Este documento apresenta uma metodologia para o trabalho científico em três frases:
Apresenta orientações para a organização dos estudos na universidade, abordando a autonomia do aluno, os instrumentos de trabalho e o papel da universidade e do aluno na formação. Discute a leitura de textos acadêmicos e formas de registro de estudos. Explora o significado do conhecimento, diferenciando-o de informação, e apresenta normas para a elaboração de trabalhos acadêmicos.
PROJETO DE EXTENSÃO I - AGRONOMIA.pdf AGRONOMIAAGRONOMIA
Apostila de mtc
1. Metodologia do Trabalho Científico 1
UN I VERSI DADE DE UBERABA
Valeska Guimarães Rezende da Cunha
I olanda Rodrigues Nunes
I vanilda Barbosa
Ernani Cláudio Borges
André Luís Teixeira Fernandes
Raul Sérgio Reis Rezende
M ETODOLOGI A DO TRABALHO CI EN TÍ FI CO
2ª edição
revista e ampliada
Uberaba MG
2006
2. 2 UNIUBE Educação a Distância
Série Metodologia do Trabalho Científico
ã 2006 by Universidade de Uberaba
Todos os direitos de publicação e reprodução em parte ou no todo, reservados para Universidade de Uberaba.
P rodução e Supervisão:
Programa de Educação a Distância
Revisão Textual e Tratamento DidáticoP edagógico:
Marco Antônio Escobar
Capa:
Layout e arte final:
Ney Braga e Programa de Educação a Distância
Colaboração:
Eliane Mendonça Marquez de Rezende
Luiz Fernando Ribeiro de Paiva
Maria Bárbara Soares e Abrão
Raul Sérgio Reis Rezende
Edição:
Universidade de Uberaba
I mpressão:
Gráfica Universitária Universidade de Uberaba
Gerência: Wilson Oliveira
Catalogação elaborada pelo Setor de Referência Biblioteca Central da UN I UBE
M567 Metodologia do trabalho científico / Valeska Guimarães Rezende da
Cunha... [et al.]. – 2. ed. rev. e ampl. Uberaba : Universidade
de Uberaba, 2006
120 p. – (Metodologia)
Colaboradores: Iolanda Rodrigues Nunes, Ivanilda Barbosa,
Ernani Cláudio Borges, André Luís Teixeira Fernaneds, Raul Sérgio
Reis Rezende
Produção e supervisão: Programa de Educação a Distância da
UNIUBE
ISBN 8588920328
1. Pesquisa Metodologia. 2. Metodologia científica. I. Nunes,
Iolanda Rodrigues. II. Barbosa, Ivanilda. III. Borges, Ernane
Cláudio. IV. Fernandes, André Luís Teixeira. V. Rezende, Raul
Sérgio Reis. VI. Universidade de Uberaba. Programa de Educação
a Distância. VII. Série.
CDD 001.42
3. Metodologia do Trabalho Científico 3
A P R ESEN TA ÇÃ O
Ao vivenciar esta nova forma de aprender, possibilitada pela, educação a distância, certamente
você percebeu que ela lhe permite personalizar o seu processo de aprendizagem, uma vez que você pode
imprimir aos seus estudos um ritmo próprio, permanecer em seu meio cultural e natural, não tendo que se
locomover para estudar. Além disso, é você que escolhe os horários em que seu rendimento é maior. Entretanto,
certamente pôde se conscientizar também de que, para um melhor desempenho nesta modalidade de estudo,
precisa organizarse e assumir uma postura mais autônoma em relação à sua aprendizagem.
Saber estudar é, como alguém já disse, o caminho mais fácil de aprender o que quer que seja. O
conteúdo de Metodologia do Trabalho Científico, constante deste volume, pretende contribuir para que o
aluno universitário adquira esta competência. Nele, você encontrará informações sobre os métodos e processos
de produção do conhecimento científico, noções básicas sobre as normas técnicas e a sistemática que envolve
os processos de investigação científica e de produção de um trabalho acadêmico.
Estas informações foram organizadas em quarto unidades de estudo.
Na primeira unidade, você encontrará orientações para a organização de seus estudos e ficará
sabendo de que forma a universidade pode contribuir para a sua formação e também qual a sua parcela de
responsabilidade, enquanto aluno, neste processo.
A segunda unidade contém os esclarecimentos necessários para ajudálo(a) no estudo dos textos
acadêmicos. Você verá como os textos acadêmicos são organizados, os procedimentos adequados para a
leitura desse tipo de texto e as diversas formas de registro de seus estudos.
A terceira unidade se ocupa do conhecimento, suas diversas formas de manifestação e respectivas
características e também de sua aplicabilidade.
Na quarta e última unidade você aprenderá as normas para a elaboração e apresentação de trabalhos
acadêmicos.
5. Metodologia do Trabalho Científico 5
SUM Á RI O
ORI ENTAÇÕES GERAI S .................................................................................. 07
UNI DADE 1 ORGANI ZAÇÃO DOS ESTUDOS NA UNI VERSI DADE ............... 09
1.1 Considerações iniciais ................................................................................ 11
1.2 Autonomia e aprendizagem ........................................................................ 11
1.3 Os instrumentos de trabalho ....................................................................... 13
1.4 O papel da universidade na formação acadêmica do aluno e o papel do
aluno na própria formação ......................................................................... 21
Exercícios de Fixação ......................................................................................... 25
UNI DADE 2 ESTUDOS DE TEXTOS ACADÊMI COS ....................................... 29
2.1 Conceito de texto e os modos de organização dos textos acadêmicos ................. 31
2.2 Procedimentos para a leitura de um texto didáticocientífico ............................. 49
2.3 Outras formas de registro de estudos acadêmicos ........................................... 53
Exercícios de Fixação ......................................................................................... 54
UNI DADE 3 COMP REENDENDO O SI GNI FI CADO DO CONHECI MENTO ..... 59
3.1 Considerações iniciais ................................................................................ 61
3.2 Bases conceituais e caracterísiticas dos tipos de conhecimento .......................... 62
3.3 A diferença entre conhecimento e informação ................................................ 69
3.4 Conhecimento científico e senso comum ....................................................... 73
3.5 Características e aplicabilidade do conhecimento ............................................ 79
Exercícios de Fixação ......................................................................................... 81
UNI DADE 4 NORMAS DE AP RESENTAÇÃO DE TRABALHOS
ACADÊMI COS ................................................................................................. 85
4.1 Considerações iniciais ................................................................................ 86
4.2 O trabalho acadêmico ............................................................................... 86
4.3 A elaboração da questão geradora ............................................................... 89
4.4 O levantamento bibliográfico e as anotações .................................................. 90
4.5 Estrutura, etapas e principais elementos do trabalho acadêmico ........................ 91
4.6 Aspectos técnicos e normativos da apresentação de trabalhos
acadêmicos ............................................................................................102
Exercícios de Fixação ........................................................................................110
REFERENCI AL DE RESP OSTAS ......................................................................115
REFERÊNCI A S .......................................................................................... 117
7. Metodologia do Trabalho Científico 7
ORI EN TAÇÕES GER AI S
A fim de facilitar a sua aprendizagem, no decorrer do texto você encontrará ícones, quadros,
esquemas e imagens que lhe fornecerão pistas valiosas para a compreensão do conteúdo. Elabora
mos uma legenda para que você possa aprender mais facilmente seus significados. Recorra a ela
sempre que precisar.
Exemplos ou Explicações.
Atenção! Informação Importante.
Quadro com borda
simples Conceito ou definição relativos ao conteúdo.
Quadro com borda dupla Esquemas ou resumos.
Ainda para facilitar a sua compreensão, optamos por colocar o glossário no decorrer do texto.
Assim, sempre que houver uma palavra cujo significado é preciso esclarecer, ela virá marcada com
uma tarja cinza e, ao lado, o esclarecimento aparecerá num quadro cinza, sem contorno.
Ao realizar o estudo de cada unidade, você deverá cumprir uma série de atividades que o(a)
auxiliarão a compreender e fixar melhor o conteúdo. Para estas atividades, você encontrará as
respostas no referencial colocado ao final deste volume.
Desejamos a você muito sucesso nos estudos!
Equipe de professores.
9. Metodologia do Trabalho Científico 9
UN I DADE 1
ORGAN I ZAÇÃO DOS ESTUDOS N A
UNI VERSI DADE
Valeska Guimarães Rezende da Cunha
Iolanda Rodrigues Nunes
Ernani Cláudio Borges
André Luís Teixeira Fernandes
Raul Sérgio Reis Rezende
10. 1.1 CON SI DERA ÇÕES I N I CI AI S
Ao final desta unidade, você deverá manifestar consciência da necessidade de se organizar em sua
vida de estudos e ter discernimento quanto aos métodos e estratégias necessários ao seu bom desempenho
neste componente curricular bem como nas outras disciplinas de seu curso. Deverá, também, saber posicionar
se criticamente em relação ao papel que a universidade desempenha na formação acadêmica do aluno e ao
papel do aluno na sua própria formação.
