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DOIS MOMENTOS DE UM PATRIMÔNIO DA HUMANIDADE
      Fotos de Pedro Lobo revelam sítio histórico de Olinda em 1981 e 2010


Imagens de duas épocas do sítio histórico de Olinda, considerado patrimônio natural e
cultural da humanidade há 29 anos pela Unesco, poderão ser vistas pelo público a
partir do próximo dia 23 de julho, às 16h, no Convento de São Francisco, com o
lançamento do livro Linda Olinda, trabalho do fotógrafo carioca Pedro Lobo,
organizado pela designer pernambucana Gisela Abad, com o objetivo de preservar a
memória deste título, desejado em todas as partes do planeta. O evento será aberto
com uma palestra da professora da UFBA, Márcia Sant’Anna, ex-diretora de
Patrimônio Imaterial do IPHAN, com participação da arquiteta Vera Milet.

O projeto da dupla, aprovado pelo Ministério da Cultura, através do Pronac
(Programa Nacional de Apoio à Cultura), tendo o BNDES como patrocinador,
também inclui um CD com informações sobre educação patrimonial, acompanhado de
manual para o professor, elaborado pela pedagoga Sandra Dias, a ser entregue, junto
com o livro, às escolas públicas e particulares situadas na área preservada do
município. Ainda foi construído um site com parte das fotos publicadas e conteúdo
interativo para os alunos.

O que se revela no livro é parte do material produzido em 1981 por Pedro Lobo para o
dossiê elaborado pelo IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional)
e Fundação Nacional Pró-Memória, tendo à frente Aloísio Magalhães, um dos
pioneiros do design moderno no Brasil, com o objetivo de inscrever Olinda ao título
de Patrimônio da Humanidade. A outra sequência foi realizada em dezembro de 2010.

Os autores tiveram um trabalho exaustivo. Dos 1.400 negativos de 1981 foram
selecionadas 100 imagens para oLinda Olinda. Os negativos, que são guardados no
arquivo central do IPHAN, passaram pelo processo de digitalização. Dos 8.500 clicks
do ano passado apenas 153 estão no livro. Um mapa auxilia o leitor na localização das
fotos.

A publicação, com 208 páginas, recebeu uma contribuição valiosa de textos
produzidos por profissionais apaixonados pelo sítio histórico de Olinda e participantes
deste tempo entre os dois recortes documentados, como Marcos Vinícius Vilaça,
Edson Nery da Fonseca, José Luiz da Mota Menezes, Leonardo Dantas Silva, Jurema
Machado e Sônia Calheiros. Também foram editados pequenos depoimentos, com
impressões e sentimentos de pessoas que fazem parte do patrimônio vivo da cidade,
como Sílvio Botelho, Dona Dá, Carlos Trevi, Dulce Helena do Nascimento, Isa do
Amparo, Alcione Leitão, César Santos, Maestro Duda de Olinda, Cláudia Nigro,
Major José Antônio e Vera Milet. O material está traduzido para o inglês e francês.


Pedro Lobo - Nasceu no Rio de Janeiro em 1954 e mora há quatro anos em Portugal.
Estudou fotografia no Museum of Fine Arts de Boston, com Elaine O’Neil e Bill
Burke, e no International Center of Photography (ICP) em Nova Iorque. Entre 1978 e
1985 trabalhou como fotógrafo/pesquisador da Fundação Pró-Memória no Brasil.
Expôs no Brasil, Alemanha, Colômbia e Estados Unidos. Seu interesse pela
arquitetura popular como construção de individualidade o levou a fotografar diversas
favelas e presídios, como o Carandiru (posteriormente demolido), cujos interiores
mostrou em “Imprisonned spaces/Espaços aprisionados”, na Blue Sky Gallery, em
Portland, em 2005. Participou de exposições coletivas, entre as quais “REtalhar2007”,
no Centro Cultural Banco do Brasil do Rio de Janeiro, e “Via BR 040 – Serra
Cerrado”, com Miguel Rio Branco, Elder Rocha, entre outros, na Plataforma
Contemporânea do Museu Imperial de Petrópolis, entre 2004 e 2005. Em 2008
recebeu o primeiro prêmio no Festival TOPS na China. Sua primeira exposição
individual em Portugal foi "Favelas: arquitectura da sobrevivência", no Museu
Municipal Professor Joaquim Vermelho, em Estremoz, atualmente em circuito
universitário nos Estados Unidos. O trabalho “Cinco prisões em Medellin” ainda não
foi mostrado ao público.

