviam me escolhido tanto quando eu a elas, e nada me faria
desistir agora.

        Nas últimas três décadas, morreram oito jornalistas assassinados na Sicília.
Atualmente a situação dos jornalistas italianos é pouco vulnerável, mas ainda existem
muitas ameaças. Com a sociedade civil mais atenta, assassinar um juíz ou um jornalista
é algo muito impopular. A máfia existe, o domínio da Cosa Nostra se extinguiu no
território siciliano. Segundo estimativas, dos oito mil membros, a máfia tem hoje
menos de mil.Mais de 100 bilhões de euros já foram confiscados da máfia Siciliana.


        Família e Amigos

        A maior referência de Lucia Helena Issa, seu modo de interagir com o mundo,
está pautado nas viagens, cinema e literatura. Frequentemente viaja com a filha e adora
rever lugares que marcaram sua vida, como Roma.

        Segundo sua amiga, Márcia Cristina Campos, Lucia é uma pessoa perspicaz e
dona de uma personalidade ímpar. Ela é solidária, companheira e justa.

        – Suas experiências, viagens, estudo, bagagem cultural são ferramentas que
contribuem para maximizar sua simpatia e torná-la uma guerreira em defesa dos menos
favorecidos, injustiçados ou vítimas de atrocidades, como no caso dos massacres
ocorridos na Palestina. (...).

        Querida por todos, Lucia encontrou em Ana Maria Almada uma amiga com
quem pudesse contar. Conheceram-se quando ainda eram adolescentes, mas tornaram-
se amigas muito mais tarde, quando ambas voltaram a morar em Guaratinguetá.

        – O que nos reaproximou foram nossas afinidades intelectuais. A partir daí,
descobrimos que também nossas almas se entendem, e nos tornamos grandes amigas.
Acho lindo nossas meninas juntas! Podemos passar horas conversando, seja sobre os
rumos do mundo, seja sobre nossos amores. Com Lucia posso rir ou chorar, posso ser
sempre eu mesma.
A personalidade de Lucia é definida por Ana em uma palavra: doce. Não se trata
de uma doçura simples, mas feita de nuances, como toda pessoa com inteligência acima
da média.

         – Articulada, desinibida, aberta à vida, linda, quem a conhece se encanta. Lucia
é escritora, mãe, jornalista e é sempre ela mesma, em todos os papéis...

         O reencontro de ambas foi marcante, já que moraram na mesma cidade por
muito tempo. Ana esteve presente no lançamento de seu livro “Quando Amanhece na
Sicília”, em Guaratinguetá. Ana pôde ler a obra, e teve a certeza do sucesso que ela se
tornaria.

         O local do lançamento na cidade de Guaratinguetá foi mágico, Lucia Helena
brilhava entre todos, a noite pode ser recordada por meio de fotos.

         Para Lucia Helena, as pessoas são mais importantes que os lugares. Ela é como
uma cidadã do mundo transita por todos os ambientes sem perder a identidade. Mas
aprecia estar com os amigos e com a família. Sempre generosa, gosta de receber as
pessoas queridas em sua casa, que parece se expandir até se tornar tão grande quanto
seu coração.

         – Trilhou os caminhos que escolheu, venceu, é hoje uma cidadã do mundo
literalmente e nos enche de orgulho.

         Lucia aprendeu a ler desde muito cedo. Aos 5 anos de idade, passava horas
lendo. Ela sempre lia histórias para uma menina, filha de uns amigos de Regina Helena.

         Certo dia, sua mãe soube que a mãe da criança para quem ela lia também
passara a ouvir as histórias, porque Lucia criava situações dentro do contexto e mudava
todos os meios das histórias mais assustadoras, a menina para quem ela lia era alguns
anos mais nova.

         Lucia criava personagens, fazia com que os maus não fossem tão ruins. Fazia
com que eles se redimissem de alguma forma. Na época, a mãe da garotinha, perplexa,
dizia:

         – Ela tem potencial para ser escritora!
Numa tarde de abril, pouco antes de Lucia completar seis anos de idade, sua mãe
a levou para conhecer o Orfanato Puríssimo Coração de Maria, em Guaratinguetá, onde
viviam centenas de crianças. Ao tomar consciência da situação em que os órfãos viviam
– a Páscoa estava chegando e muitas delas não ganhariam nada –, começou a fazer mil
perguntas para a assistente do local. Ao final da visita, decidiu:

          – É aqui que eu quero fazer minha festa de seis anos, e é com elas que quero
dividir os presentes e os ovos de Páscoa.

          Hoje, Lucia tem feito um trabalho como voluntária internacional, assim como
em 2011, em que conseguiu ir para o Líbano levando ajuda humanitária para os
refugiados palestinos, no campo de Chatila. É a confirmação de sua personalidade.

