O documento analisa dois movimentos sociais recentes: 1) O Congresso do Alterne, que reuniu 1700 pessoas para discutir alternativas políticas, mas foi criticado por promover falsas alternativas e falta de debate democrático. 2) O grupo "Que se lixe a Troika", menor e também visto como instrumento para gerar falsas alternativas e conduzir protestos de volta ao sistema político existente.
1. Os movimentos sociais e as vigarices sociais
Intróito
1 - O Congresso do Alterne
1.1 - Introdução
1.2 - Abordagem sociológica
1.3 – A Declaração do Alterne
2 – O grupinho “Que se lixe a Troika”
********************************
Intróito
No seguimento de “A despolitização, o controlo social e as alternativas”1 vamos tratar de dois
exemplos recentes de controlo social sob a forma de falsas alternativas ou, de alternativas
internas ao sistema capitalista e de democracia de mercado. São elas, o recente Congresso
Democrático das Alternativas a que abreviadamente, chamaremos Congresso do Alterne,
incluindo aí referências à IAC – Iniciativa para uma Auditoria Cidadã, cuja longevidade, sem
trabalho que se veja, aponta para um caso de burla política – por nós há ano e meio
denunciada; e, a uma escala menor, o grupo “Que se lixe a Troika”. Todos se apresentam,
implicitamente, como instrumentos do capital e da plutocracia, do mandarinato cleptocrático,
como putativos candidatos a um lugar no sistema, através do imundo trabalho de gerar falsas
alternativas junto de pessoas, mormente jovens e, reconduzirem os protestos e a vontade de
mudança para o seu redil de exploração e iniquidade, enquadrados pelos seus cajados de
pastores ideológicos.
1
http://grazia-tanta.blogspot.pt/2012/10/a-despolitizacao-o-controlo-social-e-as.html
GRAZIA.TANTA@GMAIL.COM 3-11-2012 1
2. 1 - O Congresso do Alterne
1.1 - Introdução
Como é evidente, não nos dignámos a pisar as alcatifas da Reitoria para assistir a um evento
promocional, de propaganda eleitoral. Não tomamos anti-histamínicos porque suportamos
bem os ácaros; mas, somos muito reativos ao bolor político ou à vigarice intelectual.
Pelos relatos que nos deram do auspicioso evento de dia 5 de outubro, infelizmente
ensobrado pela pitoresca estória da bandeira pátria colocada às avessas e que desviou a
atenção dos telejornais, a coisa acabou bem, numa beatífica unidade; e, para compensar os
funestos acontecimentos da manhã com o Cavaco a içar o estandarte (a melhor figura para o
efeito dado o seu cariz de decadente), os convivas do Congresso cantaram sisudos,
compenetrados e unitários, o espantoso hino do “contra os canhões, marchar”.
A propósito daquele hino e imaginando a compostura democrática dos 1700 convivas - na sua
esmagadora maioria relegados à função de ouvintes, mudos e quedos - a entrar no auditório,
lembrámo-nos de uma canção do Fernando Tordo, “A Tourada”, cuja letra a seguir
reproduzimos:
Não importa sol ou sombra Entram velhas doidas e turistas
camarotes ou barreiras entram excursões
toureamos ombro a ombro entram benefícios e cronistas
as feras. entram aldrabões
Ninguém nos leva ao engano entram marialvas e coristas
toureamos mano a mano entram galifões
só nos podem causar dano de crista.
a espera.
Entram cavaleiros à garupa
Entram guizos chocas e capotes do seu heroísmo
e mantilhas pretas entra aquela música maluca
entram espadas, chifres e derrotes do passodoblismo
e alguns poetas entra a aficionada e a caduca
entram bravos cravos e dichotes mais o snobismo
porque tudo o mais e cismo...
são tretas.
Entram empresários moralistas
Entram vacas depois dos forcados entram frustrações
que não pegam nada. entram antiquários e fadistas
Soam brados e olés dos nabos e contradições
que não pagam nada e entra muito dólar muita gente
e só ficam os peões de brega que dá lucro as milhões.
cuja profissão
não pega. E diz o inteligente
2
que acabaram as canções.
Com bandarilhas de esperança
afugentamos a fera
estamos na praça
da Primavera.
Nós vamos pegar o mundo
pelos cornos da desgraça
e fazermos da tristeza 2
http://cifraclub.terra.com/fernando-
graça.
tordo/tourada/
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3. Como convém no âmbito dos próceres do trotsko-estalinismo, o conclave teria de evidenciar uma
linha justa, a proposta pelos caciques que, sensíveis aos ventos democráticos, incluíram umas
quantas alterações propostas pelas “bases”. Impensável mesmo, seria a não existência de um
documento final, agregador, uma vez que na lógica unanimista e autoritária, não há lugar a um
simples evento de cruzamento de ideias, à expressão da diversidade enriquecedora, à presença
de debate entre alternativas distintas. O debate formal tem de se balizar pelas marcas
previamente estabelecidas pelos “organizadores”, admitindo simples ajustamentos de pormenor.
O modelo democrático seguido em março na Activar e na Primavera Global de maio, horroriza-os.
