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Literário, sem frescuras!
                                            1664-
                                       ISSN 1664-5243




        Setembro/Outubro 2012—
Ano 3 - Setembro/Outubro de 2012—Edição no. 17
Varal do Brasil setembro/outubro 2012




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Varal do Brasil setembro/outubro 2012




                                                                                           ®




                       LITERÁRIO, SEM FRESCURAS


                          Genebra, verão/outono de 2012
                                                No. 17
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Varal do Brasil setembro/outubro 2012


                  EXPEDIENTE
Revista Literária VARAL DO BRASIL

                             1664-
NO. 16 - Genebra - CH - ISSN 1664-5243
Copyright Vários Autores
O Varal do Brasil é promovido, organizado e rea-
lizado por Jacqueline Aisenman
Site do VARAL: www.varaldobrasil.com
Blog do Varal: www.varaldobrasil.blogspot.com
Textos: Vários Autores
Colunas:
Daniel Ciarlini                                                 O CURTIDOR DE PELES
Fabiane Ribeiro                                                  Por Wilton Porto
Sheila Ferreira Kuno
Ilustrações: Vários Autores                                     Quando garoto, curtia o sol,
                                                                Que curtia as peles estendidas no
Desenhos animais: © ddraw - Fotolia com                         chão.
                                                                Curtindo as peles, também curtia os
Desenhos crianças/estações: © J-Sho - Fotolia
                                                                sonhos,
Foto capa: © Chepko Danil - Fotolia com                         De um dia nesta vida ter um lugar ao
                                                                sol.
Foto contracapa: © fotogestoeber - Fotoliacom
Muitas imagens encontramos na internet sem ter
                                                                O sol que curtia as peles
o nome do autor citado. Se for uma foto ou um                   Muito mais curtia os sonhos
desenho seu, envie um e-mail aqui para a gente                  De ser mais que um curtidor de peles
e teremos o maior prazer em divulgar o seu ta-                  Na pele em que vivia.
lento.
                                                                O sol é vida, o sol é sonho,
Revisão parcial de cada autor                                   Mas viver no sol não é a única vida;
                                                                Se Curtir as peles é oportunidade,
Revisão geral VARAL DO BRASIL
                                                                Oportunidade não é só em peles.
Composição e diagramação:
                                                                Viver ao sol – eis o verdadeiro curtir.
Jacqueline Aisenman                                             Curtiu e curte na pele que é dele.
                                                                Porém, para curtir, o que se curte
                                                                Nesta vida tão curta,
A distribuição ecológica, por e-mail, é gratuita. A             Antes, é viver no sol,
revista está gratuitamente para download em                     Pois só ganha a vida quem nada
                                                                repele.
seus site e blog.


Se você deseja participar do VARAL DO BRASIL                    (Do livro O CURTIDOR DE PELES).
NO. 18 envie seus textos até 10 de outubro de
2012 para: varaldobrasil@gmail.com
O tema da edição no. 18 será livre.
                                        www.varaldobrasil.com                                          4
Varal do Brasil setembro/outubro 2012




Convidamos as pessoas que gostam de escrever para falar da infância e o convite foi aceito por
muitos! Então aqui estamos, falando não só da Nossa Infância, mas da infância de todos. Desde
as infâncias felizes até a mais triste delas.
Lembrar da infância não é fácil para todo mundo, assim também é falar dela. O que para muitos
é algo gostoso e que pode se repetir escrevendo o que vem da memória, para outros pode ser
doloroso demais. Por isto agradecemos a tantos que vieram, atenderam o apelo e falaram da
infância com alegria ou com tristeza.
Quando se pensa em criança é automático: pensamos em doces! Vida doce, festa, tudo doce!
Então fomos buscar algumas receitas culinárias que visitassem nosso paladar infantil, aquele
que, como um pequeno pecado, muitas vezes ainda provamos e adoramos!
Como vocês devem ter percebido nossas férias foram alegremente interrompidas pela edição de
um especial, o Varal do Amor. Foram publicados cinquenta autores. Mas recebemos muitos,
muitos mais. E a sugestão de fazer uma sequência. Quem sabe? Quem sabe não faremos em
breve?

Atendemos com alegria, em meio a todas as histórias e poemas sobre a infância, o chamado da
seriedade de uma publicação científica e publicamos o artigo de André Valério Sales intitulado
Particularidade, Universalidade e Singularidade: definindo conceitos fundamentais para a Meto-
dologia da Pesquisa em Ciências Sociais e que por ele será apresentado na universidade que
frequenta. Talvez um sonho de criança que se realiza!

Em meio a tantas alegrias, uma notícia triste vem fazer parte do Varal. Nossa Livraria, infeliz-
mente, encerrou suas atividades. Não foi possível manter o sonho de comercializar nossa nova
literatura, nossos novos autores aqui na Europa! Constatamos que pouquíssimos brasileiros
aqui na Suíça buscam esta literatura. A grande maioria ainda se atém aos autores consagrados
ou prefere apenas adquirir os livros diretamente no Brasil quando vai em visita. Desta forma,
profundamente tristes, fechamos as portas desta livraria que tinha o sonho de ver seus autores
brilhando por aqui! Mas nem tudo foi perdido, pois depois do sucesso que foi nossa participa-
ção no 26o. Salão Internacional do Livro de Genebra, os livros, cedidos por grande parte dos
escritores presentes na livraria, estão sendo doados a várias bibliotecas suíças que demonstra-
ram imenso interesse nos exemplares. São os novos autores brasileiros cruzando fronteiras
através do Varal do Brasil!

Estamos com as inscrições abertas para a seleção de textos para o livro Varal Antológico 3.
Surpresos com a variedade e quantidade de textos a ler, nossos examinadores estão felizes de
observar a qualidade destes mesmos textos. E começamos a lamentar que as vagas sejam limi-
tadas! Você ainda tem tempo para se inscrever e pode solicitar o regulamento através do nosso
e-mail varaldobrasil@gmail.com . O livro Varal Antológico 3 terá revisão completa incluída e edi-
toração pela Design Editora, símbolo de qualidade na edição de livros no Brasil.

Amigos do Varal, nos preparamos para, em novembro, festejar nossos três anos de revista. Tra-
remos o tema livre, festejaremos juntos. Esperando você para a festa de novembro, deixamos
aqui esta revista especial sobre a infância! Uma boa leitura!

Sua equipe do Varal
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Varal do Brasil setembro/outubro 2012




◊   AFONSO MARTINI                             ◊      HELIO SENA
◊   ANA MARIA ROSA                             ◊      HERNANDES LEÃO
◊   ANA ROSENROT                               ◊      ISABEL CRISTINA SILVA VARGAS
◊   ANDRÉ VALÉRIO SALES                        ◊      IVANE LAURETE PEROTTI
◊   ARLETE TRENTINI DOS SANTOS                 ◊      JACQUELINE AISENMAN
◊   AUDELINA MACIEIRA                          ◊      JOSANE MARY AMORIM
◊   CARLA RENATA JORGE NEVES                   ◊      JOSÉ CAMBINDA DALA
◊   CARLOS CONRADO                             ◊      JOSÉ CARLOS PAIVA BRUNO
◊   CARLOS PINA                                ◊      JOSÉ HILTON ROSA
◊   CLÉO REIS                                  ◊      JOSSELENE MARQUES
◊   CRISTINA CACOSSI                           ◊      JU PETEK
◊   DANIEL C. B. CIARLINI                      ◊      JULIA REGO
◊   DHIOGO JOSÉ CAETANO                        ◊      KARINE ALVES RIBEIRO
◊   EDNA PIDNER                                ◊      KRISIANE DE PAULA
◊   ELIANE ACCIOLY                             ◊      LARIEL FROTA
◊   EMÉRITA ANDRADE                            ◊      LENIVAL NUNES ANDRADE
◊   ELISE SCHIFFER                             ◊      LEONILDA YVONNETI SPINA
◊   EVELYN CIESZYNSKI                          ◊      LÓLA PRATA
◊   FABIANE RIBEIRO                            ◊      LÚCIA AMÉLIA BRULHARDT
◊   FANI                                       ◊      LUDMILA RODRIGUES
◊   FELIPE CATTAPAN                            ◊      LUIZ CARLOS AMORIM
◊   FRANCY WAGNER                              ◊      LUNNA FRANK
◊   GERMANO MACHADO                            ◊      MARCELO BENINI
◊   GUACIRA MACIEL                             ◊      MARCOS TOLEDO
◊   HELENA AKIKO KUNO                          ◊      MARCOS TORRES


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Varal do Brasil setembro/outubro 2012




◊   MADAL
◊   MARIA EUGÊNIA
◊   MARIA MOREIRA
◊   MARIANE EGGERT DE FIGUEIREDO
◊   MARILU F. QUEIROZ
◊   MARINA VALENTE
◊   MARINEY K
◊   MÁRIO OSNY ROSA
◊   MYRTHES NEUSALI SPINA DE MORAIS
◊   MARIO REZENDE
◊   MORGANA GAZEL
◊   NORÁLIA DE MELLO CASTRO
◊   ODENIR FERRO
◊   RAIMUNDO CANDIDO TEIXEIRA FILHO
◊   RENATA IACOVINO
◊   RITA DE OLIVEIRA MEDEIROS
◊   RO FURKIM
◊   ROBERTO ARMORIZZI
◊   ROZELENE FURTADO DE LIMA
◊   SANDRA BERG
◊   SARAH VENTURIM LASSO
◊   SHEILA FERREIRA KUNO
◊   SILVIO PARISE
◊   SONIA NOGUEIRA
◊   SONIA RODRIGUES
◊   VALDECK ALMEIDA DE JESUS
◊   VALQUIRIA GESQUI MALAGOLI
◊   VO FIA
◊   WILTON PORTO
◊   YARA DARIN

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Varal do Brasil setembro/outubro 2012

           UM PEDAÇO DO CÉU                              jamais esquecerei.

               Por Ana Maria Rosa                                Fiquei parada no último degrau do corredor,
                                                         fora do tempo, olhando aquele cenário irreal: a mesa
                                                         grande, preta de tão encardida; as cadeiras escuras,
         Eu era muito criança. Devia ter uns seis        fantasmagóricas; fuligem e pedaços de telha espa-
anos, mas ainda me lembro daquela tarde. A trovoa-       lhados por toda parte; o espelhinho do lavatório co-
da veio muito rápida: de repente, o céu se fez negro,    berto com uma toalhinha branca; a bacia de esmalte
e um vento forte começou a sacudir a copa das árvo-      cheia de água amarela; a pequena cristaleira com o
res. Logo nossa mãe mandou que entrássemos. Fe-          vidro quebrado expando os pratos de visita... A sala
chou as portas e janelas, cobriu os santos e os espe-    e os objetos, tudo, envolto numa penumbra azulada
lhos. Nós queríamos ver a chuva, porém ela nos fez       e, ao mesmo tempo, banhado de luz. Não havia can-
ficar quietos em seu quarto. Amedrontada, sentou-se      deeiro aceso nem luz do sol. As janelas e portas es-
toda encolhida na cama passando as contas do rosá-       tavam fechadas. Mas uma luminosidade suave e
rio e rezando bem baixinho. Ficamos em silêncio          acinzentada clareava tudo. Olhei e vi o teto, negro
ouvindo o ribombar dos trovões e as pancadas da          de fuligem, com um buraco enorme e azulado. Por
chuva no telhado. Parecia que o mundo estava se          aquele buraco, entrava – na sala – o céu cinza-claro,
acabando – diria minha mãe mais tarde. Nós, ao           quase prateado, lavado de chuva...
contrário dela, não tínhamos medo algum e adoráva-
                                                                 Não sei por quanto tempo quedei-me ali, re-
mos chuva forte com relâmpagos e trovões. Mas,
                                                         verente, olhando aquele pedaço de céu... e admiran-
daquela vez, fiquei um pouco amedrontada com a
                                                         do aqueles objetos pela primeira vez – em toda sua
violência da trovoada. Quando, finalmente, a chuva
                                                         pobreza – envoltos numa feiura que, naquele mo-
amainou, saímos do quarto. Era de tardinha, e a casa
                                                         mento, me parecia inexplicavelmente bela. Aproxi-
estava quase às escuras. Caminhávamos tateando as
                                                         mei-me da mesa: o céu estava perto e pairava sobre
paredes do corredor tentando enxergar através da
                                                         minha cabeça. Como era possível aquilo? O céu
penumbra. Logo, percebemos que a chuva e a venta-
                                                         sempre fora tão inatingível, tão distante... E agora
nia haviam feito muitos estragos, pois havia muita
                                                         estava tão perto, tão pequenino... meu céu. Achei
sujeira e telhas quebradas pelo chão. Ao chegarmos
                                                         que poderia tocá-lo com a mão se conseguisse uma
à sala de jantar, percebemos que algo extraordinário
                                                         escada bem alta para subir na cumeeira da casa...
havia acontecido: o vento destelhara a cumeeira.
                                                                 Olhei mais um pouco e vi que sobre a mesa,
                                                         nas cadeiras, no chão, em toda parte, havia pequeni-
                                                         nas pedrinhas transparentes – cristaizinhos de luz...
                                                         Quando eu os colocava na palma da mão (tão frios),
                                                         logo eles desapareciam. Alguém falou em chuva de
                                                         granizo. Disseram que aquelas pedrinhas eram de
                                                         gelo. Gelo!? Na boca, elas derretiam... Eram de
       Não sei o que os outros viram, mas o que vi       água!

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Varal do Brasil setembro/outubro 2012

       Saí para o terreiro, e o chão estava salpicado    nenhum som, apenas o Silêncio.
por uma infinidade delas. O terreiro estava ilumina-             Voltei à sala e olhei novamente cada coisa:
do por milhares de pontos de luz, como se fossem         os móveis, os objetos, as paredes, as portas, as jane-
pedras preciosas ou pequeninos pedacinhos de estre-      las, o telhado, o chão... E, de novo, era como se os
las. Eu escolhia os maiores, punha-os na mão e fica-     visse pela primeira vez. Olhava meu pedaço de céu,
va olhando até vê-los sumirem rapidamente restan-        limitado pelas telhas, projetando-se para o infinito, e
do apenas uma porçãozinha de água... Olhava ao           meu coração se regozijava como se tocado por algo
meu redor, e o mundo inteiro estava parado. Não          sagrado. Uma vez li (Não me lembro quem disse,
existia nenhum movimento: as quixabeiras, impassí-       mas foi alguém do grupo que construiu Pampulha)
veis, sobre o tapete de frutinhas escuras; as folhas     que a Poesia às vezes passa num lugar – suave e fur-
das bananeiras, rasgadas, imóveis; os porcos quietos     tiva – quase como uma brisa. Porém, por alguns ins-
como as varas negras do chiqueiro; as galinhas e os      tantes, pode-se perceber sua presença. Acho que,
perus, extáticos, a contemplar, filosóficos, aquele      naquela tarde, a Poesia entrou pelo buraco no telha-
mundo novo; o pássaro, preso na gaiola, encolhia-se      do, iluminou os móveis toscos da sala, assoprou a
em seu terno negro sem vontade de fugir... Não ha-       água amarela da bacia, mirou-se nos cristaizinhos de
via nenhuma cor: o capim, as juremas, os mandaca-        granizo e fugiu... Foi embora antes que a escuridão,
rus, os umbuzeiros e até as flores haviam descolori-
                                                         já instalada na cozinha, invadisse a sala; antes que a
do. E o céu cinza-prata – agora imenso – continuava
                                                         menina de cabelos encaracolados, sentada no baten-
próximo, redondo, abraçando tudo ao redor. O mun-
                                                         te do corredor, pudesse compreender por que queria
do inteiro era uma fotografia em preto e branco.
                                                         guardar – como um tesouro – aquela sensação de
                                                         beleza... de mágica. Lembro-me de que fugi pela
                                                         penumbra do corredor e quedei-me na sala de visi-
                                                         tas, bem perto do lampião. Em meu coração, havia
                                                         uma imensa vontade de chorar. Teria a menina des-
                                                         coberto a efemeridade da vida?




       Houve um momento em que minhas irmãs
entraram, e fiquei sozinha lá fora. Só eu – uma cri-
ança – sozinha naquele imenso mundo ártico... E
escutei as árvores, e escutei o gado, e escutei o ven-
to, e escutei a fonte, e escutei o riacho. Não havia

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Varal do Brasil setembro/outubro 2012




                                        Minha infância
  Por Luiz Carlos Amorim


Esta noite acordei com a chuva batendo na minha janela. Não fiquei contrariado por ter acordado com o
barulho dos pingos contra o vidro, porque gosto de chuva. Sempre gostei. Gosto de dormir com o tambori-
lar dos pingos no telhado (morei a maior parte da minha vida em casas, graças a Deus!) ou na janela. Que
eu me lembre, só fico chateado quando chove muito nas épocas da florescência do ipê, do jacatirão, do
flamboaiã, da azaleia e do olho de boneca (um tipo de orquídea comum, em nossa região), pois as flores
caem mais depressa porque ficam pesadas com o excesso de água e porque apodrecem.
E quando a chuva me pega desprevenido no meio da rua, no inverno.
Mas como dizia, choveu esta noite e os pingos na janela fizeram com que me reportasse a minha infância,
já um tanto distante. O tamborilar que agora me traz uma sensação de paz e melancolia, naqueles tempos
de garoto, idos tempos, fazia com que eu e meus irmãos grudássemos nossos narizes nos vidros das janelas
e olhássemos para fora, com uma vontade enorme de sair e brincar, descalços, na água que corria ao lado
da casa e junto da calçada.
Nossa mãe, no entanto, alerta, nos detinha. Mas em ela se descuidando um segundo, lá estávamos nós, fa-
zendo festa debaixo da chuva, jogando água um no outro, estancando-a em pequenos lagos e soltando bar-
quinhos de papel na corredeira, os cabelos escorridos e a roupa encharcada, com aquele ar de felicidade
que só criança tem.
Aqueles dias se foram e eu não corro mais na chuva. Quando me molho ao apanhar chuva, fico aborrecido
por que vou chegar molhado em algum lugar. Não consigo mais ser criança como antes. E gostaria de po-
der. Porque acho que ainda sou um pouquinho criança dentro deste corpo que vai envelhecendo e ficando
cansado.
Amanhã, quem sabe, talvez eu saia descalço e de peito nu, a cantar pela chuva. Se você encontrar um ma-
luco molhado cantando e dançando na chuva, não se assuste. Pode ser que seja eu.




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  LEMBRANÇAS                                               Diferente de outras aulas,
                                                              Aguardava ansiosa,
                                                            Por saber que neste dia,
                                                            Muito mais aprenderia;
                                                             Através da geografia,
Por Carla Renata Jorge Neves
                                                             O mundo conheceria,
                                                          Numa viagem maravilhosa!
                                                            Ao final desta viagem,
  Busco agora na memória
                                                         Louvo a Deus por ter um dia,
Lembranças da minha infância:
                                                             Me levado à escola,
   Aos seis anos de idade,
                                                        Onde os meus mestres queridos,
Mesmo com toda adversidade,
                                                          Me ensinavam a toda hora,
   Posso ver muita alegria
                                                           Não somente a disciplina,
    Por ter podido um dia,
                                                             Mas amor e alegria!
   Estudar com a tia Estela
   Linda, amiga e sincera!




                                                         Hoje eu trago na bagagem,
                                                          Estas lembranças comigo,
  Chego agora aos oito anos,
                                                        Que me fazem voltar no tempo
  No romper de outra etapa,
                                                        Relembrando bons momentos,
    Tenho agora a tabuada,
                                                        Que passei com meus amigos!
 Sem conversa, sem bagunça,
   Tia Fauza com firmeza,
   Faz o aluno com certeza,
   Aprender a matemática!



                                                              Tudo isso me levou,
                                                           Quando na minha escolha,
                                                             A escolher Pedagogia,
                                                            Para poder fazer um dia,
                                                              Algo pela educação,
   Já na flor da mocidade,
                                                              Dando contribuição,
 Aos quatorze anos de idade,
                                                           À criança, jovem e adulto,
    Vejo agora a alegria
                                                          Tornando-os bons cidadãos!
    Na aula de geografia:
 Senhor Jorge com seu mapa
   Ministrando suas aulas,
   Com toda propriedade!




