1) O documento apresenta uma revisão sobre as alterações dermatológicas que ocorrem durante a gravidez, dividindo-as em alterações fisiológicas, dermatoses influenciadas pela gravidez e dermatoses específicas da gravidez.
2) Dentre as alterações fisiológicas estão a hiperpigmentação, melasma, alterações vasculares como aranhas vasculares e eritema palmar, varicosidades, estrias e alterações nas unhas e mucosas.
3) As dermatoses influenciadas incl
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1 - Alterações fisiológicas na gravidez bem avaliados, uma vez que a influência hormonal no
Pela extensão do acometimento cutâneo na surgimento dos melanomas ainda está sendo debati-
gestante e pelos estigmas gerados para as pacientes, da.5 Outras alterações cutâneas pigmentares como
não há dúvidas de que há subvalorização das altera- linha nigra, escurecimento areolar e hipercromia de
ções cutâneas enfrentadas pelas gestantes. O fato de vulva e ânus tendem a regredir ao final da gestação.
muitas dessas alterações serem descritas como fisioló- Alterações vasculares também são comuns na
gicas não minimiza seu desconforto para as pacientes. gravidez.2
As alterações pigmentares são extremamente Aranhas vasculares surgem entre o segundo e o
comuns, acometendo até 90% das gestantes.2,3 quinto mês de gestação, sendo mais freqüentes em
Iniciam-se precocemente na gravidez e são mais proe- mulheres caucasóides (até 67% de acometimento).6
minentes em mulheres da raça negra. A hiperpigmen- São mais encontradas nas áreas de drenagem da veia
tação costuma ser generalizada, com acentuação das cava superior, como face, pescoço e membros supe-
regiões normalmente mais pigmentadas, como aréo- riores, e seu tamanho tende a aumentar ao longo dos
las mamárias, genitália, períneo, axilas e face interna meses. Altos níveis de estrógenos parecem responder
das coxas. O quadro tende a regredir no pós-parto, por sua origem.
mas a pele geralmente não retorna à coloração inicial. Geralmente as aranhas vasculares desaparecem
Fatores responsáveis pela pigmentação dessas até a sétima semana após o parto. Pode ocorrer reci-
áreas incluem maior população de melanócitos e diva em gestações subseqüentes. Não é necessário
maior susceptibilidade ao estímulo hormonal. instituir terapia específica.
Elevação dos níveis de hormônio melanocítico esti- Eritema palmar também é freqüente na gesta-
mulante (MSH), estrógeno e progesterona foram ção. Tem início no primeiro trimestre e é mais
implicados na etiologia da hiperpigmentação. O nível comum em mulheres caucasóides. Clinicamente
sérico de MSH, porém, apresenta elevação tardia na pode acometer as eminências tenar e hipotenar ou
gestação e não sofre redução no pós-parto. Os níveis toda a palma, acompanhando-se de cianose e palidez.
de estrógeno e progesterona parecem estar mais cor- Desaparece na primeira semana do pós-parto.
relacionados ao quadro clínico, uma vez que aumen- Relaciona-se também aos níveis elevados de estróge-
tam a partir da oitava semana de gestação e começam nos, além do aumento da volemia. Não há correlação
a diminuir a partir da trigésima semana, padrão que é com doença hepática nesses casos.
compatível com a evolução da hiperpigmentação.4 Varicosidades acometem mais de 40% das ges-
O melasma ocorre em até 75% das gestantes. tantes, sendo mais comuns nas pernas e na região
Geralmente tem início no segundo trimestre da gesta- anal.4,6 Surgem a partir do terceiro mês de gestação.