A censura3 incidente sobre textos recebidos de inegável qualidade - e que conhecemos - muito
acima da geral banalidade dos textos divulgados no site do Congresso, é reveladora do conceito
de democracia vigente entre os promotores. O que fugisse aos estreitos parâmetros da verdade
definida uns cem anos atrás nos cânones de Lenin ou Trotsky, ficou condenado ao banimento;
entre alguns conhecidos escudeiros do Carvalho da Silva, perpassou certamente uma imagem de
esquerdistas a caminho do Gulag. Enfim, assim se manifestou o lápis azul dos zelosos gauleiters
dos interesses da burocracia político-sindical que ajuda a Troika e o governo a manter os
portugueses mansos, obedientes e resignados. Para os promotores do tal Congresso, a
democracia é apenas a permitida por esses interesses. São democratas ma non troppo. A
Comissão Organizadora continuará em funções sem qualquer discussão sobre a sua composição,
mandato ou votação legitimadora; afinal, também Stalin e Trotsky estavam no anfiteatro.
E ainda para que a convergência seja maior, são convidados para o grupo elementos do PS a
quem se dá protagonismo, na procura de atrair outros membros daquele grémio, sem tacho ou,
somente descontentes com Seguro, espécie de alter ego de Passos. O Congresso do Alterne surge,
claramente, como uma tentativa do BE de apresentar uma fotocópia desbotada pelo tempo, da
criação de um MDP/CDE, numa aplicação serôdia do “Rumo à Vitória” de Cunhal, como uma
aliança de “portugueses honrados”, zangados com a postura neoliberal e conservadora dos seus
referentes; afastando, vade retrum, anarquistas e esquerdistas avulsos de diversos matizes,
renitentes em aceitar tutelas partidárias, também de acordo com a teoria e a prática cunhalista.
1.2 - Abordagem sociológica
Antes de nos debruçarmos sobre algumas das conclusões do Congresso do Alterne analisemos o
perfil da base de apoio dos seus promotores, considerando como amostra a lista dos 3763
subscritores, a despeito da má qualidade dos dados disponíveis para efeito de apuramento
estatístico. Essa despreocupação pela qualidade dos dados é reveladora de que aos seus
promotores pouco importa proceder a uma avaliação das camadas sociais ou profissionais
apoiantes mas, somente proceder a um exercício de propaganda, de fixação de crentes e não de
enriquecimento democrático. Note-se que o número de subscritores foi mais do dobro dos
participantes no evento; a internet favorece estas discrepâncias.
Escrutinámos os referidos subscritores do Congresso, em função das suas profissões ou situações
laborais ou ocupacionais, tendo em atenção que os resultados que apresentamos não são
somáveis, uma vez que muitas pessoas optaram por apresentar mais do que uma caraterização
3
Nova versão do MDP, mas para defesa de um regime caduco
http://iscte.pt/~apad/novosite2007/blogada.html
GRAZIA.TANTA@GMAIL.COM 3-11-2012 3
4. profissional ou social, sendo portanto considerados em duplicado. Observem-se em seguida,
algumas conclusões:
• O maior grupo dos subscritores - 543 (14.4%) - são paisanos reformados,
independentemente da sua profissão, excluindo, portanto, o caso dos militares apoiantes
que, serão também aposentados, dado que formalmente, quando nas fileiras, os militares
têm de ser eunucos políticos. Os reformados aqui contados não são tomados em mais
nenhuma categoria profissional ou de qualificação;
• O segundo grupo individualizável é o dos professores, não qualificados como do ensino
superior, adiante considerados. São cerca de 11.2% do total, havendo bastantes que são
também sindicalistas, mandarins ou com outras ocupações; os professores do ensino
superior são 6.7% do universo, havendo também muitos que contribuem para a
contagem de grupos de qualificação profissional;
• Os estudantes - sem se considerar doutourandos, bolseiros ou investigadores - são
apenas 165. Esse escasso número atesta o grau de despolitização dos jovens que, nem o
conservadorismo da esquerda lusa consegue atrair e, permite que se pense no
desajustamento que há entre o interesse dos professores do ensino superior por este
evento da esquerda institucional e o pouco entusiasmo que o Congresso, protagonizado
por gente bem conhecida da dita esquerda, gera entre os estudantes. Há um problema de
comunicação, de linguagem entre professores e alunos, entre gerações ou, o discurso
conservador da esquerda institucional não se apresenta capaz de combater a
despolitização e o desencanto dos jovens, beneficiando, naturalmente, o
conservadorismo social “mainstream”;
• Os bolseiros, doutourandos e investigadores, estão relativamente bem representados
entre os subscritores do Congresso (148), num quantitativo muito próximo dos
estudantes, em fase anterior da sua formação. A precariedade da sua situação
económica, o caráter autoritário da tutela de muitos lentes, a maior maturidade inerente
à idade e ao grau de conhecimentos, torna este conjunto interessado nas temáticas
propostas. Resta saber, se se revêem nas conclusões apresentadas pouco
democraticamente pelos caciques partidários, no recato dos gabinetes ou, se o seu
interesse pelo Congresso não é a procura de um protagonismo conducente a um lugar de
mandarim, assessor de mandarim ou correlativo. Faltou uma sondagem à saída do
evento…
• As pessoas da área da saúde são cerca de 6% do total, no qual os médicos representam
pouco menos de metade, seguidos dos psicólogos, profissão muito marcada pelo
