SlideShare une entreprise Scribd logo
1  sur  16
Télécharger pour lire hors ligne
ASPECTOS DA APRENDIZAGEM ONLINE À LUZ DA TEORIA
SOCIOCULTURAL
SOARES, Doris de Almeida1
- ESCOLA NAVAL
Grupo de Trabalho – Comunicação e Tecnologia
Agência Financiadora: não contou com financiamento
Resumo
Nos ambientes virtuais de aprendizagem (AVAs), a comunicação mediada por computador
(CMC) possibilita que indivíduos distantes no espaço e no tempo se engajem em atividades de
produção de conhecimento partilhado (CAMPOS et. al. 2003, p.51). No AVA TelEduc, essas
atividades acontecem nas ferramentas fórum de discussão e portfólio. Nesses espaços, além
da co-construção de conhecimento, há também a co-construção da identidade de cada
participante como uma pessoa de “carne e osso”, apesar de estarmos em um ambiente no qual
só existimos por meio da linguagem escrita. A fim de investigar esses processos, o trabalho
que ora apresentamos apóia-se nos conceitos de mediação, ZDP, regulação e scaffolding,
oriundos da Teoria Sociocultural, ou Sócio-interacionismo (VYGOTSKY, 1962/2002;
1984/1998), para mapear as interações na terceira semana de um curso de extensão
universitária. Este foi ministrado a distância para capacitar professores de idiomas na
produção de material didático digital e durou dez semanas. Para o estudo, analisamos o
conteúdo linguístico de 32 postagens por dez participantes no referido curso, o qual foi
custeado pela Escola Naval para o aperfeiçoamento da pesquisadora e de mais três colegas
docentes do Centro de Ciências Sociais, envolvidas com o ensino de idiomas a distância na
instituição. As análises sugerem que uma das participantes é percebida pelo grupo como par
mais competente, que há mudanças no estágio de regulação dos sujeitos por meio das
interações, e que a linguagem tem uma papel fundamental na mediação e no provimento de
scaffolding, principalmente para a redução dos níveis de liberdade e controle de frustração
(WOOD et al, 1976) com relação as tarefas.
Palavras-chave: Teoria Sociocultural. Ensino a distância. Linguagem.
1
Doutora em Letras pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. Professora Adjunta de Língua
Inglesa, coordenadora de disciplina, conteudista e tutora do Curso de Inglês Online da Escola Naval (EN).
Autora de livro para professores de idiomas pela Editora Vozes e colaboradora em livros didáticos para o ensino
de inglês pela Editora Richmond e pela Learning Factory. Pesquisadora Externa do Projeto LingNet –
Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). E-mail: dorissoares@terra.com.br.
3958
Introdução
A partir do reconhecimento de que a aprendizagem é mais uma empreitada social do
que individual e de que esta é essencialmente mediada pela linguagem, várias áreas têm
investigado como a colaboração, a interação e cooperação se relacionam à aprendizagem dos
alunos (OXFORD e NYIKOS, 1997, p.440).
A Educação à distância, por exemplo, apresenta um grande número de pesquisas que
tentam mapear esse território sócio-cultural. Nele, o computador é um instrumento de suporte
à comunicação e colaboração entre indivíduos que estão distantes fisicamente, porém
imbuídos de um mesmo objetivo: aprender por meio de um engajamento em atividades de
produção de conhecimento partilhado (CAMPOS et. al. 2003, p.51) em um ambiente virtual
de aprendizagem (AVA).
Para verificar como se dá esse engajamento, o presente trabalho apóia-se na Teoria
Sociocultural, ou Sócio-interacionismo, para mapear as interações em um curso de
capacitação online para professores idiomas. Para tanto, analisamos uma amostra de 32
postagens feita por dez participantes no referido curso, o qual foi custeado pela Escola Naval
para o aperfeiçoamento da pesquisadora e de mais três colegas docentes do Centro de
Ciências Sociais, envolvidas com o ensino de idiomas a distância na instituição.
A Teoria Sociocultural
Buscando investigar como os participantes constroem conhecimento nos AVAs,
estudos como os de Warschauer (1997) e Campos et al. (2003), entre outros, têm recorrido a
Teoria Sociocultural. Isso por que os conceitos Vygotskianos relacionados ao papel do meio
social para o desenvolvimento das habilidades cognitivas do aprendiz são “relevantes quando
consideramos como os alunos podem trabalhar juntos em um contexto de aprendizagem
online para criar conhecimento colaborativamente” (ANDERSON, 2004, p.39).
Para o presente trabalho, são úteis os conceitos de mediação, ZDP, regulação e
scaffolding.
3959
O conceito de Mediação
Segundo a visão Sociocultural, a aprendizagem parte do meio social para o individual
como consequência de interações linguisticamente mediadas que surgem entre a criança e os
outros (ALJAAFREH e LANTOLF, 1994, p.467).
Neste processo, a linguagem tem um papel crucial, pois, para agirmos no mundo
físico, usamos atividades e ferramentas simbólicas. As atividades permitem que mudemos o
mundo e, com isso, mudemos, também, as circunstâncias nas quais vivemos. Já as
ferramentas simbólicas, ou signos, medeiam e regulam a nossa relação com os outros e
conosco, modificando essas relações. Deste modo, conclui-se que toda relação entre nós e o
mundo é indireta, ou seja, mediada, e que tanto as ferramentas físicas (atividades) quanto as
simbólicas (psicológicas), por serem artefatos criados pelas culturas ao longo do tempo, são
passiveis de modificação pelas gerações seguintes (LANTOLF, 2000, p.1-2).
A comunicação mediada por computador (CMC) se encaixa nessa descrição, pois os
avanços tecnológicos criaram um novo contexto de situação no qual a mediação simbólica
através da linguagem é essencial para que o indivíduo estabeleça uma presença no ambiente
de aprendizagem e seja “construído” pelo seu interlocutor como um ser real, estabelecendo
vínculos interpessoais. Assim, a geração digital está no processo de retrabalhar a cultura para
atender às necessidades de suas comunidades e de seus indivíduos, adaptando o uso da
linguagem para esse novo contexto.
O Conceito de Zona de Desenvolvimento Proximal e os Estágios de Regulação
Nos AVAs, dois tipos de conhecimento são indispensáveis: o tecnológico (para se
transitar no ambiente) e o social (para se estabelecer relações virtuais com os demais
participantes). Nos cursos neles ministrados, de certo há indivíduos com graus diferentes de
expertise em ambos os conhecimentos. Assim, os novatos se beneficiam da mediação através
da colaboração de um sujeito mais experiente, ou par mais competente, na figura do tutor ou
de um colega mais capaz. Isso por que a instrução baseada em imitação, assistência e
cooperação tem um papel crítico em dar ao indivíduo as ferramentas psicológicas que
envolvem símbolos e linguagem, geralmente semióticas por natureza, necessárias para o
funcionamento das funções mentais superiores (VYGOTSKY, 1962/2002, p.375).
3960
Seja por imitação, seja por intervenção, é a partir da ajuda do outro que o aprendiz
pode fazer mais do que se ele estivesse sozinho, embora dentro dos limites impostos pelo seu
estágio de desenvolvimento. Essa mediação atua sobre a Zona de Desenvolvimento Proximal
(ZDP), definida por Vygotsky (1984 / 1998, p.112) como
a distância entre o nível de desenvolvimento real, que se costuma determinar através
da solução independente de problemas, e o nível de desenvolvimento potencial,
determinado através da solução de problemas sob a orientação de um adulto ou em
colaboração com companheiros mais capazes.
O aprendiz passa por três estágios de desenvolvimento cognitivo. O primeiro,
chamado de regulação pelo objeto, tem como característica o fato de que o ambiente exerce
uma influência determinante no sujeito, pois a sua atenção ainda é dominada pelos objetos ao
seu redor. No segundo estágio, chamado de regulação pelo outro, o aprendiz, guiado pelo par
mais competente, trabalha na ZDP através do diálogo com o outro e progride em direção à
realização de uma tarefa que ele ainda não consegue completar sozinho. O terceiro estágio é
chamado de auto-regulação e tem como característica o fato de que o aprendiz já é capaz de
desenvolver, de forma independente, estratégias para a resolução do problema que ele
encontra (GUERRERO e VILLAMIL, 1994, p.484-5; FIGUEIREDO, 2001, p.63-64).
Contudo, a auto-regulação não sinaliza o fim do processo de desenvolvimento, pois
este é dinâmico e fluido (FIGUEIREDO, 2001, p.65). Sendo assim, o adulto, em face de
situações nas quais a auto-regulação não dá conta da tarefa, faz uso de estratégias
anteriormente aprendidas para resolver novas situações. Essa qualidade da atividade mental é
conhecida como acesso contínuo.
O acesso contínuo foi identificado nos dados desta pesquisa, pois, como veremos, um
mesmo aprendiz pode atingir a auto-regulação quanto à utilização de uma ferramenta,
oferecendo ajuda para outros membros e, nas suas mensagens seguintes, se apresentar como
regulado pelo objeto quando não consegue utilizar uma nova ferramenta apresentada no
curso. Isso se deve à complexidade das áreas de conhecimento ativadas no curso em questão,
a saber: a) a técnica, b) a pedagógica, e c) a instrumental.
Sobre o conhecimento técnico, é esperada uma auto-regulação por parte dos
participantes, pois os pré-requisitos para inscrição no curso exigem o conhecimento sobre
como abrir e fechar arquivos, navegar pela Internet e pelas pastas do computador, compactar e
enviar arquivos por e-mail e instalar programas.
3961
Contudo, não é possível garantir que essa expectativa por auto-regulamentação seja
atendida em todos os níveis. Conforme veremos na análise, até os membros mais auto-
regulados nesse aspecto podem precisar, em certos momentos, de ajuda.
Sobre o conhecimento pedagógico, como o curso é para professores de idiomas, com
interesse em desenvolver materiais didáticos digitais, espera-se que os participantes já tenham
experiência com o uso de material impresso, pois esse conhecimento é a base para a fase
inicial do curso, na qual há leituras e discussões sobre o assunto nas três primeiras semanas
nos fóruns. Desse modo, supõe-se que nesse quesito os membros já estejam, no mínimo,
regulados pelo outro ou auto-regulados.
Sobre o conhecimento instrumental, todos os participantes são novatos já que o
sistema de autoria (programa para desenhar e disponibilizar as atividades) pertence aos donos
do curso. Como todos devem recorrer ao acesso contínuo e a colaboração para aprender a usar
esse sistema, o papel do suporte é crucial para que o grupo se mantenha motivado e aprenda,
superando as dificuldades no processo de familiarização com as ferramentas e com o AVA.
O Conceito de Scaffolding
A forma como um aprendiz passa do estágio de regulação pelo outro para o estágio de
auto-regulação é favorecida pelo scaffolding, definido como “a ajuda progressiva de quem
tem mais conhecimento para aquele que tem menos” (NASSAJI e CUMMINGS, 2000, p.98).
No contexto escolar, além do par aluno-professor, há muitos atores sociais e muitas formas de
relacionamentos. Portanto, muitos sujeitos podem fornecer o scaffolding de que o aluno
precisa (OXFORD, 1997, p.448).
Essa ajuda é caracterizada por seis funções, descritas no Quadro 1.
FUNÇÕES CARACTERÍSTICAS DO SCAFFOLDING
Recrutamento: conseguir a atenção e o interesse do aprendiz.
Redução nos níveis de liberdade: simplificar a tarefa para torná-la gerenciável.
Manutenção da direção: manter o aprendiz motivado e focado nos objetivos da tarefa.
Marcação das características críticas: destacar relevâncias e discrepâncias entre o que foi feito e
o que é esperado.
Controle de frustração: reduzir o estresse durante a solução de problemas.
Demonstração: demonstrar, completar ou explicar a solução parcial da tarefa
Quadro 1 – Funções características do Scaffolding
Fonte: Organizado pela autora, com base em Wood et. al. (1976, p.98).
3962
Esses apoios devem ser graduados (sensíveis ao nível de ajuda necessária), sendo, em
princípio implícitos e, caso necessário, fazendo-se mais explícitos ao longo do processo;
contingente, ou seja, oferecido somente quando necessário, e dialógico, já que é por meio do
diálogo que se evidencia a ZDP e o tipo de ajuda a ser oferecido.
Em termos práticos, a existência de pontos de vista divergentes na realização de uma
tarefa em comum pode ser útil na criação de ZDP, pois uma opinião alternativa do colega
pode proporcionar assistência (scaffolding) para a reconstrução, em um nível superior, dos
próprios esquemas de conhecimento para resolver as discrepâncias. Além disso, a necessidade
do participante explicitar o seu ponto de vista de modo compreensível e colaborar na tarefa, o
obriga a buscar alternativas para uma mesma idéia, revendo e enriquecendo o próprio ponto
de vista (ONRUBIA, 2004, p.145-7).