ção, sendo mais comum em mulheres da raça negra. Apresentam etiologia multifatorial, incluindo tendên-
Seu padrão de acometimento na gestação é o usual, cia familiar, fragilidade do tecido elástico e aumento
sendo mais comum o centrofacial (63%), seguindo-se da pressão venosa devido à compressão venosa pelo
o malar e o mandibular.4 Há predomínio do melasma útero. Tendem a regredir no pós-parto, e pode ser
epidérmico, intensificado pela luz de Wood, em rela- realizada profilaxia com o uso de meia elástica,
ção ao dérmico. repouso com elevação dos membros inferiores ou em
A etiologia do melasma é multifatorial, poden- decúbito lateral, sendo recomendával evitar a posição
do contribuir: gestação, uso de anticoncepcionais ortostática por períodos prolongados.4,5
orais, fatores genéticos e raciais, exposição solar, Hemangiomas cavernosos pequenos podem
entre outros.2,3 Níveis elevados de estrógeno, proges- desenvolver-se em até 5% das gestantes, surgindo no
terona e MSH podem corresponder a possíveis fato- final do primeiro trimestre de gravidez.6 O tratamen-
res etiológicos.4 to é cirúrgico para as lesões persistentes, e, como as
O melasma costuma desaparecer completa- alterações vasculares citadas acima, também têm rela-
mente em prazo de até um ano após o parto, mas até ção com os níveis de estrogênio.
30% das pacientes evoluem com alguma seqüela da Cutis marmorata das pernas é provavelmente
mancha. O quadro é mais persistente em mulheres distúrbio vasomotor secundário aos níveis estrogêni-
que fizeram uso de anticoncepcionais orais e nos cos, que pode ocorrer nas pacientes quando expostas
melasmas dérmicos. O tratamento inclui fotoprote- ao frio. Caracteriza-se por cianose salpicada transitó-
ção, bem como evitar a exposição solar exagerada. ria. Se persistir após o parto, causas secundárias
Fórmulas com corticóides, hidroquinona e tretinoína devem ser pesquisadas.6
podem ser utilizadas no pós-parto. O granuloma gravidarum ou granuloma pio-
Cicatrizes recentes, efélides e nevos melanocí- gênico da gestação é tumor benigno gengival, histolo-
ticos podem apresentar intensificação da pigmenta- gicamente indistinguível do granuloma piogênico.
ção ao longo da gestação. Os nevos devem ser mais Surge como lesão enantematosa na gengiva, pedun-
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culada ou séssil. Geralmente ocorre regressão ao final pleta em aproximadamente um ano.4,6
da gravidez, não devendo, portanto, ser inadvertida- As unhas também são afetadas, podendo apre-
mente removido, pois tal conduta acarreta freqüentes sentar-se mais frágeis e quebradiças, com onicólise
recidivas. Higiene oral rigorosa é um dos fatores que distal e queratose subungueal.
parecem prevenir ou evitar a formação do granuloma Em relação às mucosas, a gengivite gestacional
piogênico da gestação.4,6,7 ocorre em até 100% das gestantes, variando conforme
As estrias causam enorme desconforto para as o grau de acometimento. Geralmente inicia-se no pri-
gestantes. São mais comuns em mulheres caucasianas meiro trimestre e aumenta em gravidade até o nono
e surgem em oposição às linhas de tensão da pele. mês. Apresenta-se como alargamento e enantema das
Ocorrem mais freqüentemente no abdômen, mamas, papilas interdentais, mais intensos nos dentes incisi-
braços e dorso. vos inferiores. Ulceração pode acontecer. Sua etiolo-
A etiologia das estrias ainda está em discussão, gia parece decorrer do aumento dos níveis de proges-
mas aparentemente elas se relacionam à distensão terona, da pobre higiene oral, de fatores irritativos
dos tecidos e à atividade adrenocortical e estrogênica. locais e deficiências nutricionais. O tratamento con-
Ocorre associação significativa entre a formação de siste em cuidados locais. Vitamina C por via oral pode
estrias e o excesso de peso dos bebês e das mães. Há ser útil.6
controvérsias quanto à real prevenção que as massa- Finalmente, o prurido ocorre em até 20% das
gens com óleos exercem sobre a formação de estrias gestantes; tem início no terceiro mês e apresenta
nas gestantes. Mesmo sem involução completa, as intensificação ao longo da gravidez.4 É mais intenso
estrias podem melhorar muito ao final da gravidez, no abdômen e devem-se descartar outras dermatoses
passando também a apresentar seu aspecto branco- como, por exemplo, escabiose, atopia ou neuroder-
nacarado mais tênue. No pós-parto elas podem ser mite. O tratamento é sintomático, uma vez excluídos
tratadas com tretinoína tópica. os demais diagnósticos.