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BALÕES EM SÃO JOÃO



Por Yara Darin

                                                             Art de Analice Rodrigues Uchôa


Balões em São João
Balões aos ares
Balões multicores
Que outrora no céu brilhavam, me fasci-
navam.
Sentia-me em liberdade, sensação de feli-
cidade
Amores de verdade!
Lembro o céu junino todo estrelado
As fogueiras , bandeiras e rojões
Que alegravam o meu coração
Quando em dia de São João !
Tão belos balões já não existem mais
Tão-pouco tenho as alegrias de outrora
E as que ficaram , tão somente
São lembranças saudosas , gostosas
De uma época feliz de criança
Que o tempo não volta jamais...




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Oração de uma criança abandonada


             Por Carlos Conrado


            Querido Papai do Céu,
        Não sei se o senhor tem barba
        Mas sei que não é igual a eu!...
          Queria estar contigo agora
         Pois aí deve ter pão de sobra
        E um lugar coberto neste céu,
  Para eu me deitar quando estiver cansado,
   Nestas nuvens parecidas com algodão.
       Senhor por ti junto minhas mãos
      E peço sabedoria de gente grande.
            Papai do Céu eu quero
       Que eu e meus irmãos possamos
              Ir à escola e deixar
        De pedir esmola para sempre.
             Dizem que o senhor
 Ama todo mundo, que não rouba e nem mente,
             Por isto vou te amar.
        Não tenho muito a te oferecer,
    Mas mesmo que eu continue nas ruas,
         Eu vou te honrar e agradecer
       Pois tu és o meu super-herói!...
         Senhor se eu me comportar
            Talvez eu ganhe mais
          Que uma bicicleta, talvez,
               Eu ganhe um lar.
            Querido Papai do Céu
            Abençoa todo mundo.
         Dá-me uma mãe para amar,
         Um peixinho e um cachorro
         E diz a quem precisa escutar
        Que o amor não é só namorar.




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                                        Por Fabiane Ribeiro
                                                          ano seguinte, ela também não veio; nem no próxi-
                                                          mo...
                                                                  Anos se passaram sem que ele tivesse notí-
                                                          cias de sua amada. Ele já estava velho e cansado,
                                                          quando, deitou-se na areia da praia e pediu que o
                                                          mar carregasse seus olhos para que ela pudesse en-
                                                          contrá-los. Dona de tudo o que ele já havia visto de
                                                          mais belo, ela continuaria a guiá-lo por entre as
                                                          mais lindas e inexploradas maravilhas da natureza.
                                                          Assim, há um tempo que não se conta, nasceu, junto
                                                          ao mar, a saudade e também o primeiro ser humano
                                                          que não era mais dono de sua visão”.
   Conto 5 – A lenda dos olhos e da
              saudade                                            Maria Isabel, a coordenadora do grupo, fe-
                                                          chou o livro escrito em braile, dizendo:


       “Diz um velho pescador que há um tempo                     — Essa é a lenda dos olhos e da saudade.
que não se conta, por aquelas bandas, existiu um          Ela nos faz imaginar a vida do primeiro deficiente
jovem rapaz que costumava caminhar a beira-mar            visual que existiu no mundo. Claro, é só uma histó-
em todo fim de tarde. Ele levava sempre consigo           ria. Como temos observado ao longo de nossa reu-
uma gaita e a tocava, enquanto contemplava a              nião, assim como o rapaz da lenda, nós também ve-
imensidão das águas e o vazio do horizonte.               mos o mundo, apenas de forma diferente...

        O rapaz disse ao sábio que seu coração o
guiara até aquela praia. Então, ele ia para lá, todos             Verdade ou não, em certo canto do mundo,
os dias, na esperança de encontrar os motivos.            em uma praia distante de tudo, os viajantes costu-
        Até que um dia, do mar ela surgiu. Uma bela       mavam dizer que podiam ouvir o som de uma gaita
moça. Alguns dizem por aí que era uma sereia. Ou-         a tocar, sem que ninguém estivesse por lá...
tros dizem que era um anjo do mar. Mas para aque-
le rapaz era apenas a dona do seu coração. Uma vez
ao ano, ela surgia e o arrastava até as profundezas.
Então, juntos, eles contemplavam as maiores mara-
vilhas da natureza: o mundo que existe abaixo das
águas do oceano, onde nenhum ser humano jamais
estivera.
       Em todos os outros dias do ano, o rapaz sen-
tava-se junto a um rochedo e tocava sua gaita. Ele
sabia que a moça podia ouvi-lo, de onde estivesse.
Ele apenas gostava de tocar para ela... E, a cada pôr
-do-sol em que ela não vinha, ele derramava uma
lágrima no oceano, que se mesclava por entre as
águas infinitas.
      Por décadas, eles encontraram-se apenas
uma vez ao ano. Até que a moça não apareceu. No
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Varal do Brasil setembro/outubro 2012




                                     O CLUBE DOS VIRA-LATAS é uma organização não governa-
                                     mental, sem fins lucraƟvos, que mantém em seu abrigo ho-
                                     je mais de 400 animais que são cuidados e alimentados dia-
                                     riamente. Boa parte desses animais chegou ao Clube após
                                     atropelamentos, acidentes, maus tratos e abandono. Nosso
                                     objeƟvo é resgatá-los das ruas, tratá-los e conseguir um lar
                                     responsável para que eles possam ter uma vida feliz.



Por que ajudar os animais?                           doações. Todos podem ajudar, seja divulgando o
                                                     Clube, seja adotando um animal ou mesmo doando
Você sabia que no Brasil milhões de cães e gatos vi- dinheiro, ração ou medicamentos. Qualquer doação,
vem nas ruas, passando fome, frio e todos os Ɵpos    de qualquer valor por menor que seja, é bem-vinda.
de necessidades? Cerca deles 70% acabam em abri- As contas do Clube bem como o desƟno de todo o
gos e 90% nunca encontrarão um lar. Parte será víƟ- dinheiro estão abertas para quem quiser
ma ainda de atropelamentos, espancamentos e to-
dos os Ɵpo de maus tratos.                           BRADESCO (banco 237 para DOC)
Infelizmente, não é possível solucionar este proble- Agência: 0557
ma da noite para o dia. A castração dos animais de CC: 73.760-7
rua é uma solução para diminuir as futuras popula- Titular: Clube dos Vira-Latas
ções mas não resolve o problema do agora. Sendo      CNPJ: 05.299.525/0001-93 Ou
assim, algumas coisas que você pode fazer para aju-
dar um animal carente hoje:
                                                     Banco do Brasil (banco 001 para DOC)
Adotar um animal de maneira responsável              Agência: 6857-8
                                                     CC: 1624-1
Voluntariar-se em algum abrigo.                      Titular: Clube dos Vira-Latas
Doar alimento (ração) e/ou remédios para abrigos. CNPJ: 05.299.525/0001-93
Contribuir financeiramente com ONGs.
Nunca abandonar seu animal                             (Saiba mais sobre o Clube em hƩp://fr-
                                                       fr.facebook.com/ClubeDosViraLatas?ref=ts)
Como o Clube vive? Somente de doações. Todas as
nossas contas são públicas, assim como extratos
bancários e notas fiscais.
Como ajudar o Clube? Para manter esses mais de
400 peludos em nosso abrigo, contamos hoje ape-
nas o trabalho dos voluntários e com o dinheiro de

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        Meus animais de infância                          te era atendido. Vinham de onde estivessem ao ou-
                                                          vir a voz de minha avó.
                                                               Bom, com relação à dinastia canina, o primei-
                Por Renata Iacovino                       ro que me lembro é do Sheike, um pequinês. Mor-
                                                          reu velhinho. Antes dele tiveram outros. Mas não
                                                          me recordo, apenas de ouvir falar e pelas fotografi-
      Desde criança sempre ouvi que gato tem sete         as.
vidas. E uma das histórias que me fez crer nisto,
aconteceu em casa, mas eu apenas ouvi falar, por-
que era muito pequena, ou talvez, nem nascida.
      Soube que meu pai – até então, um não apre-
ciador da raça felina domesticada – atirou pela jane-
la de seu quarto, nosso gato Pelé, a uma altura de
mais ou menos 5 metros. O bichano sobreviveu, co-
mo se nada tivesse acontecido. Que bom! Pelo me-
nos não foi daquela vez.




                                                                                                        Foto de Renata Iacovino
      Mas tal antipatia durou pouco.
      Lembro-me sempre cercada de gatos, em casa.
E testemunhei muitos deles no colo de meu pai, no
sofá com a gente, enfim, verdadeiros donos e donas
do pedaço.
      Manoela veio como verdadeira rainha. Filhos
dela também conviveram conosco, como o Riveli-
no, o Bado, o Saci...
      Mas um vira-lata, em especial, era meu xodó               Depois do Sheike, veio o Snoopy, uma mistu-
(e creio, vice-versa). O Brito, que depois virou          ra de fox paulistinha com sei lá o quê. Amoroso,
Britz, que depois virou... ah, bem, deixa pra lá, eram    mas sofreu muito, e todos sofremos junto, claro. Ele
tantos os nomes e apelidos que eu dava para um            teve sinomose.
único gato, que em minha memória estas coisas até
se confundem, hoje em dia.                                      Então veio o Ringo, este sim, um fox paulisti-
                                                          nha. Muito alegre e brincalhão, mas com uma per-
      O Brito, ou Britz, ou... chegava da rua estropi-    sonalidade muito forte. Ele tinha uma característica
ado, sem um pedaço da orelha, muitas vezes, e vi-         interessante: quando ia comer, gostava que o provo-
nha correndo ao meu encontro. Era um amor só. To-         cassem, até que ficasse bem nervoso e então comia
do sujo, com resquícios da farra, parecia saber que       loucamente, latindo, rosnando e mostrando os den-
somente eu toleraria aquilo.                              tes. Gostava de tomar água na torneira do quintal.
      E quantas vezes ele desaparecia! Dois, três,        Bastava abrirmos a torneira e ele estar por perto,
quatro dias! Nós ficávamos preocupados, querendo          pronto, já vinha dar bocadas nela com uma gana
saber seu paradeiro. E de repente lá estava ele. Da-      que, a nós parecia estar se machucando, tamanha a
quele jeito amassado, sujo e cambaleante, mas, cla-       força que imprimia no gesto. Mas teve vários pro-
ro, sempre com muita energia para recomeçar a far-        blemas de saúde. O problema na coluna o fez ficar
ra gatuna. Um vira-lata branco e preto, um autêntico      curvado, até que não podia mais saltar o tanto que
corinthiano, pois nesta época o Corinthians era uma       gostava. Teve uma alergia que lhe tomou o corpo
de minhas paixões.                                        inteiro, ocasionando falhas na pelagem rala, típica
                                                          de sua raça.
       Minha avó – que morava conosco – tratava de
todos os gatos e animais de casa, com especial cari-      Outros animais habitaram nossa casa: dois grandes
nho. Preparava “altos banquetes” para os felinos.         jabotis (ou cágados) que viveram muitos anos no
Naquela época não existia essa coisa de ração. Ela        quintal e tinham, dentre suas preferências alimentí-
ia à feira, comprava sardinhas e fazia um preparo         cias, mamão e banana.
todo especial para eles. Quando estava na hora do               Neste mesmo quintal, dentro de um enorme
almoço e os bichanos não se encontravam por perto,        aquário construído no chão, em círculo, muitos pei-
ela tinha um ritual de chamá-los, ao que prontamen-       xes dividiram aquele espaço, durante muitos anos.

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Recordo-me que uma das coisas que mais me divertia era quando íamos limpar o aquário. Que farra!
      Mexer com água sempre foi algo que me atraiu, e fazer todo aquele procedimento, abrindo o batoque,
escoando a água, tirando os peixes, limpando tudo, enchendo novamente o aquário (que nada tinha a ver
com os aquários domésticos que conhecemos) e colocando os peixes de volta ao seu habitat, tudo aquilo era
bem divertido e envolvia a todos nós. Acontece que, quase sempre, após a limpeza, algum peixinho morria,
estranhando a água tão limpa.
     Este aquário cercava um grande viveiro, onde tínhamos periquitos de várias cores. Eu achava que
aquele era um espaço enorme para as pequenas aves.
     Na parte de baixo do quintal, próximo de onde os jabotis ficavam, havia um galinheiro. Não cheguei a
conhecer as galinhas. Apenas ouvi falar, também. Este espaço depois se transformou num orquidário.
     Lembro-me da goiabeira, dos limoeiros, das roseiras, da erva-cidreira, da hortelã, do manjericão e dos
inúmeros insetos que ali habitavam.
     Recordações da casa da Rangel Pestana, lugar em que vivi boa parte de minha vida.




                           INFÂNCIA


                       Por Audelina Macieira



                            Bonecas ao chão
                          Carrinhos na estante
                         meu conjunto de chá
                    na sala de visita de minha mãe.
                           Velotrol abusado
                   eu deixo sempre tudo espalhado
                     pela casa e não arrumo nada
                              sou criança.
                           Mamãe me acuda
                              Ai! Ai! Ai!
                           Quero merendar
                          biscoitos recheados
                     vou tomar banho com a Lili
                        minha boneca de pano
                  a noite vou falar com papai do céu
                        que quando eu crescer
                          quero ser bailarina.




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                                                         Ta escurecendo, a mãe levanta e diz que vai passar
Pé-de-Moleque                                            um café fresquinho. Aquele torrado no tacho, pisa-
                                                         do no pilão e coado no saco de pano de algodão. Ai
                                                         que gostoso.
                                                          Café quentinho e tapioca com coco!- também bem
                                                         cedinho... e o cheirinho da tapioca que a mãe assa e
                                                         poe no pau, pra ficar durinha, crocante igual a bis-
                                                         coito.
                                                         Assim o moleque tem forca de correr o dia todo...
Por Francy Wagner                                        vai pra escola de bicicleta e no recreio joga bola
                                                         com a molecada, tudo parente e amigo, primo, filho
                                                         do padrinho, primo do primo do pai, da mãe, ... uma
Junho. Mês das quadrilhas! Santo Antonio, São Jo-        família grande...
ao e São Pedro!                                          Pé-de-moleque, gostoso torrado no forno da casa de
Bolo de milho, canjica, pé-de-moleque,...                farinha... pelo tio Manoel, que faz os melhores da
                                                         cidade! Ele também é o melhor pra torrar a farinha,
Sabores da minha infância. Sabores do interior do        o melhor forneiro da região. O moleque ajuda o tio
Ceara, da querida terrinha, onde se pula, dança,         quando ele deixa.... torrar farinha é trabalho de res-
brinca, corre, toma banho de lagoa, de riacho, de        ponsabilidade. Tem que saber o ponto certo pra nao
rio, de mar, de chuva...                                 deixar a farinha crua nem queimada. E o moleque
Pé-de-Moleque, escurinho, dentro da palha da bana-       fica ali, aprendendo o ponto certo... quando cansa,
neira... daquela touceira que fica logo ali, no rego     corre e vai brincar de pião ou de bilha com os pri-
de agua que sai da pia da cozinha. Nunca falta água      mos. Farinhada é uma festa.
pra bananeira. E foi justo ali que nasceu aquele pe      No final de semana, quando o pai não grita pra fazer
de tomate frondoso, que a mãe vai catar um tomate        nada, o moleque escapole cedo e vai pra lagoa.
bem maduro pra temperar a panela do frango...
aquele carijó... almoço do domingo!                      Lagoa cheia.

Pé-de-Moleque, temperado com erva doce que o             Inverno bom.
moleque foi correndo comprar na venda do tio Jar-        Fartura na porta do terreiro.
bas.
                                                         Pular da tabua, nadar ate o fundo, dar tainha na
Pé-de-Moleque, enfeitado de castanha de caju, da-        agua. Depois correr e se salgar de areia só para tirar
quelas que o moleque ajudou o pai a juntar debaixo       em seguida noutra tainha.
do cajueiral, assou na palha do coqueiro, o mesmo
                                                         A mãe chega mais tarde com as meninas e coma-
coqueiro do qual a mae quebrou o coco para tempe-
                                                         dres. Ficam mais no raso.
rar a tapioca de manha bem cedo. Castanha inteira é
pra venda, quebrada ou murcha é pra boca... do mo-       A mãe nem se preocupa com o moleque. Aprendeu
leque.                                                   a nadar ainda bebe de colo, ali mesmo nas aguas da
                                                         lagoa... assim como a molequinha mais nova, que
“Ah! Se se quebrar bem muita!”- sonha o moleque
enquanto vai tirando o miolo da castanha quente e        agora mesmo aprende a andar e cair sentada na bei-
ficando com os dedos escurecidos, igualzinho ao          ra d'água, e todos acham muita graça da braveza da
seu pe, ali sentado ao lado da mãe e da irmã, debai-     menininha.
xo do cajueiro “da cozinha”, onde corre mais vento,      Compadre Pedro vai matar um porco no sábado. Já
um ventinho fresco da tarde...                           convidou todo mundo conhecido para a matança...
                                                         os homens vão logo de madrugadinha. A comadre
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só chega mais tarde, para ajudar a prima com o sarrabulho. E a molecada fica no cajueiral do terreno, brin-
cando.
Os pês vai ficar escurinhos, pretinhos... da cor do bolo: Pé-de-moleque!
Da cor nossa de cada dia, pois tira o chinelo para correr e pegar o frango do almoço do domingo. Aquele
carijó, grandão que já tá querendo pegar as galinhas e briga toda hora com o galo... mãe não quer ele de
reprodutor não.
“Vai moleque, pega o frango carijó e bota no grajau!”- grita a mãe do pé da porteira da cozinha.
E la vai o moleque, na carreira, atrás do frango ligeiro, que da cada rabiada, que deixa o moleque ali no pé
da moita. A mãe solta a “Traíra”, a cachorra da casa, pra ajudar. Sem a ajuda da Traíra o moleque não pe-
ga o frango hoje não... acaba escapulindo pro mato, aí... adeus!
Traíra segura o frango, mas não fere.
O Carijó vai ficar no grajau até domingo cedinho, pra limpar. Agora a mãe vai botar só milho pra ele co-
mer... e talvez um restinho do farelo...a sobra do balde da comida do porco... que também esta na engorda
pro batizado da pequena... vai ser na festa da santa. A mãe fez uma promessa.
Só a tardinha a mãe grita: “Vai tomar banho menino, limpar esses pês e lavar a chinela! E não vai mais
pro terreiro hoje não!”
Já faz tempo que o pai vendeu umas sacas de castanhas e comprou a televisão com a parabólica. Mas ele
só deixa assistir depois que faz o dever de casa.
O moleque so vai fazer o dever de casa, depois que toma banho a tardinha... quando a mãe grita! Nas sex-
tas ele escapole cedo, pois a mãe vai pro terço na casa da comadre e ele vai brincar de bilha com os pri-
mos.
É mais divertido do que ficar ali, sentado na frente da televisão assistindo aquelas novelas. Novelas são
para as mulheres... ele quer ser macho igual ao pai.
Mas ainda esta muito cedo pra tomar uma meiotas na bodega do Chico. Então o jeito é brincar de bilha e
apostar com quem vai dançar quadrinha esse ano. Ele esta pensando na prima, a Marli, filha da tia Janete.
Ela ta ficando danada de bonita. E ele tá deixando de ser... moleque!




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                                      Peraltices de menina

                  Por Lúcia Amélia Brüllhardt



Ela era uma menina muito sapeca que mordia todas as outras
meninas na escola, fazendo amizades somente com os meninos.
Certo dia, esteve precisando de dinheiro, e ninguém
arranjava, então a menina peralta foi à feira do troca – troca, ven-
der seu gatinho de estimação, chamado 'Foen'. Um vizinho a viu
e avisou à família dela. Graças a Deus, ninguém comprou o coi-
tado.
Certa vez, na cidade em que morava, havia chegado a época do
carnaval. Em cidades de interior, costumavam sair os papangus,
homens vestidos de urso. Só que Lúlú ( apelido da menina peral-
ta ) jamais
havia visto um mascarado, nem fantasiado de urso. Estavam andando na feira, quando aparece um cara ves-
tido de diabo e outro de urso. Lúcia estava com mais duas crianças e ambas correram. Um menino se bor-
rou todo e ela desmaiou, chegando a casa quieta, sem acordar ninguém, passando o maior sufoco, pois os
outros dois haviam se perdido na feira.
Em uma outra ocasião, ela foi a uma cidade chamada Capoeiras, em dia de feira ( no interior do Nordeste).
Lá havia uma convenção de partidos políticos. Sua mãe, na época, era escrivã eleitoral e estava presente.
Lúlú vai até ela e pede dinheiro, porém a mãe nada lhe dá. Não esperou mais.
Pegou o pandeiro de uma pessoa com necessidades especiais, (um cego), começou a cantar e tocar no meio
da feira. Pegou as rapaduras de um senhor e saiu vendendo, mas não ficou com o dinheiro, deu o dinheiro
das rapaduras vendidas ao cego.
Aí que saudade dos meus tempos de criança, onde a inocência, humildade e esperança reinavam em meu
coração.
Aí que saudade das peraltices de outrora, que com o passar dos anos ficam somente registrados no livro da
memória.
Aquela menina peralta ainda habita em meu ser, amo muito ela e sempre que tenho oportunidade deixo ela
reviver e fazer suas PERALTICES DE MENINA.
Esta menina peralta hoje se chama Lúcia Amélia Brüllhardt.