Gisela Abad - Pernambucana. Graduada (1980) e Mestre (2010) em Design pela
Escola Superior de Desenho Industrial – UERJ -, com especialização em Design da
Informação pela UFPE (2000), atua como designer desde 1974. Trabalhou no Núcleo
de Editoração da Fundação Nacional Pró-Memória, Secretaria do Patrimônio
Histórico e Artístico Nacional entre 1980 e 1984. Tem se dedicado ao design gráfico,
editorial, identidade corporativa, sinalização, museografia e coordenação editorial.
Prêmio IAB Nacional em desenho industrial em 1977; UERJ, prêmio em
programação visual em 1978; Salão Pernambucano de Design 2004, destaque nas
categorias Identidade Visual e Projeto Gráfico.

Serviço:
Lançamento do livro Linda Olinda – 23 de julho, 16h, no Convento São Francisco
(Ladeira de São Francisco, 280, Carmo, Olinda).

Contatos:
Gisela Abad ( 3268.5926 e 8889. 3988 – gisela@2abad.com)
Pedro Lobo (pedro@lobofoto.com – Skype: lobofoto)
Juliana Cuentro/Assessoria de Imprensa (9959.8086 – juliana.cuentro@gmail.com)


                            Entrevista Pedro Lobo (*)

P – Você já conhecia Olinda em 1981? Acha que esse conhecimento é uma pré-
condição para ter um olhar diferenciado sobre o que vai fotografar?

Pedro - Conheci Olinda em 1979, por intermédio de Aloísio Magalhães, quando
trabalhava no CNRC (Centro Nacional de Referência Cultural) realizando pesquisa e
documentação fotográfica sobre o aproveitamento de pneus no Nordeste. Não haveria
melhor maneira de conhecer Olinda do que através do olhar privilegiado de um artista
como Aloísio, morador e admirador da cidade.

2 - Para realizar uma documentação como aquela, feita em 1981, qual foi a sua maior
preocupação: revelar os detalhes da arquitetura, a paisagem natural, o dia a dia da
população naquele cenário, ou tudo junto? Que história você quis contar?

Pedro - O maior patrimônio de Olinda é a combinação, em quantidades exatas, de
natureza, arquitetura e cultura. Este equilíbrio é o que faz Olinda especial. Nossa
maior preocupação, tanto em 1981 como agora, foi encontrar as melhores maneiras de
revelar natureza, arquitetura e cultura que combinados harmoniosamente vestem
Olinda em trajes de gala. Devo a percepção destes atributos a imprescindível
orientação recebida de pessoas como o arquiteto Augusto Carlos da Silva Telles, do
jornalista pernambucano Laurênio Mello e da museóloga Lélia Coelho Frota, todos
colaboradores, como eu, do IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico
Nacional). Solange Magalhães, Guita, Zé Claudio e muitos outros moradores de
Olinda acrescentaram a minha leitura com suas percepções pessoais. Meu trabalho, a
história que devo contar, é juntar todos estes elementos e incluí-los em imagens que
possam ser lidas por qualquer um. Gosto muito das histórias que encontro nas paredes
das casas, das igrejas, dos palácios, das fontes, dos muros. É um privilégio percebê-
las e passá-las adiante.

P - O preto e branco limita ou amplia a visão de quem fotografa?

Pedro - Em fotografia há uma regra máxima, o que se ganha de um lado, perde-se de
outro - o preto e branco não limita nem amplia a visão de um fotógrafo, é
simplesmente uma das formas de leitura fotográficas da realidade. Olinda, em 1981,
era uma cidade que se revelava mais monocromática, as casas e os prédios eram na
sua maioria caiados de branco ou em tons muito sutis. O preto e branco permite uma
leitura mais focada na forma, no jogo de sombras e luzes, que revela a sutileza dos
volumes. Acho que foi a escolha adequada para os objetivos e propostas da
documentação fotográfica realizada em 1981.

P - Como define a releitura de 2010, desta vez colorida?

Pedro - Nestes últimos 30 anos, como não poderia deixar de ser, Olinda sofreu
grandes transformações. A releitura de 2010 baseou-se nestas transformações, sob
uma perspectiva histórica. O uso atual indiscriminado da cor em suas fachadas, portas
e janelas é uma consequência direta da combinação original de Olinda: natureza,
arquitetura e cultura. É como se o espectro das cores da natureza tivesse, todo ele,
sido banhado em frevo, tornando-se ainda mais exuberante. A cor juntou-se
definitivamente aos ingredientes da receita de Olinda.

P - Para um profissional da fotografia, que cenário é Olinda?

Pedro - É um grande cenário, com tradições e contradições. Olinda é patrimônio
indiscutível resultante da cultura brasileira, histórica e contemporânea, em uma
dinâmica que refaz, a todo instante, as relações entre seres humanos, natureza e
cidade. Em Olinda isto tudo é banhado por uma luz inigualável que revela toda a
história da cidade e de seus habitantes. Sou grato à cidade e a seus moradores pela
possibilidade de poder usufruir deste cenário.