Sabemos que o estudo é fundamental na vida das pessoas e por meio dele buscamos alcançar os
diversos tipos de conhecimento, que serão aplicados em inúmeras situações de nossa vida.
Durante sua formação escolar, você encontrará exigências, obstáculos e desafios que o(a) farão ter
uma nova postura diante dos estudos. Daí a necessidade de você repensar e avaliar a forma como vem
estudando até agora.
Muitos(as) alunos(as), apesar de seu esforço, não conseguem obter o sucesso escolar que estaria ao
seu alcance, pois trabalham com métodos inadequados. A obtenção de bons resultados escolares, que é o
objetivo de todos os estudantes, conseguese com métodos e estratégias de estudo eficazes.
A princípio, é preciso que você se conscientize de que o resultado de todo o processo depende
de você mesmo(a), ao assumir uma postura com maior autonomia para a efetivação da aprendizagem.
Além disso, você deve empenharse num projeto de estudo altamente individualizado, apoiado no domínio e
na manipulação de uma série de instrumentos, que o(a) auxiliarão na organização de sua vida de estudo e na
disciplina de sua vida acadêmica.
Sabemos que cada aluno(a) tem um estilo e um método próprio para estudo. Alguns têm uma postura
passiva e mecânica, ao passo que outros constróem seu conhecimento de forma ativa e dinâmica durante sua
vida escolar. Nesta unidade, estaremos sugerindo instrumentos de estudo que o(a) ajudarão a assumir uma
postura de agente construtor(a) de seu próprio conhecimento, conseguindo, assim, um aprendizado mais
significativo. São palavraschave para melhor aproveitamento dos estudos:
Motivação Organização do tempo
Organização dos materiais Autonomia
1.2 AUTON OM I A E AP REN DI ZAGEM
Para que tenha possibilidades de construção de sua autonomia ao longo do processo, é necessário
que você seja autor(a) de sua própria fala e do seu próprio agir, pois a autonomia é uma conquista que
somente se completa e se realiza à medida que a pessoa cresce e amadurece, no convívio com os outros
(PRETI, 1996).
A autonomia, para ser construída, exige de você, aluno(a), uma tomada de posição e um compromis
so consigo mesmo(a) e com a instituição onde estuda. Segundo Preti (1996), a sua capacidade de aprender de
forma autônoma, fazendo com que você ganhe confiança em si mesmo(a), não depende passivamente da
figura do professor, de alguém que vem para “ensinar ao outro que não sabe”.
Nesse sentido, sugerimos que você considere a sua participação nas atividades acadêmicas como
um elemento indispensável para a construção da autonomia. Mas, nesta altura, você deve estar se perguntando:
11. 12 UNIUBE Educação a Distância
O que devo fazer, enquanto
aluno(a), para aprender a aprender,
Como estudar? a me autoformar, a regular a minha
aprendizagem, a ter autonomia
no processo de aprendizagem?
Existem instrumentos e
técnicas para me auxiliar
nesse processo?
Esse é o grande desafio! Para isso, ofereceremos diversas técnicas de estudo e inúmeras atividades
que facilitarão a sua aprendizagem.
Exercite, pratique a sua autonomia na realização dos
trabalhos solicitados por seus professores. Freqüente
a biblioteca, navegue na Internet, para aprofundar
seus estudos e fazer leituras diferentes. É importante
que você amplie sua visão.
Para Preti (1996), não há dúvida de que existem inúmeras dificuldades que você deverá considerar
e procurar superar, tais como:
· dificuldade de adaptarse a novas situações de aprendizagem
· pouco tempo livr e
· descr ença da validade e aplicabilidade de estudos teór icos
· dificuldades econômicas
· pr oblemas de saúde
· pr oblemas inter pessoais
· dificuldade de concentr ação
· tr anstor nos afetivos e outr os
É importante que você perceba suas limitações pessoais para procurar superálas!
12. Metodologia do Trabalho Científico 13
Segundo Aretio (1994, apud PRETI, 1996), é necessário que Apud
você “se eduque para que saiba como aprender, como adaptarse e como
mudar”, se quiser continuar desfrutando do seu estudo e de sua vida. Às Citado por. Termo usado quando um au
tor cita em seu livro outro autor e você
vezes, não conseguimos superar todas as dificuldades, mas é preciso deseja usar a mesma citação, e não tem
saber lidar com elas e ir superandoas aos poucos. acesso à obra original.
Inicialmente, é fundamental um olhar para si mesmo, é
importante observarse e perguntarse: como estudo, isto é, como apren
do, quais as estratégias metacognitivas utilizadas? Como ocupo e orga M etacognitiva
nizo o tempo ao longo do dia e da semana? Quando, quanto, como e
onde estudo? Quais os horários mais proveitosos? Que técnicas utilizo Etimologicamente, significa para “além
da cognição”, isto é, a faculdade de co
para ler, resumir e estudar, de uma maneira geral? (PRETI, 1996). nhecer o próprio ato de conhecer, ou, dito
de outra forma de “pensar sobre o pen
sar”.
Sugerimos, portanto, um conhecimento de si mesmo, enquanto aprendiz, pois essa autoavaliação
o(a) ajudará a melhor definir e ponderar suas metas em relação à disciplina. Reflita sobre as estratégias que
você utiliza para estudar. Depois, organize seu tempo, distribuindo melhor suas atividades ao longo da
semana.
A nossa intenção até agora foi propor reflexões sobre as significações e as dimensões da autonomia,
dentro do processo educacional. Não pretendemos tornálas um “receituário” ou um “pacote de regrinhas”
que devem ser seguidas para, automaticamente, garantir o processo de autonomia na aprendizagem.
Pretendemos, sim, dar uma orientação e um suporte a você, para que planeje suas ações, organize seu tempo
de estudo e tenha consciência de que o seu sucesso depende, em grande parte, do seu envolvimento e esforço
individual.
No início pode parecer difícil, principalmente se
você não estiver muito habituado(a) a estudar com
regularidade. Mas é importante não desanimar e
estar sempre prestando atenção ao seu
desenvolvimento, aos horários nos quais você
produz com maior facilidade. Enfim, preste atenção
em você e, aos poucos, crie um hábito de estudo
que se adapte ao seu ritmo pessoal.
1.3 OS I N STRUM EN TOS DE TRABALHO
Esperamos que você, realmente, tenha refletido sobre seu tempo, seu ritmo de estudo e que tenha
procurado algumas alternativas. Agora, vamos prosseguir nosso conteúdo estudando os instrumentos que
o(a) auxiliarão na organização de sua vida de estudo e na disciplina de sua vida acadêmica.
A tarefa de aprendizagem na universidade se inicia pelo embasamento teórico, próprio de cada
área. Antes de iniciar as atividades práticas, de laboratório ou de campo, você precisa compreender o
conteúdo específico de sua área de estudo. Para isso, é necessário dispor de diversos instrumentos de trabalho
(cf. quadro 1) que, em nosso meio, são fundamentalmente bibliográficos, os quais garantirão seu estudo
pessoal no decorrer de sua vida acadêmica (SEVERINO, 2002).
13. 14 UNIUBE Educação a Distância
É importante para seus estudos, que você comece a formar sua biblioteca pessoal, munindose
de livros, resumos, textos complementares, periódicos, revistas, dicionários e recursos eletrônicos gerados
pela tecnologia informacional.
Quadro 1 Exemplos e definições de instrumentos de trabalho
1.3.1 EXP LORAÇÃO DOS I NSTRUMENTOS DE TRABALHO
O material didático científico é a base para o estudo pessoal do(a) aluno(a), que deve se
esforçar para construir os sentidos dos conceitos ou das idéias apresentadas no texto, ou seja, você não
precisa se preocupar com o “decorar”, com o “memorizar”. Algumas vezes é importante memorizar
certas informações, mas de nada adianta memorizar sem compreender.
14. Metodologia do Trabalho Científico 15
Sugerimos que você crie o hábito de
registrar a matéria abordada em aula, os
elementos complementares a esta matéria,
as informações anotadas nas aulas
expositivas, nos debates em grupo, nos
seminários e conferências.
Durante seus registros você não conseguirá anotar tudo aquilo que é exposto, pois muitas idéias
ficam truncadas e você acaba perdendo a concentração durante essas anotações. Preocupese com palavras
ou expressões que traduzam conteúdos conceituais e idéias fundamentais, para que, mais tarde, em sua casa
ou em um ambiente de estudo, possa submeter suas anotações a um processo de correção, de complementação
e de triagem.
