1) Durante o século 19, um despertar religioso ocorreu devido ao estudo diligente das Escrituras e pesquisas científicas.
2) Isso levou ao desenvolvimento de movimentos relacionados à Segunda Vinda de Cristo em muitos países.
3) Um desses movimentos foi o milerismo na América do Norte na década de 1830, do qual surgiu posteriormente uma nova denominação protestante.
1. O Despertamento Religioso do Século Dezenove
Por Enilson Sarli (RA, mar/1987)
Durante as primeiras décadas do século dezenove, estudo diligente das Escrituras
Sagradas levou o mundo a um despertamento religioso. Ao mesmo tempo, pesquisas
científicas lançaram os fundamentos para uma revolução similar na prática da
medicina. Em ambas — medicina e religião — homens de determinação e caráter
questionavam a tradição, considerando cuidadosamente antigas e novas idéias. Eles se
atreveram a ficar de pé, mesmo sendo ridicularizados por causa das novas verdades
que haviam descoberto. Deste reexame das Escrituras cresceu um interesse sem
precedentes pela Segunda Vinda de Cristo, o que levou por sua vez ao
desenvolvimento de movimentos simultâneos do "Segundo Advento" em muitos
países.
O movimento milerita era um desses. Ele floresceu na América do Norte durante a
década de 1830, e então desapareceu quando sua tão amplamente publicada data
para o retorno de Cristo, 22 de outubro de 1844, passou. Desse movimento, porém,
aparentemente desacreditado e sem vida, nasceu uma nova denominação
protestante.
Sua continuada crença na iminente Segunda Vinda de Cristo estava baseada no intenso
estudo das profecias bíblicas, e isso caracterizado por um estilo único de vida e uma
filosofia saudável. Fazer o homem completo, física, mental e espiritualmente, era a
filosofia, incomum na época, desse pequeno grupo que surgiu do movimento milerita,
desapontados mas cheios de fé na exatidão das Escrituras e em seu Autor. Eles
começaram a compartilhar uma mensagem de vitalidade e força destinada a beneficiar
a saúde e aumentar a visão espiritual de muitos. O despertar espiritual do século
dezenove, do qual eles faziam parte, cresceu não somente do espírito individual e de
investigação pessoal mas também de alguns eventos sem precedentes no mundo
natural.
Sinais do Segundo Advento
Na década de 1830 e no começo da de 1840, o Espírito de Deus colocou no coração de
ministros e leigos de muitas religiões o interesse sobre o assunto do retorno de Cristo.
A medida que iam estudando cuidadosamente várias profecias bíblicas e observavam
nos eventos históricos como cada um deles se ia cumprindo no devido tempo, eles se
convenciam de que o evento final no tempo profético de Deus — o Segundo Advento
de Cristo — logo teria lugar.
2. Viram que as Escrituras apontavam para o retorno de Cristo. Viram também que as
Escrituras, profetizavam em detalhes os eventos que precederiam tal acontecimento.
Descobriram que muitos dos eventos ou condições que haviam sido profetizados como
sinais haviam, após o ano de 1700, sido cumpridos. Viram que tais sinais haviam sido
dados para chamar a atenção dos homens para a breve volta de Cristo e para ajudá-los
a se prepararem para o encontro com o Criador.
Através do profeta Joel, Deus havia dito: "O Sol se converterá em trevas, e a Lua em
sangue, antes que venha o grande e terrível dia do Senhor." Joel 2:31. E durante Seu
primeiro advento Cristo adicionou alguns detalhes: "Logo em seguida à tribulação
daqueles dias, o Sol escurecerá, a Lua não dará a sua claridade, as estrelas cairão do
firmamento e os poderes dos céus serão abalados." Mat. 24:29. João acrescentou: "...
e sobreveio grande terremoto. O Sol se tornou negro como saco de crina, a Lua toda
como sangue, as estrelas do céu caíram pela terra, como a figueira, quando abalada
por vento forte, deixa cair os seus figos verdes." Apoc. 6:12 e 13.
Nessas três profecias, três sinais notórios anunciaram o Segundo Advento: um grande
terremoto, seguido pelo escurecimento do Sol e da Lua, seguido pela queda das
estrelas. As predições se cumpriram precisamente na ordem em que foram preditas.
O terremoto de Lisboa, em 1? de novembro de 1755, foi um dos mais severos e um
dos maiores em extensão (4 milhões de milhas quadradas). Foi sentido na África, na
Europa Continental, no Reino Unido, na Groenlândia, América e nas índias Ocidentais.