A atividade glandular é francamente alterada A colestase intra-hepática da gestação constitui
pelas mudanças hormonais da gravidez. As glândulas outra condição que pode acarretar prurido e deve ser
écrinas progressivamente aumentam sua atividade, descartada. Ocorre geralmente no terceiro trimestre e
elevando a incidência de miliária e eczema desidróti- é secundária à dificuldade na excreção de ácidos bilia-
co nesse período. Paradoxalmente, há redução da res, com elevação de fosfatase alcalina e aumento dis-
sudorese palmar. creto de bilirrubinas. O quadro clínico caracteriza-se
Já as glândulas apócrinas reduzem suas ativida- por prurido intenso, náuseas, vômitos e icterícia.
des ao longo da gestação, com melhora de enfermida- Existe aumento de morbimortalidade fetal. O trata-
des como a hidradenite supurativa. mento é difícil, e pode ser realizado com anti-histamí-
Em relação às glândulas sebáceas ainda não nicos e colestiramina. Os sintomas resolvem-se ime-
existe consenso se suas atividades aumentam ou se diatamente no pós-parto.8
mantêm constantes ao longo da gestação.6
O edema periférico é uma das manifestações 2 - Dermatoses específicas da gravidez
mais comuns e duráveis nas grávidas. Sua etiologia As dermatoses específicas da gravidez são erup-
inclui a retenção de sódio e água, além das alterações ções que ocorrem somente na gestação e por ela são
circulatórias causadas pelo útero gravídico sobre a desencadeadas. Sua patogênese ainda é debatida,
circulação da veia cava inferior.2 assim como sua classificação.
O hirsutismo é outro achado freqüente nas ges- Em 1982, Black e Holmes propuseram uma
tantes, particularmente naquelas que já possuíam classificação simplificada em penfigóide gestacional,
abundante pilificação antes da gestação. Seu achado é erupção polimórfica da gravidez, prurigo da gravidez
precoce na gravidez, sendo mais pronunciado na face e foliculite pruriginosa da gravidez. Autores america-
e nos braços. A etiologia do hirsutismo é provavel- nos ainda relutam em aceitá-la, preferindo as denomi-
mente hormonal e decorre de uma conversão reduzi- nações herpes gestacional (penfigóide gestacional) e
da dos pêlos anágenos em telógenos. Geralmente PUPPP (erupção polimórfica), por razões que poste-
regride em até seis meses após a gravidez e não neces- riormente serão discutidas.9,10
sita de terapia específica.
O eflúvio telógeno também é comum e tem iní- a) Penfigóide gestacional
cio entre o primeiro e o quinto mês após o parto, pro- Dermatose bolhosa auto-imune, rara, que ocor-
longando-se por vários meses. Ocorre devido à rápi- re na gestação, particularmente no segundo e tercei-
da conversão dos pêlos anágenos em telógenos, ro trimestres e no início do puerpério.
secundária ao desbalanço hormonal e ao estresse do Sua incidência varia entre 1: 50.000 e 1:60.000
parto. Na maioria das pacientes há recuperação com- gestações. Há relatos na literatura de associação com
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mola hidatiforme, coriocarcinoma e uso de anticon-
cepcionais orais.
O dano tecidual é causado por depósito de
imunocomplexos na zona da membrana basal (ZMB),
com posterior ativação do complemento e migração
intensa de eosinófilos.
Clinicamente pode surgir na primeira gestação
ou em subseqüentes. Se surge após quadro prévio,
tende a ser mais precoce e mais intensa.8,10 Contudo,
nem sempre as gestações subseqüentes são acometidas,
fato que pode ser decorrente da troca de paternidade
ou maior compatibilidade de HLA entre feto e mãe.
Inicialmente há pápulas e placas urticariformes
acompanhadas de prurido intenso.11 As lesões urtica-
riformes podem ser anulares ou policíclicas, acompa-
nhadas de vesículas e bolhas. Em 81% dos casos as
lesões iniciais são periumbilicais, seguindo-se o aco-
metimento de tronco, membros, palmas e plantas
(Figura 1). Face e mucosa oral são geralmente poupa-
das.10 As bolhas e vesículas rompem-se com erosão e
formação de crostas (Figura 2).
Em geral as lesões resolvem-se em até seis
semanas após o parto,10 mas há relatos de pacientes
que apresentam novas lesões até 10 anos após a ges-
tação. No puerpério, é comum a recrudescência do
penfigóide gestacional, mas surgimento de novas
bolhas três dias após o parto deve levantar a suspeita
de outro diagnóstico.