Veja, a seguir, no Quadro 2, exemplo de uma anotação concisa do que foi exposto até agora:
Quadro 2 Exemplo de anotações importantes
1. Universidade novas exigências necessidade de
novos desafios rever forma de estu-
do
2. Ritmo de estudo é pessoal desenvolver a
autonomia
livros / resumos / periódicos/ / dicionários /
3. Instrumentos de
Internet
trabalho
É importante: formar uma biblioteca básica
adquirir hábitos de anotação
Chamamos sua atenção para o fato de que a
prática de registro pessoal deve
tornar-se uma constante em sua vida, pois é
preciso convencer-se de sua necessidade e
utilidade, considerando-a como parte
integrante do processo de estudo.
Fazer registro é a maneira mais adequada e sistemática de estudar, pois expressa um resultado das
atividades intelectuais de todo aquele que procura estar em dia com as produções do pensamento humano.
O(a) aluno(a) tem de estar ciente de que sua aprendizagem é uma tarefa eminentemente pessoal.
15. 16 UNIUBE Educação a Distância
Indicaremos, a seguir, uma forma de fazer registro dos estudos, denominada fichamento.
Para que fazer o Será mesmo necessário nos
registro da localização ocuparmos com tais
de documentos, dos fichamentos?
livros que lemos?
Certamente que sim. Aí vão algumas razões: neles podemos buscar dados para chegar com mais
agilidade a uma informação importante ou para fundamentar nossas afirmações; registrar nossas impressões
e nossas reflexões acerca de um assunto e racionalizar o nosso trabalho.
Outro ponto interessante a ser observado é que sempre o estudo de um texto (científico, artístico,
religioso etc.) se inicia por um processo de contextualização, gerando o fichamento do assunto estudado.
O FICHAMENTO é uma prática de escrita acadêmica que tem por objetivo identificar um objeto
de estudo (um livro, um capítulo de livro, um artigo, um filme, um documento, um monumento, uma
obra artística) ou reunir dados e proposições sobre determinado tema. Por ser um procedimento
básico de identificação, está sempre relacionado a outras práticas de escrita acadêmica.
Enquanto método pessoal de estudo, podemos identificar três formas de fichamento: o fichamento
bibliográfico, o fichamento temático e o fichamento geral. Veremos, a seguir, essas três formas de fichamento.
Para fazer fichamento, você pode utilizar
fichas próprias, compradas em papelaria, que
podem ser manuscritas, ou utilizar o
computador, criando pastas e arquivos.
1.3.1.1 Fichamento Bibliográfico
Esta forma de registro se constitui num conjunto de referência sobre livros, artigos e trabalhos
dentro de uma área do saber. Este tipo de fichamento é útil porque permite consultar, facilmente o
conteúdo da obra que você leu sobre o assunto em questão, quando for realizar realizar algum
trabalho sobre um determinado assunto.
16. Metodologia do Trabalho Científico 17
Para exercitar esse tipo de fichamento, sugerimos que, à medida que você tome contato com os
livros, artigos, trabalhos e informes diversos, habituese a fazer um fichário, que pode ser manuscrito, ou
digitado no computador, o qual possibilita maior facilidade na inserção e manipulação dos dados.
Veja, no Quadro 3, um exemplo de fichamento bibliográfico, que complementará o fichamento
temático.
Exemplo de fichamento bibliográfico
Quadro 3 Exemplo de fichamento bibliográfico
GARCIA, Ana Maria Felipe. O Conhecimento. In: HÜHNE, Leda Miranda (Org). Metodologia Científica:
Cadernos de Texto e Técnicas. 7. ed. Rio de Janeiro: Agir, 1999.
LAKATOS, Eva Maria; MARCONI, Marina de Andrade. Fundamentos de Metodologia Científica. São
Paulo: Atlas, 1990.
DEMO, P. Neutralidade Científica. IN: ______. Metodologia Científica em Ciências Sociais. 3. ed. São
Paulo: Atlas, 1995.
Tema: O conhecimento
1.3.1.2 Fichamento Temático
Esta forma de registro baseiase nos conceitos fundamentais de uma determinada área do saber,
podendo se referir a uma ou mais obras. Este tipo de fichamento é útil quando você for realizar
algum trabalho sobre um determinado assunto. Ao consultar a ficha, você terá acesso às obras que
tratam do assunto em questão, bem como a um breve resumo.
Esse tipo de fichamento pode ser elaborado de diversas formas:
colocar o conceito entre
transcrição literal (cópia aspas, indicando o autor,
fiel) das palavras do autor a obra e a página de onde
foi retirado
dispensamse as aspas,
síntese das idéias do autor mantendo a indicação da
fonte
idéias pessoais, anotadas não é necessária a utiliza
a partir de uma aula ção de aspas nem a indi
cação da fonte.
17. 18 UNIUBE Educação a Distância
AA seguir, apresentaremos um exemplo de um fichamento temático com a síntese das idéias do autor e
também com idéias pessoais. Tratase de uma forma dentre as muitas que podem ser utilizadas para este fim.
A se
Exemplo de fichamento temático
Quadro 4 Exemplo de fichamento temático
O Conhecimento.
A autora analisa o sentido e o papel que o conhecimento exerce na realidade humana atual através de três relações:
fazer, usar e se posicionar:
a) apresenta o homem como ser racional que, pela linguagem, intrepreta o mundo e se mostra nessa interpreta
ção;
b) caracteriza o conhecimento como renascimento, isto é, formas sempre novas de estar no mundo;
c) o processo do conhecimento dá a verdadeira medida do homem: ser que renasce sempre quando está aberto ao
mundo.
Comentário pessoal:
O texto destaca três possibilidades de conhecimento, mas ainda não revela o papel específico da ciência.
Referência:
GARCIA, Ana Maria Felipe. O Conhecimento. In: HÜHNE, Leda Miranda (Org.). Metodologia científica:
cadernos de texto e técnicas. 7. ed. Rio de Janeiro: Agir, 1999.
Fonte: GARCIA, Ana Maria Felipe. O Conhecimento. In: HÜHNE, Leda Miranda (Org.). Metodologia cientí
fica: cadernos de texto e técnicas. 7. ed. Rio de Janeiro: Agir, 1999.
1.3.1.3 Fichamento Geral
Para esse tipo de fichamento, você pode
proceder conforme sugerimos, a seguir.
Faça um apanhado amplo do assunto, sem muita profundidade
(leitura do prefácio, sumário, introdução).
Em seguida, faça uma leitura mais aprofundada com apontamen
tos mais rigorosos.
Lembrese: as diversas informações devem ser seguidas pela in
dicação, entre parênteses, das respectivas páginas.
É aquele realizado de maneira sistemática e organizada, no qual o(a) aluno(a) arquiva as apostilas,
os textos de seminários, os trabalhos didáticos, os textos de conferência e outros, cujo uso seja
julgado importante, formando um conjunto de textos relacionados com a área de estudo do(a)
estudante.
Ao realizar algum trabalho acadêmico, com maior valor científico, você poderá recorrer a este tipo
de fichamento que servirá de base para o fichamento temático ou mesmo para o fichamento bibliográfico
(SEVERINO, 2002).
À medida que você desenvolve seus estudos, o trabalho de fichamento deve ser sistematicamente
realizado. Procedendo habitualmente dessa forma, você perceberá, na prática, a utilidade do fichamento,
inserido como parte integrante do seu processo de estudo.
18. Metodologia do Trabalho Científico 19
Relacionamos, a seguir, algumas orientações práticas, que serão úteis no seu diaadia:
a) Considere material de fichamento tudo o que julgar importante e útil para seus estudos: as
leituras, as aulas, os seminários, os grupos de discussão, as conferências;
b) para fichas manuscritas ou para os registros feitos no computador, devese observar as
seguintes orientações:
∙ evitar longas transcrições;
∙ registros feitos a partir de leituras, devem conter: título e fonte no cabeçalho. Por ‘fonte’ se
entende: nome do autor, título da obra, local, editora, página, ano;
∙ registros feitos a partir de aulas devem conter: data, disciplina, assunto e nome do professor.
∙ providenciar um fichário próprio, no caso de se utilizar fichas;
∙ transcrever os assuntos dos cadernos para as fichas ou para o editor de textos/planilha, no
computador.
c) para a elaboração da ficha manuscrita devese considerar:
∙ tamanho adequado, que pode ser grande, médio ou pequeno (optar por um tamanho único);
∙ cabeçalho – título e fonte – no verso escrever de cabeça para baixo;
∙ aspas ( “ “ ) para citação; asterisco ( * ) para resumo; duas barras ( // ) para indicar idéias
pessoais.
d) para a elaboração dos arquivos no computador devese considerar:
∙ tamanho do papel e margens adequados para impressão;
∙ espaçamento entre linhas de modo a permitir uma boa leitura;
∙ tipo e tamanho de fonte (letra) legíveis;
∙ cabeçalho contendo título e fonte da documentação;
∙ usar aspas ( “ “ ) para citação; asterisco ( * ) para resumo; duas barras ( // ) para indicar
idéias pessoais.