O grande Dia Escuro, em 19 de maio de 1780, caracterizou-se por densas trevas.
Começando entre dez e onze horas da manhã, com duração de quinze horas. Um
trabalho publicado em 1881 disse que aquele dia foi "o mais misterioso e ainda não
explicado fenômeno do gênero, de todos os diversos eventos constatados na
Natureza, durante o último século.... O maior escurecimento de todo o céu visível e
atmosfera na Nova Inglaterra..."1 "Ele foi observado nas regiões mais distantes a este
da Nova Inglaterra, a oeste de Con-necticut e Albany, ao sul nas costas marítimas e ao
norte em todos os Estados americanos. Esta escuridão provavelmente excedeu esses
limites; porém, essa realidade nunca foi conhecida."2 Os pássaros voltaram para os
seus ninhos, os animais para o seu abrigo. A Câmara Legislativa do Estado de
Connecticut quase foi suspensa, pois seus membros assustados pensaram que o dia do
juízo havia chegado.3 Naquela noite, como havia sido profetizado, a Lua tornou-se
vermelha como sangue.
A queda das estrelas, em 13 de novembro de 1833, foi uma tão espessa chuva de
meteoros, estão extensiva, tão longa, que muitos temeram ser o fim do planeta Terra.
"Todo o firmamento, todo os Estados Unidos por [oito] horas estiveram em grande
comoção."4 Um incessante espetáculo de luminosidades brilhantes foi mantido por
todo o céu. Algumas delas eram de grande magnitude e de forma muito peculiar.
Primeiro pareciam como fogos de artifícios de muita grandeza cobrindo todo o céu
com milhões de bolas de fogo, parecendo foguetes. Numa inspeção mais detalhada,
podia-se ver que os meteoros exibiam três distintas variedades, descritas pelo Dr.
Almsted5 do Yale College, Massachusetts, conhecido como "o maior meteorologista da
América"6: "Primeiro, eles consistiam de linhas fosfóricas,... muito numerosos,
3. enchendo toda a atmosfera, imitando uma chuva de neve, porém em alta velocidade...
causando ao expecta-dor uma sensação de espanto.
"Segundo, eles eram enormes bolas de fogo.... Esse tipo parecia mais com uma chuva
de estrelas, que muitos tiveram a impressão de estar realmente caindo do céu....
"Terceiro, esses indefinidos corpos luminosos permaneciam como que parados no céu
por um longo período de tempo; e eram de vários tamanhos e formas."7
"Um de tamanho grande permaneceu por longo tempo sobre as cataratas do Niágara
emitindo vários raios de luz em todas as direções.... Nenhum homem jamais foi capaz
de ver um espetáculo tão terrível como o do firmamento descendo em pontas de fogo
sobre a escura e barulhenta catarata!"8 W. J. Fisher escrevendo em The Telescope, em
outubro de 1934, disse que o fenômeno foi "a mais magnificente chuva de meteoros já
registrada em recordes".
Numa noite típica, um observador comum poderá observar somente a queda de dez
estrelas por hora. Porém naquela noite, o mesmo observador poderia ter visto
sessenta mil por hora.9 "Arago computou que não menos de duzentos e quarenta mil
meteoros foram ao mesmo tempo visíveis sobre o horizonte da cidade de Boston."10
Naquela noite mais de um bilhão de estrelas apareceram sobre os Estados Unidos e o
Canadá somente."
Um Sinal Mais Impressionante
Os sinais no céu e na Terra advertiam os homens a se prepararem para o Segundo
Advento de Cristo. Porém, havia um sinal mais impressionante apontando para o
tempo do advento. Surpreendentemente, na década de 1830, milhares de pregadores
e leigos através do mundo começaram a ensinar sobre a brevidade desse evento.
Entre esses homens, alguns se destacaram, a saber: Manuel de Lacunza, no Chile;
Edward Ir-ving, na Inglaterra e Escócia; Louis Gaussen, na Suíça; Brugel, Leonard
Kelber, Joseph Wolff e John Albert Bengel, na Alemanha. O movimento do Advento
também foi da Europa para a Rússia. Joseph Wolff, muitas vezes correndo perigo de
vida, levou a mensagem à Ásia e África. Ele muitas vezes falou perante o congresso dos
Estados Unidos, em várias câmaras estaduais e em muitas cidades do país. Ele
encontrou cristãos isolados que através de seu próprio estudo haviam concluído que o
retorno de Cristo deveria ocorrer entre os anos de 1840 e 1844.
