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UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO
             CENTRO DE EDUCAÇÃO
DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO, POLÍTICA E SOCIEDADE
          TÓPICO ESPECIAL DE ENSINO III




       RENATA EMERICH MORAES MIRANDA
            WESLEY CORNELIO DIAS
         HUDERLAN BRAGANÇA ZORDAN




GEOGRAFANDO A CULTURA DE VILA VELHA / E.S.:
  CONTRIBUIÇÕES PARA OS PROFESSORES DE
               GEOGRAFIA




                 VITÓRIA – E.S.
                     2010
RENATA EMERICH MORAES MIRANDA
            WESLEY CORNELIO DIAS
         HUDERLAN BRAGANÇA ZORDAN




GEOGRAFANDO A CULTURA DE VILA VELHA / E.S.:
  CONTRIBUIÇÕES PARA OS PROFESSORES DE
               GEOGRAFIA

                       Trabalho de Conclusão de Curso
                       apresentado como parte da avaliação da
                       disciplina de Tópicos Especiais de Ensino
                       III do Curso de Geografia da Universidade
                       Federal do Espírito Santo.

                       Orientadora: Professora Doutora Marisa
                       Terezinha Rosa Valladares.




                VITÓRIA – E.S.
                    2010
RENATA EMERICH MORAES MIRANDA
                         WESLEY CORNELIO DIAS
                      HUDERLAN BRAGANÇA ZORDAN




     GEOGRAFANDO A CULTURA DE VILA VELHA / E.S:
      CONTRIBUIÇÕES PARA OS PROFESSORES DE
                   GEOGRAFIA


Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como parte da avaliação da disciplina
de Tópicos Especiais de Ensino III do Curso de Geografia da Universidade Federal
do Espírito Santo.



                        COMISSÃO EXAMINADORA

            ______________________________________________
                   Professora Doutora Marisa Valladares
                  Universidade Federal do Espírito Santo
                               Orientadora


            ______________________________________________
                      Mestre Julio de Souza Santos
                  Universidade Federal do Espírito Santo



            ______________________________________________
                   Pedagoga Lucineide Gomes Macedo
                   EEEFM “Professora Maura Abaurre”
Ao iniciar uma caminhada, é difícil prevermos
se conseguiremos alcançar nossos objetivos
porque nesse caminhar podem existir barreiras,
porém uma grande qualidade é a coragem de
não se abater com as dificuldades, levantar ao
cair e começar novamente, nunca desistir.
Porém ao terminarmos essa jornada, não há
nada no mundo que seja mais gratificante do
que concluirmos o que planejamos. Todas as
dificuldades vividas são esquecidas, pelo ao
menos por um momento, e após a ansiedade,
novos planos, novos objetivos são traçados e
começamos uma nova caminhada.
 É dessa forma que nos sentimos e
gostaríamos      de   agradecer     a   Deus,
primeiramente, por ter nos dado força para
seguirmos em frente; à nossa família e aos
amigos que estiveram conosco, nos apoiando e
tendo paciência nos momentos mais difíceis.
A vocês, dedicamos todo o nosso trabalho!
AGRADECIMENTOS

Aos professores da graduação em licenciatura,            pelos   ensinamentos   e
acompanhamento ao longo deste tempo em formação;

A professora orientadora Doutora Marisa Terezinha Rosa Valladares, pela atenção
dispensada colocando suas sábias palavras nos momentos de dificuldade;

Aos profissionais que participaram das entrevistas concedendo-nos importantes
informações que muito contribuíram para o desenvolvimento desta pesquisa;

A todos que, de alguma forma, contribuíram com a elaboração deste trabalho.
“A verdadeira educação consiste em pôr a
descoberto ou fazer atualizar o melhor de uma
pessoa. Que livro melhor que o livro da
humanidade?”

                           (Mahatma Gandhi)
RESUMO


Ao analisar os materiais ofertados pelas prefeituras e pelo estado, como
representação de seus potenciais locais, pode-se observar a escassez de conteúdos
voltados à questão geográfica e cultural. Desta forma, o presente trabalho tem como
objetivo mostrar este problema cultural, procurando amenizá-lo ao propor sugestões
de inserção e de intervenção programática no segmento final do ensino
fundamental, assim como apresentar um material para as escolas de Vila Velha, na
forma de uma cartilha, contando com informações das principais manifestações
culturais de Vila Velha e entrevistas com alguns dos representantes culturais destas
manifestações e com integrantes do corpo docente do município. Assim, numa
abordagem de pesquisa-ação, foi realizada uma pesquisa bibliográfico-documental
sobre a cultura do município canela verde e a partir dela, foram selecionadas
expressões culturais sobre as quais se estruturou o processo de pesquisa em
campo, valendo-se de entrevistas, filmagens e fotografias. A base teórica tem
sustentação nos estudos de Geertz (1978) em Antropologia; Chauí (1994) em
filosofia, Daolio (2004) na Educação e Claval (2001), Rosendahl e Corrêa (2002),
Santos (1999), na Geografia, dentre outros estudiosos. Os sujeitos entrevistados
foram selecionados junto às comunidades envolvidas com os eventos culturais
escolhidos como representações da cultura de Vila Velha, pelo grupo. Os resultados
desse estudo apontam para a necessidade de se investir, na Geografia Escolar, na
formação de alunos e professores pesquisadores na própria comunidade escolar,
assim como se detectou a necessidade urgente de atuar, geograficamente,
fortificando a importância de se trabalhar a cultura dentro do âmbito escolar. A
esperança que se manteve ao longo da pesquisa é a mesma que sustenta a
proposta de socialização dos seus resultados: o enriquecimento da cultura local
como ação geográfica importante para constituição de uma sociedade mais cônscia
de sua importância na promoção da paz social, da sustentabilidade planetária e da
dignidade humana.

Palavras chave: 1. Geografia e Cultura, 2. Geografia de Vila Velha, 3. Geografia
Escolar.
ABSTRACT

In reviewing the materials offered by municipalities and the state as a representation
of your potential sites, one can observe the lack of content focused on geographic
and cultural issue. Thus, this study aimed to show this cultural problem, trying to
soften it to propose suggestions for integration and programmatic interventions in the
final segment of basic education, as well as presenting a material for the schools of
Vila Velha, in the form of a booklet, with details of the main cultural events of Vila
Velha and interviews with some of the representatives of these cultural
manifestations and with members of the faculty council. Thus, an approach of action
research, a survey was conducted bibliographical-documentary about the culture of
the city cinnamon green and from it were selected cultural expressions for which it
has structured the process of field research, drawing on interviews, footage and
photographs. The theoretical basis has support in studies of Geertz (1978) in
Anthropology; Chauí (1994) in philosophy, Daolio (2004) Education and Claval
(2001), Rosendahl and Corrêa (2002), Santos (1999), Geography, among other
scholars. The interviewees were selected in the communities involved with cultural
events chosen as representations of the culture of Vila Velha, by the group. The
results of this study indicate the need to invest in School Geography, training of
students and faculty researchers in their own school community, as we detected an
urgent need to act, geographically, and strengthens the importance of working within
the culture the school. Hope that is maintained throughout the research is the same
that underpins the proposed socialization of their results: the enrichment of local
culture as important to share geographical constitution of a society more aware of its
importance in promoting social peace, the planetary sustainability and human dignity.

Key-words: 1. Geography and Culture, 2. Geography of Vila Velha, 3. School
Geography.
LISTA DE FOTOGRAFIAS



FOTOGRAFIA 1: IMAGENS DA FESTA DA PENHA....................................................................   34

FOTOGRAFIA 2: IMAGENS REPRESENTATIVAS DO CONGO..................................................              37

FOTOGRAFIA 3: IMAGENS REPRESENTATIVAS DOS CATRAIEIROS....................................                     39

FOTOGRAFIA 4: IMAGENS REPRESENTATIVAS DO SAMBA..................................................              43
SUMÁRIO


1 INTRODUÇÃO .................................................................................. 11
2 SELECIONANDO DINÂMICAS PARA GEOGRAFAR A CULTURA
LOCAL... .............................................................................................. 13
3 ENTRE A CULTURA E A IDENTIDADE CULTURAL, UMA
GEOGRAFIA ESCOLAR. .................................................................... 18
3.1 MANIFESTAÇÕES CULTURAIS NO ESPAÇO GEOGRÁFICO ..... 23
4 DAS MANIFESTAÇÕES CULTURAIS AO DESEJO DE UMA
GEOGRAFIA ESCOLAR LOCAL ........................................................ 28
4.1 O CURRÍCULO ESCOLAR............................................................. 28
4.1.1 As Contribuições dos Parâmetros Curriculares Nacionais –
PCN’s................................................................................................... 30
4.2 MANIFESTAÇÕES CULTURAIS DE VILA VELHA......................... 32
4.2.1 A Festa da Penha....................................................................... 33
4.2.2 O Congo ..................................................................................... 35
4.2.3 Os Catraieiros ............................................................................ 38
4.2.4 O Samba..................................................................................... 41
4.3 A IMPORTÂNCIA E O DESEJO DE UMA GEOGRAFIA ESCOLAR
LOCAL ................................................................................................. 44
5 DIZENDO DO QUE APRENDEMOS: POR UMA GEOGRAFIA
CULTURA E LOCAL ........................................................................... 47
5.1 CONTRIBUIÇÕES PARA A REDUÇÃO DA CARÊNCIA CULTURAL
............................................................................................................. 47
5.2 RELACIONAMENTOS INTERCULTURAIS .................................... 49
5.3 PRINCIPAIS DIFICULDADES E TRABALHOS FUTUROS ......... 52
CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................. 53
REFERÊNCIAS.................................................................................... 55
APÊNDICE..............................................................................................57
APÊNDICE A: TERMO DE CONSENTIMENTO PARA PARTICIPAÇÃO
EM PESQUISA..................................................................................... 58
APÊNDICE B: MODELO ROTEIRO DE ENTREVISTA COM O CORPO
DOCENTE............................................................................................ 60
APÊNDICE C: MODELO QUESTIONÁRIO DE PESQUISA PARA OS
MANIFESTANTES CULTURAIS .......................................................... 61
APÊNDICE D: TRANSCRIÇÃO DAS ENTREVISTAS .......................... 62
11



1 INTRODUÇÃO1


O município de Vila Velha é um dos mais lembrados quando se pensa a geografia
capixaba. Linda por suas praias e rica em sua história, a cidade inspira poesias e
pesquisas desenvolvidas por muitos interessados em melhor conhecer as riquezas
desta cidade.


Este trabalho se originou da inquietação de integrantes do grupo, moradores do
município de Vila Velha, que perceberam o vazio de estudos acadêmicos acerca do
tema. Essa constatação animou o grupo na caminhada que culmina com a
construção deste trabalho, e o envolvimento com o município justifica a escolha da
temática pesquisada.


Percebe-se que a escolha do tema justifica-se por indagações e vivências pessoais
por parte dos autores. Nesse sentido, Ferrrari (1982 apud GIL, 1999, p. 51) aponta
que [...]

                           O pesquisador, desde a escolha do problema, recebe influência de seu
                           meio cultural, social e econômico. A escolha do problema tem a ver com
                           grupos, instituições, comunidades ou ideologias com que o pesquisador se
                           relaciona. Assim, na escolha do problema de pesquisa podem ser
                           verificadas muitas implicações, tais como a relevância, oportunidade e
                           comprometimento.

Certamente, a subjetividade e a percepção pessoal influenciaram na escolha do
tema de pesquisa. Compreende-se, então, que “Somos no final de tudo,
pesquisadores de nós mesmos, somos nosso próprio tema de investigação”
(FERRAÇO, 2003, p. 158).


Sendo assim, a pesquisa visa responder ao seguinte problema de pesquisa:
● Quais os principais desafios encontrados para o ensino da geografia cultural nas
escolas públicas do município de Vila Velha?


Como objetivo geral, pretendeu-se pesquisar as manifestações culturais de Vila
Velha, analisando como elas são trabalhadas na disciplina de Geografia nas

1
 Correção ortográfica e normatização feita por Danuza Barbirato, graduada em Engenharia Elétrica e feita por
Gisele Resende de Oliveira, graduada em Pedagogia e Pós Graduada em Educação.
12



escolas, estabelecendo-se como meta, desenvolver uma cartilha pedagógica,
visando contribuir com o trabalho dos professores, em especial aqueles da escola
pública, em torno da temática Geografia Cultural do município. E para se alcançar tal
objetivo, foram traçados os seguintes objetivos específicos:


● discorrer sobre a identidade e a cultura de Vila Velha;
● entrevistar pessoas envolvidas com a cultura e o ensino da Geografia;
● analisar as manifestações culturais no espaço geográfico de Vila Velha;
● refletir sobre as manifestações culturais e a geografia escolar;
● descrever as principais manifestações culturais de Vila Velha
● desenvolver uma cartilha para auxiliar no ensino da geografia cultural de Vila
Velha.


Um trabalho de pesquisa se torna relevante de acordo com as novas informações
que ele pode fornecer (ARAUJO, 2001). Nesse sentido, a relevância desta pesquisa
reside na proposta de enriquecer a incipiente produção bibliográfica existente no
mercado sobre a temática, pouco abordada em livros e artigos científicos, com a
proposta de construir uma cartilha, ao final do estudo, material que servirá a outros
pesquisadores, professores e alunos que estudam a geografia cultural de Vila Velha.


Assim, a pesquisa está estruturada em seis partes sendo, a primeira parte, a
introdução, onde constam informações gerais sobre o desenvolvimento da pesquisa;
o capítulo dois, sobre a metodologia, onde relatamos os procedimentos
metodológicos para se alcançar o objetivo geral proposto; o capítulo três, que
discorre sobre a identidade, a cultura e a geografia escolar; o quarto capítulo, que
discorre sobre as manifestações culturais de Vila Velha; o quinto capítulo, que
aborda a proposta da construção da cartilha; as considerações finais, onde constam
as informações finais e as aprendizagens construídas ao longo da pesquisa. Além
desses capítulos, dispomos as referências, onde constam as informações gerais
sobre os autores citados e obras consultadas; e, por fim, nos apêndices, todos os
arquivos construídos e dados coletados nas entrevistas realizadas.


Esperamos que a temática abordada, no desenho elaborado pela metodologia
escolhida e pela pesquisa realizada, seja relevante para outros pesquisadores, bem
13



como professores e alunos que se interessem em estudar as manifestações culturais
do município de Vila Velha.


2 SELECIONANDO DINÂMICAS PARA GEOGRAFAR A CULTURA
LOCAL...


Ao traçarmos a metodologia de trabalho, pensamos em fazer um mapeamento das
principais manifestações culturais do município e a partir desse estudo, realizamos
um estudo em campo, efetuando entrevistas com representantes dessas
manifestações e com alguns docentes do município de Vila Velha. Para registrar as
principais expressões culturais, decidimos fazer uso de fotografias e filmagens.
Planejamos reunir essas produções em uma cartilha pedagógica, pretendendo
disponibilizá-la para a rede de ensino municipal, em formato impresso e digital, no
Laboratório de Ensino e Aprendizagem em Geografia (LEAGEO) na Universidade
Federal do Espírito Santo (UFES).


Sendo assim, adotamos como abordagem metodológica a Pesquisa-ação, como
ensinam Thiollent e André (apud VALLADARES, 2000), considerando que:


a) a pesquisa educacional deve definir exigências emergentes do contexto atual,
bem como a utilização do conhecimento na efetiva transformação de situações;


b) a orientação da pesquisa educacional deve promover o controle das funções
sociais do conhecimento para minimizar a burocracia e a tecnocracia, maximizando
seu potencial para transformações sociais desejáveis;


c) a pesquisa educacional com sentido projetivo possui dimensão construtiva,
remetendo a uma aprendizagem coletiva, constante, problematizadora e, portanto,
capaz de promover autonomia;


d) a questão normativa manifesta na articulação entre pesquisa e ação é resolvida
por deliberação coletiva, gerando vivência da cidadania e reciclagem de idéias,
enriquecidas pelo conhecimento a ser praticado pelo grupo;
14



e) a posição do pesquisador, como possuidor de um conhecimento prévio, não é
promessa de transmissão de conhecimentos, nem de obtenção de informação, antes
é perspectiva de reelaboração de conhecimentos num processo multidirecionado e
de ampla interação.


Entendemos que com essas perspectivas estaríamos indo ao encontro de nossas
aspirações na pesquisa com a atemática selecionada. Como a pesquisa-ação adota
diversos tipos de procedimentos metodológicos, selecionamos aqueles que nos
pareceram adequados ao estudo da temática. Todavia, nos mantivemos abertos ao
que nos indicaria o decorrer do estudo, que exigiu as seguintes opções:


1. Pesquisa exploratória e descritiva - Essa pesquisa se utiliza dos procedimentos
selecionados como cabíveis ao estudo. Em nosso caso, foi o momento de selecionar
bibliografia, conversar com professores, ler o que havia disponível imediatamente,
observar o objeto de estudo – a cultura de Vila Velha. É um momento do estudo.
Valemo-nos dela, no início do estudo, buscando o que Vergara (2000, p. 47)
explicita quanto a este momento da pesquisa:
                      [...] a investigação explicativa tem como principal objetivo tornar algo
                      inteligível, justificar-lhe os motivos. Visa, portanto, esclarecer quais fatores
                      contribuem, de alguma forma, para a ocorrência de determinado fenômeno.


2. Pesquisa bibliográfica: para que fosse construída essa pesquisa, foi necessário
realizar um levantamento e um estudo bibliográfico, conforme explica Ruiz (1996, p.
50)
                      A pesquisa teórica tem por objetivo ampliar generalizações, definir leis mais
                      amplas, estruturar sistemas e modelos teóricos, relacionar e enfaixar
                      hipóteses numa visão mais unitária do universo e gerar novas hipóteses por
                      força de dedução lógica. Além disso, supõe grande capacidade de reflexão
                      [...].


3. Pesquisa documental: para Gil (1999), esse tipo de pesquisa muito se
assemelha ao levantamento bibliográfico, diferenciando-se apenas nas fontes e suas
origens, sendo documentos oficiais construídos pelos órgãos competentes. Neste
estudo, tal procedimento se deu com o estudo da lei municipal de abairramento nº
4.707/08, assim como com os documentos oficiais sobre os currículos escolares –
Parâmetros Curriculares de Geografia (PCNs).
15



4. Realização de entrevistas: de acordo com Cury (2000) esse método de pesquisa
permite que o pesquisador esteja mais próximo do sujeito da pesquisa, podendo
explorar mais informações. Decidimos por entrevistas semi-estruturadas, isto é,
entrevistas com um roteiro pré-organizado, mas com abertura para inclusões
ensejadas pelos entrevistados, assim como pelo entrevistador a partir das respostas
obtidas.


a) Roteiro de entrevistas: O roteiro das entrevistas só foi definido após estudos
preliminares, que nos deram pistas sobre o que deveria ser investigado. Ainda
assim, adotamos o caráter da entrevista semi-estruturada, razão pela qual os
roteiros se mantiveram em aberto, mesmo no decorrer da entrevista. Essa prática
fez com que as questões ficassem diferenciadas entre os sujeitos pesquisados.
Tivemos algumas dificuldades na formulação das perguntas que seriam da
entrevista, pois era desejado evitar algo muito técnico ou rebuscado, que não
pudesse ser explorado como material de estudo nas escolas de ensino básico.
Assim, elaboramos algumas perguntas mais simples, que favorecessem o diálogo
nas entrevistas tanto com representantes populares, quanto outros representantes
de instituições administrativas, escolares ou acadêmicas, com maior oportunidade
de estudos. As perguntas para representantes do corpo docente buscaram tratar do
conteúdo de geografia cultural, trabalhado em sala de aula.


b) Sujeitos da pesquisa: Ferrão (2003) explica que os sujeitos de uma pesquisa
devem ser selecionados de acordo com sua capacidade de fornecer as informações
necessárias para que se responder ao problema proposto. Esse procedimento se
deu com profissionais que lidam com o desafio do ensino da cultura canela verde
nas escolas públicas em Vila Velha e com os sujeitos envolvidos com as
manifestações culturais.
Houve a divisão dos entrevistados em dois grupos. Um grupo foi formado por dois
membros do corpo docente da rede ensino de Vila Velha: uma pedagoga e um
professor de geografia. O outro grupo reuniu representantes das manifestações
culturais selecionadas. Para falar da Festa da Penha, entrevistamos um frei da
ordem religiosa que cuida do Convento da Penha, e, conseqüentemente da Festa da
padroeira do Estado. Entrevistamos o presidente da Escola de Samba Mocidade
16



Unida da Glória; o presidente da Associação dos Catraieiros do Espírito Santo e a
vice-presidente da Associação de Bandas de Congo de Vila Velha.

Os entrevistados apresentaram características pessoais muito diferentes, com
histórias de vida diversificadas e condições de trabalho heterogêneas. Contudo, do
ponto de vista do posicionamento cultural apresentaram características comuns,
ligados tanto pelo interesse e dedicação pela cultura, quanto pelas próprias
manifestações em si, defendendo a interação entre elas, a sua propagação e a luta
pelo incentivo popular e institucional para que os eventos culturais tenham
perpetuidade nas comunidades locais.



5. Filmagem, gravação e fotos: Valemo-nos dos artefatos tecnológicos que nos
permitissem captar com mais fidelidade o que pesquisamos em campo. Para isso,
solicitamos aos sujeitos envolvidos, a devida autorização, conforme prevê a ética da
pesquisa. Os produtos se tornaram representações das manifestações pesquisadas
(fotos e filmagens) assim como se fizeram documentos preciosos para validação de
nossas aprendizagens e compreensões elaboradas ao longo do estudo.
Todas as entrevistas foram feitas em um formato audiovisual, incluindo a gravação
da fala dos entrevistados e a filmagem deles no decorrer da entrevista. Escolhemos
efetuá-las no local de atuação de cada entrevistado, exigindo uma adaptação por
parte de cada um de nós à dinâmica do meio dos nossos parceiros neste trabalho –
o ambiente das docas, com o catraieiro; a solenidade do santuário; a peculiaridade
do barracão do samba e na Casa da Cultura da Barra do Jucu com o Congo. Isto
favoreceu nossas análises das condições geográficas locais para o desenvolvimento
das atividades feitas tanto pelos manifestantes, como por parte dos profissionais da
educação.