          Em um certo domingo de primavera, quando a filha já morava em Roma, Helena
Regina viu uma reportagem, de autoria da Lucia, de pagina inteira no caderno Mundo,
diretamente de Roma. Depois dessa, surgiram muitas outras.

          – Naquele domingo, senti um orgulho imenso, porque ela não tinha contado
antes!.

          O irmão de Lucia, o fotógrafo internacional Beto Issa descreve a irmã como uma
mãe apaixonada pela filha e uma jornalista nata, que vai sempre onde a notícia está.

          - Lembro quedurante o funeral de Ayrton Senna, em 1994,quando ela ainda era
estudante, havia muitas restrições para se chegar perto da Assembleia e ela conseguiu
entrar lá e fazer uma matéria emocionante, o que me surpreendeu muito justamente
porque ela ainda era estudante. Como sou fotógrafo de automobilismo, esse é um fato
de que sempre me lembro.

          O relacionamento que Lucia tem com o pai é algo muito especial, intenso e
apaixonado. Por vezes conflituoso também.

          Durante a adolescência de Lucia, após a separação de seus pais por algum
tempo, quando tinha 13 anos, foi morar com ele e, mesmo vendo sua mãe
frequentemente, seu pai se tornou para ela um dos maiores faróis naquele oceano de
paradoxos que é a adolescência.
O pai de Lucia, Jorge Issa, é assim: pragmático, autoritário, mas também dono
de uma generosidade e solidariedade como poucas pessoas possui.

       – O curioso é que somos muito diferentes, temos visões de mundos diferentes,
eu sou mais idealista, engajada socialmente, com ideias revolucionárias demais para ele.
Um empresário super capitalista, conhecido em toda a região pela rede de lojas que
fundou.

       Lucia cresceu lendo Pablo Neruda, Marcel Proust, Gibran Kalil Gibran, um dos
maiores escritores libaneses de todos os tempos. Lia Gabriel Garcia Marques aos 12
anos e escrevia histórias aos 11 anos. Seu pai percebeu muito cedo que dentro da
menininha meiga, sapeca que aprontava muito, talvez houvesse uma contadora de
histórias para gente grande também; uma escritora.

       Ele a presenteou com uma coleção maravilhosa que hoje está na casa de Lucia
no Rio de Janeiro: a Coleção Prêmio Nobel, os livros de capa dura marrom com fios
prateados na capa que a fascinaram desde que os viu e revelou a alma de Gabriela
Mistral, Neruda, Wisnton Churchill, William Falkner, Pirandello, de quem se tornou
amiga desde então.

       Lucia também se recorda de um dos primeiros livros que ganhou dele e que
guarda ainda hoje: “As Mil e Uma Noites”, cujo cenário era sempre o Oriente Médio, a
terra de seus avós, e que tinha como uma das heroínas Sherazade, a menina que contava
histórias para não morrer.

       – Assim como eu talvez faça isso hoje. Somente escrevendo e relatando o que vi
no Oriente Médio me sinto plenamente viva.

       Lucia descreve seu pai como um homem bonito e bem alto, carismático, um
líder nato que ela nunca viu chorar durante a infância. Até que no dia 18 de setembro de
1982, durante a guerra civil no Líbano, Lucia estava em casa com ele e apareceram na
tela da TV as imagens do Massacre de Sabrae Chatila, em que mais de 2000 palestinos,
a maioria mulheres e crianças, foram assassinadas com a ajuda do exército israelense,
que havia ocupado o sul do Líbano.
– Naquele dia vi meu pai chorar como um menino e me revelar uma
vulnerabilidade que eu até então desconhecia.

       Naquele dia, aos 14 anos, Lucia decidiu que iria para o Líbano um dia,
escreveria a história dos palestinos que morreram no massacre e daria voz àquelas
pessoas, que é o que ela faz agora ao escrever o livro “Filhas da Esperança”.

       Para seu pai, Lucia era precoce, generosa, doce e rebelde ao mesmo tempo. Era
especial desde que nasceu.

       – Sabíamos disso e nem sempre sabíamos como lidar com sua precocidade.

       Mesmo sendo muito diferente de seu pai, pois ele se considera racional e menos
emocional, eles construiram uma cumplicidade que fez com que Lucia decidisse morar
com ele na adolescência.

       Desde menina, Lucia deu trabalho porque queria saber o porquê dos nãos
paternos e só os aceitava depois de entender a razão deles. Ao mesmo tempo, segundo
seu pai, de todos os filhos era a mais solidária, a que pedia para doar brinquedos ao
orfanato, a que reunia um grupo de amigos para comprar mantimentos, aquefoi fazer
trabalho voluntário na Casa do Sol Nascente, em Guaratinguetá.