desemprego, procurando assim, de modo ingénuo, na esquerda tradicional, a
concretização dos seus anseios. Ou esfregam os olhos e organizam-se e lutam no seio da
multidão ou esperam sentados pelas soluções saídas do pentapartido estagnado na AR;
• Os desempregados, por seu turno, não parecem muito entusiasmados com o Congresso,
detetando-se apenas 182, sendo de admitir que neste grupo haja diferenças claras entre a
subscrição e a presença no conclave, uma vez que nem todos terão tido dinheiro para
deslocações a Lisboa;
• Os advogados (98) e os juristas (49) estão bem representados revelando a apetência de
muitos para o mandarinato e o correspondente tráfico de influências, ambicionando,
GRAZIA.TANTA@GMAIL.COM 3-11-2012 4
5. porventura, a bela vida de colegas deputados, de manhã na AR e à tarde nas empresas de
advogados a elaborar leis encomendadas pelo governo;
• Os economistas são 119, certamente, fiéis defensores do intervencionismo estatal, da
nacionalização, do keynesianismo, provavelmente proponentes de um retorno a um
“modelo social europeu”, como se o neoliberalismo, sendo naturalmente temporário,
possa ser reencaminhado para as estruturas políticas, económicas e sociais do princípio
dos anos setenta do século passado. Estão, neste grupo os propagandistas da
reestruturação da dívida como Castro Caldas ou paladinos do disparate como José Reis4,
antigo secretário de estado de Guterres;
• As gentes das artes e do espetáculo (166), também em contexto complicado de
subsistência gerado pelas políticas governamentais, estiveram também muito presentes
neste evento da esquerda institucional, à procura de apoios para a defesa dos seus
direitos. O mesmo sucede com os trabalhadores da função pública (139) que, tomados
por madraços inchados de mordomias, esperariam que os chefes do alterne lhes
apresentassem uma alternativa à miséria, à inanição e à sanha genocida protagonizada
pelo governo do indigente mental Passos;
• Os numerosos militares reformados (76), revelam uma coexistência curiosa entre os
repressores e os reprimidos de 25 de novembro de 1975. Não sabemos se tal harmonia
resulta do espírito corporativo típico dos militares ou do beatífico espírito unitário
incutido pelos chefes e gurus do Alterne;
• Sindicalistas e outros mandarins somam 109 almas, predominando entre os últimos,
deputados da esquerda do regime mas, também alguns da ala menos à direita do partido-
estado, brilhantemente conduzida pelo Seguro, habilidoso equilibrista que contesta o
programa do governo, aceitando o memorando e a incontinente interferência da Troika
que … construiu o programa do governo. Confuso mas, real. Note-se que uns quantos
mandarins, apresentaram-se com o chapéu das suas qualificações profissionais, deixando
o cartão do partido em casa, para se mascararem de “bases”, num ensaio para o
Halloween;
• Conhecendo-se a impenitente defesa do obreirismo na constelação trotsko-estalinista
patrocinadora do Congresso, é espantosa a baixíssima presença de operários ou
profissões reveladoras da presença do proletariado industrial… se descontarmos uns
quantos entre os esforçados sindicalistas. Aliás, quando alguém afirma como principal
profissão “sindicalista” revela o seu caráter de burocrata, de funcionário, provavelmente
4
Ao afirmar que o governo já está a reestruturar a dívida Reis informa, implicitamente, porque a
IAC - Iniciativa para uma Auditoria Cidadã, criada em dezembro de 2011 com todas as fanfarras,
encalhou. É que o governo lhe terá retirado o brilho do trabalho que nunca foram capazes de
fazer. Se o governo está a reestruturar a dívida ainda que de modo frouxo, ao lente faltou concluir
que a sua separação face ao governo é uma questão de ênfase e não de ordem política; de facto,
politicamente, o homem é um desastre.
http://rr.sapo.pt/informacao_detalhe.aspx?fid=24&did=79804
Recordamos ainda a intervenção de Reis durante a presença de Eric Toussaint em Lisboa, em
junho de 2011 no sentido de que a dívida pública teria sido motivada pela … construção do SNS.
Tivemos então, a oportunidade de, publicamente, o corrigir no disparate proferido.
GRAZIA.TANTA@GMAIL.COM 3-11-2012 5
6. isento do que é trabalhar sob o autoritarismo patronal, o risco de despedimento e perda
de salário. Para utilizarmos a linguagem típica do PC – aliás, marginalmente presente no
convénio – predomina entre os subscritores a pequena burguesia dos serviços e o
conjunto dos “intelectuais”, designação que o partido ainda utiliza para referir os
licenciados, reportando-se a um tempo, décadas atrás, em que a posse de um “canudo”
era uma excepção num país de iletrados e, longe da precariedade e do desemprego que
os assola, também, nos dias de hoje. Essa postura provinciana faz equiparar licenciado a
intelectual… pelo que Relvas será um intelectual e Saramago um trabalhador braçal pois
utilizava a caneta como instrumento de trabalho;
• Nada mais contrastante com a ausência da “classe operária” que a forte representação de
empresários (67) e gestores, administradores ou gerentes de empresas (80); imaginamos
a alegria dos patrocinadores com a presença de patrões, provavelmente daqueles que
preferem jantar um prato de sopa a proceder a despedimentos. Este elemento dos
subscritores do Congresso explica o constante namoro ao PS e a tranquilidade de muitos
patrões face a esta “extrema-esquerda”, na designação da direita lusa.