6. Análise dos dados coletados: os dados foram analisados qualitativamente,
dispensando análise quantitativa, uma vez que se trata de uma temática não
quantificável, mas, vivenciada por cidadãos, educadores, educandos, pesquisadores
e trabalhadores da cultura do município de Vila Velha. Como enfatiza Moreira,
                    Não há hipóteses pré-concebidas [...] os pesquisadores não coletam
                    informações ou provas com o objetivo de corroborar ou refutar hipóteses
                    construídas previamente; ao invés disto, as abstrações são construídas à
                    medida que os dados coletados vão se agrupando, a pesquisa qualitativa é
17


                      descritiva, tem maior interesse no processo do que meramente nos
                      resultados ou produtos (MOREIRA apud ROQUE, 2004, p. 21).


7. Criação da cartilha: Essa cartilha foi constituída por uma síntese do nosso
trabalho, na expectativa de ser um auxílio aos professores sobre o tema geografia
cultural de Vila Velha. Considerando a carência de materiais bibliográficos a
respeito, realizamos uma breve historicização de cada manifestação pesquisada;
evidenciamos sua localização, destacando, também, a importância da cultura local,
sua preservação e de uma maior retomada do tema no ambiente escolar. Nela
incluímos as filmagens produzidas a partir das entrevistas, bem como as fotos e o
texto integral das entrevistas.
8. Elaboração de mapas: Após estudos preliminares, sobre a cultura local,
selecionamos as manifestações culturais que mais se evidenciaram na bibliografia
consultada e, então, elaboramos o mapa cultural de Vila Velha, segundo nossa
concepção de pesquisa: o Congo na Barra do Jucu; o Samba no bairro da Glória; a
Festa da Penha no Convento da Penha e na Prainha e o ofício dos Catraieiros em
Paul. A partir do mapeamento, fomos a campo fazer as entrevistas, as fotografias e
as filmagens.


Essa trajetória metodológica nos fortaleceu quanto à importância da temática para a
formação dos alunos como cidadãos atuantes em sua comunidade local, com sua
identidade cultural valorizada pelo resgate das vivências atuais, reconhecendo suas
origens na vida de antepassados, entendendo que é por meio da cultura que todos
nós vamos dar sentido a vida. Afinal, o indivíduo se forma imitando e aprendendo.
18



3 ENTRE A CULTURA E A IDENTIDADE CULTURAL, UMA
GEOGRAFIA ESCOLAR.


Há muito tempo, os diversos segmentos da ciência, principalmente as ciências
humanas, buscam entender o mundo e as situações que o envolvem. Essas ciências
evoluíram conforme as modificações socioeconômicas, políticas, ambientais,
culturais e espaciais ocorridas no mundo.


A cultura é entendida de maneira distinta pelos pesquisadores de cada ciência, por
causa das peculiaridades de cada campo cientifico, e não há uma única definição.
Os estudos da geografia cultural possuem cinco temas implícitos em si: cultura, área
cultural, paisagem cultural, história da cultura e ecologia cultural, que constituem
juntos o seu núcleo (CORRÊA; ROSENDAHL, 2007). Não deixando de considerar as
comunidades de pessoas ocupando um determinado espaço, amplo e geralmente
contínuo, é preciso, ainda, levar em conta as numerosas características de crenças
e comportamento comuns entre os membros pertencentes a essas comunidades.


A cultura é uma chave para a compreensão sistemática de diferenças e
semelhanças entre os homens. (CORRÊA; ROSENDAHL, 2007).                        E Paul Claval
citado por Silva e Martins (2010) esclarece que:
                     A cultura é a soma dos comportamentos, dos saberes, das técnicas, dos
                     conhecimentos e dos valores acumulados pelos indivíduos durante suas
                     vidas e, em uma outra escala, pelo conjunto dos grupos de que fazem parte.
                     A cultura é herança transmitida de uma geração a outra. (...) Os membros
                     de uma civilização compartilham códigos de comunicação. Seus hábitos
                     cotidianos são similares. Eles têm em comum um estoque de técnicas de
                     produção e de procedimentos de regulação social que asseguram a
                     sobrevivência e a reprodução do grupo. Eles aderem aos mesmos valores,
                     justificados por uma filosofia, uma ideologia ou uma religião compartilhadas
                     (2010, p 63).

Se falarmos da vida em sociedade em que estamos presentes, a cultura retrata
todas as nossas atuações, pois está em qualquer lugar, seja no trabalho, na relação
conjugal, na vida financeira, na vida religiosa, na vida social em geral. Na sociedade
humana tudo está formado em relação aos modos de pensar, de como agir e nas
regras em geral.
19



Podemos dizer assim, que temos maneiras distintas de cultura, a cultura clássica e a
cultura popular. A cultura clássica, também chamada de erudita, é caracterizada por
ser própria dos intelectuais e artistas da classe dominante da sociedade, a segunda
considerada também como espontânea, advém dos trabalhadores urbanos e rurais
(CHAUÍ, 1994).


A cultura erudita está interligada às classes dominantes da sociedade e por isso, ela
é reconhecida como uma cultura oficial, sendo valorizada pela educação formal no
processo de organizar os conteúdos que serão trabalhados em sala de aula.


Já a cultura espontânea ou popular é aquela tirada da vivência das pessoas, dos
povos “[...] é o acervo de conhecimento apreendido assistematicamente, ao saber da
vivência, fruto da experiência empírica do homem, no contexto informal com seu
semelhante” (MACRUZ, 1989, p.10).


Podemos realçar um lado muito importante que é como absorvemos as idéias de
cultura tanto como uma maneira de preservá-la, como forma de modificação social
que são mostradas pela linha de pensar, agir e sentir o mundo e as ligações do
homem seja através de crenças, da língua, pelas práticas, um artesanato, culinária
entre muitos outros. É nesse sentido que Santos (1994) nos atenta em sua
discussão, que a cultura é uma formação histórica, seja como concepção, seja como
processo da sociedade. Ou seja, a cultura não é algo simples, não é algo biológico
ou físico. Ao contrário, ela é um conjunto de vidas humanas. Este fato nos faz
compreender não só a idéia de cultura, mas também a importância que ela passa a
ter.


Apresentamos aqui a cultura como fator relevante no processo de ensino-
aprendizagem e formação da identidade do discente.


Dentro da Geografia essa movimentação pode ser vista nas obras de autores do
século XIX como Ratzel, La Blache, Humboldt e Ritter entre outros, cujos trabalhos
estão ligados à Geografia Humana.
20



Nesse contexto, muitos estudos foram realizados para entender as transformações
do espaço geográfico, como também para nortear uma geografia escolar
indispensável na formação crítica do aluno. A partir da década de 1990, o cunho
crítico foi evidenciado a partir da sua ligação com a abordagem cultural; esse
período fica marcado pela importância da geografia cultural renovada. Esse
processo de renovação da geografia cultural se deu no contexto da valorização da
cultura que ficou conhecido como “virada cultural”.


A geografia cultural é atualmente uma das mais emergentes áreas do trabalho
geográfico. Abrangendo desde as análises de objetos do cotidiano, representação
da natureza na arte e em filmes, até estudos do significado das paisagens e a
construção social de identidades, baseadas em lugares, ela cobre numerosas
questões. Seu foco inclui a investigação da cultura material, costumes sociais e
significados simbólicos, abordados a partir de uma série de perspectivas teóricas
(MCDOWELL, 1996).


Da mesma forma como McDowell (1996) considera essa área uma das mais
importantes do trabalho geográfico, nós também nos interessamos por essa parte da
geografia. O entusiasmo é alimentado pelo prazer, pelo estético, pelo envolvente
ambiente das manifestações culturais, no bucólico dos lugares onde acontecem,
pela paixão daqueles que militam com a cultura. Com o intuito de nos aprofundar na
temática Cultural e inseri-la no âmbito escolar, usando como instrumento a
geografia, pesquisamos as manifestações culturais mais evidentes, presentes no
município de Vila Velha – ES, selecionando entre elas, aquelas que nos pareceram
mais expressivas: A Festa da Penha, o congo, os catraieiros e o samba.


Vários autores de diferentes aéreas do conhecimento como Geertz (1978) da
Antropologia, Chauí (1994) da filosofia, Daolio (2004) da Educação e Claval (2001),
Rosendahl; Corrêa (2002), Santos (1999), Sauer (2003), da Geografia, entre outros,
se preocupam também com essa questão, do que é geografia cultural, e nos
mostram em suas obras o que se entende por Cultura, como fator importante na vida
- vida essa marcada por uma troca de experiências proporcionadas nos contatos
entre indivíduos nas sociedades. Antes de abordarmos neste trabalho o conceito de
21



cultura, lembraremos de Corrêa e Ronsedahl (2007), a seguinte reflexão “Para os
que praticam e ensinam, a geografia cultural não é suscetível de definição fácil.”
Nós sabemos que os alunos, assim como todos nós, vêm com identidades forjadas
ao longo de suas vidas, influenciados por todos estes pontos trazidos por Claval
(apud SILVA e MARTINS, 2010). Um desses pontos são as manifestações culturais
locais que estão inseridas no cotidiano do aluno.


Identidade cultural como descreve Miranda (2000) é a soma de significados que
estruturam a vida de um indivíduo ou de um povo. Parte-se do princípio de que será
necessário ter em mente, antes de mais nada, que a identidade cultural não é mais
uma, porém múltipla.


Assim, falar de identidade cultural revela-se uma contradição: nossa vida se
entrelaça com diferentes vivências culturais, eivando-nos de diversas identidades
culturais. As culturas nacionais formam um grande caldeirão cultural, onde se
misturam as histórias, tradições, manifestações de danças, de comidas, de artes, de
religiões, de modos de viver de ancestrais reunidos pela vivência comum num dado
território. A parte essencial de identidade cultural deriva dessa mistura, que, do
sentimento de pertença nacional fabrica o sentimento diversificado da identidade
local, pela auto-estima dos grupos mais próximos. A narrativa da cultura nacional é
contada inúmeras vezes na literatura nacional, na mídia, na história, na música e na
cultura popular. Desta forma, a cultura popular é um dos elementos que simbolizam
e dão sentido à nação, à cultura nacional. Assim, se constitui como uma das fontes
de identidade cultural, multiplicando-a, diversificando-a em muitas (HALL, 2006).


Pode-se conceber identidade cultural como uma “interação” entre o eu e a
sociedade. Como o próprio conceito com o qual estamos lidando, “[...] identidade, é
demasiadamente complexo, muito pouco desenvolvido e muito pouco compreendido
na ciência social contemporânea” (HALL, 2006, p. 08). Desta forma, é difícil
encontrarmos uma definição que encerre vários conceitos.


Vendo essa relevância e a escassez bibliográfica e com que é trabalhada no
ambiente escolar, demos inicio ao trabalho.      A escassez de trabalhos pode ser
verificada na seguinte fala do professor de geografia da escola Godofredo
22



Schneider, quando questionado se ele considera importante abordar a cultura de
Vila Velha nas aulas de Geografia.
                      Sim, o maior problema de trabalhar a cultura de canela-verde é a falta de
                      material. Uma vez eu fui fazer um levantamento e tive dificuldade. [...]. Aqui
                      em Vila Velha você não encontra a história dos bairros.

E a escassez com que é trabalhada no ambiente escolar, nessa outra entrevista com
a pedagoga da Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio “Professora Maura
Abaurre”, ganha destaque:
                      Existem dificuldades em relacionar a cultura Canela Verde, com os
                      conteúdos que você acha que devem ser ministrados nas aulas de
                      geografia?
                      Eu vejo que o professor, às vezes, tem uma certa dificuldade porque ele tem
                      que seguir um programa. Existe um programa você querendo ou não pro
                      vestibular onde vai ver raramente questões voltadas especificamente para
                      cada município.


Essa afirmação serviu de mais um incentivo à nossa escolha de pesquisa, serviu-
nos de alento na insistência de levar a cultura local para a escola, por meio da
geografia escolar, conforme objetivo desse trabalho.


A produção do trabalho, além de servir como subsídio ao trabalho docente, permite a
discussão de como o ensino da cultura local e consequente relação com o cotidiano
do aluno pode colaborar para um melhor aprendizado do conteúdo de geografia, no
âmbito das discussões curriculares municipais, entendendo a força política no
espaço municipal dessa inserção no ensino escolar.


Por exemplo, quando o representante da manifestação da Festa da Penha nos
responde se houve épocas em que a Festa da Penha foi mais evidenciada.
                      Eu acho que cada festa tem seu caráter próprio do tempo, da data, às vezes
                      até conforme o tempo ajuda, o tempo bom, não ter muita chuva, coisas
                      assim. As peripécias do tempo favorecem ou não favorecem a festa.
                      Inclusive nesse ultimo ano, tivemos um tempo muito favorável, teve chuva
                      mansa, não teve chuva violenta. Teve sol, teve calor. Tudo isso, mas dentro
                                                                 2
                      de uma medida. Então ficou tranqüilo [...]


Vimos neste discurso, algumas possibilidades de se trabalhar conteúdos de
geografia vinculados ao cotidiano como, por exemplo, pedir para os alunos
realizarem uma pesquisa dizendo por que o tempo estava com aquelas
características no dia da festa, em qual estação do ano geralmente acontece o

2
    Ver Apêndice D.
23



evento e as principais características dessa estação, o que poderia explicar o motivo
da chuva na data do evento.


É importante que a geografia escolar tenha essa relação com a vida cotidiana dos
alunos, para que não se guie a aprendizagem apenas por repetições, e que o aluno
tenha a oportunidade de criação. Essa busca vai permitir uma relação entre a vida
cultural e social, por intermédio da geografia.


Lima e Vlach (2002) nos afirmam esta questão de que a geografia real, quando
vivenciada, é favorável ao aluno:
                      [...] os manuais tradicionais não enfatizam a compreensão do saber
                      geográfico historicamente acumulado, dificultando a visão da Geografia real,
                      vivenciada no seu cotidiano e tão necessária para melhorar as relações
                      entre o homem e a natureza.


Ao analisarmos essas relações de prática e teoria em possibilidades para o ensino
da geografia escolar, podemos compreender como é importante trazer a
manifestação cultural para a discussão do que se vive, como expressão de
conhecimento sistemático, na escola.


A Geografia escolar deveria ter um papel mediador entre a identidade e o processo
de ensino e ainda da propagação da cultura, neste caso integrar a cultura local do
município de Vila Velha com a identidade cultural nacional, como uma de suas
muitas faces.


Essa prática vai permitir uma relação entre a vida cultural e social por intermédio da
geografia. Neste pensamento de influências na vida cotidiana do aluno, podemos
dizer que a identidade de uma comunidade ou de um indivíduo pode sofrer, ou não,
influência dessas manifestações, mesmo não vivenciando de perto tais culturas.



3.1 MANIFESTAÇÕES CULTURAIS NO ESPAÇO GEOGRÁFICO


Buscando espacializar as manifestações por nós apresentadas, elaboramos um
Mapa, mostrando a localização de cada uma daquelas manifestações selecionadas
24



por nós. A figura 1 mostra o mapa de Vila Velha e suas manifestações culturais
destacadas. Esse mapa, mostrado na Figura 1, teve que ser criado pelo grupo, uma
vez que não encontramos nenhum mapa cultural referente ao município de Vila
Velha.


Essas manifestações em nosso trabalho estão representadas e presentes em quatro
das cinco regiões políticas de Vila Velha: Centro, Grande Aribiri, Grande Cobilândia
e Grande Jucu.3




Figura 1: Manifestações Culturais do Município de Vila Velha
Fonte: Desenvolvido pelos alunos autores desta pesquisa


3
 Somente na região do Grande Ibes não foi encontrada em nossas pesquisas nenhuma informação
sobre representação cultural, das que foram pesquisadas.
25




Localizamos as quatro manifestações culturais mais importantes do município de
Vila Velha utilizando a mais recente divisão política do município. As áreas
destacadas – Centro, Grande Ibes, Grande Aribiri, Grande Cobilândia e Grande Jucu
– contemplam 91 bairros. Vendo as delimitações feitas desses locais podemos
observar que estão bastante pontuadas pelas características históricas, culturais,
geográficas e sociais de cada comunidade, fazendo surgir uma sistematização
cultural em Vila Velha. Podemos dizer, então, que a organização desse espaço está
atrelada aos focos culturais existentes em suas regiões, desencadeando, assim,
uma tremenda complexidade, rica para se tratar em sala de aula, considerando os
pressupostos da geografia.


Devemos ter em mente que a cartografia é uma ferramenta para ensinar a geografia,
por isso não podemos deixar de destacar que o sucesso em trabalhar com qualquer
meio da cartografia depende de o leitor absorver a totalidade da informação contida
na representação de elementos no meio cartográfico, oriundos de forma histórica,
cultural e tradicional, de uma perspectiva geográfica (ALMEIDA, 2007).


As aulas de campo, como o professor Vitor E. F. Viegas demonstrou em sua
entrevista, são um excelente recurso para propiciar, de forma clara, um aprendizado
sobre a temática cultura. Contudo, para além do contato dos alunos com elementos
práticos dos eixos culturais do município, é preciso propiciar uma formação reflexiva
sobre a cultura local, onde se faz necessário o contato com material bibliográfico-
documental, que insistimos não estar disponível no mercado livreiro e na escola de
Vila Velha, deixando o aluno à mercê dessa experiência empírica do que é cultura.


Os apontamentos abordados permitem entender que “[...] a cultura é a própria
condição de vida de todos os seres humanos. É produto das ações humanas, mas é
também processo contínuo, pelo qual, as pessoas dão sentido às suas ações.
Constitui-se em processo singular e privado, mas também é plural e publico. É
universal, porque todos os humanos a produzem, mas é também local, uma vez que
é dinâmica específica de vida que significa o que o ser humano faz” (DAOLIO, 2004,
p. 07). Partindo desses parâmetros, pode-se ter uma perspectiva de que estudar a
cultura propicia a criação de valores que irão alavancar a formação de um cidadão
26



demasiadamente mais consciente da importância dos aspectos culturais, materiais e
imateriais do seu habitat.


De acordo com essa visão, a cultura é entendida como uma forma que contém
sentido e mobilidade à vida de um indivíduo em algumas maneiras, se não todas. Já
outros autores, que ajudaram na formação e aperfeiçoamento do estudo, o
entendimento sobre Cultura nos leva, a saber, que estão relacionados a dar valor
aos pormenores do local, das raízes e da identidade do povo canela verde. È
possível afirmar então, que a cultura é a maneira como o aluno tem a chance de
viver e reconhecer suas raízes culturais. A cultura de um povo tem que ser
desfrutada e conhecida, pois é desta forma que todos se localizam em sua origem e
cultura local (GALVÊAS, 2005).


Devemos ter como pressuposto dessa questão, que os canelas verdes de cada
distrito têm um pensar sobre o seu município de acordo com a manifestação cultural
mais expressiva em seu lugar. Conforme Chauí (1994), a Cultura é a forma como as
pessoas se tornam mais humanas por meio do exercício permanente das
expressões sociais, econômicas, políticas, religiosas, artísticas e intelectuais.
Pensando dessa maneira e considerando que a Cultura imediata é aquela local,
reforça-se a nossa compreensão de que é preciso dar destaque à Geografia cultural
nas escolas.


As manifestações culturais tradicionais de Vila Velha estão muito mais enraizadas do
que se imagina. Nas escolas ou colégios do município, de forma geral, não são
plenamente trabalhadas, mesmo se tendo a idéia também afirmada na entrevista
feita ao Frei Pedro Engel ao salientar que “o ensino deve ser ecumênico”. Porém só
se encontra essa idéia no papel, pois como o professor Vitor E. F. Viegas, em sua
entrevista, destaca em “não ter material didático suficiente sobre a cultura de Vila
Velha para trabalhar em sala de aula”. Assim é vital a criação de suporte ao
profissional da geografia para o desenvolvimento desse aprendizado facilitando o
conhecimento, para os alunos do município, das características culturais de Vila
Velha nas dimensões sociais, materiais e ambientais, contribuindo assim,
progressivamente para a noção de identidade capixaba e o sentimento de
pertinência ao solo desse Estado.
27




Como o professor Vitor E. F. Viegas deixa claro em sua entrevista, até pouco tempo,
a maioria da população de Vila Velha era formada por pessoas de fora, de estados
vizinhos, e agora que está surgindo um povo tipicamente local, formando assim uma
nova identidade canela verde. Daí entendemos que uma cultura típica do local vem
a ser construída com o tempo e sempre está se transformando de acordo com
influências externas.


As atitudes do professor Vitor E. F. Viegas estão bastante atreladas, em uma esfera
de ação condizente em ter sempre Vila Velha em todas as suas abordagens como
referência fazendo haver, a todo instante, contatos dos seus alunos com aspectos
de sua terra. A partir disso podemos observar que o sentir de forma constante faz
surgir a identidade cultural de um indivíduo.
28



4 DAS MANIFESTAÇÕES CULTURAIS AO DESEJO DE UMA
GEOGRAFIA ESCOLAR LOCAL


Neste capítulo, são destacadas algumas das principais manifestações culturais
presentes no município de Vila Velha. Nele argumentamos sobre o desejo e
importância de uma geografia escolar que inclua em sua ementa curricular
conteúdos referentes à cultura local.


4.1 O CURRÍCULO ESCOLAR


Embora seja um termo bastante conhecido entre os profissionais da educação, o
currículo escolar ainda é um documento pouco compreendido do ponto de vista
saber-fazer. Engavetá-lo ou simplesmente escrevê-lo como documento e não como
prática, são atitudes que muitas escolas adotam por desconhecerem ou ignorarem a
importância de se estabelecer um currículo escolar vivido, voltado para a valorização
geográfica da escola, considerando o seu município.


De acordo com Mota e Barbosa (2002)
                     Os estudos curriculares representam [...] um poderoso artefato para o
                     movimento de observação, reflexão e intervenção na dinâmica escolar.
                     Possibilitam compreender o que se processa no seu interior e os vínculos
                     entre o que se vive na escola e a comunidade onde esta se localiza. De
                     igual forma, possibilitam ainda (des)estabelecer limites entre o que é
                     "específico" da escola e o que "pertence" ao conhecimento da sociedade
                     em geral.