       – Ela queria mudar o mundo, e hoje quando a vejo viajando, escrevendo, tendo
todo o reconhecimento que está tendo, inclusive na Itália e no Líbano, penso que no
fundo eu sempre soube que isso aconteceria a ela.

       Na sua última viagem ao campo de refugiados de Chatile, no Líbano, quando
estava saindo uma mulher correu para ela e lhe entregou um pedaço de papel com o
nome de um menino e de uma cidade no Brasil, Mogi das Cruzes, e lhe pediu para
encontrá-lo, pis ela não sabia se ele havia chegado vivo no Brasil. Lucia guardou aquele
papel. Quando voltou para o Brasil, fez tudo que podia para encntrar o garoto, foi até
Mogi das Cruzes, conversou com os muçulmanos que haviam chegado há poucos meses
lá e procurou por uma mesquita. Ela tinha certeza que o garoto deveria frequentar uma
mesquita.Perguntou sobre o rapaz, e um dos frequentadores do local conhecia um moço
com aquele nome dado pela mulher no Líbano! Ele agoratrabalhava em uma padaria.
Lucia foi até lá e o encontrou. Contou sobre sua mãe, e ele se emocionou muito.Ele
escreveu uma carta para a mãe, mas no Campo de Chatila muitas cartas não chegam,
então Lucia a mandou para sua amiga na ONU em Beirute, que se responsabilizou em
fazer com que a correspondência chegasse ao campo de refugiados de Chatila.

       Ela realizou o sonho de uma mãe refugiada, de ter a certeza de que seu filho
estava bem.




       Entrevistas na mídia

       Lucia participou de várias entrevistas, dentre elas, destacam-se a que deu para o
programa Provocações, na Cultura, no ano de 2011.

       Na ocasião, demonstrou todo seu conhecimento com extrema simpatia e doçura.
Talvez por sua experiência, fala como uma mulher, mas considera-se uma menina por
seus medos.

       Gesticulava e contava sobre a fidelidade à Cosa Nostra e a vitória das mulheres.
As leis como projetos de reabilitação para os jovens que ajudam a diminuir os mafiosos.

       Contou sobre a diferença da máfia siciliana e a napolitana, os valores arcaicos e
ligados à religião. Segundo ela, o ponto crucial é que tudo não passa de glamour, como
no filme o poderoso chefão.

       – Os verdadeiros chefões são muito cruéis.

       Em outra entrevista para o programa “Mundo Saudável”, do Jornal integração
on-line, Lucia se expressa de forma natural e com simplicidade. Conforme relata os
fatos ocorridos na Sicília, lembra-se de uma passagem na qual entrevistou uma senhora
em seu último dia em Palermo:

       – Uma Sicília que tem cor e sabor de legalidade, e de cidadania.

       Para Lucia, viajar é romper fronteiras, olhar para o outro e descobrir que as
diferenças podem ser fascinantes.
– O sol, ainda que timidamente, finalmente voltou ao Rio, quase como uma
metáfora da vida... Domingo maravilhoso com amigos especiais, no Coutry Club do
Recreio dos Bandeirantes!

       Consegue influir na vida das pessoas de modo sublime, abrindo as portas para
reflexões.

       – Tenho visto muitas pessoas desistindo de seus sonhos e sempre conto a elas
uma história que me inspira até hoje.


       Thomas Edison, o inventor da lâmpada, foi um cara que sempreinspirou a Lucia,
mais até pela sua determinação do que pela inventidade. Quando ele estava trabalhando
na sua invenção completamente maluca para a época, fez 80 tentativas frustradas de
produzir uma lâmpada, e um dia um de seus colegas da Califórnia, perguntou-lhe:




       (...) Nas redes sociais ela também conta sobre reportagens que ganharam
destaque na mídia e entrevistas que fizera a pouco.


       - Há alguns anos, quando eu estava morando em Roma, fiz uma série de
reportagens para a Folha de São Paulo (publicadas no Caderno Mundo), após ter
conseguido entrevistar uma garota do leste europeu que havia sido enganada com
promessas de emprego e levada para a rede de prostituição na Europa, liderada pela
máfia russa.
       A reportagem recebeu destaque porque Lúcia foi a primeira brasileira a escrever
sobre o tráfico de mulheres, de meninas prostitutas que haviam sido enganadas, etc.
Muitos amigos dela na época não acreditavam nisso, diziam que ela estava sendo
idealista querendo dar voz a elas, que elas escolheram aquile caminho, etc.Hoje, dez
anos depois, o mundo descobriu que o Tráfico de mulheres é real e movimenta mais de
80 bilhoes por ano!