Como é habitual, o PC não mostra na sua página a notícia do Congresso; não sendo sua iniciativa,
nem parte da sua estratégia, foi um não-acontecimento que os seus devotos não precisam de
saber, por decisão do CC. Para mais, o convénio continha bastantes ex-pc ou elementos menos
ortodoxos como o Carvalho da Silva, gente que ainda não foi para o PS… mas que está na fila.
Em paralelo com este convénio e os costumeiros desfiles do Arménio, foi desenterrado um tal
Movimento dos Trabalhadores Desempregados (MTD)5, nascido por obra e graça de S. Jerónimo
Magno em 2009, então com direito a faixa em manifestação da CGTP e a ter uma… direção
nacional! Claro que ninguém sabe quem são os membros da direção nacional, das direções
regionais, nem onde foram eleitos. Depois de três notas no blog naquele ano, o tal MTD passou
2010 em hibernação e em 2011 teve uma breve ressurreição, para recolocar uma foto de …2009.
Em setembro último o MTD acordou para capear a marcha contra o desemprego terminada no
dia 13 de outubro e, provavelmente, irá ser utilizado pelo PC para concorrer com o MSE –
Movimento dos Sem Emprego, de génese trotskista. O PC/CGTP não pode correr riscos de ver
alguém ocupar uma área muito sensível à radicalização nestes tempos conturbados de
desemprego a crescer em flecha; o controlo social e a segurança no emprego dos burocratas
sindicais assim o exige.
1.3 – A Declaração do Alterne
O que se viu no Congresso do Alterne foi que a única alternativa realista existente – mudança de
paradigma económico e de organização política – é omissa; e que a alternativa expressa – o pacto
social – está morta, perante a pressão do capital financeiro internacional e a construção de um
estado de exceção em que tudo é sacrificado para a satisfação do programa da Troika, algo que
ainda irá durar bem mais do que os próximos cinco anos, caso se não verifique um levantamento
popular que liquide o regime político cleptocrático.
Vejamos a matéria de alguns pontos da “Declaração do Congresso Democrático das Alternativas”
- Resgatar Portugal para um Futuro Decente6:
5
http://mtd-mtd.blogspot.pt/2012_10_01_archive.html e, depois de 9/10, http://www.mtd-portugal.org/ ,
o que revela intenção de uma continuidade mais ativa, com o apagamento de três anos de inação
6
https://docs.google.com/file/d/0B8PLvntEjgHPZVI4X01JZUl4TWs/edit
GRAZIA.TANTA@GMAIL.COM 3-11-2012 6
7. • No ponto 1.2 são omitidos os responsáveis pela assinatura do Memorando – a ala PS do
partido-estado, PSD/PS; apenas se refere que o governo (o actual) foi capturado
ideologicamente! Ilibando o PS, tenta-se branquear junto do povo as responsabilidades
daquele partido na situação atual, como que dando uma indicação de voto no PS, como
versão mais meiga ou menos amarga que o PSD; fica assim branqueado o comportamento
da mafia socratóide desde 2005;
• Por outro lado, ignora-se que o próximo governo será, provavelmente, de bloco central.
Procedendo dessa maneira, ignorando essa realidade, os alternantes oram aos deuses
para que o PS vire à esquerda, aceite uma “unidade nacional”, coopte alguns dos ilustres
conferencistas para o governo - e outros como assessores - para lhe dar um cheiro de
“esquerda” e sossegar pessoas que se pretenderão agarrar a algo que lhes possa servir de
esperança. Esperar um PS de esquerda é aguardar que um texugo cheire a rosas e, desse
modo, a esquerda institucional oculta uma evidência; a de que apenas serve para o
controlo social, para o qual está melhor colocada que a direita, emanação direta do
capital;
• Finalmente, afirmar que o governo foi capturado ideologicamente é idiota pois a sua
própria matriz é a do neoliberalismo mais radical. Ninguém é capturado pelo que gosta e
aprova;
• O caráter de “esquerda” deste Congresso pode ver-se, caricaturalmente, pela presença da
palavra capitalismo ou capitalista em três dos seus textos temáticos construídos pela
brilhante equipa organizadora do concílio. Há apenas uma menção “As democracias
liberais edificadas como arquitetura política do capitalismo…”, que, embora seja uma
afirmação trivial, deve ter escapado aos censores. Nas 18 páginas da Declaração do
Congresso, não há qualquer referência ao sistema económico que, aparentemente não
tem nome ou é considerado como o fim da História, como defendido por Fukuyama7. E,
portanto, o capitalismo está isento de responsabilidades, é apenas um reles detalhe
técnico;
• No mesmo ponto 1.2, o memorando é considerado “infeliz” como se resultasse de um
descuido, de algo menos pensado pela Troika e pelos seus subscritores; como se fosse um
golo na própria baliza. Esta observação, exemplar, prende-se com o projeto da esquerda
institucional que, desistindo de analisar as caraterísticas do capitalismo de hoje, se reduz
a avaliações quantitativas e de competência técnica. Estupidamente, repete por aí a
incapacidade técnica de Gaspar, dos seus homens e da própria Troika, que “não querem
ver” os impactos negativos da aplicação do memorando sobre a grande maioria dos
portugueses, que revelam “insensibilidade social”, etc.8 Eles até devem estar cheios de
boas intenções mas, coitados, não percebem o mal que provocam e Lagarde até acha que
os portugueses estão fatigados com a austeridade… Deus guarde os pobres de espírito
pois será deles o reino dos céus!
