Sumário
Conclusões
1 - Questões prévias
2 - Despolitização e falta de democracia
3 - Como surgiu o euro
4 – Um processo de constituição de desigualdades
4.1 – As desigualdades na Ibéria
5 - Portugal, o bom aluno do mestre Cavaco
5.1 – No princípio está o crédito, a especulação e a corrupção
5.2 – A utilização do crédito
5.3 – A capacidade de gerar rendimentos
5.4 - Produtividade e custos laborais
1. GRAZIA.TANTA@GMAIL.COM 23/7/2014 1
Portugal deve sair do euro. Sim ou não? (1)
Sumário
Conclusões
1 - Questões prévias
2 - Despolitização e falta de democracia
3 - Como surgiu o euro
4 – Um processo de constituição de desigualdades
4.1 – As desigualdades na Ibéria
5 - Portugal, o bom aluno do mestre Cavaco
5.1 – No princípio está o crédito, a especulação e a corrupção
5.2 – A utilização do crédito
5.3 – A capacidade de gerar rendimentos
5.4 - Produtividade e custos laborais
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Conclusões
• Quer a entrada na UE quer a adopção do euro foram decididas pela
classe política, que sempre se recusou a referendar essas questões por
incurável sobranceria; e tanto pior quanto estamos convictos de que os
portugueses teriam votado favoravelmente;
• Não existe um estudo quantificado que avalie os custos de uma saída do
euro, apenas a procura assustada de regresso a um passado irreversível,
como solução salvítica para um povo em entropia social;
• A criação do euro, como instrumento facilitador da circulação de
mercadorias e capitais, teve uma longa ascendência processual, mais
nítida após a criação da UEM – União Económica e Monetária;
• Para maior agilização dessa circulação foi necessário aproximar taxas de
inflação, dimensões de dívida pública ou de deficit externo e conter as
relações entre as várias moedas nacionais num apertado espartilho. Esse
conjunto de objetivos está contido nos célebres critérios de
convergência, ou de Maastricht, e no mecanismo das taxas de câmbio
(MTC);
• Capitalismo é sinónimo de desigualdades entre países e dentro deles;
desestrutura-os enquanto entidades nacionais e reestrutura-os em redes
transnacionais de negócios utilizando como instrumentos o crédito, a
dívida, as políticas fiscais e laborais, a corrupção ou meios militares em
casos mais delicados;
• Enquanto projeto de acumulação capitalista, a integração europeia foi,
desde o seu início, um gerador de reestruturações espaciais de
rendimento, riqueza e bem-estar social, com o consequente cortejo de
desigualdades geográficas e sociais. E isso, apesar de cada país-membro
ter tido a sua própria moeda, a sua soberania monetária, nos primeiros
44 anos de processo integrador;
• O processo de geração de desigualdades dentro da Europa, a
determinada altura, exigiu uma moeda única como instrumento, entre
vários outros, de continuidade da segmentação da UE entre Centro e
periferias. Porém, é simplista considerar-se ter sido a moeda única a
gerar as desigualdades e o empobrecimento;
• No quadro ibérico, há alterações na hierarquia das regiões, em desfavor
das constituídas em território português mas, as profundas
desigualdades existentes são anteriores à introdução do euro,
mantendo-se a faixa ocidental e o sul da Península como as áreas mais
pobres, se se excluir Lisboa e Galiza;
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• O cumprimento das obrigações de convergência de Maastricht e os
apoios comunitários reduziram alguns desequilíbrios estruturais em
Portugal mas, abriram portas para um recurso disparatado ao crédito
(barato), em parte obtido no exterior através de um sistema bancário em
euforia contagiante dos meios dos negócios e também da população;
• O volume do crédito concedido às empresas representava 2.9 meses do
rendimento global em 1990, sete meses em 2009, reduzindo-se
entretanto para seis meses. Por outro lado esse crédito que equivalia ao
valor da FBCF em 1990 era-lhe quatro vezes superior em finais de 2013;
• Gerada pelos bancos com todo o apoio dos seus subalternos
governantes constituiu-se uma cadeia de acumulação de crédito que,
não podendo ser infinita nem sustentável, teria de desembocar em
desastre. Os elos dessa cadeia são bancos nacionais-
construtores/imobiliárias-famílias com a conivência de autarcas
corruptos;
• Essa forma de aplicação do crédito realizou-se em paralelo com a
construção de uma estrutura produtiva alicerçada nas cadeias
transnacionais que desenham o perfil produtivo da UE e do mundo,
alheias aos impactos sobre a vida das pessoas;
• O financiamento das empresas portuguesas está ancorado no crédito
bancário, sendo baixa a parcela de capitais próprios, resultando daí
dificuldades de gestão, planeamento, juros mais elevados e alargamento
de prazos de pagamento a fornecedores, com reflexos negativos na
rendabilidade;
• A produtividade do trabalho em Portugal apresenta um crescimento
relativamente regular há cerca de 20 anos, sem sofrer efeitos perniciosos
da adopção do euro ou da crise económica;
• Os custos do trabalho baixam com a crise nos dois países ibéricos, como
consequência dos ditames da troika, das introduções capciosas dos
governos para favorecer a competitividade dos capitalistas e da eficácia
do apaziguamento social estabelecido nas instâncias de concertação
social.