Por fim, a possibilidade de intercambiar papéis no grupo, controlar mutuamente seu
trabalho, e receber/oferecer ajuda de maneira contínua, não aparece habitualmente na relação
presencial entre professor-aluno, pois nessa, o professor é quem domina as interações, muitas
vezes determinando quem fala para quem e em que momento. Por outro lado, nos fóruns de
discussão, é comum que alguém que esteja online tome a iniciativa e proveja a assistência ao
colega, como veremos. Isso por que a falta de “onisciência/onipresença” do professor no
tempo e espaço e a fluidez das interações permitem que haja a assistência mútua nos fóruns de
discussão em maior escala do que na sala de aula presencial.
Para garantir uma interação saudável em termos psicológicos e afetivos, a promoção
de atividades de scaffolding mútuo deve se bem planejada e as interações delas resultantes
monitoradas pelo tutor. Assim, ele estará atento para que situações prejudiciais ao
crescimento da ZDP sejam neutralizadas.
Metodologia e Análise dos Dados
Seguindo Denzin e Lincoln, (1998, p.4) “os pesquisadores contam histórias sobre os
mundos que eles estudaram”, sendo o produto final uma “criação complexa, densa, reflexiva,
que representa as imagens, os entendimentos e as interpretações de mundo ou do fenômeno
que esta sendo analisado”.
Partindo dessa visão de pesquisa, estudamos uma amostra de 32 postagens para
alcançar os seguintes objetivos: a) entender melhor a co-construção de conhecimento em um
curso a distância, b) buscar evidências do uso da linguagem para promover scaffolding, c)
3963
definir o estágio de regulação dos sujeitos, e d) atestar avanços na ZDP. As postagens foram
feitas por dez sujeitos (nove alunos e o tutor) nos fóruns e portfólios de um curso de
capacitação para professores de idiomas no AVA TelEduc. As amostras, recolhidas na terceira
semana do curso, cuja duração foi de dez semanas, foram divididas em três grupos e serão
analisadas nas seções que se seguem. Em alguns casos, a postagem é apresentada na íntegra;
em outros, nos restringimos a apresentar somente partes da mesma, entre aspas, por questões
de restrição de espaço neste.
Os participantes do estudo são todos pós-graduados, com idade entre 30-65 anos, e
com experiência no ensino presencial de idiomas. Desses, quatro são colegas na mesma
instituição enquanto que os demais se conheceram apenas virtualmente. Cada participante
será identificado neste trabalho pela letra P e um número.
Grupo 1: A Construção do Sujeito como Par Mais Competente na Interação
Esse grupo de doze mensagens enfoca o papel do par mais competente em interação
entre quatro alunas (P1, P2, P3, P4), que não se conheciam anteriormente, e o tutor (T) nas
ferramentas fórum de discussão e portfólio no AVA TelEduc na terceira semana do curso.
A interação inicia com a postagem de uma dúvida de P1, endereçada a T. Contudo,
menos de duas horas depois, quem fornece assistência não é T, mas outra aluna, P2, que provê
scaffolding por meio de uma demonstração. Para legitimar sua posição de par mais
competente, inclui em sua mensagem a informação de que o procedimento funcionou para ela.
Quarenta minutos depois, P1 agradece e explica o porquê de seu erro ao dizer que “(...) não
tinha colocado as figuras na mesma pasta, agora deu certo!!”.
A resposta de P1 demonstra que houve um avanço na ZDP e, por conseguinte, uma
mudança no estágio de regulação. Se antes P1 não conseguia resolver o problema sem a
ajuda, estando regulada pelo outro, possivelmente aprendeu a solução e será capaz de colocá-
la em prática, caso se confronte com uma situação similar.
Cinco horas após a mensagem inicial de P1, o tutor ratifica a assistência prestada por
P2 ao dizer que está “(...) só fazendo ‘eco’ no que disse a P2 (...)” e se colocando à
disposição, caso necessário. No dia seguinte, P1 explica a T que a ajuda de P2 foi suficiente e
que entendeu seu erro, mas pede uma marcação das características críticas por parte do tutor,
dizendo “(...) Você pode dar uma olhada para ver se é como fiz? Coloquei a pasta inteira.” T
responde no portfólio da aluna, ressaltando os pontos positivos da tarefa dizendo: “Em
3964
primeiro lugar, as notícias boas: Está tudo aparentemente funcionando”. A seguir, indica as
discrepâncias entre o que foi produzido e o que é esperado no curso.
Sobre essa indicação, nota-se que é uma repetição do que já havia sido dito, tanto por
P2 (“As imagens que usou devem estar todas na mesma pasta do arquivo htm”), por P1 a P2
(“Eu não tinha colocado as figuras na mesma pasta”) e pelo próprio T (“Todas as imagens
têm que estar na mesma pasta em que a atividade é salva”). Como o curso é todo feito a
distância, T talvez tenha querido reforçar o procedimento, o explicando novamente.
Além da orientação, T realiza um controle de frustração dizendo “(...) fazendo esses
ajustes, tudo ficará ok” e oferece uma manutenção de direção com um elogio que serve para
manter a participante motivada e focada nos objetivos da tarefa quando diz “No mais, o início
prático está muito bom e com tudo para melhorar ainda mais!”.
Ainda no fórum, outra aluna, P3, se engaja na conversa se apresentado como auto-
regulada ao dizer a P2: “Nossa, acho que vou precisar da sua ajuda, hein!!” e reconhecendo
em P2 um par mais competente ao dizer: “Já vi que você entende mesmo dos programas para
elaborar as atividades”.
P2, uma professora com experiência em tutoria online2
, demonstra ter consciência da
dinâmica que esta acontecendo e de como a colaboração é importante para esse contexto de
aprendizagem ao responder: “(...) O ambiente de estudos aqui é para isso. Colaborar e ajudar
sempre que possível. Estamos aí!”.
T, por sua vez, deixa explícito que apóia a iniciativa de P2 em duas mensagens: uma
no dia seguinte, na qual ele diz que a experiência de P2 “(...) será de grande valia para o
grupo.” e a segunda, dois dias depois, ao dizer que estava “(...) achando ótima essa
interação.”.
Outro benefício de se pedir ajuda aos colegas está associado ao fato de a solução, no
grupo em questão, vir sem demora. No caso aqui exemplificado, P2 foi mais rápida do que T
para prover auxílio. Essa rapidez na solução de problemas é um fator essencial para diminuir
o grau de frustração do aluno ante as dificuldades em um curso a distância e mantê-lo
motivado. Percebendo a disposição dos colegas para ajudar, algumas dúvidas são endereçadas
ao grupo e não diretamente ao tutor, conforme este exemplo, postado por P4 no fórum
Dúvidas e soluções: ferramenta de autoria:
2
A professora é tutora e web designer no Núcleo de Educação a Distância da Escola Naval (NEAD) .
3965
“Oi gente ,
Consegui criar as atividades da semana 3 e incluí-las no portfólio, mas não faço
idéia de como compactar ou descompactar arquivos. Procurei nos tutoriais e não
achei. Será que alguém poderia me ajudar?”
As mensagens ora apresentadas servem para ilustrar que, diferentemente do que se
observa na sala de aula presencial tradicional, o potencial dos participantes para promover o
avanço na ZDP uns dos outros pode ser amplamente explorado e alimentado em um AVA,
como fez o tutor do curso em questão, encorajando a aprendizagem colaborativa.
Grupo 2: Provendo Scaffolding para Tornar a Tarefa Gerenciável:
Uma questão importante na aprendizagem online é a certeza de que todos estejam
acompanhando as atividades. As quatro mensagens neste grupo ilustram que quando o tutor
percebe dúvidas recorrentes, ele pode decidir prover scaffolding de modo a facilitar a tarefa
para torná-la gerenciável. Esta redução nos níveis de liberdade foi realizada a partir do
momento em que T constatou que a maioria dos participantes estava dizendo no fórum da
semana 3 que não conseguiam zipar o arquivo com as suas atividades e enviá-las para seus
portfólios.
Apesar de esse ser um conhecimento técnico tido como pré-requisito para o curso, T
intervém postando uma demonstração de como isso deve ser feito, e explicando passo a passo
o procedimento, suas vantagens e desvantagens, além de prover um modelo.
Destacamos que P2 se coloca na posição de regulada por outro em duas respostas ao
tutor. Na primeira, diz que não sabia da existência do procedimento; na segunda, ela avalia a
sugestão de T dizendo “Acabei de testar e gostei. só dá trabalho carregar arquivo por
arquivo.” e perguntando: “Funciona com RAR? Como faço para descompactar na pasta
depois do envio (foi isso que entendi ser possível fazer)?”.
Percebe-se, portanto, que P2 é auto-regulada para alguns assuntos e regulada pelo
outro para os demais. Porém, o desejo de aprender novas formas de trabalho e a sua
preocupação com os colegas ao dizer em outra mensagem: “Acho que vai agilizar a
visualização por parte dos colegas”, quando se refere ao procedimento em questão,
demonstra que ela está aberta a aprendizagem e querendo facilitar o trabalho dos outros
participantes que desejem ver em seu portfólio as atividades que ela está preparando.
3966
Essa sequência também nos remete ao fato de que estudar online pode ser muito
frustrante quando enfrentamos dificuldades, pois, nem sempre há uma solução imediata para
nossos problemas. Assim, corremos o risco de ficar presos em uma situação e não avançar a
contento. Desse modo, passo a tratar do papel da mediação em forma de apoio emocional do
grupo visando auxiliar àqueles menos regulados.
Grupo 3: Caminhando na ZDP- Evidências de Mudança no Estágio de Regulação
No curso em questão, a linguagem é o único instrumento para mediar as relações
sociais entre os participantes, pois o AVA TelEduc não permite o uso de nenhum recurso
visual que dê ao texto um toque mais pessoal, tais como o uso de cores, imagens, som, etc.
Somente é possível fazer uso dos caracteres do teclado para criar as mensagens. Portanto, os
participantes vão construindo suas personas a partir das suas escolhas discursivas. Essas, por
sua vez, determinam a forma pela qual cada interlocutor irá se alinhar, ou não, com seus
colegas e, nesse processo, trabalhar colaborativamente na co-construção da aprendizagem e
das relações sociais.
Essa dinâmica pode ser identificada na análise das 16 mensagens apresentadas nesta
seção, cuja personagem principal, P5, diz em seu perfil: “Tenho grande interesse nas novas
tecnologias, apesar do meu conhecimento sobre elas ser bem restrito”. Pela escolha antitética
“grande interesse” x “pouco conhecimento” sobre o assunto do curso, conclui-se que P5 está
em um estágio inicial na ZDP, mas motivada para aprender.
Essas conclusões são ratificadas quando P5, no fórum partilhando experiências, relata
suas dificuldades e temores iniciais com respeito ao curso e como as mensagens que leu no
fórum a ajudaram a caminhar na ZDP. Observemos a mensagem de P5:
Segunda-feira, segunda semana. Motivação alta. Preparei-me para fazer a Atividade
01. Identifiquei tratar-se de um texto em inglês e ser um diálogo e só, mas e a
situcionalidade do texto? Passei para o outro item, aí fiquei mais desorientada ainda.
Preocupada ("Será que tenho condições de fazer este curso?", pensei
imediatamente), resolvi dar uma olhada no Fórum de discussão e encontrei a
mensagem da P6 e, meio aliviada, percebi que a minha dificuldade era também a de
outras pessoas (posteriormente, vi a complementação do T para a atividade 1.
Realmente, ficou bem mais clara na forma reconstituída). Na medida em que fui me
"acalmando" e fazendo as atividades subseqüentes, vi que elas eram bem prazerosas,
e o importante não era acertar, mas perceber como se pode trabalhar com essas
técnicas (inclusive relativizando o erro, usando o humor para desmitificá-lo,
brincando com o aluno). Foi uma aprendizagem valiosa para mim. Quanto ao texto
teórico, confesso que foi uma abordagem nova para mim (nunca tinha lido algo
3967
parecido). Gostei bastante, entre outros motivos, principalmente por não ter uma
posição dogmática no que se refere à definição da abordagem lingüística.
O discurso de P5 deixa claro uma gradação de suas sensações ao travar conhecimento
com algo novo para ela: a “motivação alta” para iniciar a descoberta, as dificuldades iniciais
crescentes que a deixam “mais desorientada ainda”, a constatação de que há um problema
sério que a deixa “preocupada” e a confirmação de que, no momento, está regulada pelo
objeto. Porém, ao travar contato com as realidades de outros participantes do grupo, ela se
sente “meio aliviada”, pois percebe que outros estão na mesma situação. Isto faz com que ela
vá se “acalmando” e que comece a considerar as atividades como “prazerosas”. Por fim, há
a avaliação desse movimento de altos e baixos e ela relata ter vivido “uma aprendizagem
valiosa” com este percurso.
Na postagem, a linguagem foi carregada de expressões de emoções e sentimentos que
