3. Musicalidade Humana
Vamos conversar um pouco sobre a musicalidade de cada um(a) de nós e
dos grupos sociais dos quais fazemos parte. Nosso primeiro tópico no fórum
será justamente para compartilharmos nossas experiências mais marcantes,
positiva ou negativamente, envolvendo a nossa musicalidade.
O princípio que defendemos é de que a musicalidade é uma característica
humana, consistindo numa das manifestações mais antigas da humanidade,
presente em todas as regiões do mundo, em todos os tempos.
É importante acreditarmos nisso, e entendermos que não é necessário ser
especialista em música para fomentar o desenvolvimento musical de nossos
alunos. Para desencadear as nossas reflexões, te convidamos a conhecer a
história de Andrew.
4. Musicalidade Humana
A história de Andrew comprova a capacidade humana de ser musical
independente de problemas no desenvolvimento cerebral.
Assim, como o cérebro humano é capaz de realizar a fala, a leitura e a
capacidade de calcular, por exemplo, ele também possui a capacidade de
cantar e tocar instrumentos musicais, ou seja, a capacidade de manifestar
a musicalidade de variadas formas.
A plasticidade cerebral desempenhou papel fundamental no caso de
Andrew para todas essas funções. Há pesquisas que demonstram que a
música é uma atividade de alto impacto positivo na nossa configuração
neuronal. Em nossa pasta de “Materiais Complementares” constam
materiais relativos aos benefícios da música, incluindo os benefícios
cerebrais.
7. Somos seres musicais?
Na concepção errônea do senso comum, divulgada amplamente nos meios
midiáticos, é construída a ideia de que para ser tocar ou cantar uma música
é preciso ter um dom ou um talento especial para isso. Muitas pessoas já
passaram por momentos constrangedores em suas vidas, sendo avaliadas
como “não musicais”. Você sabe se nasceu com dom para música?
Na verdade, somos seres musicais!
A amusia, que é a incapacidade parcial ou total de perceber os sons
enquanto música, é um distúrbio presente numa parcela pequena da
população (em média, 2,5%), e pode ser tratada (Peretz et al, 2001). Mesmo
sofrendo de algum tipo de amusia, podemos nos desenvolver musicalmente.
8. Espontaneidade
A audição é o primeiro e último sentido do ser humano: desde o quinto mês
de vida intrauterina já temos condições de perceber e discriminar sons
(vozes, canções, sonoridades do ambiente, etc.).
O que consideramos como “boa música” ou “música ruim” é resultado de um
conjunto complexo de fatores biológicos e culturais. Portanto, o que é
musical para um, pode não ser para outro. Porém há elementos universais da
musicalidade humana, como as expectativas espontâneas em relação a
determinadas sequências de notas musicais.
Sobre a espontaneidade da musicalidade humana, um bom exemplo é o
breve vídeo de Bobby McFerrin falando e improvisando num congresso de
ciências cognitivas o qual iremos assistir. Veja que como é fácil fazer música,
considerando as expectativas naturais da nossa mente.
9. Você tem talento para a Música?
Na realidade, todo o ser humano nasce preparado para ser musical. Ou seja,
todos nascemos com dom e talento para a música. Você deve estar se
perguntando: Então por que alguns são mais musicais do que outros?
Ser musical ou não depende se você desenvolveu sua capacidade, assim
como desenvolveu sua habilidade de fala, leitura e compreensão de textos.
Mesmo assim, o seu corpo ainda continua apto a aprender e a se
desenvolver construindo novas habilidades.
O ambiente social em que você vive e cresceu é um fator importante nesse
sentido. Você pode perceber que na história de vida de diferentes músicos
está a presença da música na sua família ou na escola. Outro fator é a
motivação em estudar música, tanto de forma informal quanto formal.
10. É tarde demais para desenvolver a sua
musicalidade?
A capacidade humana para aprender é infinita, em qualquer área do
conhecimento (Herculano-Houzel, 2005). Assim, nunca é tarde para
desencadear algum processo musical na sua vida: seja “cantando no
chuveiro” ou no coral da igreja, seja indo a concertos e a shows, seja
começando a estudar um instrumento musical.
Não há desafinação vocal ou suposta inaptidão para a música que não possa
ser orientada, tratada, amenizada e até eliminada. A musicalidade pode ser
ensinada e aprendida (Blacking, 1995).
Educar para a paz é saber que todos somos capazes de construir diferentes
aprendizagens, inclusive a musical, e não valorizar conceitos equivocados
sobre dons e talentos enviados apenas para alguns privilegiados.
11. O que é “fazer música”?
Fazer música engloba cantar ou tocar ou criar ou ouvir música, e há muitas
formas de manifestarmos nossa musicalidade, independentemente de
estudos formais.
Ler partitura ou tocar de ouvido, dançar ao som do nosso artista favorito,
ouvir uma música prestando atenção na sua letra, na sua melodia, nos
instrumentos escolhidos no arranjo, enfim, muitas ações e manifestações
são formas diretas de praticar música.
Lembre-se de que seus alunos são seres musicais também, e provavelmente
gostam muito de música! Ou seja, o terreno está fértil para a musicalidade
desabrochar no ambiente escolar!