1 - Questões prévias
Portugal foi incluído na zona euro no âmbito do protagonismo do “bom aluno”
em 1999, com a circulação da moeda a iniciar-se em 2002. Em certos meios da
política à portuguesa e após o início da intervenção da troika, fala-se da
necessidade de o euro deixar de ser a moeda corrente em Portugal e ainda de o
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país sair da UE. Ambas as propostas têm um caráter eminente político e
resultam de visões do mundo e do futuro que revelam interesses económicos
de certos setores sociais ou do simples instinto reacionário e nacionalista, que
cavalga de modo explícito as diversas ondas patrioteiras e xenófobas que se
evidenciam na Europa, perante as insuficiências e as austeridades provenientes
do propalado projeto europeu.
Perante a calamidade social em curso e no capítulo do euro podem colocar-se
vários cenários, cada qual com uma certa probabilidade, por mais inverosímil
que seja, como nos esclarece o teorema de Heisenberg:
• Continuidade do euro como moeda nacional
• Retorno a uma moeda nacional
o Por iniciativa governamental portuguesa
o Por iniciativa das instituições da UE
o Por abolição do euro como moeda transnacional
2 - Despolitização e falta de democracia
Quer a adopção do euro, quer a integração europeia, nenhuma dessas opções
foi objeto de uma consulta popular, referendária, pela sua relevância. Nem
essas questões foram objeto de funda reivindicação popular, tendo em conta a
grande despolitização1
reinante, a qual prossegue a tradição salazarista, após
um interregno libertador de 19 meses em 1974/75, enquanto o poder estatal se
reorganizava. Essa despolitização é, também induzida pela classe política,
distanciada do povo, que se considera como casta superior e que concede de
quatro e quatro anos a possibilidade de a ralé viver a ilusão de que escolhe os
seus representantes.
Admitindo a hipótese de um referendo, a verdade é que o regime político
blindou a sua efetivação que não sob o seu aval, prevenindo-se assim contra
qualquer atitude do povo que contrarie a tendencial despolitização. Na
realidade só a arrogância da classe política impediu que o povo se mostrasse
favorável ao enterro definitivo do isolacionismo salazarista, com uma maior
ligação aos países vizinhos, já iniciada com a imensa emigração dos anos 60 e
70.
Propomos em seguida, um momento de diversão sobre a sacrossanta
Constituição (CRP), no capítulo do referendo.
“Os partidos políticos concorrem para a organização e para a expressão da
vontade popular” (nº 1, artº 10º da CRP) de modo a subalternizar aquela
expressão às conveniências do mandarinato e às dos meios empresariais e
financeiros que lhes pagam ou, de onde emanam. Por seu turno, o nº 1, artº
1
http://grazia-tanta.blogspot.pt/2012/10/a-despolitizacao-o-controlo-social-e-as.html
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115º designa que um referendo será decidido pelo PR, mediante proposta da
AR ou do governo, órgãos que, em regra e por mero acaso… têm a mesma
origem e raramente são dissonantes. O mesmo artigo (nº2) abre à plebe a
iniciativa de um referendo que será apreciada pela AR que lhe configurará a
prosa; e é esta ou o governo quem decide se o tema a referendar é questão de
“relevante interesse nacional” (nº3), dado o consenso na classe política sobre a
infantilidade dos eleitores, tomados como aptos apenas no exato momento da
colocação de uma cruz no boletim de voto.
Porém, o nº 4 do mesmo artigo, exclui do referendo as alterações à
Constituição e questões de caráter orçamental, tributário ou financeiro, que
caberão assim à AR, aos partidos e, particularmente aos do governo que
deterão a maioria em S. Bento; isto é, para parte significativa dos assuntos de
relevância particular na vida das pessoas, estas não têm direito de decidir.
Com invulgar magnanimidade democrática a CRP concede a possibilidade de se
referendarem convenções internacionais mas, exclui, certamente pela sua
irrelevância, aspetos relativos à paz e às fronteiras (nº5), que só a classe política,
em seu alto saber, poderá analisar e decidir. Por seu turno, o artº 295º abre a
possibilidade de referendo “sobre a aprovação de tratado que vise a construção
e aprofundamento da união europeia” mas, a sua realização encalharia nos
meandros constitucionais para jamais se realizar. O Memorando de
Entendimento (vulgo, da troika) tem redesenhado a vida da esmagadora
maioria, por vontade expressa dos partidos do “arco da governação” que, nesse
âmbito se sobrepuseram aos interesses da esmagadora maioria do povo, sem
sequer admitirem – até para sua salvaguarda – um referendo. Finalmente e para
terminar este momento divertido sobre a CRP, sublinhe-se que o texto
constitucional atribui ao PR um papel incontornável quanto a referendos,
transpondo para a figura a tradição monárquica de legitimidade inapelável; a
CRP não contém condições para a sua deposição e, mesmo que possa ser
acometido de senilidade ou doença mental incapacitante, não podem os
eleitores referendar a sua substituição.