Nesse sentido, conceituar currículo escolar não é uma atividade muito simples. Ela
requer uma série de ações que expliquem a escola na sua especificidade, bem como
o meio social no qual ela está inserida.


Na visão de Ferraço (2005, p. 18)
                     A questão curricular [...] só é possível de ser pensada na dimensão das
                     redes coletivas de fazeressaberes dos sujeitos que praticam o cotidiano,
                     fato que tem implicado a elaboração de outros discursos sobre educação,
                     ao colocar-se em dúvida idéias que têm permeado o imaginário da área já
                     há algum tempo.
29



Oliveira (2005) quando aborda o termo currículo escolar, muito pensa na palavra
cotidiano. A autora concorda com Ferraço (2005), no sentido de que há prática do
currículo no cotidiano, ou seja, ele é feito por pessoas, e essas pessoas são sujeitos
ativos na escola, que agem ao fazerem o cotidiano escolar. Isto não descarta a
teorização dele, nele e com ele. Ao fazer, se teoriza no querer e no poder fazer.


Portanto, o currículo escolar, que é visto como pronto e acabado, não se faz
verdadeiro como representação real do que acontece na escola, assim como aquele
que não foi feito a partir da prática e da vivência de todos os envolvidos na
educação, não pode ser válido para uma prática educacional com intenções
coletivas na busca de transformações no meio social, histórico e geográfico.


É importante ressaltar que o cotidiano escolar é a base do seu currículo, e as
observações dos atores envolvidos na educação – pais, alunos, professores,
pedagogos, membros da comunidade, entre outros – são fundamentais para a
construção deste documento que norteia o trabalho pedagógico desenvolvido na
escola.


As ações pedagógicas da escola trazem sempre uma intenção, por isso são
politicamente instituídas. Portanto, isso requer planejamento, conhecimento, e
relacionamentos entre aqueles que participam do processo de formação dos alunos
e construção da qualidade de ensino.


O sistema educacional brasileiro exige da escola uma burocracia que lhe toma boa
parte de seu tempo. Essa documentação que, muitas vezes é pouco utilizada pelos
próprios profissionais, coloca em questão a finalidade do currículo escolar. Na visão
de Mota e Barbosa (2002) é através do currículo escolar que algumas questões são
colocadas em discussão, como por exemplo, a definição do que e como se aprende
na escola, buscando conhecer de quem é o interesse em aprender, verificando a
validade do conteúdo ensinado.


A escola precisa dar importantes passos para que ela consiga sair da “prisão” em
que vive. É preciso discutir qual o papel da escola na sociedade atual. Mas, não
existem garantias de que as discussões sobre tantas questões relacionadas à
30



escola, frente à sociedade, atinjam seus objetivos. Portanto, a participação de todos,
famílias, profissionais da educação, alunos, membros da comunidade e gestores
tende a aumentar as possibilidades de sucesso.


A escola precisa de prática. É preciso que não haja medo de errar, que não haja
temor do fracasso. O caminho, a escola descobre caminhando, e por isso, as ações
são muito importantes no sentido de dar significado ao saber-fazer, colocando em
prática ações voltadas às necessidades da clientela escolar.

Assim, pode-se pensar que o currículo escolar reflete os conflitos e as alternativas
que surgem a partir dos dilemas demandados nesse tempo vivido.


É no currículo escolar que se encontra a principal tarefa da escola frente à
sociedade: a transformação. O modelo social atual, caótico, carente de uma
estrutura mais solidária e igualitária grita por um socorro transformador, onde haja
mudança de mentalidade referente a valores que têm comprometido a afirmação da
própria vida. Currículo escolar, portanto, é isto. A expressão da vida na escola, como
ela se reflete no contexto de formação humana, que interfere na construção do
caráter, na formação do sujeito socialmente preparado, compreendendo e
transformando o espaço geográfico em que ele vive. E a cultura do povo se inclui aí.



4.1.1 As Contribuições dos Parâmetros Curriculares Nacionais –
PCN’s


O Ministério da Educação (MEC), visando estabelecer um padrão de qualidade entre
as escolas brasileiras, sejam elas localizadas na zona urbana ou rural, pertencentes
tanto a rede pública quanto a rede privada de ensino, criou os PCN’s.


Esses Parâmetros, na verdade, tratam-se de uma
                     [...] iniciativa do MEC em propor parâmetros curriculares nacionais vem
                     configurar uma proposta que oriente de maneira coerente políticas
                     educacionais e contribua efetivamente para avanços na qualidade da
                     educação no Brasil, assim como procura se inscrever no horizonte das
                     concepções acima apontadas, de modo a tentar dar conta de uma
                     concepção de cidadania, pólo norteador do processo educativo, à luz das
                     demandas do mundo contemporâneo (BRASIL, 1999a, p. 17).
31




O documento PCN’s está organizado em 10 livros que distribuem suas orientações
de acordo com as diferentes áreas do saber, entre elas, o ensino da Geografia na
escola.


A proposta para o ensino da Geografia trazida pelos PCN’s mostra que há
necessidade de se trabalhar um ensino que leve o aluno a compreender e intervir na
sua realidade social (BRASIL, 1999b). Essa colocação dos PCN’s de Geografia nos
faz pensar que não se deve organizar o currículo escolar sem levar em conta a
realidade do aluno, sua história, cultura e geografia local.


Tal orientação dos PCN’s se justifica pela possibilidade de compreender de que
maneira diferentes sociedades interagem com o meio natural diante da construção
do seu próprio espaço, bem como as singularidades do local onde o aluno vive, e
também as suas características que o tornam diferente e também o assemelham a
outros lugares.


Trabalhar a Geografia à luz dos PCN’s, segundo nossa compreensão, permite
repensar como propiciar ao aluno a consciência acerca dos vínculos de afeto e
também da identidade que se estabelece com o local de vivência, além das relações
estabelecidas entre a realidade do aluno e outros espaços geográficos, sendo
distantes no tempo e no espaço, assim como perceber as conseqüências no
presente trazidas do passado (BRASIL, 1999b). Daí a necessidade de se promover
um ensino de Geografia voltado para a interdisciplinaridade, pois essa proposta não
deve se desvincular do ensino de História, por exemplo.


Assim, os Parâmetros Curriculares Nacionais de Geografia trazem a proposta de
desenvolvimento de um trabalho pedagógico voltado para o aumento da capacidade
do aluno do ensino fundamental de poder observar, conhecer, explicar, comparar e
representar as características do lugar onde ele vive e também das diversas
paisagens e espaços geográficos (BRASIL, 1999b).


A primeira parte do documento descreve a trajetória da Geografia em dois ângulos:
como ciência e como disciplina escolar, procurando mostrar as suas tendências na
32



atualidade e também a sua importância na formação do cidadão. Apontam-se os
conceitos, os procedimentos e as atitudes que deverão ser ensinados, visando a
aproximação dos alunos para compreenderem a dinâmica desta área de
conhecimento apropriando-se de suas teorias e de suas explicações (BRASIL,
1999b).


Entra-se, na segunda parte, numa descrição da maneira como pode ser o trabalho
pedagógico, os objetivos e os conteúdos nessa disciplina para o Ensino
Fundamental.


O documento finaliza trazendo uma série de sugestões norteadoras acerca da
organização do trabalho escolar e suas questões didáticas. Nessas orientações
didáticas, os princípios e os procedimentos de Geografia se apresentam como
recursos que serão utilizados pelo professor no momento de planejar as suas aulas
e também na definição das atividades que serão construídas e propostas aos alunos
(BRASIL, 1999b).


Assim, é importante ressaltar que embora cada uma dessas partes possa ser lida
com independência, é indispensável o conhecimento acerca do documento como um
todo, buscando enriquecer a experiência docente em sala de aula.


Torna-se relevante que a proposta seja integralmente lida e discutida pelos
professores e, com o apoio de outras bibliografias, tornam-se possíveis outras
adaptações de acordo com a realidade de suas escolas e também considerar as
características dos alunos atendidos.



4.2 MANIFESTAÇÕES CULTURAIS DE VILA VELHA


Vila Velha é um município rico em cultura local, apresentando diversas
manifestações culturais, dentre as quais este trabalho optou por enfatizar a Festa da
Penha, o Congo, os Catraieiros e o Samba. Sínteses desses movimentos,
embasadas por autores consagrados e por alguns dos principais representantes das
manifestações, são apresentadas a seguir:
33



4.2.1 A Festa da Penha


Vila Velha é um município do estado do Espírito Santo composto em sua quase
totalidade por áreas planas, com exceção de alguns pontos mais elevados, como
por exemplo, onde está localizado o Convento da Penha, no bairro da Prainha. É
nesse bairro em que acontece a Festa da Penha, uma das mais importantes festas
religiosas e culturais do Estado. Esta festa é dedicada a Nossa Senhora da Penha,
padroeira oficial do Estado.


A comemoração traz consigo a religiosidade (sagrado) e o profano, onde se incluem
as bandas de congo, que compõem a parte ligada à cultura popular e ao folclore. A
cultura popular, segundo (CHAUÍ, 1994), é advinda das classes trabalhadoras,
sendo considerada espontânea. Isso nos remete ao entendimento da participação
popular como formadora e agente social que irá influenciar os comportamentos de
uma sociedade.


Pensando assim, Claval (2001, p. 63) nos diz que “[...] a cultura é a soma dos
comportamentos, dos saberes, das técnicas, dos conhecimentos e dos valores
acumulados pelos indivíduos durante suas vidas e, em uma outra escala, pelo
conjunto dos grupos de que fazem parte” e nos acrescenta que “A vida cotidiana é
assim toda penetrada de automatismos: não há necessidade de parar para refletir, o
que convém fazer é conhecido; a situação pode ser avaliada num golpe de olhos”
(CLAVAL, 2001, p. 80).


A Festa da Penha, que atualmente traz milhares de fiéis ao Parque da Prainha e ao
Convento, se iniciou, segundo o Frei Engel, depois que Pedro Palácios construiu a
primeira parte da capela, no século XVI. A festa ocorre anualmente, se iniciando no
domingo de Páscoa, quando começa o Oitavário, período de oito dias de
celebrações antes do dia de Nossa Senhora da Penha, feriado estadual em que
ocorre o encerramento da festa.


Durante o Oitavário, são realizadas missas todos os dias no campinho do Convento,
sendo as mais importantes as missas de sábado, domingo e segunda-feira, que
34



marcam, respectivamente, o encerramento da romaria dos homens, o encerramento
da romaria das mulheres e o encerramento das celebrações da Festa Penha,
conforme mostram as imagens da Fotografia 1 a seguir.




FOTOGRAFIA 1: IMAGENS DA FESTA DA PENHA
Fonte: Werls, 26/04/ 2006 e Gabriel Lordêllo e Tadeu Bianconi,15/04/2008


Segundo Frei Engel, a Festa da Penha é “uma manifestação que jamais pode
acabar pela sua importância cultural e religiosa”. Ao analisarmos essa frase do Frei
Engel, percebemos a importância da cultura popular no cenário estadual. Portanto,
devemos garantir que a cultura popular seja ensinada nas escolas, uma vez que são
“[...] as experiências e histórias pelas quais os estudantes dão sentido ao mundo [...]”
(MOREIRA; SILVA, 1999, p. 95). Privar os estudantes desse ensino “[...] seria
reduzir a aprendizagem à dinâmica da transmissão e da imposição” (MOREIRA;
SILVA, 1999, p.95).


Contribuições para os professores de Geografia: trabalhar a Festa da Penha não
exige o rigor com a data comemorativa que, normalmente, ocorre no primeiro
semestre do ano. Tal evento envolve muito mais que uma manifestação dos
religiosos. A festa envolve um fluxo de populações de vários lugares do estado e do
Brasil, o que causa impactos momentâneos na organização espacial de Vila Velha:
há um aumento na quantidade de consumo, de produção de lixo, no tráfego
rodoviário, nos serviços de modo geral. Movimenta o comércio local, a hotelaria, os
bares e restaurantes. O estudo disso pode ser feito com mapas (marcar os locais de
origem das maiores romarias), com gráficos (o quantitativo de romeiros dos últimos
três anos), com tabelas (apresentação de dados como gastos públicos, acidentes de
35



trânsito, pessoas na festa), com textos da mídia, com imagens comparativas de
diferentes tempos...
O local de realização deste movimento histórico, religioso e cultural exigiu mudanças
estruturais na organização do espaço, na localidade da Prainha, que é um dos mais
antigos bairros e também um sítio histórico (pouco preservado) no município de Vila
Velha.


A região onde ocorrem as celebrações da festa da Penha pode ser explorada com o
aluno para investigar, problematizar e compreender as intervenções humanas no
espaço geográfico: os aterros, construções, desmatamentos e crescimento
desenfreado na região de praia e mata atlântica abrigada no bairro da Prainha.


Esse trabalho se torna mais enriquecido se o conteúdo for desenvolvido em parceria,
envolvendo outras áreas de saberes do currículo escolar, por exemplo, com
professores de história, ciências naturais, artes (a arquitetura do local se confunde
entre o antigo e o moderno) entre outras disciplinas escolares.



4.2.2 O Congo


O Congo na Barra do Jucu, de acordo com nossa entrevistada Beatriz dos Santos
Rego, vice-presidente da Associação de congo de Vila Velha, teria surgido na Barra
do Jucu, no início da década de 1940.


O precursor local dessa manifestação cultural foi Mestre Honório, que juntamente
com seus amigos, se reuniam para a brincadeira de congo, conhecida como roda de
congo. Os participantes dessas rodas eram, na sua maioria, moradores de bairros
vizinhos como Ponta da Fruta e Itapuera, entre outros. Na entrevista, Rego nos fala
a respeito do surgimento dos principais instrumentos componentes do congo “a partir
daí que começou a surgir o tambor e a casaca. Não existiam nessa época outros
instrumentos, somente o tambor e casaca”. Posteriormente ela relata sobre o início
do interesse de pessoas para formação da primeira banda de congo da Barra do
Jucu.
36



O Congo tem três momentos específicos de comemoração, sendo o primeiro a
Fincada do Mastro, em que é homenageado São Benedito. Acontece no último
sábado de dezembro, depois do Natal, para não coincidir com outra festa municipal.
Conta a história que “[...] um navio naufragou e os escravos se agarraram ao mastro
e se salvaram e prestaram essa homenagem ao santo fincando esse mastro do
navio na praia”4. No entanto, na Barra a fincada é realizada em frente a uma igreja,
que era a única que existia na região, a Igreja de Nossa Senhora da Glória.


O segundo momento é a retirada deste mastro, já que o mesmo não pode
permanecer fincado o ano todo. O mastro é retirado dia 20 de janeiro, dia de São
Sebastião. O terceiro e último momento ocorre quando se encerra a quaresma e
quando as bandas de congo voltam a tocar. É importante destacar que algumas
bandas continuam realizando suas atividades nesse período, embora a banda
Mestre Honório, por exemplo, tenha por cultura realizar esta parada durante a
quaresma.


O congo, que ganhou notoriedade internacional, é uma manifestação que tem,
segundo Geraldo Pignaton e Kleber Galvêas (2005), como fundamento a
capacidade de ser muito espontânea, narrar as tradições, os costumes do cotidiano
local do seu povo, as coisas que acontecem no dia a dia da comunidade, servindo
como verdadeiro jornal do lugar; falando das pescarias, fatos curiosos, caçadas,
sobre aventuras, amores, desilusões, reclamações locais, entre outras questões.


A capacidade de improvisação de versos que estes homens têm é grande, “[...] eles
ficavam o dia todo no mar pescando, na mata caçando ou fazendo lenha e no rio
navegando e pensando nos acontecimentos locais e preparando novos versos para
a próxima congada” (GALVÊAS, 2005, p. 140).


Tomando como base as letras das músicas e sua grande variedade de informações
do dia a dia, de elementos da natureza e histórias, entre outros; é possível trabalhar
conteúdos da disciplina de geografia com os alunos, criando assim um elo entre a
cultura local e o conteúdo curricular.


4
    Ver Apêndice D.
37




FOTOGRAFIA 2: IMAGENS REPRESENTATIVAS DO CONGO
Fonte: Gilson J. S. Borba, 2010.


O congo no seu início não era valorizado. Nas primeiras reuniões, por exemplo, o
número de pessoas participando era de aproximadamente dez, e não existia público,
pois este, invariavelmente, se incluía na cantoria e na dança. O congo da Barra
começou a se destacar no cenário nacional após a música de Martinho da Villa,
composta em 1988 e intitulada Madalena, onde se fazia menção ao Congo da Barra
do Jucu.


A partir desse momento o público começou a se interessar por tal manifestação e
procurar saber onde ocorria, o que fez com que a Barra do Jucu começasse a ter
notoriedade no cenário cultural do Estado e no Brasil.


Contribuições para os professores de Geografia: embora o congo seja uma
importantíssima manifestação religiosa do Espírito Santo, é preciso ressaltar o
cuidado que o professor de Geografia deve ter em relação a este assunto, incluindo
aí a Festa da Penha. É preciso lembrar que, devido às orientações legais que
afirmam que a escola deve ser um espaço laico, é preciso não apoiar-se em
nenhuma    religião,   trabalhando   a   religiosidade   e   a   espiritualidade   como
manifestações culturais, sem considerações específicas religiosas.


A religião faz parte da cultura de um povo e a cultura está diretamente ligada à
história e a geografia de uma população.e, portanto, não pode ser ignorada. Vila
Velha, por exemplo, é uma cidade muito marcada pela presença e manifestação de
evangélicos e trabalhar o congo discorrendo sobre os dois santos homenageados
38



(São Benedito e São Sebastião) pode ocasionar problemas com os familiares e
também a comunidade escolar.


É mais importante que o professor de Geografia foque nas relações culturais, como
por exemplo, os sons, a música, a dança e os instrumentos utilizados no congo, que
muito lembram a capoeira (expressão afro descendente). Daí o professor de
Geografia pode dar início ao trabalho sobre festas e manifestações culturais de Vila
Velha, relacionando suas histórias, pois assim como o congo, a capoeira também é
oriunda do sofrimento dos escravos que vinham para o Brasil. Trabalhar as suas
histórias torna a participação do professor de História indispensável, assim como os
professores de literatura que podem trabalhar os poemas do “Poeta dos Escravos”,
Castro Alves, o que não dispensa a Arte voltada para a cultura local, a música, as
danças e vestimentas vistas no congo.



Como o congo não acontece apenas em Barra do Jucu, é possível mapear os outros
lugares onde ocorre. Além disto, pode-se propor uma linha de espaço-tempo
representativa dos materiais usados na construção de seus instrumentos musicais:
que tipo de madeira é usada na feitura do tambor e da casaca? Onde aparece? Que
outros materiais são usados? Que impactos causam sua retirada?



4.2.3 Os Catraieiros


A cultura dos catraieiros é uma das culturas mais antigas do município de Vila Velha.
De acordo como o presidente da Associação dos Catraieiros do Espírito Santo,
Jefferson R. Castro, a história das catraias e dos próprios catraieiros se confunde
com a história dos municípios de Vila Velha e Vitória.


As catraias, embarcações utilizadas para transporte de passageiros, geralmente
manobradas por uma única pessoa, eram utilizadas desde o descobrimento do solo
Espírito-Santense, consistindo no único meio de transporte da época. O termo
catraia foi popularizado pelos pescadores que se classificavam na época do
descobrimento como catraieiros, embora seja pouco utilizado nos dias atuais.
39




A década de 1960 foi o momento de maior evidência dos catraieiros. No entanto, a
cultura declinou posteriormente, em grande parte devido à inclusão de transportes
motorizados junto a Baía de Vitória, por parte dos governantes. Esse declínio deve-
se também à falta de apoio financeiro governamental e às sucessivas gestões de má
qualidade que não souberam reagir ao ritmo de desenvolvimento sócio-econômico
estadual. Esses fatores fizeram com que os próprios catraieiros tenham considerado
a década de 90 como um período negro, segundo Castro.


Hoje, a classe está com uma nova visão estratégica, pleiteando incentivos junto às
empresas privadas e ao setor público, para que haja a restauração e o surgimento
de novas catraias.


Os principais locais onde os catraieiros realizam diariamente o seu trabalho são no
bairro de Paul, localizado no município de Vila Velha e na Baía de Vitória. Por dia,
são realizadas em média, por cada catraieiro, de 80 a 100 travessias, de acordo com
o presidente da associação, ao valor de R$ 1,50 por travessia. Nesse cenário, o
salário médio mensal de cada trabalhador varia entre R$ 2.400 e R$ 3.000, levando-
se em conta uma árdua jornada de trabalho de cinco dias por semana.




FOTOGRAFIA 3: IMAGENS REPRESENTATIVAS DOS CATRAIEIROS
Fonte: Bruno Zorzal,


Uma curiosidade diz respeito à importância que os catraieiros tiveram ao longo dos
anos para a realização de outra manifestação cultural do município de Vila Velha, a
Festa da Penha. Durante um período de, aproximadamente, 100 anos os catraieiros
participavam da Festa da Penha, com a responsabilidade de levar a imagem de
40



Nossa Senhora da Penha, da Ilha de Vitória até Vila Velha. Ainda, as catraias eram
utilizadas como um dos principais meios de transporte de pessoas para o evento.


Embora essa tradição tenha sido perdida com o tempo, os catraieiros mantêm até
hoje a relação com a Festa da Penha ao participarem em grande número na romaria
dos homens e ao comemorarem sua festa no mesmo período em que se comemora
a Festa da Penha. É interessante, do ponto de vista histórico e cultural, observar que
movimentos culturais, aparentemente independentes, mostram-se interligados pelas
suas histórias e comemorações.


Contribuições para os professores de Geografia: são muitos os conteúdos que
podem e devem ser abordados nas aulas de Geografia. Mais do que pequenos
barcos atravessando a baía de Vitória, os catraieiros são “sobras” do sistema de
transporte público aquaviário que se extinguiu e, sequer uma satisfação foi dada a
população. Hoje, a região metropolitana da Grande Vitória sofre com um sistema de
ônibus monopolizado, além de trânsito intenso entre os municípios.