nos ajudam a construir P5 como novata no que tange o conteúdo do curso, mas madura para
lidar com suas sensações e buscar ajuda nos relatos de outros colegas. A reflexão sobre a sua
experiência de aprendizagem é importante para estabelecer sua persona como alguém que tem
dificuldades, mas que também é persistente e deseja aprender com o grupo.
Esta tônica também se faz presente nas interações a seguir, frutos da sua tentativa de
produzir uma atividade didática com o sistema de autoria.
No fórum da terceira semana, P5 abre um tópico cujo título é “Problemas, problemas,
problemas”. A escolha por repetir o substantivo problemas por três vezes já sinaliza que irá
partilhar com o grupo todo seu esforço e frustração em realizar a primeira atividade do curso,
apesar de contar com a ajuda presencial de uma colega de trabalho, P7, que tem experiência
com cursos online3
. Observemos:
Estou há pelo menos três dias tentando (com persistência e clicando) fazer a
atividade e, até agora (apesar de estar infernizando a vida da P7 com dúvidas,
coitada!), não consegui executar a atividade integralmente. Tenho acompanhado o
trabalho dos colegas e, embora não tenha postado ainda meus comentários em seus
portfólios, tenho gostado de todos eles; estão muito bons. O que me faz refletir sobre
a minha competência neste curso. É claro que o curso é ótimo (não estou salvando a
face dos professores, não), já aprendi muitíssimas coisas e quando venço minhas
limitações sinto grande satisfação, porém agora estou "batendo cabeça". O que
posso fazer?
Novamente, P5 se coloca como alguém persistente, pois está “há pelo menos três dias
tentando (com persistência e clicando)”, mas que ainda se acha regulada pelo objeto naquele
3
P7 é coordenadora do curso de inglês online no NEAD.
3968
momento. Ela também reconhece a expertise de outros participantes e questiona a sua
competência para estar no grupo. Contudo, ela tem o cuidado de não passar uma imagem
negativa do curso e faz questão de reconhece, usando o superlativo, que aprendeu
“muitíssimas coisas” e que tem vencido suas “limitações”. De certo modo, seu discurso
ratifica a imagem de “aluna com dificuldade, porém esforçada” que está sendo construída por
ela, o que suscita demonstrações de apoio e solidariedade de P8 e P9. Essas colegas
respondem ao seu apelo com mensagens de incentivo e que tem como função o controle de
frustração. Vejamos.
A primeira mensagem foi enviada menos de duas horas após o pronunciamento de P6.
Nela, P8 lhe deseja boa sorte e afirma que “tb vamos gostar muito do seu trabalho”. A
segunda mensagem veio quatro horas depois e revela um tom mais solidário como método
para controlar a frustração. Além de conforta P5 ao dizer que está na mesma situação que
ela, P9, que P5 conheceu no curso, se coloca a disposição para ajudá-la fora do ambiente do
curso, por meio de seu email pessoal. P5, horas depois, agradece e diz que esta “vendo uma
luzinha no fim do túnel”. O tutor, por sua vez, reitera o papel do grupo como fonte de
assistência, e tenta expressar sua alegria usando o emoticon ;D, que é interpretado como uma
pessoa piscando e sorrindo alegremente. Esta é uma forma de fazer com que a linguagem
escrita passe uma sensação de afeto e suporte.
P5 responde, no dia seguinte, com uma mensagem intitulada soluções. A escolha pelo
título soluções já indica que o teor desta será mais positivo do que o da postagem anterior.
Ela diz: “Realmente foi muito legal o apoio do grupo, que respondeu imediatamente ao meu
apelo”. Ela também se diz “um pouco mais confiante”, o que sinaliza que a colaboração está
sendo um fator motivacional importante perante os obstáculos. Ela também aproveita o
direcionamento do tutor para explicitar suas dúvidas. Verifiquemos este trecho da mensagem:
Depois de anexar a imagem não consigo vê-la na simulação do jogo. 2. Ao
fechar o jogo não consigo encontrar o arquivo htm criado (ou seja, não sei onde
gravei, parece até piada).
A primeira dúvida é a mesma que P1 teve na elaboração de sua atividade, já discutida
neste trabalho. Ela recebeu uma resposta similar ao que foi dito anteriormente no fórum
(“Tudo tem que estar na mesma pasta”). Esta situação pode sinalizar que P5 não leu todas as
mensagens do fórum antes de iniciar a atividade, ou que esse dado se perdeu em meio a tanta
3969
informação, pois, quando ela postou a dúvida, tinham seis fóruns abertos ao mesmo tempo e
um total de 378 mensagens trocadas entre os 30 participantes no curso.
A segunda pergunta tem a ver com o seu conhecimento limitado da área técnica. P5,
logo após postar sua dúvida, envia nova mensagem ao fórum para informar a T que “o
arquivo "fugitivo" já foi encontrado”. Isso indica que, mesmo após pedir auxílio, ela
continuou tentando resolver o seu problema sozinha enquanto aguardava uma resposta. O
tutor, algumas horas depois, responde da seguinte maneira:
Quanto à segunda pergunta, você precisa organizar seus passos e ficar atenta ao
local em que salva as atividades. Pode parecer óbvio, mas é a única coisa que posso
dizer para você nesse caso... ;)
Ressalto que T usa novamente um emoticon, desta vez para sinalizar a expressão
facial de piscar e sorrir. Um dado merece destaque é que do total de 22 postagens feitas por
ele na terceira semana do curso, além das ocorrências já citadas neste trabalho, emoticons só
aparecem em mais uma mensagem, a qual não foi direcionada a P5. Isto pode indicar que T,
ao perceber que P5 precisa de muito apoio, decidiu, por meio da linguagem icônica, se fazer
mais presente e “carinhoso” para reconfortá-la e controlar o nível de frustração.
Em resposta, P5 verbaliza que finalmente conseguiu realizar a atividade. O tutor usa
o emoticon novamente e diz “Pelo que vi lá no seu portfólio, conseguiu mesmo. :D”, enquanto
P2 usa vários pontos de exclamação para demonstrar que deseja enfatizar o que está dizendo,
dando um maior suporte emocional na sua mensagem: “Tá sim! legal, P5!”.
P5 reconhece o valor do apoio recebido e agradece em uma postagem na qual
menciona o nome de cada colega que a ajudou.
T responde de modo a prover uma manutenção da direção dizendo: “O que é isso, P5!
Se não fosse a sua dedicação, o trabalho não teria sido tão bem feito” e reforça a colaboração
do grupo ao dizer: “Quando precisar, já sabe - estamos aqui.”.
Outras demonstrações de apoio foram observadas. P7, sua colega de trabalho, diz
“Mérito seu por tentar sem desistir”. Já P9 diz:
Oi P5!!!
Parabéns pelo esforço e pela vitória a cada atividade! Eu é que tenho que agradecer
por colegas que a cada dúvida faz com que eu reflita sobre o quanto eu ainda tenho
que aprender... Como está sendo legal! Beijo grande!!! P9
3970
Com relação a essa mensagem, é interessante notar que P9 se constrói como uma
aluna que utiliza a experiência da colega para o seu crescimento e que reconhece que aprender
com o outro é muito gratificante.
Deste modo, as mensagens tratadas nesta seção demonstram uma caminhada
colaborativa na qual P5 passa do estágio de regulada pelo objeto, no qual não conseguia
realizar a tarefa, para um estágio maior de regulação no qual ela, aparentemente, aprendeu
com o tutor o que fazer e recebeu das colegas algo fundamental: apoio moral, solidariedade e
incentivo para continuar, além do reconhecimento final pelo seu esforço. Esta combinação fez
com que P5 aproveitasse a experiência de aprendizagem4
, o que nos leva a concluir que o
estabelecimento de um ambiente em que as relações sociais virtuais sejam harmônicas, não
competitivas e de apoio mútuo é um objetivo que deve ser encorajado pelo tutor e almejado
por todos os participantes do grupo.
Para finalizar esta seção, destacamos que, como dito anteriormente, havia um grande
volume de mensagens e vários fóruns abertos. Isso pode causar stress e desmotivação nos
participantes. No curso em questão, uma parte dessas mensagens repetia as mesmas instruções
para sanar dúvidas similares, como aconteceu com P1 e P5.
Como solução, sugerimos um scaffolding mais explícito por meio de recrutamento, no
qual o tutor consiga a atenção de todos e proceda a uma demonstração. A assistência poderia
ser prestada em forma de um documento explicativo sobre o assunto em questão,
disponibilizado para comentários subsequentes. Outra técnica é fazer um resumo das
principais idéias tratadas nas mensagens, periodicamente. O resumo serve para focalizar a
atenção do grupo e oferece a possibilidade de destacar o que é mais importante, mas que
talvez o aprendiz não tenha reparado na sua leitura. Essa seria uma forma de manter a direção
em um ambiente no qual é fácil os aprendizes se “desgarrarem” do grupo, perdendo
informações preciosas.
Considerações Finais
Este trabalho teve como objetivo investigar em uma amostra de 32 postagens como
são tecidas relações sociais complexas e que impulsionam a aprendizagem na fase inicial de
um curso a distância, no qual fomos, ao mesmo tempo, aluna e pesquisadora.
4
Registro aqui a avaliação final do curso feita por P5: “Para mim, o curso foi ótimo. Aprendi bastante, inclusive
sobre mim mesma, já que de início eu mesma achava que não tinha a mínima condição de aprender algo.”.
3971
Para tanto, buscamos suporte teórico nos conceitos de mediação, ZDP, regulação e
scaffolding por acreditarmos, como Guerrero e Villamil (1994, p.493), que o paradigma
Vygotskyano captura como nenhum outro a influência sutil que existe entre interação
colaborativa e funcionamento intelectual independente.
Acreditamos que as evidências aqui apresentadas e discutidas dão suporte ao
pensamento de Foster (1983, p.27) de que a interação é a chave para aprendizagem, e que as
atividades em grupo e as sessões de discussão são métodos pedagógicos que refletem os
conceitos teóricos sobre o desenvolvimento cognitivo através da comunicação.
Portanto, destacamos que os assuntos levantados nesse estudo devem ser observados
na prática por aqueles que trabalham na moderação de fóruns de discussão com objetivos
pedagógicos ou na tutoria em cursos online. Isso por que a compreensão de como os
conceitos ora explorados se manifestam nas interações por meio da linguagem escrita nos
ajuda a perceber até que ponto os alunos estão colaborando para o sucesso da aprendizagem
do grupo.
REFERÊNCIAS
ALJAAFREH, A; LANTOLF, J. Negative feedback as regulation and second language
learning in the Zone of Proximal Development. The Modern Language Journal, v.78, no.4,
p. 455-483, 1994.
ANDERSON, T. Towards a theory of online learning. IN: ANDERSON, T.; ELLOUNI, F.
Theory and practice of online learning. Canada: Athabasca University, 2004.
CAMPOS, F. C.A.; SANTORO, F. M.; BORGES, M. R. S.; SANTOS, N. Cooperação e
aprendizagem online. RJ: DPeA Ed, 2003.
DENZIN, N. K; LINCOLN, Y. S. Introduction: entering the Field of qualitative research. In:
DENZIN, N. K; LINCOLN, Y. S. (orgs). Collecting and interpreting qualitative materials.
Thousand Oaks: SAGE Publications. 2003. p.1-34.
FIGUEIREDO, F. J. Q. Correção com pares: os efeitos do processo de correção dialogada
na aprendizagem da escrita em língua inglesa. 2001. 340 f. Tese (Doutorado) –
Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2001.
FOSTER, D. A prime for writing teacher: theories, theorists, issues, problems. Upper
Montclair, NJ: Boynton / Cook, 1983.
3972
GUERRERO, M. C. M.; VILLAMIL, O. S. Social-cognitive dimensions of interaction in L2
peer revision. The Modern Language Journal, v.78, p.484-496, 1994.
LANTOLF, J. Sociocultural Theory and Second Language Learning. Oxford: OUP 2000.
NASSAJI, H.; CUMMING, A. What’s in a ZPD? A case study of a young ESL student and
teacher interacting through dialogue journals. Language Teaching Research, v.42, p.95-121.
2000.
ONRUBIA, J. Ensinar: criar zonas de desenvolvimento proximal e nelas intervir. In: COLL,
et al. O construtivismo na sala de aula. São Paulo: Ed Ática, 2004, p.123-151.
OXFORD, R. Cooperative learning, collaborative learning and interaction: three strands in the
language classroom. The Modern Language Journal, v. 81, no.4, p. 443-456, 1997.
OXFORD, R.; NYIKOS, M. Interaction, collaboration and cooperation: learning languages
and preparing language teacher: introduction to the special issue. The Modern Language
Journal, v. 81, no.4, p. 440-442, 1997.
VYGOTSKY, L. (1962) Pensamento e linguagem. SP, Martins Fontes, 1998.
VYGOTSKY, L. (1984) A formação social da mente. SP, Martins Fontes, 1998.
WARSCHAUER, M. Computer –mediated collaborative learning: theory and practice. The
Modern Language Journal, v.81, n. iv, p.470-481, 1997.
WOOD, D; BRUNER, J. ROSS, G. The role of tutoring in problem-solving. Journal of
Child Psychology and Child Psychiatry, v.17, no.1, p. 89-100, 1976.

