Os objetivos do trabalho de campo foram reconhecer os depósitos sedimentares de idade Siluro-Devonianos da Bacia do Parnaíba e os depósitos sedimentares de idade Cretácea da Bacia San Franciscana, descrever suas litofacies, estruturas sedimentares e interpretar seus possíveis sistemas deposicionais.
RECONHECIMENTO GEOLÓGICO DE CAMPO: BACIA DO PARNAÍBA (TOCANTIS) E BACIA SAN FRANCISCANA (GOIÁS)
1. UnB, IG, PPG em Geologia, Sistemas Deposicionais, Periodo: 2013/2
RECONHECIMENTO GEOLÓGICO DE CAMPO: BACIA DO PARNAÍBA
(TOCANTIS) E BACIA SAN FRANCISCANA (GOIÁS)
Diego Timoteo Martínez
Universidade de Brasília, Instituto de Geociências, Programa de Pós-graduação em Geologia, e-mail: diego.timoteo.martinez@gmail.com
INTRODUÇÃO
Os objetivos do trabalho de campo foram reconhecer os depósitos sedimentares de idade Siluro-
Devonianos da Bacia do Parnaíba e os depósitos sedimentares de idade Cretácea da Bacia San
Franciscana, descrever suas litofacies, estruturas sedimentares e interpretar seus possíveis sistemas
deposicionais.
Os depósitos Siluro-Devonianos da Bacia do Paranaíba estão compostos da base para o topo pela
Formação Jaicós, seguida das Formações Itaim, Pimenteiras e Cabeças; e as seções estratigráficas
estudadas estão situadas no Município de Palmas, Estado de Tocantins (Figura 1). Segundo Junior J.
M. (2008) os afloramentos se estendem sobre as bordas leste e sul da bacia alcançando uma espessura
máxima de 150-200 m.
Entanto que os depósitos Cretáceos da Bacia San Franciscana estão compostos pelo Grupo Urucuia e a
seção estratigráfica estudada esta situada na região de São Domingos, Estado de Goiás (Figura 2).
Segundo Spigolon et. al. (2002) seus afloramentos abrangem a mais amplia distribuição em área na
porção centro-norte da bacia e podem alcançar até 200 m. de espessura.
Figura 1. Mapa de localização das seções estratigráficas estudadas no Município de Palmas, Estado
do Tocantins, Brasil.
DEPÓSITOS SILURO-DEVONIANOS DA BACIA DO PARANAÍBA
Na Seção 1 (Mirante de Taquaruçu) da base para o topo se reconheceu o embasamento granítico
(Figura 3b), sobre o qual descansa a sequencia sedimentar, em seguida e em contato com o granito se
têm níveis de conglomerados intercalados com arenitos (Figura 3c). Os conglomerados são
polimíticos, com predomínio de quartzo, possuem base erosiva e geometria de canais (Figura 3d) com
paleocorrente bidirecional N80°.
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Figura 2. Mapa geológico simplificado da Bacia San Franciscana e localização da Seção Serra
Geral de Goiás,
Entanto que os arenitos são de quartzo, cinzentos a brancos, de grão médio a grosso, seleção pobre e
possuem estratificação cruzada (Figura3e). Para o topo da seção se reconheceu um nível de
conglomerado de 0.5 – 0.8 m. de espessura, com grande continuidade, que evidencia a queda
significativa do nível relativo do mar (Figura 3f) e corresponde ao topo da Formação Jaicós. Em
seguida se tem quartzo-arenitos, cinzas, de grão médio a fino, que apresentam ripples de mediana
escala e microescala. Essas ondulações se estendem lateralmente nas camadas modificando sua
geometria e, além disso, se encontram níveis férricos, avermelhados a enegrecidos, muito endurecidos,
intercalados com níveis de argilitos e siltitos correspondentes a Formação Itaim (Figura 3g).
Interpretação: A associação de fácies dos conglomerados basais com geometria de canais e os
quartzo-arenitos com estratificação cruzada pode corresponder a depósitos fluviais com presença de
canais que migraram muito. Para o topo as fácies de arenitos intercalados com argilitos e siltitos
dispostos em camadas subhorizontais e continuas, com arranjo interno de ondulações (ripples) que
interdigitam as diferentes litologias, poderiam estar associados a depósitos de transição com influência
de maré.
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Figura 3. (a) Seção 1: Mirante de Taquaruçu. (b) Embasamento granítico da sequencia sedimentar
Siluro-Devoniana. (c) Níveis intercalados de conglomerados e quartzo-arenitos. (d) canais de
conglomerado. (e) estratificação cruzada presente nas camadas de quartzo-arenitos. (f) Nível de
conglomerado de grande continuidade. (g) arenitos com ripples de mediana e micro escala e níveis
férricos muito endurecidos.