                                      VOCÊ SABIA?
A revista VARAL DO BRASIL circula no Brasil do Amazonas ao Rio Grande do Sul...
Também leva seus autores pelos cinco continentes!
     Quer divulgação melhor? Venha fazer parte do VARAL! Literário, sem frescuras!
                                    E-mail: varaldobrasil@gmail.com
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Varal do Brasil setembro/outubro 2012




VARAL ANTOLÓGICO 3

Abriram-se as inscrições para a seleção para o livro VARAL ANTOLÓGICO 3 a ser lançado em
2013.
Os interessados deverão enviar textos (no mínimo um, no máximo 5) num total de quatro pági-
nas A5, letra Times New Roman 12, espaço 1.
Todos os textos serão examinados por uma Comissão Examinadora composta de escritores e
críticos que acompanham e/ou participam do Varal do Brasil.
Os textos selecionados serão comunicados por e-mail a cada autor e farão parte do livro Varal
Antológico 3 mediante participação cooperativa.


O tema será livre e os textos podem ser: contos, crônicas ou poemas (todos os três em todas as
suas variações).
Para o regulamento completo escrever para : varaldobrasil@gmail.com



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                                       Vale à pena estudar

                                          Por Helena Akiko Kuno


Jennifer era uma garota muito estudiosa, mas nos últimos tempos estava muito distraída. Um dia sua pro-
fessora Isabel aplicou uma prova de Matemática e enquanto Jennifer respondia as questões, suas amigas
Sofia e Rute não paravam de lhe pedi as respostas.
No dia seguinte a professora entregou a prova corrigida e quando Jennifer pegou a sua, ela não quis acredi-
tar, a nota era 4,5 !!!.
Jennifer ficou tão preocupada que passou mal. Sua mãe Keila foi
correndo buscá-la na escola e a levou ao médico. Como havia
muitas crianças na clinica, Jennifer demorou a ser atendida, tem-
po suficiente para ela melhorar, o que foi constatado pelo médi-
co. No entanto, o médico alertou que poderia ser um resfriado
que estaria por vir.
À noite em casa, Jennifer contou a sua mãe que havia tirado nota
baixa na prova de Matemática. Ao receber a notícia sua mãe fi-
cou brava, mas resolveu ajudá-la entregando todos os dias 10
páginas de lições até a próxima prova.
No dia da segunda prova de Matemática, Jennifer disse para suas
amigas:
- Não me peçam respostas porque eu não vou dar, pois já foi mal
na outra prova.
Então suas amigas colaboraram e não pediram respostas.
No dia seguinte, a professora novamente entregou a prova corrigida e quando Jennifer recebeu a sua, ela
gritou:
- Jennifer, 10 !!!
Jennifer festejou dentro da sala de aula e todos ficaram felizes.
Jennifer não parava de gritar:
◊     Vale à pena estudar!!!




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                 O Riacho *                             mentia que sim.

                                                        À noite, na hora de dormir, quase não consegui
                                                        chegar até a cama, à dor era tanta, meu coração
               Por Ana Rosenrot                         dava a impressão de estar batendo no meu pé,
                                                        que estava cada vez mais inchado; eu sabia que
       Acho que eu devia ter no máximo sete anos;       precisava fazer alguma coisa, mas continuava relu-
estava passando o feriado− como sempre fazía-           tante em pedir ajuda; foi quando ouvi a porta do
mos−, no sítio de meus avós e estava fazendo o          quarto abrir-se suavemente e vi minha avó aproxi-
que mais gostava naquele tempo: andar descalça          mar-se segurando sua enorme caixa de primeiros
dentro do riacho.                                       socorros −minha velha conhecida−, sentar-se na
       Sabia que levaria a maior bronca da minha        beirada da cama, segurar meu pé delicadamente,
mãe se fosse pega, pois ela havia me proibido de        examinar o local, pegar uma pinça grande na cai-
fazer aquilo, por considerar a brincadeira boba e       xa, arrancar o caco de vidro num único puxão, lim-
perigosa. Não que eu corresse um sério risco de         par o sangue, aplicar mercúrio-cromo –o que doeu
me afogar, já que o riacho não tinha mais que um        mais− e colocar um pequeno curativo; livrando-me
palmo de profundidade, mas ela temia que eu me          finalmente daquele tormento. Fiquei ainda mais
machucasse com alguma coisa cortante ou perfu-          feliz por saber que não sofri sozinha, pois minha
rante, que eventualmente poderia haver na areia         avó e eterna cúmplice me observara o dia todo e
que lhe cobria o fundo.                                 esperou a hora certa para salvar-me, como sem-
       O problema é que eu não conseguia resistir       pre.
à sensação deliciosa de caminhar naquela areia
fria, enquanto o movimento da água −geladíssima−
massageava meus pés, as flores que nasciam na
margem, perfumavam tudo ao redor, era tanta cor
e tanta luz, que minha imaginação corria solta, cri-
ando milhões de aventuras.
       Naquele dia em especial, o lugar estava lin-
do, havia chovido à semana toda e agora o sol bri-
lhava novamente, criando reflexos coloridos no fun-
do do riacho; eu queria aproveitar cada segundo,
antes que alguém sentisse minha falta ou que mi-
nhas primas mais velhas −e muito chatas− chegas-
sem, tomando conta de tudo e querendo dar or-
dens; o que sempre acabava com as minhas brin-
cadeiras. Então andei para o lado mais afastado,
onde as árvores ocultavam a visão do riacho e
afundei os pés na areia com vontade; foi quando
senti uma dor repentina, um cutucão na sola do pé                   A autora com um ano de idade
direito e percebi imediatamente que estava ferida;
fui pulando num pé só e sentei-me na margem, pa-
ra poder ver o que tinha realmente acontecido, fi-
quei em pânico quando vi o que era: um caco de                 Depois ela levantou-se, deu-me um beijo na
vidro estava fincado dentro da carne do pé e eu         testa e me fez prometer nunca mais fazer aquilo
não conseguia puxá-lo para fora, nem podia ter          novamente; isso se tornou mais um de nossos mui-
noção do seu tamanho, pois somente uma ponti-           tos segredos. E claro, eu cumpri a promessa com
nha estava visível.                                     prazer, pelo menos até o feriado seguinte.
       Mesmo sem ter nenhum sangue saindo, fi-                 Como sinto saudades desta época especial;
quei morrendo de medo e quis gritar por ajuda,          hoje, após tantos anos, não existem mais meus
mas como queria a todo custo evitar um castigo          avós, nem o amor verdadeiro, ou aquela cumplici-
pela desobediência, fiquei quieta apesar da dor;        dade desinteressada, que deixamos de encontrar
saí do riacho, andando o melhor que pude, calcei        quando nos tornamos adultos; o riacho secou e a
minhas sandálias, fui para dentro da casa dos           realidade muitas vezes assusta; mas minha infância
meus avós e passei o restante do dia sentada, as-       viverá para sempre, escondida bem no fundo da mi-
sistindo televisão; o que fez com que todos estra-
                                                        nha alma, que jamais deixará de ser criança.
nhassem, pois quando eu ia ao sítio, não parava
quieta nem por um minuto e naquele dia até as
provocações das minhas primas – como elas eram
chatas−, eu aguentei calada; várias vezes me per-       *Para meus saudosos avós S.O. e M.I.O.
guntaram se eu estava bem e forçosamente eu

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             CARRO DE BOI                            mão, conduzia com perfeição as parelhas de
                                                     bois e sabia o nome de todos.
                                                           Quando seu tio descobriu ficou zangado
Por Vó Fia                                           e disse: vamos ver se você aprendeu mesmo,
                                                     carregou o carro com sacas de milho e man-
     Durante o ano todo Cidinha estudava no          dou que ela guiasse os bois até o pátio da fa-
Grupo Escolar Quincas Tenório, o único exis-         zenda, ela fez tudo certo e o tio achou muita
tente na cidade de São João da Serra; ela fre-       graça no final; para alegria de Cidinha ele per-
quentava as aulas do turno da manhã, voltava         mitiu que ela conduzisse o carro carregado até
para casa e depois do almoço brincava um             a cidade e foi um divertimento para a comuni-
pouco na rua com as crianças vizinhas, em se-        dade a passagem de um carro de bois, condu-
guida ia ajudar sua mãe no trabalho diário de        zido por uma menina.
fazer doces, sequilhos, roscas e bolos de en-              Cidinha estava no céu, usando a vara de
comenda para as festas do lugar, dona Isaltina       ferrão com sabedoria ela enfileirava os bois, de
era a melhor doceira da região.                      vez em quando tirava o chapéu de palha que
      Ajudando sua mãe a pequena Cidinha             usava e cumprimentava o alegre publico, seu
ajuntava o útil ao agradável, útil porque estava     tio todo orgulhoso seguia atrás do carro e se
aprendendo uma profissão e agradável porque          aproveitava do sucesso da sobrinha, distribu-
ela gostava de ajudar dona Isaltina no preparo       indo sorrisos para todos; chamando os bois
dos doces; estudando e trabalhando, a menina         pelos nomes ela os enfileirava e seguiam em
esperava ansiosa pelas férias de fim de ano,         perfeita ordem e o carro pesado cantava com
época em que ia para a Fazenda Casa Verde            os eixos untados de óleo.
de propriedade de seu tio Lucio, lá ela se di-             De repente apareceu dona Isaltina muito
vertia muito, mas o que mais gostava era do          zangada, tomou a vara de ferrão da filha, di-
carro de bois.                                       zendo: era só o que faltava, uma filha carrean-
     Aquele carro enorme puxado por três jun-        do como um moleque, mocinhas de família não
tas de bois era o sonho de Cidinha, ela passa-       trabalham como carreiro ou carreira, sei lá co-
va o ano todo esperando a hora de ser levada         mo dizer; lugar de menina é na escola estu-
por ele até a fazenda e criando coragem para         dando ou na cozinha aprendendo arte culinária
fazer um pedido inusitado ao severo tio, mas         para ganhar a vida e no futuro agradar ao ma-
os dias passavam, as férias terminavam e o           rido; virou-se para o irmão e disse: Cidinha
misterioso pedido não era feito, mas naquele         não volta mais em sua fazenda Lucio e nunca
ano ela se chegou ao tio e disse: tio Lucio me       vou te perdoar, ai terminou o sonho da menina.
deixa conduzir os bois do carro? Ele tomou um
susto e disse: onde já se viu?
Com a insistência da sobrinha ele explicou:
meninas não conduzem bois de carro, esse é
um serviço reservado aos homens, por isso se
diz que o condutor se chama carreiro e o meni-
no que vai à frente se chama candieiro, tudo
no masculino, entendeu Cidinha? Entender ela
entendeu, mas desistir não desistiu, porque ela
sempre sonhara em conduzir um carro de bois;
o carreiro era o Francelino e o candieiro era o
Tinim.
      Os dois eram amigos da menina e duran-
te a lida carreando coisas variadas, deixavam
que ela viajasse de carona em cima da carga e
varias vezes foram advertidos pelo patrão, que
não achava próprio de mocinhas aquela ma-
nia; pela amizade Francelino resolveu ensinar
os mistérios da condução dos bois a Cidinha
e em pouco tempo ela com um chucho na
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                             PARTICIPAÇÃO NO VARAL


          •     E em novembro, aniversário do Varal! A revista
                Varal do Brasil completará 3 anos e conta com
                você para festejar! O tema será livre e você po-
                de se inscrever até 10 de outubro (as inscrições
                podem ser encerradas antes, dependendo do
                número de participantes).
          •     E para janeiro de 2013 vamos falar da natureza,
                do planeta, dos animais, da vida: em janeiro
                nosso tema será o Planeta Terra, porque falar
                de nosso planeta nunca será demais! Textos
                até dez de dezembro.
          Você pode escrever na forma que desejar: verso ou
          prosa! Haicai? Trova? Poema? Crônica? Conto? Mi-
          niconto? Soneto? Que outras mais você faz? Mostre
          pra gente!
          Traga sua poesia, sua visão da vida, seus sonhos,
          para o VARAL!
          Venha conosco!
          Varal do Brasil: Literário, sem frescuras!




                                        FAÇA SUA ESTA CAUSA!


                                          ADOTAR É ANIMAL
                          AJUDANIMAL, GRUPO DE AJUDA E AMPARO
                                  AOS ANIMAIS DO ABC
                                        www.ajudanimal.org.br




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                                          Nossa infância

                                   Por Karine Alves Ribeiro



           Nossa infância é nosso começo, começamos grandes ou começamos pequenos.

  Às vezes nos ferem tantas regras, que parecem inúteis e quando crescemos, são a nossa salvação.

Nossa infância serena, alegre, intensa, livre com horário para voltar para casa, ou desligar a TV. Tudo
                                            isso é saudável...

   Nossa infância agredida, pisada, humilhada, violentada, trucidada, esquecida, esta é podridão...

                       Sim, apodrece-se o fruto antes mesmo de cair no chão...

                                Colhe-se o limo, se não há aderência
                                 entre pais e filhos, irmãos e irmãs.

                                         O Amor é criança
                                 de olhos vivos, alegres, tranquilos.

                                            Criança é luz
                                       acesa, praiana, colorida.

                                         Luz é Deus, é vida,
                                é criança que renasce cheia de amor.




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                              BRIGADEIRO

                                   Ingredientes



                        1 colher(es) (sopa) de manteiga
                          2 lata(s) de leite condensado
                    1 xícara(s) (chá) de chocolate granulado
                     4 colher(es) (sopa) de chocolate em pó


                                Modo de preparo


  Numa panela junte o leite condensado, a manteiga e o chocolate em pó. Misture
 bem até incorporar tudo. Leve ao fogo brando mexendo sempre. Utilize panela de
fundo grosso. Quando a massa começar a se desprender do fundo da panela (o tem-
po varia de acordo com a panela) passe a massa para um prato untado com mantei-
                                ga e deixe esfriar.
  Unte as mãos com manteiga e enrole os brigadeiros, passando-os no granulado.
                         Coloque em forminhas de papel.




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PÉROLAS AOS PORCOS                                     Você não aprendeu isso na escola?
                                                           -Aquele negócio doido de falar uma coisa que-
                                                       rendo dizer outra né? Mas vô você não respon-
                                                       deu minha pergunta: deu ou não pérolas pros seus
                                                       porcos?
                                                            -Você não acabou de dizer que sabe o que é um
                                                       ditado popular, uma metáfora? Então “dar pérolas
                                                       aos porcos” quer dizer que não adianta dar pra uma
                                                       pessoa, alguma coisa da qual ela não precisa, ou
  A louca percebe-se tão vivida,                       que não conhece o valor. Os porcos são bastante
                                                       gulosos, comem de tudo que encontram, por isso
  Lamenta a falta de força e reclama                   engordam tão rápido. Pérolas são joias que agra-
  Já não aguenta o peso pra empurrar na subida,        dam muito as mulheres, os porcos até podem en-
                                                       golir, mas isso não vai fazer diferença nenhuma.
  Nem segurar a carga, pra na descida                  Elas serão eliminadas junto com as fezes e vão se
  Evitar que escorregue e caia na lama!                misturar naquela lama toda.
                                                            -Eca!!! Que nojo!! .....Vô, se as pérolas são
                                                       joias que podem até entrar na barriga do porco,
                 Por Lariel Frota                      fazem uma viagem grande lá dentro e depois saem
                                                       junto com o coco inteirinhas, elas continuam sendo
                                                       valiosas, ou se transformam em coco também?
      -O dia hoje será bem divertido hein? Acho da
hora vocês se juntarem pra uma boa comilan-                -É disso que to falando. Como elas não se
ça. Igual     no nosso condomínio, não precisa de      transformam em alimento, são eliminadas exata-
muito motivo pra uma churrascada.                      mente como foram engolidas, ou seja, se eram pé-
                                                       rolas verdadeiras, continuam tendo o valor que as
     -No nosso caso o motivo principal é um tra-
                                                       pérolas verdadeira têm!
balho importante, depois a gente aproveita para
colocar a conversa em dia, e saborear as coisas bo-        -Só que muuuuuuitas sujas e fedorentas né?
as que as mulheres preparam no fogão a lenha!              -Mas o valor delas não mudou concorda? É só
     -Já sei vão    vacinar os porquinhos do tio       lavar bem direitinho e pronto.
Roberto né?                                                -Hum...entendi....mas se ninguém nunca achar
      -Oito leitoas deram cria, e ele está com uma     as pérolas que os porcos por acaso engoliram, e de-
porção de leitõezinhos pra vacinar, vamos dar uma      pois cag…ops, desculpe ai, eliminaram no meio
força. Daí a gente fica sabendo das novidades, as      daquela sujeira toda do chiqueiro….
mulheres trocam receitas e a criançada brinca, na-        -Elas continuarão sendo pérolas valiosas, escon-
quela correria danada de um lado pro outro.            didas, camufladas, enterradas, mas ainda assim se-
      -Todo mundo se dá bem no final né? Vô você       rão para sempre, pérolas valiosas.
já alimentou porcos?                                      -Vô, nossa que vento forte!.        Levantou um
      -Claro Guto, muitas vezes. Hoje já não crio      montão de folha seca, viu que legal, aquela ali pare-
porcos, mas não é pra me gabar não, a minha cria-      ce uma pipa voando bem alto, ufa!!!       Está tudo
ção era conhecida como a mais bem cuidada da re-       voando iiuuuuuuuuuuuuu!!!!
gião.                                                     -É mesmo tempo de bater essas ventanias. Fe-
    -Então você já deu pérolas pros seus porcos        cha os olhos até o vento passar. Tem muito cisco
comerem?                                               voando, se um deles entra no olho arde que é uma
                                                       barbaridade.
    -Pérolas aos porcos?
                                                         -Ainda bem que passou rápido! Olha vô fez até
     -Sim vô.. Escutei a mamãe falando pro papai
                                                       nuvem de pó bem fininho, será que essa poeira toda
que não adiantava ele falar daquele jeito com por-
                                                       pode chegar lá no meio daquelas nuvens branqui-
teiro do prédio, que é o mesmo que dar péro-
                                                       nhas???
las pros porcos.
                                                          -Isso é difícil de saber você não acha?
    -Ah, isso é um ditado popular, uma metáfora.

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Varal do Brasil setembro/outubro 2012

   -Seria bem legal heim? Já pensou, um punhado de terra fininha subir, subir bem alto e che-
gar nas estrelas?
 -Mesmo chegando lá,     continuaria sendo apenas uma nuvem de pó, não virariam estrelas.
 -Igual as pérolas no meio do coco dos porcos né?
 -Como assim?
  -Ora vô preste atenção: se a pérola continua sendo pérola, não perde seu valor mesmo enterrada na su-
jeira, o pó de terra não ganha valor, nem brilho, mesmo que chegue bem alto!!! Sabe mais o que acabei
de descobrir?
 -Não, mas estou bem curioso pra saber.
  -Acho que a mamãe falou errado sobre o tal ditado popular.Se as palavras que meu pai falou pro por-
teiro eram tão valiosas como as pérolas, ficarão enterradas bem no fundão da cabeça dele, escondi-
dinhas por muito tempo. Quem sabe um dia fuçando a caixa de pensamentos ele não desenterra e final-
mente entende o valor delas né????




  RECEITA DE BALA DE GOMA (JUJUBAS)

  Ingredientes:
  1 colher (sobremesa) de essência do mesmo sabor da gelatina
  3 envelopes de gelatina sem sabor (35 gramas)
  2 copos de água
  1 caixa de gelatina com sabor (85 gramas)
  1 kg de açúcar cristal


  Modo de Fazer:
  Dissolva a gelatina sem sabor em 2 copos de água, adicione a gelatina com sabor e mexa até dis-
  solver. Leve ao fogo por 1 min., não esquecendo de sempre estar mexendo. Após, adicione o
  açúcar e mexa para dissolver bem. Coloque a essência e mexa até ferver.
  Despeje a calda em um prato untado com óleo. Deixe descansar por 24 horas fora da geladeira.
  Corte as balas em cubinhos e passe no açúcar cristal. Guarde as balas por 3 dias antes de consu-
  mir, esse período é necessário para que a bala adquira mais consistência.