Contenu connexe

Plus de Doris Soares

Plus de Doris Soares (9)

O perfil online como gênero em um curso a distância
O perfil online como gênero em um curso a distânciaO perfil online como gênero em um curso a distância
O perfil online como gênero em um curso a distância
 
Globalization
GlobalizationGlobalization
Globalization
 
Andreza
AndrezaAndreza
Andreza
 
Cult Maroon 5
Cult Maroon 5Cult Maroon 5
Cult Maroon 5
 
Malu Mader
Malu MaderMalu Mader
Malu Mader
 
Andreza
AndrezaAndreza
Andreza
 
Hilary Duff
Hilary DuffHilary Duff
Hilary Duff
 
Karine
KarineKarine
Karine
 
Marina
MarinaMarina
Marina
 

Dernier

Guia completo da Previdênci a - Reforma .pdf
Guia completo da Previdênci a - Reforma .pdfGuia completo da Previdênci a - Reforma .pdf
Guia completo da Previdênci a - Reforma .pdfEyshilaKelly1
 
Gametogênese, formação dos gametas masculino e feminino
Gametogênese, formação dos gametas masculino e femininoGametogênese, formação dos gametas masculino e feminino
Gametogênese, formação dos gametas masculino e femininoCelianeOliveira8
 
HORA DO CONTO3_BECRE D. CARLOS I_2023_2024
HORA DO CONTO3_BECRE D. CARLOS I_2023_2024HORA DO CONTO3_BECRE D. CARLOS I_2023_2024
HORA DO CONTO3_BECRE D. CARLOS I_2023_2024Sandra Pratas
 
A Inteligência Artificial na Educação e a Inclusão Linguística
A Inteligência Artificial na Educação e a Inclusão LinguísticaA Inteligência Artificial na Educação e a Inclusão Linguística
A Inteligência Artificial na Educação e a Inclusão LinguísticaFernanda Ledesma
 
Cultura e Sociedade - Texto de Apoio.pdf
Cultura e Sociedade - Texto de Apoio.pdfCultura e Sociedade - Texto de Apoio.pdf
Cultura e Sociedade - Texto de Apoio.pdfaulasgege
 
Slides Lição 2, Central Gospel, A Volta Do Senhor Jesus , 1Tr24.pptx
Slides Lição 2, Central Gospel, A Volta Do Senhor Jesus , 1Tr24.pptxSlides Lição 2, Central Gospel, A Volta Do Senhor Jesus , 1Tr24.pptx
Slides Lição 2, Central Gospel, A Volta Do Senhor Jesus , 1Tr24.pptxLuizHenriquedeAlmeid6
 
Slide de exemplo sobre o Sítio do Pica Pau Amarelo.pptx
Slide de exemplo sobre o Sítio do Pica Pau Amarelo.pptxSlide de exemplo sobre o Sítio do Pica Pau Amarelo.pptx
Slide de exemplo sobre o Sítio do Pica Pau Amarelo.pptxconcelhovdragons
 
Mapas Mentais - Português - Principais Tópicos.pdf
Mapas Mentais - Português - Principais Tópicos.pdfMapas Mentais - Português - Principais Tópicos.pdf
Mapas Mentais - Português - Principais Tópicos.pdfangelicass1
 
637743470-Mapa-Mental-Portugue-s-1.pdf 4 ano
637743470-Mapa-Mental-Portugue-s-1.pdf 4 ano637743470-Mapa-Mental-Portugue-s-1.pdf 4 ano
637743470-Mapa-Mental-Portugue-s-1.pdf 4 anoAdelmaTorres2
 
HORA DO CONTO5_BECRE D. CARLOS I_2023_2024
HORA DO CONTO5_BECRE D. CARLOS I_2023_2024HORA DO CONTO5_BECRE D. CARLOS I_2023_2024
HORA DO CONTO5_BECRE D. CARLOS I_2023_2024Sandra Pratas
 
ÁREA DE FIGURAS PLANAS - DESCRITOR DE MATEMATICA D12 ENSINO MEDIO.pptx
ÁREA DE FIGURAS PLANAS - DESCRITOR DE MATEMATICA D12 ENSINO MEDIO.pptxÁREA DE FIGURAS PLANAS - DESCRITOR DE MATEMATICA D12 ENSINO MEDIO.pptx
ÁREA DE FIGURAS PLANAS - DESCRITOR DE MATEMATICA D12 ENSINO MEDIO.pptxDeyvidBriel
 
Apresentação sobre o Combate a Dengue 2024
Apresentação sobre o Combate a Dengue 2024Apresentação sobre o Combate a Dengue 2024
Apresentação sobre o Combate a Dengue 2024GleyceMoreiraXWeslle
 
PLANEJAMENTO anual do 3ANO fundamental 1 MG.pdf
PLANEJAMENTO anual do  3ANO fundamental 1 MG.pdfPLANEJAMENTO anual do  3ANO fundamental 1 MG.pdf
PLANEJAMENTO anual do 3ANO fundamental 1 MG.pdfProfGleide
 
As Viagens Missionária do Apostolo Paulo.pptx
As Viagens Missionária do Apostolo Paulo.pptxAs Viagens Missionária do Apostolo Paulo.pptx
As Viagens Missionária do Apostolo Paulo.pptxAlexandreFrana33
 
BRASIL - DOMÍNIOS MORFOCLIMÁTICOS - Fund 2.pdf
BRASIL - DOMÍNIOS MORFOCLIMÁTICOS - Fund 2.pdfBRASIL - DOMÍNIOS MORFOCLIMÁTICOS - Fund 2.pdf
BRASIL - DOMÍNIOS MORFOCLIMÁTICOS - Fund 2.pdfHenrique Pontes
 
Prática de interpretação de imagens de satélite no QGIS
Prática de interpretação de imagens de satélite no QGISPrática de interpretação de imagens de satélite no QGIS
Prática de interpretação de imagens de satélite no QGISVitor Vieira Vasconcelos
 
Bingo da potenciação e radiciação de números inteiros
Bingo da potenciação e radiciação de números inteirosBingo da potenciação e radiciação de números inteiros
Bingo da potenciação e radiciação de números inteirosAntnyoAllysson
 
Aula - 2º Ano - Cultura e Sociedade - Conceitos-chave
Aula - 2º Ano - Cultura e Sociedade - Conceitos-chaveAula - 2º Ano - Cultura e Sociedade - Conceitos-chave
Aula - 2º Ano - Cultura e Sociedade - Conceitos-chaveaulasgege
 
PPT _ Módulo 3_Direito Comercial_2023_2024.pdf
PPT _ Módulo 3_Direito Comercial_2023_2024.pdfPPT _ Módulo 3_Direito Comercial_2023_2024.pdf
PPT _ Módulo 3_Direito Comercial_2023_2024.pdfAnaGonalves804156
 

Dernier (20)

Guia completo da Previdênci a - Reforma .pdf
Guia completo da Previdênci a - Reforma .pdfGuia completo da Previdênci a - Reforma .pdf
Guia completo da Previdênci a - Reforma .pdf
 
(76- ESTUDO MATEUS) A ACLAMAÇÃO DO REI..
(76- ESTUDO MATEUS) A ACLAMAÇÃO DO REI..(76- ESTUDO MATEUS) A ACLAMAÇÃO DO REI..
(76- ESTUDO MATEUS) A ACLAMAÇÃO DO REI..
 