       – Sinto orgulho de ter escrito essa reportagem numa época em que ninguém
falava sobre isso.
MakingOf

       Lucia Helena Issa, uma mulher exuberante, dona de longos cabelos negros,
sorriso inenarrável e olhar doce, como os olhos de uma menina. Devido à distância entre
nós, nunca tivemos contato pessoal, mas dentro desse período em que pudemos trocar e-
mails, ela foi sempre muito educada e gentil. Ao receber meu convite como perfilada,
respondeu de imediato:

       Posso te ajudar no que for possível. Será uma honra para mim! Abraço afetuoso.

       Ofereceu a mim sugestões de pesquisa sobre a máfia Italiana e também sobre sua
obra na mídia. Concedeu de bom grado contatos de amigos e familiares, tais como seu
irmão Beto Issa, sua mãe, seu pai e amigas Ana e Márcia. Que contaram histórias sobre
suas vidas, para que eu pudesse me aprofundar nas pesquisas.

       Para mim, um perfil muito gostoso de produzir, já que Lucia tem a primazia de
escrever em linhas longas e relatar minuciosamente todos os fatos de sua vida.

       Suas amigas e família também contribuíram grandemente para que eu pudesse
trilhar esse longo caminho entre biografia, vida e obra, relato de pessoas queridas e
entrevistas. Consegui descobrir não somente quem é, mas também tive a oportunidade
de conhecer a profundidade de sentimentos que Lucia possui em seu âmago, bem como
os sonhos que ela conseguiu realizar para muitas pessoas ao redor do mundo.

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Perfil literário de Lucia Helena Issa