O Quadro 5, a seguir, representa a estrutura padrão de um fichamento geral, e o Quadro 6, apresenta
um exemplo de fichamento geral.
Quadro 5 Estrutura padrão de um fichamento geral.
19. 20 UNIUBE Educação a Distância
Que tal colocar em prática os tipos de fichamentos,
vistos anteriormente? Experimente criar exemplos
utilizando a forma manuscrita ou o computador. Siga
o exemplo de fichamento geral, a seguir.
Exemplo de fichamento geral:
Quadro 6 Exemplo de fichamento geral
ESTUDAR
Técnicas de trabalho 1
FURLAN, Vera Irma. O estudo de textos teóricos. In: CARVALHO, Maria Cecília M. (Org.)
Construindo o saber: técnicas de metodologia científica. Campinas: Papirus, 1988.
Resumo:
A autora cita que os textos são obra e produto humano, expressos pelos mais variados meios simbólicos e
representam a memória do homem, constituindose na herança que possibilita a continuidade de sua obra.
(p. 131)
Sobre os textos teóricos, afirma que moldam a visão do homem e seu pensamento e que, além de ser obras
que demonstram um conhecimento do mundo, fazem ver o que foi produzido pelos homens na sua existência,
expressando momentos históricos contendo toda série de situações. Também são sistematizados,
organizados e metódicos, fruto de construção de cientistas na tentativa de explicar o real. (p. 132)
Interpreta o texto como uma “voz humana”, do passado, à qual se tem que “dar vida” e “ ‘ouvir’ a sua
palavra, o seu mundo a compreensão dos significados nele implícitos”. Continua afirmando que é no
encontro histórico, quando diversas experiências se defrontam, que se torna possível a compreensão e
interpretação dos textos. (p. 133)
Através dos textos teóricos é que entramos em contato com a produção científica. Portanto, para poder
decifrar melhor o mundo, é necessário compreendêlos e, para tanto, é necessário ter um objetivo para o
estudo dos mesmos. Também é necessário ter claro as questões e problemas contidos nos textos e saber
localizálo no tempo e espaço, etapas estas que facilitam a compreensão. É também sugerida a demarcação
dos conceitos, doutrinas desconhecidas, autores citados, para, a seguir, fazer uma consulta a dicionários,
enciclopédias e manuais para buscar explicações, que facilitem a compreensão da mensagem do autor. (p.
134)
Citações:
“Segundo Paulo Freire, o papel do educador é o de proporcionar a organização de um pensamento correto
através da relação educadoreducando e educandoeducador”. (p. 108)
“No laboratório de classe não há lugar para a reprodução mecânica do conhecimento mas para a recriação
e, até, criação de um trabalho cooperativo de professor e aluno”. (p. 109)
“O professor deverá orientar seus alunos para um sistema de autoaprendizagem através de métodos de
pesquisa bibliográfica e documentação”. (p. 109)
Idéias Pessoais:
// Texto bastante significativo e que propõe uma metodologia aprofundada de leitura de textos teóricos//
Local:
Consultar o livro conforme referência da parte superior da ficha.
Fonte: FURLAN, Vera Irma. O estudo de textos teóricos. In: CARVALHO, Maria Cecília M. (Org.) Constr uindo o
saber : técnicas de metodologia científica. Campinas: Papirus, 1988.
20. Metodologia do Trabalho Científico 21
1.4 O P AP EL DA UN I VERSI DADE N A FORM AÇÃO ACADÊM I CA DO
ALUN O E O P AP EL DO ALUN O N A P RÓP RI A FORM AÇÃO
Vamos prosseguir nosso conteúdo destacando o papel que a universidade desempenha na socieda
de, analisando e enfatizando as contribuições que ela exerce na formação acadêmica do(a) aluno(a). Vamos
também refletir sobre o papel do(a) aluno(a), inserido nessa sociedade, na sua própria formação.
A questão inicial que se coloca,
portanto, é a seguinte: Qual o papel
da universidade na sociedade?
Na verdade, há vários autores com opiniões divergentes sobre esse assunto. Por isso é interessante
conhecer essas opiniões para que possamos refletir e tomar uma posição frente à questão apresentada.
A universidade visa possibilitar aos diplomados o exercício competente da função ou emprego,
com remuneração satisfatória. Acrescento dimensão social mais ampla: técnicos, funcionários
saídos dos bancos universitários ajudam a elevar tanto o nível da qualidade da produção,
como o do país, assim como qualidade e quantidade da produção nas diferentes áreas da
atividade humana. (JUSTO, 1995).
...a instituição universitária, em qualquer realidade social, sempre tem respondido pela ex
celência do saber científico e do nível filosófico e cultural, e por isso mesmo geralmente
tem recebido por parte da sociedade o reconhecimento a que faz jus, mas também tem sido
severamente criticada quando não consegue acompanhar os avanços científicos e
tecnológicos, perdendo assim sua capacidade para traduzir em ações concretas as necessi
dades emergentes da sociedade, através de suas funções básicas: o ensino, a pesquisa e a
extensão. (SOLINO apud INFANTE, 2003)
Você deve ter constatado, por estas citações, que a função social da universidade é preparar
profissionais para o mercado de trabalho. Segundo esses autores, a universidade precisa ouvir e compreen
der as necessidades da sociedade, detectando as mudanças de mercado e elaborando estratégias que possi
bilitem a otimização das relações que deve existir entre a universidade e a sociedade. Isso é um grande
desafio a ser enfrentado, pois conhecer o perfil dinâmico e multifacetado dos profissionais que o mercado de
trabalho exige é um trabalho cauteloso e de diálogo permanente (Figura 1). Tornase necessário, portanto,
criar condições para essa comunicação, oferecendo apoio à inovação tecnológica e à criatividade, para que
o(a) universitário(a) se enquadre no mercado de trabalho que a sociedade exige.
SISTEMA
EDUCACIONAL
Setor privado, MERCADO DE
empresas, estatais e Setor público
TRABALHO
fundações
Figura 1 – Ajuste entre o mercado de trabalho e o sistema educacional de terceiro grau.
21. 22 UNIUBE Educação a Distância
Segundo Infante (2003), atualmente se exige da universidade competitividade no nível de formação
do novo profissional, preparandoo tanto na dimensão do “como fazer” quanto do “porque fazer”. Isto se dá
pelo fato da universidade, ao gerir o conhecimento artístico, científico e tecnológico, estar sempre em confronto
com as exigências da atual era da evolução da informação.
1
Essa idéia de Infante vem ao encontro das idéias de Pereira em um debate sobre o papel da
universidade. Segundo Pereira (2003), a universidade de qualidade é aquela que forma profissionais
competitivos, críticos e eficientes e, para tal, é preciso que os docentes dessa universidade também sejam
eficientes. A forma de avaliar a eficiência dos docentes é o número de artigos publicados, a participação em
congressos, o número de pesquisas que orienta e outras formas de produção.
Nesse contexto, fica claro que a universidade produtiva é fundamentalmente uma universidade que
produz conhecimento, através do ensino, pesquisa e publicações. Isso fica ainda mais claro quando ele
afirma que “...os professores têm que ser eficientes, têm que produzir, se preocupar com os custos, e viabilizar
alguma coisa que seja politicamente possível”.
Percebemos que todos os autores citados defendem a idéia de uma universidade produtiva. Sendo
assim, é importante que entendamos o conceito de “universidade produtiva”, que está implícito nas idéias
apresentadas até agora.
Certamente você compreendeu que o conceito de universidade produtiva defendido pelos autores
Justo (1995), Solino (2003), Infante (2003) e Pereira (2003), é a de uma universidade que prepara profissi
onais tecnicamente eficientes para atuarem no mercado de trabalho, esquecendose de pensar numa formação
mais ampla, ou seja, a que prepara profissionais críticos e conscientes dos problemas sociais.
A partir destas colocações, seria interessante levantarmos outras questões: Qual seria a função
social da universidade? A universidade é acessível a todas as camadas sociais?
Reflita sobre as afirmações anteriores e
faça suas considerações referentes aos
questionamentos colocados.
Como dissemos anteriormente, há autores que defendem idéias diferentes dessas apresentadas até
agora. Para Ramos (1996),
a universidade não se universalizou de fato, pelo menos nos países do Terceiro Mundo. E mesmo naqueles
países que conseguiram eliminar o analfabetismo e proporcionar à totalidade da sua população uma educa
ção básica, ela continua reproduzindo as classes sociais diferenciadas, conforme a origem social de seus
alunos. Aqueles provenientes das classes que detêm o poder econômico encaminhamse ‘naturalmente’
para os cursos de estudos superiores; os demais, para os cursos técnicos profissionalizantes ou, simples
mente, para as ocupações manuais não especializadas.