(*) Realizada pela jornalista Juliana Cuentro

	
  

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  • 1. DOIS MOMENTOS DE UM PATRIMÔNIO DA HUMANIDADE Fotos de Pedro Lobo revelam sítio histórico de Olinda em 1981 e 2010 Imagens de duas épocas do sítio histórico de Olinda, considerado patrimônio natural e cultural da humanidade há 29 anos pela Unesco, poderão ser vistas pelo público a partir do próximo dia 23 de julho, às 16h, no Convento de São Francisco, com o lançamento do livro Linda Olinda, trabalho do fotógrafo carioca Pedro Lobo, organizado pela designer pernambucana Gisela Abad, com o objetivo de preservar a memória deste título, desejado em todas as partes do planeta. O evento será aberto com uma palestra da professora da UFBA, Márcia Sant’Anna, ex-diretora de Patrimônio Imaterial do IPHAN, com participação da arquiteta Vera Milet. O projeto da dupla, aprovado pelo Ministério da Cultura, através do Pronac (Programa Nacional de Apoio à Cultura), tendo o BNDES como patrocinador, também inclui um CD com informações sobre educação patrimonial, acompanhado de manual para o professor, elaborado pela pedagoga Sandra Dias, a ser entregue, junto com o livro, às escolas públicas e particulares situadas na área preservada do município. Ainda foi construído um site com parte das fotos publicadas e conteúdo interativo para os alunos. O que se revela no livro é parte do material produzido em 1981 por Pedro Lobo para o dossiê elaborado pelo IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) e Fundação Nacional Pró-Memória, tendo à frente Aloísio Magalhães, um dos pioneiros do design moderno no Brasil, com o objetivo de inscrever Olinda ao título de Patrimônio da Humanidade. A outra sequência foi realizada em dezembro de 2010. Os autores tiveram um trabalho exaustivo. Dos 1.400 negativos de 1981 foram selecionadas 100 imagens para oLinda Olinda. Os negativos, que são guardados no arquivo central do IPHAN, passaram pelo processo de digitalização. Dos 8.500 clicks do ano passado apenas 153 estão no livro. Um mapa auxilia o leitor na localização das fotos. A publicação, com 208 páginas, recebeu uma contribuição valiosa de textos produzidos por profissionais apaixonados pelo sítio histórico de Olinda e participantes deste tempo entre os dois recortes documentados, como Marcos Vinícius Vilaça, Edson Nery da Fonseca, José Luiz da Mota Menezes, Leonardo Dantas Silva, Jurema Machado e Sônia Calheiros. Também foram editados pequenos depoimentos, com impressões e sentimentos de pessoas que fazem parte do patrimônio vivo da cidade, como Sílvio Botelho, Dona Dá, Carlos Trevi, Dulce Helena do Nascimento, Isa do Amparo, Alcione Leitão, César Santos, Maestro Duda de Olinda, Cláudia Nigro, Major José Antônio e Vera Milet. O material está traduzido para o inglês e francês. Pedro Lobo - Nasceu no Rio de Janeiro em 1954 e mora há quatro anos em Portugal. Estudou fotografia no Museum of Fine Arts de Boston, com Elaine O’Neil e Bill Burke, e no International Center of Photography (ICP) em Nova Iorque. Entre 1978 e 1985 trabalhou como fotógrafo/pesquisador da Fundação Pró-Memória no Brasil. Expôs no Brasil, Alemanha, Colômbia e Estados Unidos. Seu interesse pela
  • 2. arquitetura popular como construção de individualidade o levou a fotografar diversas favelas e presídios, como o Carandiru (posteriormente demolido), cujos interiores mostrou em “Imprisonned spaces/Espaços aprisionados”, na Blue Sky Gallery, em Portland, em 2005. Participou de exposições coletivas, entre as quais “REtalhar2007”, no Centro Cultural Banco do Brasil do Rio de Janeiro, e “Via BR 040 – Serra Cerrado”, com Miguel Rio Branco, Elder Rocha, entre outros, na Plataforma Contemporânea do Museu Imperial de Petrópolis, entre 2004 e 2005. Em 2008 recebeu o primeiro prêmio no Festival TOPS na China. Sua primeira exposição individual em Portugal foi "Favelas: arquitectura da sobrevivência", no Museu Municipal Professor Joaquim Vermelho, em Estremoz, atualmente em circuito universitário nos Estados Unidos. O trabalho “Cinco prisões em Medellin” ainda não foi mostrado ao público. Gisela Abad - Pernambucana. Graduada (1980) e Mestre (2010) em Design pela Escola Superior de Desenho Industrial – UERJ -, com especialização em Design da Informação pela UFPE (2000), atua como designer desde 1974. Trabalhou no Núcleo de Editoração da Fundação Nacional Pró-Memória, Secretaria do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional entre 1980 e 1984. Tem se dedicado ao design gráfico, editorial, identidade corporativa, sinalização, museografia e coordenação editorial. Prêmio IAB Nacional em desenho industrial em 1977; UERJ, prêmio em programação visual em 1978; Salão Pernambucano de Design 2004, destaque nas categorias Identidade Visual e Projeto Gráfico. Serviço: Lançamento do livro Linda Olinda – 23 de julho, 16h, no Convento São Francisco (Ladeira de São Francisco, 280, Carmo, Olinda). Contatos: Gisela Abad ( 3268.5926 e 8889. 