Um sonho levou Hentzepeter, o responsável pelo musel Royai Holland e um dos
maiores ministros da Holanda, a estudar o assunto e a publicar em 1830 um panfleto a
respeito. Onze anos mais tarde ele publicou outro panfleto, maior que o anterior, com
advertências sobre o final do mundo. Esses„homens e milhares de outros levaram a
mensagem do advento a seus compatriotas.
Na Suécia, a lei permitia somente que os pregadores do Estado pregassem nas igrejas.
Por isso em algumas partes da Suécia e Noruega, crianças eram os líderes do
movimento do Advento. Elas eram movidas pelo Espírito de Deus para explicar as
profecias, as quais eles mesmos eram muito novos para compreender — profecias
relacionadas com a breve volta do Salvador. Pessoas viajavam longas distâncias
4. somente para ouvir os pequenos pregadores de Deus chamar seus ouvintes ao
arrependimento e reforma. Esse, sem dúvida, era um trabalho da Providência Divina.
Em 1896, um homem que havia pregado a mensagem do Advento na Suécia quando
era ainda criança, disse: "Preguei! sim, eu tinha que pregar. Não podia discernir bem a
matéria. Uma força veio sobre mim, e eu fiz o que havia sido impelido por aquela força
a fazer."12
Dois mil anos atrás, crianças compelidas pelo Espírito de Deus balançavam folhas de
palmeiras no pátio do templo e proclamavam a Cristo como o prometido filho de Davi.
Durante a entrada triunfal de Cristo em Jerusalém e no Templo, as crianças
continuaram a adorá-Lo, porque os adultos, com medo dos sacerdotes e das
autoridades, deixaram crescer o silêncio.
Quando os invejosos fariseus ordenaram que Cristo fizesse calar as crianças, Ele
respondeu que Sua adoração era o cumprimento de uma profecia. (Mat. 21:8-16.)
Assim, como Deus usou crianças para proclamar a Cristo durante o Primeiro Advento,
poderia Ele ou não usá-las também para proclamar a mensagem do Segundo Advento?
No século dezenove, o fenômeno das crianças pregadoras foi relatado primeiramente
como tendo ocorrido na Igreja Paroquial de Hjelmseryd, na Suécia. Ali, em dezembro
de 1841, quatro meninas pequenas anunciavam que o final do mundo se aproximava e
que todos deveriam arrepender-se e preparar-se para o encontro com Deus. Quase
simultaneamente, um grande número de profetisas de dez a doze anos de idade
apareceram em paróquias vizinhas.13 E na Vila de Hornborga, seis meninos' de oito a
dezoito anos de idade foram compelidos a dar a mensagem de advertência. Noticiários
sobre esses jovens pregadores permearam por muito tempo os jornais e a iraprensa
sueca.14
As crianças eram muitas vezes chamadas "pregadores do arrependimento". Alguns
diziam que elas estavam acometidas pela doença da "pregação doentia" e as
autoridades tentavam isolá-las no caso da "doença" ser "contagiosa e se espalhar
epidemicamente para outras crianças". Algumas eram punidas severamente. Aquelas
afetadas pareciam estar normais exceto quando movidas pela invisível força a chamar
por arrependimento. Milhares vinham para ouvir sua forte mensagem. Nos dias 6 e 7
de fevereiro de 1842, uma menina pregadora foi visitada por três a quatro mil
pessoas.15
Muitos que ouviram as mensagens prontamente renunciaram o pecado. Com duas
semanas de pregação e de chamado ao arrependimento, setenta destilarias fecharam
as portas e deixaram de funcionar.16
Em 1843, o Dr. Sven Erik Skõldberg, oficial médico da província de Jõnkoping de 1834 a
1864, e depois diretor médico do famoso Hospital Serafimer de Estocolmo, publicou
um artigo científico sobre o fenômeno. De acordo com o Dr. Skõldberg, as crianças
"opunham-se a todo tipo de vida imoral, bebedices, danças, e todos os tipos de vícios,
e pediam ao povo que as julgassem à luz dos Dez Mandamentos. Elas diziam não ser
pregadoras, mas que haviam sido enviadas pelo Senhor para chamar o povo ao
arrependimento, e que ninguém, nem mesmo os anjos, sabem a hora exata do dia do
julgamento...