Chauí (2003), também tem um posicionamento diferente, defendendo o papel da universidade em
uma outra perspectiva. Ao contrário dos outros autores citados, ela se opõe à universidade voltada, apenas,
para o mercado de trabalho. A professora defende uma universidade crítica, reflexiva, aberta a questões que
possam interessar a todo o conjunto da sociedade e no qual a educação é colocada como um dever do Estado.
1
Debate entre Marilena Chauí e Luiz Carlos Bresser Pereira, que marcou a abertura pública do IV Congresso da USP. O título
do debate foi ‘Que Universidade queremos: crítica ou produtivista?’
22. Metodologia do Trabalho Científico 23
“Muitas vezes o professor é impedido de realizar o seu trabalho de docência, e ano após ano,
repete a mesma aula, porque não tem tempo de preparar outra, porque ele vai ser avaliado pelo número de
papéis, de livros, de notas de rodapé, de congressos” (CHAUÍ, 2003). Nesse sentido, ela defende que a
avaliação da qualidade da universidade, não deve ser feita apenas pela quantidade de vezes que seus docen
tes participam de congressos, pelo número de artigos que publicam ou por outras medidas quantitativas, mas,
principalmente, pela qualidade das aulas ministradas pelos docentes, o que implica, necessariamente, uma
reavaliação das condições de trabalho desses docentes. Tornase necessário que ocorra uma revalorização
da docência para que o professor reveja o que é preparar, ministrar e avaliar uma aula universitária.
Cabe ressaltar que no espaço universitário, a pesquisa não pode estar separada do ensino, conforme
observa Demo (1992), ao considerar que a maioria dos professores das universidades fizeram “opção” pelo
ensino, passando a vida contando aos alunos o que aprenderam de outrem, imitando e reproduzindo
subsidiariamente. Segundo esse autor, “quem ensina carece pesquisar” e “quem pesquisa carece ensinar”.
Para Chauí(2003), o mercado exige rotina, repetição, tudo que não inclui inovação, nem criatividade,
nem originalidade, nem profundidade. Isso é devido ao fato de o mercado considerar que somente as agênci
as de publicidade é que precisam ser originais e criativas. Entretanto, não haveria desenvolvimento do
conhecimento sem inovação nem criatividade. Por isso, a necessidade da pesquisa, que, por seu caráter
questionador, sempre produz novos conhecimentos.
Nesse sentido, a pesquisa, o ensino e a extensão devem estar integrados dentro de uma universidade.
Você deve ter percebido que o conceito de universidade crítica, defendida pelos autores, vai além
do conceito de universidade produtiva, porque embora eles não desprezem a competência técnica do profis
sional, defendem que a universidade deve ter critérios de avaliação mais qualitativos do que quantitativos e
que a universidade deve ser direito de todos e os profissionais que forma devem ser mais críticos e reflexi
vos, engajados em pesquisas e projetos sociais.
A essa altura, você já deve ter se posicionado frente às contribuições dos autores citados. Qualquer
que seja a sua opinião, gostaríamos de abrir agora um outro questionamento: Qual o seu compromisso com a
sua própria formação?
Você deve ter percebido que, ao pensarmos sobre o papel da universidade na formação acadêmica
do(a) aluno(a), inevitavelmente devemos pensar no tipo de sociedade que temos. Ao expressar nossa idéia
de sociedade e, portanto, o tipo de profissional que a universidade deve formar, estamos, na verdade, expres
sando a maneira como compreendemos o mundo.
Por isso, para pensar no seu compromisso com a sua própria
formação, não podemos deixar de considerar a sociedade da qual faze
mos parte. Sendo assim, precisamos levar em conta a nova era da infor
mação que estamos vivendo por meio da globalização do conhecimen
to, que propicia a aceleração da quebra de paradigmas de forma Paradigma
multidimensional, permitindo a concepção e o nascimento de novos mo
delos de gestão, comportamento, demanda e outros. Estamos vivenciando Visão de mundo que predomina em um
momento histórico e que influencia o
uma grande transformação proveniente do confronto e da aliança do comportamento, as atitudes e os
ensino com as tecnologias de comunicação, surgindo então novas for valores das pessoas.
mas de comunicação da universidade com a sociedade.
23. 24 UNIUBE Educação a Distância
Segundo Bentes apud Barichello (2003), em re
lação a essa transformação é essencial enfatizarmos dois
pontos cruciais e relevantes nessa nova comunicação en
tre universidade e sociedade: a cultura midiática, que é
utilizada atualmente por uma grande parte da sociedade, e Cultura midiática
o excesso de informações descontextualizadas, que atin Uma forma cultural proveniente do contexto social atu
gem desde a população mais carente até os setores mais al. Se até há pouco tempo livros, apostilas, jornais e revis
privilegiados da sociedade. Nesse novo contexto midiático, tas eram a principal fonte de estudo e de pesquisa, hoje
também se integram a esses recursos os CDROMs e as
o professor passa a ser um orientador, utilizando diversos páginas de Internet, bem como os de áudio e
recursos tecnológicos nas atividades educacionais, videoconferências. Se a biblioteca era a referência para
criando, assim, uma nova possibilidade de interação entre pesquisas nas diversas áreas do conhecimento, o próprio
conceito de biblioteca hoje muda, com os sistemas de pes
os diferentes campos de conhecimento. Tal interação quisa online nas bibliotecas digitais e virtuais.
otimiza novas formas de sociabilidade, sem acabar com
as diferenças e especificidades de cada saber ou realida
de.
Após as reflexões você percebeu que o professor que apenas transmite informação está fazendo o
mesmo papel das mídias, ou seja, transmitindo informações descontextualizadas. Na verdade, o papel do (a)
professor(a), hoje, deve ser o de problematizar, criar situações e orientar os(as) alunos(as) no sentido de
buscar, organizar e analisar as informações, aplicandoas na resolução dos problemas.
Consideramos, diante da realidade atual, que o(a) aluno(a) universitário(a) não está em busca,
apenas, de informações. Ao contrário, ele(ela) está em busca de uma formação pessoal e profissional que
o(a) torne competente, mas também agente transformador(a) da sociedade. Nesse sentido, cabe ao(à)
professor(a) orientálo(a) nesse processo.
Quando falamos do papel do professor e do aluno entramos em um assunto chamado processo de
ensinoaprendizagem. Se tomamos ensinoaprendizagem como algo a ser construído, a partir da interação
dos sujeitos envolvidos (professor(a) – aluno(a)), de forma cooperativa e colaborativa e que esse processo
se dá em um meio sóciocultural, então precisamos elencar algumas atitudes, habilidades e competências
fundamentais que precisam ser desenvolvidas pelos(as) alunos(as) sob a orientação do(a) professor(a).
Sendo assim, buscase uma mudança de mentalidade e atitude, tanto por parte do(a) aluno(a) como
por parte do(a) professor(a), que devem criar um ambiente favorável para que essa mudança ocorra.
Veja, no quadro, a seguir, a relação de algumas atitudes, habilidades e competências que servem
como diretrizes para essa mudança:
· Desenvolver uma atitude mais participativa e ativa nas aulas.
· Trabalhar individualmente para aprender.
· Aplicar as técnicas de registro dos estudos realizados.
· Interagir com os colegas, sabendo debater e dialogar.
· Ver professores e colegas como parceiros colaboradores no processo de aprendizagem.
· Saber pesquisar.
· Assumir a responsabilidade da própria aprendizagem.
· Saber trabalhar em equipe.
· Desenvolver atitudes e valores como ética, respeito aos outros e às suas opiniões.
· Estar aberto ao novo.
· Desenvolver a criticidade.
· Desenvolver a sensibilidade às necessidades da comunidade na qual atuará como
profissional.
· Buscar soluções técnicas e condizentes com a realidade para melhoria da qualidade de
vida da população.
24. Metodologia do Trabalho Científico 25
Todos os pontos citados, anteriormente, devem ser desenvolvidos desde as séries iniciais do curso.
Não basta apenas memorizar conteúdo. É necessário ir além, desenvolvendo uma consciência crítica em
relação ao conhecimento e aos problemas sociais.
Para que tudo isso ocorra, uma das formas que os professores utilizam, além das aulas, é a orientação
de projetos e a solicitação de trabalhos. Por isso é importante que você fique atento(a) a dois pontos:
1. Entender que os trabalhos solicitados pelos professores não são mera formalidade, mas parte
fundamental da sua própria aprendizagem;
2. Ser capaz de analisar, comparar, discutir, transformar a informação em conhecimento, expressando
a sua opinião sobre o tema discutido.