Como em várias ocasiões temos afirmado há em Portugal uma questão política
central que se prende com a democracia, a organização política e o modelo de
representação, para além, naturalmente, do seu substrato económico,
capitalista. A manutenção do statu quo é o cerne do entendimento tácito
existente na classe política.
Como nenhum governo baseado no “arco da governação” irá procurar sair do
euro e, menos ainda da UE; como na oposição da esquerda do sistema ou se
tem a mesma posição do descolorido “arco” ou se defende tais saídas para
efeitos de fidelização eleitoral; e ainda porque a hipótese de referendos está
bloqueada, considera-se afastada uma iniciativa para qualquer daquelas saídas.
Como é evidente, a expulsão ou qualquer condicionamento para Portugal, por
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iniciativa da UE, assim como o desmantelamento da zona euro ou da UE têm
uma possibilidade baixa de acontecer mas, maior do que uma iniciativa lusa.
Para mais, nem sequer há um estudo quantificado e comparativo das opções de
continuar ou sair do euro, o mesmo sucedendo relativamente à UE. O livro de
João Ferreira do Amaral revela uma opção política e alguns dos seus contornos
mas, não avança minimamente na quantificação que, não é fácil e exigiria
certamente uma equipa dedicada, No entanto, o livro tornou-se uma bíblia para
gente defensora da saída, pois uma situação social desastrosa é sempre
susceptível de gerar saudosismos dos “bons velhos tempos”, sebastianismos.
Preferimos, para já, avaliar o papel do euro no descalabro económico e,
subsequentemente social, bem como apurar relações de causa-efeito.
3 - Como surgiu o euro
A adopção do euro foi preparada e conduzida gradualmente durante mais de
uma década, a partir do Acto Único de 1987, quando se tornou claro que a
expansão da então CEE teria de incluir a total ausência de obstáculos para a
circulação de mercadorias e capitais no seu espaço, sendo peça essencial para o
efeito, a criação de um sistema monetário, no âmbito de uma UEM – União
Económica e Monetária.
O Acto Único é detalhado e aprofundado no Tratado da União Europeia
(Maastricht, 1992) que lhe acrescentou a preocupação essencial com a
construção de uma infraestrutura global de transportes que desse suporte físico
a esse mercado alargado e que permitisse as trocas entre um Sul, produtor de
bens agrícolas e de consumo, sol e praia, com envio preferencial para o Norte e,
um Norte, vocacionado para a química, o material de transporte, maquinaria e
conhecimento, com destinos internos e sobretudo, exteriores ao espaço
comunitário. Poucos anos depois, com a criação de uma periferia a Leste, à
designação de Norte preferimos tratar por Centro.
Por seu turno, a criação do Fundo de Coesão financiou uma orgia de obra
pública em Portugal, com a introdução de engenharias financeiras do tipo
“project finance” que vieram a derivar nas célebres PPP; é o tempo do forte
entrosamento entre o PSD/PS e o setor da obra pública, sujeito a um processo
de concentração, ainda hoje lembrado no nome da Mota-Engil; para o efeito
seria preciso mão-de-obra barata e obediente, sendo atraídos, centenas de
milhar de imigrantes, brasileiros e do Leste europeu, fugidos os últimos aos
efeitos do desmoronamento do capitalismo de estado.
Para a UEM propôs-se uma concretização faseada. Até final de 1993, a total
liberalização dos movimentos de capitais, a peça ideológica fulcral no
pensamento liberal e da financiarização; depois, até ao fim de 1998 a aplicação
dos célebres critérios de convergência (ver abaixo); e, finalmente, a partir de
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1999 o parto dos gémeos uterinos, o euro e o BCE, este tendo como único
objetivo o controlo da inflação, como determinado pela Alemanha, em atenção
à sua experiência dos anos 20 mas, sobretudo, porque a inflação não convém
nada a um sistema financeiro sobredimensionado, dado que a erosão do poder
aquisitivo da moeda desvaloriza o rendimento dos credores e beneficia os
devedores.
Os critérios de convergência, ou de Maastricht foram, sumariamente:
• Inflação que não supere em mais de 1.5% a média dos três estados com
os mais baixos indicadores;
• Deficit orçamental não superior a 3% do PIB
• Dívida pública não superior a 60% do PIB
• Participação no SME - Sistema Monetário Europeu, substituído na terceira
fase por um MTC – Mecanismo de Taxas de Câmbio;
• Taxa de juro de longo prazo que não supere em mais de 2% a média
observada nos três países com menor inflação.