Gametogênese, formação dos gametas masculino e feminino
Gametogênese, formação dos gametas masculino e femininoGametogênese, formação dos gametas masculino e feminino
Gametogênese, formação dos gametas masculino e feminino
 
HORA DO CONTO3_BECRE D. CARLOS I_2023_2024
HORA DO CONTO3_BECRE D. CARLOS I_2023_2024HORA DO CONTO3_BECRE D. CARLOS I_2023_2024
HORA DO CONTO3_BECRE D. CARLOS I_2023_2024
 
A Inteligência Artificial na Educação e a Inclusão Linguística
A Inteligência Artificial na Educação e a Inclusão LinguísticaA Inteligência Artificial na Educação e a Inclusão Linguística
A Inteligência Artificial na Educação e a Inclusão Linguística
 
Cultura e Sociedade - Texto de Apoio.pdf
Cultura e Sociedade - Texto de Apoio.pdfCultura e Sociedade - Texto de Apoio.pdf
Cultura e Sociedade - Texto de Apoio.pdf
 
Slides Lição 2, Central Gospel, A Volta Do Senhor Jesus , 1Tr24.pptx
Slides Lição 2, Central Gospel, A Volta Do Senhor Jesus , 1Tr24.pptxSlides Lição 2, Central Gospel, A Volta Do Senhor Jesus , 1Tr24.pptx
Slides Lição 2, Central Gospel, A Volta Do Senhor Jesus , 1Tr24.pptx
 
Slide de exemplo sobre o Sítio do Pica Pau Amarelo.pptx
Slide de exemplo sobre o Sítio do Pica Pau Amarelo.pptxSlide de exemplo sobre o Sítio do Pica Pau Amarelo.pptx
Slide de exemplo sobre o Sítio do Pica Pau Amarelo.pptx
 
Mapas Mentais - Português - Principais Tópicos.pdf
Mapas Mentais - Português - Principais Tópicos.pdfMapas Mentais - Português - Principais Tópicos.pdf
Mapas Mentais - Português - Principais Tópicos.pdf
 
637743470-Mapa-Mental-Portugue-s-1.pdf 4 ano
637743470-Mapa-Mental-Portugue-s-1.pdf 4 ano637743470-Mapa-Mental-Portugue-s-1.pdf 4 ano
637743470-Mapa-Mental-Portugue-s-1.pdf 4 ano
 
HORA DO CONTO5_BECRE D. CARLOS I_2023_2024
HORA DO CONTO5_BECRE D. CARLOS I_2023_2024HORA DO CONTO5_BECRE D. CARLOS I_2023_2024
HORA DO CONTO5_BECRE D. CARLOS I_2023_2024
 
ÁREA DE FIGURAS PLANAS - DESCRITOR DE MATEMATICA D12 ENSINO MEDIO.pptx
ÁREA DE FIGURAS PLANAS - DESCRITOR DE MATEMATICA D12 ENSINO MEDIO.pptxÁREA DE FIGURAS PLANAS - DESCRITOR DE MATEMATICA D12 ENSINO MEDIO.pptx
ÁREA DE FIGURAS PLANAS - DESCRITOR DE MATEMATICA D12 ENSINO MEDIO.pptx
 
Apresentação sobre o Combate a Dengue 2024
Apresentação sobre o Combate a Dengue 2024Apresentação sobre o Combate a Dengue 2024
Apresentação sobre o Combate a Dengue 2024
 
PLANEJAMENTO anual do 3ANO fundamental 1 MG.pdf
PLANEJAMENTO anual do  3ANO fundamental 1 MG.pdfPLANEJAMENTO anual do  3ANO fundamental 1 MG.pdf
PLANEJAMENTO anual do 3ANO fundamental 1 MG.pdf
 
As Viagens Missionária do Apostolo Paulo.pptx
As Viagens Missionária do Apostolo Paulo.pptxAs Viagens Missionária do Apostolo Paulo.pptx
As Viagens Missionária do Apostolo Paulo.pptx
 
BRASIL - DOMÍNIOS MORFOCLIMÁTICOS - Fund 2.pdf
BRASIL - DOMÍNIOS MORFOCLIMÁTICOS - Fund 2.pdfBRASIL - DOMÍNIOS MORFOCLIMÁTICOS - Fund 2.pdf
BRASIL - DOMÍNIOS MORFOCLIMÁTICOS - Fund 2.pdf
 
Prática de interpretação de imagens de satélite no QGIS
Prática de interpretação de imagens de satélite no QGISPrática de interpretação de imagens de satélite no QGIS
Prática de interpretação de imagens de satélite no QGIS
 
Bingo da potenciação e radiciação de números inteiros
Bingo da potenciação e radiciação de números inteirosBingo da potenciação e radiciação de números inteiros
Bingo da potenciação e radiciação de números inteiros
 
Aula - 2º Ano - Cultura e Sociedade - Conceitos-chave
Aula - 2º Ano - Cultura e Sociedade - Conceitos-chaveAula - 2º Ano - Cultura e Sociedade - Conceitos-chave
Aula - 2º Ano - Cultura e Sociedade - Conceitos-chave
 
PPT _ Módulo 3_Direito Comercial_2023_2024.pdf
PPT _ Módulo 3_Direito Comercial_2023_2024.pdfPPT _ Módulo 3_Direito Comercial_2023_2024.pdf
PPT _ Módulo 3_Direito Comercial_2023_2024.pdf
 

SOARES, D. de A. Aspectos da aprendizagem online à luz da Teoria Sociocultural. Anais do XI Congresso Nacional de Educação – EDUCERE