5. "O chamado ao arrependimento que eu ouvi era tão puro que ninguém,... com a Bíblia
nas mãos, podia criticá-las, muito menos dizer que o que diziam era heresia."17
Uma das evidências de que uma pessoa está sob o controle especial do Espírito de
Deus e sendo usada como Seu porta-voz é o fato de que algumas vezes ela pode não
estar respirando. O profeta Daniel não respirou enquanto estava em visão (Dan. 10:8,
17). Essas crianças predadoras também não respiravam enquanto pregavam, de
acordo com as observações do Dr. Skõldberg, mesmo quase não crendo no que via. Ele
disse: "Respiração não pode ser observada, muito embora sem dúvida elas precisem
respirar." Ele desafiou os maiores teólogos e doutores a explicar o fenômeno por
meios naturais; Ele mesmo havia "rejeitado as vozes dessas crianças como sendo
heréticas e de espíritos fanáticos..." Porém, finalmente "estava convencido de que
nem uma simples palavra... havia sido escolhida por elas — porque a mensagem vinha
de dentro como uma fonte a jorrar. Eu me arrependo de minhas duras opiniões e
continuo estarrecido..."18
O grande terremoto de 1755, o escurecimento do Sol e da Lua em 1780, a chuva de
estrelas em 1833, e a pregação mundial do Segundo Advento, todas no curto período
de oitenta e cinco anos, produziram um despertamento religioso que moveu centenas
de milhares de homens e mulheres ao redor do mundo. Muitos tremeram,
pesquisaram as Escrituras, e abandonaram seus caminhos pecaminosos para seguir a
Cristo.
Na Europa, o despertamento interdenominacional foi sentido primeiramente entre
ministros e teólogos do clero das denominações protestantes. Em 1844, setecentos
ministros da Igreja da Inglaterra, juntamente com ministros de outras vinte nações
dominantes, estavam pregando a mensagem do Advento.
Na América do Norte
Nos Estados Unidos, o despertamento incluiu não somente ministros mas também
cinqüenta mil pessoas leigas. Nesse país, uma figura dominante na pregação do
Advento foi um batista leigo, (que em 1833 foi licenciado como ministro) chamado
Guilherme Miller. Começando com 34 anos de idade, e durante seis anos (1816-1822),
Miller devotou tempo integral ao estudo da Bíblia. Deixando de lado comentários
bíblicos e, tanto quanto podia, todos os tipos de idéias preconcebidas, ele começou
uma abarcante investigação dos ensinos sagrados, usando somente a Bíblia, as
referências de margem, e uma Concordância de Cruden. Por vezes achou-se distante
de algumas teologias populares usadas em seus dias. Ele chegou à conclusão de que
Cristo retornaria em breve. Durante nove anos, Miller, em cartas e conversas
particulares, deixava transparecer suas expectativas.
Em agosto de 1831, com quase cinqüenta anos de idade, Miller se convenceu de que
deveria ajudar a advertir o mundo. "Eu não posso ir, Senhor" ele disse. "Sou muito
velho. Eu não sou um pregador." Porém sua convicção persistia. Um dia, para acalmar
a consciência, fez uma promessa. Iria repartir suas descobertas somente se recebesse
um convite para fazê-lo. Dentro de meia hora, seu sobrinho, Irving Guilford, entrou e o
convidou para pregar na Igreja Batista de Dresden, pois o pastor estava ausente.
6. Após o primeiro sermão - de Miller, seus ouvintes insistiram para que continuasse os
estudos com eles durante aquela semana. Ao voltar para casa, encontrou outro
convite para falar em Poltney, Vermont, a poucas milhas d& distância. Através de
convites, ele pregou centenas de sermões em Nova Inglaterra, Canadá, Ohio e
Maryland.* Em 1834, entregou sua vida à pregação, e durante os próximos nove anos
ele pregou quatro mil sermões em quinhentas cidades e vilas, e ainda tinha duas vezes
mais convites caso pudesse atendê-los.
Até o ano de 1840, Miller era quase a única voz a proclamar a mensagem do Advento
na América do Norte. Mas então, trezentos ministros protestantes uniram-se a ele;
viajaram pelo país dando palestras sobre as profecias bíblicas e o final do mundo. Na
primavera de 1844, um desses ministros já havia ministrado mais de três mil palestras
sobre o Advento. Por causa da liderança de Miller, seus ministros e os cinqüenta mil
leigos que aceitaram a mensagem do Advento passaram a ser conhecidos como
Milleritas. Eles criam, como todos os demais, que o Segundo Advento de Cristo seria
um retorno literal e pessoal. Entretanto, diferente de muitos protestantes de seu
tempo, criam que o Segundo Advento era iminente e que o ser humano não deveria
postergar para o futuro a reforma e o reavivamento necessários para o encontro com
Cristo.