É importante levar o aluno para conhecer a dimensão da baia de Vitória (vista de
Vila Velha, de Vitória da avenida Beira Mar, além de passeios de escuna pela
região) para que ele compreenda que o sistema de transporte aquaviário poderia
interligar, pelo menos, os municípios de Vitória, Vila Velha e Cariacica, reduzindo a
quantidade de ônibus e carros nas ruas e melhorando os engarrafamentos, além de
ser um transporte social e ambientalmente viável.


Levar a imagem de Nossa Senhora da Penha foi uma tarefa retirada das mãos dos
catraieiros que, com muita persistência e crença na sua cultura, continuam
trabalhando e transportando cidadãos que enxergam no sistema aquaviário uma
possibilidade de agilizar o trânsito.


Neste mesmo cenário, o aluno pode compreender mais duas importantes questões:
o sistema portuário - Porto de Vitória, Porto de Capuaba e Porto de Vila Velha, e o
aterro que foi realizado por muitos anos para construir a parte plana do município de
Vitória.
41



Quanto ao cartão postal marcante na baía de Vitória, é possível iniciar uma divertida
discussão: observar o brasão da Prefeitura de Vitória e nele os alunos verão a Pedra
do Penedo que, no cenário real, encontra-se em Vila Velha, e esta mesma beleza
natural possui lendas, histórias, tradições e já sofreu o risco de ser tirada do mapa
para ampliar o porto, mas, felizmente, isso não ocorreu graças às intervenções da
própria população. Há muito que se trabalhar no meio onde trabalham os catraieiros.



4.2.4 O Samba


O Samba, apresentado neste trabalho, será representado, principalmente, pela
Mocidade Unida da Glória (MUG), uma das primeiras escolas de Samba fundadas
no município de Vila Velha. No entanto, vale destacar que a manifestação do Samba
em Vila Velha tem início um pouco antes da fundação da MUG, com a
Independentes de São Torquato, primeira escola de samba fundada no município,
tendo surgido a partir do antigo bloco Caveira, o qual foi fundado no início dos anos
50. A escola foi criada no ano de 1974, após ter sido campeã do concurso oficial de
blocos tanto de Vitória quanto de Vila Velha, tendo dessa forma desempenhado
importante papel na história do carnaval de Vitória.


● Escola de Samba Mocidade Unida da Glória (MUG): Mocidade Unida da Glória
(MUG), escola de samba de Vila Velha, foi fundada em 09 de agosto de 1980,
originada de um bloco carnavalesco denominado “Calção Vermelho”, cujos
componentes desfilavam do bairro da Glória até o centro da cidade de Vila Velha,
usando somente calções vermelhos e sem camisa.


Segundo o presidente da MUG, Carlos Roberto dos Santos Ribeiro5, o que
diferencia a escola das outras é o fato de que a escola surgiu de grupos de amigos
que jogavam futebol, o grupo “Leão da Glória” que se reuniam depois do futebol
para tocar e cantar alguns sambas da época. Alguns desses amigos faziam parte do
bloco carnavalesco “Pantera Cor de Rosa” de Jaburuna. Este bloco encerrou suas
atividades porque estavam sendo prejudicados pela desonestidade de alguns dos


5
    Ver Apêndice D.
42



jurados que sempre beneficiavam outro bloco de carnaval, os “Unidos da Vila”.
Pouco tempo depois do encerramento do bloco “Pantera Cor de Rosa”, alguns dos
integrantes não conseguiram ficar longe do carnaval e se juntaram aos amigos do
futebol que também gostavam de samba, formando a partir deste momento a atual
escola de samba. Dentre os principais fundadores, destaca-se o já falecido Ivan
Ferreira. Como escola de samba, a MUG desfilou em Vila Velha, sendo contemplada
com o tetracampeonato entre os anos de 1981 e 1984. No mesmo ano de 1984,
desfilou em Vitória com o enredo “No Reino Onde Chorar é Proibido”. Em 1985, com
o enredo “Raízes da história de uma civilização” foi rebaixada para o segundo grupo,
tendo retornado para o primeiro grupo em 1987 ao vencer o grupo de acesso, com o
enredo “Quem te viu, TV” em 1986 (MUG, 2009).


Nos anos seguintes, a MUG se estabeleceu como uma das grandes escolas do
Carnaval Capixaba com os enredos “Amazonas, Lendas e Cobiças” (1987), “Quem
viver verá! O Arauto da Liberdade” (1988) e “O Sonho de Ícaro” (1989). Em 1990,
com o enredo “Do Sonho à Fantasia” a MUG fez um brilhante desfile e conquistou o
vice-campeonato, seu melhor resultado até então.


Em 1992, a MUG vivenciou o pior momento de sua história, quando um incêndio
destruiu seu barracão, fazendo com que a escola ficasse impossibilitada de desfilar.
O retorno ao Sambódromo só ocorreu 10 anos depois do último carnaval, em 2002,
junto com a volta do desfile competitivo, que se deve, em grande parte, ao apoio
dado pela prefeitura de Vitória ao carnaval capixaba. Com o enredo “O Renascer
das Cinzas”, a MUG contou sua própria trajetória e a conquista do vice campeonato
a consagrou definitivamente como uma das grandes escolas do Carnaval Capixaba.
O tão esperado título foi obtido no ano seguinte, com o enredo “De Passo a Passo,
Faço os Passos de Anchieta” (MUG, 2003).


Em 2007, com problemas no desfile, a escola acabou sendo rebaixada pela segunda
vez em sua história. Ao ganhar o título do Grupo B em 2008, garantiu vaga para
retornar novamente ao Grupo A para o ano seguinte (MUG, 2009).
43



Em 2009, desfilando com 3000 componentes, 23 alas e 6 alegorias, a MUG foi a
Vice-Campeã, com o enredo “Do Eldorado Africano ao Berço Selvagem e
Fascinante da Vila São Matheus” (MUG, 2009).


Em 2010, ao falar sobre o cinquentenário de Brasília, a MUG terminou mais uma vez
na 2º colocação (MUG, 2009).




FOTOGRAFIA 4: IMAGENS REPRESENTATIVAS DO SAMBA
Fonte: Paulo Silva, 05/02/2010.

Assim, o crescimento da escola de samba é notável a cada ano no carnaval
capixaba, onde a MUG tem sido premiada e reconhecida dentro e fora do Espírito
Santo.


Contribuições para os professores de Geografia: o samba é uma manifestação
histórica, social e cultural que faz com que o Brasil seja lembrado até mesmo pelos
demais países do mundo. A história do samba se confunde com a história do Brasil e
se mostra sempre com a mesma alegria e envolvimento, ano após ano, mas suas
músicas, vestimentas e envolvimento da população se modificam, de acordo com o
tempo e espaço do brasileiro.
44



Para o professor de Geografia o que não falta é conteúdo para se abordar acerca do
samba. É quase impossível abordar o samba sem comentar o carnaval. Pesquisar a
história dessa manifestação cultural é importante, mas é também relevante que o
aluno tenha acesso às letras dos enredos de diversas épocas, principalmente
aquelas que falavam de maneira sutil e articulada sobre os problemas sociais vividos
pelos brasileiros.


Visando o ensino de uma Geografia crítica, é interessante que o aluno seja
convidado e refletir algumas questões: por que há tanta diferença de credibilidade
entre as escolas de samba do Rio de Janeiro e de São Paulo e as demais escolas
do Brasil, como as capixabas? Por que desfilam em dias diferentes, e as capixabas
sempre desfilam antes do carnaval? O carnaval é uma festa popular, mas todos têm
acesso aos desfiles das escolas?


É importante refletir com os alunos que muitas escolas de samba ficam localizadas
em bairros de periferias, mas a clientela que assistirá ao desfile não é uma clientela
de poucos recursos. Então, como é a relação entre ricos e pobres e como ela se
manifesta no carnaval?




4.3 A IMPORTÂNCIA E O DESEJO DE UMA GEOGRAFIA ESCOLAR
LOCAL


As manifestações culturais criam, muitas vezes, fortes laços do povo com sua terra,
levando a um sentimento de orgulho por aquilo que é produzido. Nesse contexto, o
estado do Espírito Santo ainda está defasado quando comparado a outros estados
do Brasil. Os estados da Bahia e Rio de Janeiro, apenas para exemplificar,
conseguem levar sua cultura a um nível elevado, quando trazem pessoas de várias
regiões geográficas para participar de uma de suas festas mais importantes, o
carnaval. Ao elevar sua cultura e arte a um patamar mais elevado de qualidade, um
estado ou município é capaz de realizar um ciclo de desenvolvimento contínuo
extremamente benéfico: os manifestantes culturais, ao terem sua arte valorizada, se
esforçam continuamente em busca da perfeição; o público, por sua vez, fica cada
45



vez mais satisfeito em vislumbrar a cultura se aproximando do ideal; e o setor
econômico lucra com turismo e comercialização de produtos e serviços. A conjunção
das conseqüências desse ciclo traz, além do desenvolvimento cultural natural,
desenvolvimento sócio-econômico à sociedade.


No município de Vila Velha, a preservação das culturas locais ocorre, muitas vezes,
por meio da herança familiar, na passagem cultural de pai para filho. A proposta de
se trabalhar o conteúdo na sala de aula é capaz de contribuir profundamente com a
cultura local, para que a mesma não seja perdida, visto que atualmente vivemos em
um mundo globalizado onde temos fácil acesso a culturas e costumes de todas as
partes do mundo, e muitas vezes acabamos super valorizando a cultura
“estrangeira” e não valorizando o que é local, perdendo o sentimento de orgulho das
nossas tradições. Segundo Moreira e Silva (1999, p. 78) as escolas são:
                    [...] formas sociais que ampliam as capacidades humanas, a fim de habilitar
                    as pessoas a intervir na formação de suas próprias subjetividades e a serem
                    capazes de exercer poder com vistas a transformar as condições
                    ideológicas e materiais de dominação em práticas que promovam o
                    fortalecimento do poder social e demonstrem as possibilidades da
                    democracia.


Vemos nesse trecho a importância e influência de uma instituição de ensino na vida
do aluno. Devemos pensar como as interações simbólicas e materiais do dia a dia
do aluno que é parte da sua cultura, vão interferir diretamente em sua vida. Essa
cultura popular vivenciada pelo aluno vai dar subsídio as suas concepções éticas e
modo de ver o mundo. Vai ajudar o aluno a dar vozes as suas experiências
(MOREIRA e SILVA,1999).


A problemática é que se reconheça que nas escolas os significados são produzidos
pela construção de formas de poder, experiências e identidades que precisam ser
analisadas em seu sentido político-cultural mais amplo. A argumentação acerca do
ciclo de desenvolvimento sócio-econômico e cultural e as colocações de Moreira e
Silva (1999) sobre as instituições de ensino como formadoras de opinião destacam a
grande importância de se trazer o cotidiano e a cultura popular para a sala de aula,
como um forte instrumento capaz de fortalecer a busca pela prosperidade social.
46



Este trabalho deseja, além de fornecer um suporte teórico e informativo ao corpo
docente, destacar a escola como a principal ferramenta que possibilita a inclusão da
Cultura popular na sala de aula, na certeza de que essa possibilidade é viável e
fundamental. E para concretizar essa proposta de ensino, a geografia escolar local
abordada deve ser capaz de relacionar o cotidiano do aluno, que inclui a cultura
popular local, com o processo de ensino/aprendizagem. Em outras palavras, deve-se
estabelecer uma relação entre o que é vivenciado e o conteúdo escolar, até como
forma de incitar a curiosidade dos alunos.


No cenário proposto, a geografia escolar local deveria ser um meio de ampliação de
experiências e aprendizado, levando em conta a realidade dos alunos, ampliando o
acesso que nem sempre lhes é proporcionado a experiências culturais, e tornando a
geografia escolar uma importante forma de política cultural.


Infelizmente, a proposta e o desejo de uma geografia escolar local no município de
Vila Velha ainda aparentam ser um futuro distante. Quando a pedagoga da escola
Maura Abaurre, a senhora Lucineide G. Macedo, é questionada sobre a importância
de se trabalhar a cultura canela-verda nas aulas de geografia, percebe-se pela sua
resposta que poucos alunos têm conhecimento sobre seu próprio município. E ela
destaca que
                      Com certeza, muito importante, por que inclusive a gente tem aluno que
                      nem tem idéia do que é um canela-verde no município que ele estuda,
                      mora..

A dificuldade de se ensinar a cultura local aos alunos, destacada no parágrafo
anterior, deve ser vista como motivação por parte do corpo docente, que deve
buscar superar os entraves existentes e assim, com planejamento e incentivo por
parte dos governantes e muito trabalho e dedicação por parte dos profissionais de
educação, conduzir o município de Vila Velha a um novo patamar de
desenvolvimento cultural, que será capaz de impulsionar consigo o desenvolvimento
econômico e social. E como incentivo para os próximos passos, podemos destacar o
Congo da Barra do Jucu, que conseguiu projeção nacional, e o Samba, que embora
ainda não seja tão valorizado como em outros estados, representa um marco por já
ter tido incentivo por parte da prefeitura de uma cidade vizinha, Vitória.
47



5 DIZENDO DO QUE APRENDEMOS: POR UMA GEOGRAFIA
CULTURA E LOCAL


Neste capítulo, são apresentados os principais resultados do trabalho: o material de
apoio (cartilha), justificando a necessidade do mesmo, e o relacionamento
intercultural existente no município de Vila Velha, indicando que o fortalecimento
cultural de um movimento tende a influenciar positivamente os movimentos vizinhos.
Em seguida, são apresentadas as principais dificuldades encontradas e algumas
extensões da pesquisa que podem ser objeto de estudo em trabalhos futuros.



5.1 CONTRIBUIÇÕES PARA A REDUÇÃO DA CARÊNCIA CULTURAL


Em sua entrevista, a pedagoga reforça a carência cultural, ao dizer que os alunos
não estão acostumados a lidar com atividades relacionadas à cultura local. Até
comenta a questão de acreditarem que ao sair da escola para ir ao teatro, os alunos
acham que estão perdendo aula, não entendendo que se trata apenas de um tipo de
aula diferente, com enfoque no aprendizado cultural.


A visão equivocada dos alunos, relatada pela pedagoga em sua entrevista, destaca
a necessidade de inclusão de conteúdos programáticos relacionados à cultura local,
principalmente na ementa das disciplinas de Geografia e História. Essa necessidade
foi corroborada, ao longo deste trabalho, visto que todos os entrevistados, cada um
à sua maneira, nos disseram da importância, tanto no âmbito de se preservar a
cultura dentro do município, como de se estar ciente das influências que sofremos
convivendo com essa cultura.


Apesar de sabermos da necessidade de ensinar e expandir a cultura local, os
profissionais responsáveis por propagá-la carecem de meios para tal. Por exemplo,
o professor Vitor, ao ser questionado se ministra alguma atividade relacionada à
cultura de Vila Velha, nos confirmou a falta de material de apoio disponível, quando
afirma que:
48


                     [...] o maior problema de trabalhar a cultura canela-verde é a falta de
                     material... Em Vila Velha você não encontra a história dos bairros... Quando
                     dá para incluir cultura de Vila Velha nas aulas a gente inclui. O Aluno tem
                     que ter o subsidio nas aulas, material que comprove o que falamos.


Cientes da importância e influência da cultura local, assim como da necessidade de
estender o conhecimento, identificamos que, para a conclusão deste trabalho, era
necessário mais do que apenas organizar as idéias obtidas nas pesquisas e
entrevistas realizadas.


Precisávamos chegar ao final do processo com um meio eficiente, que pudesse ser
utilizado pelo corpo docente, hoje muito carente de pesquisas na área de geografia
cultural. Identificamos então a necessidade de um material capaz de auxiliar a todos
que se interessem em apresentar a cultura municipal de Vila Velha dentro das aulas
de Geografia.


Por essa razão, decidimos que além de mostrar cada manifestação cultural em
destaque do município, deveríamos também produzir e fornecer esse artefato aos
professores e às escolas de Vila Velha. Como esse material deve ser simples, fácil
de usar, de compreender e de absorver as idéias, optamos pela produção da
cartilha.


Na cartilha, optamos por fazer um breve resumo das principais manifestações
culturais de Vila Velha (Congo na Barra do Jucu, Convento da Penha na Prainha,
Escola de Samba na Glória e Catraieiros em Paul) e destacar a importância
apresentada pelos próprios representantes dessas manifestações e também pelo
corpo docente (Pedagogo e Professor de Geografia) de se estudar esses tipos de
manifestações dentro do ambiente escolar.


Trata-se de um material simples e eficaz, que tem como objetivo primário fazer um
apanhado histórico das manifestações culturais do município de Vila Velha,
mostrando fotos das mesmas e, dispondo de trechos das entrevistas com os
manifestantes e o corpo docente.


Este material está disponível, nos anexos deste trabalho.
49



5.2 RELACIONAMENTOS INTERCULTURAIS


Durante as entrevistas foi possível perceber muitas relações entre as manifestações
culturais pesquisadas. Ao responderem as perguntas, os próprios manifestantes
culturais citaram essas relações. Na conversa com a representante cultural do
Congo, por exemplo, foi lembrado da relação com o Convento da Penha e com o
Samba. O Samba, por sua vez, também citou o Congo. Em relação ao Convento da
Penha, Beatriz S. Rego nos contou que existe uma última etapa da festa do Congo
em que é feita referência a Nossa Senhora da Penha.
                    O terceiro momento é quando retornamos a quaresma e voltamos a tocar.
                    Onde fazemos uma homenagem a Nossa Senhora da Penha, que também
                    tem bandas que ela é padroeira em outros municípios. E vamos pedir a
                    benção da Nossa Senhora para nossas apresentações durante o ano, onde
                    começa nosso calendário com nossas apresentações de congo.


O samba cita o congo como parte da sua cultura quando fala que ambos são
parceiros na questão histórica. Quando a escola de samba Mocidade Unida da
Glória (MUG) foi formada o samba ainda não era valorizado em Vila Velha. Com o
passar dos anos, a escola conquistou excelentes resultados no Sambódromo, atraiu
inúmeros fãs para seus ensaios e elevou a importância do samba na cidade.


O congo por sua vez, também não era valorizado até o momento em que Martinho
da Villa lançou, em 1988, a música “Madalena”, a qual falava do Congo da Barra do
Jucu, ocasionando uma enorme euforia acerca dessa cultura. Porém, antes do
crescimento de ambas as culturas, as duas manifestações sempre se apoiaram na
conquista de seu espaço. Inclusive, foi possível confirmar que essa ajuda mútua
permanece quando, nos dias seguintes à nossa entrevista, foi realizada uma festa
na Quadra da Escola de Samba e a Banda de Congo Mestre Honório se apresentou
junto com a MUG, engrandecendo ainda mais a festa em que se comemorava o
aniversário de um dos integrantes da Escola.


Na entrevista com o representante dos catraieiros, Jefferson Castro também faz
menção a essa proximidade com outras manifestações culturais. O Convento entra
novamente em foco, quando Castro nos diz que, antigamente, os catraieiros eram os
responsáveis por levar a imagem de Nossa Senhora, de barco, de Vitória até a
Prainha, e acompanhados de um grupo de fiéis, subiam com a imagem até o
50



Convento. Até por causa dessa antiga tradição, podemos entender porque muitos
catraieiros participam da romaria dos homens durante as comemorações da Festa
da Penha.


Consideramos muito interessante essa interligação cultural que pôde ser percebida
durante a pesquisa entre as manifestações culturais estudadas. É uma relação que
nos faz pensar e entender que a cultura de Vila Velha está interligada de uma forma
que nem todos, ou quase ninguém, conhece. Essas conexões estão representadas
na figura 2 que traz o mapa onde as setas representam as interligações culturais.




Figura 2: Mapa das Manifestações Culturais de Vila Velha e as Relações Entre Elas
Fonte: Desenvolvido pelos alunos autores desta pesquisa
51



Como pode ser observado no mapa, as relações entre as manifestações foram
classificadas entre quatro grupos: relação dos catraieiros com congo e samba,
relação dos catraieiros com Convento da Penha, relação do congo com Convento da
Penha e a relação do congo com o samba.


Essa classificação das respectivas relações entre as manifestações culturais foi
baseada na pesquisa bibliográfica e entrevistas desenvolvidas neste trabalho, as
quais demonstravam pontos de encontros entres essas culturas.


Nas relações representadas pelas cores rosa (relação dos catraieiros com o congo e
o samba) e verde (relação do congo com samba), podemos destacar como
semelhança a dependência de verba externa, seja do governo ou de pessoas que se
agregam e investem na causa do grupo.


Para a relação Congo-Samba temos, adicionalmente, o fator histórico: ambos os
movimentos se ajudavam mutuamente quando os mesmos careciam de apoio da
comunidade e continuam próximos mesmo depois da expansão de ambos.


A relação catraieiros e Convento da Penha, representada no mapa pela seta laranja,
foi iniciada quando os catraieiros participavam da Festa da Penha incumbidos da
responsabilidade de carregar/ transportar a imagem da santa pelas catraias no
trajeto de Vitória até Vila Velha. O vínculo mantém-se até os dias atuais, com a
participação do grupo na romaria dos homens realizada durante as comemorações
da Festa da Penha.


Já a relação representada pela cor azul, entre congo e convento da Penha,
corresponde ao momento da festa do congo na qual há, em sua terceira e última
etapa de festejos, uma homenagem e pedido de benção a Nossa Senhora da
Penha. Nessa etapa, os congueiros, sobem o convento e fazem uma última
apresentação da sua festa, pedindo proteção a Nossa Senhora para as futuras
apresentações no decorrer do ano.
52



5.3   PRINCIPAIS DIFICULDADES E TRABALHOS FUTUROS


A pesquisa nos ajudou a ter uma noção melhor de culturas, muitas vezes
esquecidas, e encontrar uma maneira eficiente de auxiliar o corpo docente a
introduzir essas culturas no âmbito escolar.