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Vista N130°
Vista S
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Na Seção 2 (Rodovia TO-030, Km. 54), se reconheceram da base para o topo quartzo-arenitos, cinzas,
de grão fino a muito fino; intercalados com níveis de argilitos e siltitos, os quais evidenciam HCS de
micro e mediana escala como estruturas internas de camadas subhorizontais que possuem grande
continuidade (Figura 4b).
Uns metros acima da base se tem uma base erosiva muito pronunciada (Figura 4c) que possui
continuidade lateral sobre todo o afloramento (Figura 4d). A camada acima desta superfície
estratigráfica esta composta por quarto-arenito, cinza, de grão grosso a muito grosso (quase micro
conglomeradico), muito compacto e com espessura de 0.5 – 0.8 m.
Acima deste horizonte continuam as camadas de arenitos com HCS, de grão fino e boa seleção;
intercaladas com finos níveis de argilitos e siltitos dispostos em estratos subhorizontais com grande
continuidade lateral.
Interpretação: As fácies reconhecidas poderiam estar relacionadas aos depósitos de tempestades
desenvolvidos na transição do “lower shoreface” e “offshore”; entanto que o nível de arenito grosso
evidenciaria uma regressão forcada dentro do domínio da plataforma da bacia.
Figura 4. (a) Seção 2: Rodovia TO-030, Km. 54. (b) quartzo-arenitos com HCS e laminas de argilitos
e siltitos. (c) Nível de arenito grosso com base erosiva muito pronunciada. (d) grande continuidade
lateral do arenito grosso. (e) fácies predominantemente finas ao topo da seção: arenitos finos
intercalados com argilitos e siltitos.
Vista N310°
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Vista N330°Vista NE
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Na Seção 3 (Rodovia TO-030) da base para o topo se reconheceram arenitos ferruginosos, muito
compactos e endurecidos, com estrutura massiva (Figura 5b), seguidos de quartzo-arenitos, cinzas,
com ripples bidirecionais de escala decimétrica (poderiam ser considerados megariples?), com muito
boa seleção (Figura 5c). Em seguida se tem quartzo-arenitos, cinzas a amarelados, de grão fino,
bioturbados, com HCS de baixo ângulo e ripples de baixo ângulo (Figura 5d); seguidos por horizontes
de arenitos intercalados com níveis de argilitos e siltitos com estratificação tipo wavy e flaser? (Figura
5e).
Interpretação: A seção é grão decrescente e poderia corresponder a depósitos de plataforma
(offshore) com influencia de maré e tempestades.
Figura 5. (a) Seção 3: Rodovia TO-030. (b) quartzo-arenitos ferruginosos muito compactos.
(c) Ripples bidirecionais em arenitos finos. (d) HCS e ripples de baixo ângulo em arenitos finos e
argilitos bioturbados. (e) fácies predominantemente finas ao topo da seção: arenitos finos
intercalados com argilitos e siltitos com estratificação tipo wavy e flaser?.
Vista N170°
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6. UnB, IG, PPG em Geologia, Sistemas Deposicionais, Periodo: 2013/2
Na Seção 4, foi possível reconhecer uma sequencia predominantemente fina, composta de argilitos,
siltitos e alguns horizontes de arenito fino a muito fino, correspondente á Formação Pimenteira. Sobre
a parte intermediaria da seção fina se desenvolvem corpos arenosos com base e topo muito bem
definidos, que representam clinoformas sigmoidais que progradam em direção N90°, direção de
progradação aparente devido ao corte do afloramento (Figura 6).
Em conjunto essas clinoformas arenosas, representam uma sucessão progradante desenvolvida dentro
de um contexto predominantemente retrogradante. Nesta escala de estudo, em tão curta distância e
espessura foi interessante reconhecer como se interdigitam os processos de progradação e
retrogradação, porque durante o preenchimento da bacia os dois processos existem num determinado
intervalo de tempo, mas só um predomina sobre os dois e esse é reconhecido na escala regional, neste
caso teria o processo de retrogradação (Figura 6a)
Figura 6. (a) Sobre a parte intermediaria da Seção 4 se observam corpos arenosos que representam
clinoformas sigmoidais. (b) clinoforma sigmoidal com topo e base muito bem definido. (c) estruturas
sedimentares dentro das clinoformas: foi possível reconhecer laminações planas e onduladas, e
também laminações cruzadas.
Na Seção 5 se reconheceu a Formação Cabeças, que é o equivalente lateral da Formação Pimenteira, e
esta composta de arenitos, de grão fino a muito fino, deformados e dobrados, talvez pela deformação
plástica sin-sedimentar (Figura 7a). Além disso, se observa algumas falhas reversas e normais
relacionadas á acomodação das camadas dobradas produto da deformação plástica, antes que por
esforços tectônicos (Figura 7b).
As camadas de siltito arenoso possuem alta concentração de ferro e são muito compactas, variam em
cor de verde a vermelho (Figura 7c), e representam uma sucessão grão decrescente truncada para o
topo por uma superfície erosiva que é a base de folhelhos brancos; isto poderia estar relaciona ao
incremento do nível relativo do mar.
