O documento descreve a história da borracha na Amazônia brasileira em dois períodos. No primeiro período no século XIX, a demanda internacional por borracha levou a uma corrida do ouro na Amazônia e ao sistema de aviamento que explorava seringueiros. No segundo período na II Guerra Mundial, o Brasil aumentou a produção para suprir a demanda aliada, mas não desenvolveu a região de forma sustentável, fazendo a atividade declinar novamente após a guerra.
1. PSC I - Geografia do Amazonas
ESTRATIVISMO:
A BORRACHA
Prof. Diego Lopes Morais
diegolopes.geo@gmail.com
2. PSC I - Geografia do Amazonas Extrativismo: A Borracha
A Cabanagem e a crise da Economia Colonial
A adesão do Pará à independência do
Brasil (1823), provocou forte frustração
nacionalista da parte da elite amazônica, que se
ressentia de ter sido afastada das decisões
políticas e econômicas do país.
A Amazônia brasileira permaneceria
ainda por muitos anos mergulhada em uma
situação de grave decadência econômica e
social.
Somente com a criação da Província do
Amazonas, em 1850, por desmembramento do
Grão-Pará, e os primeiros movimentos de
valorização da borracha extraída da seringueira,
a região experimentaria um novo alento.
3. PSC I - Geografia do Amazonas Extrativismo: A Borracha
I - O “Ouro Negro”: 1º Período da Borracha
Outro momento marcante para a
“criação” da Amazônia brasileira foi propiciado
pela Revolução Industrial. A vulcanização da
borracha, substância que só existia na floresta
amazônica e que passou a valer ouro negro,
motivou uma intensa migração de pessoas
vindos de todo o mundo.
Fascinados pela promessa de riqueza,
novas levas de europeus atravessaram o
oceano, aventuraram-se em cidades e vilas até
então isoladas na floresta.
O contingente mais numeroso era de
sírio-libaneses, especializados no comércio,
mas vieram também italianos, franceses,
portugueses e ingleses em grande número.
4. PSC I - Geografia do Amazonas Extrativismo: A Borracha
A borracha estava na floresta, espalhada
em longas distâncias habitadas por índios.
Era necessário colhê-la nas árvores,
ainda líquida, defumá-la até ficar sólida,
transportá-la até as margens dos rios e daí para
o comércio nas cidades, um trabalho penoso e
perigoso, que só poderia ser realizado por um
exército de homens acostumados à vida mais
rude.
Esse exército veio do Nordeste do Brasil,
empurrado pela miséria e pelas grandes secas,
como as de 1877 e 1878. Antes que o século
findasse, mais de 300 mil nordestinos,
principalmente do sertão do Ceará, migraram
para a Amazônia. Nos seringais, esses homens
valiam menos que os escravos.
5. PSC I - Geografia do Amazonas Extrativismo: A Borracha
Na outra extremidade da sociedade regional, os seringalistas e
grandes comerciantes usufruíam da riqueza fácil proporcionada pela borracha.
Essa evidente contradição no quadro social do Período da Borracha se devia a
um perverso sistema de exploração, que consumiu a vida de milhares de
homens. O sistema de aviamento se constituía numa rede de créditos e se
espalhou nos imensos seringais que foram abertos em todos os vales
amazônicos.
O Sistema de Aviamento
PRODUÇÃO DISTRIBUIÇÃO COMÉRCIO CONSUMO
Mercadoria: borracha (10 Kg)
R$ 10 R$ 70 R$ 150
6. PSC I - Geografia do Amazonas Extrativismo: A Borracha
II - 2º Período da Borracha e a II Guerra Mundial
7. PSC I - Geografia do Amazonas Extrativismo: A Borracha
II - 2º Período da Borracha e a II Guerra Mundial
A Amazônia viveria outra vez o período
da borracha durante a Segunda Guerra Mundial,
embora por pouco tempo.
Como forças japonesas dominaram
militarmente o Pacífico Sul, nos primeiros
meses de 1942 invadiram a Malásia e o controle
dos seringais passou a estar nas mãos dos
nipônicos. Isso culminou na queda de 97% da
produção da borracha asiática.
Para o Brasil, era a chance de retomar a
hegemonia da exportação da borracha. Os
principais consumidores eram os países aliados,
principalmente os EUA e o Reino Unido, países
que necessitavam da borracha malaia e agora
passaram a investir pesado para obter este
produto vital para a sua indústria bélica
8. PSC I - Geografia do Amazonas Extrativismo: A Borracha
a) Investimentos na Infraestrutura e produção da borracha na Amazônia
Firmado planos e acordos para a produção de borracha da
Amazônia, o governo brasileiro recebeu fundos de financiamento dos
EUA através do Acordo de Washington, que desencadeou uma
operação em larga escala de extração de látex na Amazônia - operação
que ficou conhecida como a Batalha da Borracha.