Pesquisar o ensino é bastante complexo, e torna-se ainda mais complexo quando se
aborda a temática cultura. As interações nesse campo são imensas, não existindo
um caso isolado que facilite o estudo. Portanto, fazer uma ponte do ensino de
geografia com a cultura, seja ela local ou global, é uma tarefa muito difícil e que
exige muito tempo e dedicação.


Acreditamos que todos nós, integrantes do grupo, nos surpreendemos no decorrer
da pesquisa ao ver as relações entre as manifestações escolhidas. Relações essas
que nos ajudaram e nos motivaram ainda mais na preparação de um material
interdisciplinar, em que características de manifestações distintas e inter-
relacionadas são abordadas com uma mesma finalidade: permitir conhecer um
pouco mais da cultura do município de Vila Velha.


A partir do nosso trabalho, pretendemos não só deixar um sucinto material para
auxiliar ao corpo docente das escolas municipais e estaduais de Vila Velha, mas
também apresentar outras linhas de pesquisa desse assunto tão pouco trabalhado e
pesquisado no nosso Estado, a cultura.


Sugerimos, como uma continuação natural deste trabalho, que essa pesquisa seja
estendida para outras manifestações culturais, explorando maiores regiões
geográficas, ou seja, realizar a pesquisa também em outros municípios e nos
âmbitos Estadual e Federal. Também se apresenta como trabalho futuro
interessante   o   aprofundamento     em       alguma   das     manifestações     culturais
pesquisadas,   visando    obter   maior    detalhamento       histórico   (cronologia   dos
acontecimentos, influências políticas, sociais, econômicas) da mesma.
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  • 1. UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO CENTRO DE EDUCAÇÃO DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO, POLÍTICA E SOCIEDADE TÓPICO ESPECIAL DE ENSINO III RENATA EMERICH MORAES MIRANDA WESLEY CORNELIO DIAS HUDERLAN BRAGANÇA ZORDAN GEOGRAFANDO A CULTURA DE VILA VELHA / E.S.: CONTRIBUIÇÕES PARA OS PROFESSORES DE GEOGRAFIA VITÓRIA – E.S. 2010
  • 2. RENATA EMERICH MORAES MIRANDA WESLEY CORNELIO DIAS HUDERLAN BRAGANÇA ZORDAN GEOGRAFANDO A CULTURA DE VILA VELHA / E.S.: CONTRIBUIÇÕES PARA OS PROFESSORES DE GEOGRAFIA Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como parte da avaliação da disciplina de Tópicos Especiais de Ensino III do Curso de Geografia da Universidade Federal do Espírito Santo. Orientadora: Professora Doutora Marisa Terezinha Rosa Valladares. VITÓRIA – E.S. 2010
  • 3. RENATA EMERICH MORAES MIRANDA WESLEY CORNELIO DIAS HUDERLAN BRAGANÇA ZORDAN GEOGRAFANDO A CULTURA DE VILA VELHA / E.S: CONTRIBUIÇÕES PARA OS PROFESSORES DE GEOGRAFIA Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como parte da avaliação da disciplina de Tópicos Especiais de Ensino III do Curso de Geografia da Universidade Federal do Espírito Santo. COMISSÃO EXAMINADORA ______________________________________________ Professora Doutora Marisa Valladares Universidade Federal do Espírito Santo Orientadora ______________________________________________ Mestre Julio de Souza Santos Universidade Federal do Espírito Santo ______________________________________________ Pedagoga Lucineide Gomes Macedo EEEFM “Professora Maura Abaurre”
  • 4. Ao iniciar uma caminhada, é difícil prevermos se conseguiremos alcançar nossos objetivos porque nesse caminhar podem existir barreiras, porém uma grande qualidade é a coragem de não se abater com as dificuldades, levantar ao cair e começar novamente, nunca desistir. Porém ao terminarmos essa jornada, não há nada no mundo que seja mais gratificante do que concluirmos o que planejamos. Todas as dificuldades vividas são esquecidas, pelo ao menos por um momento, e após a ansiedade, novos planos, novos objetivos são traçados e começamos uma nova caminhada. É dessa forma que nos sentimos e gostaríamos de agradecer a Deus, primeiramente, por ter nos dado força para seguirmos em frente; à nossa família e aos amigos que estiveram conosco, nos apoiando e tendo paciência nos momentos mais difíceis. A vocês, dedicamos todo o nosso trabalho!
  • 5. AGRADECIMENTOS Aos professores da graduação em licenciatura, pelos ensinamentos e acompanhamento ao longo deste tempo em formação; A professora orientadora Doutora Marisa Terezinha Rosa Valladares, pela atenção dispensada colocando suas sábias palavras nos momentos de dificuldade; Aos profissionais que participaram das entrevistas concedendo-nos importantes informações que muito contribuíram para o desenvolvimento desta pesquisa; A todos que, de alguma forma, contribuíram com a elaboração deste trabalho.
  • 6. “A verdadeira educação consiste em pôr a descoberto ou fazer atualizar o melhor de uma pessoa. Que livro melhor que o livro da humanidade?” (Mahatma Gandhi)
  • 7. RESUMO Ao analisar os materiais ofertados pelas prefeituras e pelo estado, como representação de seus potenciais locais, pode-se observar a escassez de conteúdos voltados à questão geográfica e cultural. Desta forma, o presente trabalho tem como objetivo mostrar este problema cultural, procurando amenizá-lo ao propor sugestões de inserção e de intervenção programática no segmento final do ensino fundamental, assim como apresentar um material para as escolas de Vila Velha, na forma de uma cartilha, contando com informações das principais manifestações culturais de Vila Velha e entrevistas com alguns dos representantes culturais destas manifestações e com integrantes do corpo docente do município. Assim, numa abordagem de pesquisa-ação, foi realizada uma pesquisa bibliográfico-documental sobre a cultura do município canela verde e a partir dela, foram selecionadas expressões culturais sobre as quais se estruturou o processo de pesquisa em campo, valendo-se de entrevistas, filmagens e fotografias. A base teórica tem sustentação nos estudos de Geertz (1978) em Antropologia; Chauí (1994) em filosofia, Daolio (2004) na Educação e Claval (2001), Rosendahl e Corrêa (2002), Santos (1999), na Geografia, dentre outros estudiosos. Os sujeitos entrevistados foram selecionados junto às comunidades envolvidas com os eventos culturais escolhidos como representações da cultura de Vila Velha, pelo grupo. Os resultados desse estudo apontam para a necessidade de se investir, na Geografia Escolar, na formação de alunos e professores pesquisadores na própria comunidade escolar, assim como se detectou a necessidade urgente de atuar, geograficamente, fortificando a importância de se trabalhar a cultura dentro do âmbito escolar. A esperança que se manteve ao longo da pesquisa é a mesma que sustenta a proposta de socialização dos seus resultados: o enriquecimento da cultura local como ação geográfica importante para constituição de uma sociedade mais cônscia de sua importância na promoção da paz social, da sustentabilidade planetária e da dignidade humana. Palavras chave: 1. Geografia e Cultura, 2. Geografia de Vila Velha, 3. Geografia Escolar.
  • 8. ABSTRACT In reviewing the materials offered by municipalities and the state as a representation of your potential sites, one can observe the lack of content focused on geographic and cultural issue. Thus, this study aimed to show this cultural problem, trying to soften it to propose suggestions for integration and programmatic interventions in the final segment of basic education, as well as presenting a material for the schools of Vila Velha, in the form of a booklet, with details of the main cultural events of Vila Velha and interviews with some of the representatives of these cultural manifestations and with members of the faculty council. Thus, an approach of action research, a survey was conducted bibliographical-documentary about the culture of the city cinnamon green and from it were selected cultural expressions for which it has structured the process of field research, drawing on interviews, footage and photographs. The theoretical basis has support in studies of Geertz (1978) in Anthropology; Chauí (1994) in philosophy, Daolio (2004) Education and Claval (2001), Rosendahl and Corrêa (2002), Santos (1999), Geography, among other scholars. The interviewees were selected in the communities involved with cultural events chosen as representations of the culture of Vila Velha, by the group. The results of this study indicate the need to invest in School Geography, training of students and faculty researchers in their own school community, as we detected an urgent need to act, geographically, and strengthens the importance of working within the culture the school. Hope that is maintained throughout the research is the same that underpins the proposed socialization of their results: the enrichment of local culture as important to share geographical constitution of a society more aware of its importance in promoting social peace, the planetary sustainability and human dignity. Key-words: 1. Geography and Culture, 2. Geography of Vila Velha, 3. School Geography.
  • 9. LISTA DE FOTOGRAFIAS FOTOGRAFIA 1: IMAGENS DA FESTA DA PENHA.................................................................... 34 FOTOGRAFIA 2: IMAGENS REPRESENTATIVAS DO CONGO.................................................. 37 FOTOGRAFIA 3: IMAGENS REPRESENTATIVAS DOS CATRAIEIROS.................................... 39 FOTOGRAFIA 4: IMAGENS REPRESENTATIVAS DO SAMBA.................................................. 43
  • 10. SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO .................................................................................. 11 2 SELECIONANDO DINÂMICAS PARA GEOGRAFAR A CULTURA LOCAL... .............................................................................................. 13 3 ENTRE A CULTURA E A IDENTIDADE CULTURAL, UMA GEOGRAFIA ESCOLAR. .................................................................... 18 3.1 MANIFESTAÇÕES CULTURAIS NO ESPAÇO GEOGRÁFICO ..... 23 4 DAS MANIFESTAÇÕES CULTURAIS AO DESEJO DE UMA GEOGRAFIA ESCOLAR LOCAL ........................................................ 28 4.1 O CURRÍCULO ESCOLAR............................................................. 28 4.1.1 As Contribuições dos Parâmetros Curriculares Nacionais – PCN’s................................................................................................... 30 4.2 MANIFESTAÇÕES CULTURAIS DE VILA VELHA......................... 32 4.2.1 A Festa da Penha....................................................................... 33 4.2.2 O Congo ..................................................................................... 35 4.2.3 Os Catraieiros ............................................................................ 38 4.2.4 O Samba..................................................................................... 41 4.3 A IMPORTÂNCIA E O DESEJO DE UMA GEOGRAFIA ESCOLAR LOCAL ................................................................................................. 44 5 DIZENDO DO QUE APRENDEMOS: POR UMA GEOGRAFIA CULTURA E LOCAL ........................................................................... 47 5.1 CONTRIBUIÇÕES PARA A REDUÇÃO DA CARÊNCIA CULTURAL ............................................................................................................. 47 5.2 RELACIONAMENTOS INTERCULTURAIS .................................... 49 5.3 PRINCIPAIS DIFICULDADES E TRABALHOS FUTUROS ......... 52 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................. 53 REFERÊNCIAS.................................................................................... 55 APÊNDICE..............................................................................................57
  • 11. APÊNDICE A: TERMO DE CONSENTIMENTO PARA PARTICIPAÇÃO EM PESQUISA..................................................................................... 58 APÊNDICE B: MODELO ROTEIRO DE ENTREVISTA COM O CORPO DOCENTE............................................................................................ 60 APÊNDICE C: MODELO QUESTIONÁRIO DE PESQUISA PARA OS MANIFESTANTES CULTURAIS .......................................................... 61 APÊNDICE D: TRANSCRIÇÃO DAS ENTREVISTAS .......................... 62
  • 12. 11 1 INTRODUÇÃO1 O município de Vila Velha é um dos mais lembrados quando se pensa a geografia capixaba. Linda por suas praias e rica em sua história, a cidade inspira poesias e pesquisas desenvolvidas por muitos interessados em melhor conhecer as riquezas desta cidade. Este trabalho se originou da inquietação de integrantes do grupo, moradores do município de Vila Velha, que perceberam o vazio de estudos acadêmicos acerca do tema. Essa constatação animou o grupo na caminhada que culmina com a construção deste trabalho, e o envolvimento com o município justifica a escolha da temática pesquisada. Percebe-se que a escolha do tema justifica-se por indagações e vivências pessoais por parte dos autores. Nesse sentido, Ferrrari (1982 apud GIL, 1999, p. 51) aponta que [...] O pesquisador, desde a escolha do problema, recebe influência de seu meio cultural, social e econômico. A escolha do problema tem a ver com grupos, instituições, comunidades ou ideologias com que o pesquisador se relaciona. Assim, na escolha do problema de pesquisa podem ser verificadas muitas implicações, tais como a relevância, oportunidade e comprometimento. Certamente, a subjetividade e a percepção pessoal influenciaram na escolha do tema de pesquisa. Compreende-se, então, que “Somos no final de tudo, pesquisadores de nós mesmos, somos nosso próprio tema de investigação” (FERRAÇO, 2003, p. 158). Sendo assim, a pesquisa visa responder ao seguinte problema de pesquisa: ● Quais os principais desafios encontrados para o ensino da geografia cultural nas escolas públicas do município de Vila Velha? Como objetivo geral, pretendeu-se pesquisar as manifestações culturais de Vila Velha, analisando como elas são trabalhadas na disciplina de Geografia nas 1 Correção ortográfica e normatização feita por Danuza Barbirato, graduada em Engenharia Elétrica e feita por Gisele Resende de Oliveira, graduada em Pedagogia e Pós Graduada em Educação.
  • 13. 12 escolas, estabelecendo-se como meta, desenvolver uma cartilha pedagógica, visando contribuir com o trabalho dos professores, em especial aqueles da escola pública, em torno da temática Geografia Cultural do município. E para se alcançar tal objetivo, foram traçados os seguintes objetivos específicos: ● discorrer sobre a identidade e a cultura de Vila Velha; ● entrevistar pessoas envolvidas com a cultura e o ensino da Geografia; ● analisar as manifestações culturais no espaço geográfico de Vila Velha; ● refletir sobre as manifestações culturais e a geografia escolar; ● descrever as principais manifestações culturais de Vila Velha ● desenvolver uma cartilha para auxiliar no ensino da geografia cultural de Vila Velha. Um trabalho de pesquisa se torna relevante de acordo com as novas informações que ele pode fornecer (ARAUJO, 2001). Nesse sentido, a relevância desta pesquisa reside na proposta de enriquecer a incipiente produção bibliográfica existente no mercado sobre a temática, pouco abordada em livros e artigos científicos, com a proposta de construir uma cartilha, ao final do estudo, material que servirá a outros pesquisadores, professores e alunos que estudam a geografia cultural de Vila Velha. Assim, a pesquisa está estruturada em seis partes sendo, a primeira parte, a introdução, onde constam informações gerais sobre o desenvolvimento da pesquisa; o capítulo dois, sobre a metodologia, onde relatamos os procedimentos metodológicos para se alcançar o objetivo geral proposto; o capítulo três, que discorre sobre a identidade, a cultura e a geografia escolar; o quarto capítulo, que discorre sobre as manifestações culturais de Vila Velha; o quinto capítulo, que aborda a proposta da construção da cartilha; as considerações finais, onde constam as informações finais e as aprendizagens construídas ao longo da pesquisa. Além desses capítulos, dispomos as referências, onde constam as informações gerais sobre os autores citados e obras consultadas; e, por fim, nos apêndices, todos os arquivos construídos e dados coletados nas entrevistas realizadas. Esperamos que a temática abordada, no desenho elaborado pela metodologia escolhida e pela pesquisa realizada, seja relevante para outros pesquisadores, bem
  • 14. 13 como professores e alunos que se interessem em estudar as manifestações culturais do município de Vila Velha. 2 SELECIONANDO DINÂMICAS PARA GEOGRAFAR A CULTURA LOCAL... Ao traçarmos a metodologia de trabalho, pensamos em fazer um mapeamento das principais manifestações culturais do município e a partir desse estudo, realizamos um estudo em campo, efetuando entrevistas com representantes dessas manifestações e com alguns docentes do município de Vila Velha. Para registrar as principais expressões culturais, decidimos fazer uso de fotografias e filmagens. Planejamos reunir essas produções em uma cartilha pedagógica, pretendendo disponibilizá-la para a rede de ensino municipal, em formato impresso e digital, no Laboratório de Ensino e Aprendizagem em Geografia (LEAGEO) na Universidade Federal do Espírito Santo (UFES). Sendo assim, adotamos como abordagem metodológica a Pesquisa-ação, como ensinam Thiollent e André (apud VALLADARES, 2000), considerando que: a) a pesquisa educacional deve definir exigências emergentes do contexto atual, bem como a utilização do conhecimento na efetiva transformação de situações; b) a orientação da pesquisa educacional deve promover o controle das funções sociais do conhecimento para minimizar a burocracia e a tecnocracia, maximizando seu potencial para transformações sociais desejáveis; c) a pesquisa educacional com sentido projetivo possui dimensão construtiva, remetendo a uma aprendizagem coletiva, constante, problematizadora e, portanto, capaz de promover autonomia; d) a questão normativa manifesta na articulação entre pesquisa e ação é resolvida por deliberação coletiva, gerando vivência da cidadania e reciclagem de idéias, enriquecidas pelo conhecimento a ser praticado pelo grupo;
  • 15. 14 e) a posição do pesquisador, como possuidor de um conhecimento prévio, não é promessa de transmissão de conhecimentos, nem de obtenção de informação, antes é perspectiva de reelaboração de conhecimentos num processo multidirecionado e de ampla interação. Entendemos que com essas perspectivas estaríamos indo ao encontro de nossas aspirações na pesquisa com a atemática selecionada. Como a pesquisa-ação adota diversos tipos de procedimentos metodológicos, selecionamos aqueles que nos pareceram adequados ao estudo da temática. Todavia, nos mantivemos abertos ao que nos indicaria o decorrer do estudo, que exigiu as seguintes opções: 1. Pesquisa exploratória e descritiva - Essa pesquisa se utiliza dos procedimentos selecionados como cabíveis ao estudo. Em nosso caso, foi o momento de selecionar bibliografia, conversar com professores, ler o que havia disponível imediatamente, observar o objeto de estudo – a cultura de Vila Velha. É um momento do estudo. Valemo-nos dela, no início do estudo, buscando o que Vergara (2000, p. 47) explicita quanto a este momento da pesquisa: [...] a investigação explicativa tem como principal objetivo tornar algo inteligível, justificar-lhe os motivos. Visa, portanto, esclarecer quais fatores contribuem, de alguma forma, para a ocorrência de determinado fenômeno. 2. Pesquisa bibliográfica: para que fosse construída essa pesquisa, foi necessário realizar um levantamento e um estudo bibliográfico, conforme explica Ruiz (1996, p. 50) A pesquisa teórica tem por objetivo ampliar generalizações, definir leis mais amplas, estruturar sistemas e modelos teóricos, relacionar e enfaixar hipóteses numa visão mais unitária do universo e gerar novas hipóteses por força de dedução lógica. Além disso, supõe grande capacidade de reflexão [...]. 3. Pesquisa documental: para Gil (1999), esse tipo de pesquisa muito se assemelha ao levantamento bibliográfico, diferenciando-se apenas nas fontes e suas origens, sendo documentos oficiais construídos pelos órgãos competentes. Neste estudo, tal procedimento se deu com o estudo da lei municipal de abairramento nº 4.707/08, assim como com os documentos oficiais sobre os currículos escolares – Parâmetros Curriculares de Geografia (PCNs).
  • 16. 15 4. Realização de entrevistas: de acordo com Cury (2000) esse método de pesquisa permite que o pesquisador esteja mais próximo do sujeito da pesquisa, podendo explorar mais informações. Decidimos por entrevistas semi-estruturadas, isto é, entrevistas com um roteiro pré-organizado, mas com abertura para inclusões ensejadas pelos entrevistados, assim como pelo entrevistador a partir das respostas obtidas. a) Roteiro de entrevistas: O roteiro das entrevistas só foi definido após estudos preliminares, que nos deram pistas sobre o que deveria ser investigado. Ainda assim, adotamos o caráter da entrevista semi-estruturada, razão pela qual os roteiros se mantiveram em aberto, mesmo no decorrer da entrevista. Essa prática fez com que as questões ficassem diferenciadas entre os sujeitos pesquisados. Tivemos algumas dificuldades na formulação das perguntas que seriam da entrevista, pois era desejado evitar algo muito técnico ou rebuscado, que não pudesse ser explorado como material de estudo nas escolas de ensino básico. Assim, elaboramos algumas perguntas mais simples, que favorecessem o diálogo nas entrevistas tanto com representantes populares, quanto outros representantes de instituições administrativas, escolares ou acadêmicas, com maior oportunidade de estudos. As perguntas para representantes do corpo docente buscaram tratar do conteúdo de geografia cultural, trabalhado em sala de aula. b) Sujeitos da pesquisa: Ferrão (2003) explica que os sujeitos de uma pesquisa devem ser selecionados de acordo com sua capacidade de fornecer as informações necessárias para que se responder ao problema proposto. Esse procedimento se deu com profissionais que lidam com o desafio do ensino da cultura canela verde nas escolas públicas em Vila Velha e com os sujeitos envolvidos com as manifestações culturais. Houve a divisão dos entrevistados em dois grupos. Um grupo foi formado por dois membros do corpo docente da rede ensino de Vila Velha: uma pedagoga e um professor de geografia. O outro grupo reuniu representantes das manifestações culturais selecionadas. Para falar da Festa da Penha, entrevistamos um frei da ordem religiosa que cuida do Convento da Penha, e, conseqüentemente da Festa da padroeira do Estado. Entrevistamos o presidente da Escola de Samba Mocidade