Com essa fervente mensagem trazendo reavivamento onde quer que fosse ouvida, os
pregadores milleritas eram muito bem recebidos nos púlpitos das igrejas protestantes
da América. E muitos, após isso, receberam credenciais de ministros em suas
respectivas igrejas. Entretanto, seus conceitos sobre a Segunda Vinda de Cristo e o
final do mundo não estavam em harmonia com os defendidos e cridos pelo mundo
protestante da época. Logo, tensões apareceram e, na metade de 1844, muitos
milleritas foram colocados para fora de suas igrejas.
O Grande Desapontamento
No cuidadoso estudo de Miller sobre o "tempo" nas profecias de Daniel e Apocalipse e
os textos relacionados — focalizando Daniel 8:14, ele descobriu um tempo, um
período profético. Esse período atravessava 2.300 dias proféticos (anos — Núm. 14:
34; Ezeq. 4:6). O início fora em 457 AC e deveria terminar 2.300 anos mais tarde com
um grande evento, a purificação do Santuário (Dan. 8:14). Miller cria que o período
deveria terminar "entre 21 de março de 1843 e 21 de março de 1844" (período
referente ao ano de 1843-no calendário judaico).20
Estudos adicionais, entretanto, convenceram-no, no começo de outubro de 1844, de
que a purificação do Santuário deveria ter lugar no dia 22 de outubro de 184421 — o
dia anual, considerado santo, em que o antigo santuário judeu era purificado: Yon
Kippur, ou Dia da Expiação. Porém, o evento de 22 de outubro de 1844 não podia ser a
purificação do santuário judeu (Templo). Ele havia sido destruído pelos romanos em 70
AD. Entretanto, em vez de estudar as Escrituras para ver que "purificação" seria e qual
era o "santuário" mencionado, Miller assumiu, assim como seus contemporâneos, que
o "santuário" de Deus na era Cristã era a própria Terra. Dr. C. Mervyn Maxwell, diretor
da cadeira de História da Igreja da Universidade de Andrews, descreve o que para
muitos foi o aguardar e o desapontamento de 22 de outubro de 1844. Ele diz:
7. "Guilherme Miller estudou-o meticulosamente, orou intensamente a respeito e depois
escreveu com alegria: 'Vejo uma glória no "sétimo mês" como nunca vi antes. Estou
quase no lar, Glória! Glória! Glória!'
"22 de outubro! Somente alguns dias até o fim.
"Que tempo solene para se viver!
"Ao se esgotarem os últimos dias do tempo, os comerciantes adventistas fecharam
seus estabelecimentos; mecânicos trancaram suas oficinas; empregados desistiram de
seus empregos. Em campais, dezenas confessavam suas faltas e uniam-se em oração.
Grandes somas eram doadas para que os pobres pudessem liquidar suas dívidas, bem
como para a publicação de literatura — até que os editores dissessem que. não
precisavam mais, o que fez muitos doadores em potencial retirarem-se com pesar.
"No campo, alguns fazendeiros abandonam suas plantações para demonstrar sua fé...
"Em Filadélfia um alfaiate na Rua Cinco fecha sua oficina 'em homenagem ao Rei dos
reis que aparecerá no dia vinte e dois de outubro..."
"Impressoras a vapor operam dia e noite produzindo o Mid-night Cry e outras
pulicações...
"Antecipação. Publicação. Preparação. Consagração. O auge no final.
"15 de outubro, sete dias para o fim. 16 de outubro, seis dias. 17 de outubro. L8 de
outubro. 19 de outubro.
"No dia 19 de outubro as impressoras pararam de rodar. A grande tenda havia sido
dobrada pela última vez. Os pregadores haviam retornado para seus lares a fim de
estarem com os familiares. Josué V. Himes apressou-se para Low Hampton a fim de
estar com Miller.
"Dentro do movimento os crentes aguardavam com alegre expectativa. A adolescente
Ellen Harmon escreveu depois: 'Este foi o ano mais feliz de minha vida. Meu coração
estava cheio de feliz expectativa.'
"O mundo exterior esperava em suspense. Milhares que nunca se haviam unido ao
movimento examinavam o coração com temor de que fosse verdade.
"20 de outubro. 21 de outubro. 22 de outubro de 1844.