• O capitalismo, por inerência gera desigualdades
4 – Um processo de constituição de desigualdades
Quanto maiores e mais diversificados são os espaços geográficos, mais
estratificados e desiguais acabam por se tornar, acentuando, pois a constante
criação de desigualdades inerente ao capitalismo e favorecendo os processos
de re-hierarquização de territórios e suas populações. A transnacionalização das
economias, articulada pelas multinacionais e pelo sistema financeiro conduz a
uma maior concentração dos poderes de decisão a nível global através de
aparelhos de estado, de super-estados e instituições internacionais de
enquadramento. Nesse contexto, tenderão a reduzir-se as possibilidades de
políticas regionais, de proximidade, com a desestruturação dos espaços
geográficos utilizando-se para o efeito, instrumentos como o crédito, a dívida,
as políticas fiscais e laborais, a corrupção ou meios militares em casos mais
delicados.
As desigualdades no quadro da UE nasceram com a sua fundação, enquanto
factor de concentração de capitais, instrumento de acumulação capitalista e
elemento de vanguarda da globalização reiniciada após a II Guerra. Em 19792
apontava-se que “a persistência de desequilíbrios regionais ameaça até mesmo
o próprio funcionamento do próprio mercado comum”; que “o alargamento
agravará ainda mais essa ameaça”; e que “o desequilíbrio regional tomará
proporções bastante maiores, devido às disparidades” entre os países então
candidatos e os nove associados desde 1973. Projetava-se com apreensão uma
2
Alargamento da Comunidade Europeia - Grécia, Espanha Portugal. edição do Comité Económico e Social das
Comunidades Europeias, Bruxelas , 1979
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extensão da CEE de nove para doze e atualmente a UE já engloba 28 países,
sem que a gula esteja saciada, como se vê atualmente na Ucrânia.
Com data pouco posterior e com maior detalhe3
apresentavam-se os saldos das
balanças comerciais na CEE para o período 1973/81 que transcrevemos abaixo:
Balanças comerciais ($ 1000 M)
1973 1974 1975 1976 1977 1978 1979 1980 1981 Soma
Alemanha 14,9 21,8 17,6 16,6 17,9 20,8 12,2 5,0 12,2 139,0
França 0,8 -3,8 1,5 -4,7 -2,4 -2,4 -6,3 -18,9 -14,5 -50,7
GB 5,4 -11,9 -7,1 -6,4 -3,2 -6,9 -11,9 -15,0 3,3 -53,7
Itália -3,9 -8,5 -1,1 -4,0 -1,1 -0,4 -5,7 -21,8 -15,8 -62,3
Bélgica 1,2 0,8 0,5 -0,6 -0,3 -3,8 -4,2 -7,1 0,4 -13,1
Holanda 1,1 0,6 1,0 1,0 -1,1 -3,7 -4,6 -4,2 1,4 -8,5
O mesmo documento refere que o Mezzogiorno italiano detinha então uma
capitação do rendimento correspondente a 60% da média nacional contra 57%
em 1958, que a Ligúria tinha um rendimento 2.5 vezes superior ao da Calábria e
que esta assistia a rendimentos cinco vezes superiores aos seus nas regiões de
Hamburgo, de Paris ou Bruxelas. Na ocasião, o sul da Itália seria a área mais
periférica da CEE que passaria a contar com a companhia da Grécia em 1981 e
de Portugal e Espanha em 1986.
As grandes desigualdades quanto às estruturas económicas, níveis de
desenvolvimento, e interesses, já evidentes entre os primeiros 15 membros da
UE, iriam certamente aumentar com os futuros alargamentos que se
configuravam, sobretudo a Leste, em meados da década de 90.
Recordamos que em todo este período, todos os países integrantes da CEE,
tinham as suas próprias moedas, os seus bancos centrais e as suas soberanias
monetárias que provocam tantas saudades em sectores da direita xenófoba
(Front National, Aurora Dourada por exemplo) como da extrema esquerda das
forças reacionárias (PCP, seus satélites ou o grego KKE, também por exemplo).
4.1 – As desigualdades na Ibéria
Esta pulsão inevitável para a geração de desigualdades, observa-se também em
espaços nacionais, como se pode observar, no caso do espaço ibérico.
Desigualdades na Península Ibérica
Rendimento bruto disponível - PIB (pps4
/hab)
3
“ L’Europe du Sud face à l’integration européenne” de Claude Courlet e outros, apresentada na conferência do CISEP
(abril/1983)
4
Definição de paridades de poder de compra
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2010 (€/hab.)