  • 17. 16 Unida da Glória; o presidente da Associação dos Catraieiros do Espírito Santo e a vice-presidente da Associação de Bandas de Congo de Vila Velha. Os entrevistados apresentaram características pessoais muito diferentes, com histórias de vida diversificadas e condições de trabalho heterogêneas. Contudo, do ponto de vista do posicionamento cultural apresentaram características comuns, ligados tanto pelo interesse e dedicação pela cultura, quanto pelas próprias manifestações em si, defendendo a interação entre elas, a sua propagação e a luta pelo incentivo popular e institucional para que os eventos culturais tenham perpetuidade nas comunidades locais. 5. Filmagem, gravação e fotos: Valemo-nos dos artefatos tecnológicos que nos permitissem captar com mais fidelidade o que pesquisamos em campo. Para isso, solicitamos aos sujeitos envolvidos, a devida autorização, conforme prevê a ética da pesquisa. Os produtos se tornaram representações das manifestações pesquisadas (fotos e filmagens) assim como se fizeram documentos preciosos para validação de nossas aprendizagens e compreensões elaboradas ao longo do estudo. Todas as entrevistas foram feitas em um formato audiovisual, incluindo a gravação da fala dos entrevistados e a filmagem deles no decorrer da entrevista. Escolhemos efetuá-las no local de atuação de cada entrevistado, exigindo uma adaptação por parte de cada um de nós à dinâmica do meio dos nossos parceiros neste trabalho – o ambiente das docas, com o catraieiro; a solenidade do santuário; a peculiaridade do barracão do samba e na Casa da Cultura da Barra do Jucu com o Congo. Isto favoreceu nossas análises das condições geográficas locais para o desenvolvimento das atividades feitas tanto pelos manifestantes, como por parte dos profissionais da educação. 6. Análise dos dados coletados: os dados foram analisados qualitativamente, dispensando análise quantitativa, uma vez que se trata de uma temática não quantificável, mas, vivenciada por cidadãos, educadores, educandos, pesquisadores e trabalhadores da cultura do município de Vila Velha. Como enfatiza Moreira, Não há hipóteses pré-concebidas [...] os pesquisadores não coletam informações ou provas com o objetivo de corroborar ou refutar hipóteses construídas previamente; ao invés disto, as abstrações são construídas à medida que os dados coletados vão se agrupando, a pesquisa qualitativa é
  • 18. 17 descritiva, tem maior interesse no processo do que meramente nos resultados ou produtos (MOREIRA apud ROQUE, 2004, p. 21). 7. Criação da cartilha: Essa cartilha foi constituída por uma síntese do nosso trabalho, na expectativa de ser um auxílio aos professores sobre o tema geografia cultural de Vila Velha. Considerando a carência de materiais bibliográficos a respeito, realizamos uma breve historicização de cada manifestação pesquisada; evidenciamos sua localização, destacando, também, a importância da cultura local, sua preservação e de uma maior retomada do tema no ambiente escolar. Nela incluímos as filmagens produzidas a partir das entrevistas, bem como as fotos e o texto integral das entrevistas. 8. Elaboração de mapas: Após estudos preliminares, sobre a cultura local, selecionamos as manifestações culturais que mais se evidenciaram na bibliografia consultada e, então, elaboramos o mapa cultural de Vila Velha, segundo nossa concepção de pesquisa: o Congo na Barra do Jucu; o Samba no bairro da Glória; a Festa da Penha no Convento da Penha e na Prainha e o ofício dos Catraieiros em Paul. A partir do mapeamento, fomos a campo fazer as entrevistas, as fotografias e as filmagens. Essa trajetória metodológica nos fortaleceu quanto à importância da temática para a formação dos alunos como cidadãos atuantes em sua comunidade local, com sua identidade cultural valorizada pelo resgate das vivências atuais, reconhecendo suas origens na vida de antepassados, entendendo que é por meio da cultura que todos nós vamos dar sentido a vida. Afinal, o indivíduo se forma imitando e aprendendo.
  • 19. 18 3 ENTRE A CULTURA E A IDENTIDADE CULTURAL, UMA GEOGRAFIA ESCOLAR. Há muito tempo, os diversos segmentos da ciência, principalmente as ciências humanas, buscam entender o mundo e as situações que o envolvem. Essas ciências evoluíram conforme as modificações socioeconômicas, políticas, ambientais, culturais e espaciais ocorridas no mundo. A cultura é entendida de maneira distinta pelos pesquisadores de cada ciência, por causa das peculiaridades de cada campo cientifico, e não há uma única definição. Os estudos da geografia cultural possuem cinco temas implícitos em si: cultura, área cultural, paisagem cultural, história da cultura e ecologia cultural, que constituem juntos o seu núcleo (CORRÊA; ROSENDAHL, 2007). Não deixando de considerar as comunidades de pessoas ocupando um determinado espaço, amplo e geralmente contínuo, é preciso, ainda, levar em conta as numerosas características de crenças e comportamento comuns entre os membros pertencentes a essas comunidades. A cultura é uma chave para a compreensão sistemática de diferenças e semelhanças entre os homens. (CORRÊA; ROSENDAHL, 2007). E Paul Claval citado por Silva e Martins (2010) esclarece que: A cultura é a soma dos comportamentos, dos saberes, das técnicas, dos conhecimentos e dos valores acumulados pelos indivíduos durante suas vidas e, em uma outra escala, pelo conjunto dos grupos de que fazem parte. A cultura é herança transmitida de uma geração a outra. (...) Os membros de uma civilização compartilham códigos de comunicação. Seus hábitos cotidianos são similares. Eles têm em comum um estoque de técnicas de produção e de procedimentos de regulação social que asseguram a sobrevivência e a reprodução do grupo. Eles aderem aos mesmos valores, justificados por uma filosofia, uma ideologia ou uma religião compartilhadas (2010, p 63). Se falarmos da vida em sociedade em que estamos presentes, a cultura retrata todas as nossas atuações, pois está em qualquer lugar, seja no trabalho, na relação conjugal, na vida financeira, na vida religiosa, na vida social em geral. Na sociedade humana tudo está formado em relação aos modos de pensar, de como agir e nas regras em geral.
  • 20. 19 Podemos dizer assim, que temos maneiras distintas de cultura, a cultura clássica e a cultura popular. A cultura clássica, também chamada de erudita, é caracterizada por ser própria dos intelectuais e artistas da classe dominante da sociedade, a segunda considerada também como espontânea, advém dos trabalhadores urbanos e rurais (CHAUÍ, 1994). A cultura erudita está interligada às classes dominantes da sociedade e por isso, ela é reconhecida como uma cultura oficial, sendo valorizada pela educação formal no processo de organizar os conteúdos que serão trabalhados em sala de aula. Já a cultura espontânea ou popular é aquela tirada da vivência das pessoas, dos povos “[...] é o acervo de conhecimento apreendido assistematicamente, ao saber da vivência, fruto da experiência empírica do homem, no contexto informal com seu semelhante” (MACRUZ, 1989, p.10). Podemos realçar um lado muito importante que é como absorvemos as idéias de cultura tanto como uma maneira de preservá-la, como forma de modificação social que são mostradas pela linha de pensar, agir e sentir o mundo e as ligações do homem seja através de crenças, da língua, pelas práticas, um artesanato, culinária entre muitos outros. É nesse sentido que Santos (1994) nos atenta em sua discussão, que a cultura é uma formação histórica, seja como concepção, seja como processo da sociedade. Ou seja, a cultura não é algo simples, não é algo biológico ou físico. Ao contrário, ela é um conjunto de vidas humanas. Este fato nos faz compreender não só a idéia de cultura, mas também a importância que ela passa a ter. Apresentamos aqui a cultura como fator relevante no processo de ensino- aprendizagem e formação da identidade do discente. Dentro da Geografia essa movimentação pode ser vista nas obras de autores do século XIX como Ratzel, La Blache, Humboldt e Ritter entre outros, cujos trabalhos estão ligados à Geografia Humana.
  • 21. 20 Nesse contexto, muitos estudos foram realizados para entender as transformações do espaço geográfico, como também para nortear uma geografia escolar indispensável na formação crítica do aluno. A partir da década de 1990, o cunho crítico foi evidenciado a partir da sua ligação com a abordagem cultural; esse período fica marcado pela importância da geografia cultural renovada. Esse processo de renovação da geografia cultural se deu no contexto da valorização da cultura que ficou conhecido como “virada cultural”. A geografia cultural é atualmente uma das mais emergentes áreas do trabalho geográfico. Abrangendo desde as análises de objetos do cotidiano, representação da natureza na arte e em filmes, até estudos do significado das paisagens e a construção social de identidades, baseadas em lugares, ela cobre numerosas questões. Seu foco inclui a investigação da cultura material, costumes sociais e significados simbólicos, abordados a partir de uma série de perspectivas teóricas (MCDOWELL, 1996). Da mesma forma como McDowell (1996) considera essa área uma das mais importantes do trabalho geográfico, nós também nos interessamos por essa parte da geografia. O entusiasmo é alimentado pelo prazer, pelo estético, pelo envolvente ambiente das manifestações culturais, no bucólico dos lugares onde acontecem, pela paixão daqueles que militam com a cultura. Com o intuito de nos aprofundar na temática Cultural e inseri-la no âmbito escolar, usando como instrumento a geografia, pesquisamos as manifestações culturais mais evidentes, presentes no município de Vila Velha – ES, selecionando entre elas, aquelas que nos pareceram mais expressivas: A Festa da Penha, o congo, os catraieiros e o samba. Vários autores de diferentes aéreas do conhecimento como Geertz (1978) da Antropologia, Chauí (1994) da filosofia, Daolio (2004) da Educação e Claval (2001), Rosendahl; Corrêa (2002), Santos (1999), Sauer (2003), da Geografia, entre outros, se preocupam também com essa questão, do que é geografia cultural, e nos mostram em suas obras o que se entende por Cultura, como fator importante na vida - vida essa marcada por uma troca de experiências proporcionadas nos contatos entre indivíduos nas sociedades. Antes de abordarmos neste trabalho o conceito de
  • 22. 21 cultura, lembraremos de Corrêa e Ronsedahl (2007), a seguinte reflexão “Para os que praticam e ensinam, a geografia cultural não é suscetível de definição fácil.” Nós sabemos que os alunos, assim como todos nós, vêm com identidades forjadas ao longo de suas vidas, influenciados por todos estes pontos trazidos por Claval (apud SILVA e MARTINS, 2010). Um desses pontos são as manifestações culturais locais que estão inseridas no cotidiano do aluno. Identidade cultural como descreve Miranda (2000) é a soma de significados que estruturam a vida de um indivíduo ou de um povo. Parte-se do princípio de que será necessário ter em mente, antes de mais nada, que a identidade cultural não é mais uma, porém múltipla. Assim, falar de identidade cultural revela-se uma contradição: nossa vida se entrelaça com diferentes vivências culturais, eivando-nos de diversas identidades culturais. As culturas nacionais formam um grande caldeirão cultural, onde se misturam as histórias, tradições, manifestações de danças, de comidas, de artes, de religiões, de modos de viver de ancestrais reunidos pela vivência comum num dado território. A parte essencial de identidade cultural deriva dessa mistura, que, do sentimento de pertença nacional fabrica o sentimento diversificado da identidade local, pela auto-estima dos grupos mais próximos. A narrativa da cultura nacional é contada inúmeras vezes na literatura nacional, na mídia, na história, na música e na cultura popular. Desta forma, a cultura popular é um dos elementos que simbolizam e dão sentido à nação, à cultura nacional. Assim, se constitui como uma das fontes de identidade cultural, multiplicando-a, diversificando-a em muitas (HALL, 2006). Pode-se conceber identidade cultural como uma “interação” entre o eu e a sociedade. Como o próprio conceito com o qual estamos lidando, “[...] identidade, é demasiadamente complexo, muito pouco desenvolvido e muito pouco compreendido na ciência social contemporânea” (HALL, 2006, p. 08). Desta forma, é difícil encontrarmos uma definição que encerre vários conceitos. Vendo essa relevância e a escassez bibliográfica e com que é trabalhada no ambiente escolar, demos inicio ao trabalho. A escassez de trabalhos pode ser verificada na seguinte fala do professor de geografia da escola Godofredo
  • 23. 22 Schneider, quando questionado se ele considera importante abordar a cultura de Vila Velha nas aulas de Geografia. Sim, o maior problema de trabalhar a cultura de canela-verde é a falta de material. Uma vez eu fui fazer um levantamento e tive dificuldade. [...]. Aqui em Vila Velha você não encontra a história dos bairros. E a escassez com que é trabalhada no ambiente escolar, nessa outra entrevista com a pedagoga da Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio “Professora Maura Abaurre”, ganha destaque: Existem dificuldades em relacionar a cultura Canela Verde, com os conteúdos que você acha que devem ser ministrados nas aulas de geografia? Eu vejo que o professor, às vezes, tem uma certa dificuldade porque ele tem que seguir um programa. Existe um programa você querendo ou não pro vestibular onde vai ver raramente questões voltadas especificamente para cada município. Essa afirmação serviu de mais um incentivo à nossa escolha de pesquisa, serviu- nos de alento na insistência de levar a cultura local para a escola, por meio da geografia escolar, conforme objetivo desse trabalho. A produção do trabalho, além de servir como subsídio ao trabalho docente, permite a discussão de como o ensino da cultura local e consequente relação com o cotidiano do aluno pode colaborar para um melhor aprendizado do conteúdo de geografia, no âmbito das discussões curriculares municipais, entendendo a força política no espaço municipal dessa inserção no ensino escolar. Por exemplo, quando o representante da manifestação da Festa da Penha nos responde se houve épocas em que a Festa da Penha foi mais evidenciada. Eu acho que cada festa tem seu caráter próprio do tempo, da data, às vezes até conforme o tempo ajuda, o tempo bom, não ter muita chuva, coisas assim. As peripécias do tempo favorecem ou não favorecem a festa. Inclusive nesse ultimo ano, tivemos um tempo muito favorável, teve chuva mansa, não teve chuva violenta. Teve sol, teve calor. Tudo isso, mas dentro 2 de uma medida. Então ficou tranqüilo [...] Vimos neste discurso, algumas possibilidades de se trabalhar conteúdos de geografia vinculados ao cotidiano como, por exemplo, pedir para os alunos realizarem uma pesquisa dizendo por que o tempo estava com aquelas características no dia da festa, em qual estação do ano geralmente acontece o 2 Ver Apêndice D.
  • 24. 23 evento e as principais características dessa estação, o que poderia explicar o motivo da chuva na data do evento. É importante que a geografia escolar tenha essa relação com a vida cotidiana dos alunos, para que não se guie a aprendizagem apenas por repetições, e que o aluno tenha a oportunidade de criação. Essa busca vai permitir uma relação entre a vida cultural e social, por intermédio da geografia. Lima e Vlach (2002) nos afirmam esta questão de que a geografia real, quando vivenciada, é favorável ao aluno: [...] os manuais tradicionais não enfatizam a compreensão do saber geográfico historicamente acumulado, dificultando a visão da Geografia real, vivenciada no seu cotidiano e tão necessária para melhorar as relações entre o homem e a natureza. Ao analisarmos essas relações de prática e teoria em possibilidades para o ensino da geografia escolar, podemos compreender como é importante trazer a manifestação cultural para a discussão do que se vive, como expressão de conhecimento sistemático, na escola. A Geografia escolar deveria ter um papel mediador entre a identidade e o processo de ensino e ainda da propagação da cultura, neste caso integrar a cultura local do município de Vila Velha com a identidade cultural nacional, como uma de suas muitas faces. Essa prática vai permitir uma relação entre a vida cultural e social por intermédio da geografia. Neste pensamento de influências na vida cotidiana do aluno, podemos dizer que a identidade de uma comunidade ou de um indivíduo pode sofrer, ou não, influência dessas manifestações, mesmo não vivenciando de perto tais culturas. 3.1 MANIFESTAÇÕES CULTURAIS NO ESPAÇO GEOGRÁFICO Buscando espacializar as manifestações por nós apresentadas, elaboramos um Mapa, mostrando a localização de cada uma daquelas manifestações selecionadas
  • 25. 24 por nós. A figura 1 mostra o mapa de Vila Velha e suas manifestações culturais destacadas. Esse mapa, mostrado na Figura 1, teve que ser criado pelo grupo, uma vez que não encontramos nenhum mapa cultural referente ao município de Vila Velha. Essas manifestações em nosso trabalho estão representadas e presentes em quatro das cinco regiões políticas de Vila Velha: Centro, Grande Aribiri, Grande Cobilândia e Grande Jucu.3 Figura 1: Manifestações Culturais do Município de Vila Velha Fonte: Desenvolvido pelos alunos autores desta pesquisa 3 Somente na região do Grande Ibes não foi encontrada em nossas pesquisas nenhuma informação sobre representação cultural, das que foram pesquisadas.
  • 26. 25 Localizamos as quatro manifestações culturais mais importantes do município de Vila Velha utilizando a mais recente divisão política do município. As áreas destacadas – Centro, Grande Ibes, Grande Aribiri, Grande Cobilândia e Grande Jucu – contemplam 91 bairros. Vendo as delimitações feitas desses locais podemos observar que estão bastante pontuadas pelas características históricas, culturais, geográficas e sociais de cada comunidade, fazendo surgir uma sistematização cultural em Vila Velha. Podemos dizer, então, que a organização desse espaço está atrelada aos focos culturais existentes em suas regiões, desencadeando, assim, uma tremenda complexidade, rica para se tratar em sala de aula, considerando os pressupostos da geografia. Devemos ter em mente que a cartografia é uma ferramenta para ensinar a geografia, por isso não podemos deixar de destacar que o sucesso em trabalhar com qualquer meio da cartografia depende de o leitor absorver a totalidade da informação contida na representação de elementos no meio cartográfico, oriundos de forma histórica, cultural e tradicional, de uma perspectiva geográfica (ALMEIDA, 2007). As aulas de campo, como o professor Vitor E. F. Viegas demonstrou em sua entrevista, são um excelente recurso para propiciar, de forma clara, um aprendizado sobre a temática cultura. Contudo, para além do contato dos alunos com elementos práticos dos eixos culturais do município, é preciso propiciar uma formação reflexiva sobre a cultura local, onde se faz necessário o contato com material bibliográfico- documental, que insistimos não estar disponível no mercado livreiro e na escola de Vila Velha, deixando o aluno à mercê dessa experiência empírica do que é cultura. Os apontamentos abordados permitem entender que “[...] a cultura é a própria condição de vida de todos os seres humanos. É produto das ações humanas, mas é também processo contínuo, pelo qual, as pessoas dão sentido às suas ações. Constitui-se em processo singular e privado, mas também é plural e publico. É universal, porque todos os humanos a produzem, mas é também local, uma vez que é dinâmica específica de vida que significa o que o ser humano faz” (DAOLIO, 2004, p. 07). Partindo desses parâmetros, pode-se ter uma perspectiva de que estudar a cultura propicia a criação de valores que irão alavancar a formação de um cidadão
  • 27. 26 demasiadamente mais consciente da importância dos aspectos culturais, materiais e imateriais do seu habitat. De acordo com essa visão, a cultura é entendida como uma forma que contém sentido e mobilidade à vida de um indivíduo em algumas maneiras, se não todas. Já outros autores, que ajudaram na formação e aperfeiçoamento do estudo, o entendimento sobre Cultura nos leva, a saber, que estão relacionados a dar valor aos pormenores do local, das raízes e da identidade do povo canela verde. È possível afirmar então, que a cultura é a maneira como o aluno tem a chance de viver e reconhecer suas raízes culturais. A cultura de um povo tem que ser desfrutada e conhecida, pois é desta forma que todos se localizam em sua origem e cultura local (GALVÊAS, 2005). Devemos ter como pressuposto dessa questão, que os canelas verdes de cada distrito têm um pensar sobre o seu município de acordo com a manifestação cultural mais expressiva em seu lugar. Conforme Chauí (1994), a Cultura é a forma como as pessoas se tornam mais humanas por meio do exercício permanente das expressões sociais, econômicas, políticas, religiosas, artísticas e intelectuais. Pensando dessa maneira e considerando que a Cultura imediata é aquela local, reforça-se a nossa compreensão de que é preciso dar destaque à Geografia cultural nas escolas. As manifestações culturais tradicionais de Vila Velha estão muito mais enraizadas do que se imagina. Nas escolas ou colégios do município, de forma geral, não são plenamente trabalhadas, mesmo se tendo a idéia também afirmada na entrevista feita ao Frei Pedro Engel ao salientar que “o ensino deve ser ecumênico”. Porém só se encontra essa idéia no papel, pois como o professor Vitor E. F. Viegas, em sua entrevista, destaca em “não ter material didático suficiente sobre a cultura de Vila Velha para trabalhar em sala de aula”. Assim é vital a criação de suporte ao profissional da geografia para o desenvolvimento desse aprendizado facilitando o conhecimento, para os alunos do município, das características culturais de Vila Velha nas dimensões sociais, materiais e ambientais, contribuindo assim, progressivamente para a noção de identidade capixaba e o sentimento de pertinência ao solo desse Estado.
  • 28. 27 Como o professor Vitor E. F. Viegas deixa claro em sua entrevista, até pouco tempo, a maioria da população de Vila Velha era formada por pessoas de fora, de estados vizinhos, e agora que está surgindo um povo tipicamente local, formando assim uma nova identidade canela verde. Daí entendemos que uma cultura típica do local vem a ser construída com o tempo e sempre está se transformando de acordo com influências externas. As atitudes do professor Vitor E. F. Viegas estão bastante atreladas, em uma esfera de ação condizente em ter sempre Vila Velha em todas as suas abordagens como referência fazendo haver, a todo instante, contatos dos seus alunos com aspectos de sua terra. A partir disso podemos observar que o sentir de forma constante faz surgir a identidade cultural de um indivíduo.