7
http://pt.scribd.com/doc/72074725/Esta-esquerda-e-a-tranquilidade-da-direita
8
Para exemplo desta visão, aconselhamos o mais conhecido e prolixo economista do PC – Eugénio Rosa
que é também muito cortejado na área do BE e, mesmo dos grupos trotskistas – em artigo inserto na versão
lusa do “Le Monde Diplomatique” (outubro/2012) que, em regra, nos artigos de autores portugueses, vem
refletindo, cada vez mais as posições do BE.
GRAZIA.TANTA@GMAIL.COM 3-11-2012 7
8. • Quando a realidade política é observada do ângulo das competências técnicas, da moral
dos agentes políticos ou económicos, estamos no âmbito da metafísica ou da mais
grosseira aldrabice. Se não acreditamos que Gaspar seja idiota também não admitimos
que no leque de crânios que produzem o pensamento político da esquerda institucional
prepondere a imbecilidade. Trata-se, sem dúvida de um cálculo político que evita
denunciar as caraterísticas do capitalismo de hoje, do domínio do capital financeiro,
pactuando, de facto, com este último, sob a capa de divergências processuais ou de estilo.
É uma forma encapotada de evolução na continuidade, do conservadorismo que permite
as chefias partidárias e os seus deputados terem uma vida sem sobressaltos. E por isso,
acentuam como solução da crise e do fim da austeridade, a importância da queda do
governo, de eleições, reivindicação sempre presente desde 1976, com muito parcos
resultados. O problema é o sistema, não é só o governo;
• A Troika e Gaspar sabem muito bem que as medidas que vão sendo tomadas
encaminham rendimento para o capital financeiro global, que permitem a recuperação
dos bancos portugueses, que favorecem as empresas de regime, que promovem um
rebaixamento dos salários, das condições laborais e dos direitos sociais. A ideia é a de
uma brutal redistribuição regressiva de rendimentos que promovam um espaço de baixos
salários e que torne Portugal … competitivo face à Ásia e ao cone meridional da América
do Sul; o fomento da emigração e as políticas genocidas dirigidas a cerca de metade da
população visam um recuo populacional, necessário para um país mais… competitivo.
Tudo, aspetos que a esquerda do sistema oculta, para que o tempo vá passando e a
multidão continue entretida com discursos parlamentares, telenovelas e futebol;
• No ponto 1.3 , aponta-se que a alternativa deve “basear-se num compromisso comum das
forças políticas e sociais que dão valor ao desenvolvimento e à inclusão social, afirmam a
dignidade do trabalho, estimam o papel da esfera pública e defendem uma democracia
robusta”. Um saco cheio de gongorismos com vestes keynesianas;
• Em 2.1 fala-se na renegociação da dívida após denúncia e, aparentemente, os
congressistas deixaram cair a auditoria, há um ano tomada peça central para apresentar à
Troika, bem como as contas feitas pelos mosqueteiros da IAC, certamente com
argumentos tão esmagadores que o Selassie ficaria mesmo sem saber o que seria. A
inevitável reestruturação da dívida pressupõe um ambiente de renegociação para salvar a
face do governo perante a população, fazendo-lhe crer à plebe que os mandarins servem
para alguma coisa e, que lutaram como leões contra a malvada Troika. Como a
“determinação firme de Portugal” não passará pela ruptura – em caso algum os
alternantes terão uma postura unilateral de suspensão dos pagamentos do serviço de
dívida - a Troika tem a tarefa facilitada, uma vez que em vez de firmeza, encontrará a
frouxidão no lado do partido-estado, PSD/PS, com ou sem o CDS pela trela;
• Em 2.2 diz-se que “A abertura de negociações com as instâncias internacionais sobre o
Memorando é a principal e mais urgente tarefa de um governo democrático”. A
reivindicação é foguetório, uma vez que a reestruturação é inevitável, é uma certeza,
estando prevista desde há muito tempo a renegociação para troca de empréstimos de
curto prazo por outros, de longo prazo e taxas de juro mais baixas. O insuspeito jornal
inglês “The Economist”9, espelho dos interesses do capital financeiro, afirmava
9
http://economico.sapo.pt/noticias/economist-aponta-a-reestruturacao-da-divida-
nacional_154497.html ou D Noticias de 23/10/2012
GRAZIA.TANTA@GMAIL.COM 3-11-2012 8
9. recentemente que “o ‘timing e a dimensão de uma reestruturação da dívida são difíceis
de prever, mas que tal poderá acontecer no final de 2013” quando o Gaspar previa o
retorno ao “mercado”. Na política institucional apontar para um facto futuro certo é a
preparação para, no momento da sua efetivação, os mandarins apontarem ao povo as
suas competências. Em tempo de seca, não é preciso ser meteorologista para se afirmar
que acabará por chover;
• A renegociação será levada a cabo com a presença do PSD/CDS ou do PSD/PS, se houver
reformulação governamental na primavera. Sucede que a Declaração do Congresso
afirma ser a abertura de negociações a mais urgente tarefa de um governo democrático.
Assim sendo, será um governo de direita a protagonizar essa negociação e, assim, esse
governo será implicitamente democrático porque… cumpre as reivindicações do pessoal
do Alterne, ficando assim, os partidos de direita com a cara lavada. Como é notório, nem
o PC, nem o BE serão chamados a dar uma caução democrática a esse próximo governo.