  • 1. PERFIL LITERÁRIO: LUCIA HELENA ISSA COBERTURA DE CONFLITOS São Paulo 2012
  • 2. PERFIL LITERÁRIO – LUCIA HELENA ISSA Autora: Patrícia Candelária LUCIA HELENA, A SHERAZADE DAS MIL E UMA NOITES "Não tenho medo dos gritos dos maus, mas do silêncio dos bons...”. (Martin Luther King) Vida Lúcia nasceu em Guaratinguetá, interior de São Paulo,descendente de árabes, filha de empresário, é a caçula e única menina de quatro irmãos. Formada em Jornalismo e Graduada em Comunicação Social, fez especialização em Literatura Comparada pelas Faculdades Integradas Teresa D’Ávila (FATEA - Lorena, SP) e em Linguagem e Semiótica pela Universitàdi Roma, na Itália. Lucia ganhou uma bolsa para estudar na Itália. Seu intuito era permanecer seis meses, mas devido ao casamento com um italiano, prolongou sua estadia por seis anos. Durante esse período, colaborou com alguns dos principais veículos de comunicação do Brasil, tais como Folha de São Paulo, Jornal do Brasil e revista Isto é. Percorreu mais de 40 países, alguns deles palcos de conflitos reportados por ela in loco, focando na situação das mulheres refugiadas, no imediato pós-guerra (tais como Líbano, Sérvia e Bósnia). Foi também apresentadora do VNEWSda Rede Globo Vanguarda, em São José dos Campos, São Paulo. Atualmente vive entre o Brasil e a Itália, onde cursa o mestrado em Políticas e Culturas Euro-Mediterrâneas, com foco em Mediação e Conflitos; é membro da organização internacional ReporterssanFrontieres (Repórteres Sem Fronteiras), correspondente para o Brasil da organização Peace Reporter (Repórter pela Paz), correspondente internacional e voluntária da Cruz Vermelha Internacional no Rio de Janeiro.
  • 3. .Em junho de 2010, Alexandre Marcos Lourenço, crítico literário e filósofo pela Universidade de São Paulo (USP), escreveu para ”O Lince” um artigo sobre Lucia Helena Issa em que afirmava o seguinte: – O texto de Lucia Helena Issa carrega a sonoridade aconchegante de quem sabe contar histórias, talvez geneticamente herdada da tradição árabe que encanta povos e gerações, desde que a hábil Sherazade enredou-nos em Mil e Uma Noites. E continua: – Lucia é uma profissional perspicaz e atenta, capaz de criar uma tessitura de palavras que descolam-se e deslocam-nos para o universo apresentado pela autora, dando um toque de literatura àquilo que poderia ser apenas informação. Ela não se satisfaz com a informação de segunda mão ou com os juízos definitivos. Ao contrário, vai a campo num verdadeiro trabalho de busca das fontes primárias que burila com sólida formação acadêmica. O resultado? O desejo de tê-la em mil e um capitulos – ou mais (...) Em 2011 publicou o livro “Quando Amanhece na Sicília...”’. Obra esta de grande valia, pois se trata do primeiro livro-reportagem escrito por uma jornalista investigativa brasileira. Nele, Lucia conta histórias de esperança no pós-guerra e sobre a “significativa luta das mulheres sicilianas contra a máfia numa terra em que o silêncio é a medida do valor da mulher”. O contexto do livro dá voz às mulheres sicilianas. São elas: juízas, mães, professoras etc. E mostra como elas foram determinantes no enfraquecimento da máfia no país. Para escrever a obra, a autora morou na Itália por seis anos e fez uma verdadeira imersão na região da Sicília. Presenciou o enfraquecimento do Estado diante da Cosa Nostra (Máfia Siciliana). O livro possui entrevistas com especialistas, autoridades, juízas e cidadãos comuns relatando a transformação da Sicília. Há ainda entrevistas realizadas com historiadores em Roma, sobre a ligação de alguns membros do Vaticano com a CosaNostra. Na obra é apresentada, também, a coragem de um grupo de mulheres após o assassinato de seus filhos e maridos pela máfia, o assassinato de dois juízes mais combativos na Itália e a reação da sociedade civil. Segundo Lúcia Helena:.
  • 4. – O objetivo desse trabalho é revelar como a Sicília tem conseguido sair do ciclo de violência, terror e impunidade que a caracterizou por tanto tempo. Mostrar que as mulheres sicilianas foram e estão sendo parte fundamental dessa transformação social na Sicília. (...) Como colaboradora da RSF, descobriu refugiadas internas em Belgrado e Sarajevo. Por meio de uma fonte que entrou no programa de proteção à testemunha, pode ouvir relatos da revolução feminina contra os mafiosos, que ocorria na Sicília. A ideia de Lucia não era investigar o último crime da Cosa Nostra, mas sim, entender como esse fenômeno social atingia a máfia. (...) Na Itália existem diversas máfias, sendo que a mais conhecida é a “Cosa Nostra” (na língua portuguesa “nosso assunto” ou “nossa coisa”), de origem siciliana. Conforme a origem do termo, esse conceito remete à substituição do Estado. Atualmente existem 329 grandes mafiosos presos incomunicáveis. Muitos deles já mataram mais de cinco mil pessoas na Sicília nos últimos anos. Sua prisão foi estabelecida apenas porque surgiram denúncias de mulheres que decidiram falar. Tudo começou com a prisão de Salvatore Riina, em 1993, e depois diversos outros