"Ao raiar o dia 22 de outubro os mileritas reuniram-se em grupos pequenos e grandes;
em seus tabernáculos, em igrejas, em casas particulares; em reuniões solenes de
oração e alegres de louvor. Em Low Hampton, Nova Iorque, os amigos de Miller
reuniram-se no bosque ao lado de sua casa, no que hoje se conhece como as Rochas
da Ascensão. Eles vigiaram todo o dia, pois não sabiam .a que hora seu Senhor haveria
de vir.
"O Sol ergueu-se no oriente, 'como um noivo que sai de seus aposentos'. Mas o noivo
não ""apareceu.
8. "Permaneceu no meridiano, quente e comunicador de vida... Mas o Sol da Justiça não
apareceu.
"Escondeu-se no ocidente, flamejante, cruel, 'terrível como um exército com
bandeiras'. Aquele que Se assenta sobre o cavalo branco não retornou como o líder
das hostes celestiais.
"As sombras do ocaso estendiam-se serena e friamente por sobre a terra. As horas da
noite passavam vagarosamente. Em desconsolados lares de milleritas, os relógios
assinalaram doze horas da meia-noite. 22 de outubro havia terminado. Jesus não viera.
Ele não voltara!"22
Quando Cristo não veio em 22 de outubro, muitos não-crentes ridicularizaram o
millerismo e suas pregações das profecias sobre o breve retorno de Cristo, e
declararam ser este um movimento falso. Após o grande desapontamento, o
movimento millerita começou a fragmentar-se. Enquanto alguns crentes escolheram
outra data para a vinda de Cristo, outros, ridicularizados, abandonaram
completamente a fé no Advento. Outros ainda filiaram-se a novos movimentos.
Outro grupo decidiu reestudar intensivamente as profecias para ver se poderiam
descobrir por que Cristo não havia retornado como haviam esperado. Eles
reexaminaram as Escrituras que apontavam para 22 de outubro de 1844 como a data
para a purificação do santuário. Eles também haviam aceito a opinião popular de que a
Terra era o santuário de Deus, e haviam assumido que a purificação deveria referir-se
à volta de Cristo à Terra com fogo no Dia do Julgamento. Seu reestudo de todas as
Escrituras relacionadas com a cronologia do texto lhes assegurava da exatidão da data.
Entretanto, ao examinarem as Escrituras relacionadas com as palavras "santuário" e
"purificação", eles descobriram uma importante relação entre o santuário ou
tabernáculo terrestre descritos nos livros do Antigo Testamento, Êxodo e Levíticos, e
um santuário celeste, descrito no livro de Hebreus, em o Novo Testamento.
O grupo, reestudando as profecias, viu em Hebreus 8 e 9 (especialmente Hebreus 9:23)
que a purificação do santuário terrestre pelos sacerdotes judeus dos tempos antigos
(Lev. 16), simbolizava o trabalho de Cristo como Sumo Sacerdote do homem no
santuário celeste, e de que Ele começou uma fase especial de Seu trabalho em 1844,
preparatória para Seu retorno à Terra.
Sendo assim, eles confirmaram ainda mais sua crença de que à Bíblia deve ser dada a
oportunidade de ser sua própria expositora, e que a cada Escritura relacionada deve
ser permitida adicionar sua interpretação ao verso estudado. Eles concluíram que cada
suposição, cada crença, deve ser testada nas Escrituras e deve ser deixada de lado se
não for aprovada.
Referências:
1. Our Firsl Ceutury. pág. 89
2. Ibid., pág. 90
3. Ibid.
9. 4. Ibib., pág. 329
5. Ibid.. pág. 330
6. The Greal Second Advém Muvemenl. pag. 96
7. Our First Ceuturv. págs. 330-331
8. Ibid.. pág. 330
9. The Telescope. May-June 1940
10. Our First Century, pág. 330
11. The Telescope. May-June 1940
12. The Great Secotld Advenl MovemeM, pág. 140
13. Afumbladet (Stockholm), Februarv 23, 1842
14. Ibid., December 16, 1842
15. Wexiti-Bludel. March 4, 1842
16. Svenskt Bio^rafiskt Lexikon, Ny Fóljd, 10 bd., pag. 32
17. Ibid.. S 30-31
18. Ibid., S. 27-31. 36
19. A Fé Profética de Nossos Pais, vol. 4, págs. 784-826
20. Ibid., pág. 794. Veja também vol. 2, págs. 196-199; vol. 4, págs. 784-826
21. Ibid., vol. 4, págs. 810-814; 819-820
22. História do Adventismo. págs. 32-34