Vista N190°
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Figura 7. (a) Formação Cabeças, muito deformada, dobrada e falhada; para o topo é truncada por
uma superfície erosiva. (b) Falhas reversas e normais relacionadas a acomodação e não a esforços
tectônicos. (c) camadas de ferro dobradas em arenitos finos para o topo da seção.
Vista N340°
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Na Seção 6 (Fazenda Encatada II, a 6 Km. Da rodovia TO-030) se reconheceu a base da Formação
Pimenteira, a qual esta composta por 3 níveis fossilíferos muito marcados dentro de um afloramento
de 8 m. de espessura. Os fosseis reconhecidos foram: braquiópodes, crinóides, gastrópodes. Nessa
seção predomina o arenito fino, siltoso, muito micáceo, oxidado e bioturbado (Figura 8).
Figura 8. (a) Afloramento da Formação Pimenteira composto por 3 níveis fossilíferos. (b) bivalvos
(braquiópodes) no nível intermediário da Formação Pimenteira. (c) crinoides no nível intermediário
da Formação Pimenteira.
DEPÓSITOS CRETÁCEOS DA BACIA SAN FRANCISCANA
A Seção estudada se localiza na borda Oeste da Bacia San Franciscana, é nomeada como Seção Serra
Geral de Goiás, e representa um corte de estrada de 600 metros de extensão e 50 metros de espessura,
correspondentes ao Grupo Urucuia (Spigolon et. al., 2002).
Da base para o topo se reconheceram quartzo-arenitos, de grão muito fino, bem selecionados, e com
estratificação cruzada planar de grande porte e mergulho forte que chega até 30°. Em seguida se tem
arenitos com estratificação plano-paralela subhorizontal (Figura 8b e c).
Essas fácies se tornam cíclicas para a parte intermediária da seção, e em seguida se tem camadas de
arenitos com estratificação cruzada com base tangencial, e o grão fino a médio continua predominando
(Figura 8a). As fácies antes descritas são truncadas por uma superfície erosiva muito pronunciada e de
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grande continuidade lateral, que representa uma base canalizada. Sobre essa base canalizada se tem
quartzo-arenitos, de grão fino a médio, que se dispõem em camadas maciças, continuas e com pouca
estruturação interna (Figura 9d).
Figura 9. (a) Fácies de arenitos com estratificação cruzada planar e tangencial. (b) arenitos com
estratificação cruzada planar com mergulho forte. (c) leve estruturação interna dos arenitos. (d)
superfície erosiva que assemelha uma base canalizada. (e) seixos subangulares no interior dos
arenitos. (f) conglomerados para o topo da seção do Grupo Urucuia.
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Vista N120°
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Acima deste nível predominam os quartzo-arenitos finos a médios com estratos plano-paralelos
horizontais que possuem laminação como estruturas internas. É necessário mencionar que para o topo
da seção se observam arenitos médios a grossos com presença de seixos e grânulos subangulares a
subarredondados (Figura 9e). Finalmente sobre outro corte de estrada se tem parte final da seção do
Grupo Urucuia, composta por conglomerados polimíticos, grano suportados dispostos em estratos
massivos sem estruturação reconhecida, devido a pouca continuidade dos afloramentos (Figura 9f).
Interpretação: As fácies embaixo da superfície erosiva estão relacionadas a um sistema eólico com
presencia de dunas (estratificação cruzada planar de grande porte e forte mergulho) e interdunas
(estratificação plano-paralela subhorizontal). Acima da superfície erosiva predomina a estratificação
plano-horizontal e a granulométrica aumenta, o qual estaria relacionado a o aumento de energia e as
variações nas condições de sedimentação, associados a um sistema fluvial-eólico.
OBSERVAÇÕES
• Alguns níveis de arenitos dentro da Formação Jaicos e Itaim são limpos e possuem boa
seleção, por o qual poderiam corresponder potenciais rochas reservatório, de porosidade
primaria ou fraturados.
• O topo da Formação Pimenteira, por ser predominantemente fino, poderia ter potencial como
rocha geradora e rocha selante.
• Os arenitos do Grupo Urucuia tem alta qualidade como rocha reservatório de encontrar-se no
subsolo, porque são limpos, tem muito boa seleção e porosidade visual.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Junior, J. M., 2008. Braquiópodes da Formação Pimenteiras (Devoniano médio/superior), na região
sudoeste da Bacia do Parnaíba, Município de Palmas, Estado do Tocantins, Brasil. Dissertação de
Mestrado n °245. Universidade de Brasília. Instituto de Geociências. Brasília-DF.
Spigolon et. al., 2002. Fácies e elementos arquiteturais resultantes de mudanças climáticas em um
ambiente desértico: Grupo Urucuia (Neocretáceo), Bacia San Franciscana. Revista Brasileira de
Geociências. Volume 32. 2002
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