  • 1. ASPECTOS DA APRENDIZAGEM ONLINE À LUZ DA TEORIA SOCIOCULTURAL SOARES, Doris de Almeida1 - ESCOLA NAVAL Grupo de Trabalho – Comunicação e Tecnologia Agência Financiadora: não contou com financiamento Resumo Nos ambientes virtuais de aprendizagem (AVAs), a comunicação mediada por computador (CMC) possibilita que indivíduos distantes no espaço e no tempo se engajem em atividades de produção de conhecimento partilhado (CAMPOS et. al. 2003, p.51). No AVA TelEduc, essas atividades acontecem nas ferramentas fórum de discussão e portfólio. Nesses espaços, além da co-construção de conhecimento, há também a co-construção da identidade de cada participante como uma pessoa de “carne e osso”, apesar de estarmos em um ambiente no qual só existimos por meio da linguagem escrita. A fim de investigar esses processos, o trabalho que ora apresentamos apóia-se nos conceitos de mediação, ZDP, regulação e scaffolding, oriundos da Teoria Sociocultural, ou Sócio-interacionismo (VYGOTSKY, 1962/2002; 1984/1998), para mapear as interações na terceira semana de um curso de extensão universitária. Este foi ministrado a distância para capacitar professores de idiomas na produção de material didático digital e durou dez semanas. Para o estudo, analisamos o conteúdo linguístico de 32 postagens por dez participantes no referido curso, o qual foi custeado pela Escola Naval para o aperfeiçoamento da pesquisadora e de mais três colegas docentes do Centro de Ciências Sociais, envolvidas com o ensino de idiomas a distância na instituição. As análises sugerem que uma das participantes é percebida pelo grupo como par mais competente, que há mudanças no estágio de regulação dos sujeitos por meio das interações, e que a linguagem tem uma papel fundamental na mediação e no provimento de scaffolding, principalmente para a redução dos níveis de liberdade e controle de frustração (WOOD et al, 1976) com relação as tarefas. Palavras-chave: Teoria Sociocultural. Ensino a distância. Linguagem. 1 Doutora em Letras pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. Professora Adjunta de Língua Inglesa, coordenadora de disciplina, conteudista e tutora do Curso de Inglês Online da Escola Naval (EN). Autora de livro para professores de idiomas pela Editora Vozes e colaboradora em livros didáticos para o ensino de inglês pela Editora Richmond e pela Learning Factory. Pesquisadora Externa do Projeto LingNet – Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). E-mail: dorissoares@terra.com.br.
  • 2. 3958 Introdução A partir do reconhecimento de que a aprendizagem é mais uma empreitada social do que individual e de que esta é essencialmente mediada pela linguagem, várias áreas têm investigado como a colaboração, a interação e cooperação se relacionam à aprendizagem dos alunos (OXFORD e NYIKOS, 1997, p.440). A Educação à distância, por exemplo, apresenta um grande número de pesquisas que tentam mapear esse território sócio-cultural. Nele, o computador é um instrumento de suporte à comunicação e colaboração entre indivíduos que estão distantes fisicamente, porém imbuídos de um mesmo objetivo: aprender por meio de um engajamento em atividades de produção de conhecimento partilhado (CAMPOS et. al. 2003, p.51) em um ambiente virtual de aprendizagem (AVA). Para verificar como se dá esse engajamento, o presente trabalho apóia-se na Teoria Sociocultural, ou Sócio-interacionismo, para mapear as interações em um curso de capacitação online para professores idiomas. Para tanto, analisamos uma amostra de 32 postagens feita por dez participantes no referido curso, o qual foi custeado pela Escola Naval para o aperfeiçoamento da pesquisadora e de mais três colegas docentes do Centro de Ciências Sociais, envolvidas com o ensino de idiomas a distância na instituição. A Teoria Sociocultural Buscando investigar como os participantes constroem conhecimento nos AVAs, estudos como os de Warschauer (1997) e Campos et al. (2003), entre outros, têm recorrido a Teoria Sociocultural. Isso por que os conceitos Vygotskianos relacionados ao papel do meio social para o desenvolvimento das habilidades cognitivas do aprendiz são “relevantes quando consideramos como os alunos podem trabalhar juntos em um contexto de aprendizagem online para criar conhecimento colaborativamente” (ANDERSON, 2004, p.39). Para o presente trabalho, são úteis os conceitos de mediação, ZDP, regulação e scaffolding.
  • 3. 3959 O conceito de Mediação Segundo a visão Sociocultural, a aprendizagem parte do meio social para o individual como consequência de interações linguisticamente mediadas que surgem entre a criança e os outros (ALJAAFREH e LANTOLF, 1994, p.467). Neste processo, a linguagem tem um papel crucial, pois, para agirmos no mundo físico, usamos atividades e ferramentas simbólicas. As atividades permitem que mudemos o mundo e, com isso, mudemos, também, as circunstâncias nas quais vivemos. Já as ferramentas simbólicas, ou signos, medeiam e regulam a nossa relação com os outros e conosco, modificando essas relações. Deste modo, conclui-se que toda relação entre nós e o mundo é indireta, ou seja, mediada, e que tanto as ferramentas físicas (atividades) quanto as simbólicas (psicológicas), por serem artefatos criados pelas culturas ao longo do tempo, são passiveis de modificação pelas gerações seguintes (LANTOLF, 2000, p.1-2). A comunicação mediada por computador (CMC) se encaixa nessa descrição, pois os avanços tecnológicos criaram um novo contexto de situação no qual a mediação simbólica através da linguagem é essencial para que o indivíduo estabeleça uma presença no ambiente de aprendizagem e seja “construído” pelo seu interlocutor como um ser real, estabelecendo vínculos interpessoais. Assim, a geração digital está no processo de retrabalhar a cultura para atender às necessidades de suas comunidades e de seus indivíduos, adaptando o uso da linguagem para esse novo contexto. O Conceito de Zona de Desenvolvimento Proximal e os Estágios de Regulação Nos AVAs, dois tipos de conhecimento são indispensáveis: o tecnológico (para se transitar no ambiente) e o social (para se estabelecer relações virtuais com os demais participantes). Nos cursos neles ministrados, de certo há indivíduos com graus diferentes de expertise em ambos os conhecimentos. Assim, os novatos se beneficiam da mediação através da colaboração de um sujeito mais experiente, ou par mais competente, na figura do tutor ou de um colega mais capaz. Isso por que a instrução baseada em imitação, assistência e cooperação tem um papel crítico em dar ao indivíduo as ferramentas psicológicas que envolvem símbolos e linguagem, geralmente semióticas por natureza, necessárias para o funcionamento das funções mentais superiores (VYGOTSKY, 1962/2002, p.375).
  • 4. 3960 Seja por imitação, seja por intervenção, é a partir da ajuda do outro que o aprendiz pode fazer mais do que se ele estivesse sozinho, embora dentro dos limites impostos pelo seu estágio de desenvolvimento. Essa mediação atua sobre a Zona de Desenvolvimento Proximal (ZDP), definida por Vygotsky (1984 / 1998, p.112) como a distância entre o nível de desenvolvimento real, que se costuma determinar através da solução independente de problemas, e o nível de desenvolvimento potencial, determinado através da solução de problemas sob a orientação de um adulto ou em colaboração com companheiros mais capazes. O aprendiz passa por três estágios de desenvolvimento cognitivo. O primeiro, chamado de regulação pelo objeto, tem como característica o fato de que o ambiente exerce uma influência determinante no sujeito, pois a sua atenção ainda é dominada pelos objetos ao seu redor. No segundo estágio, chamado de regulação pelo outro, o aprendiz, guiado pelo par mais competente, trabalha na ZDP através do diálogo com o outro e progride em direção à realização de uma tarefa que ele ainda não consegue completar sozinho. O terceiro estágio é chamado de auto-regulação e tem como característica o fato de que o aprendiz já é capaz de desenvolver, de forma independente, estratégias para a resolução do problema que ele encontra (GUERRERO e VILLAMIL, 1994, p.484-5; FIGUEIREDO, 2001, p.63-64). Contudo, a auto-regulação não sinaliza o fim do processo de desenvolvimento, pois este é dinâmico e fluido (FIGUEIREDO, 2001, p.65). Sendo assim, o adulto, em face de situações nas quais a auto-regulação não dá conta da tarefa, faz uso de estratégias anteriormente aprendidas para resolver novas situações. Essa qualidade da atividade mental é conhecida como acesso contínuo. O acesso contínuo foi identificado nos dados desta pesquisa, pois, como veremos, um mesmo aprendiz pode atingir a auto-regulação quanto à utilização de uma ferramenta, oferecendo ajuda para outros membros e, nas suas mensagens seguintes, se apresentar como regulado pelo objeto quando não consegue utilizar uma nova ferramenta apresentada no curso. Isso se deve à complexidade das áreas de conhecimento ativadas no curso em questão, a saber: a) a técnica, b) a pedagógica, e c) a instrumental. Sobre o conhecimento técnico, é esperada uma auto-regulação por parte dos participantes, pois os pré-requisitos para inscrição no curso exigem o conhecimento sobre como abrir e fechar arquivos, navegar pela Internet e pelas pastas do computador, compactar e enviar arquivos por e-mail e instalar programas.
  • 5. 3961 Contudo, não é possível garantir que essa expectativa por auto-regulamentação seja atendida em todos os níveis. Conforme veremos na análise, até os membros mais auto- regulados nesse aspecto podem precisar, em certos momentos, de ajuda. Sobre o conhecimento pedagógico, como o curso é para professores de idiomas, com interesse em desenvolver materiais didáticos digitais, espera-se que os participantes já tenham experiência com o uso de material impresso, pois esse conhecimento é a base para a fase inicial do curso, na qual há leituras e discussões sobre o assunto nas três primeiras semanas nos fóruns. Desse modo, supõe-se que nesse quesito os membros já estejam, no mínimo, regulados pelo outro ou auto-regulados. Sobre o conhecimento instrumental, todos os participantes são novatos já que o sistema de autoria (programa para desenhar e disponibilizar as atividades) pertence aos donos do curso. Como todos devem recorrer ao acesso contínuo e a colaboração para aprender a usar esse sistema, o papel do suporte é crucial para que o grupo se mantenha motivado e aprenda, superando as dificuldades no processo de familiarização com as ferramentas e com o AVA. O Conceito de Scaffolding A forma como um aprendiz passa do estágio de regulação pelo outro para o estágio de auto-regulação é favorecida pelo scaffolding, definido como “a ajuda progressiva de quem tem mais conhecimento para aquele que tem menos” (NASSAJI e CUMMINGS, 2000, p.98). No contexto escolar, além do par aluno-professor, há muitos atores sociais e muitas formas de relacionamentos. Portanto, muitos sujeitos podem fornecer o scaffolding de que o aluno precisa (OXFORD, 1997, p.448). Essa ajuda é caracterizada por seis funções, descritas no Quadro 1. FUNÇÕES CARACTERÍSTICAS DO SCAFFOLDING Recrutamento: conseguir a atenção e o interesse do aprendiz. Redução nos níveis de liberdade: simplificar a tarefa para torná-la gerenciável. Manutenção da direção: manter o aprendiz motivado e focado nos objetivos da tarefa. Marcação das características críticas: destacar relevâncias e discrepâncias entre o que foi feito e o que é esperado. Controle de frustração: reduzir o estresse durante a solução de problemas. Demonstração: demonstrar, completar ou explicar a solução parcial da tarefa Quadro 1 – Funções características do Scaffolding Fonte: Organizado pela autora, com base em Wood et. al. (1976, p.98).