Após a aparente resolução do quadro podem
ocorrer exacerbações na menstruação ou com o uso
de pílulas anticoncepcionais.
Ao exame histopatológico, inicialmente verifi-
ca-se edema na derme papilar, com infiltrado inflama-
tório composto por linfócitos, eosinófilos e alguns
neutrófilos. A bolha formada é subepidérmica e con-
tém numerosos eosinófilos.
FIGURAS 1 e 2: Lesões bolhosas típicas do penfigóide gestacional.
A imunofluorescência direta revela depósitos
lineares de C3 na membrana basal. Depósitos de IgG
na ZMB são encontrados em 25% dos casos. Holubar, Tem sido sugerido que a doença seria desenca-
contudo, sugeriu que isso reflete apenas falta de sen- deada por um antígeno placentário que provoca reação
sibilidade técnica, pois se demonstrou a existência de cruzada com antígenos cutâneos. Tal fato pode explicar
depósitos de IgG mediante imunoeletromicroscopia o início da doença na região periumbilical. Também a
em paciente com imunofluorescência negativa.12 relação com mola hidatiforme, uso de anticoncepcio-
Exames laboratoriais demonstram elevação dos nais, menstruação,17 além de outros fatores, levanta a
marcadores inflamatórios e eosinofilia periférica. forte possibilidade de influências hormonais no quadro.
Anticorpos antinucleares e dosagens de complemen- Até 75% das pacientes apresentam anticorpo
to não apresentam alteração. IgG1 ligador de complemento no soro. A predomi-
A etiologia do penfigóide gestacional parece ser nância de C3 na membrana basal e a presença de eosi-
auto-imune.13,14 Em um estudo de 25 pacientes com nófilos sugerem que a ativação do complemento e
penfigóide gestacional, Holmes et al. encontraram quimiotaxia de eosinófilos são de suma importância
entre 61% e 80% das pacientes com antígeno HLA-DR3, no dano tecidual.11 Já no penfigóide bolhoso a ativa-
52% com HLA-DR4 e entre 43% e 50% com ambas as for- ção do complemento não é o principal fator na pato-
mas de HLA.15 Mulheres com esse acometimento cutâ- gênese da doença.
neo parecem mais suscetíveis a numerosas doenças O antígeno no penfigóide gestacional é uma pro-
auto-imunes, particularmente a doença de Graves.16 teína transmembrana de 180kd, codificada pelo braço
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longo do cromossomo 10.18 Isso difere da proteína intra- videz,24 não havendo piora no pós-parto e nem ten-
celular de 230kd do penfigóide bolhoso, codificada no dência à recorrência em outras gestações. O prurido
cromossomo 6. Por essas e outras razões, muitos autores piora de forma gradativa até o parto, quando tende a
ainda preferem a denominação de herpes gestacional, resolver-se espontaneamente.
ressaltando as diferenças para o penfigóide bolhoso, Ao exame histopatológico, observam-se edema
mesmo não havendo etiologia viral para a doença. na derme superficial e espongiose com infiltrado de
Até 10% dos recém-nascidos (RN) apresentam eosinófilos na fase urticariforme. Já na fase vesicular,
lesões semelhantes às de suas mães, mas que desapa- verificam-se intensa espongiose e vesiculação subepi-
recm sem deixar seqüelas. Mesmo RN hígidos podem dérmica. Finalmente, na fase resolutiva, predominam
apresentar depósitos de complemento ou IgG na ZMB. paraceratose e acantose. Imunofluorescência pouco
Há uma tendência aumentada de RN de baixo contribui na investigação dessa enfermidade.23
peso e prematuridade após episódios de penfigóide O diagnóstico diferencial inclui: penfigóide
gestacional, mas nenhuma morbidade ou mortalida- gestacional, escabiose e eritema multiforme.
de foi confirmada até o presente.16,19,20 O tratamento deve ser apenas sintomático,
O tratamento do PG deve inicialmente ser realiza- com anti-histamínicos e corticóides tópicos, uma vez
do com anti-histamínicos orais e corticóides tópicos. Não que se trata de doença sem riscos para mãe e feto e
havendo resposta, iniciar com os corticóides orais em com resolução espontânea.22 Nos quadros mais inten-
doses de até 1mg/kg/dia, com redução lenta das doses.21 sos, pode-se utilizar corticoterapia oral.