  Fonte: hƩp://www.mundodasdicas.net/



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Varal do Brasil setembro/outubro 2012

Minha Avó Passarinho                                     poucos foi perdendo a lucidez, variando, o que fi-
                                                         nalmente me fez entender a poesia que há nas avós.

                                                         Seu enterro foi uma ocasião de reencontros. A famí-
Por Marcelo Benini
                                                         lia reunida e os tantos conhecidos formavam uma
                                                         pequena multidão exultante na dor e na alegria. Do
O que há de mais remoto no mundo são as avós.            lado de dentro da sala onde se dava o velório, havia
Antes delas, pairam apenas sombra, bruma e esque-        contrição, choro e corações cheios de saudade. Do
cimento. Quando estiveres dirigindo à noite, em          lado de fora, abraços, casos relembrados e até al-
alguma estrada vicinal a caminho de casa, e se, por      guns risos ousados demais para a ocasião. Tenho
meio minuto, apagares completamente os faróis do         certeza que naquele dia minha avó soube compreen-
carro, entrarás em contato com teus antepassados         der as contradições humanas.
que espreitam para tomar posse de ti. Se vires um        Somente quando fecharam o caixão é que nos de-
cavalo baio atravessando a estrada, sabereis que é       mos conta de que a perderíamos para sempre. Que
uma sombra vinda do mundo que antecede as avós.          nunca mais tomaríamos café com bolo na mesa de
As avós são como um Tratado de Tordesilhas entre         sua cozinha. Que nunca mais seus filhos se reuniri-
vivos e mortos: à esquerda delas é melhor não pores      am na varanda para contar as histórias da infância.
os pés para não imolar o descanso dos esquecidos.        O cortejo subiu em silêncio as ruelas íngremes do
As avós, entretanto, tornam o mundo tangível. De-        cemitério de Cataguases. Passamos pela sepultura
pois delas é que começa a grande aventura de ser         onde meu avô descansava e, alguns metros além,
menino.                                                  paramos para o definitivo adeus. Vi o choro nos
Tinha um pouco de medo de minha avó e repugna-           olhos de alguns tios e a perplexidade nos olhos de
vam-me a pele encarquilhada, a voz rascante e a          alguns primos que, como eu, eram enfim apresenta-
tosse provocada pelo excesso de cigarros. Criança        dos à morte.
tem, entre tantas maldades, essa de não compreen-        Quando o caixão desceu, houve grande tristeza.
der e amar os velhos. Mas um dia eles se vão e aí        Eram os últimos instantes do dia e o sol já se ia por
começam os arrependimentos. Eu me senti culpado          de trás do morro. Em frente à cova havia um peque-
por desejar que ela não aparecesse nunca enquanto        no arbusto iluminado pelos raios do fim da tarde.
eu me regalava em sua cadeira de balanço. Também         Inesperadamente, um passarinho pousou no arbusto,
me arrependi de tantas vezes ter jogado futebol per-     virou o pescocinho e cantou com tanta doçura que
to dos seus vasos de gerânio. Sei que ela nunca me       comoveu a todos. Cantou breve e voou como fazem
perdoou por isso e pelas marcas de bola deixadas         sempre os passarinhos. Percebi então que minha
nos muros brancos da casa, que, confesso, me de-         avó havia partido.
ram enorme prazer.

Minha avó morreu de enfisema pulmonar. Antes,
porém, definhou vários anos sobre a cama. Aos


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Varal do Brasil setembro/outubro 2012

   HISTÓRIA DE UM AMOR E UM NOME



           Por Norália de Mello Castro



Nossa Infância é o tema proposto para o Varal
do Brasil de setembro 2012. Tema difícil para
mim, que posso dividir em duas histórias distin-
tas:

1ª. Filha de um espírita convicto que brigou com
seu irmão cônego católico, o inventor do nome
Norália, por ter roubado sua filha para batizar,          (História escrita para o grupo Love Quilts, para ex-
sem autorização dos pais, o que resultou num                          plicar o significado do nome.)
romance escrito pelo pai, de uma briga ferrenha
entre os irmãos, através de inúmeras cartas es-
critas, com filosofias diferentes. Norália só vol-                 Hoje vou contar uma história de amor em

tou a ver o tio padrinho aos 8 anos de idade. Esta        tópicos, para melhor compreensão, e, também, con-

briga aguçou na menina e na jovem toda uma                trolar a emoção intensa dessa história em mim.

procura da VERDADE, que até hoje procura
mais e mais. Tornou-se a eclética que é, nem ca-
                                                          SÉCULO XX:
tólica, nem espírita.
                                                          DÉCADA DE VINTE
Do pai ficou marcado o seu conceito de Liberda-
                                                                   No final da década de 20, a família estava
de, principalmente a religiosa. Ele pregava que
                                                          encantada por conhecer a bela esposa de um de seus
religião é de fórum íntimo de cada ser humano, e
                                                          rapazes: jovem, bonita, simpática, muito comunica-
que cada um escolhe a Verdade que melhor lhe
                                                          tiva, essa jovem conquistou totalmente a família do
responder.
                                                          marido. E sua primeira viagem ao Sul de Minas foi
                                                          total sucesso.
2º. A outra história marcante de sua infância, foi
                                                                   Quando souberam que a bela jovem tinha
a de seu próprio nome, escrita para o Love Qui-
                                                          uma irmã, começaram a brincar em casar a irmã
lts, grupo de bordadeiras ao qual pertence, e que
                                                          com mais outro rapaz da família.
               hoje apresenta aqui.
                                                                   Um dos rapazes gostava de brincar com jun-
                                                          ção de nomes e fazer monogramas. Por sinal, ele
                                                          desenhava monogramas belíssimos! Um dia, entrou
                                                          cozinha adentro, eufórico, gritando:


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Varal do Brasil setembro/outubro 2012

          A bela jovem Francelina era minha tia;         DÉCADA DE 50
Magnólia, minha mãe; Noraldino, meu pai. O espo-
so de minha tia era primo de meu pai.
                                                                  Norália, jovem muito ruiva e muito branca,
          Quando “fizeram” o casamento de meu pai,       meio tímida, mas alegre, tem um choque grande
lá no Sul de Minas, ele era ainda um jovem adoles-       com o nome que recebera. Este nome e a sua ima-
cente e minha mãe uma garota de seus 12 anos de          gem jovem muito ruiva, faziam-na ser vista como
idade, morando em Capela Nova, hoje Betim, parte         estrangeira, uma gringa legítima dos países do Nor-
da Região Metropolitana de Belo Horizonte.               te, com um nome diferenciado. Era comum lhe per-
          E a brincadeira parou por aí... Mas, hoje,     guntarem de que país era. Ela levava na brincadeira
pensando nesse episódio, imagino que tais nomes          e respondia:
tenham mexido na sensibilidade do adolescente en-                 - Sou uma gringa legítima!
volvido, até mesmo inspirado – e muito! – suas fan-
                                                                  Era comum        também   lhe perguntarem
tasias amorosas.
                                                         “Como?”, ao dizer ao interessado como se chama-
                                                         va.
DÉCADA DE TRINTA                                                  Ao telefone, então, era um desastre: e lá vi-
                                                         nha o “Como?”

          Noraldino, meu pai, um lindo jovem, vem                 Por isso, na maioria das vezes, ela respon-
para a Capital, para continuar seus estudos e fazer      dia:
faculdade. Vai à casa do Primo, da Francelina, e lá               - Nora, apenas Nora.
conhece a “famosa” irmã, Magnólia, uma linda jo-
                                                                  E o assunto morria por ai. Porém, Norália
vem loira de olhos azuis, no auge de seus 17 ani-
                                                         gostava muito de ter o nome Norália: de tão fácil
nhos. Meu pai, ainda estudante de Direito, traba-
                                                         grafia, mas de pronúncia que confundia.
lhando como bancário, perdidamente apaixonado,
começa a namorar Magnólia e se casam um ano                       Norália veio a ter uma grande decepção
depois.                                                  mesmo quando aquele lindo jovem moreno que na-
                                                         morava, por quem era apaixonada, chegou a ela um
          Esperando seu primeiro filho, Noraldino
                                                         dia e disse:
conta para Magnólia a invenção do nome da filha
que ele gostaria de ter e ambos sonham com a vinda                - Encontrei o seu nome no livro O Egípcio.
da Norália. Magnólia, até então, não sabia dessa         Ele está lá inteirinho.
história. Mas, quem chegou... foi um menino! Não                  - É mesmo? – respondeu ela – Vou procu-
se decepcionaram com a chegada do menino, pois           rar, vou ler o livro.
planejaram logo ter outro filho, para vir a menina.
                                                                  E o apaixonado sorriu. Ele lhe chamava de
E Norália chegou no segundo parto de Magnólia,
                                                         Lia, abreviatura de seu nome que é “nora” mais
que acabou tendo 6 filhos ao todo.
                                                         “lia”. Era Lia pra cá e pra lá, nos passeios, nos

                                          www.varaldobrasil.com                                              32
Varal do Brasil setembro/outubro 2012

nos bailes, nos cinemas... e como Norália era apai-       deixava as coisas acontecerem e pronto.
xonada! Adquiriu imediatamente o livro e – sôfrega
– devorou suas mais de 500 páginas. Entretanto, a
personagem com o seu nome não aparecia! Quase
no final do livro, de repente, Norália parou, sua res-
piração sumiu, ela ficou em estado de choque.

         - Então é isso?! Não sou personagem?! Sou                  Noraldino adorava contar essa história do
um mundo de estrume?                                      nome da filha: ele amara Magnólia antes mesmo de
         Trêmula, fria, respiração desenfreada, ela       conhecê-la; dizia que tinha de casar-se com ela para
sentiu o ódio entrando dentro dela, com uma força         que Norália existisse.
extraordinária, da raiva à mais profunda indigna-                   - Mas, gente, – dizia Noraldino, soltando
ção. Ela, pela primeira vez, não foi ao encontro do       gargalhadas – o nome da filha já existia, mas ela
jovem moreno: odiava-o ao extremo. No livro, nu-          nasceu 4 anos depois que casei com a minha Mag-
ma passagem, um personagem “ficara atolado até            nólia! – e gargalhava – Sim, 4 anos depois! A mi-
as lias”, num bom Português quer dizer: “ficara ato-      nha Magnólia era pura! – e gargalhava.
lado até as fezes”.
                                                                    Ele adorava contar sua história, seu amor
         E Norália mandou o jovem moreno à merda.         por sua esposa e o nascimento precoce de Norália.
Terminou aí essa história de amor juvenil.
                                                                    Noraldino é nome de origem árabe; e Mag-
                                                          nólia, de origem romana. O nome de origem roma-
                                                          na na família é compreensível, pois temos ascen-
                                                          dência italiana; contudo, o nome de origem árabe,
DÉCADA DE 60
                                                          nunca entendi, pois não temos nenhum ancestral
                                                          árabe. Ou será que temos e não sei? O nome de
         Desde o episódio do livro, Norália começou       meu pai veio por causa de um famoso da família,
a pesquisar e observar seu nome tão diferente. Não        que foi senador e governador interino de Minas, na
conheceu ninguém com o mesmo nome; nem em                 década de 40, mas que, acima de tudo, foi um gran-
listas do Tribunal Eleitoral, encontrou alguma No-        de educador, que fez as bases do Ensino que temos
rália.   As   pessoas   continuavam     a    perguntar    hoje. Noraldino tinha muito orgulho de seu nome
“COMO?” quando ouviam o seu nome. Amigos                  igual ao do primo famoso. Tinha orgulho mesmo.
tinham mania de pôr apelidos nela: Lia, Nora,
                                                                    Mas, ao seu nome, o mais próximo que No-
Norô, Nono, Lalaia, Nô; e assim foi que chegou a          rália encontrou, foi numa revista argentina lançada
contabilizar 21 apelidos! Porém, constatou também
                                                          nessa década em Buenos Aires: Norali, revista fe-
que os apelidos não colavam. Normalmente quem o
                                                          minina. Penso que o pai Noraldino queria que a
punha é que a chamava assim. Teve até gente que           filha ficasse famosa, assim como o primo famoso:
achou que seu nome fosse pseudônimo. Norália
                                                          que fardo ela carregava!

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Varal do Brasil setembro/outubro 2012


DÉCADA DE 90                                              tra como substantivo comum (não entendeu muito o
                                                          quê isso quer dizer e nem se interessou; (pensou:
                                                          “Talvez fosse igual às lias...”) e uma escritora na
                                                          Turquia, que parece ser cristã. Ainda irá fazer mais
                                                          pesquisa, principalmente da Norália Turca...
          Finalmente, Norália encontrou uma outra                   Fato é que este inesperado e único encontro
Norália, dentista, no interior de Minas. Ao saber         com outras Norálias fez levantar esta história: uma
dessa, identificou rapidamente a mãe dela, que co-        história de amor único de meus pais, que viveram
nhecera quando ainda criança e – por coincidência         54 anos juntos até a morte dele. Foram felizes, vivi-
– casou-se com outro Noraldino. Essa mãe conhe-           am em harmonia; nunca vi meus pais brigarem,
cia a história do nome Norália e com o esposo cha-        nunca brigavam na frente dos filhos. Meu pai foi
mado Noraldino foi fácil para ela dar este nome           um eterno apaixonado por Magnólia, totalmente
para a segunda filha. Já o nome Norália, não mais         dedicado à esposa e filhos; a família vinha sempre
pesava a ela: a vida correu, outros amores vieram e       em primeiro lugar para qualquer tomada de decisão
ela passou a achar tudo natural com o seu nome.           sua. E Magnólia foi uma companheira e tanto, total-
          Na Internet, encontrou outras Norálias, no-     mente vivendo para a família e meu pai.
me usado, embora não comum, em países latinos e
na América Central; encontrou uma menininha em
                                                                    E, eu, Norália, filha de Noraldino e Magnó-
Samoa e uma empresa na Noruega. Mas, Norália
                                                          lia, ao escrever tudo isto, percebo, mais uma vez,
continuava quase que única: em nenhum grupo so-
                                                          como fui amada por meus pais: deram-me um lindo
cial em que esteve, encontrou igual.
                                                          e diferente nome para marcarem – e muito! – sua
                                                          história de amor, que começou antes deles se co-
                                                          nhecerem.

SÉCULO XXI

Ano de 2009



          Ao fazer o FLICKR na Internet, Norália
queria que saísse o seu nome: flickr Norália e, pela
primeira vez, viu seu nome ser rejeitado, porque já
existia outro flicker Norália. Pela primeira vez, en-
controu uma barreira por existir outra Norália. Sen-
tiu alegria e curiosidade; esta última levou-a a pes-
quisar.

          Encontrou três Norálias: uma argentina, ou-

                                            www.varaldobrasil.com                                          34
Varal do Brasil setembro/outubro 2012

                                                        sempre soube dividir o pouco que meu pai conse-
Confiança no meu pai                                    guia trazer para dentro de casa. E, assim, a gente
                                                        vivia, viveu e sobreviveu a todas as intempéries,
Por: Valdeck Almeida de Jesus                           mesmo as mais difíceis.
                                                        A união nos manteve um grupo coeso, marchando
                                                        junto, com o mesmo objetivo: sobreviver junto. Ho-
Meu pai era analfabeto e por isso trabalhava na ro-     je, cada um a seu modo, tenta levar adiante as lições
ça, derrubando madeira, carregando peso e servindo      daqueles tempos difíceis e quase insuportáveis. Atu-
de burro de carga para fazendeiros. A lembrança         almente eu patrocino pessoas que passam por situa-
que tenho dele era toda tarde chegando do trabalho,     ções semelhantes as que passei, e incentivo seres
cansado, com uma roupa surrada e suja de terra. Eu      humanos a se tornarem melhores, a se estabelece-
e minha irmã Valquíria ficávamos sentados na porta      rem no mundo, graças ao incentivo à leitura e à es-
esperando por ele, o Velho João, como chamáva-          crita.
mos o nosso saudoso pai.
                                                        Muitas vezes, apoio de outras formas, que não vem
De longe avistávamos e corríamos para encontrá-lo       ao caso relatar aqui. Mas a vida é isso, uma corrente
antes mesmo de ele chegar em casa. Nos bolsos ele       em que cada um tem uma importância e um valor.
sempre trazia balas, compradas na venda de "Seu         Se um fraqueja, o dever dos demais é se unir àquele
Júlio", que ficava no caminho para casa. Era uma        menos resistente para que ele prossiga e faça a cor-
festa. Eu e minha irmã ficávamos muito alegres          rente não se quebrar... Afinal, se um se perde o res-
com aquele presente de todos os dias.                   tante pode sucumbir junto. Então, não resta alterna-
Uma vez eu fiz alguma travessura da qual não me         tiva senão ser um corpo só, junto com todos os ou-
recordo e meu pai puxou o cinto para me dar uma         tros corpos... e seguir, sempre, num único objetivo,
surra. Eu estava na porta da frente, que tinha uma      qual seja o do bem comum.
escada de dois degraus para descer. De tanto medo       Em tempos de egoísmo e falta de solidariedade, pa-
de apanhar eu me joguei escada abaixo, caí e ralei      rece utópico se pensar em coletividade. Mas não
toda a barriga, que ficou sangrando. Meu pai disse      posso deixar o sonho dos meus pais se diluírem na
"vem, que eu não vou te bater mais". Confiei no que     falta de crença das pessoas, nem posso desanimar
ele disse e fui até ele, que me pegou e fez carinhos.   diante de mentiras e falsidades. Meu objetivo na
Esta foi a lição que aprendi, a confiar no meu pai.     vida é muito maior do que curtir momentos e ter
Quando ele dizia uma coisa, ele cumpria.                prazer fugaz. Penso para a eternidade e planejo mi-
Nossa vida foi muito dura, difícil, de falta de comi-   nha vida pensando num horizonte cada vez mais
da e de tudo. Mas aprendemos que a vitória não          real. O horizonte da vida eterna, do amor e da paz.
vem fácil, sem uma luta, sem um planejamento.
Meu pai era um lutador e esta garra a gente apren-
deu logo cedo. Em tempo de chuva, nossa casa alu-       MEU PAI
gada se enchia de água e éramos obrigados a correr      Meu pai, João Alexandre de Jesus, era um trabalha-
para nos abrigar na casa de vizinhos.                   dor braçal. Pouco eu sei dele, somente que nasceu
A solidariedade entre pessoas que necessitam até do     em Santo Antônio de Jesus, cidade localizada no
básico para sobreviver sempre é mais forte. Mas         recôncavo baiano. Dali ele partiu para Jequié, co-
aprendemos que não é somente nos momentos difí-         nhecida como Cidade Sol, onde conheceu minha
ceis que devemos ser companheiros e solidários. No      mãe Paula Almeida de Jesus e se casou. Antes, po-
dia a dia, até nas horas alegres, devemos estar jun-    rém, ele já tinha esposado outra mulher, com a qual
tos, somando, compartilhando, dividindo, oportuni-      teve seis filhos.
zando a cada irmão ou amigo a vencer, ser vitorio-      Um homem firme, rude, mas ao mesmo tempo hu-
so.                                                     mano e carinhoso. Muitas saudades do meu velho...
Viver em comunidade exige dedicação e planeja-          O que me consola é que as lições que ele me passou
mento, sempre. Assim, cada um somando o pouco           jamais serão esquecidas. Ele foi um exemplo de ho-
que tem, vai construindo, tecendo uma sociedade         nestidade, perseverança e persistência. Apesar de
mais justa e mais igualitária, menos preconceituosa     não ter condições de estudar, incentivou quando eu
e menos segregadora. A união eu aprendi dentro de       fui para a escola. O sonho dele e de minha mãe,
casa, quando a pouca comida era dividida por todos,     Paula Almeida de Jesus, também falecida, era que
para que nenhum ficasse com fome... Minha mãe           os filhos trilhassem um caminho menos árduo na
                                                        vida.
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Varal do Brasil setembro/outubro 2012

E, graças ao esforço deles, todos os oito filhos conseguiram se dar bem e conquistar um lugar ao sol.