  • 6. 3962 Esses apoios devem ser graduados (sensíveis ao nível de ajuda necessária), sendo, em princípio implícitos e, caso necessário, fazendo-se mais explícitos ao longo do processo; contingente, ou seja, oferecido somente quando necessário, e dialógico, já que é por meio do diálogo que se evidencia a ZDP e o tipo de ajuda a ser oferecido. Em termos práticos, a existência de pontos de vista divergentes na realização de uma tarefa em comum pode ser útil na criação de ZDP, pois uma opinião alternativa do colega pode proporcionar assistência (scaffolding) para a reconstrução, em um nível superior, dos próprios esquemas de conhecimento para resolver as discrepâncias. Além disso, a necessidade do participante explicitar o seu ponto de vista de modo compreensível e colaborar na tarefa, o obriga a buscar alternativas para uma mesma idéia, revendo e enriquecendo o próprio ponto de vista (ONRUBIA, 2004, p.145-7). Por fim, a possibilidade de intercambiar papéis no grupo, controlar mutuamente seu trabalho, e receber/oferecer ajuda de maneira contínua, não aparece habitualmente na relação presencial entre professor-aluno, pois nessa, o professor é quem domina as interações, muitas vezes determinando quem fala para quem e em que momento. Por outro lado, nos fóruns de discussão, é comum que alguém que esteja online tome a iniciativa e proveja a assistência ao colega, como veremos. Isso por que a falta de “onisciência/onipresença” do professor no tempo e espaço e a fluidez das interações permitem que haja a assistência mútua nos fóruns de discussão em maior escala do que na sala de aula presencial. Para garantir uma interação saudável em termos psicológicos e afetivos, a promoção de atividades de scaffolding mútuo deve se bem planejada e as interações delas resultantes monitoradas pelo tutor. Assim, ele estará atento para que situações prejudiciais ao crescimento da ZDP sejam neutralizadas. Metodologia e Análise dos Dados Seguindo Denzin e Lincoln, (1998, p.4) “os pesquisadores contam histórias sobre os mundos que eles estudaram”, sendo o produto final uma “criação complexa, densa, reflexiva, que representa as imagens, os entendimentos e as interpretações de mundo ou do fenômeno que esta sendo analisado”. Partindo dessa visão de pesquisa, estudamos uma amostra de 32 postagens para alcançar os seguintes objetivos: a) entender melhor a co-construção de conhecimento em um curso a distância, b) buscar evidências do uso da linguagem para promover scaffolding, c)
  • 7. 3963 definir o estágio de regulação dos sujeitos, e d) atestar avanços na ZDP. As postagens foram feitas por dez sujeitos (nove alunos e o tutor) nos fóruns e portfólios de um curso de capacitação para professores de idiomas no AVA TelEduc. As amostras, recolhidas na terceira semana do curso, cuja duração foi de dez semanas, foram divididas em três grupos e serão analisadas nas seções que se seguem. Em alguns casos, a postagem é apresentada na íntegra; em outros, nos restringimos a apresentar somente partes da mesma, entre aspas, por questões de restrição de espaço neste. Os participantes do estudo são todos pós-graduados, com idade entre 30-65 anos, e com experiência no ensino presencial de idiomas. Desses, quatro são colegas na mesma instituição enquanto que os demais se conheceram apenas virtualmente. Cada participante será identificado neste trabalho pela letra P e um número. Grupo 1: A Construção do Sujeito como Par Mais Competente na Interação Esse grupo de doze mensagens enfoca o papel do par mais competente em interação entre quatro alunas (P1, P2, P3, P4), que não se conheciam anteriormente, e o tutor (T) nas ferramentas fórum de discussão e portfólio no AVA TelEduc na terceira semana do curso. A interação inicia com a postagem de uma dúvida de P1, endereçada a T. Contudo, menos de duas horas depois, quem fornece assistência não é T, mas outra aluna, P2, que provê scaffolding por meio de uma demonstração. Para legitimar sua posição de par mais competente, inclui em sua mensagem a informação de que o procedimento funcionou para ela. Quarenta minutos depois, P1 agradece e explica o porquê de seu erro ao dizer que “(...) não tinha colocado as figuras na mesma pasta, agora deu certo!!”. A resposta de P1 demonstra que houve um avanço na ZDP e, por conseguinte, uma mudança no estágio de regulação. Se antes P1 não conseguia resolver o problema sem a ajuda, estando regulada pelo outro, possivelmente aprendeu a solução e será capaz de colocá- la em prática, caso se confronte com uma situação similar. Cinco horas após a mensagem inicial de P1, o tutor ratifica a assistência prestada por P2 ao dizer que está “(...) só fazendo ‘eco’ no que disse a P2 (...)” e se colocando à disposição, caso necessário. No dia seguinte, P1 explica a T que a ajuda de P2 foi suficiente e que entendeu seu erro, mas pede uma marcação das características críticas por parte do tutor, dizendo “(...) Você pode dar uma olhada para ver se é como fiz? Coloquei a pasta inteira.” T responde no portfólio da aluna, ressaltando os pontos positivos da tarefa dizendo: “Em
  • 8. 3964 primeiro lugar, as notícias boas: Está tudo aparentemente funcionando”. A seguir, indica as discrepâncias entre o que foi produzido e o que é esperado no curso. Sobre essa indicação, nota-se que é uma repetição do que já havia sido dito, tanto por P2 (“As imagens que usou devem estar todas na mesma pasta do arquivo htm”), por P1 a P2 (“Eu não tinha colocado as figuras na mesma pasta”) e pelo próprio T (“Todas as imagens têm que estar na mesma pasta em que a atividade é salva”). Como o curso é todo feito a distância, T talvez tenha querido reforçar o procedimento, o explicando novamente. Além da orientação, T realiza um controle de frustração dizendo “(...) fazendo esses ajustes, tudo ficará ok” e oferece uma manutenção de direção com um elogio que serve para manter a participante motivada e focada nos objetivos da tarefa quando diz “No mais, o início prático está muito bom e com tudo para melhorar ainda mais!”. Ainda no fórum, outra aluna, P3, se engaja na conversa se apresentado como auto- regulada ao dizer a P2: “Nossa, acho que vou precisar da sua ajuda, hein!!” e reconhecendo em P2 um par mais competente ao dizer: “Já vi que você entende mesmo dos programas para elaborar as atividades”. P2, uma professora com experiência em tutoria online2 , demonstra ter consciência da dinâmica que esta acontecendo e de como a colaboração é importante para esse contexto de aprendizagem ao responder: “(...) O ambiente de estudos aqui é para isso. Colaborar e ajudar sempre que possível. Estamos aí!”. T, por sua vez, deixa explícito que apóia a iniciativa de P2 em duas mensagens: uma no dia seguinte, na qual ele diz que a experiência de P2 “(...) será de grande valia para o grupo.” e a segunda, dois dias depois, ao dizer que estava “(...) achando ótima essa interação.”. Outro benefício de se pedir ajuda aos colegas está associado ao fato de a solução, no grupo em questão, vir sem demora. No caso aqui exemplificado, P2 foi mais rápida do que T para prover auxílio. Essa rapidez na solução de problemas é um fator essencial para diminuir o grau de frustração do aluno ante as dificuldades em um curso a distância e mantê-lo motivado. Percebendo a disposição dos colegas para ajudar, algumas dúvidas são endereçadas ao grupo e não diretamente ao tutor, conforme este exemplo, postado por P4 no fórum Dúvidas e soluções: ferramenta de autoria: 2 A professora é tutora e web designer no Núcleo de Educação a Distância da Escola Naval (NEAD) .
  • 9. 3965 “Oi gente , Consegui criar as atividades da semana 3 e incluí-las no portfólio, mas não faço idéia de como compactar ou descompactar arquivos. Procurei nos tutoriais e não achei. Será que alguém poderia me ajudar?” As mensagens ora apresentadas servem para ilustrar que, diferentemente do que se observa na sala de aula presencial tradicional, o potencial dos participantes para promover o avanço na ZDP uns dos outros pode ser amplamente explorado e alimentado em um AVA, como fez o tutor do curso em questão, encorajando a aprendizagem colaborativa. Grupo 2: Provendo Scaffolding para Tornar a Tarefa Gerenciável: Uma questão importante na aprendizagem online é a certeza de que todos estejam acompanhando as atividades. As quatro mensagens neste grupo ilustram que quando o tutor percebe dúvidas recorrentes, ele pode decidir prover scaffolding de modo a facilitar a tarefa para torná-la gerenciável. Esta redução nos níveis de liberdade foi realizada a partir do momento em que T constatou que a maioria dos participantes estava dizendo no fórum da semana 3 que não conseguiam zipar o arquivo com as suas atividades e enviá-las para seus portfólios. Apesar de esse ser um conhecimento técnico tido como pré-requisito para o curso, T intervém postando uma demonstração de como isso deve ser feito, e explicando passo a passo o procedimento, suas vantagens e desvantagens, além de prover um modelo. Destacamos que P2 se coloca na posição de regulada por outro em duas respostas ao tutor. Na primeira, diz que não sabia da existência do procedimento; na segunda, ela avalia a sugestão de T dizendo “Acabei de testar e gostei. só dá trabalho carregar arquivo por arquivo.” e perguntando: “Funciona com RAR? Como faço para descompactar na pasta depois do envio (foi isso que entendi ser possível fazer)?”. Percebe-se, portanto, que P2 é auto-regulada para alguns assuntos e regulada pelo outro para os demais. Porém, o desejo de aprender novas formas de trabalho e a sua preocupação com os colegas ao dizer em outra mensagem: “Acho que vai agilizar a visualização por parte dos colegas”, quando se refere ao procedimento em questão, demonstra que ela está aberta a aprendizagem e querendo facilitar o trabalho dos outros participantes que desejem ver em seu portfólio as atividades que ela está preparando.
  • 10. 3966 Essa sequência também nos remete ao fato de que estudar online pode ser muito frustrante quando enfrentamos dificuldades, pois, nem sempre há uma solução imediata para nossos problemas. Assim, corremos o risco de ficar presos em uma situação e não avançar a contento. Desse modo, passo a tratar do papel da mediação em forma de apoio emocional do grupo visando auxiliar àqueles menos regulados. Grupo 3: Caminhando na ZDP- Evidências de Mudança no Estágio de Regulação No curso em questão, a linguagem é o único instrumento para mediar as relações sociais entre os participantes, pois o AVA TelEduc não permite o uso de nenhum recurso visual que dê ao texto um toque mais pessoal, tais como o uso de cores, imagens, som, etc. Somente é possível fazer uso dos caracteres do teclado para criar as mensagens. Portanto, os participantes vão construindo suas personas a partir das suas escolhas discursivas. Essas, por sua vez, determinam a forma pela qual cada interlocutor irá se alinhar, ou não, com seus colegas e, nesse processo, trabalhar colaborativamente na co-construção da aprendizagem e das relações sociais. Essa dinâmica pode ser identificada na análise das 16 mensagens apresentadas nesta seção, cuja personagem principal, P5, diz em seu perfil: “Tenho grande interesse nas novas tecnologias, apesar do meu conhecimento sobre elas ser bem restrito”. Pela escolha antitética “grande interesse” x “pouco conhecimento” sobre o assunto do curso, conclui-se que P5 está em um estágio inicial na ZDP, mas motivada para aprender. Essas conclusões são ratificadas quando P5, no fórum partilhando experiências, relata suas dificuldades e temores iniciais com respeito ao curso e como as mensagens que leu no fórum a ajudaram a caminhar na ZDP. Observemos a mensagem de P5: Segunda-feira, segunda semana. Motivação alta. Preparei-me para fazer a Atividade 01. Identifiquei tratar-se de um texto em inglês e ser um diálogo e só, mas e a situcionalidade do texto? Passei para o outro item, aí fiquei mais desorientada ainda. Preocupada ("Será que tenho condições de fazer este curso?", pensei imediatamente), resolvi dar uma olhada no Fórum de discussão e encontrei a mensagem da P6 e, meio aliviada, percebi que a minha dificuldade era também a de outras pessoas (posteriormente, vi a complementação do T para a atividade 1. Realmente, ficou bem mais clara na forma reconstituída). Na medida em que fui me "acalmando" e fazendo as atividades subseqüentes, vi que elas eram bem prazerosas, e o importante não era acertar, mas perceber como se pode trabalhar com essas técnicas (inclusive relativizando o erro, usando o humor para desmitificá-lo, brincando com o aluno). Foi uma aprendizagem valiosa para mim. Quanto ao texto teórico, confesso que foi uma abordagem nova para mim (nunca tinha lido algo