12. Bebês: Predisposição para a música
Os estudos sobre a competência musical dos bebês e os avanços na área
de desenvolvimento humano nos permitem dizer que todo o ser
humano nasce com predisposições biológicas e culturais para a música,
dependendo, no entanto, das trocas no meio sociocultural para
promover o seu desenvolvimento (Maffioletti, 2011, p. 67).
Assista a esse vídeo do bebê comovido ao ouvir a mãe cantando e
perceba como a comoção está contextualizada à intimidade do diálogo
mãe-bebê. A mãe, ao falar sobre essa gravação caseira, comentou que
sempre cantou para o bebê (desde a gestação) e que essa música causa
essa forte reação emocional.
13.
14. Musicalidade Humana
A musicalidade humana é expressada desde os tempos mais remotos da
história da humanidade, fazendo parte da história do desenvolvimento e
evolução humana.
Os registros arqueológicos mostram um histórico ininterrupto de criação
musical onde quer que houvesse seres humanos, em todas as áreas (Levitin,
2010).
15. Primórdios
Há evidências de atividade musical no homem pré moderno. A música
não foi fossilizada, porém instrumentos musicais sim.
Veja essa pintura
rupestre de uma
caverna de Cogul na
Espanha. Foi feita há
mais de 40.000 anos
antes de Cristo.
Acredita-se que essa
seja uma das provas
mais antigas da
musicalidade
humana.
17. As funções da música na sociedade são diversas e fascinantes.
18. Funções da música na sociedade
Para compreender a prática musical em relação com a paz nas escolas,
precisamos conhecer as funções da música na sociedade. Elas são
extremamente importantes para a compreender a relação das pessoas com
a música, seus usos e funções na sociedade.
Dentre todas, destacamos a potencialidade da coesão social através da
música, o que, na escola, é um aspecto que pode promover a integração, a
inclusão e a prática colaborativa e construtiva.
Em nossas aulas inaugurais, aprendemos a canção “A Paz”. Experimente
ensaiá-la com os seus alunos, propondo a recriação dela de diferentes
formas, em diferentes estilos.
19. As dez funções sociais da música, conforme Merriam
(1964)
20. Questões de reflexão para
planejamento:
A música está
nos meios de
comunicação, nos
telefones convencionais
e celulares, na internet,
no cinema, em lojas e
bares, nos alto-falantes,
nos consultórios
médicos, nos templos
religiosos,
nos recreios escolares...
22. Não é preciso ser especialista em música para desenvolver a sua
musicalidade e ajudar os seus alunos a fazer isso. Agora que você já
conhece as funções da música na sociedade, reflita sobre o papel da música
na Cultura da Paz e como fomentá-lo no ambiente escolar!
24. Capacidade humana
A natureza encarnada da música, a indivisibilidade entre movimento e
som, caracteriza o fazer musical em todas as culturas e em todos os
tempos (Blacking, 1995).
Para Cross (2012), o ser humano possui capacidade para a musicalidade
assim como para a cultura.
“[...] fatores biológicos e culturais são complementares, formando uma
rede de elementos indissociáveis entre si. Constatamos que a
musicalidade
é constituída por um conjunto de elementos do fazer musical que vão
além
de habilidades técnicas específicas” (CUERVO, 2009, p.75).
25. Conceito de musicalidade
A reflexão sobre o conceito de musicalidade teve sua relevância
enfatizada por Maffioletti (2001, p. 62): “é importante
analisarmos qual o conceito de musicalidade que temos, porque
esse conceito vai inspirar nossas práticas pedagógicas.”
Musicalidade é uma característica humana (Blacking, 1995;
Gembris, 1997; Sacks, 2008; Cuervo e Maffioletti, 2009; Levitin,
2010; Cross, 2012) a qual todos nascem com os mecanismos
necessários ao seu desenvolvimento. É um conhecimento a ser
construído, consistindo na capacidade de geração de sentido
através do fazer musical que engloba não somente cantar ou
tocar, mas criar e apreciar música. (Cuervo, 2009).
27. Resumindo...
A Musicalidade é uma característica humana.
A música sempre existiu onde existiram humanos.
A musicalidade se manifesta no diálogo entre cultura e biologia.
28. Referências BLACKING, J. Music, Culture and Experience. Chicado: University of Chicago Press, 1995.
CUERVO, L. Reflexões sobre o conceito de musicalidade. Musicalidade ao longo da vida. Disponível em:
http://pt.slideshare.net/grupopesquisamusicauergs/musicalidade-ao-longo-da-vida
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Musicalidad Humana: debates Actuales en Evolución, Desarrollo y Cognición e Implicancias Socio-Culturales. Universidad
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MAFFIOLETTI, L. A. . A dimensão lúdica da música na infância. In: XIV Encontro Nacional de Didática e Prática de Ensino, 2008,
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PERETZ, I. et al. Congenital amusia a group study of adults afflicted with a music-specific disorder. Oxford Journals Medicine
Brain. Vol. 125, Nº2. set. 2001. Pp. 238-251
SACKS, O. Alucinações Musicais: relatos sobre a música e o cérebro. São Paulo: Cia. Das Letras, 2007.
29. Créditos
Curso Escolas da Paz 2014
Módulo 2: A Paz através de Práticas Musicais
Pesquisa, produção e configuração
Ministrante: Luciane Cuervo
Professora-formadora: Aline Guterres
Tutoras: Soraia Santana e Rosângela Garcia (apoio tecnologias)