mafiosos foram capturados. Certa noite, em Brancaccio, um dos bairros mais violentos de Palermo,depois de tentar pagar o restaurante em que havia parado para comer rapidamente, Lucia descobriu que a conta já havia sido paga. Ela foi abordada por um cavalheiro de aparência elegante. Na Itália, o maior diferencial do crime organizado, é que não é possível identificar os mafiosos. Lucia foi surpreendida pelo cavalheiro, que a chamou para conversar, e demostrava saber exatamente quem ela era, sua nacionalidade e o fato de ser jornalista. Ele sabia tudo a seu respeito,e tentou convencê-la de modo delicado de que a máfia não existia, que as mulheres que lutavam contra a Máfia e por justiça para seus filhos estavam loucas, que em Palermo não existiam líderes mafiosos e que Lucia deveria escrever sobre isso. Mas Lucia pensou que jamais deixaria de escrever seu livro e dar voz àquelas mulheres.
  • 5. - Aquelas mulheres haviam me escolhido tanto quando eu a elas, e nada me faria desistir agora. Nas últimas três décadas, morreram oito jornalistas assassinados na Sicília. Atualmente a situação dos jornalistas italianos é pouco vulnerável, mas ainda existem muitas ameaças. Com a sociedade civil mais atenta, assassinar um juíz ou um jornalista é algo muito impopular. A máfia existe, o domínio da Cosa Nostra se extinguiu no território siciliano. Segundo estimativas, dos oito mil membros, a máfia tem hoje menos de mil.Mais de 100 bilhões de euros já foram confiscados da máfia Siciliana. Família e Amigos A maior referência de Lucia Helena Issa, seu modo de interagir com o mundo, está pautado nas viagens, cinema e literatura. Frequentemente viaja com a filha e adora rever lugares que marcaram sua vida, como Roma. Segundo sua amiga, Márcia Cristina Campos, Lucia é uma pessoa perspicaz e dona de uma personalidade ímpar. Ela é solidária, companheira e justa. – Suas experiências, viagens, estudo, bagagem cultural são ferramentas que contribuem para maximizar sua simpatia e torná-la uma guerreira em defesa dos menos favorecidos, injustiçados ou vítimas de atrocidades, como no caso dos massacres ocorridos na Palestina. (...). Querida por todos, Lucia encontrou em Ana Maria Almada uma amiga com quem pudesse contar. Conheceram-se quando ainda eram adolescentes, mas tornaram- se amigas muito mais tarde, quando ambas voltaram a morar em Guaratinguetá. – O que nos reaproximou foram nossas afinidades intelectuais. A partir daí, descobrimos que também nossas almas se entendem, e nos tornamos grandes amigas. Acho lindo nossas meninas juntas! Podemos passar horas conversando, seja sobre os rumos do mundo, seja sobre nossos amores. Com Lucia posso rir ou chorar, posso ser sempre eu mesma.
  • 6. A personalidade de Lucia é definida por Ana em uma palavra: doce. Não se trata de uma doçura simples, mas feita de nuances, como toda pessoa com inteligência acima da média. – Articulada, desinibida, aberta à vida, linda, quem a conhece se encanta. Lucia é escritora, mãe, jornalista e é sempre ela mesma, em todos os papéis... O reencontro de ambas foi marcante, já que moraram na mesma cidade por muito tempo. Ana esteve presente no lançamento de seu livro “Quando Amanhece na Sicília”, em Guaratinguetá. Ana pôde ler a obra, e teve a certeza do sucesso que ela se tornaria. O local do lançamento na cidade de Guaratinguetá foi mágico, Lucia Helena brilhava entre todos, a noite pode ser recordada por meio de fotos. Para Lucia Helena, as pessoas são mais importantes que os lugares. Ela é como uma cidadã do mundo transita por todos os ambientes sem perder a identidade. Mas aprecia estar com os amigos e com a família. Sempre generosa, gosta de receber as pessoas queridas em sua casa, que parece se expandir até se tornar tão grande quanto seu coração. – Trilhou os caminhos que escolheu, venceu, é hoje uma cidadã do mundo literalmente e nos enche de orgulho. Lucia aprendeu a ler desde muito cedo. Aos 5 anos de idade, passava horas lendo. Ela sempre lia histórias para uma menina, filha de uns amigos de Regina Helena. Certo dia, sua mãe soube que a mãe da criança para quem ela lia também passara a ouvir as histórias, porque Lucia criava situações dentro do contexto e mudava todos os meios das histórias mais assustadoras, a menina para quem ela lia era alguns anos mais nova. Lucia criava personagens, fazia com que os maus não fossem tão ruins. Fazia com que eles se redimissem de alguma forma. Na época, a mãe da garotinha, perplexa, dizia: – Ela tem potencial para ser escritora!
