O terremoto de Lisboa em 1755 abalou a estrutura da Igreja Católica no Brasil ao enfraquecer o poder dos jesuítas e permitir a entrada do protestantismo no país. As escolas protestantes preparavam missionários para servir aos interesses de suas igrejas, diferentemente das escolas católicas anteriores que limitavam o acesso dos brasileiros à Bíblia.
1. O Terremoto de Lisboa Abalou o Brasil - Apoc. 6:12
Por Paulo Pinheiro (RA, nov/84)
O profeta do Apocalipse assim descreve o primeiro dos sinais que precedem a vinda de
Jesus: "Sobreveio grande terremoto". Apoc. 6:12. Ele tem sido identificado como o
terremoto de Lisboa, ocorrido no dia 1° de novembro de 1755. A catástrofe estendeu-
se por uma área de quase dez milhões de quilômetros quadrados, atingindo regiões da
Europa e do Norte da Africa. Parece que o solo brasileiro não sentiu qualquer abalo.
"Foi na Espanha e Portugal que o choque atingiu a maior violência. Diz-se que em Cadiz
a ressaca alcançou a altura de vinte metros. Montanhas, 'algumas das maiores de
Portugal, foram impetuosamente sacudidas, como que até aos fundamentos; e
algumas delas se abriram nos cumes, os quais se partiram e rasgaram de modo
maravilhoso, sendo delas arrojadas imensas massas para os vales adjacentes. Diz-se
terem saído chamas dessas montanhas'."1
A cidade de Lisboa sofreu os maiores danos. "O choque do terremoto foi
instantaneamente seguido da queda de todas as igrejas e conventos, de quase todos
os grandes edifícios públicos, e de mais da quarta parte das casas. Duas horas depois,
aproximadamente, irromperam incêndios em diferentes quarteirões, e com tal
violência se alastraram pelo espaço de quase três dias, que a cidade ficou
completamente desolada. O terremoto ocorreu num dia santo, em que as igrejas e
conventos estavam repletos de gente, muito pouca da qual escapou."2
O Tempo Foi Abreviado
O rei de Portugal era D. José I, e seu primeiro-ministro o Marquês de Pombal. Após a
catástrofe, Pombal, ao buscar recursos para a restauração de Lisboa, percebeu que a
principal fonte econômica, o Brasil, estava sob o controle da Companhia de Jesus
(ordem religiosa dos jesuítas).
Desde que chegaram ao Brasil, em 29 de março de 1549, na baía de Todos os Santos,
os jesuítas estabeleceram as bases do seu sistema educacional. As escolas eram
improvisadas em cabanas paupérrimas e muitas vezes as aulas eram realizadas ao ar
livre. Foram fundadas com recursos do próprio lugar, e, à medida que a riqueza dos
paroquianos aumentava, as escolas eram aprimoradas.
O modelo estabelecido separava os educandos em dois grupos: os índios e os filhos
dos simples funcionários (de um lado) e os filhos dos fidalgos (do outro). Os primeiros
aprendiam apenas a ler, escrever, fazer operações aritméticas e os rudimentos da ética
cristã, tais como a submissão às autoridades, vestirem-se, ter uma só mulher.
2. A elite recebia a formação básica para ingressar nas universidades da Europa.
Enquanto se gastava muito tempo no conhecimento das tradições do catolicismo, das
línguas mortas (latim e grego clássico) e da literatura greco-romana, o estudo da Bíblia
e o preparo para os deveres práticos da vida eram desprezados.
Aquele sistema dirigido por padres estava interligado à política de colonização do
Brasil. D. João III de Portugal, durante o governo de Tomé de Souza, proclamou o que
alguns afirmam ser a primeira constituição: "Porque a principal coisa que me moveu a
mandar povoar as ditas terras do Brasil foi para que a gente dela se convertesse a
nossa Santa Fé Católica."3 A expansão das idéias protestantes, consideradas hereges e
veiculadas pelos franceses e holandeses que ameaçavam invadir a Colônia portuguesa,
favoreceu ainda mais o estreitamento Igreja-Estado.