Um trabalho nunca deve ser mera formalidade a ser cumprida, mas meio de aprendizagem
para o(a) aluno(a) que o realiza.
O(a) professor(a), ao avaliar o trabalho realizado pelo(a) aluno(a), pode perceber falhas e
enganos conceituais que precisam ser esclarecidos ou lacunas com relação ao conteúdo que precisam
ser preenchidas. Portanto, os trabalhos acadêmicos são instrumentos auxiliares na tarefa do professor,
que é a de orientar o(a) aluno(a) para alcançar a aprendizagem. Por isso, é importante realizálos com
seriedade.
1.4.1 CON SI DERAÇÕES FI N AI S
Considerando que estamos diante de uma realidade marcada por conflitos sociais, chegamos à
conclusão de que a alternativa que temos para caminharmos na direção de uma sociedade um pouco mais
justa é a conscientização das pessoas no sentido de que exerçam seus direitos e deveres como cidadãos.
Profissionais competentes tecnicamente falando, não ajudam muito a alcançarmos este ideal. Tornamse
necessários profissionais com competência técnica sim, mas também engajados em projetos sociais que
possam contribuir para a transformação da sociedade.
Chegamos, assim, ao final de nossa primeira
unidade! Esperamos que você tenha
compreendido os pontos essenciais e se sinta
motivado(a) a colocar em prática o que aprendeu.
EXER CÍ CI OS DE FI XAÇÃO
01. A vida de estudo na universidade exige do aluno uma organização e uma racionalidade técnica
e prática afim de que seu estudo seja prazeroso, positivo, consistente e de qualidade. Para que
o aluno consiga atingir os objetivos propostos para uma disciplina é necessário que:
a) ( ) as atividades de ensinoaprendizagem utilizem sempre das tecnologias mais modernas
e atraente.
b) ( ) o hábito de estudo, a manutenção de horários e a organização do tempo escolar
sejam constantemente mantidos pelo aluno.
c) ( ) as tarefas exigidas e as reflexões assimiladas pelos alunos podem ser adquiridas e
dinamizadas de acordo com o seu interesse.
d) ( ) o sucesso dos estudos desenvolvidos pelo aluno na universidade, dependem
fundamentalmente do nível das aulas expositivas apresentadas pelo professor.
25. 26 UNIUBE Educação a Distância
02. A criação do hábito de documentar os conteúdos abordados em aula, as informações obtidas
nos debates, seminários e conferências possibilitam uma racionalização do trabalho do tempo
e a assimilação das idéias centrais. Podemos classificar as formas de documentação em três
níveis:
a) ( ) Fichamento geral, fichamento específico e fichamento científico.
b) ( ) Fichamento temático, fichamento bibliográfico e fichamento oficial.
c) ( ) Fichamento geral, fichamento temático e fichamento do cotidiano.
d) ( ) Fichamento temático, fichamento bibliográfico e fichamento geral.
03. O estudo, compreensão e aplicação do conteúdo de Metodologia do Trabalho Científico,
possibilitará ao aluno:
I Tomar decisões rápidas e apropriadas, utilize métodos adequados e seja agente construtor
do seu conhecimento.
II Perceber que se não partilhar com os colegas o processo de aquisição de conhecimentos,
seus resultados serão ineficazes.
IIIEstudar individualmente, mas é amparado por uma série de instrumentos, que contribuem
para uma melhor organização de sua vida escolar.
IV Colaborar com os demais colegas de disciplina na construção de um conhecimento coletivo,
autônomo e eficaz.
Agora, dentre as alternativas a seguir, marque a que agrupa as afirmativas corretas.
a) ( ) I e II
b) ( ) II e IV
c) ( ) I e III
d) ( ) II e III
04. A prática do fichamento é a maneira mais importante, sistemática e adequada de um bom
método pessoal de estudo. Sobre as formas desses fichamento, podemos afirmar que:
a) ( ) o fichamento temático é o mais importante porque ela apresenta níveis aprofundados
e uma visão de conjunto ampla.
b) ( ) o fichamento geral é realizada de maneira sistemática e organizada, possibilitando
que as apostilas, os textos de seminários e conferências sejam agrupados formando
um conjunto coeso e científico.
c) ( ) o fichamento bibliográfico apresenta uma visão panorâmica da produção acadêmica
e as informações possibilitam uma visão menos profunda.
d) ( ) o fichamento bibliográfico contempla muitas informações, que se não forem resumidas
em fichários, único instrumento que as unifica, o acervo se perde.
05. Em relação à prática da escrita acadêmica, responda as questões a seguir:
a) Explique, com suas palavras, as características das 03 formas de fichamento: bibliográfico,
temático e geral.
________________________________________________________________
________________________________________________________________
b) Para cada situação apresentada a seguir, aponte o tipo de fichamento mais adequado:
26. Metodologia do Trabalho Científico 27
06. Ao pensar sobre o papel da universidade na formação acadêmica do aluno, devemos pensar no
tipo de sociedade que temos. Estabeleça na tabela abaixo a diferenciação entre universidade
crítica e produtiva, apontando o papel de cada uma, o tipo de profissional que deve formar e a
sua opinião sobre elas.
07. Ao praticar a autonomia no convívio com os outros, existem inúmeras dificuldades que devemos
considerar e procurar superar. Aponte 04 dificuldades que você possuiu e já superou ou ainda
possui em relação ao estudo do componente de Metodologia do Trabalho Científico bem como
em relação às demais disciplinas de seu curso.
a) __________________________________________________________________
b) __________________________________________________________________
c) __________________________________________________________________
d) __________________________________________________________________
08. Na universidade, antes de iniciar as atividades específicas próprias de cada área de conhecimento
é fundamental utilizar diversos instrumentos de trabalho que auxiliam na organização de sua
vida de estudo e na disciplina de sua vida acadêmica.
Cite 02 instrumentos que você mais utiliza e aponte 02 vantagens que cada um proporciona.
a) __________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
b) __________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
30. Metodologia do Trabalho Científico 31
2.1 CONCEI TO DE TEXTO E OS M ODOS DE ORGANI ZAÇÃO DOS
TEXTOS ACADÊM I COS
2.1.1 CON SI DER AÇÕES I N I CI AI S
Nesta unidade, estudaremos o texto acadêmico. Desenvolveremos algumas reflexões sobre o seu
conceito e sua organização. Em seguida, veremos alguns procedimentos mais adequados para a leitura de
um texto científico e, finalizando, serão indicadas as formas de textos acadêmicos mais freqüentes para os
registros dos estudos que são realizados nos cursos de graduação.
Além dos exemplos que serão dados, vamos sugerir algumas atividades para o exercício da leitura.
O que se pretende é que você amplie seus conhecimentos sobre as formas de organização e o uso
adequado desses textos, para o seu melhor desempenho nos estudos.
2.1.2 A P ALAVRA TEXTO
Para compreender o que é um texto acadêmico, seria interessante investigar o lugar que a palavra
texto vem assumindo em nossa vida dentro e fora da escola. Desde que aprendemos a ler e a escrever,
ouvimos diariamente as pessoas dizerem “leia o texto”, “escreva um texto”, “gostei de seu texto”, “foi
publicado um texto no jornal sobre...”, “o texto constitucional garante...”.
Ouvindo essas expressões, relacionamos texto a uma seqüência articulada de palavras escritas que,
em maior ou menor extensão, nos permite:
• obter informações;
• expressar o que pensamos;
• dizer do que ou de quem gostamos;
• saber da Física, da Química, da Biologia, das leis de uma sociedade, da política e dos costu
mes dos povos;
• aprender a geografia e a história do país;
• conhecer o pensamento do meu colega, do cientista, do poeta.
Poderíamos enumerar uma infinidade de situações e de pessoas com as quais nos envolvemos por
meio de um texto escrito. E o gesto, o desenho, a fala? É possível construir situações e relações humanas
com os gestos, os desenhos e as falas, assim como fazemos com as palavras escritas? E entre os povos que
não adotaram a escrita como um recurso de comunicação e trabalho, não existe texto? Como são passadas as
tradições, os costumes, as normas de convivência em grupos sociais que não adotam a língua escrita?
À medida que essas questões vão sendo respondidas, a imagem de texto vai se diversificando, pois
empregamos a palavra TEXTO para nomear diferentes objetos:
• as seqüências de gestos nos rituais;
• de linhas e cores, em uma pintura;
• de sons, nos diálogos e músicas.
Assim, é comum ouvirmos: “ esse texto fotográfico foi tirado da revista x”, “o texto em quadrinho
era do Ziraldo...”, “o texto cinematográfico .....”. Então, perguntamos:
O que há de comum entre uma fotografia, uma história em quadrinho, um filme, uma letra de
música, um ritual indígena e uma seqüência musical para que todos sejam denominados TEXTO?