1999 2010
var
%)
1 País Basco 18 851 21000 32200 34,8
2 Com. F.Navarra 17 970 21600 30800 29,9
3 Com. Madrid 16 789 23200 31600 26,6
4 Catalunha 16 012 20900 28400 26,4
… … … … … …
10 Ilhas Baleares 13 904 21200 25600 17,2
11 Lisboa 13 647 20500 27400 25,2
12 Ceuta 13 473 14500 21600 32,9
… … … … … …
18 Canárias 11 517 16700 20800 19,7
19 Madeira 11 342 14300 25500 43,9
20 Algarve 11 311 15700 20300 22,7
21 Andaluzía 11 207 12500 18500 32,4
22 Extremadura 10 787 10900 16900 35,5
23 Açores 10 740 12100 18500 34,6
24 Alentejo 10 205 12700 18100 29,8
25 Centro 9 605 12300 16300 24,5
26 Norte 9 174 11900 15800 24,7
Fontes: Península Ibérica em Números, 2013, INE e Eurostat
Na primeira coluna verifica-se que o País Basco, a região mais rica da Península,
apresenta um rendimento duplo do observado na portuguesa região Norte, a
mais pobre das 26 que constituem os dois países ibéricos; e que, no espaço
luso a mesma região Norte regista apenas 2/3 do rendimento calculado para a
região de Lisboa. Salta à frente dos olhos que esta situação é o espelho da
pulsão exportadora encomendada por meios empresariais poderosos aos
governos. Como é possível que a principal região exportadora portuguesa seja
a mais pobre da Ibéria e uma das mais empobrecidas da UE? Esta situação
revela os baixos salários que constituem a norma da região (particularmente) e
a presença dos ditosos “empresários do Norte”, fautores históricos de
subdesenvolvimento e para os quais um poder corrupto batizou uma artéria do
Porto de Avenida AEP!
Realça-se ainda que entre as oito regiões mais pobres da Península, seis são em
território português, só se destacando Lisboa, na primeira metade da hierarquia.
Em 1999, comparando o PIB em paridades de poder de compra, por habitante,
a região mais pobre da Ibéria era a Extremadura, tendo o Norte português
passado a ocupar essa posição em 2010, degradando-se também as posições
relativas das regiões Centro, Alentejo e do Algarve, comparativamente a Ceuta e
Madeira. As regiões portuguesas que terão melhorado este indicador global são
http://observatorio-das-desigualdades.cies.iscte.pt/index.jsp?page=indicators&id=123
10. GRAZIA.TANTA@GMAIL.COM 23/7/2014 10
a Madeira, Lisboa e Açores. São ainda de destacar, no campo das desigualdades
de crescimento, os elevados aumentos da Madeira, da Extremadura, dos Açores
e da Andaluzia e a sua modéstia nas regiões insulares do estado espanhol.
Regressando de novo à problemática do euro, sublinha-se que a nova moeda
iniciou o seu curso, em simultâneo, para toda a Península e que subidas e
descidas das várias regiões nas duas classificações consideradas e em cada um
dos países, mantêm Portugal como país desigual muito desigual, com Lisboa no
quinto lugar e a Madeira em nono, em 2010 no capítulo do PIB em paridades de
poder de compra, por habitante; e mantêm quatro das sete regiões nos cinco
lugares correspondentes às regiões mais pobres da Península, uma situação um
pouco pior do que em 1999. Não se descortina aqui responsabilidades
especificas da moeda única mas, dos resultados de uma maior integração
económica no seio da Europa, desregrada e refletindo as re-hierarquizações em
curso, entre o Centro e as periferias e, por consequência no seio das últimas.
5 - Portugal, o bom aluno do mestre Cavaco5
A fama de um Portugal como bom aluno nasceu do cumprimento de
Maastricht, atapetado com a entrada de fundos comunitários, com a construção
de infraestruturas (autoestradas, Expo/98, Ponte Vasco da Gama…) que não
evitaram o aumento do desemprego, privatizações para abate da dívida pública,
desvalorizações do escudo mais ou menos paralelas com as da peseta enquanto
ocorria a aproximação das taxas de juro a longo prazo, com as taxas alemãs.
1991 1998
Portugal UE 15 Portugal UE 15
PIB per capita (UE=100) 64,4 100,0 74,8 100,0
PIB (% var. real) 2,3 1,7 3,5 2,7
Inflação - consumo privado (%) 12,2 5,8 1,8 1,7
Desemprego (%) 4,0 8,1 5,2 9,9
Deficit Bal. Trans. Corr. (% PIB) -0,9 -1,2 -4,7 0,9
Deficit Estado (% PIB) 5,9 4,2 2,1 1,5
Dívida pública bruta (% PIB) 65,9 55,2 56,5 69,0
Fonte: DA ADESÃO À COMUNIDADE EUROPEIA À PARTICIPAÇÃO na UEM - A EXPERIÊNCIA
PORTUGUESA DE DESINFLAÇÃO NO PERÍODO 1984-1998 – Marta Abreu
Esta melhoria global do enquadramento externo (apesar do aumento do deficit
externo) resultava também de Portugal ser o mais pobre dos países da
Comunidade, onde os salários eram mais baixos. E a adesão, em 1995 de países
5
Salazar tombou quando a cadeira o justiçou mas, Cavaco ainda poderá ser a figura de proa no
julgamento de regime cleptocrático que subsiste
11. GRAZIA.TANTA@GMAIL.COM 23/7/2014 11
de rendimento elevado – Áustria, Finlândia e Suécia só veio acentuar essa
situação; a Suiça, por referendo, ficou de fora. A estabilidade cambial, a
ausência de conflitualidade social indígena (construída na corporativa
Concertação Social), o acesso barato ao crédito e a proteção da pauta
aduaneira comunitária face a países terceiros contribuíram para aqueles
resultados, mesmo num contexto de ausência de meios para o exercício da
política económica, delegados em instituições comunitárias.