3988 – gisela@2abad.com) Pedro Lobo (pedro@lobofoto.com – Skype: lobofoto) Juliana Cuentro/Assessoria de Imprensa (9959.8086 – juliana.cuentro@gmail.com) Entrevista Pedro Lobo (*) P – Você já conhecia Olinda em 1981? Acha que esse conhecimento é uma pré- condição para ter um olhar diferenciado sobre o que vai fotografar? Pedro - Conheci Olinda em 1979, por intermédio de Aloísio Magalhães, quando trabalhava no CNRC (Centro Nacional de Referência Cultural) realizando pesquisa e documentação fotográfica sobre o aproveitamento de pneus no Nordeste. Não haveria melhor maneira de conhecer Olinda do que através do olhar privilegiado de um artista como Aloísio, morador e admirador da cidade. 2 - Para realizar uma documentação como aquela, feita em 1981, qual foi a sua maior preocupação: revelar os detalhes da arquitetura, a paisagem natural, o dia a dia da população naquele cenário, ou tudo junto? Que história você quis contar? Pedro - O maior patrimônio de Olinda é a combinação, em quantidades exatas, de natureza, arquitetura e cultura. Este equilíbrio é o que faz Olinda especial. Nossa maior preocupação, tanto em 1981 como agora, foi encontrar as melhores maneiras de
  • 3. revelar natureza, arquitetura e cultura que combinados harmoniosamente vestem Olinda em trajes de gala. Devo a percepção destes atributos a imprescindível orientação recebida de pessoas como o arquiteto Augusto Carlos da Silva Telles, do jornalista pernambucano Laurênio Mello e da museóloga Lélia Coelho Frota, todos colaboradores, como eu, do IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional). Solange Magalhães, Guita, Zé Claudio e muitos outros moradores de Olinda acrescentaram a minha leitura com suas percepções pessoais. Meu trabalho, a história que devo contar, é juntar todos estes elementos e incluí-los em imagens que possam ser lidas por qualquer um. Gosto muito das histórias que encontro nas paredes das casas, das igrejas, dos palácios, das fontes, dos muros. É um privilégio percebê- las e passá-las adiante. P - O preto e branco limita ou amplia a visão de quem fotografa? Pedro - Em fotografia há uma regra máxima, o que se ganha de um lado, perde-se de outro - o preto e branco não limita nem amplia a visão de um fotógrafo, é simplesmente uma das formas de leitura fotográficas da realidade. Olinda, em 1981, era uma cidade que se revelava mais monocromática, as casas e os prédios eram na sua maioria caiados de branco ou em tons muito sutis. O preto e branco permite uma leitura mais focada na forma, no jogo de sombras e luzes, que revela a sutileza dos volumes. Acho que foi a escolha adequada para os objetivos e propostas da documentação fotográfica realizada em 1981. P - Como define a releitura de 2010, desta vez colorida? Pedro - Nestes últimos 30 anos, como não poderia deixar de ser, Olinda sofreu grandes transformações. A releitura de 2010 baseou-se nestas transformações, sob uma perspectiva histórica. O uso atual indiscriminado da cor em suas fachadas, portas e janelas é uma consequência direta da combinação original de Olinda: natureza, arquitetura e cultura. É como se o espectro das cores da natureza tivesse, todo ele, sido banhado em frevo, tornando-se ainda mais exuberante. A cor juntou-se definitivamente aos ingredientes da receita de Olinda. P - Para um profissional da fotografia, que cenário é Olinda? Pedro - É um grande cenário, com tradições e contradições. Olinda é patrimônio indiscutível resultante da cultura brasileira, histórica e contemporânea, em uma dinâmica que refaz, a todo instante, as relações entre seres humanos, natureza e cidade. Em Olinda isto tudo é banhado por uma luz inigualável que revela toda a história da cidade e de seus habitantes. Sou grato à cidade e a seus moradores pela possibilidade de poder usufruir deste cenário. (*) Realizada pela jornalista Juliana Cuentro