• Por outro lado e apesar da fragilidade do governo atual, o PS não está interessado em
eleições, em vir a assumir a gestão da crise e da aplicação das receitas da Troika; Seguro
foi programado para aguentar o partido na oposição e nunca para primeiro-ministro.
Qualquer sinal de que o PS poderá estar interessado (ou obrigado) em tomar conta do
pote partirá da substituição de Seguro, tal como sucedeu com a invenção de Sócrates em
2005. A posição do PS é ir falando grosso para eleitorado ver mas, afastar-se do
“radicalismo” do coro do PC/BE que clamam por umas eleições que lhe não interessam. A
queda do governo dependerá essencialmente de Portas e, mesmo assim, não seria
estranho que Merkel impusesse um governo das duas alas do partido-estado, sem
mascarada eleitoral, a partir do manuseamento de Cavaco; seria institucionalmente
menos grosseiro do que a nomeação de Papademos e Monti, em 2011, respetivamente
na Grécia e na Itália;
• No ponto 2.3, em linha com o que diz o governo e toda a direita, a reestruturação da
dívida não poderá colocar em causa o financiamento externo que tem vindo a ocorrer, no
âmbito do Memorando, ficando assim claro que no contexto do leque ideológico contido
no Congresso, não haverá qualquer ruptura com a Troika. Recorde-se que a saída do euro
(e da UE) é uma hipótese defendida apenas pelo PC - não publicamente – e que tem toda
a lógica no quadro da sua deriva nacionalista; porém, essa posição é meramente tática,
para fixação do seu conservador eleitorado, para marcar uma diferenciação agregadora,
face à concorrência. O disparate é tal que não se atrevem a colocá-lo na praça pública,
como o fazem os irmãos do KKE e dos pândegos vizinhos do PCPE;
• Para as gentes presentes no Congresso, em grande parte sócios ou simpatizantes do BE,
refere-se que “Portugal deve preparar-se para uma resposta da Troika que passa pela
suspensão do financiamento acordado até 2013” num cenário europeu desfavorável e em
2.4 admite-se que “a resposta ao corte do financiamento fosse a declaração de uma
moratória ao serviço da dívida”. Esta posição, reativa e afastada de uma iniciativa própria
é semelhante à apontada pelo Syriza na Grécia, antes das eleições de junho; porém, o
Syriza estava inserido numa estratégia eleitoral, num contexto em que a coligação grega
tinha, então, sérias possibilidades de chegar ao poder e, esse simples facto atribuía-lhe
uma credibilidade para a captação de eleitorado social-democrata que a esquerda
institucional portuguesa está longe de ter;
GRAZIA.TANTA@GMAIL.COM 3-11-2012 9
10. • Em caso algum os chefes do Congresso admitem uma iniciativa de moratória, com
suspensão do pagamento do serviço de dívida10, com a mobilização dos portugueses para
o efeito, eventualmente concertados com a Grécia, a Espanha e a Itália, particularmente;
apenas se admite a moratória, em reação, no seguimento de uma atitude de exclusão da
parte da Troika;
• Como se renuncia à iniciativa libertadora do torniquete definido pelo capital financeiro
global e se aponta exclusivamente para a renegociação do memorando aceita-se,
concomitantemente, a continuidade de um texto definidor não só da política económica e
financeira como de toda a arquitetura dos direitos sociais e laborais, a efetuar de acordo
com os interesses do capital financeiro e dos desígnios do empresariato luso, mormente
as empresas de regime e dos meios exportadores. O naipe das “sensibilidades”
mandarínicas que elaboraram a Declaração não se apercebe da contradição entre a
aceitação de uma renegociação do memorando portador de limitações à soberania e o
seu discurso patriótico. Arrotam diatribes patrióticas para fomentar e captar simpatias
nacionalistas enganando os potenciais eleitores do BE ou do PC, com promessas vagas e
vãs de aumento do emprego, de “defesa do Estado social”, “redução da dependência
externa”, “reivindicação do direito ao desenvolvimento”, etc; ao mesmo tempo que
defendem e se dispõem a aceitar a suserania externa da Troika, mesmo que aligeirada,
numa renegociação do memorando. Em suma, acenam todo o arsenal ideológico de
concertação social dentro de cada estado nacional, no quadro do capitalismo, temperado
pelo reformismo keynesiano - surgido no pós-guerra na Europa Ocidental e já em
decadência quando o regime fascista caiu em Portugal – para captar eleitorado;
• No ponto 2.6 da Declaração afirma-se que a denúncia do Memorando significa o declínio
e, convém sublinhar que aquela deveria ser apenas um princípio para evitar a brutal
deriva empobrecedora e de regressão democrática em que estamos. O que se passa é
que a atual re-hierarquização das regiões europeias, passa pelo aumento das
desigualdades internas dentro da UE, com perdas evidentes para as periferias a sul. Esse
modelo anula qualquer lógica de solidariedade federal entre as diversas regiões, o que
aliás nunca se evidenciou em toda a história da integração europeia, apesar de toda uma
propaganda de décadas. Sabe-se que os fundos estruturais visaram sobretudo, facilitar o
comércio intracomunitário e uma determinada divisão interna do trabalho11; e, numa fase
mais recente, acentuou-se a utilização da dívida como instrumento de transferências de
capital, da periferia para o centro da UE, num género de retorno dos fundos comunitários
enviados para Sul durante duas décadas. Esse modelo, porém, tem adjacente um projeto
concentracionário de poderes políticos e económicos, com a sua acrescida transferência
para um conjunto de órgãos burocráticos diretamente emanados do capital financeiro, no
10
2012-11-02 A polémica em torno do apoio do FMI na refundação do Estado Social: Compreende esta
polémica? Há margem para reduzir as funções sociais do Estado? (a partir do minuto 11.45)
11
Países do sul e do leste vocacionados para o abastecimento do mercado interno até que, quando
decidida a abertura às importações da Ásia oriental, essa vocação se transferiu para o turismo dirigido para
a captação de visitantes provenientes dos países do norte da Europa, insuscetíveis de importar sol e águas
tépidas. Por seu turno, os países do norte europeu, encarregar-se-iam da exportação para fora da UE,
sobretudo de equipamentos e bens intermédios; Alemanha (química e máquinas-ferramentas), França
(aeronáutica e bens de luxo), Suécia (metalurgia), Holanda (plataforma logística de entrada/saída de
mercadorias). Para além do equipamento militar (Inglaterra, França, Alemanha, Itália e Espanha); no seu
conjunto, a UE é sede de 40 das 117 principais empresas mundiais de produção militar, só superada pelos
EUA, com 48. http://grazia-tanta.blogspot.pt/2012/01/opentagono-e-nato.html
.