Por seu turno, o mecanismo das taxas de câmbio estabilizou a cotação do
escudo face ao referente (marco alemão). A título de exemplo, no período
jan/1995 e dez/1996, enquanto nos empréstimos em marcos, a longo prazo, as
taxas de juro passaram de 7.8% para 6.2% (aprox), o seu equivalente em
escudos passava de 12% para 7% (aprox). Entretanto, a taxa de inflação reduzia-
se de 11.4% em 1991 para 3.1% em 19966
.
A evolução da Euribor a 12 meses, desde o seu início (gráfico abaixo) revela os
recentes sobressaltos mas, num contexto geral de baixas taxas de juro, não
sendo, portanto o “preço do dinheiro” que inviabiliza a sonhada retoma, dia a
dia anunciada pelos apóstolos da idiotice, Pedro e Paulo.
http://pt.euribor-rates.eu/graficos-euribor.asp
5.1 – No princípio está o crédito, a especulação e a corrupção
Essas caraterísticas facilitaram, a partir de meados da década de 90 um enorme
aumento do crédito, em grande parte obtido no exterior e que se distribuiu a
partir do sistema bancário, pelos sectores - em processo de hipertrofia - da
construção, do imobiliário, das obras públicas, para além das famílias, que
encontravam através dessa via a resolução do problema da habitação, área
do Banco de Portugal - 1996
12. GRAZIA.TANTA@GMAIL.COM 23/7/2014 12
onde a ausência de políticas públicas se mostrou estrutural7
como derivado da
tara neoliberal dominante. Pelo caminho, também havia dinheiro desviado para
autarcas e seus partidos, por conta de facilidades nos loteamentos, fornecidas a
muitos dos chamados empresários que largaram as suas atividades para se
dedicarem ao imobiliário8
e atividades conexas. Claro que a situação, bem
evidenciada no gráfico que se segue, tinha de conduzir, de per si, a um
desastre, como se assiste.
Fonte primária: Banco de Portugal
O crescimento desmesurado do crédito concedido às empresas coexiste com
um nível controlado do habitual deficit externo. Note-se que nos três últimos
anos o ritmo de crescimento das exportações supera o das importações,
excepto em 2013, de modo muito ligeiro. Porém, o crescimento do crédito
concedido às empresas não tem impactos substanciais no PIB e menos ainda no
investimento, cujo nível estagna a partir do início do século, decaindo mesmo
substancialmente a partir de 2008, quando a festa acabou.
Referimos, a propósito, alguns elementos caraterizadores do descuidado
comportamento dos bancos e da ausência de política económica, preterida em
nome da fé purificadora dos “mercados”. O volume acumulado do crédito
concedido às empresas corresponde a 2.9 meses do rendimento nacional em
1990, sobe sem interrupção até 2009 quando chega a 7 meses e regride
posteriormente, cifrando-se em meio ano, em 2013.
7
http://grazia-tanta.blogspot.pt/2012/12/a-nao-politica-de-habitacao-e-o-imi-1.html
http://grazia-tanta.blogspot.pt/2013/01/a-nao-politica-de-habitacao-e-o-imi.html
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http://grazia-tanta.blogspot.pt/2012/09/v-behaviorurldefaultvmlo_15.html
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A relação entre aquele volume acumulado de crédito nas empresas e a FBCF
anual revela que esta última pouco é afetada pelo crescimento do crédito; a sua
relação é de 1:1 em 1990 e mais de 4:1 no ano transato. Dito de outro modo, o
endividamento não conduziu a um reforço da capacidade produtiva, geradora
de rendimentos que permitissem a amortização e o pagamento de juros. No
que se refere às famílias o crédito também se expandiu substancialmente,
comprometendo-as por dezenas de ano, desprevenidas perante o desemprego
e a sanha empobrecedora desencadeada pelos governos de Sócrates e de
Passos.