  • 7. Numa tarde de abril, pouco antes de Lucia completar seis anos de idade, sua mãe a levou para conhecer o Orfanato Puríssimo Coração de Maria, em Guaratinguetá, onde viviam centenas de crianças. Ao tomar consciência da situação em que os órfãos viviam – a Páscoa estava chegando e muitas delas não ganhariam nada –, começou a fazer mil perguntas para a assistente do local. Ao final da visita, decidiu: – É aqui que eu quero fazer minha festa de seis anos, e é com elas que quero dividir os presentes e os ovos de Páscoa. Hoje, Lucia tem feito um trabalho como voluntária internacional, assim como em 2011, em que conseguiu ir para o Líbano levando ajuda humanitária para os refugiados palestinos, no campo de Chatila. É a confirmação de sua personalidade. Em um certo domingo de primavera, quando a filha já morava em Roma, Helena Regina viu uma reportagem, de autoria da Lucia, de pagina inteira no caderno Mundo, diretamente de Roma. Depois dessa, surgiram muitas outras. – Naquele domingo, senti um orgulho imenso, porque ela não tinha contado antes!. O irmão de Lucia, o fotógrafo internacional Beto Issa descreve a irmã como uma mãe apaixonada pela filha e uma jornalista nata, que vai sempre onde a notícia está. - Lembro quedurante o funeral de Ayrton Senna, em 1994,quando ela ainda era estudante, havia muitas restrições para se chegar perto da Assembleia e ela conseguiu entrar lá e fazer uma matéria emocionante, o que me surpreendeu muito justamente porque ela ainda era estudante. Como sou fotógrafo de automobilismo, esse é um fato de que sempre me lembro. O relacionamento que Lucia tem com o pai é algo muito especial, intenso e apaixonado. Por vezes conflituoso também. Durante a adolescência de Lucia, após a separação de seus pais por algum tempo, quando tinha 13 anos, foi morar com ele e, mesmo vendo sua mãe frequentemente, seu pai se tornou para ela um dos maiores faróis naquele oceano de paradoxos que é a adolescência.
  • 8. O pai de Lucia, Jorge Issa, é assim: pragmático, autoritário, mas também dono de uma generosidade e solidariedade como poucas pessoas possui. – O curioso é que somos muito diferentes, temos visões de mundos diferentes, eu sou mais idealista, engajada socialmente, com ideias revolucionárias demais para ele. Um empresário super capitalista, conhecido em toda a região pela rede de lojas que fundou. Lucia cresceu lendo Pablo Neruda, Marcel Proust, Gibran Kalil Gibran, um dos maiores escritores libaneses de todos os tempos. Lia Gabriel Garcia Marques aos 12 anos e escrevia histórias aos 11 anos. Seu pai percebeu muito cedo que dentro da menininha meiga, sapeca que aprontava muito, talvez houvesse uma contadora de histórias para gente grande também; uma escritora. Ele a presenteou com uma coleção maravilhosa que hoje está na casa de Lucia no Rio de Janeiro: a Coleção Prêmio Nobel, os livros de capa dura marrom com fios prateados na capa que a fascinaram desde que os viu e revelou a alma de Gabriela Mistral, Neruda, Wisnton Churchill, William Falkner, Pirandello, de quem se tornou amiga desde então. Lucia também se recorda de um dos primeiros livros que ganhou dele e que guarda ainda hoje: “As Mil e Uma Noites”, cujo cenário era sempre o Oriente Médio, a terra de seus avós, e que tinha como uma das heroínas Sherazade, a menina que contava histórias para não morrer. – Assim como eu talvez faça isso hoje. Somente escrevendo e relatando o que vi no Oriente Médio me sinto plenamente viva. Lucia descreve seu pai como um homem bonito e bem alto, carismático, um líder nato que ela nunca viu chorar durante a infância. Até que no dia 18 de setembro de 1982, durante a guerra civil no Líbano, Lucia estava em casa com ele e apareceram na tela da TV as imagens do Massacre de Sabrae Chatila, em que mais de 2000 palestinos, a maioria mulheres e crianças, foram assassinadas com a ajuda do exército israelense, que havia ocupado o sul do Líbano.
  • 9. – Naquele dia vi meu pai chorar como um menino e me revelar uma vulnerabilidade que eu até então desconhecia. Naquele dia, aos 14 anos, Lucia decidiu que iria para o Líbano um dia, escreveria a história dos palestinos que morreram no massacre e daria voz àquelas pessoas, que é o que ela faz agora ao escrever o livro “Filhas da Esperança”. Para seu pai, Lucia era precoce, generosa, doce e rebelde ao mesmo tempo. Era especial desde que nasceu. – Sabíamos disso e nem sempre sabíamos como lidar com sua precocidade. Mesmo sendo muito diferente de seu pai, pois ele se considera racional e menos emocional, eles construiram uma cumplicidade que fez com que Lucia decidisse morar com ele na adolescência. Desde menina, Lucia deu trabalho porque queria saber o porquê dos nãos paternos e só os aceitava depois de entender a razão deles. Ao mesmo tempo, segundo seu pai, de todos os filhos era a mais solidária, a que pedia para doar brinquedos ao orfanato, a que reunia um grupo de amigos para comprar mantimentos, aquefoi fazer trabalho voluntário na Casa do Sol Nascente, em Guaratinguetá. – Ela queria mudar o mundo, e hoje quando a vejo viajando, escrevendo, tendo todo o reconhecimento que está tendo, inclusive na Itália e no Líbano, penso que no fundo eu sempre soube que isso aconteceria a ela. Na sua última viagem ao campo de refugiados de Chatile, no Líbano, quando estava saindo uma mulher correu para ela e lhe entregou um pedaço de papel com o nome de um menino e de uma cidade no Brasil, Mogi das Cruzes, e lhe pediu para encontrá-lo, pis ela não sabia se ele havia chegado vivo no Brasil. Lucia guardou aquele papel. Quando voltou para o Brasil, fez tudo que podia para encntrar o garoto, foi até Mogi das Cruzes, conversou com os muçulmanos que haviam chegado há poucos meses lá e procurou por uma mesquita. Ela tinha certeza que o garoto deveria frequentar uma mesquita.Perguntou sobre o rapaz, e um dos frequentadores do local conhecia um moço com aquele nome dado pela mulher no Líbano! Ele agoratrabalhava em uma padaria. Lucia foi até lá e o encontrou. Contou sobre sua mãe, e ele se emocionou muito.Ele