Hoje eu moro em Salvador, minha irmã Ivonete mora em Santo Amaro da Purificação, Valquíria e Vivaldo
moram em Jequié, Valdecy mora em Vitória da Conquista e Valdir, Valmir e Vitório moram em São Paulo.
Todos bem de vida, graças aos estudos. É uma vitória que poucas famílias alcançam. Mas, graças a Deus,
nossa família se orgulha de sua origem e não esquece o passado, exemplo para nosso futuro e de nossos
filhos. Assim, trilhando o caminho indicado pelos meus pais, sigo em frente e incentivo a tantos quantos eu
encontro pela vida a estudar e a lutar por seus sonhos.




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Varal do Brasil setembro/outubro 2012




          Infância

 Por Sarah Venturim Lasso


      Infância tem cheiro
       De terra molhada
        Pé de moleque
       Pipoca quentinha
        Feita pela vovó

      Infância tem gosto
    De brigadeiro de panela
           De chuva
       Bolinho de chuva
         Em dia cinza
      Correndo frenético
       Com pé no chão

       Infância tem cor
  Que chega a pintar a língua
      Com pirulito azul
       Tem cor de fruta
  Colhida de cima da árvore
Ouvindo mamãe mandar descer!

     Infância tem tempo
          De correr
           Dormir
       E fazer o dever
    Tem tempo de acabar...
            Poxa!