GRAZIA.TANTA@GMAIL.COM 3-11-2012 10
11. desenvolvimento da apropriação dos estados por aquele, como vimos referindo, em
textos anteriores. Em termos da estrutura produtiva, pretende-se a constituição na
Europa do sul e a leste - e mesmo na bacia mediterrânica - de uma área de concorrência
com a Ásia, dentro de alguns anos, não sendo certamente por acaso toda a concentração
do dispositivo militar-estratégico da NATO no Mediterrâneo. Com as tecnologias atuais,
com o primado da mercantilização, é evidente que se prepara um grande declínio
populacional, a médio prazo, a partir das medidas de redução de rendimentos e direitos
que se vão estabelecendo no sul da Europa;
• A saída não é fácil. Uma saída nacionalista por expulsão do euro e/ou da UE, ou ainda
através de um desmembramento da UE, está longe de promover o bem-estar dos povos e
uma maior democracia; esta, hoje, já meramente caricatural. Somente uma saída
internacionalista, de unidade solidária e articulada entre os povos e, mormente dos
trabalhadores, com a destruição do poder financeiro, das multinacionais e do capital
mafioso é uma saída de futuro. Essa construção envolve a instituição da autogestão nas
empresas, reformuladas como unidades técnicas e não de poder capitalista; a gestão do
comum com decisão democrática, na base, tendo como fito a satisfação das necessidades
coletivas, sem Estado ou classe política. Só essa laboriosa construção conduz à saída do
pesadelo atual ou ao seu periódico renovar.
• Como dizem os caciques que escreveram a Declaração do Congresso, quem decide é o
povo soberano mas, no seu entender, toda a arquitetura da organização política e da
representação é insuperável uma vez que a Constituição é um elemento sempre perfeito,
intocável, mesmo que as suas revisões tenham sempre conduzido a perdas de direitos. Na
lógica da conservadora esquerda do sistema, o que existe é para manter, porque a
evolução, o progresso, os assusta e faz temer que as coisas só poderão piorar; preferem
manter o sistema que lhes dá subsídios estatais e garante postos burocráticos do que
arriscar em alterações profundas no ordenamento político e económico. Por isso, não
pode apontar os governos como bandos de vulgares malfeitores, práticos de gestão
danosa ou corrupta, de comportamento anti-social e genocida, de obediência servil à
finança global como aos ditames do Ricardo Salgado, do Borges ou do Saraiva. O sistema
económico e os modelos de organização política e de representação não têm qualquer
legitimidade, mesmo que beneficiem da moleza despolitizada da plebe lusa e da
conivência aveludada da confraria da toga;
• Por estar bem instalada e dependente do Estado, a esquerda institucional não pode
defender ou promover uma subversão do atual estado de coisas, com a reformulação
radical do ordenamento constitucional. Assim, a sua responsabilidade em que 87% da
população esteja desiludida com a democracia12 é imensa, não os vai beneficiar
particularmente e, seguramente, não favorecerá o necessário aprofundamento
democrático, com o prejuízo evidente para a multidão em processo galopante de
empobrecimento e perda de direitos;
• Daí, como diz o José Mário Branco, “consolida, filho, consolida”. Consolidam os lugares e
as mordomias na AR, os discursos redondos e empolados, numa linguagem repleta de
floreados que ninguém usa, sobretudo quando se lembram de ser criativos; consolidam
os postos nos sindicatos, com a ajuda de estatutos que bloqueiam a democracia e
12
http://www.publico.pt/Pol%C3%ADtica/sondagem-diz-que-87-dos-portugueses-estao-
desiludidos-com-a-democracia-1563811
GRAZIA.TANTA@GMAIL.COM 3-11-2012 11
12. qualquer alternativa; consolidam as mesmas práticas de manifestações rituais em
fevereiro, maio e novembro, com a luta que continua e o governo que vai para a rua,
como todos, aliás; e aproveitam a consolidada relação com a polícia sempre que alguns
insubmissos não conhecem o verbo consolidar. Importante, sempre, é que haja sucessões
de governo para que o regime se consolide. Alguma coisa tem de mudar para que nada de
substantivo se altere. E por isso, pensamos lançar uma petição para que Cavaco, fóssil
bem consolidado, se não esqueça (ai o Alzheimer!) de atribuir medalha ao Carvalho da
Silva pelos seus 25 anos a consolidar o controlo social, cujas canseiras ainda lhe deixaram
fôlego para inventar pífias auditorias cidadãs e magnos concílios do alterne;
• O PC não se mete muito nestas iniciativas do solista Carvalho da Silva acompanhado pela
Banda de Esquerda e pelos crentes na unidade sem princípios, obrigados a fazer prova de