  • 10. escreveu uma carta para a mãe, mas no Campo de Chatila muitas cartas não chegam, então Lucia a mandou para sua amiga na ONU em Beirute, que se responsabilizou em fazer com que a correspondência chegasse ao campo de refugiados de Chatila. Ela realizou o sonho de uma mãe refugiada, de ter a certeza de que seu filho estava bem. Entrevistas na mídia Lucia participou de várias entrevistas, dentre elas, destacam-se a que deu para o programa Provocações, na Cultura, no ano de 2011. Na ocasião, demonstrou todo seu conhecimento com extrema simpatia e doçura. Talvez por sua experiência, fala como uma mulher, mas considera-se uma menina por seus medos. Gesticulava e contava sobre a fidelidade à Cosa Nostra e a vitória das mulheres. As leis como projetos de reabilitação para os jovens que ajudam a diminuir os mafiosos. Contou sobre a diferença da máfia siciliana e a napolitana, os valores arcaicos e ligados à religião. Segundo ela, o ponto crucial é que tudo não passa de glamour, como no filme o poderoso chefão. – Os verdadeiros chefões são muito cruéis. Em outra entrevista para o programa “Mundo Saudável”, do Jornal integração on-line, Lucia se expressa de forma natural e com simplicidade. Conforme relata os fatos ocorridos na Sicília, lembra-se de uma passagem na qual entrevistou uma senhora em seu último dia em Palermo: – Uma Sicília que tem cor e sabor de legalidade, e de cidadania. Para Lucia, viajar é romper fronteiras, olhar para o outro e descobrir que as diferenças podem ser fascinantes.
  • 11. – O sol, ainda que timidamente, finalmente voltou ao Rio, quase como uma metáfora da vida... Domingo maravilhoso com amigos especiais, no Coutry Club do Recreio dos Bandeirantes! Consegue influir na vida das pessoas de modo sublime, abrindo as portas para reflexões. – Tenho visto muitas pessoas desistindo de seus sonhos e sempre conto a elas uma história que me inspira até hoje. Thomas Edison, o inventor da lâmpada, foi um cara que sempreinspirou a Lucia, mais até pela sua determinação do que pela inventidade. Quando ele estava trabalhando na sua invenção completamente maluca para a época, fez 80 tentativas frustradas de produzir uma lâmpada, e um dia um de seus colegas da Califórnia, perguntou-lhe: (...) Nas redes sociais ela também conta sobre reportagens que ganharam destaque na mídia e entrevistas que fizera a pouco. - Há alguns anos, quando eu estava morando em Roma, fiz uma série de reportagens para a Folha de São Paulo (publicadas no Caderno Mundo), após ter conseguido entrevistar uma garota do leste europeu que havia sido enganada com promessas de emprego e levada para a rede de prostituição na Europa, liderada pela máfia russa. A reportagem recebeu destaque porque Lúcia foi a primeira brasileira a escrever sobre o tráfico de mulheres, de meninas prostitutas que haviam sido enganadas, etc. Muitos amigos dela na época não acreditavam nisso, diziam que ela estava sendo idealista querendo dar voz a elas, que elas escolheram aquile caminho, etc.Hoje, dez anos depois, o mundo descobriu que o Tráfico de mulheres é real e movimenta mais de 80 bilhoes por ano! – Sinto orgulho de ter escrito essa reportagem numa época em que ninguém falava sobre isso.
  • 12. MakingOf Lucia Helena Issa, uma mulher exuberante, dona de longos cabelos negros, sorriso inenarrável e olhar doce, como os olhos de uma menina. Devido à distância entre nós, nunca tivemos contato pessoal, mas dentro desse período em que pudemos trocar e- mails, ela foi sempre muito educada e gentil. Ao receber meu convite como perfilada, respondeu de imediato: Posso te ajudar no que for possível. Será uma honra para mim! Abraço afetuoso. Ofereceu a mim sugestões de pesquisa sobre a máfia Italiana e também sobre sua obra na mídia. Concedeu de bom grado contatos de amigos e familiares, tais como seu irmão Beto Issa, sua mãe, seu pai e amigas Ana e Márcia. Que contaram histórias sobre suas vidas, para que eu pudesse me aprofundar nas pesquisas. Para mim, um perfil muito gostoso de produzir, já que Lucia tem a primazia de escrever em linhas longas e relatar minuciosamente todos os fatos de sua vida. Suas amigas e família também contribuíram grandemente para que eu pudesse trilhar esse longo caminho entre biografia, vida e obra, relato de pessoas queridas e entrevistas. Consegui descobrir não somente quem é, mas também tive a oportunidade de conhecer a profundidade de sentimentos que Lucia possui em seu âmago, bem como os sonhos que ela conseguiu realizar para muitas pessoas ao redor do mundo.