31. 32 UNIUBE Educação a Distância
Vamos refletir juntos. Todos esses textos:
surgem de uma necessidade: a pessoa (o autor) quer se expressar para se relacionar com outra
(ouvinte, leitor, expectador);
trazem as marcas do seu autor e do seu destinatário; relacionamse a uma situação;
suas partes relacionamse umas com as outras, formando uma unidade de sentido;
mantêm relação com o mundo do autor e do destinatário;
o autor se utiliza de código(s) para produzílos
Inter locução
Conversação entre duas ou
mais pessoas. Todo aquele
O texto verbal é um espaço de diálogo, de interlocução. E, como que produz um texto, tem em
todo diálogo, necessita de condições para sua existência. Entre essas condi mente uma pessoa a quem se
ções se destacam a coesão e a coerência. Da coesão, depende a organização dirige quando fala, escreve,
gesticula, desenha, ou seja, o
interna entre as partes dos texto, para que seja um todo significativo. Da seu interlocutor.
coerência , depende o sentido histórico do texto, o seu conteúdo, que poderá
ser ponto de partida e de chegada para o conhecimento de mundo. C oesã o
Relações de sentido entre os
Portanto, um texto resulta das relações de coesão e coerência que se componentes do texto.
juntam para constituir uma unidade de sentido.
Coer ência
Relações de sentido do texto
com o mundo, isto é, com o
contexto externo.
UNIDADE DE SENTIDO
notícia um chamado elogio artigo científico
lei
história em quadrinho poema resenha relato
mapa gráfico relatório de pesquisa livro portfólio
resumo memorial crônica propaganda
TEXTO
Sendo uma unidade de sentido, cada texto tem existência própria, embora se relacione com tantas
outras unidades de sentido, isto é, outros textos, que o antecederam ou que dele poderão surgir.
Como você pode perceber, o ato de ler deve ser entendido em seu sentido mais amplo. Estamos
continuamente lendo os textos que são produzidos no cotidiano do espaço cultural em que vivemos.
O ato de ler pode ser definido como o momento em que o leitor se volta para compreender
essa unidade de sentido que é o texto.
Seria diferente ler um artigo de jornal ou um poema? Um romance ou um tratado científico? Se eles
têm formas e finalidades diferentes, é possível que nós os leiamos de variadas maneiras. Mas, quem determina
as maneiras de ler um ou outro texto?
Para responder a essas indagações, vamos ler dois textos.
32. Metodologia do Trabalho Científico 33
Texto 1
A barata e o rato
Era uma dessas baratinhas brancas e nojentas, acostumadas só a imundicies e ao
monturo, comendo calmamente sua refeição composta de um pedaço de batata podre e um pedaço de
tomate podre . Chegou junto dela um Rato transmissor de peste bubônica e lhe disse: "Comadre,
ontem tive uma aventura extraordinária. Estive num lugar realmente impressionante, como você, comadre,
certo jamais encontrará em toda sua vida". Barata comendo. "O lugar era uma coisa que realmente me
deixou de boca aberta" prosseguiu o Rato "tão espantoso e tão diferente é de tudo que tenho visto
em minha vida roedora" . Barata comendo. "imagina você" prosseguiu o Rato "que descobri o lugar
por acaso. Vou indo numa das cavidades subterrâneas por onde passeio sempre, entrando aqui e ali
numa casa e noutra, quando, de repente, percebo uma galeria que não conheço. Metome nela, um
pouco amedrontado por não saber onde vai dar e de repente saio numa cozinha inacreditável. O chão,
limpo, que nem espelho! Os espelhos, de um brilho de cegar! As panelas, polidas como você não pode
imaginar! O fogão, que nem um brinco! As paredes, sem uma mancha! O teto, claro e branco como se
tivesse sido acabado de pintar! Os armários, tão arrumados e cuidados que estavam até perfumados!
Poeira em nenhuma parte, umidade inexistente, no chão nem um palito de fósforo...
E foi aí que a Barata não se conteve. Levou a mão à boca num espasmo e protestou:
"Que mania! Que horror! Sempre vem contar essas histórias exatamente no momento em que a gente
está comendo!"
MORAL: PARA O VÍRUS A PENINCILINA É UMA DOENÇA.
SUBMORAL: A ECOLOGIA É MUITO RELATIVA
(MILLÔR, Fernandes. Literatura Comentada. São Paulo: Abril Cultural,1980.)
Este texto é uma fábula. As fábulas são textos narrativos que apresentam questões complexas de
uma forma simples e concisa. Algumas circulam há séculos, mas, em cada época que são lidas, elas se
renovam. Podemos fazer uma leitura das fábulas com a intenção de satirizar os costumes (paródia, crítica) ou
para resgatar a moral nelas existentes. Foi o que Millôr fez, retomando a antiga história da D. Baratinha.
Observe nesta fábula as partes da narrativa simples:
• uma situação inicial (a barata come calmamente sua refeição);
• uma mudança de situação (a chegada do rato);
• o desenvolvimento (o relato do rato enquanto a barata come);
• uma situação final (o protesto da barata).
O que garante a conexão entre as partes da narrativa são alguns elementos como: a pontuação, os
tempos verbais (era, chegou, lhe disse), expressões como “barata comendo”, “prosseguiu o rato”, “e foi aí”.
Articuladas, bem conectadas, a história vai progredindo e as partes formam um todo. Também podemos
estabelecer uma relação entre a situação vivenciada pelo rato e pela barata com situações cotidianas em
nosso meio social e com os valores culturais e pontos de vista das pessoas.
Vejamos um outro texto.
33. 34 UNIUBE Educação a Distância
Texto 2
O Termo Direito
Não é fácil perceber todas as significações encerradas no termo "Direito", ou tirar desse termo
o conteúdo que possa nos aproximar da compreensão do que seja a finalidade da ciência que
pretendemos conhecer: direito, do latim directus, adj. colocado em linha reta; direito, reto; certeiro;
direto; preciso. O vocábulo ora significa: a) ordenamento ou norma conjunto de normas ou sistema
jurídico vigente num país:o Direito da Alemanha; b) autorização ou permissão de fazer o que a norma
não proíba, ou o que a norma autorize, ou seja, certo poder de exigir ou dispor de uma ação :isso é
direito meu; c) qualidade do que atende a um anseio de justiça e retidão, do que é justo e reto: isso não
é direito; d) prerrogativa que alguém possui de exigir de outrem a prática ou abstenção de certos atos:
defendome porque alguém põe em risco o meu direito; e) ciência de norma coercitivamente imposta
(obrigatória): o Direito é a ciência normativa; f) conjunto de conhecimentos acerca dessa ciência: essa
regra de Direito.
Também pode significar um conjunto de conhecimentos englobantes, que se ocupa de uma
série de disciplinas diferentes: "a filosofia do Direito, a sociologia do Direito, a história do Direito e a
.(9)
Jurisprudência ("dogmática jurídica"), para se referir somente às mais importantes
(9) Karl Larenz, Metodologia da ciência do direito, 3.ed.,cit.,p.261
NERY, Rosa Maria de Andrade. O Direito como ciência, arte e técnica. In:______. Noções preliminares de Direito Civil. São
Paulo: Revista dos Tribunais, 2002.
Este texto foi retirado de uma publicação dirigida a pessoas que se interessam por adquirir
conhecimentos básicos sobre Direito. Lendoo, podemos observar que o autor:
• situase como alguém solidário ao leitor, quando usa as expressões "...nos aproximar
...pretendemos";
• fornece pistas para o leitor ampliar seu conhecimento acerca do assunto quando fundamenta suas
explicações, recorrendo a outros autores;
• usa termos técnicos: preocupase em traduzir, nos parênteses, cada palavra que possa impedir a
compreensão do significado do termo Direito.
O leitor se sente amparado pelo autor que parece compreender suas dificuldades de se relacionar
com um assunto novo. Podemos afirmar que o objetivo do autor é didático, ou seja, facilitar a compreensão
do significado do termo Direito.
Como você pode observar, cada um dos textos exige um tipo de leitura . Portanto, é o próprio texto
que nos fornece o caminho para a leitura.
Vamos prosseguir nossa reflexão, procurando compreender o que se denomina ‘texto acadêmico’.
2.1.3 O TEXTO ACADÊM I CO: UM A DEFI N I ÇÃO
Na primeira unidade, você teve a oportunidade de trocar idéias sobre a organização dos estudos na
universidade. Entre outros pontos, destacouse a importância dos recursos que são utilizados em seus estudos,
para que você seja um dos atores do processo de ensinoaprendizagem durante seu curso de graduação. Entre
esses recursos estão os textos verbais.