Em casos extremos, a plasmaférese pode ser opção.
c) Prurigo da gravidez
b) Erupção polimórfica da gravidez Acomete uma em cada 300 gestações e se mani-
Trata-se da mais comum das dermatoses gestacio- festa geralmente entre as semanas 25 e 30 de gesta-
nais, com prevalência de um caso a cada 160 gestações, ção. Não há risco fetal ou materno e nem tampouco
com maior freqüência em primigestas. Ocorre predomi- tendência à recorrência em gestações posteriores.8
nantemente no terceiro trimestre da gestação.8,22 Caracteriza-se por pequenas pápulas prurigino-
Sob o aspecto clínico manifesta-se por lesões sas que evoluem para nódulos nas superfícies exten-
urticariformes intensamente pruriginosas, com início soras dos membros (Figura 4).25 Ocasionalmente
sobre as estrias abdominais, disseminando-se para pode haver generalização. É comum o desapareci-
coxas, região glútea e braços (Figura 3). Mesmo come- mento após o parto, mas há relatos de casos que per-
çando no abdômen, a região periumbilical é poupada. sistem por até três meses no pós-parto.
De modo geral, as lesões regridem em até seis semanas, Sua etiologia exata não é conhecida, mas pare-
havendo descamação e crostas na fase de resolução.23 ce correlacionar-se com atopia. O exame histopatoló-
A erupção polimórfica da gravidez, antigamen- gico mostra acantose e paraceratose, com infiltrado
te denominada prurigo-urticária-pápula-placa da gra- linfocitário perivascular na derme. Também nesse
videz (PUPPP), está associada à primeira gestação, a caso, a imunofluorescência nada acrescenta ao diag-
gestação gemelar e ganho de peso exagerado na gra- nóstico.
O tratamento é sintomático, com anti-histamí-
nicos e corticóides tópicos.
d) Foliculite Pruriginosa da Gravidez
Caracteriza-se por pápulas ou pústulas folicula-
res eritêmato-escoriadas que surgem entre o quarto e
o nono mês de gestação, com duração de duas a três
semanas (Figura 5).23,26
Sua exata etiologia é desconhecida, até por se
tratar de dermatose rara. Não há padrão imuno-histo-
patológico definido, e a histopatologia é de foliculite
inflamatória inespecífica. Aparentemente não há
maiores complicações materno-fetais e há boa respos-
ta com cremes à base de peróxido de benzoíla 10% e
hidrocortisona 1%.
3 - Dermatoses alteradas na gestação
FIGURA 3: Distribuição sobre as estrias das lesões da erupção Indubitavelmente, a dermatite atópica é uma
polimórfica da gestação, poupando a região periumbilical. das dermatoses mais freqüentes na prática dermatoló-
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FIGURA 5:
FIGURA 4: Foliculite
Prurigo da pruriginosa
gravidez. da gravidez.
gica. Seus sintomas, de acordo com achados de litera- do-se avaliar os anticorpos anticoagulante lúpico e
tura, podem variar na gestação entre melhora e piora anticardiolipina nessas pacientes. Manifesta-se clinica-
do quadro.8,27 A correlação com as variações hormo- mente por tromboses, perdas fetais e plaquetopenia.