  • 11. 3967 parecido). Gostei bastante, entre outros motivos, principalmente por não ter uma posição dogmática no que se refere à definição da abordagem lingüística. O discurso de P5 deixa claro uma gradação de suas sensações ao travar conhecimento com algo novo para ela: a “motivação alta” para iniciar a descoberta, as dificuldades iniciais crescentes que a deixam “mais desorientada ainda”, a constatação de que há um problema sério que a deixa “preocupada” e a confirmação de que, no momento, está regulada pelo objeto. Porém, ao travar contato com as realidades de outros participantes do grupo, ela se sente “meio aliviada”, pois percebe que outros estão na mesma situação. Isto faz com que ela vá se “acalmando” e que comece a considerar as atividades como “prazerosas”. Por fim, há a avaliação desse movimento de altos e baixos e ela relata ter vivido “uma aprendizagem valiosa” com este percurso. Na postagem, a linguagem foi carregada de expressões de emoções e sentimentos que nos ajudam a construir P5 como novata no que tange o conteúdo do curso, mas madura para lidar com suas sensações e buscar ajuda nos relatos de outros colegas. A reflexão sobre a sua experiência de aprendizagem é importante para estabelecer sua persona como alguém que tem dificuldades, mas que também é persistente e deseja aprender com o grupo. Esta tônica também se faz presente nas interações a seguir, frutos da sua tentativa de produzir uma atividade didática com o sistema de autoria. No fórum da terceira semana, P5 abre um tópico cujo título é “Problemas, problemas, problemas”. A escolha por repetir o substantivo problemas por três vezes já sinaliza que irá partilhar com o grupo todo seu esforço e frustração em realizar a primeira atividade do curso, apesar de contar com a ajuda presencial de uma colega de trabalho, P7, que tem experiência com cursos online3 . Observemos: Estou há pelo menos três dias tentando (com persistência e clicando) fazer a atividade e, até agora (apesar de estar infernizando a vida da P7 com dúvidas, coitada!), não consegui executar a atividade integralmente. Tenho acompanhado o trabalho dos colegas e, embora não tenha postado ainda meus comentários em seus portfólios, tenho gostado de todos eles; estão muito bons. O que me faz refletir sobre a minha competência neste curso. É claro que o curso é ótimo (não estou salvando a face dos professores, não), já aprendi muitíssimas coisas e quando venço minhas limitações sinto grande satisfação, porém agora estou "batendo cabeça". O que posso fazer? Novamente, P5 se coloca como alguém persistente, pois está “há pelo menos três dias tentando (com persistência e clicando)”, mas que ainda se acha regulada pelo objeto naquele 3 P7 é coordenadora do curso de inglês online no NEAD.
  • 12. 3968 momento. Ela também reconhece a expertise de outros participantes e questiona a sua competência para estar no grupo. Contudo, ela tem o cuidado de não passar uma imagem negativa do curso e faz questão de reconhece, usando o superlativo, que aprendeu “muitíssimas coisas” e que tem vencido suas “limitações”. De certo modo, seu discurso ratifica a imagem de “aluna com dificuldade, porém esforçada” que está sendo construída por ela, o que suscita demonstrações de apoio e solidariedade de P8 e P9. Essas colegas respondem ao seu apelo com mensagens de incentivo e que tem como função o controle de frustração. Vejamos. A primeira mensagem foi enviada menos de duas horas após o pronunciamento de P6. Nela, P8 lhe deseja boa sorte e afirma que “tb vamos gostar muito do seu trabalho”. A segunda mensagem veio quatro horas depois e revela um tom mais solidário como método para controlar a frustração. Além de conforta P5 ao dizer que está na mesma situação que ela, P9, que P5 conheceu no curso, se coloca a disposição para ajudá-la fora do ambiente do curso, por meio de seu email pessoal. P5, horas depois, agradece e diz que esta “vendo uma luzinha no fim do túnel”. O tutor, por sua vez, reitera o papel do grupo como fonte de assistência, e tenta expressar sua alegria usando o emoticon ;D, que é interpretado como uma pessoa piscando e sorrindo alegremente. Esta é uma forma de fazer com que a linguagem escrita passe uma sensação de afeto e suporte. P5 responde, no dia seguinte, com uma mensagem intitulada soluções. A escolha pelo título soluções já indica que o teor desta será mais positivo do que o da postagem anterior. Ela diz: “Realmente foi muito legal o apoio do grupo, que respondeu imediatamente ao meu apelo”. Ela também se diz “um pouco mais confiante”, o que sinaliza que a colaboração está sendo um fator motivacional importante perante os obstáculos. Ela também aproveita o direcionamento do tutor para explicitar suas dúvidas. Verifiquemos este trecho da mensagem: Depois de anexar a imagem não consigo vê-la na simulação do jogo. 2. Ao fechar o jogo não consigo encontrar o arquivo htm criado (ou seja, não sei onde gravei, parece até piada). A primeira dúvida é a mesma que P1 teve na elaboração de sua atividade, já discutida neste trabalho. Ela recebeu uma resposta similar ao que foi dito anteriormente no fórum (“Tudo tem que estar na mesma pasta”). Esta situação pode sinalizar que P5 não leu todas as mensagens do fórum antes de iniciar a atividade, ou que esse dado se perdeu em meio a tanta
  • 13. 3969 informação, pois, quando ela postou a dúvida, tinham seis fóruns abertos ao mesmo tempo e um total de 378 mensagens trocadas entre os 30 participantes no curso. A segunda pergunta tem a ver com o seu conhecimento limitado da área técnica. P5, logo após postar sua dúvida, envia nova mensagem ao fórum para informar a T que “o arquivo "fugitivo" já foi encontrado”. Isso indica que, mesmo após pedir auxílio, ela continuou tentando resolver o seu problema sozinha enquanto aguardava uma resposta. O tutor, algumas horas depois, responde da seguinte maneira: Quanto à segunda pergunta, você precisa organizar seus passos e ficar atenta ao local em que salva as atividades. Pode parecer óbvio, mas é a única coisa que posso dizer para você nesse caso... ;) Ressalto que T usa novamente um emoticon, desta vez para sinalizar a expressão facial de piscar e sorrir. Um dado merece destaque é que do total de 22 postagens feitas por ele na terceira semana do curso, além das ocorrências já citadas neste trabalho, emoticons só aparecem em mais uma mensagem, a qual não foi direcionada a P5. Isto pode indicar que T, ao perceber que P5 precisa de muito apoio, decidiu, por meio da linguagem icônica, se fazer mais presente e “carinhoso” para reconfortá-la e controlar o nível de frustração. Em resposta, P5 verbaliza que finalmente conseguiu realizar a atividade. O tutor usa o emoticon novamente e diz “Pelo que vi lá no seu portfólio, conseguiu mesmo. :D”, enquanto P2 usa vários pontos de exclamação para demonstrar que deseja enfatizar o que está dizendo, dando um maior suporte emocional na sua mensagem: “Tá sim! legal, P5!”. P5 reconhece o valor do apoio recebido e agradece em uma postagem na qual menciona o nome de cada colega que a ajudou. T responde de modo a prover uma manutenção da direção dizendo: “O que é isso, P5! Se não fosse a sua dedicação, o trabalho não teria sido tão bem feito” e reforça a colaboração do grupo ao dizer: “Quando precisar, já sabe - estamos aqui.”. Outras demonstrações de apoio foram observadas. P7, sua colega de trabalho, diz “Mérito seu por tentar sem desistir”. Já P9 diz: Oi P5!!! Parabéns pelo esforço e pela vitória a cada atividade! Eu é que tenho que agradecer por colegas que a cada dúvida faz com que eu reflita sobre o quanto eu ainda tenho que aprender... Como está sendo legal! Beijo grande!!! P9
  • 14. 3970 Com relação a essa mensagem, é interessante notar que P9 se constrói como uma aluna que utiliza a experiência da colega para o seu crescimento e que reconhece que aprender com o outro é muito gratificante. Deste modo, as mensagens tratadas nesta seção demonstram uma caminhada colaborativa na qual P5 passa do estágio de regulada pelo objeto, no qual não conseguia realizar a tarefa, para um estágio maior de regulação no qual ela, aparentemente, aprendeu com o tutor o que fazer e recebeu das colegas algo fundamental: apoio moral, solidariedade e incentivo para continuar, além do reconhecimento final pelo seu esforço. Esta combinação fez com que P5 aproveitasse a experiência de aprendizagem4 , o que nos leva a concluir que o estabelecimento de um ambiente em que as relações sociais virtuais sejam harmônicas, não competitivas e de apoio mútuo é um objetivo que deve ser encorajado pelo tutor e almejado por todos os participantes do grupo. Para finalizar esta seção, destacamos que, como dito anteriormente, havia um grande volume de mensagens e vários fóruns abertos. Isso pode causar stress e desmotivação nos participantes. No curso em questão, uma parte dessas mensagens repetia as mesmas instruções para sanar dúvidas similares, como aconteceu com P1 e P5. Como solução, sugerimos um scaffolding mais explícito por meio de recrutamento, no qual o tutor consiga a atenção de todos e proceda a uma demonstração. A assistência poderia ser prestada em forma de um documento explicativo sobre o assunto em questão, disponibilizado para comentários subsequentes. Outra técnica é fazer um resumo das principais idéias tratadas nas mensagens, periodicamente. O resumo serve para focalizar a atenção do grupo e oferece a possibilidade de destacar o que é mais importante, mas que talvez o aprendiz não tenha reparado na sua leitura. Essa seria uma forma de manter a direção em um ambiente no qual é fácil os aprendizes se “desgarrarem” do grupo, perdendo informações preciosas. Considerações Finais Este trabalho teve como objetivo investigar em uma amostra de 32 postagens como são tecidas relações sociais complexas e que impulsionam a aprendizagem na fase inicial de um curso a distância, no qual fomos, ao mesmo tempo, aluna e pesquisadora. 4 Registro aqui a avaliação final do curso feita por P5: “Para mim, o curso foi ótimo. Aprendi bastante, inclusive sobre mim mesma, já que de início eu mesma achava que não tinha a mínima condição de aprender algo.”.
  • 15. 3971 Para tanto, buscamos suporte teórico nos conceitos de mediação, ZDP, regulação e scaffolding por acreditarmos, como Guerrero e Villamil (1994, p.493), que o paradigma Vygotskyano captura como nenhum outro a influência sutil que existe entre interação colaborativa e funcionamento intelectual independente. Acreditamos que as evidências aqui apresentadas e discutidas dão suporte ao pensamento de Foster (1983, p.27) de que a interação é a chave para aprendizagem, e que as atividades em grupo e as sessões de discussão são métodos pedagógicos que refletem os conceitos teóricos sobre o desenvolvimento cognitivo através da comunicação. Portanto, destacamos que os assuntos levantados nesse estudo devem ser observados na prática por aqueles que trabalham na moderação de fóruns de discussão com objetivos pedagógicos ou na tutoria em cursos online. Isso por que a compreensão de como os conceitos ora explorados se manifestam nas interações por meio da linguagem escrita nos ajuda a perceber até que ponto os alunos estão colaborando para o sucesso da aprendizagem do grupo. REFERÊNCIAS ALJAAFREH, A; LANTOLF, J. Negative feedback as regulation and second language learning in the Zone of Proximal Development. The Modern Language Journal, v.78, no.4, p. 455-483, 1994. ANDERSON, T. Towards a theory of online learning. IN: ANDERSON, T.; ELLOUNI, F. Theory and practice of online learning. Canada: Athabasca University, 2004. CAMPOS, F. C.A.; SANTORO, F. M.; BORGES, M. R. S.; SANTOS, N. Cooperação e aprendizagem online. RJ: DPeA Ed, 2003. DENZIN, N. K; LINCOLN, Y. S. Introduction: entering the Field of qualitative research. In: DENZIN, N. K; LINCOLN, Y. S. (orgs). Collecting and interpreting qualitative materials. Thousand Oaks: SAGE Publications. 2003. p.1-34. FIGUEIREDO, F. J. Q. Correção com pares: os efeitos do processo de correção dialogada na aprendizagem da escrita em língua inglesa. 2001. 340 f. Tese (Doutorado) – Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2001. FOSTER, D. A prime for writing teacher: theories, theorists, issues, problems. Upper Montclair, NJ: Boynton / Cook, 1983.
  • 16. 3972 GUERRERO, M. C. M.; VILLAMIL, O. S. Social-cognitive dimensions of interaction in L2 peer revision. The Modern Language Journal, v.78, p.484-496, 1994. LANTOLF, J. Sociocultural Theory and Second Language Learning. Oxford: OUP 2000. NASSAJI, H.; CUMMING, A. What’s in a ZPD? A case study of a young ESL student and teacher interacting through dialogue journals. Language Teaching Research, v.42, p.95-121. 2000. ONRUBIA, J. Ensinar: criar zonas de desenvolvimento proximal e nelas intervir. In: COLL, et al. O construtivismo na sala de aula. São Paulo: Ed Ática, 2004, p.123-151. OXFORD, R. Cooperative learning, collaborative learning and interaction: three strands in the language classroom. The Modern Language Journal, v. 81, no.4, p. 443-456, 1997. OXFORD, R.; NYIKOS, M. Interaction, collaboration and cooperation: learning languages and preparing language teacher: introduction to the special issue. The Modern Language Journal, v. 81, no.4, p. 440-442, 1997. VYGOTSKY, L. (1962) Pensamento e linguagem. SP, Martins Fontes, 1998. VYGOTSKY, L. (1984) A formação social da mente. SP, Martins Fontes, 1998. WARSCHAUER, M. Computer –mediated collaborative learning: theory and practice. The Modern Language Journal, v.81, n. iv, p.470-481, 1997. WOOD, D; BRUNER, J. ROSS, G. The role of tutoring in problem-solving. Journal of Child Psychology and Child Psychiatry, v.17, no.1, p. 89-100, 1976.