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Nossa Infância em Palavras

  • 1. ® Literário, sem frescuras! 1664- ISSN 1664-5243 Setembro/Outubro 2012— Ano 3 - Setembro/Outubro de 2012—Edição no. 17
  • 2. Varal do Brasil setembro/outubro 2012 www.varaldobrasil.com 2
  • 3. Varal do Brasil setembro/outubro 2012 ® LITERÁRIO, SEM FRESCURAS Genebra, verão/outono de 2012 No. 17 bbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbmmmmm mmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmhhhhhhhhhhhhhhhh hhhhhhhhhhuyuyuytuyhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhjkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrffffffffffffffmanajudyebeneogguaenejuebehaddddddd ddddddddddddddddddddmnheeƩpamƟngnrihssssssssssssssssssnerrrrrrrrrrrrrrekkkkkkkkkkkkkkkkkkkkbbb bbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbmmmmmmm mmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmhhhhhhhhhhhhhhhhhhh hhhhhhhuyuyuytuyhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhjkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk kkkkkkkkkkkkkkkkkkkrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrffffffffffffffmanajudyebeneogguaenejuebehaddddddddd ddddddddddddddddddmnheeƩpamƟngnrihssssssssssssssssssnerrrrrrrrrrrrrrekkkkkkkkkkkkkkkkkkkkbbbbb bbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbmmmmmmmm mmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhh hhhhhuyuyuytuyhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhjkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk kkkkkkkkkkkkkkkkkrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrffffffffffffffmanajudyebeneogguaenejuebehaddddddddddd ddddddddddddddddmnheeƩpamƟngnrihssssssssssssssssssnerrrrrrrrrrrrrrekkkkkkkkkkkkkkkkkkkkbbbbbbb bbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbmmmmmmmmmm mmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhh hhuyuyuytuyhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhjkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk kkkkkkkkkkkkkrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrffffffffffffffmanajudyebeneogguaenejuebehadddddddddddddd dddddddddddddmnheeƩpamƟngnrihssssssssssssssssssnerrrrrrrrrrrrrrekkkkkkkkkkkkkkkkkkkkbbbbbbbbbb bbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbmmmmmmmmmmm mmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhh huyuyuytuyhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhjkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk www.varaldobrasil.com 3
  • 4. Varal do Brasil setembro/outubro 2012 EXPEDIENTE Revista Literária VARAL DO BRASIL 1664- NO. 16 - Genebra - CH - ISSN 1664-5243 Copyright Vários Autores O Varal do Brasil é promovido, organizado e rea- lizado por Jacqueline Aisenman Site do VARAL: www.varaldobrasil.com Blog do Varal: www.varaldobrasil.blogspot.com Textos: Vários Autores Colunas: Daniel Ciarlini O CURTIDOR DE PELES Fabiane Ribeiro Por Wilton Porto Sheila Ferreira Kuno Ilustrações: Vários Autores Quando garoto, curtia o sol, Que curtia as peles estendidas no Desenhos animais: © ddraw - Fotolia com chão. Curtindo as peles, também curtia os Desenhos crianças/estações: © J-Sho - Fotolia sonhos, Foto capa: © Chepko Danil - Fotolia com De um dia nesta vida ter um lugar ao sol. Foto contracapa: © fotogestoeber - Fotoliacom Muitas imagens encontramos na internet sem ter O sol que curtia as peles o nome do autor citado. Se for uma foto ou um Muito mais curtia os sonhos desenho seu, envie um e-mail aqui para a gente De ser mais que um curtidor de peles e teremos o maior prazer em divulgar o seu ta- Na pele em que vivia. lento. O sol é vida, o sol é sonho, Revisão parcial de cada autor Mas viver no sol não é a única vida; Se Curtir as peles é oportunidade, Revisão geral VARAL DO BRASIL Oportunidade não é só em peles. Composição e diagramação: Viver ao sol – eis o verdadeiro curtir. Jacqueline Aisenman Curtiu e curte na pele que é dele. Porém, para curtir, o que se curte Nesta vida tão curta, A distribuição ecológica, por e-mail, é gratuita. A Antes, é viver no sol, revista está gratuitamente para download em Pois só ganha a vida quem nada repele. seus site e blog. Se você deseja participar do VARAL DO BRASIL (Do livro O CURTIDOR DE PELES). NO. 18 envie seus textos até 10 de outubro de 2012 para: varaldobrasil@gmail.com O tema da edição no. 18 será livre. www.varaldobrasil.com 4
  • 5. Varal do Brasil setembro/outubro 2012 Convidamos as pessoas que gostam de escrever para falar da infância e o convite foi aceito por muitos! Então aqui estamos, falando não só da Nossa Infância, mas da infância de todos. Desde as infâncias felizes até a mais triste delas. Lembrar da infância não é fácil para todo mundo, assim também é falar dela. O que para muitos é algo gostoso e que pode se repetir escrevendo o que vem da memória, para outros pode ser doloroso demais. Por isto agradecemos a tantos que vieram, atenderam o apelo e falaram da infância com alegria ou com tristeza. Quando se pensa em criança é automático: pensamos em doces! Vida doce, festa, tudo doce! Então fomos buscar algumas receitas culinárias que visitassem nosso paladar infantil, aquele que, como um pequeno pecado, muitas vezes ainda provamos e adoramos! Como vocês devem ter percebido nossas férias foram alegremente interrompidas pela edição de um especial, o Varal do Amor. Foram publicados cinquenta autores. Mas recebemos muitos, muitos mais. E a sugestão de fazer uma sequência. Quem sabe? Quem sabe não faremos em breve? Atendemos com alegria, em meio a todas as histórias e poemas sobre a infância, o chamado da seriedade de uma publicação científica e publicamos o artigo de André Valério Sales intitulado Particularidade, Universalidade e Singularidade: definindo conceitos fundamentais para a Meto- dologia da Pesquisa em Ciências Sociais e que por ele será apresentado na universidade que frequenta. Talvez um sonho de criança que se realiza! Em meio a tantas alegrias, uma notícia triste vem fazer parte do Varal. Nossa Livraria, infeliz- mente, encerrou suas atividades. Não foi possível manter o sonho de comercializar nossa nova literatura, nossos novos autores aqui na Europa! Constatamos que pouquíssimos brasileiros aqui na Suíça buscam esta literatura. A grande maioria ainda se atém aos autores consagrados ou prefere apenas adquirir os livros diretamente no Brasil quando vai em visita. Desta forma, profundamente tristes, fechamos as portas desta livraria que tinha o sonho de ver seus autores brilhando por aqui! Mas nem tudo foi perdido, pois depois do sucesso que foi nossa participa- ção no 26o. Salão Internacional do Livro de Genebra, os livros, cedidos por grande parte dos escritores presentes na livraria, estão sendo doados a várias bibliotecas suíças que demonstra- ram imenso interesse nos exemplares. São os novos autores brasileiros cruzando fronteiras através do Varal do Brasil! Estamos com as inscrições abertas para a seleção de textos para o livro Varal Antológico 3. Surpresos com a variedade e quantidade de textos a ler, nossos examinadores estão felizes de observar a qualidade destes mesmos textos. E começamos a lamentar que as vagas sejam limi- tadas! Você ainda tem tempo para se inscrever e pode solicitar o regulamento através do nosso e-mail varaldobrasil@gmail.com . O livro Varal Antológico 3 terá revisão completa incluída e edi- toração pela Design Editora, símbolo de qualidade na edição de livros no Brasil. Amigos do Varal, nos preparamos para, em novembro, festejar nossos três anos de revista. Tra- remos o tema livre, festejaremos juntos. Esperando você para a festa de novembro, deixamos aqui esta revista especial sobre a infância! Uma boa leitura! Sua equipe do Varal www.varaldobrasil.com 5
  • 6. Varal do Brasil setembro/outubro 2012 ◊ AFONSO MARTINI ◊ HELIO SENA ◊ ANA MARIA ROSA ◊ HERNANDES LEÃO ◊ ANA ROSENROT ◊ ISABEL CRISTINA SILVA VARGAS ◊ ANDRÉ VALÉRIO SALES ◊ IVANE LAURETE PEROTTI ◊ ARLETE TRENTINI DOS SANTOS ◊ JACQUELINE AISENMAN ◊ AUDELINA MACIEIRA ◊ JOSANE MARY AMORIM ◊ CARLA RENATA JORGE NEVES ◊ JOSÉ CAMBINDA DALA ◊ CARLOS CONRADO ◊ JOSÉ CARLOS PAIVA BRUNO ◊ CARLOS PINA ◊ JOSÉ HILTON ROSA ◊ CLÉO REIS ◊ JOSSELENE MARQUES ◊ CRISTINA CACOSSI ◊ JU PETEK ◊ DANIEL C. B. CIARLINI ◊ JULIA REGO ◊ DHIOGO JOSÉ CAETANO ◊ KARINE ALVES RIBEIRO ◊ EDNA PIDNER ◊ KRISIANE DE PAULA ◊ ELIANE ACCIOLY ◊ LARIEL FROTA ◊ EMÉRITA ANDRADE ◊ LENIVAL NUNES ANDRADE ◊ ELISE SCHIFFER ◊ LEONILDA YVONNETI SPINA ◊ EVELYN CIESZYNSKI ◊ LÓLA PRATA ◊ FABIANE RIBEIRO ◊ LÚCIA AMÉLIA BRULHARDT ◊ FANI ◊ LUDMILA RODRIGUES ◊ FELIPE CATTAPAN ◊ LUIZ CARLOS AMORIM ◊ FRANCY WAGNER ◊ LUNNA FRANK ◊ GERMANO MACHADO ◊ MARCELO BENINI ◊ GUACIRA MACIEL ◊ MARCOS TOLEDO ◊ HELENA AKIKO KUNO ◊ MARCOS TORRES www.varaldobrasil.com 6
  • 7. Varal do Brasil setembro/outubro 2012 ◊ MADAL ◊ MARIA EUGÊNIA ◊ MARIA MOREIRA ◊ MARIANE EGGERT DE FIGUEIREDO ◊ MARILU F. QUEIROZ ◊ MARINA VALENTE ◊ MARINEY K ◊ MÁRIO OSNY ROSA ◊ MYRTHES NEUSALI SPINA DE MORAIS ◊ MARIO REZENDE ◊ MORGANA GAZEL ◊ NORÁLIA DE MELLO CASTRO ◊ ODENIR FERRO ◊ RAIMUNDO CANDIDO TEIXEIRA FILHO ◊ RENATA IACOVINO ◊ RITA DE OLIVEIRA MEDEIROS ◊ RO FURKIM ◊ ROBERTO ARMORIZZI ◊ ROZELENE FURTADO DE LIMA ◊ SANDRA BERG ◊ SARAH VENTURIM LASSO ◊ SHEILA FERREIRA KUNO ◊ SILVIO PARISE ◊ SONIA NOGUEIRA ◊ SONIA RODRIGUES ◊ VALDECK ALMEIDA DE JESUS ◊ VALQUIRIA GESQUI MALAGOLI ◊ VO FIA ◊ WILTON PORTO ◊ YARA DARIN www.varaldobrasil.com 7
  • 8. Varal do Brasil setembro/outubro 2012 UM PEDAÇO DO CÉU jamais esquecerei. Por Ana Maria Rosa Fiquei parada no último degrau do corredor, fora do tempo, olhando aquele cenário irreal: a mesa grande, preta de tão encardida; as cadeiras escuras, Eu era muito criança. Devia ter uns seis fantasmagóricas; fuligem e pedaços de telha espa- anos, mas ainda me lembro daquela tarde. A trovoa- lhados por toda parte; o espelhinho do lavatório co- da veio muito rápida: de repente, o céu se fez negro, berto com uma toalhinha branca; a bacia de esmalte e um vento forte começou a sacudir a copa das árvo- cheia de água amarela; a pequena cristaleira com o res. Logo nossa mãe mandou que entrássemos. Fe- vidro quebrado expando os pratos de visita... A sala chou as portas e janelas, cobriu os santos e os espe- e os objetos, tudo, envolto numa penumbra azulada lhos. Nós queríamos ver a chuva, porém ela nos fez e, ao mesmo tempo, banhado de luz. Não havia can- ficar quietos em seu quarto. Amedrontada, sentou-se deeiro aceso nem luz do sol. As janelas e portas es- toda encolhida na cama passando as contas do rosá- tavam fechadas. Mas uma luminosidade suave e rio e rezando bem baixinho. Ficamos em silêncio acinzentada clareava tudo. Olhei e vi o teto, negro ouvindo o ribombar dos trovões e as pancadas da de fuligem, com um buraco enorme e azulado. Por chuva no telhado. Parecia que o mundo estava se aquele buraco, entrava – na sala – o céu cinza-claro, acabando – diria minha mãe mais tarde. Nós, ao quase prateado, lavado de chuva... contrário dela, não tínhamos medo algum e adoráva- Não sei por quanto tempo quedei-me ali, re- mos chuva forte com relâmpagos e trovões. Mas, verente, olhando aquele pedaço de céu... e admiran- daquela vez, fiquei um pouco amedrontada com a do aqueles objetos pela primeira vez – em toda sua violência da trovoada. Quando, finalmente, a chuva pobreza – envoltos numa feiura que, naquele mo- amainou, saímos do quarto. Era de tardinha, e a casa mento, me parecia inexplicavelmente bela. Aproxi- estava quase às escuras. Caminhávamos tateando as mei-me da mesa: o céu estava perto e pairava sobre paredes do corredor tentando enxergar através da minha cabeça. Como era possível aquilo? O céu penumbra. Logo, percebemos que a chuva e a venta- sempre fora tão inatingível, tão distante... E agora nia haviam feito muitos estragos, pois havia muita estava tão perto, tão pequenino... meu céu. Achei sujeira e telhas quebradas pelo chão. Ao chegarmos que poderia tocá-lo com a mão se conseguisse uma à sala de jantar, percebemos que algo extraordinário escada bem alta para subir na cumeeira da casa... havia acontecido: o vento destelhara a cumeeira. Olhei mais um pouco e vi que sobre a mesa, nas cadeiras, no chão, em toda parte, havia pequeni- nas pedrinhas transparentes – cristaizinhos de luz... Quando eu os colocava na palma da mão (tão frios), logo eles desapareciam. Alguém falou em chuva de granizo. Disseram que aquelas pedrinhas eram de gelo. Gelo!? Na boca, elas derretiam... Eram de Não sei o que os outros viram, mas o que vi água! www.varaldobrasil.com 8
  • 9. Varal do Brasil setembro/outubro 2012 Saí para o terreiro, e o chão estava salpicado nenhum som, apenas o Silêncio. por uma infinidade delas. O terreiro estava ilumina- Voltei à sala e olhei novamente cada coisa: do por milhares de pontos de luz, como se fossem os móveis, os objetos, as paredes, as portas, as jane- pedras preciosas ou pequeninos pedacinhos de estre- las, o telhado, o chão... E, de novo, era como se os las. Eu escolhia os maiores, punha-os na mão e fica- visse pela primeira vez. Olhava meu pedaço de céu, va olhando até vê-los sumirem rapidamente restan- limitado pelas telhas, projetando-se para o infinito, e do apenas uma porçãozinha de água... Olhava ao meu coração se regozijava como se tocado por algo meu redor, e o mundo inteiro estava parado. Não sagrado. Uma vez li (Não me lembro quem disse, existia nenhum movimento: as quixabeiras, impassí- mas foi alguém do grupo que construiu Pampulha) veis, sobre o tapete de frutinhas escuras; as folhas que a Poesia às vezes passa num lugar – suave e fur- das bananeiras, rasgadas, imóveis; os porcos quietos tiva – quase como uma brisa. Porém, por alguns ins- como as varas negras do chiqueiro; as galinhas e os tantes, pode-se perceber sua presença. Acho que, perus, extáticos, a contemplar, filosóficos, aquele naquela tarde, a Poesia entrou pelo buraco no telha- mundo novo; o pássaro, preso na gaiola, encolhia-se do, iluminou os móveis toscos da sala, assoprou a em seu terno negro sem vontade de fugir... Não ha- água amarela da bacia, mirou-se nos cristaizinhos de via nenhuma cor: o capim, as juremas, os mandaca- granizo e fugiu... Foi embora antes que a escuridão, rus, os umbuzeiros e até as flores haviam descolori- já instalada na cozinha, invadisse a sala; antes que a do. E o céu cinza-prata – agora imenso – continuava menina de cabelos encaracolados, sentada no baten- próximo, redondo, abraçando tudo ao redor. O mun- te do corredor, pudesse compreender por que queria do inteiro era uma fotografia em preto e branco. guardar – como um tesouro – aquela sensação de beleza... de mágica. Lembro-me de que fugi pela penumbra do corredor e quedei-me na sala de visi- tas, bem perto do lampião. Em meu coração, havia uma imensa vontade de chorar. Teria a menina des- coberto a efemeridade da vida? Houve um momento em que minhas irmãs entraram, e fiquei sozinha lá fora. Só eu – uma cri- ança – sozinha naquele imenso mundo ártico... E escutei as árvores, e escutei o gado, e escutei o ven- to, e escutei a fonte, e escutei o riacho. Não havia www.varaldobrasil.com 9
  • 10. Varal do Brasil setembro/outubro 2012 Minha infância Por Luiz Carlos Amorim Esta noite acordei com a chuva batendo na minha janela. Não fiquei contrariado por ter acordado com o barulho dos pingos contra o vidro, porque gosto de chuva. Sempre gostei. Gosto de dormir com o tambori- lar dos pingos no telhado (morei a maior parte da minha vida em casas, graças a Deus!) ou na janela. Que eu me lembre, só fico chateado quando chove muito nas épocas da florescência do ipê, do jacatirão, do flamboaiã, da azaleia e do olho de boneca (um tipo de orquídea comum, em nossa região), pois as flores caem mais depressa porque ficam pesadas com o excesso de água e porque apodrecem. E quando a chuva me pega desprevenido no meio da rua, no inverno. Mas como dizia, choveu esta noite e os pingos na janela fizeram com que me reportasse a minha infância, já um tanto distante. O tamborilar que agora me traz uma sensação de paz e melancolia, naqueles tempos de garoto, idos tempos, fazia com que eu e meus irmãos grudássemos nossos narizes nos vidros das janelas e olhássemos para fora, com uma vontade enorme de sair e brincar, descalços, na água que corria ao lado da casa e junto da calçada. Nossa mãe, no entanto, alerta, nos detinha. Mas em ela se descuidando um segundo, lá estávamos nós, fa- zendo festa debaixo da chuva, jogando água um no outro, estancando-a em pequenos lagos e soltando bar- quinhos de papel na corredeira, os cabelos escorridos e a roupa encharcada, com aquele ar de felicidade que só criança tem. Aqueles dias se foram e eu não corro mais na chuva. Quando me molho ao apanhar chuva, fico aborrecido por que vou chegar molhado em algum lugar. Não consigo mais ser criança como antes. E gostaria de po- der. Porque acho que ainda sou um pouquinho criança dentro deste corpo que vai envelhecendo e ficando cansado. Amanhã, quem sabe, talvez eu saia descalço e de peito nu, a cantar pela chuva. Se você encontrar um ma- luco molhado cantando e dançando na chuva, não se assuste. Pode ser que seja eu. www.varaldobrasil.com 10
  • 11. Varal do Brasil setembro/outubro 2012 LEMBRANÇAS Diferente de outras aulas, Aguardava ansiosa, Por saber que neste dia, Muito mais aprenderia; Através da geografia, Por Carla Renata Jorge Neves O mundo conheceria, Numa viagem maravilhosa! Ao final desta viagem, Busco agora na memória Louvo a Deus por ter um dia, Lembranças da minha infância: Me levado à escola, Aos seis anos de idade, Onde os meus mestres queridos, Mesmo com toda adversidade, Me ensinavam a toda hora, Posso ver muita alegria Não somente a disciplina, Por ter podido um dia, Mas amor e alegria! Estudar com a tia Estela Linda, amiga e sincera! Hoje eu trago na bagagem, Estas lembranças comigo, Chego agora aos oito anos, Que me fazem voltar no tempo No romper de outra etapa, Relembrando bons momentos, Tenho agora a tabuada, Que passei com meus amigos! Sem conversa, sem bagunça, Tia Fauza com firmeza, Faz o aluno com certeza, Aprender a matemática! Tudo isso me levou, Quando na minha escolha, A escolher Pedagogia, Para poder fazer um dia, Algo pela educação, Já na flor da mocidade, Dando contribuição, Aos quatorze anos de idade, À criança, jovem e adulto, Vejo agora a alegria Tornando-os bons cidadãos! Na aula de geografia: Senhor Jorge com seu mapa Ministrando suas aulas, Com toda propriedade! www.varaldobrasil.com 11
  • 12. Varal do Brasil setembro/outubro 2012 BALÕES EM SÃO JOÃO Por Yara Darin Art de Analice Rodrigues Uchôa Balões em São João Balões aos ares Balões multicores Que outrora no céu brilhavam, me fasci- navam. Sentia-me em liberdade, sensação de feli- cidade Amores de verdade! Lembro o céu junino todo estrelado As fogueiras , bandeiras e rojões Que alegravam o meu coração Quando em dia de São João ! Tão belos balões já não existem mais Tão-pouco tenho as alegrias de outrora E as que ficaram , tão somente São lembranças saudosas , gostosas De uma época feliz de criança Que o tempo não volta jamais... www.varaldobrasil.com 12
  • 13. Varal do Brasil setembro/outubro 2012 Oração de uma criança abandonada Por Carlos Conrado Querido Papai do Céu, Não sei se o senhor tem barba Mas sei que não é igual a eu!... Queria estar contigo agora Pois aí deve ter pão de sobra E um lugar coberto neste céu, Para eu me deitar quando estiver cansado, Nestas nuvens parecidas com algodão. Senhor por ti junto minhas mãos E peço sabedoria de gente grande. Papai do Céu eu quero Que eu e meus irmãos possamos Ir à escola e deixar De pedir esmola para sempre. Dizem que o senhor Ama todo mundo, que não rouba e nem mente, Por isto vou te amar. Não tenho muito a te oferecer, Mas mesmo que eu continue nas ruas, Eu vou te honrar e agradecer Pois tu és o meu super-herói!... Senhor se eu me comportar Talvez eu ganhe mais Que uma bicicleta, talvez, Eu ganhe um lar. Querido Papai do Céu Abençoa todo mundo. Dá-me uma mãe para amar, Um peixinho e um cachorro E diz a quem precisa escutar Que o amor não é só namorar. www.varaldobrasil.com 13
  • 14. Varal do Brasil setembro/outubro 2012 Por Fabiane Ribeiro ano seguinte, ela também não veio; nem no próxi- mo... Anos se passaram sem que ele tivesse notí- cias de sua amada. Ele já estava velho e cansado, quando, deitou-se na areia da praia e pediu que o mar carregasse seus olhos para que ela pudesse en- contrá-los. Dona de tudo o que ele já havia visto de mais belo, ela continuaria a guiá-lo por entre as mais lindas e inexploradas maravilhas da natureza. Assim, há um tempo que não se conta, nasceu, junto ao mar, a saudade e também o primeiro ser humano que não era mais dono de sua visão”. Conto 5 – A lenda dos olhos e da saudade Maria Isabel, a coordenadora do grupo, fe- chou o livro escrito em braile, dizendo: “Diz um velho pescador que há um tempo — Essa é a lenda dos olhos e da saudade. que não se conta, por aquelas bandas, existiu um Ela nos faz imaginar a vida do primeiro deficiente jovem rapaz que costumava caminhar a beira-mar visual que existiu no mundo. Claro, é só uma histó- em todo fim de tarde. Ele levava sempre consigo ria. Como temos observado ao longo de nossa reu- uma gaita e a tocava, enquanto contemplava a nião, assim como o rapaz da lenda, nós também ve- imensidão das águas e o vazio do horizonte. mos o mundo, apenas de forma diferente... O rapaz disse ao sábio que seu coração o guiara até aquela praia. Então, ele ia para lá, todos Verdade ou não, em certo canto do mundo, os dias, na esperança de encontrar os motivos. em uma praia distante de tudo, os viajantes costu- Até que um dia, do mar ela surgiu. Uma bela mavam dizer que podiam ouvir o som de uma gaita moça. Alguns dizem por aí que era uma sereia. Ou- a tocar, sem que ninguém estivesse por lá... tros dizem que era um anjo do mar. Mas para aque- le rapaz era apenas a dona do seu coração. Uma vez ao ano, ela surgia e o arrastava até as profundezas. Então, juntos, eles contemplavam as maiores mara- vilhas da natureza: o mundo que existe abaixo das águas do oceano, onde nenhum ser humano jamais estivera. Em todos os outros dias do ano, o rapaz sen- tava-se junto a um rochedo e tocava sua gaita. Ele sabia que a moça podia ouvi-lo, de onde estivesse. Ele apenas gostava de tocar para ela... E, a cada pôr -do-sol em que ela não vinha, ele derramava uma lágrima no oceano, que se mesclava por entre as águas infinitas. Por décadas, eles encontraram-se apenas uma vez ao ano. Até que a moça não apareceu. No www.varaldobrasil.com 14
  • 15. Varal do Brasil setembro/outubro 2012 O CLUBE DOS VIRA-LATAS é uma organização não governa- mental, sem fins lucraƟvos, que mantém em seu abrigo ho- je mais de 400 animais que são cuidados e alimentados dia- riamente. Boa parte desses animais chegou ao Clube após atropelamentos, acidentes, maus tratos e abandono. Nosso objeƟvo é resgatá-los das ruas, tratá-los e conseguir um lar responsável para que eles possam ter uma vida feliz. Por que ajudar os animais? doações. Todos podem ajudar, seja divulgando o Clube, seja adotando um animal ou mesmo doando Você sabia que no Brasil milhões de cães e gatos vi- dinheiro, ração ou medicamentos. Qualquer doação, vem nas ruas, passando fome, frio e todos os Ɵpos de qualquer valor por menor que seja, é bem-vinda. de necessidades? Cerca deles 70% acabam em abri- As contas do Clube bem como o desƟno de todo o gos e 90% nunca encontrarão um lar. Parte será víƟ- dinheiro estão abertas para quem quiser ma ainda de atropelamentos, espancamentos e to- dos os Ɵpo de maus tratos. BRADESCO (banco 237 para DOC) Infelizmente, não é possível solucionar este proble- Agência: 0557 ma da noite para o dia. A castração dos animais de CC: 73.760-7 rua é uma solução para diminuir as futuras popula- Titular: Clube dos Vira-Latas ções mas não resolve o problema do agora. Sendo CNPJ: 05.299.525/0001-93 Ou assim, algumas coisas que você pode fazer para aju- dar um animal carente hoje: Banco do Brasil (banco 001 para DOC) Adotar um animal de maneira responsável Agência: 6857-8 CC: 1624-1 Voluntariar-se em algum abrigo. Titular: Clube dos Vira-Latas Doar alimento (ração) e/ou remédios para abrigos. CNPJ: 05.299.525/0001-93 Contribuir financeiramente com ONGs. Nunca abandonar seu animal (Saiba mais sobre o Clube em hƩp://fr- fr.facebook.com/ClubeDosViraLatas?ref=ts) Como o Clube vive? Somente de doações. Todas as nossas contas são públicas, assim como extratos bancários e notas fiscais. Como ajudar o Clube? Para manter esses mais de 400 peludos em nosso abrigo, contamos hoje ape- nas o trabalho dos voluntários e com o dinheiro de www.varaldobrasil.com 15