nais evidencia-se na medida em que também se des- O pênfigo pode manifestar-se ou piorar duran-
creve piora do quadro em períodos menstruais. te a gestação. As exacerbações ocorrem no primeiro
Em estudos prospectivos realizados em ou segundo trimestres, havendo aumento na morbi-
Londres, o eczema atópico respondeu por 36% das dade e mortalidade fetais. Clinicamente, a doença
consultas dermatológicas em gestantes. Dessas, a maio- não difere de sua apresentação habitual. O diagnósti-
ria (52%) revelou piora do quadro durante a gravidez. co diferencial com o penfigóide gestacional é impor-
Há relatos, aliás, de aparecimento inicial de dermatite tante, podendo ser feito por particularidades clínicas
atópica na gravidez em mulheres predispostas.28 e pela imunofluorescência direta. A terapia com corti-
Muitas dermatoses apresentam prurido como cóides é efetiva na gestação, devendo-se evitar as dro-
manifestação clínica, mas é na dermatite atópica que gas citotóxicas.8
ele se apresenta como manifestação cardinal. Sua É controversa a influência da gestação sobre o
diferenciação de moléstias como o eritema polimórfi- melanoma maligno, uma vez que a conseqüência das
co da gravidez é importante, pois possibilita orienta- alterações hormonais em sua gênese ainda não se
ções mais adequadas assim como o devido tratamen- encontra plenamente definida. De maneira geral, o
to. Indiretamente, a dermatite atópica causa prejuízo prognóstico do melanoma na gestante vai depender
para a gestante, uma vez que altera sua dieta, sono e diretamente da espessura do tumor, assim como nos
bem estar emocional. pacientes em geral. Já foram descritos relatos de
No tratamento deve-se resguardar o uso de cor- metástases para o feto e recomenda-se evitar a gravi-
ticosteróides tópicos mais potentes para evitar estrias. dez por pelo menos dois anos após a exérese do
Outras manifestações alérgicas que se encon- tumor.8 O tratamento dessa enfermidade na gravidez
tram exacerbadas na gestante são as do complexo é obviamente dificultado, pois devem ser evitadas as
urticária/angioedema, e devem ser observadas.27 drogas citotóxicas em pacientes gestantes.
O lúpus eritematoso sistêmico ainda tem seu
comportamento debatido na gravidez. Para alguns DROGAS E GESTAÇÃO
autores, sua recrudescência é mais grave na gestante, No desenvolvimento de uma nova droga, geral-
com maior acometimento cutâneo (vasculites) e arti- mente não são realizados testes em mulheres grávi-
cular. O tratamento sistêmico com corticóides e anti- das. Como conseqüência, a segurança no uso da
maláricos não deve ser interrompido.8,11 maioria dos medicamentos em gestantes não foi devi-
A síndrome do anticorpo antifosfolipídio é damente avaliada. Em geral, as recomendações suge-
manifestação grave ligada ao lúpus eritematoso, deven- rem que o uso pode ser realizado desde que o bene-
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fício para a gestante justifique os riscos fetais. deve ser pela clorfeniramina (grupo B), em relação ao
De maneira geral, o Food and Drugs Admi- hidroxizine (grupo C).29
nistration - FDA classifica as drogas em seis grupos, O analgésico mais apropriado para uso na ges-
sendo eles:29 tação é o acetaminofeno. Dos antiinflamatórios não
X: uso contra-indicado na gestação; hormonais, apesar de classificados pelo FDA como
D: evidência positiva de risco para feto grupo B; ibuprofeno, naproxeno e indometacina rela-
humano, mas os benefícios podem superar os riscos; cionam-se com oligoâmnio e persistência da circula-
C: risco não pode ser excluído, não tendo ção fetal quando utilizados no final da gestação,
sido realizados estudos em humanos. O benefício devendo ser particularmente evitados nesse período.
pode superar os riscos; Não há contra-indicação ao uso de lidocaína, com ou
B: não há risco para fetos humanos, apesar sem adrenalina, como anestésico.
de possível risco em animais; Os corticosteróides sistêmicos são classificados
A: estudos controlados não observaram qual- pelo FDA como grupo C. Insuficiência placentária,
quer risco. aborto espontâneo, retardo de crescimento intra-ute-
Indeterminada: não foi classificada pelo FDA. rino e lábio leporino foram relacionados ao uso sistê-
Nesse caso, utilizar outras opções. mico de altas doses de corticóides em alguns estudos.
Teratogenia é definida como disgenesia dos Porém, o uso em doses moderadas é relativamente
órgãos fetais, evidenciada estrutural ou funcionalmente. seguro. De maneira geral, como não existem ainda
Inúmeras drogas apresentam efeito teratogêni- estudos definitivos nesse aspecto, o uso de corticói-
co comprovado, entre elas: metotrexato (malforma- des sistêmicos é indicado quando o possível benefício
ções dos membros e do SNC), inibidores da enzima para a gestante for evidente e irrefutável.29 Quanto ao
de conversão de angiotensina (alterações renais), car- uso tópico de corticosteróides, parece não haver
bamazepina (defeitos do tubo neural), ciclofosfamida maiores riscos.