O euro começou a vigorar como moeda escritural em 1999 e como moeda
efetiva a partir de janeiro de 2002. E como se vê no gráfico acima, não há
qualquer descontinuidade imputável à introdução da moeda dita única. A
disponibilidade de crédito barato é, a priori, uma vantagem para qualquer
empresa ou família e os custos inerentes às flutuações entre moedas diferentes
como às taxas cobradas pelas conversões são margens parasitárias de que só
alguns beneficiam; mas também constituíram um instrumento facilitador da
especulação financeira, aliás o mais ardente promotor da moeda única.
O rebentamento da bolha imobiliária nos EUA em 2007 e o seu contágio pelo
mundo são exemplos típicos das crises do capitalismo, agora agilizados pelas
tecnologias de computação e telecomunicação que, tal como as unidades
monetárias, não passam de instrumentos dos “mercados”, entretanto
desregulados e considerados por axioma, auto-ajustáveis. Mais importante
relativamente ao financiamento, para mais libertado de custos próprios da
moeda, será a finalidade da utilização desse crédito e a capacidade de gerar
rendimentos para o seu pagamento, como veremos em seguida.
5.2 – A utilização do crédito
Os bancos praticam com denodo o princípio de colocar o máximo dos meios
financeiros que possam, pois é essa aplicação que permite obter rendimentos
conducentes à maximização dos lucros, como é apanágio do capitalismo; e são
extraordinariamente criativos nessa área. Nesse contexto e dadas as facilidades
obtidas no exterior (esgotadas as capacidades de fixação de poupanças dos
portugueses em depósitos bancários) os bancos lusos financiaram à exaustão
empresários de situação financeira frágil tendo, naturalmente, o cuidado de
exigir hipotecas sobre os imóveis das empresas e, na sua falta, do património
pessoal dos seus donos.
Em tempo de vacas gordas, se um desses capitalistas se mostrasse insolvente,
os bancos exerceriam os seus direitos de credores hipotecários e ficavam com
terrenos e edifícios que, com alguma facilidade poderiam vender. Porém, em
tempos de vacas magras o exercício desses direitos mantém-se mas, resumem-
se à integração nos activos bancários de bens de difícil venda e sem
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rendimentos associados, quando não sem qualquer viabilidade de reconversão.
O mesmo se passa com títulos aceites como garantias.
Outro expediente dos bancos para evitar o reflexo dessas reais “imparidades”
foi a transformação de crédito a curto e médio prazo em endividamento a
longo prazo, como se de crédito ao investimento se tratasse. E gradualmente
irão cuidar de assumir essas perdas, beneficiando da possibilidade do
abatimento desses prejuízos, como custos a deduzir em lucros futuros.
Uma parte substantiva destes créditos – com fundos obtidos junto dos bancos
dos países ricos da UE - foi sendo reciclada pelas empresas envolvidas nos
negócios da construção e imobiliário e transferida para as famílias compradoras
de casas, incluindo muitas vezes, no valor mutuado, a aquisição de automóveis,
viagens e mobiliário, inclusão fraudulenta mas bem rentável para os bancos.
Nesta cadeia de montagem financeira que envolve bancos europeus-bancos
nacionais-empresas imobiliárias/construção-famílias, acumulava-se um enorme
volume de dívida junto das últimas por 30, 40 ou mais anos. Era a alegria dos
bancos, garantir uma aplicação segura do equivalente a uns 85% do PIB, por
dezenas de anos e com garantias quase integrais perante um incumprimento.
O acesso facilitado a crédito barato não melhorou, antes pelo contrário, a
estrutura produtiva portuguesa, quer no campo da satisfação das suas
necessidades naturais, quer na aposta na exportação, como consta nas
escrituras neoliberais e alicerçado no crescimento continuado do mercado.
Fonte primária: Banco de Portugal
Como se pode observar, a introdução do euro não induz descontinuidades no
processo de desestruturação do tecido produtivo através do crédito, uma vez
que a redução da relevância da indústria ou do comércio, com o concomitante
reforço do peso da construção e do imobiliário se desenha a partir de meados
da década de 90, como resultado da baixa das taxas de juro. Este “modelo de
desenvolvimento” resulta da subalternidade periférica do capitalismo
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português, sem capacidade de evitar que a sua estrutura produtiva seja definida
pelas cadeias transnacionais que desenham o perfil produtivo da UE e do
mundo. Por isso os industriosos capitalistas portugueses se dedicaram à
especulação imobiliária, onde não havia concorrência externa, animados pelos
prestimosos bancos, todos eles agora em cura de emagrecimento.
5.3 – A capacidade de gerar rendimentos
A subalternidade histórica do capitalismo português gera empresas
forçosamente endividadas até porque na tacanha mentalidade dos empresários
lusos, a promiscuidade habitual entre os meios afetos ao negócio e as finanças
pessoais é feita no sentido da drenagem de rendimento para o património
pessoal ou familiar, eventualmente com forte ancoragem em dinheiro desviado
para off-shores. E isso para além da acumulação de um valor enorme de dívida
perante o Estado e a Segurança Social (uns € 23000 M). Como se pode ver no
gráfico seguinte, o endividamento tende a situar-se acima de dez vezes o valor
do capital próprio, passado o período excepcional de 2008/09, enquanto, por
exemplo, na Alemanha é apenas duplo, não se fazendo sentir a crise financeira
daquele biénio.