  • 29. 28 4 DAS MANIFESTAÇÕES CULTURAIS AO DESEJO DE UMA GEOGRAFIA ESCOLAR LOCAL Neste capítulo, são destacadas algumas das principais manifestações culturais presentes no município de Vila Velha. Nele argumentamos sobre o desejo e importância de uma geografia escolar que inclua em sua ementa curricular conteúdos referentes à cultura local. 4.1 O CURRÍCULO ESCOLAR Embora seja um termo bastante conhecido entre os profissionais da educação, o currículo escolar ainda é um documento pouco compreendido do ponto de vista saber-fazer. Engavetá-lo ou simplesmente escrevê-lo como documento e não como prática, são atitudes que muitas escolas adotam por desconhecerem ou ignorarem a importância de se estabelecer um currículo escolar vivido, voltado para a valorização geográfica da escola, considerando o seu município. De acordo com Mota e Barbosa (2002) Os estudos curriculares representam [...] um poderoso artefato para o movimento de observação, reflexão e intervenção na dinâmica escolar. Possibilitam compreender o que se processa no seu interior e os vínculos entre o que se vive na escola e a comunidade onde esta se localiza. De igual forma, possibilitam ainda (des)estabelecer limites entre o que é "específico" da escola e o que "pertence" ao conhecimento da sociedade em geral. Nesse sentido, conceituar currículo escolar não é uma atividade muito simples. Ela requer uma série de ações que expliquem a escola na sua especificidade, bem como o meio social no qual ela está inserida. Na visão de Ferraço (2005, p. 18) A questão curricular [...] só é possível de ser pensada na dimensão das redes coletivas de fazeressaberes dos sujeitos que praticam o cotidiano, fato que tem implicado a elaboração de outros discursos sobre educação, ao colocar-se em dúvida idéias que têm permeado o imaginário da área já há algum tempo.
  • 30. 29 Oliveira (2005) quando aborda o termo currículo escolar, muito pensa na palavra cotidiano. A autora concorda com Ferraço (2005), no sentido de que há prática do currículo no cotidiano, ou seja, ele é feito por pessoas, e essas pessoas são sujeitos ativos na escola, que agem ao fazerem o cotidiano escolar. Isto não descarta a teorização dele, nele e com ele. Ao fazer, se teoriza no querer e no poder fazer. Portanto, o currículo escolar, que é visto como pronto e acabado, não se faz verdadeiro como representação real do que acontece na escola, assim como aquele que não foi feito a partir da prática e da vivência de todos os envolvidos na educação, não pode ser válido para uma prática educacional com intenções coletivas na busca de transformações no meio social, histórico e geográfico. É importante ressaltar que o cotidiano escolar é a base do seu currículo, e as observações dos atores envolvidos na educação – pais, alunos, professores, pedagogos, membros da comunidade, entre outros – são fundamentais para a construção deste documento que norteia o trabalho pedagógico desenvolvido na escola. As ações pedagógicas da escola trazem sempre uma intenção, por isso são politicamente instituídas. Portanto, isso requer planejamento, conhecimento, e relacionamentos entre aqueles que participam do processo de formação dos alunos e construção da qualidade de ensino. O sistema educacional brasileiro exige da escola uma burocracia que lhe toma boa parte de seu tempo. Essa documentação que, muitas vezes é pouco utilizada pelos próprios profissionais, coloca em questão a finalidade do currículo escolar. Na visão de Mota e Barbosa (2002) é através do currículo escolar que algumas questões são colocadas em discussão, como por exemplo, a definição do que e como se aprende na escola, buscando conhecer de quem é o interesse em aprender, verificando a validade do conteúdo ensinado. A escola precisa dar importantes passos para que ela consiga sair da “prisão” em que vive. É preciso discutir qual o papel da escola na sociedade atual. Mas, não existem garantias de que as discussões sobre tantas questões relacionadas à
  • 31. 30 escola, frente à sociedade, atinjam seus objetivos. Portanto, a participação de todos, famílias, profissionais da educação, alunos, membros da comunidade e gestores tende a aumentar as possibilidades de sucesso. A escola precisa de prática. É preciso que não haja medo de errar, que não haja temor do fracasso. O caminho, a escola descobre caminhando, e por isso, as ações são muito importantes no sentido de dar significado ao saber-fazer, colocando em prática ações voltadas às necessidades da clientela escolar. Assim, pode-se pensar que o currículo escolar reflete os conflitos e as alternativas que surgem a partir dos dilemas demandados nesse tempo vivido. É no currículo escolar que se encontra a principal tarefa da escola frente à sociedade: a transformação. O modelo social atual, caótico, carente de uma estrutura mais solidária e igualitária grita por um socorro transformador, onde haja mudança de mentalidade referente a valores que têm comprometido a afirmação da própria vida. Currículo escolar, portanto, é isto. A expressão da vida na escola, como ela se reflete no contexto de formação humana, que interfere na construção do caráter, na formação do sujeito socialmente preparado, compreendendo e transformando o espaço geográfico em que ele vive. E a cultura do povo se inclui aí. 4.1.1 As Contribuições dos Parâmetros Curriculares Nacionais – PCN’s O Ministério da Educação (MEC), visando estabelecer um padrão de qualidade entre as escolas brasileiras, sejam elas localizadas na zona urbana ou rural, pertencentes tanto a rede pública quanto a rede privada de ensino, criou os PCN’s. Esses Parâmetros, na verdade, tratam-se de uma [...] iniciativa do MEC em propor parâmetros curriculares nacionais vem configurar uma proposta que oriente de maneira coerente políticas educacionais e contribua efetivamente para avanços na qualidade da educação no Brasil, assim como procura se inscrever no horizonte das concepções acima apontadas, de modo a tentar dar conta de uma concepção de cidadania, pólo norteador do processo educativo, à luz das demandas do mundo contemporâneo (BRASIL, 1999a, p. 17).
  • 32. 31 O documento PCN’s está organizado em 10 livros que distribuem suas orientações de acordo com as diferentes áreas do saber, entre elas, o ensino da Geografia na escola. A proposta para o ensino da Geografia trazida pelos PCN’s mostra que há necessidade de se trabalhar um ensino que leve o aluno a compreender e intervir na sua realidade social (BRASIL, 1999b). Essa colocação dos PCN’s de Geografia nos faz pensar que não se deve organizar o currículo escolar sem levar em conta a realidade do aluno, sua história, cultura e geografia local. Tal orientação dos PCN’s se justifica pela possibilidade de compreender de que maneira diferentes sociedades interagem com o meio natural diante da construção do seu próprio espaço, bem como as singularidades do local onde o aluno vive, e também as suas características que o tornam diferente e também o assemelham a outros lugares. Trabalhar a Geografia à luz dos PCN’s, segundo nossa compreensão, permite repensar como propiciar ao aluno a consciência acerca dos vínculos de afeto e também da identidade que se estabelece com o local de vivência, além das relações estabelecidas entre a realidade do aluno e outros espaços geográficos, sendo distantes no tempo e no espaço, assim como perceber as conseqüências no presente trazidas do passado (BRASIL, 1999b). Daí a necessidade de se promover um ensino de Geografia voltado para a interdisciplinaridade, pois essa proposta não deve se desvincular do ensino de História, por exemplo. Assim, os Parâmetros Curriculares Nacionais de Geografia trazem a proposta de desenvolvimento de um trabalho pedagógico voltado para o aumento da capacidade do aluno do ensino fundamental de poder observar, conhecer, explicar, comparar e representar as características do lugar onde ele vive e também das diversas paisagens e espaços geográficos (BRASIL, 1999b). A primeira parte do documento descreve a trajetória da Geografia em dois ângulos: como ciência e como disciplina escolar, procurando mostrar as suas tendências na
  • 33. 32 atualidade e também a sua importância na formação do cidadão. Apontam-se os conceitos, os procedimentos e as atitudes que deverão ser ensinados, visando a aproximação dos alunos para compreenderem a dinâmica desta área de conhecimento apropriando-se de suas teorias e de suas explicações (BRASIL, 1999b). Entra-se, na segunda parte, numa descrição da maneira como pode ser o trabalho pedagógico, os objetivos e os conteúdos nessa disciplina para o Ensino Fundamental. O documento finaliza trazendo uma série de sugestões norteadoras acerca da organização do trabalho escolar e suas questões didáticas. Nessas orientações didáticas, os princípios e os procedimentos de Geografia se apresentam como recursos que serão utilizados pelo professor no momento de planejar as suas aulas e também na definição das atividades que serão construídas e propostas aos alunos (BRASIL, 1999b). Assim, é importante ressaltar que embora cada uma dessas partes possa ser lida com independência, é indispensável o conhecimento acerca do documento como um todo, buscando enriquecer a experiência docente em sala de aula. Torna-se relevante que a proposta seja integralmente lida e discutida pelos professores e, com o apoio de outras bibliografias, tornam-se possíveis outras adaptações de acordo com a realidade de suas escolas e também considerar as características dos alunos atendidos. 4.2 MANIFESTAÇÕES CULTURAIS DE VILA VELHA Vila Velha é um município rico em cultura local, apresentando diversas manifestações culturais, dentre as quais este trabalho optou por enfatizar a Festa da Penha, o Congo, os Catraieiros e o Samba. Sínteses desses movimentos, embasadas por autores consagrados e por alguns dos principais representantes das manifestações, são apresentadas a seguir:
  • 34. 33 4.2.1 A Festa da Penha Vila Velha é um município do estado do Espírito Santo composto em sua quase totalidade por áreas planas, com exceção de alguns pontos mais elevados, como por exemplo, onde está localizado o Convento da Penha, no bairro da Prainha. É nesse bairro em que acontece a Festa da Penha, uma das mais importantes festas religiosas e culturais do Estado. Esta festa é dedicada a Nossa Senhora da Penha, padroeira oficial do Estado. A comemoração traz consigo a religiosidade (sagrado) e o profano, onde se incluem as bandas de congo, que compõem a parte ligada à cultura popular e ao folclore. A cultura popular, segundo (CHAUÍ, 1994), é advinda das classes trabalhadoras, sendo considerada espontânea. Isso nos remete ao entendimento da participação popular como formadora e agente social que irá influenciar os comportamentos de uma sociedade. Pensando assim, Claval (2001, p. 63) nos diz que “[...] a cultura é a soma dos comportamentos, dos saberes, das técnicas, dos conhecimentos e dos valores acumulados pelos indivíduos durante suas vidas e, em uma outra escala, pelo conjunto dos grupos de que fazem parte” e nos acrescenta que “A vida cotidiana é assim toda penetrada de automatismos: não há necessidade de parar para refletir, o que convém fazer é conhecido; a situação pode ser avaliada num golpe de olhos” (CLAVAL, 2001, p. 80). A Festa da Penha, que atualmente traz milhares de fiéis ao Parque da Prainha e ao Convento, se iniciou, segundo o Frei Engel, depois que Pedro Palácios construiu a primeira parte da capela, no século XVI. A festa ocorre anualmente, se iniciando no domingo de Páscoa, quando começa o Oitavário, período de oito dias de celebrações antes do dia de Nossa Senhora da Penha, feriado estadual em que ocorre o encerramento da festa. Durante o Oitavário, são realizadas missas todos os dias no campinho do Convento, sendo as mais importantes as missas de sábado, domingo e segunda-feira, que
  • 35. 34 marcam, respectivamente, o encerramento da romaria dos homens, o encerramento da romaria das mulheres e o encerramento das celebrações da Festa Penha, conforme mostram as imagens da Fotografia 1 a seguir. FOTOGRAFIA 1: IMAGENS DA FESTA DA PENHA Fonte: Werls, 26/04/ 2006 e Gabriel Lordêllo e Tadeu Bianconi,15/04/2008 Segundo Frei Engel, a Festa da Penha é “uma manifestação que jamais pode acabar pela sua importância cultural e religiosa”. Ao analisarmos essa frase do Frei Engel, percebemos a importância da cultura popular no cenário estadual. Portanto, devemos garantir que a cultura popular seja ensinada nas escolas, uma vez que são “[...] as experiências e histórias pelas quais os estudantes dão sentido ao mundo [...]” (MOREIRA; SILVA, 1999, p. 95). Privar os estudantes desse ensino “[...] seria reduzir a aprendizagem à dinâmica da transmissão e da imposição” (MOREIRA; SILVA, 1999, p.95). Contribuições para os professores de Geografia: trabalhar a Festa da Penha não exige o rigor com a data comemorativa que, normalmente, ocorre no primeiro semestre do ano. Tal evento envolve muito mais que uma manifestação dos religiosos. A festa envolve um fluxo de populações de vários lugares do estado e do Brasil, o que causa impactos momentâneos na organização espacial de Vila Velha: há um aumento na quantidade de consumo, de produção de lixo, no tráfego rodoviário, nos serviços de modo geral. Movimenta o comércio local, a hotelaria, os bares e restaurantes. O estudo disso pode ser feito com mapas (marcar os locais de origem das maiores romarias), com gráficos (o quantitativo de romeiros dos últimos três anos), com tabelas (apresentação de dados como gastos públicos, acidentes de
  • 36. 35 trânsito, pessoas na festa), com textos da mídia, com imagens comparativas de diferentes tempos... O local de realização deste movimento histórico, religioso e cultural exigiu mudanças estruturais na organização do espaço, na localidade da Prainha, que é um dos mais antigos bairros e também um sítio histórico (pouco preservado) no município de Vila Velha. A região onde ocorrem as celebrações da festa da Penha pode ser explorada com o aluno para investigar, problematizar e compreender as intervenções humanas no espaço geográfico: os aterros, construções, desmatamentos e crescimento desenfreado na região de praia e mata atlântica abrigada no bairro da Prainha. Esse trabalho se torna mais enriquecido se o conteúdo for desenvolvido em parceria, envolvendo outras áreas de saberes do currículo escolar, por exemplo, com professores de história, ciências naturais, artes (a arquitetura do local se confunde entre o antigo e o moderno) entre outras disciplinas escolares. 4.2.2 O Congo O Congo na Barra do Jucu, de acordo com nossa entrevistada Beatriz dos Santos Rego, vice-presidente da Associação de congo de Vila Velha, teria surgido na Barra do Jucu, no início da década de 1940. O precursor local dessa manifestação cultural foi Mestre Honório, que juntamente com seus amigos, se reuniam para a brincadeira de congo, conhecida como roda de congo. Os participantes dessas rodas eram, na sua maioria, moradores de bairros vizinhos como Ponta da Fruta e Itapuera, entre outros. Na entrevista, Rego nos fala a respeito do surgimento dos principais instrumentos componentes do congo “a partir daí que começou a surgir o tambor e a casaca. Não existiam nessa época outros instrumentos, somente o tambor e casaca”. Posteriormente ela relata sobre o início do interesse de pessoas para formação da primeira banda de congo da Barra do Jucu.
  • 37. 36 O Congo tem três momentos específicos de comemoração, sendo o primeiro a Fincada do Mastro, em que é homenageado São Benedito. Acontece no último sábado de dezembro, depois do Natal, para não coincidir com outra festa municipal. Conta a história que “[...] um navio naufragou e os escravos se agarraram ao mastro e se salvaram e prestaram essa homenagem ao santo fincando esse mastro do navio na praia”4. No entanto, na Barra a fincada é realizada em frente a uma igreja, que era a única que existia na região, a Igreja de Nossa Senhora da Glória. O segundo momento é a retirada deste mastro, já que o mesmo não pode permanecer fincado o ano todo. O mastro é retirado dia 20 de janeiro, dia de São Sebastião. O terceiro e último momento ocorre quando se encerra a quaresma e quando as bandas de congo voltam a tocar. É importante destacar que algumas bandas continuam realizando suas atividades nesse período, embora a banda Mestre Honório, por exemplo, tenha por cultura realizar esta parada durante a quaresma. O congo, que ganhou notoriedade internacional, é uma manifestação que tem, segundo Geraldo Pignaton e Kleber Galvêas (2005), como fundamento a capacidade de ser muito espontânea, narrar as tradições, os costumes do cotidiano local do seu povo, as coisas que acontecem no dia a dia da comunidade, servindo como verdadeiro jornal do lugar; falando das pescarias, fatos curiosos, caçadas, sobre aventuras, amores, desilusões, reclamações locais, entre outras questões. A capacidade de improvisação de versos que estes homens têm é grande, “[...] eles ficavam o dia todo no mar pescando, na mata caçando ou fazendo lenha e no rio navegando e pensando nos acontecimentos locais e preparando novos versos para a próxima congada” (GALVÊAS, 2005, p. 140). Tomando como base as letras das músicas e sua grande variedade de informações do dia a dia, de elementos da natureza e histórias, entre outros; é possível trabalhar conteúdos da disciplina de geografia com os alunos, criando assim um elo entre a cultura local e o conteúdo curricular. 4 Ver Apêndice D.
  • 38. 37 FOTOGRAFIA 2: IMAGENS REPRESENTATIVAS DO CONGO Fonte: Gilson J. S. Borba, 2010. O congo no seu início não era valorizado. Nas primeiras reuniões, por exemplo, o número de pessoas participando era de aproximadamente dez, e não existia público, pois este, invariavelmente, se incluía na cantoria e na dança. O congo da Barra começou a se destacar no cenário nacional após a música de Martinho da Villa, composta em 1988 e intitulada Madalena, onde se fazia menção ao Congo da Barra do Jucu. A partir desse momento o público começou a se interessar por tal manifestação e procurar saber onde ocorria, o que fez com que a Barra do Jucu começasse a ter notoriedade no cenário cultural do Estado e no Brasil. Contribuições para os professores de Geografia: embora o congo seja uma importantíssima manifestação religiosa do Espírito Santo, é preciso ressaltar o cuidado que o professor de Geografia deve ter em relação a este assunto, incluindo aí a Festa da Penha. É preciso lembrar que, devido às orientações legais que afirmam que a escola deve ser um espaço laico, é preciso não apoiar-se em nenhuma religião, trabalhando a religiosidade e a espiritualidade como manifestações culturais, sem considerações específicas religiosas. A religião faz parte da cultura de um povo e a cultura está diretamente ligada à história e a geografia de uma população.e, portanto, não pode ser ignorada. Vila Velha, por exemplo, é uma cidade muito marcada pela presença e manifestação de evangélicos e trabalhar o congo discorrendo sobre os dois santos homenageados
  • 39. 38 (São Benedito e São Sebastião) pode ocasionar problemas com os familiares e também a comunidade escolar. É mais importante que o professor de Geografia foque nas relações culturais, como por exemplo, os sons, a música, a dança e os instrumentos utilizados no congo, que muito lembram a capoeira (expressão afro descendente). Daí o professor de Geografia pode dar início ao trabalho sobre festas e manifestações culturais de Vila Velha, relacionando suas histórias, pois assim como o congo, a capoeira também é oriunda do sofrimento dos escravos que vinham para o Brasil. Trabalhar as suas histórias torna a participação do professor de História indispensável, assim como os professores de literatura que podem trabalhar os poemas do “Poeta dos Escravos”, Castro Alves, o que não dispensa a Arte voltada para a cultura local, a música, as danças e vestimentas vistas no congo. Como o congo não acontece apenas em Barra do Jucu, é possível mapear os outros lugares onde ocorre. Além disto, pode-se propor uma linha de espaço-tempo representativa dos materiais usados na construção de seus instrumentos musicais: que tipo de madeira é usada na feitura do tambor e da casaca? Onde aparece? Que outros materiais são usados? Que impactos causam sua retirada? 4.2.3 Os Catraieiros A cultura dos catraieiros é uma das culturas mais antigas do município de Vila Velha. De acordo como o presidente da Associação dos Catraieiros do Espírito Santo, Jefferson R. Castro, a história das catraias e dos próprios catraieiros se confunde com a história dos municípios de Vila Velha e Vitória. As catraias, embarcações utilizadas para transporte de passageiros, geralmente manobradas por uma única pessoa, eram utilizadas desde o descobrimento do solo Espírito-Santense, consistindo no único meio de transporte da época. O termo catraia foi popularizado pelos pescadores que se classificavam na época do descobrimento como catraieiros, embora seja pouco utilizado nos dias atuais.
  • 40. 39 A década de 1960 foi o momento de maior evidência dos catraieiros. No entanto, a cultura declinou posteriormente, em grande parte devido à inclusão de transportes motorizados junto a Baía de Vitória, por parte dos governantes. Esse declínio deve- se também à falta de apoio financeiro governamental e às sucessivas gestões de má qualidade que não souberam reagir ao ritmo de desenvolvimento sócio-econômico estadual. Esses fatores fizeram com que os próprios catraieiros tenham considerado a década de 90 como um período negro, segundo Castro. Hoje, a classe está com uma nova visão estratégica, pleiteando incentivos junto às empresas privadas e ao setor público, para que haja a restauração e o surgimento de novas catraias. Os principais locais onde os catraieiros realizam diariamente o seu trabalho são no bairro de Paul, localizado no município de Vila Velha e na Baía de Vitória. Por dia, são realizadas em média, por cada catraieiro, de 80 a 100 travessias, de acordo com o presidente da associação, ao valor de R$ 1,50 por travessia. Nesse cenário, o salário médio mensal de cada trabalhador varia entre R$ 2.400 e R$ 3.000, levando- se em conta uma árdua jornada de trabalho de cinco dias por semana. FOTOGRAFIA 3: IMAGENS REPRESENTATIVAS DOS CATRAIEIROS Fonte: Bruno Zorzal, Uma curiosidade diz respeito à importância que os catraieiros tiveram ao longo dos anos para a realização de outra manifestação cultural do município de Vila Velha, a Festa da Penha. Durante um período de, aproximadamente, 100 anos os catraieiros participavam da Festa da Penha, com a responsabilidade de levar a imagem de
  • 41. 40 Nossa Senhora da Penha, da Ilha de Vitória até Vila Velha. Ainda, as catraias eram utilizadas como um dos principais meios de transporte de pessoas para o evento. Embora essa tradição tenha sido perdida com o tempo, os catraieiros mantêm até hoje a relação com a Festa da Penha ao participarem em grande número na romaria dos homens e ao comemorarem sua festa no mesmo período em que se comemora a Festa da Penha. É interessante, do ponto de vista histórico e cultural, observar que movimentos culturais, aparentemente independentes, mostram-se interligados pelas suas histórias e comemorações. Contribuições para os professores de Geografia: são muitos os conteúdos que podem e devem ser abordados nas aulas de Geografia. Mais do que pequenos barcos atravessando a baía de Vitória, os catraieiros são “sobras” do sistema de transporte público aquaviário que se extinguiu e, sequer uma satisfação foi dada a população. Hoje, a região metropolitana da Grande Vitória sofre com um sistema de ônibus monopolizado, além de trânsito intenso entre os municípios. É importante levar o aluno para conhecer a dimensão da baia de Vitória (vista de Vila Velha, de Vitória da avenida Beira Mar, além de passeios de escuna pela região) para que ele compreenda que o sistema de transporte aquaviário poderia interligar, pelo menos, os municípios de Vitória, Vila Velha e Cariacica, reduzindo a quantidade de ônibus e carros nas ruas e melhorando os engarrafamentos, além de ser um transporte social e ambientalmente viável. Levar a imagem de Nossa Senhora da Penha foi uma tarefa retirada das mãos dos catraieiros que, com muita persistência e crença na sua cultura, continuam trabalhando e transportando cidadãos que enxergam no sistema aquaviário uma possibilidade de agilizar o trânsito. Neste mesmo cenário, o aluno pode compreender mais duas importantes questões: o sistema portuário - Porto de Vitória, Porto de Capuaba e Porto de Vila Velha, e o aterro que foi realizado por muitos anos para construir a parte plana do município de Vitória.