Os planos do acordo resultavam em uma série de ações e
implementações de elementos de financiamento e infraestrutura
fundamentais para a produção e escoamento da borracha a favor dos
países aliados:
- POLÍTICO: Acordos da OEA (Organização dos Estados Americanos)
/ Alistamento para a “Batalha da Borracha”;
- ECONÔMICO: a criação do Banco de Crédito da Borracha, atual
Banco da Amazônia – BASA ;
- LOGÍSTICO: Os aeroportos de Manaus (Ponta Pelada) e de Belém;
- MILITAR: As bases aéreas de Manaus e Belém.
9. PSC I - Geografia do Amazonas Extrativismo: A Borracha
b) A Batalha da Borracha
Foi uma políticas desenvolvida pelo
presidente Getúlio Vargas para o alistamento
de mão-de-obra destinadas ao trabalho nos
seringais da Amazônia.
A ideia era produzir em larga escala e
tornar a borracha da Amazônia dominante (de
maneira permanente) no mercado mundial
(mesmo com a derrocada das forças do Eixo,
que estavam com suas indústrias supridas com
borracha oriunda da Malásia ocupada)
Como os seringais abandonados e não
mais de 35 mil trabalhadores permaneciam na
Cartaz-propaganda utilizadas
região, o grande desafio era aumentar a para recrutar nordestinos para
produção anual de látex de 18 mil para 45 mil trabalharem na exploração da
borracha na Amazônia, durante
toneladas, como previa o acordo de a II Guerra Mundial
Washington. Para isso seria necessária a força
braçal de 100 mil homens.
10. PSC I - Geografia do Amazonas Extrativismo: A Borracha
b1) Os Soldados da Borracha
O alistamento em 1943 era feito pelo Serviço
Especial de Mobilização de Trabalhadores para a
Amazônia (SEMTA), com sede em Fortaleza-CE. A
escolha do nordeste deveu-se essencialmente como
resposta à crise e a seca devastadora na região.
O governo dos Estados Unidos pagava ao
governo brasileiro US$100 por cada trabalhador
entregue na Amazônia. Os migrantes eram conhecidos
à época como “os brabos”.
O kit básico dos voluntários:
uma calça de mescla azul
uma blusa de morim branco
um chapéu de palha
um par de alpercatas de rabicho
uma caneca de flandre
um prato fundo
um talher
uma rede
uma carteira de cigarros Colomy
um saco de estopa no lugar da mala
11. PSC I - Geografia do Amazonas Extrativismo: A Borracha
b2) O Caminho sem Volta
Entretanto, para muitos trabalhadores, este foi um caminho sem
volta. Cerca de 30 mil seringueiros morreram abandonados na Amazônia,
depois de terem exaurido suas forças extraindo o ouro negro. Morriam de
malária, febre amarela, hepatite e atacados por animais como onças,
serpentes e escorpiões.
O governo brasileiro também não cumpriu a promessa de reconduzir
os Soldados da Borracha de volta à sua terra no final da guerra. Somente
depois de alguns anos que foram reconhecidos como heróis e com
aposentadoria equiparada à dos militares. Calcula-se que conseguiram voltar
ao seu local de origem (a duras penas e por seus próprios meios) cerca de 6000
homens.
Mas, quando chegavam tornavam-se escravos por dívida dos coronéis
seringueiros e morriam em consequência das doenças, da fome ou
assassinados quando resistiam lembrando as regras do contrato com o
governo.
12. PSC I - Geografia do Amazonas Extrativismo: A Borracha
III – Apontamentos Finais
Os finais abruptos dos dois períodos da borracha demonstraram a
incapacidade empresarial e falta de visão da classe dominante e dos
políticos da região.
No primeiro, além da extrema confiança dos barões da borracha
na perpetuação daquele período, houve os interesses dos cafeicultores,
que influenciavam o Governo Monárquico a proteger e fomentar apenas a
sua produção (e seus lucros), e culminando com a influência no Governo
Republicano, comandado pela política do café-com-leite, que pouco fez
pela borracha da Amazônia.
O final da Segunda Guerra conduziu, pela segunda vez, à perda da
chance de fazer vingar esta atividade econômica, posto que o Governo
fomentara o retorno à borracha apenas por interesses externos
(notadamente dos EUA).
Não se fomentou qualquer plano de desenvolvimento sustentável
na região, o que gerou reflexos imediatos: finda a Segunda Guerra Mundial,
as economias das potências aliadas e dos países derrotados se
reorganizaram na Europa e na Ásia, fazendo cessar novamente as
atividades nos velhos e ineficientes seringais da Amazônia.