* ((Empréstimos de Curto-Prazo + Empréstimos de Longo Prazo - Existências - Clientes –
Disponibilidades) / Capital Próprio) * 100 %. Fonte: Eurostat, série descontinuada
Esta enorme dependência das empresas ibéricas afeta a sua capacidade de
investimento, a sua rendabilidade, a sua resistência às flutuações conjunturais e
as remunerações do capital próprio; constituem algo muito apetecível para o
capital financeiro que as municia com taxas de juro mais altas e,
simultaneamente, as mantêm retidas nas malhas do crédito permanente. Como
16. GRAZIA.TANTA@GMAIL.COM 23/7/2014 16
hoje, os capitais financeiros circulam sem fronteiras, os excedentes gerados nos
países de capitalismo mais desenvolvido são aplicados nos de menor
desenvolvimento, tendendo naturalmente a manter a subalternidade e a
dependência dos últimos e intervindo na própria estruturação produtiva dos
países subalternos, em benefício das metrópoles capitalistas.
No caso da UE são evidentes as diferenças entre o Centro e as duas diversas
periferias, a Sul e a Leste e que o capitalismo jamais reduzirá, uma vez que
igualdade e solidariedade não se coadunam com o princípio essencial da
acumulação.
Fonte primária: Eurostat
No capítulo da poupança evidencia-se uma regularidade do seu nível para a
Alemanha e a França, em torno dos 15%, sendo claro o aumento da taxa para a
Irlanda, Espanha e Portugal, dada a cautelar quebra do consumo com o início
da crise da dívida. Em tempos menos conturbados, as taxas de poupança
daqueles três países era cerca de 2/3 da exibida pela Alemanha e pela França,
refletindo as diferenças socio-económicas. Finalmente, registe-se que a
estabilidade da taxa de poupança em Portugal, no período 1998/2005 em nada
reflete um impacto da adopção da moeda única.
5.4 - Produtividade e custos laborais
A produtividade do trabalho em Portugal evolui crescentemente e de modo
constante em todo o período, não refletindo sobressaltos com a introdução do
euro como moeda. A Espanha por seu turno apresenta aumentos a partir de
2007 depois de uma relativa estagnação no período anterior, ao contrário da
Itália cujos índices pioraram a partir daquele ano.
Em 2013, Espanha e Portugal em tempos de crise da dívida e são os dois países
que apresentam maior crescimento da produtividade entre os seis considerados
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no gráfico. Do ponto de vista social não há grandes virtudes nisto pois o
principal elemento que conduz a essa situação é a redução de horas de
trabalho resultante de despedimentos e outras formas de redução, real ou
formal de trabalhadores. Do ponto de vista do capital a situação é bastante
favorável pois há um crescimento do rendimento empresarial mais do que
proporcional ao da incorporação de trabalho.
Fonte primária: Eurostat
PIB em termos reais/horas de trabalho efetivamente efetuadas
A evolução dos custos do trabalho revela indicações interessantes, a começar
pelo caso da Alemanha onde estão refletidas as “reformas estruturais” de
Schroeder para dotar as exportações do país mais competitivas, leia-se mais
baixos custos do trabalho. Inversamente, na Itália e em França houve,
recentemente a passagem para um patamar que quebrou a estagnação havida
nos dez anos anteriores ao início da actual crise sistémica.
Para além da excepcional evolução observada na Irlanda até ao início do
resgate do seu sistema financeiro, os países ibéricos revelam quebras evidentes
nos últimos anos, mostrando os níveis de custos laborais reais mais baixos de
todo o período observado. O que sem dúvida é favorável aos capitalistas, aos …
bondosos empregadores.
Esta situação revela a inoperância dos movimentos sociais em geral e,
sobretudo dos sindicatos e dos partidos ditos de esquerda que se pretendem
condutores e orientadores técnicos da contestação, perante a fúria da atuação
do neoliberalismo. E concretiza as suas incapacidades de análise das
caraterísticas do capitalismo de hoje, com a preponderância de uma visão que
poderia ter sido realista várias décadas atrás. Por outro lado, a actual situação
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esclarece, a eficácia política das instâncias de concertação social, da rede
institucional montada pelos regimes políticos de democracia de mercado para a
captura e domesticação dos vários segmentos da multidão e destruição, no ovo,
de potenciais situações de conflitualidade social; essencialmente da contestação
política.
Como temos vindo a observar, na evolução dos custos salariais, não há nada
que identifique uma influência direta do euro ou que revele uma sua essencial
responsabilidade no estabelecimento das relações desiguais, entre os países e
as várias camadas sociais em cada área territorial.
(continua)
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