  • 16. Varal do Brasil setembro/outubro 2012 Meus animais de infância te era atendido. Vinham de onde estivessem ao ou- vir a voz de minha avó. Bom, com relação à dinastia canina, o primei- Por Renata Iacovino ro que me lembro é do Sheike, um pequinês. Mor- reu velhinho. Antes dele tiveram outros. Mas não me recordo, apenas de ouvir falar e pelas fotografi- Desde criança sempre ouvi que gato tem sete as. vidas. E uma das histórias que me fez crer nisto, aconteceu em casa, mas eu apenas ouvi falar, por- que era muito pequena, ou talvez, nem nascida. Soube que meu pai – até então, um não apre- ciador da raça felina domesticada – atirou pela jane- la de seu quarto, nosso gato Pelé, a uma altura de mais ou menos 5 metros. O bichano sobreviveu, co- mo se nada tivesse acontecido. Que bom! Pelo me- nos não foi daquela vez. Foto de Renata Iacovino Mas tal antipatia durou pouco. Lembro-me sempre cercada de gatos, em casa. E testemunhei muitos deles no colo de meu pai, no sofá com a gente, enfim, verdadeiros donos e donas do pedaço. Manoela veio como verdadeira rainha. Filhos dela também conviveram conosco, como o Riveli- no, o Bado, o Saci... Mas um vira-lata, em especial, era meu xodó Depois do Sheike, veio o Snoopy, uma mistu- (e creio, vice-versa). O Brito, que depois virou ra de fox paulistinha com sei lá o quê. Amoroso, Britz, que depois virou... ah, bem, deixa pra lá, eram mas sofreu muito, e todos sofremos junto, claro. Ele tantos os nomes e apelidos que eu dava para um teve sinomose. único gato, que em minha memória estas coisas até se confundem, hoje em dia. Então veio o Ringo, este sim, um fox paulisti- nha. Muito alegre e brincalhão, mas com uma per- O Brito, ou Britz, ou... chegava da rua estropi- sonalidade muito forte. Ele tinha uma característica ado, sem um pedaço da orelha, muitas vezes, e vi- interessante: quando ia comer, gostava que o provo- nha correndo ao meu encontro. Era um amor só. To- cassem, até que ficasse bem nervoso e então comia do sujo, com resquícios da farra, parecia saber que loucamente, latindo, rosnando e mostrando os den- somente eu toleraria aquilo. tes. Gostava de tomar água na torneira do quintal. E quantas vezes ele desaparecia! Dois, três, Bastava abrirmos a torneira e ele estar por perto, quatro dias! Nós ficávamos preocupados, querendo pronto, já vinha dar bocadas nela com uma gana saber seu paradeiro. E de repente lá estava ele. Da- que, a nós parecia estar se machucando, tamanha a quele jeito amassado, sujo e cambaleante, mas, cla- força que imprimia no gesto. Mas teve vários pro- ro, sempre com muita energia para recomeçar a far- blemas de saúde. O problema na coluna o fez ficar ra gatuna. Um vira-lata branco e preto, um autêntico curvado, até que não podia mais saltar o tanto que corinthiano, pois nesta época o Corinthians era uma gostava. Teve uma alergia que lhe tomou o corpo de minhas paixões. inteiro, ocasionando falhas na pelagem rala, típica de sua raça. Minha avó – que morava conosco – tratava de todos os gatos e animais de casa, com especial cari- Outros animais habitaram nossa casa: dois grandes nho. Preparava “altos banquetes” para os felinos. jabotis (ou cágados) que viveram muitos anos no Naquela época não existia essa coisa de ração. Ela quintal e tinham, dentre suas preferências alimentí- ia à feira, comprava sardinhas e fazia um preparo cias, mamão e banana. todo especial para eles. Quando estava na hora do Neste mesmo quintal, dentro de um enorme almoço e os bichanos não se encontravam por perto, aquário construído no chão, em círculo, muitos pei- ela tinha um ritual de chamá-los, ao que prontamen- xes dividiram aquele espaço, durante muitos anos. www.varaldobrasil.com 16
  • 17. Varal do Brasil setembro/outubro 2012 Recordo-me que uma das coisas que mais me divertia era quando íamos limpar o aquário. Que farra! Mexer com água sempre foi algo que me atraiu, e fazer todo aquele procedimento, abrindo o batoque, escoando a água, tirando os peixes, limpando tudo, enchendo novamente o aquário (que nada tinha a ver com os aquários domésticos que conhecemos) e colocando os peixes de volta ao seu habitat, tudo aquilo era bem divertido e envolvia a todos nós. Acontece que, quase sempre, após a limpeza, algum peixinho morria, estranhando a água tão limpa. Este aquário cercava um grande viveiro, onde tínhamos periquitos de várias cores. Eu achava que aquele era um espaço enorme para as pequenas aves. Na parte de baixo do quintal, próximo de onde os jabotis ficavam, havia um galinheiro. Não cheguei a conhecer as galinhas. Apenas ouvi falar, também. Este espaço depois se transformou num orquidário. Lembro-me da goiabeira, dos limoeiros, das roseiras, da erva-cidreira, da hortelã, do manjericão e dos inúmeros insetos que ali habitavam. Recordações da casa da Rangel Pestana, lugar em que vivi boa parte de minha vida. INFÂNCIA Por Audelina Macieira Bonecas ao chão Carrinhos na estante meu conjunto de chá na sala de visita de minha mãe. Velotrol abusado eu deixo sempre tudo espalhado pela casa e não arrumo nada sou criança. Mamãe me acuda Ai! Ai! Ai! Quero merendar biscoitos recheados vou tomar banho com a Lili minha boneca de pano a noite vou falar com papai do céu que quando eu crescer quero ser bailarina. www.varaldobrasil.com 17
  • 18. Varal do Brasil setembro/outubro 2012 Ta escurecendo, a mãe levanta e diz que vai passar Pé-de-Moleque um café fresquinho. Aquele torrado no tacho, pisa- do no pilão e coado no saco de pano de algodão. Ai que gostoso. Café quentinho e tapioca com coco!- também bem cedinho... e o cheirinho da tapioca que a mãe assa e poe no pau, pra ficar durinha, crocante igual a bis- coito. Assim o moleque tem forca de correr o dia todo... Por Francy Wagner vai pra escola de bicicleta e no recreio joga bola com a molecada, tudo parente e amigo, primo, filho do padrinho, primo do primo do pai, da mãe, ... uma Junho. Mês das quadrilhas! Santo Antonio, São Jo- família grande... ao e São Pedro! Pé-de-moleque, gostoso torrado no forno da casa de Bolo de milho, canjica, pé-de-moleque,... farinha... pelo tio Manoel, que faz os melhores da cidade! Ele também é o melhor pra torrar a farinha, Sabores da minha infância. Sabores do interior do o melhor forneiro da região. O moleque ajuda o tio Ceara, da querida terrinha, onde se pula, dança, quando ele deixa.... torrar farinha é trabalho de res- brinca, corre, toma banho de lagoa, de riacho, de ponsabilidade. Tem que saber o ponto certo pra nao rio, de mar, de chuva... deixar a farinha crua nem queimada. E o moleque Pé-de-Moleque, escurinho, dentro da palha da bana- fica ali, aprendendo o ponto certo... quando cansa, neira... daquela touceira que fica logo ali, no rego corre e vai brincar de pião ou de bilha com os pri- de agua que sai da pia da cozinha. Nunca falta água mos. Farinhada é uma festa. pra bananeira. E foi justo ali que nasceu aquele pe No final de semana, quando o pai não grita pra fazer de tomate frondoso, que a mãe vai catar um tomate nada, o moleque escapole cedo e vai pra lagoa. bem maduro pra temperar a panela do frango... aquele carijó... almoço do domingo! Lagoa cheia. Pé-de-Moleque, temperado com erva doce que o Inverno bom. moleque foi correndo comprar na venda do tio Jar- Fartura na porta do terreiro. bas. Pular da tabua, nadar ate o fundo, dar tainha na Pé-de-Moleque, enfeitado de castanha de caju, da- agua. Depois correr e se salgar de areia só para tirar quelas que o moleque ajudou o pai a juntar debaixo em seguida noutra tainha. do cajueiral, assou na palha do coqueiro, o mesmo A mãe chega mais tarde com as meninas e coma- coqueiro do qual a mae quebrou o coco para tempe- dres. Ficam mais no raso. rar a tapioca de manha bem cedo. Castanha inteira é pra venda, quebrada ou murcha é pra boca... do mo- A mãe nem se preocupa com o moleque. Aprendeu leque. a nadar ainda bebe de colo, ali mesmo nas aguas da lagoa... assim como a molequinha mais nova, que “Ah! Se se quebrar bem muita!”- sonha o moleque enquanto vai tirando o miolo da castanha quente e agora mesmo aprende a andar e cair sentada na bei- ficando com os dedos escurecidos, igualzinho ao ra d'água, e todos acham muita graça da braveza da seu pe, ali sentado ao lado da mãe e da irmã, debai- menininha. xo do cajueiro “da cozinha”, onde corre mais vento, Compadre Pedro vai matar um porco no sábado. Já um ventinho fresco da tarde... convidou todo mundo conhecido para a matança... os homens vão logo de madrugadinha. A comadre www.varaldobrasil.com 18
  • 19. Varal do Brasil setembro/outubro 2012 só chega mais tarde, para ajudar a prima com o sarrabulho. E a molecada fica no cajueiral do terreno, brin- cando. Os pês vai ficar escurinhos, pretinhos... da cor do bolo: Pé-de-moleque! Da cor nossa de cada dia, pois tira o chinelo para correr e pegar o frango do almoço do domingo. Aquele carijó, grandão que já tá querendo pegar as galinhas e briga toda hora com o galo... mãe não quer ele de reprodutor não. “Vai moleque, pega o frango carijó e bota no grajau!”- grita a mãe do pé da porteira da cozinha. E la vai o moleque, na carreira, atrás do frango ligeiro, que da cada rabiada, que deixa o moleque ali no pé da moita. A mãe solta a “Traíra”, a cachorra da casa, pra ajudar. Sem a ajuda da Traíra o moleque não pe- ga o frango hoje não... acaba escapulindo pro mato, aí... adeus! Traíra segura o frango, mas não fere. O Carijó vai ficar no grajau até domingo cedinho, pra limpar. Agora a mãe vai botar só milho pra ele co- mer... e talvez um restinho do farelo...a sobra do balde da comida do porco... que também esta na engorda pro batizado da pequena... vai ser na festa da santa. A mãe fez uma promessa. Só a tardinha a mãe grita: “Vai tomar banho menino, limpar esses pês e lavar a chinela! E não vai mais pro terreiro hoje não!” Já faz tempo que o pai vendeu umas sacas de castanhas e comprou a televisão com a parabólica. Mas ele só deixa assistir depois que faz o dever de casa. O moleque so vai fazer o dever de casa, depois que toma banho a tardinha... quando a mãe grita! Nas sex- tas ele escapole cedo, pois a mãe vai pro terço na casa da comadre e ele vai brincar de bilha com os pri- mos. É mais divertido do que ficar ali, sentado na frente da televisão assistindo aquelas novelas. Novelas são para as mulheres... ele quer ser macho igual ao pai. Mas ainda esta muito cedo pra tomar uma meiotas na bodega do Chico. Então o jeito é brincar de bilha e apostar com quem vai dançar quadrinha esse ano. Ele esta pensando na prima, a Marli, filha da tia Janete. Ela ta ficando danada de bonita. E ele tá deixando de ser... moleque! www.varaldobrasil.com 19
  • 20. Varal do Brasil setembro/outubro 2012 Peraltices de menina Por Lúcia Amélia Brüllhardt Ela era uma menina muito sapeca que mordia todas as outras meninas na escola, fazendo amizades somente com os meninos. Certo dia, esteve precisando de dinheiro, e ninguém arranjava, então a menina peralta foi à feira do troca – troca, ven- der seu gatinho de estimação, chamado 'Foen'. Um vizinho a viu e avisou à família dela. Graças a Deus, ninguém comprou o coi- tado. Certa vez, na cidade em que morava, havia chegado a época do carnaval. Em cidades de interior, costumavam sair os papangus, homens vestidos de urso. Só que Lúlú ( apelido da menina peral- ta ) jamais havia visto um mascarado, nem fantasiado de urso. Estavam andando na feira, quando aparece um cara ves- tido de diabo e outro de urso. Lúcia estava com mais duas crianças e ambas correram. Um menino se bor- rou todo e ela desmaiou, chegando a casa quieta, sem acordar ninguém, passando o maior sufoco, pois os outros dois haviam se perdido na feira. Em uma outra ocasião, ela foi a uma cidade chamada Capoeiras, em dia de feira ( no interior do Nordeste). Lá havia uma convenção de partidos políticos. Sua mãe, na época, era escrivã eleitoral e estava presente. Lúlú vai até ela e pede dinheiro, porém a mãe nada lhe dá. Não esperou mais. Pegou o pandeiro de uma pessoa com necessidades especiais, (um cego), começou a cantar e tocar no meio da feira. Pegou as rapaduras de um senhor e saiu vendendo, mas não ficou com o dinheiro, deu o dinheiro das rapaduras vendidas ao cego. Aí que saudade dos meus tempos de criança, onde a inocência, humildade e esperança reinavam em meu coração. Aí que saudade das peraltices de outrora, que com o passar dos anos ficam somente registrados no livro da memória. Aquela menina peralta ainda habita em meu ser, amo muito ela e sempre que tenho oportunidade deixo ela reviver e fazer suas PERALTICES DE MENINA. Esta menina peralta hoje se chama Lúcia Amélia Brüllhardt. VOCÊ SABIA? A revista VARAL DO BRASIL circula no Brasil do Amazonas ao Rio Grande do Sul... Também leva seus autores pelos cinco continentes! Quer divulgação melhor? Venha fazer parte do VARAL! Literário, sem frescuras! E-mail: varaldobrasil@gmail.com Site: www.varaldobrasil.com Blog: www.varaldobrasil.blogspot.com www.varaldobrasil.com 20
  • 21. Varal do Brasil setembro/outubro 2012 VARAL ANTOLÓGICO 3 Abriram-se as inscrições para a seleção para o livro VARAL ANTOLÓGICO 3 a ser lançado em 2013. Os interessados deverão enviar textos (no mínimo um, no máximo 5) num total de quatro pági- nas A5, letra Times New Roman 12, espaço 1. Todos os textos serão examinados por uma Comissão Examinadora composta de escritores e críticos que acompanham e/ou participam do Varal do Brasil. Os textos selecionados serão comunicados por e-mail a cada autor e farão parte do livro Varal Antológico 3 mediante participação cooperativa. O tema será livre e os textos podem ser: contos, crônicas ou poemas (todos os três em todas as suas variações). Para o regulamento completo escrever para : varaldobrasil@gmail.com www.varaldobrasil.com 21
  • 22. Varal do Brasil setembro/outubro 2012 Vale à pena estudar Por Helena Akiko Kuno Jennifer era uma garota muito estudiosa, mas nos últimos tempos estava muito distraída. Um dia sua pro- fessora Isabel aplicou uma prova de Matemática e enquanto Jennifer respondia as questões, suas amigas Sofia e Rute não paravam de lhe pedi as respostas. No dia seguinte a professora entregou a prova corrigida e quando Jennifer pegou a sua, ela não quis acredi- tar, a nota era 4,5 !!!. Jennifer ficou tão preocupada que passou mal. Sua mãe Keila foi correndo buscá-la na escola e a levou ao médico. Como havia muitas crianças na clinica, Jennifer demorou a ser atendida, tem- po suficiente para ela melhorar, o que foi constatado pelo médi- co. No entanto, o médico alertou que poderia ser um resfriado que estaria por vir. À noite em casa, Jennifer contou a sua mãe que havia tirado nota baixa na prova de Matemática. Ao receber a notícia sua mãe fi- cou brava, mas resolveu ajudá-la entregando todos os dias 10 páginas de lições até a próxima prova. No dia da segunda prova de Matemática, Jennifer disse para suas amigas: - Não me peçam respostas porque eu não vou dar, pois já foi mal na outra prova. Então suas amigas colaboraram e não pediram respostas. No dia seguinte, a professora novamente entregou a prova corrigida e quando Jennifer recebeu a sua, ela gritou: - Jennifer, 10 !!! Jennifer festejou dentro da sala de aula e todos ficaram felizes. Jennifer não parava de gritar: ◊ Vale à pena estudar!!! www.varaldobrasil.com 22
  • 23. Varal do Brasil setembro/outubro 2012 O Riacho * mentia que sim. À noite, na hora de dormir, quase não consegui chegar até a cama, à dor era tanta, meu coração Por Ana Rosenrot dava a impressão de estar batendo no meu pé, que estava cada vez mais inchado; eu sabia que Acho que eu devia ter no máximo sete anos; precisava fazer alguma coisa, mas continuava relu- estava passando o feriado− como sempre fazía- tante em pedir ajuda; foi quando ouvi a porta do mos−, no sítio de meus avós e estava fazendo o quarto abrir-se suavemente e vi minha avó aproxi- que mais gostava naquele tempo: andar descalça mar-se segurando sua enorme caixa de primeiros dentro do riacho. socorros −minha velha conhecida−, sentar-se na Sabia que levaria a maior bronca da minha beirada da cama, segurar meu pé delicadamente, mãe se fosse pega, pois ela havia me proibido de examinar o local, pegar uma pinça grande na cai- fazer aquilo, por considerar a brincadeira boba e xa, arrancar o caco de vidro num único puxão, lim- perigosa. Não que eu corresse um sério risco de par o sangue, aplicar mercúrio-cromo –o que doeu me afogar, já que o riacho não tinha mais que um mais− e colocar um pequeno curativo; livrando-me palmo de profundidade, mas ela temia que eu me finalmente daquele tormento. Fiquei ainda mais machucasse com alguma coisa cortante ou perfu- feliz por saber que não sofri sozinha, pois minha rante, que eventualmente poderia haver na areia avó e eterna cúmplice me observara o dia todo e que lhe cobria o fundo. esperou a hora certa para salvar-me, como sem- O problema é que eu não conseguia resistir pre. à sensação deliciosa de caminhar naquela areia fria, enquanto o movimento da água −geladíssima− massageava meus pés, as flores que nasciam na margem, perfumavam tudo ao redor, era tanta cor e tanta luz, que minha imaginação corria solta, cri- ando milhões de aventuras. Naquele dia em especial, o lugar estava lin- do, havia chovido à semana toda e agora o sol bri- lhava novamente, criando reflexos coloridos no fun- do do riacho; eu queria aproveitar cada segundo, antes que alguém sentisse minha falta ou que mi- nhas primas mais velhas −e muito chatas− chegas- sem, tomando conta de tudo e querendo dar or- dens; o que sempre acabava com as minhas brin- cadeiras. Então andei para o lado mais afastado, onde as árvores ocultavam a visão do riacho e afundei os pés na areia com vontade; foi quando senti uma dor repentina, um cutucão na sola do pé A autora com um ano de idade direito e percebi imediatamente que estava ferida; fui pulando num pé só e sentei-me na margem, pa- ra poder ver o que tinha realmente acontecido, fi- quei em pânico quando vi o que era: um caco de Depois ela levantou-se, deu-me um beijo na vidro estava fincado dentro da carne do pé e eu testa e me fez prometer nunca mais fazer aquilo não conseguia puxá-lo para fora, nem podia ter novamente; isso se tornou mais um de nossos mui- noção do seu tamanho, pois somente uma ponti- tos segredos. E claro, eu cumpri a promessa com nha estava visível. prazer, pelo menos até o feriado seguinte. Mesmo sem ter nenhum sangue saindo, fi- Como sinto saudades desta época especial; quei morrendo de medo e quis gritar por ajuda, hoje, após tantos anos, não existem mais meus mas como queria a todo custo evitar um castigo avós, nem o amor verdadeiro, ou aquela cumplici- pela desobediência, fiquei quieta apesar da dor; dade desinteressada, que deixamos de encontrar saí do riacho, andando o melhor que pude, calcei quando nos tornamos adultos; o riacho secou e a minhas sandálias, fui para dentro da casa dos realidade muitas vezes assusta; mas minha infância meus avós e passei o restante do dia sentada, as- viverá para sempre, escondida bem no fundo da mi- sistindo televisão; o que fez com que todos estra- nha alma, que jamais deixará de ser criança. nhassem, pois quando eu ia ao sítio, não parava quieta nem por um minuto e naquele dia até as provocações das minhas primas – como elas eram chatas−, eu aguentei calada; várias vezes me per- *Para meus saudosos avós S.O. e M.I.O. guntaram se eu estava bem e forçosamente eu www.varaldobrasil.com 23
  • 24. Varal do Brasil setembro/outubro 2012 CARRO DE BOI mão, conduzia com perfeição as parelhas de bois e sabia o nome de todos. Quando seu tio descobriu ficou zangado Por Vó Fia e disse: vamos ver se você aprendeu mesmo, carregou o carro com sacas de milho e man- Durante o ano todo Cidinha estudava no dou que ela guiasse os bois até o pátio da fa- Grupo Escolar Quincas Tenório, o único exis- zenda, ela fez tudo certo e o tio achou muita tente na cidade de São João da Serra; ela fre- graça no final; para alegria de Cidinha ele per- quentava as aulas do turno da manhã, voltava mitiu que ela conduzisse o carro carregado até para casa e depois do almoço brincava um a cidade e foi um divertimento para a comuni- pouco na rua com as crianças vizinhas, em se- dade a passagem de um carro de bois, condu- guida ia ajudar sua mãe no trabalho diário de zido por uma menina. fazer doces, sequilhos, roscas e bolos de en- Cidinha estava no céu, usando a vara de comenda para as festas do lugar, dona Isaltina ferrão com sabedoria ela enfileirava os bois, de era a melhor doceira da região. vez em quando tirava o chapéu de palha que Ajudando sua mãe a pequena Cidinha usava e cumprimentava o alegre publico, seu ajuntava o útil ao agradável, útil porque estava tio todo orgulhoso seguia atrás do carro e se aprendendo uma profissão e agradável porque aproveitava do sucesso da sobrinha, distribu- ela gostava de ajudar dona Isaltina no preparo indo sorrisos para todos; chamando os bois dos doces; estudando e trabalhando, a menina pelos nomes ela os enfileirava e seguiam em esperava ansiosa pelas férias de fim de ano, perfeita ordem e o carro pesado cantava com época em que ia para a Fazenda Casa Verde os eixos untados de óleo. de propriedade de seu tio Lucio, lá ela se di- De repente apareceu dona Isaltina muito vertia muito, mas o que mais gostava era do zangada, tomou a vara de ferrão da filha, di- carro de bois. zendo: era só o que faltava, uma filha carrean- Aquele carro enorme puxado por três jun- do como um moleque, mocinhas de família não tas de bois era o sonho de Cidinha, ela passa- trabalham como carreiro ou carreira, sei lá co- va o ano todo esperando a hora de ser levada mo dizer; lugar de menina é na escola estu- por ele até a fazenda e criando coragem para dando ou na cozinha aprendendo arte culinária fazer um pedido inusitado ao severo tio, mas para ganhar a vida e no futuro agradar ao ma- os dias passavam, as férias terminavam e o rido; virou-se para o irmão e disse: Cidinha misterioso pedido não era feito, mas naquele não volta mais em sua fazenda Lucio e nunca ano ela se chegou ao tio e disse: tio Lucio me vou te perdoar, ai terminou o sonho da menina. deixa conduzir os bois do carro? Ele tomou um susto e disse: onde já se viu? Com a insistência da sobrinha ele explicou: meninas não conduzem bois de carro, esse é um serviço reservado aos homens, por isso se diz que o condutor se chama carreiro e o meni- no que vai à frente se chama candieiro, tudo no masculino, entendeu Cidinha? Entender ela entendeu, mas desistir não desistiu, porque ela sempre sonhara em conduzir um carro de bois; o carreiro era o Francelino e o candieiro era o Tinim. Os dois eram amigos da menina e duran- te a lida carreando coisas variadas, deixavam que ela viajasse de carona em cima da carga e varias vezes foram advertidos pelo patrão, que não achava próprio de mocinhas aquela ma- nia; pela amizade Francelino resolveu ensinar os mistérios da condução dos bois a Cidinha e em pouco tempo ela com um chucho na www.varaldobrasil.com 24
  • 25. Varal do Brasil setembro/outubro 2012 PARTICIPAÇÃO NO VARAL • E em novembro, aniversário do Varal! A revista Varal do Brasil completará 3 anos e conta com você para festejar! O tema será livre e você po- de se inscrever até 10 de outubro (as inscrições podem ser encerradas antes, dependendo do número de participantes). • E para janeiro de 2013 vamos falar da natureza, do planeta, dos animais, da vida: em janeiro nosso tema será o Planeta Terra, porque falar de nosso planeta nunca será demais! Textos até dez de dezembro. Você pode escrever na forma que desejar: verso ou prosa! Haicai? Trova? Poema? Crônica? Conto? Mi- niconto? Soneto? Que outras mais você faz? Mostre pra gente! Traga sua poesia, sua visão da vida, seus sonhos, para o VARAL! Venha conosco! Varal do Brasil: Literário, sem frescuras! FAÇA SUA ESTA CAUSA! ADOTAR É ANIMAL AJUDANIMAL, GRUPO DE AJUDA E AMPARO AOS ANIMAIS DO ABC www.ajudanimal.org.br www.varaldobrasil.com 25
  • 26. Varal do Brasil setembro/outubro 2012 Nossa infância Por Karine Alves Ribeiro Nossa infância é nosso começo, começamos grandes ou começamos pequenos. Às vezes nos ferem tantas regras, que parecem inúteis e quando crescemos, são a nossa salvação. Nossa infância serena, alegre, intensa, livre com horário para voltar para casa, ou desligar a TV. Tudo isso é saudável... Nossa infância agredida, pisada, humilhada, violentada, trucidada, esquecida, esta é podridão... Sim, apodrece-se o fruto antes mesmo de cair no chão... Colhe-se o limo, se não há aderência entre pais e filhos, irmãos e irmãs. O Amor é criança de olhos vivos, alegres, tranquilos. Criança é luz acesa, praiana, colorida. Luz é Deus, é vida, é criança que renasce cheia de amor. www.varaldobrasil.com 26