(malformações do SNC), danazol (masculinização do Das medicações tópicas freqüentemente usa-
feto feminino), dietilbestrol (carcinoma de vagina), das em dermatologia, são seguros: ácido azeláico,
drogas hipoglicemiantes, lítio, misoprostol, antiinfla- ciclopirox, clindamicina, eritromicina, metronidazol,
matórios não hormonais (constrição do ducto arterio- mupirocina, nistatina, permetrina e terbinafina, todos
so), fenitoína (alterações do SNC), barbitúricos, ben- classificados como grupo B pelo FDA. Peróxido de
zodiazepínicos, propiltiouracil e metimazol (hipoti- benzoíla, bacitracina e hidroquinona podem ser usa-
reoidismo fetal), retinóides sistêmicos (defeitos de dos, mas são classificados como grupo C pelo FDA.29
SNC, craniofaciais e cardiovasculares), tetraciclina Aparentemente não há problema no uso de retinói-
(alterações nos dentes e ossos), talidomida (defeitos des tópicos, ao contrário do seu uso sistêmico.30
em órgãos internos e encurtamento dos membros), Assim, é extremamente importante para o der-
ácido valpróico (defeitos do tubo neural), varfarina matologista conhecer o medicamento que está prescre-
(defeitos de esqueleto e do SNC).30 vendo à gestante, os potenciais riscos ao feto e esco-
Os teratógenos têm efeito mais importante nos lher em meio às opções terapêuticas aquela que pro-
três primeiros meses de gestação, mas há relatos de mova o melhor benefício sem aumentar o risco fetal.
várias drogas que atuam posteriormente, como a
tetraciclina sobre dentes e ossos. DISCUSSÃO
Em dermatologia, a talidomida e os retinóides Anamnese e exame físico detalhados são
são drogas formalmente contra-indicadas para gestan- importantes para o diagnóstico e tratamento das der-
tes. A primeira atua entre o primeiro e o segundo mês matoses da gravidez. O médico deve conhecer a idade
de gestação, acarretando focomielia e malformações gestacional, paridade, possibilidade de gravidez
de órgãos internos. Já os retinóides parecem atuar gemelar, os antecedentes de dermatoses gestacionais,
durante toda a gravidez, aumentando risco de hidro- história de doenças prévias à gravidez e uso de medi-
cefalia, microftalmia e uma série de outros defeitos camentos.
congênitos.30-32 No exame físico o dermatologista deve avaliar a
Em relação a drogas sistêmicas e de uso corren- morfologia e distribuição das lesões. No penfigóide
te em dermatologia, podem ser prescritas: entre os gestacional as lesões são urticariformes e prurigino-
antibióticos, amoxicilina, azitromicina, cefalosporinas, sas, evoluindo para vesículas e bolhas, acometendo
penicilinas e eritromicina (exceto estolato), sendo inicialmente a região periumbilical e depois o tronco
todas essas classificadas como grupo B pelo FDA.29 e os membros, e resolvendo-se geralmente após o
Dos agentes antivirais, recomenda-se dar prefe- parto. Há uma tendência aumentada de recém-nasci-
rência a valaciclovir e famciclovir (grupo B). dos de baixo peso e prematuridade. A erupção poli-
Finalmente, entre os anti-histamínicos a preferência mórfica da gravidez manifesta-se por lesões urticari-
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formes, intensamente pruriginosas, com início sobre A investigação laboratorial deve ser direcionada
as estrias abdominais, poupando a região periumbili- pelos achados clínicos. Na maioria dos casos a biópsia
cal; está associada à primeira gestação, a gestação de pele é preconizada, acompanhada de imunofluo-
gemelar e ganho de peso exagerado na gravidez, não rescência direta na suspeita de penfigóide gestacional.
havendo piora no pós-parto e nem tendência à recor- Na presença de dermatose da gestação, a
rência em outras gestações. A foliculite pruriginosa da paciente deve ser orientada sobre o diagnóstico, evo-
gravidez caracteriza-se por pápulas ou pústulas eritê- lução e prognóstico materno-fetal, bem como quanto
mato-escoriadas de distribuição folicular. Assim, cada às alterações fisiológicas e ao comportamento de
doença tem suas características clínicas. doenças prévias, durante a gravidez.
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