Aproveitando-se do monopólio eclesiástico, os jesuítas tiveram acesso ao poder e à
riqueza, tornando-se, depois de dois séculos, empecilho aos interesses da exploração
lusitana. Para assumir novamente o controle econômico do Brasil e conseguir
reconstruir Lisboa, o Marquês de Pombal expulsou daqui, em 1759, a Companhia de
Jesus, com referenda do papa Clemente XIV, sob uma dupla alegação: Os jesuítas
ambicionavam poder e riqueza.4
No Brasil, no momento da expulsão, a população era de quase 1,5 milhão de
habitantes. Os jesuítas possuíam 25 residências, 36 missões e 17 colégios e seminários,
sem contar os seminários menores e as escolas de ler e escrever, instaladas em quase
todas as aldeias e povoações onde existiam casas da Companhia.5 O terremoto de
Lisboa, sem dúvida, enfraqueceu o poder da igreja romana e sacudiu as bases da
sociedade brasileira.
Na palestra do Salvador com Seus discípulos, no Monte das Oliveiras, Ele falou dos
sinais da Sua vinda, depois de descrever o longo período de provação da Sua igreja —
os 1.260 anos de perseguição papal, relativamente aos quais prometera Ele ser
abreviada a tribulação. Os 1.260 dias, ou anos, terminaram em 1798. (Ver Mat. 24:29.)
Enquanto no Século XVI, a Reforma de Lutero abreviava este período para diversos
habitantes do Globo, aos moradores do Brasil era proibida qualquer comunicação
direta com as Escrituras Sagradas. Somente com o cumprimento do "grande
terremoto" a velha estrutura foi abalada, permitindo que com a abertura do sexto selo
de Apocalipse penetrasse aqui a "tríplice mensagem angélica".
A Ocupação do Espaço Vazio
Com a saída dos jesuítas, surgem escolas fundadas por outras ordens religiosas, como
os beneditinos, os carmelitas e os franciscanos. Essas escolas não tiveram, porém, o
andamento e a eficiência das anteriores. A educação desacelerou seu ritmo. O Estado
tentou ocupar o espaço vazio com as classes régias, mas a Colônia estava
despreparada para o novo modelo. Havia carência de professores categorizados e,
sobretudo, ausência de ideologia.
No início do Século XIX não havia no Brasil vestígio de protestantismo. Os indivíduos de
religião protestante que por aqui passaram não deixaram traço no sistema religioso da
sociedade. As tentativas, já distantes dos franceses e holandeses, apenas resultaram
3. em identificação do protestante como invasor. O último huguenote foi enforcado no
Rio de Janeiro, em 1567. Quanto aos holandeses, seus pastores embarcaram de volta,
sem deixarem no País uma igreja Reformada, e os sinais de sua catequese indígena
desapareceram.
O tratado da Aliança e Amizade, e de Comércio e Navegação, firmado com a Inglaterra
após a chegada de D. João VI, abriu a segunda brecha na muralha levantada em torno
do sistema religioso, até então impenetrável ao protestantismo. O tratado, no artigo 9,
declarava que o Príncipe Regente "guiado por uma iluminada e liberal política" não
permitiria no Brasil a Inquisição. E os artigos 12 e 13 concediam liberdade de culto aos
estrangeiros.
Meios Diferentes
Os missionários protestantes, que chegaram a partir de 1855, implantaram um
moderno sistema educacional nos principais centros do País. O objetivo dos
missionários era converter os próprios estudantes. Porém, para contextualizar com os
não evangélicos, os colégios distanciaram-se das posições fundamentalistas e
perderam sua identidade religiosa quase completamente.
No final do século passado, os adventistas chegaram ao Brasil. Entre os adventistas e
os protestantes houve uma diferença marcante com respeito a escolha do ambiente
para a concentração dos esforços educacionais. Enquanto estes optaram por áreas
urbanas, os adventistas preferiram regiões rurais, mais favoráveis para o preparo de
seus jovens.
O principal propósito das instituições educacionais adventistas era preparar
missionários que pudessem servir aos interesses da Igreja, quer como obreiros
credenciados, ou como líderes voluntários em suas próprias igrejas. Por isso a tríplice
mensagem angélica triunfa. Será que ainda há dúvidas de que foi para este fim que o
terremoto de Lisboa abalou o Brasil?
Referências:
1. Lyell, Charles. Principias de Geologia. In: O Grande Conflito, pág. 303.
2. Enciclopédia Americana. In: O Grande Conflito, pág. 304.
3. Niskier. Arnaldo. Administração Escolar, pág. 49.
4. Ibidem, pág. 53.
5. Santos, Theobaldo Miranda. Noções de História da Educação, pág. 481.