  • 27. Varal do Brasil setembro/outubro 2012 BRIGADEIRO Ingredientes 1 colher(es) (sopa) de manteiga 2 lata(s) de leite condensado 1 xícara(s) (chá) de chocolate granulado 4 colher(es) (sopa) de chocolate em pó Modo de preparo Numa panela junte o leite condensado, a manteiga e o chocolate em pó. Misture bem até incorporar tudo. Leve ao fogo brando mexendo sempre. Utilize panela de fundo grosso. Quando a massa começar a se desprender do fundo da panela (o tem- po varia de acordo com a panela) passe a massa para um prato untado com mantei- ga e deixe esfriar. Unte as mãos com manteiga e enrole os brigadeiros, passando-os no granulado. Coloque em forminhas de papel. www.varaldobrasil.com 27
  • 28. Varal do Brasil setembro/outubro 2012 PÉROLAS AOS PORCOS Você não aprendeu isso na escola? -Aquele negócio doido de falar uma coisa que- rendo dizer outra né? Mas vô você não respon- deu minha pergunta: deu ou não pérolas pros seus porcos? -Você não acabou de dizer que sabe o que é um ditado popular, uma metáfora? Então “dar pérolas aos porcos” quer dizer que não adianta dar pra uma pessoa, alguma coisa da qual ela não precisa, ou A louca percebe-se tão vivida, que não conhece o valor. Os porcos são bastante gulosos, comem de tudo que encontram, por isso Lamenta a falta de força e reclama engordam tão rápido. Pérolas são joias que agra- Já não aguenta o peso pra empurrar na subida, dam muito as mulheres, os porcos até podem en- golir, mas isso não vai fazer diferença nenhuma. Nem segurar a carga, pra na descida Elas serão eliminadas junto com as fezes e vão se Evitar que escorregue e caia na lama! misturar naquela lama toda. -Eca!!! Que nojo!! .....Vô, se as pérolas são joias que podem até entrar na barriga do porco, Por Lariel Frota fazem uma viagem grande lá dentro e depois saem junto com o coco inteirinhas, elas continuam sendo valiosas, ou se transformam em coco também? -O dia hoje será bem divertido hein? Acho da hora vocês se juntarem pra uma boa comilan- -É disso que to falando. Como elas não se ça. Igual no nosso condomínio, não precisa de transformam em alimento, são eliminadas exata- muito motivo pra uma churrascada. mente como foram engolidas, ou seja, se eram pé- rolas verdadeiras, continuam tendo o valor que as -No nosso caso o motivo principal é um tra- pérolas verdadeira têm! balho importante, depois a gente aproveita para colocar a conversa em dia, e saborear as coisas bo- -Só que muuuuuuitas sujas e fedorentas né? as que as mulheres preparam no fogão a lenha! -Mas o valor delas não mudou concorda? É só -Já sei vão vacinar os porquinhos do tio lavar bem direitinho e pronto. Roberto né? -Hum...entendi....mas se ninguém nunca achar -Oito leitoas deram cria, e ele está com uma as pérolas que os porcos por acaso engoliram, e de- porção de leitõezinhos pra vacinar, vamos dar uma pois cag…ops, desculpe ai, eliminaram no meio força. Daí a gente fica sabendo das novidades, as daquela sujeira toda do chiqueiro…. mulheres trocam receitas e a criançada brinca, na- -Elas continuarão sendo pérolas valiosas, escon- quela correria danada de um lado pro outro. didas, camufladas, enterradas, mas ainda assim se- -Todo mundo se dá bem no final né? Vô você rão para sempre, pérolas valiosas. já alimentou porcos? -Vô, nossa que vento forte!. Levantou um -Claro Guto, muitas vezes. Hoje já não crio montão de folha seca, viu que legal, aquela ali pare- porcos, mas não é pra me gabar não, a minha cria- ce uma pipa voando bem alto, ufa!!! Está tudo ção era conhecida como a mais bem cuidada da re- voando iiuuuuuuuuuuuuu!!!! gião. -É mesmo tempo de bater essas ventanias. Fe- -Então você já deu pérolas pros seus porcos cha os olhos até o vento passar. Tem muito cisco comerem? voando, se um deles entra no olho arde que é uma barbaridade. -Pérolas aos porcos? -Ainda bem que passou rápido! Olha vô fez até -Sim vô.. Escutei a mamãe falando pro papai nuvem de pó bem fininho, será que essa poeira toda que não adiantava ele falar daquele jeito com por- pode chegar lá no meio daquelas nuvens branqui- teiro do prédio, que é o mesmo que dar péro- nhas??? las pros porcos. -Isso é difícil de saber você não acha? -Ah, isso é um ditado popular, uma metáfora. www.varaldobrasil.com 28
  • 29. Varal do Brasil setembro/outubro 2012 -Seria bem legal heim? Já pensou, um punhado de terra fininha subir, subir bem alto e che- gar nas estrelas? -Mesmo chegando lá, continuaria sendo apenas uma nuvem de pó, não virariam estrelas. -Igual as pérolas no meio do coco dos porcos né? -Como assim? -Ora vô preste atenção: se a pérola continua sendo pérola, não perde seu valor mesmo enterrada na su- jeira, o pó de terra não ganha valor, nem brilho, mesmo que chegue bem alto!!! Sabe mais o que acabei de descobrir? -Não, mas estou bem curioso pra saber. -Acho que a mamãe falou errado sobre o tal ditado popular.Se as palavras que meu pai falou pro por- teiro eram tão valiosas como as pérolas, ficarão enterradas bem no fundão da cabeça dele, escondi- dinhas por muito tempo. Quem sabe um dia fuçando a caixa de pensamentos ele não desenterra e final- mente entende o valor delas né???? RECEITA DE BALA DE GOMA (JUJUBAS) Ingredientes: 1 colher (sobremesa) de essência do mesmo sabor da gelatina 3 envelopes de gelatina sem sabor (35 gramas) 2 copos de água 1 caixa de gelatina com sabor (85 gramas) 1 kg de açúcar cristal Modo de Fazer: Dissolva a gelatina sem sabor em 2 copos de água, adicione a gelatina com sabor e mexa até dis- solver. Leve ao fogo por 1 min., não esquecendo de sempre estar mexendo. Após, adicione o açúcar e mexa para dissolver bem. Coloque a essência e mexa até ferver. Despeje a calda em um prato untado com óleo. Deixe descansar por 24 horas fora da geladeira. Corte as balas em cubinhos e passe no açúcar cristal. Guarde as balas por 3 dias antes de consu- mir, esse período é necessário para que a bala adquira mais consistência. Fonte: hƩp://www.mundodasdicas.net/ www.varaldobrasil.com 29
  • 30. Varal do Brasil setembro/outubro 2012 Minha Avó Passarinho poucos foi perdendo a lucidez, variando, o que fi- nalmente me fez entender a poesia que há nas avós. Seu enterro foi uma ocasião de reencontros. A famí- Por Marcelo Benini lia reunida e os tantos conhecidos formavam uma pequena multidão exultante na dor e na alegria. Do O que há de mais remoto no mundo são as avós. lado de dentro da sala onde se dava o velório, havia Antes delas, pairam apenas sombra, bruma e esque- contrição, choro e corações cheios de saudade. Do cimento. Quando estiveres dirigindo à noite, em lado de fora, abraços, casos relembrados e até al- alguma estrada vicinal a caminho de casa, e se, por guns risos ousados demais para a ocasião. Tenho meio minuto, apagares completamente os faróis do certeza que naquele dia minha avó soube compreen- carro, entrarás em contato com teus antepassados der as contradições humanas. que espreitam para tomar posse de ti. Se vires um Somente quando fecharam o caixão é que nos de- cavalo baio atravessando a estrada, sabereis que é mos conta de que a perderíamos para sempre. Que uma sombra vinda do mundo que antecede as avós. nunca mais tomaríamos café com bolo na mesa de As avós são como um Tratado de Tordesilhas entre sua cozinha. Que nunca mais seus filhos se reuniri- vivos e mortos: à esquerda delas é melhor não pores am na varanda para contar as histórias da infância. os pés para não imolar o descanso dos esquecidos. O cortejo subiu em silêncio as ruelas íngremes do As avós, entretanto, tornam o mundo tangível. De- cemitério de Cataguases. Passamos pela sepultura pois delas é que começa a grande aventura de ser onde meu avô descansava e, alguns metros além, menino. paramos para o definitivo adeus. Vi o choro nos Tinha um pouco de medo de minha avó e repugna- olhos de alguns tios e a perplexidade nos olhos de vam-me a pele encarquilhada, a voz rascante e a alguns primos que, como eu, eram enfim apresenta- tosse provocada pelo excesso de cigarros. Criança dos à morte. tem, entre tantas maldades, essa de não compreen- Quando o caixão desceu, houve grande tristeza. der e amar os velhos. Mas um dia eles se vão e aí Eram os últimos instantes do dia e o sol já se ia por começam os arrependimentos. Eu me senti culpado de trás do morro. Em frente à cova havia um peque- por desejar que ela não aparecesse nunca enquanto no arbusto iluminado pelos raios do fim da tarde. eu me regalava em sua cadeira de balanço. Também Inesperadamente, um passarinho pousou no arbusto, me arrependi de tantas vezes ter jogado futebol per- virou o pescocinho e cantou com tanta doçura que to dos seus vasos de gerânio. Sei que ela nunca me comoveu a todos. Cantou breve e voou como fazem perdoou por isso e pelas marcas de bola deixadas sempre os passarinhos. Percebi então que minha nos muros brancos da casa, que, confesso, me de- avó havia partido. ram enorme prazer. Minha avó morreu de enfisema pulmonar. Antes, porém, definhou vários anos sobre a cama. Aos www.varaldobrasil.com 30
  • 31. Varal do Brasil setembro/outubro 2012 HISTÓRIA DE UM AMOR E UM NOME Por Norália de Mello Castro Nossa Infância é o tema proposto para o Varal do Brasil de setembro 2012. Tema difícil para mim, que posso dividir em duas histórias distin- tas: 1ª. Filha de um espírita convicto que brigou com seu irmão cônego católico, o inventor do nome Norália, por ter roubado sua filha para batizar, (História escrita para o grupo Love Quilts, para ex- sem autorização dos pais, o que resultou num plicar o significado do nome.) romance escrito pelo pai, de uma briga ferrenha entre os irmãos, através de inúmeras cartas es- critas, com filosofias diferentes. Norália só vol- Hoje vou contar uma história de amor em tou a ver o tio padrinho aos 8 anos de idade. Esta tópicos, para melhor compreensão, e, também, con- briga aguçou na menina e na jovem toda uma trolar a emoção intensa dessa história em mim. procura da VERDADE, que até hoje procura mais e mais. Tornou-se a eclética que é, nem ca- SÉCULO XX: tólica, nem espírita. DÉCADA DE VINTE Do pai ficou marcado o seu conceito de Liberda- No final da década de 20, a família estava de, principalmente a religiosa. Ele pregava que encantada por conhecer a bela esposa de um de seus religião é de fórum íntimo de cada ser humano, e rapazes: jovem, bonita, simpática, muito comunica- que cada um escolhe a Verdade que melhor lhe tiva, essa jovem conquistou totalmente a família do responder. marido. E sua primeira viagem ao Sul de Minas foi total sucesso. 2º. A outra história marcante de sua infância, foi Quando souberam que a bela jovem tinha a de seu próprio nome, escrita para o Love Qui- uma irmã, começaram a brincar em casar a irmã lts, grupo de bordadeiras ao qual pertence, e que com mais outro rapaz da família. hoje apresenta aqui. Um dos rapazes gostava de brincar com jun- ção de nomes e fazer monogramas. Por sinal, ele desenhava monogramas belíssimos! Um dia, entrou cozinha adentro, eufórico, gritando: www.varaldobrasil.com 31
  • 32. Varal do Brasil setembro/outubro 2012 A bela jovem Francelina era minha tia; DÉCADA DE 50 Magnólia, minha mãe; Noraldino, meu pai. O espo- so de minha tia era primo de meu pai. Norália, jovem muito ruiva e muito branca, Quando “fizeram” o casamento de meu pai, meio tímida, mas alegre, tem um choque grande lá no Sul de Minas, ele era ainda um jovem adoles- com o nome que recebera. Este nome e a sua ima- cente e minha mãe uma garota de seus 12 anos de gem jovem muito ruiva, faziam-na ser vista como idade, morando em Capela Nova, hoje Betim, parte estrangeira, uma gringa legítima dos países do Nor- da Região Metropolitana de Belo Horizonte. te, com um nome diferenciado. Era comum lhe per- E a brincadeira parou por aí... Mas, hoje, guntarem de que país era. Ela levava na brincadeira pensando nesse episódio, imagino que tais nomes e respondia: tenham mexido na sensibilidade do adolescente en- - Sou uma gringa legítima! volvido, até mesmo inspirado – e muito! – suas fan- Era comum também lhe perguntarem tasias amorosas. “Como?”, ao dizer ao interessado como se chama- va. DÉCADA DE TRINTA Ao telefone, então, era um desastre: e lá vi- nha o “Como?” Noraldino, meu pai, um lindo jovem, vem Por isso, na maioria das vezes, ela respon- para a Capital, para continuar seus estudos e fazer dia: faculdade. Vai à casa do Primo, da Francelina, e lá - Nora, apenas Nora. conhece a “famosa” irmã, Magnólia, uma linda jo- E o assunto morria por ai. Porém, Norália vem loira de olhos azuis, no auge de seus 17 ani- gostava muito de ter o nome Norália: de tão fácil nhos. Meu pai, ainda estudante de Direito, traba- grafia, mas de pronúncia que confundia. lhando como bancário, perdidamente apaixonado, começa a namorar Magnólia e se casam um ano Norália veio a ter uma grande decepção depois. mesmo quando aquele lindo jovem moreno que na- morava, por quem era apaixonada, chegou a ela um Esperando seu primeiro filho, Noraldino dia e disse: conta para Magnólia a invenção do nome da filha que ele gostaria de ter e ambos sonham com a vinda - Encontrei o seu nome no livro O Egípcio. da Norália. Magnólia, até então, não sabia dessa Ele está lá inteirinho. história. Mas, quem chegou... foi um menino! Não - É mesmo? – respondeu ela – Vou procu- se decepcionaram com a chegada do menino, pois rar, vou ler o livro. planejaram logo ter outro filho, para vir a menina. E o apaixonado sorriu. Ele lhe chamava de E Norália chegou no segundo parto de Magnólia, Lia, abreviatura de seu nome que é “nora” mais que acabou tendo 6 filhos ao todo. “lia”. Era Lia pra cá e pra lá, nos passeios, nos www.varaldobrasil.com 32
  • 33. Varal do Brasil setembro/outubro 2012 nos bailes, nos cinemas... e como Norália era apai- deixava as coisas acontecerem e pronto. xonada! Adquiriu imediatamente o livro e – sôfrega – devorou suas mais de 500 páginas. Entretanto, a personagem com o seu nome não aparecia! Quase no final do livro, de repente, Norália parou, sua res- piração sumiu, ela ficou em estado de choque. - Então é isso?! Não sou personagem?! Sou Noraldino adorava contar essa história do um mundo de estrume? nome da filha: ele amara Magnólia antes mesmo de Trêmula, fria, respiração desenfreada, ela conhecê-la; dizia que tinha de casar-se com ela para sentiu o ódio entrando dentro dela, com uma força que Norália existisse. extraordinária, da raiva à mais profunda indigna- - Mas, gente, – dizia Noraldino, soltando ção. Ela, pela primeira vez, não foi ao encontro do gargalhadas – o nome da filha já existia, mas ela jovem moreno: odiava-o ao extremo. No livro, nu- nasceu 4 anos depois que casei com a minha Mag- ma passagem, um personagem “ficara atolado até nólia! – e gargalhava – Sim, 4 anos depois! A mi- as lias”, num bom Português quer dizer: “ficara ato- nha Magnólia era pura! – e gargalhava. lado até as fezes”. Ele adorava contar sua história, seu amor E Norália mandou o jovem moreno à merda. por sua esposa e o nascimento precoce de Norália. Terminou aí essa história de amor juvenil. Noraldino é nome de origem árabe; e Mag- nólia, de origem romana. O nome de origem roma- na na família é compreensível, pois temos ascen- dência italiana; contudo, o nome de origem árabe, DÉCADA DE 60 nunca entendi, pois não temos nenhum ancestral árabe. Ou será que temos e não sei? O nome de Desde o episódio do livro, Norália começou meu pai veio por causa de um famoso da família, a pesquisar e observar seu nome tão diferente. Não que foi senador e governador interino de Minas, na conheceu ninguém com o mesmo nome; nem em década de 40, mas que, acima de tudo, foi um gran- listas do Tribunal Eleitoral, encontrou alguma No- de educador, que fez as bases do Ensino que temos rália. As pessoas continuavam a perguntar hoje. Noraldino tinha muito orgulho de seu nome “COMO?” quando ouviam o seu nome. Amigos igual ao do primo famoso. Tinha orgulho mesmo. tinham mania de pôr apelidos nela: Lia, Nora, Mas, ao seu nome, o mais próximo que No- Norô, Nono, Lalaia, Nô; e assim foi que chegou a rália encontrou, foi numa revista argentina lançada contabilizar 21 apelidos! Porém, constatou também nessa década em Buenos Aires: Norali, revista fe- que os apelidos não colavam. Normalmente quem o minina. Penso que o pai Noraldino queria que a punha é que a chamava assim. Teve até gente que filha ficasse famosa, assim como o primo famoso: achou que seu nome fosse pseudônimo. Norália que fardo ela carregava! www.varaldobrasil.com 33
  • 34. Varal do Brasil setembro/outubro 2012 DÉCADA DE 90 tra como substantivo comum (não entendeu muito o quê isso quer dizer e nem se interessou; (pensou: “Talvez fosse igual às lias...”) e uma escritora na Turquia, que parece ser cristã. Ainda irá fazer mais pesquisa, principalmente da Norália Turca... Finalmente, Norália encontrou uma outra Fato é que este inesperado e único encontro Norália, dentista, no interior de Minas. Ao saber com outras Norálias fez levantar esta história: uma dessa, identificou rapidamente a mãe dela, que co- história de amor único de meus pais, que viveram nhecera quando ainda criança e – por coincidência 54 anos juntos até a morte dele. Foram felizes, vivi- – casou-se com outro Noraldino. Essa mãe conhe- am em harmonia; nunca vi meus pais brigarem, cia a história do nome Norália e com o esposo cha- nunca brigavam na frente dos filhos. Meu pai foi mado Noraldino foi fácil para ela dar este nome um eterno apaixonado por Magnólia, totalmente para a segunda filha. Já o nome Norália, não mais dedicado à esposa e filhos; a família vinha sempre pesava a ela: a vida correu, outros amores vieram e em primeiro lugar para qualquer tomada de decisão ela passou a achar tudo natural com o seu nome. sua. E Magnólia foi uma companheira e tanto, total- Na Internet, encontrou outras Norálias, no- mente vivendo para a família e meu pai. me usado, embora não comum, em países latinos e na América Central; encontrou uma menininha em E, eu, Norália, filha de Noraldino e Magnó- Samoa e uma empresa na Noruega. Mas, Norália lia, ao escrever tudo isto, percebo, mais uma vez, continuava quase que única: em nenhum grupo so- como fui amada por meus pais: deram-me um lindo cial em que esteve, encontrou igual. e diferente nome para marcarem – e muito! – sua história de amor, que começou antes deles se co- nhecerem. SÉCULO XXI Ano de 2009 Ao fazer o FLICKR na Internet, Norália queria que saísse o seu nome: flickr Norália e, pela primeira vez, viu seu nome ser rejeitado, porque já existia outro flicker Norália. Pela primeira vez, en- controu uma barreira por existir outra Norália. Sen- tiu alegria e curiosidade; esta última levou-a a pes- quisar. Encontrou três Norálias: uma argentina, ou- www.varaldobrasil.com 34
  • 35. Varal do Brasil setembro/outubro 2012 sempre soube dividir o pouco que meu pai conse- Confiança no meu pai guia trazer para dentro de casa. E, assim, a gente vivia, viveu e sobreviveu a todas as intempéries, Por: Valdeck Almeida de Jesus mesmo as mais difíceis. A união nos manteve um grupo coeso, marchando junto, com o mesmo objetivo: sobreviver junto. Ho- Meu pai era analfabeto e por isso trabalhava na ro- je, cada um a seu modo, tenta levar adiante as lições ça, derrubando madeira, carregando peso e servindo daqueles tempos difíceis e quase insuportáveis. Atu- de burro de carga para fazendeiros. A lembrança almente eu patrocino pessoas que passam por situa- que tenho dele era toda tarde chegando do trabalho, ções semelhantes as que passei, e incentivo seres cansado, com uma roupa surrada e suja de terra. Eu humanos a se tornarem melhores, a se estabelece- e minha irmã Valquíria ficávamos sentados na porta rem no mundo, graças ao incentivo à leitura e à es- esperando por ele, o Velho João, como chamáva- crita. mos o nosso saudoso pai. Muitas vezes, apoio de outras formas, que não vem De longe avistávamos e corríamos para encontrá-lo ao caso relatar aqui. Mas a vida é isso, uma corrente antes mesmo de ele chegar em casa. Nos bolsos ele em que cada um tem uma importância e um valor. sempre trazia balas, compradas na venda de "Seu Se um fraqueja, o dever dos demais é se unir àquele Júlio", que ficava no caminho para casa. Era uma menos resistente para que ele prossiga e faça a cor- festa. Eu e minha irmã ficávamos muito alegres rente não se quebrar... Afinal, se um se perde o res- com aquele presente de todos os dias. tante pode sucumbir junto. Então, não resta alterna- Uma vez eu fiz alguma travessura da qual não me tiva senão ser um corpo só, junto com todos os ou- recordo e meu pai puxou o cinto para me dar uma tros corpos... e seguir, sempre, num único objetivo, surra. Eu estava na porta da frente, que tinha uma qual seja o do bem comum. escada de dois degraus para descer. De tanto medo Em tempos de egoísmo e falta de solidariedade, pa- de apanhar eu me joguei escada abaixo, caí e ralei rece utópico se pensar em coletividade. Mas não toda a barriga, que ficou sangrando. Meu pai disse posso deixar o sonho dos meus pais se diluírem na "vem, que eu não vou te bater mais". Confiei no que falta de crença das pessoas, nem posso desanimar ele disse e fui até ele, que me pegou e fez carinhos. diante de mentiras e falsidades. Meu objetivo na Esta foi a lição que aprendi, a confiar no meu pai. vida é muito maior do que curtir momentos e ter Quando ele dizia uma coisa, ele cumpria. prazer fugaz. Penso para a eternidade e planejo mi- Nossa vida foi muito dura, difícil, de falta de comi- nha vida pensando num horizonte cada vez mais da e de tudo. Mas aprendemos que a vitória não real. O horizonte da vida eterna, do amor e da paz. vem fácil, sem uma luta, sem um planejamento. Meu pai era um lutador e esta garra a gente apren- deu logo cedo. Em tempo de chuva, nossa casa alu- MEU PAI gada se enchia de água e éramos obrigados a correr Meu pai, João Alexandre de Jesus, era um trabalha- para nos abrigar na casa de vizinhos. dor braçal. Pouco eu sei dele, somente que nasceu A solidariedade entre pessoas que necessitam até do em Santo Antônio de Jesus, cidade localizada no básico para sobreviver sempre é mais forte. Mas recôncavo baiano. Dali ele partiu para Jequié, co- aprendemos que não é somente nos momentos difí- nhecida como Cidade Sol, onde conheceu minha ceis que devemos ser companheiros e solidários. No mãe Paula Almeida de Jesus e se casou. Antes, po- dia a dia, até nas horas alegres, devemos estar jun- rém, ele já tinha esposado outra mulher, com a qual tos, somando, compartilhando, dividindo, oportuni- teve seis filhos. zando a cada irmão ou amigo a vencer, ser vitorio- Um homem firme, rude, mas ao mesmo tempo hu- so. mano e carinhoso. Muitas saudades do meu velho... Viver em comunidade exige dedicação e planeja- O que me consola é que as lições que ele me passou mento, sempre. Assim, cada um somando o pouco jamais serão esquecidas. Ele foi um exemplo de ho- que tem, vai construindo, tecendo uma sociedade nestidade, perseverança e persistência. Apesar de mais justa e mais igualitária, menos preconceituosa não ter condições de estudar, incentivou quando eu e menos segregadora. A união eu aprendi dentro de fui para a escola. O sonho dele e de minha mãe, casa, quando a pouca comida era dividida por todos, Paula Almeida de Jesus, também falecida, era que para que nenhum ficasse com fome... Minha mãe os filhos trilhassem um caminho menos árduo na vida. www.varaldobrasil.com 35
  • 36. Varal do Brasil setembro/outubro 2012 E, graças ao esforço deles, todos os oito filhos conseguiram se dar bem e conquistar um lugar ao sol. Hoje eu moro em Salvador, minha irmã Ivonete mora em Santo Amaro da Purificação, Valquíria e Vivaldo moram em Jequié, Valdecy mora em Vitória da Conquista e Valdir, Valmir e Vitório moram em São Paulo. Todos bem de vida, graças aos estudos. É uma vitória que poucas famílias alcançam. Mas, graças a Deus, nossa família se orgulha de sua origem e não esquece o passado, exemplo para nosso futuro e de nossos filhos. Assim, trilhando o caminho indicado pelos meus pais, sigo em frente e incentivo a tantos quantos eu encontro pela vida a estudar e a lutar por seus sonhos. QUER ESCREVER CONOSCO? PEÇA O FORMULÁRIO PELO E-MAIL VARALDOBRASIL@GMAIL.COM E ENVIE JUNTAMENTE COM SEU TEXTO PARA ESTE MESMO E-MAIL! TODA PARTICIPAÇÃO NO VARAL É GRATUITA E A DISTRIBUIÇÃO DA REVISTA ELETRÔNCIA, EM PDF, TAMBÉM É GRATUITA! VARAL DO BRASIL, LITERÁRIO SEM FRESCURAS! www.varaldobrasil.com 36
  • 37. Varal do Brasil setembro/outubro 2012 Infância Por Sarah Venturim Lasso Infância tem cheiro De terra molhada Pé de moleque Pipoca quentinha Feita pela vovó Infância tem gosto De brigadeiro de panela De chuva Bolinho de chuva Em dia cinza Correndo frenético Com pé no chão Infância tem cor Que chega a pintar a língua Com pirulito azul Tem cor de fruta Colhida de cima da árvore Ouvindo mamãe mandar descer! Infância tem tempo De correr Dormir E fazer o dever Tem tempo de acabar... Poxa! www.varaldobrasil.com 37