34. Metodologia do Trabalho Científico 35
Usando a linguagem verbal, os cidadãos produzem textos orais e escritos, conforme suas necessidades
e as suas circunstâncias sociais e históricas. A produção dos textos orais é tão variada quanto variadas são as
situações de encontros entre as pessoas. Mas, ainda assim, podemos identificar uma estrutura de base em
todos os textos orais. É a estrutura do diálogo:
• há sempre a suposição de que uma pessoa se dirige a outra;
• a fala pode ser mais espontânea ou mais formal, conforme a pessoa esteja mais ou menos à
vontade na situação;
• gestos, expressões faciais, complementam a fala;
• as pessoas falam a mesma língua.
Em geral, distinguimos dois tipos de diálogos, os informais (batepapos) e as conversas dirigidas
(entrevistas e debates).
Como a universidade é um espaço de pesquisa, de produção e de difusão de conhecimentos acumu
lados ao longo da história da humanidade, em princípio, os textos que circulam no espaço universitário são
os mesmos que encontramos no espaço social mais amplo e que estão disponíveis para os cidadãos.
Se considerarmos as funções da escrita numa dada sociedade,
identificamos cinco grandes gêneros de textos: literário; comercial e oficial Gêner os de texto
Os gêneros de textos surgem
(incluindo nesses últimos os tipos legal e jurídico); científico (e didático
de uma prática social, uso da
científico); jornalístico e publicitário; religioso. linguagem em determinadas
situações e para determina
Cada um deles pode se apresentar sob diferentes formas variantes dos fins.
que resultam de técnicas de redação que são escolhidas a partir dos objetivos
que o autor tem, nas diferentes situações em que se usa a escrita.
Observe o quadro, a seguir:
Geralmente são os textos técnicos e científicos os mais indicados como referência para a ampliação
das reflexões realizadas em sala de aula com colegas e professor ou para subsidiar a pesquisa e conhecimen
to do que já se produziu sobre assuntos de interesse para a sua formação profissional, estejam esses textos
nos livros, em revistas especializadas e em jornais impressos ou online.
Ao mesmo tempo, você também é solicitado(a) a registrar o que ouve e lê, a dizer o que leu, a opinar
sobre o assunto que pesquisou, de forma oral ou escrita. Ou seja: você também produz textos para apresentar
ao professor e aos colegas em sala de aula, em eventos científicos ou para publicar em periódicos.
Na prática escolar, o debate, a entrevista, o artigo, a resenha, o resumo, o relatório, a monografia o
memorial e o portfólio são produzidos com a finalidade específica de alimentar o processo de ensinar e de
aprender.
35. 36 UNIUBE Educação a Distância
A escola adota, então, alguns modelos de textos, adequandooes aos estudos que os alunos e os
professores desenvolvem para a progressiva ampliação e troca de conhecimentos necessárias à formação
profissional. A esses textos estamos denominando textos acadêmicos.
TEXTOS ACADÊMICOS: conjunto de textos com os quais lidamos, no diaadia de nossos estudos
na universidade, com o objetivo de ampliar nossos conhecimentos científicos sobre determinado
assunto, ou que produzimos para registrar o estudo que realizamos.
2.1.4 M ODOS DE ORGAN I ZAÇÃO DOS TEXTOS ACADÊM I COS
No contexto da universidade desenvolvemos um conjunto de ações que nos levam a memorizar,
analisar, interpretar, a compreender e a produzir textos orais e escritos.
Para cada situação, procuramos recuperar o que já conhecemos e adequar a nossa fala e escrita,
com o propósito de realizar mais competentemente os nossos estudos. Por exemplo, se o professor pede a
você que participe de um debate. Você, que já assistiu a debates entre candidatos a cargos políticos, entre
especialistas em esportes, entre cientistas e educadores, faz uma idéia do que o professor espera de você
enquanto debatedor. Da mesma forma, podemos pensar sobre uma entrevista, que pode ser instrumento de
coleta de dados para uma pesquisa ou para a realização de uma matéria jornalística. Temos experiência,
conhecimento dos componentes de um debate ou de uma entrevista, pois são duas práticas de linguagem
muito freqüentes no nosso contexto social. Somos, também, capazes de contrapor uma carta familiar a uma
correspondência oficial; de distinguir um artigo científico de uma reportagem. Quanto mais temos contato
com essas formas de textos, mais fácil se torna reconhecêlas e identificar o espaço delas no contexto
social.
Afirmamos, no item anterior, que, na prática escolar, esses tipos de textos são adequados ao exercício
do ensinar e do aprender. Na escola, além de usarmos a linguagem para estabelecer os vínculos de cooperação
e de interação, como em qualquer outro espaço da sociedade, também simulamos situações de comunicação
como um recurso de aprendizagem.
Assim sendo, para nossa maior competência comunicativa, é interessante conhecer um pouco mais
sobre a composição e finalidade dos textos acadêmicos. Precisamos aprender a adequar o que já sabemos
fazer com os objetivos de nossos estudos. Ou ainda, saber como usar o debate, a entrevista, a reportagem,
o artigo científico para o desenvolvimento de habilidades que são esperadas dos profissionais que têm
formação universitária.
2.1.4.1 Textos orais: a entrevista e o debate
ENTREVISTA
Você já foi entrevistado(a)? Já entrevistou alguém? Já assistiu a uma entrevista de algum grupo
musical ou de uma equipe esportiva?
Certamente, em todas essas situações, reconhecemos dois papéis distintos, presentes em toda entre
vista: o papel do entrevistador, que é o responsável por abrir o diálogo, fazer as perguntas, dar continuidade
ao assunto, controlar os rumos da conversa e encerrar a entrevista; e o papel do entrevistado, que é o de
responder às perguntas.
A entrevista se organiza a partir de um esquema padrão:
situação inicial: apresentação dos interlocutores e as razões da entrevista (INTRODUÇÃO);
36. Metodologia do Trabalho Científico 37
desenvolvimento do diálogo: seqüência de perguntas, respostas e comentários que estabele
cem a relação entre um e outro ponto da conversa (DESENVOLVIMENTO);
finalização da entrevista: palavras finais, despedidas, agradecimentos que nem sempre vêm
transcritos quando a entrevista é publicada (FECHAMENTO).
No entanto, é diferente a entrevista que o profissional da saúde faz com o paciente, que o repórter
realiza com o político ou o gerente da empresa com o candidato a um emprego, o advogado com o seu
cliente. Essa variação decorre dos propósitos das pessoas em cada situação. Em todas elas, as habilidades
de comunicação oral do entrevistador e do entrevistado contribuem para o êxito da entrevista e, conseqüen
temente, para o alcance dos objetivos.
Exemplo de uma entrevista realizada com a finalidade de ser divulgada, na mídia impressa.
AATUALIDADE DE PAUL McCARTNEY Tema da entrevista
“O sonho acabou”, disse John Lennon em 1970, depois do
fim dos Beatles. Para o principal parceiro de Lennon, Paul
McCartney, o sonho continua até hoje. Dotles, Paul
atravessou gerações da música pop. Assistiu à explosão do
rock progressivo, do punk e da new wave e chegou intacto
– e competitivo à era dos megashows no fim dos anos 80.
Em 1990, Paul McCartney bateu o recorde de público em
espetáculos musicais solo. Levou 184.000 pessoas ao Apresentação da pessoa
estádio do Maracanã, uma marca que resiste até hoje. O entrevistada
exbeatle sobreviveu a Lennon (assassinado em 1980 em
Nova York), George Harrison (vitimado por um câncer em
2001) e Ringo Starr (que, apesar de tecnicamente vivo,
está artisticamente morto). Na canção When I´m SixtyFour,
gravada pelos Beatles no antológico álbum Sgt. Pepper´s,
Paul McCartney canta: “Quando eu tiver 64 anos, você ainda
precisará de mim?”. Paul McCartney, aos 61 anos, está na
ativa e é criativo – e não é exagero dizer que a cultura pop
ainda precisa dele.
Entrevistadora, represen
Cristina Lopes de Medeiros
tante da revista Veja
DESENVOLVIMENTO DO
Veja – Você acha que os jovens dos anos 80 são mais conservadores que os dos anos 60?
Paul McCartney – Não são mais conservadores, mas mais conscientes e, de certa forma, mais
DIÁLOGO
bem preparados. Na minha época, não se falava em sexo em casa. A gente descobria todo sozinho.
Havia muitos tabus, muita repressão. É natural, então, que a juventude dos anos 60 quisesse se
liberar das convenções e romper todas as amarras. Hoje isso não é mais necessário, essas
questões já foram discutidas e esclarecidas. Não existe mais a necessidade de revolucionar os
costumes de uma forma drástica, como foi feito naquela época. Mas isso não significa
conservadorismo. Essa nova mentalidade, mais aberta, mais condescendente, esse amadurecimento
é o grande legado da revolução que nós lideramos.