  • 42. 41 Quanto ao cartão postal marcante na baía de Vitória, é possível iniciar uma divertida discussão: observar o brasão da Prefeitura de Vitória e nele os alunos verão a Pedra do Penedo que, no cenário real, encontra-se em Vila Velha, e esta mesma beleza natural possui lendas, histórias, tradições e já sofreu o risco de ser tirada do mapa para ampliar o porto, mas, felizmente, isso não ocorreu graças às intervenções da própria população. Há muito que se trabalhar no meio onde trabalham os catraieiros. 4.2.4 O Samba O Samba, apresentado neste trabalho, será representado, principalmente, pela Mocidade Unida da Glória (MUG), uma das primeiras escolas de Samba fundadas no município de Vila Velha. No entanto, vale destacar que a manifestação do Samba em Vila Velha tem início um pouco antes da fundação da MUG, com a Independentes de São Torquato, primeira escola de samba fundada no município, tendo surgido a partir do antigo bloco Caveira, o qual foi fundado no início dos anos 50. A escola foi criada no ano de 1974, após ter sido campeã do concurso oficial de blocos tanto de Vitória quanto de Vila Velha, tendo dessa forma desempenhado importante papel na história do carnaval de Vitória. ● Escola de Samba Mocidade Unida da Glória (MUG): Mocidade Unida da Glória (MUG), escola de samba de Vila Velha, foi fundada em 09 de agosto de 1980, originada de um bloco carnavalesco denominado “Calção Vermelho”, cujos componentes desfilavam do bairro da Glória até o centro da cidade de Vila Velha, usando somente calções vermelhos e sem camisa. Segundo o presidente da MUG, Carlos Roberto dos Santos Ribeiro5, o que diferencia a escola das outras é o fato de que a escola surgiu de grupos de amigos que jogavam futebol, o grupo “Leão da Glória” que se reuniam depois do futebol para tocar e cantar alguns sambas da época. Alguns desses amigos faziam parte do bloco carnavalesco “Pantera Cor de Rosa” de Jaburuna. Este bloco encerrou suas atividades porque estavam sendo prejudicados pela desonestidade de alguns dos 5 Ver Apêndice D.
  • 43. 42 jurados que sempre beneficiavam outro bloco de carnaval, os “Unidos da Vila”. Pouco tempo depois do encerramento do bloco “Pantera Cor de Rosa”, alguns dos integrantes não conseguiram ficar longe do carnaval e se juntaram aos amigos do futebol que também gostavam de samba, formando a partir deste momento a atual escola de samba. Dentre os principais fundadores, destaca-se o já falecido Ivan Ferreira. Como escola de samba, a MUG desfilou em Vila Velha, sendo contemplada com o tetracampeonato entre os anos de 1981 e 1984. No mesmo ano de 1984, desfilou em Vitória com o enredo “No Reino Onde Chorar é Proibido”. Em 1985, com o enredo “Raízes da história de uma civilização” foi rebaixada para o segundo grupo, tendo retornado para o primeiro grupo em 1987 ao vencer o grupo de acesso, com o enredo “Quem te viu, TV” em 1986 (MUG, 2009). Nos anos seguintes, a MUG se estabeleceu como uma das grandes escolas do Carnaval Capixaba com os enredos “Amazonas, Lendas e Cobiças” (1987), “Quem viver verá! O Arauto da Liberdade” (1988) e “O Sonho de Ícaro” (1989). Em 1990, com o enredo “Do Sonho à Fantasia” a MUG fez um brilhante desfile e conquistou o vice-campeonato, seu melhor resultado até então. Em 1992, a MUG vivenciou o pior momento de sua história, quando um incêndio destruiu seu barracão, fazendo com que a escola ficasse impossibilitada de desfilar. O retorno ao Sambódromo só ocorreu 10 anos depois do último carnaval, em 2002, junto com a volta do desfile competitivo, que se deve, em grande parte, ao apoio dado pela prefeitura de Vitória ao carnaval capixaba. Com o enredo “O Renascer das Cinzas”, a MUG contou sua própria trajetória e a conquista do vice campeonato a consagrou definitivamente como uma das grandes escolas do Carnaval Capixaba. O tão esperado título foi obtido no ano seguinte, com o enredo “De Passo a Passo, Faço os Passos de Anchieta” (MUG, 2003). Em 2007, com problemas no desfile, a escola acabou sendo rebaixada pela segunda vez em sua história. Ao ganhar o título do Grupo B em 2008, garantiu vaga para retornar novamente ao Grupo A para o ano seguinte (MUG, 2009).
  • 44. 43 Em 2009, desfilando com 3000 componentes, 23 alas e 6 alegorias, a MUG foi a Vice-Campeã, com o enredo “Do Eldorado Africano ao Berço Selvagem e Fascinante da Vila São Matheus” (MUG, 2009). Em 2010, ao falar sobre o cinquentenário de Brasília, a MUG terminou mais uma vez na 2º colocação (MUG, 2009). FOTOGRAFIA 4: IMAGENS REPRESENTATIVAS DO SAMBA Fonte: Paulo Silva, 05/02/2010. Assim, o crescimento da escola de samba é notável a cada ano no carnaval capixaba, onde a MUG tem sido premiada e reconhecida dentro e fora do Espírito Santo. Contribuições para os professores de Geografia: o samba é uma manifestação histórica, social e cultural que faz com que o Brasil seja lembrado até mesmo pelos demais países do mundo. A história do samba se confunde com a história do Brasil e se mostra sempre com a mesma alegria e envolvimento, ano após ano, mas suas músicas, vestimentas e envolvimento da população se modificam, de acordo com o tempo e espaço do brasileiro.
  • 45. 44 Para o professor de Geografia o que não falta é conteúdo para se abordar acerca do samba. É quase impossível abordar o samba sem comentar o carnaval. Pesquisar a história dessa manifestação cultural é importante, mas é também relevante que o aluno tenha acesso às letras dos enredos de diversas épocas, principalmente aquelas que falavam de maneira sutil e articulada sobre os problemas sociais vividos pelos brasileiros. Visando o ensino de uma Geografia crítica, é interessante que o aluno seja convidado e refletir algumas questões: por que há tanta diferença de credibilidade entre as escolas de samba do Rio de Janeiro e de São Paulo e as demais escolas do Brasil, como as capixabas? Por que desfilam em dias diferentes, e as capixabas sempre desfilam antes do carnaval? O carnaval é uma festa popular, mas todos têm acesso aos desfiles das escolas? É importante refletir com os alunos que muitas escolas de samba ficam localizadas em bairros de periferias, mas a clientela que assistirá ao desfile não é uma clientela de poucos recursos. Então, como é a relação entre ricos e pobres e como ela se manifesta no carnaval? 4.3 A IMPORTÂNCIA E O DESEJO DE UMA GEOGRAFIA ESCOLAR LOCAL As manifestações culturais criam, muitas vezes, fortes laços do povo com sua terra, levando a um sentimento de orgulho por aquilo que é produzido. Nesse contexto, o estado do Espírito Santo ainda está defasado quando comparado a outros estados do Brasil. Os estados da Bahia e Rio de Janeiro, apenas para exemplificar, conseguem levar sua cultura a um nível elevado, quando trazem pessoas de várias regiões geográficas para participar de uma de suas festas mais importantes, o carnaval. Ao elevar sua cultura e arte a um patamar mais elevado de qualidade, um estado ou município é capaz de realizar um ciclo de desenvolvimento contínuo extremamente benéfico: os manifestantes culturais, ao terem sua arte valorizada, se esforçam continuamente em busca da perfeição; o público, por sua vez, fica cada
  • 46. 45 vez mais satisfeito em vislumbrar a cultura se aproximando do ideal; e o setor econômico lucra com turismo e comercialização de produtos e serviços. A conjunção das conseqüências desse ciclo traz, além do desenvolvimento cultural natural, desenvolvimento sócio-econômico à sociedade. No município de Vila Velha, a preservação das culturas locais ocorre, muitas vezes, por meio da herança familiar, na passagem cultural de pai para filho. A proposta de se trabalhar o conteúdo na sala de aula é capaz de contribuir profundamente com a cultura local, para que a mesma não seja perdida, visto que atualmente vivemos em um mundo globalizado onde temos fácil acesso a culturas e costumes de todas as partes do mundo, e muitas vezes acabamos super valorizando a cultura “estrangeira” e não valorizando o que é local, perdendo o sentimento de orgulho das nossas tradições. Segundo Moreira e Silva (1999, p. 78) as escolas são: [...] formas sociais que ampliam as capacidades humanas, a fim de habilitar as pessoas a intervir na formação de suas próprias subjetividades e a serem capazes de exercer poder com vistas a transformar as condições ideológicas e materiais de dominação em práticas que promovam o fortalecimento do poder social e demonstrem as possibilidades da democracia. Vemos nesse trecho a importância e influência de uma instituição de ensino na vida do aluno. Devemos pensar como as interações simbólicas e materiais do dia a dia do aluno que é parte da sua cultura, vão interferir diretamente em sua vida. Essa cultura popular vivenciada pelo aluno vai dar subsídio as suas concepções éticas e modo de ver o mundo. Vai ajudar o aluno a dar vozes as suas experiências (MOREIRA e SILVA,1999). A problemática é que se reconheça que nas escolas os significados são produzidos pela construção de formas de poder, experiências e identidades que precisam ser analisadas em seu sentido político-cultural mais amplo. A argumentação acerca do ciclo de desenvolvimento sócio-econômico e cultural e as colocações de Moreira e Silva (1999) sobre as instituições de ensino como formadoras de opinião destacam a grande importância de se trazer o cotidiano e a cultura popular para a sala de aula, como um forte instrumento capaz de fortalecer a busca pela prosperidade social.
  • 47. 46 Este trabalho deseja, além de fornecer um suporte teórico e informativo ao corpo docente, destacar a escola como a principal ferramenta que possibilita a inclusão da Cultura popular na sala de aula, na certeza de que essa possibilidade é viável e fundamental. E para concretizar essa proposta de ensino, a geografia escolar local abordada deve ser capaz de relacionar o cotidiano do aluno, que inclui a cultura popular local, com o processo de ensino/aprendizagem. Em outras palavras, deve-se estabelecer uma relação entre o que é vivenciado e o conteúdo escolar, até como forma de incitar a curiosidade dos alunos. No cenário proposto, a geografia escolar local deveria ser um meio de ampliação de experiências e aprendizado, levando em conta a realidade dos alunos, ampliando o acesso que nem sempre lhes é proporcionado a experiências culturais, e tornando a geografia escolar uma importante forma de política cultural. Infelizmente, a proposta e o desejo de uma geografia escolar local no município de Vila Velha ainda aparentam ser um futuro distante. Quando a pedagoga da escola Maura Abaurre, a senhora Lucineide G. Macedo, é questionada sobre a importância de se trabalhar a cultura canela-verda nas aulas de geografia, percebe-se pela sua resposta que poucos alunos têm conhecimento sobre seu próprio município. E ela destaca que Com certeza, muito importante, por que inclusive a gente tem aluno que nem tem idéia do que é um canela-verde no município que ele estuda, mora.. A dificuldade de se ensinar a cultura local aos alunos, destacada no parágrafo anterior, deve ser vista como motivação por parte do corpo docente, que deve buscar superar os entraves existentes e assim, com planejamento e incentivo por parte dos governantes e muito trabalho e dedicação por parte dos profissionais de educação, conduzir o município de Vila Velha a um novo patamar de desenvolvimento cultural, que será capaz de impulsionar consigo o desenvolvimento econômico e social. E como incentivo para os próximos passos, podemos destacar o Congo da Barra do Jucu, que conseguiu projeção nacional, e o Samba, que embora ainda não seja tão valorizado como em outros estados, representa um marco por já ter tido incentivo por parte da prefeitura de uma cidade vizinha, Vitória.
  • 48. 47 5 DIZENDO DO QUE APRENDEMOS: POR UMA GEOGRAFIA CULTURA E LOCAL Neste capítulo, são apresentados os principais resultados do trabalho: o material de apoio (cartilha), justificando a necessidade do mesmo, e o relacionamento intercultural existente no município de Vila Velha, indicando que o fortalecimento cultural de um movimento tende a influenciar positivamente os movimentos vizinhos. Em seguida, são apresentadas as principais dificuldades encontradas e algumas extensões da pesquisa que podem ser objeto de estudo em trabalhos futuros. 5.1 CONTRIBUIÇÕES PARA A REDUÇÃO DA CARÊNCIA CULTURAL Em sua entrevista, a pedagoga reforça a carência cultural, ao dizer que os alunos não estão acostumados a lidar com atividades relacionadas à cultura local. Até comenta a questão de acreditarem que ao sair da escola para ir ao teatro, os alunos acham que estão perdendo aula, não entendendo que se trata apenas de um tipo de aula diferente, com enfoque no aprendizado cultural. A visão equivocada dos alunos, relatada pela pedagoga em sua entrevista, destaca a necessidade de inclusão de conteúdos programáticos relacionados à cultura local, principalmente na ementa das disciplinas de Geografia e História. Essa necessidade foi corroborada, ao longo deste trabalho, visto que todos os entrevistados, cada um à sua maneira, nos disseram da importância, tanto no âmbito de se preservar a cultura dentro do município, como de se estar ciente das influências que sofremos convivendo com essa cultura. Apesar de sabermos da necessidade de ensinar e expandir a cultura local, os profissionais responsáveis por propagá-la carecem de meios para tal. Por exemplo, o professor Vitor, ao ser questionado se ministra alguma atividade relacionada à cultura de Vila Velha, nos confirmou a falta de material de apoio disponível, quando afirma que:
  • 49. 48 [...] o maior problema de trabalhar a cultura canela-verde é a falta de material... Em Vila Velha você não encontra a história dos bairros... Quando dá para incluir cultura de Vila Velha nas aulas a gente inclui. O Aluno tem que ter o subsidio nas aulas, material que comprove o que falamos. Cientes da importância e influência da cultura local, assim como da necessidade de estender o conhecimento, identificamos que, para a conclusão deste trabalho, era necessário mais do que apenas organizar as idéias obtidas nas pesquisas e entrevistas realizadas. Precisávamos chegar ao final do processo com um meio eficiente, que pudesse ser utilizado pelo corpo docente, hoje muito carente de pesquisas na área de geografia cultural. Identificamos então a necessidade de um material capaz de auxiliar a todos que se interessem em apresentar a cultura municipal de Vila Velha dentro das aulas de Geografia. Por essa razão, decidimos que além de mostrar cada manifestação cultural em destaque do município, deveríamos também produzir e fornecer esse artefato aos professores e às escolas de Vila Velha. Como esse material deve ser simples, fácil de usar, de compreender e de absorver as idéias, optamos pela produção da cartilha. Na cartilha, optamos por fazer um breve resumo das principais manifestações culturais de Vila Velha (Congo na Barra do Jucu, Convento da Penha na Prainha, Escola de Samba na Glória e Catraieiros em Paul) e destacar a importância apresentada pelos próprios representantes dessas manifestações e também pelo corpo docente (Pedagogo e Professor de Geografia) de se estudar esses tipos de manifestações dentro do ambiente escolar. Trata-se de um material simples e eficaz, que tem como objetivo primário fazer um apanhado histórico das manifestações culturais do município de Vila Velha, mostrando fotos das mesmas e, dispondo de trechos das entrevistas com os manifestantes e o corpo docente. Este material está disponível, nos anexos deste trabalho.
  • 50. 49 5.2 RELACIONAMENTOS INTERCULTURAIS Durante as entrevistas foi possível perceber muitas relações entre as manifestações culturais pesquisadas. Ao responderem as perguntas, os próprios manifestantes culturais citaram essas relações. Na conversa com a representante cultural do Congo, por exemplo, foi lembrado da relação com o Convento da Penha e com o Samba. O Samba, por sua vez, também citou o Congo. Em relação ao Convento da Penha, Beatriz S. Rego nos contou que existe uma última etapa da festa do Congo em que é feita referência a Nossa Senhora da Penha. O terceiro momento é quando retornamos a quaresma e voltamos a tocar. Onde fazemos uma homenagem a Nossa Senhora da Penha, que também tem bandas que ela é padroeira em outros municípios. E vamos pedir a benção da Nossa Senhora para nossas apresentações durante o ano, onde começa nosso calendário com nossas apresentações de congo. O samba cita o congo como parte da sua cultura quando fala que ambos são parceiros na questão histórica. Quando a escola de samba Mocidade Unida da Glória (MUG) foi formada o samba ainda não era valorizado em Vila Velha. Com o passar dos anos, a escola conquistou excelentes resultados no Sambódromo, atraiu inúmeros fãs para seus ensaios e elevou a importância do samba na cidade. O congo por sua vez, também não era valorizado até o momento em que Martinho da Villa lançou, em 1988, a música “Madalena”, a qual falava do Congo da Barra do Jucu, ocasionando uma enorme euforia acerca dessa cultura. Porém, antes do crescimento de ambas as culturas, as duas manifestações sempre se apoiaram na conquista de seu espaço. Inclusive, foi possível confirmar que essa ajuda mútua permanece quando, nos dias seguintes à nossa entrevista, foi realizada uma festa na Quadra da Escola de Samba e a Banda de Congo Mestre Honório se apresentou junto com a MUG, engrandecendo ainda mais a festa em que se comemorava o aniversário de um dos integrantes da Escola. Na entrevista com o representante dos catraieiros, Jefferson Castro também faz menção a essa proximidade com outras manifestações culturais. O Convento entra novamente em foco, quando Castro nos diz que, antigamente, os catraieiros eram os responsáveis por levar a imagem de Nossa Senhora, de barco, de Vitória até a Prainha, e acompanhados de um grupo de fiéis, subiam com a imagem até o
  • 51. 50 Convento. Até por causa dessa antiga tradição, podemos entender porque muitos catraieiros participam da romaria dos homens durante as comemorações da Festa da Penha. Consideramos muito interessante essa interligação cultural que pôde ser percebida durante a pesquisa entre as manifestações culturais estudadas. É uma relação que nos faz pensar e entender que a cultura de Vila Velha está interligada de uma forma que nem todos, ou quase ninguém, conhece. Essas conexões estão representadas na figura 2 que traz o mapa onde as setas representam as interligações culturais. Figura 2: Mapa das Manifestações Culturais de Vila Velha e as Relações Entre Elas Fonte: Desenvolvido pelos alunos autores desta pesquisa
  • 52. 51 Como pode ser observado no mapa, as relações entre as manifestações foram classificadas entre quatro grupos: relação dos catraieiros com congo e samba, relação dos catraieiros com Convento da Penha, relação do congo com Convento da Penha e a relação do congo com o samba. Essa classificação das respectivas relações entre as manifestações culturais foi baseada na pesquisa bibliográfica e entrevistas desenvolvidas neste trabalho, as quais demonstravam pontos de encontros entres essas culturas. Nas relações representadas pelas cores rosa (relação dos catraieiros com o congo e o samba) e verde (relação do congo com samba), podemos destacar como semelhança a dependência de verba externa, seja do governo ou de pessoas que se agregam e investem na causa do grupo. Para a relação Congo-Samba temos, adicionalmente, o fator histórico: ambos os movimentos se ajudavam mutuamente quando os mesmos careciam de apoio da comunidade e continuam próximos mesmo depois da expansão de ambos. A relação catraieiros e Convento da Penha, representada no mapa pela seta laranja, foi iniciada quando os catraieiros participavam da Festa da Penha incumbidos da responsabilidade de carregar/ transportar a imagem da santa pelas catraias no trajeto de Vitória até Vila Velha. O vínculo mantém-se até os dias atuais, com a participação do grupo na romaria dos homens realizada durante as comemorações da Festa da Penha. Já a relação representada pela cor azul, entre congo e convento da Penha, corresponde ao momento da festa do congo na qual há, em sua terceira e última etapa de festejos, uma homenagem e pedido de benção a Nossa Senhora da Penha. Nessa etapa, os congueiros, sobem o convento e fazem uma última apresentação da sua festa, pedindo proteção a Nossa Senhora para as futuras apresentações no decorrer do ano.
  • 53. 52 5.3 PRINCIPAIS DIFICULDADES E TRABALHOS FUTUROS A pesquisa nos ajudou a ter uma noção melhor de culturas, muitas vezes esquecidas, e encontrar uma maneira eficiente de auxiliar o corpo docente a introduzir essas culturas no âmbito escolar. Pesquisar o ensino é bastante complexo, e torna-se ainda mais complexo quando se aborda a temática cultura. As interações nesse campo são imensas, não existindo um caso isolado que facilite o estudo. Portanto, fazer uma ponte do ensino de geografia com a cultura, seja ela local ou global, é uma tarefa muito difícil e que exige muito tempo e dedicação. Acreditamos que todos nós, integrantes do grupo, nos surpreendemos no decorrer da pesquisa ao ver as relações entre as manifestações escolhidas. Relações essas que nos ajudaram e nos motivaram ainda mais na preparação de um material interdisciplinar, em que características de manifestações distintas e inter- relacionadas são abordadas com uma mesma finalidade: permitir conhecer um pouco mais da cultura do município de Vila Velha. A partir do nosso trabalho, pretendemos não só deixar um sucinto material para auxiliar ao corpo docente das escolas municipais e estaduais de Vila Velha, mas também apresentar outras linhas de pesquisa desse assunto tão pouco trabalhado e pesquisado no nosso Estado, a cultura. Sugerimos, como uma continuação natural deste trabalho, que essa pesquisa seja estendida para outras manifestações culturais, explorando maiores regiões geográficas, ou seja, realizar a pesquisa também em outros municípios e nos âmbitos Estadual e Federal. Também se apresenta como trabalho futuro interessante o aprofundamento em alguma das manifestações culturais pesquisadas, visando obter maior detalhamento histórico (cronologia dos acontecimentos, influências políticas, sociais, econômicas) da mesma.