vida, para além do cacarejo parlamentar. O controlo da CGTP e da oleada máquina de
excursões, sem concorrência visível, evita-lhe o frenesi que se verifica, por exemplo, entre
os patrocinadores do Congresso do Alterne. Sabe o PC/CGTP que nas suas procissões
estarão sempre o BE, os seus companheiros de estrada ou as suas desinências, como os
impagáveis Pis, Rós ou Sigmas; garantem a simpatia policial e no final ficam todos
contentes por mais uma jornada de luta unitária, com o hino pátrio a selar a missa dada
pelo ortodoxo Arménio;
• A greve geral de dia 14 é uma forma de o PC apresentar um momento de catarse aos
habituais frequentadores das romarias; precisamente quando entre os seus militantes já
se ouvia um coro de queixas pela inação. Porém, ao avançarem com uma greve
convocada para ser comum a vários países do sul da Europa ganham uma
responsabilidade para o dia seguinte; avançam com algo mais radical ou criativo ou
rebobinam a rotina gradativa dos abaixo-assinados, concentrações, manifestações
nacionais e outras variantes?
• A gentinha do Congresso do Alterne, à falta de melhor, propagandeiam uma petição para
a não aprovação do OE13, a entregar aos grupos parlamentares da AR e ao ausente
Cavaco. Não sabemos se rir do ar sério dos alternantes a propor estas ações ou, se da
vénia prestada à desacreditada AR no dia 31 ou ao surreal PR;
• A olhar atento para a situação está o Ulrich do BPI quando respondeu, recentemente, à
pergunta “O país aguenta mais austeridade? Ai aguenta, aguenta!”. Ulrich percebeu há
muito o que resulta da despolitização e falta radicalidade dos portugueses para se auto-
organizarem e sacudirem o controlo social e ideológico exercido pela esquerda do
sistema.
Sente-se mais no ar o cheiro da putrefação do que o vento da revolta.
2 – O grupinho “Que se lixe a Troika”
Vamos em seguida observar elementos sobre a dinâmica da reconstrução do controlo social pelas
várias empresas de venda de serviços eleitorais, concorrentes aos subsídios estatais e às
mordomias públicas ou privadas típicas dos mandarins, um mercado muito ativo e em constante
mutação, com protagonistas novos ou reciclados.
GRAZIA.TANTA@GMAIL.COM 3-11-2012 12
13. Como é sabido, nos movimentos sociais nascidos em 2011 a imagem de marca sempre foi a
ausência de hierarquias, a abertura a toda a gente, a horizontalidade da discussão e o consenso
na tomada de decisão. Com isso, pretende-se vincar a demarcação face aos sistemas políticos
atuais, caraterizados pelas pesadas hierarquias e burocracias profissionalizadas dos seus partidos,
com a sua inserção no afunilamento da prática institucional, com discursos nos parlamentos,
entrevistas nos media e instalação no aparelho de estado, à custa dos pagadores de impostos,
pelos tais que se pretendem sossegados no sofá, a assistir ao desempenho dos mandarins na tv
ou a votar regularmente para perpetuar a mascarada democrática.
Pouco importa se nestes movimentos surgem pessoas com simpatias ou militâncias partidárias,
desde que atuem de boa fé, tomando os companheiros como iguais e atuando com franqueza,
sem intuitos de manipulação ou manobras desvirtuadoras. O problema são os candidatos a
mandarim, os carreiristas à procura de currículo e atividade relevante para acederem a lugares de
assessores, deputados, emprego ou outra qualquer tão meritória atividade como essas.
Para muitos, estas minudências serão desinteressantes; porém, convém que esteja claro que a
presença de grupos partidários, com pretensões ao controlo das massas ou das “bases”, como
chamam aos catequizáveis, alicerçados numa imaginária superioridade política, é um gerador de
problemas. Desses problemas resulta a desmotivação de uns, perda de tempo para todos excepto
para os candidatos a mandarim que fazem do manobrismo, profissão. E resultam sobretudo,
dificuldades na organização e no desenvolvimento da consciencialização política e das lutas,
dadas as interferências de grupos e grupinhos partidários; que, portanto, se tornam aliados
objetivos do capitalismo e do sistema político anti-democrático… apesar de sobrarem outros
aliados e fatores para a manutenção do sistema. Por exemplo, os meios logísticos – meios de som
e transporte, lugares de reunião, contatos na imprensa – e de disponibilidade física de que
dispõem os infiltrados partidários são elementos demasiadamente valorizados e tendem a ser
(ingenuamente) aceites pelos movimentos sociais, que se tornam dependentes desses apoios.
É sabido que os partidos adoram o controlo das “massas” como instrumento para tentarem
aceder a outras massas (monetárias) que o poder de estado permite e lhes faculta, prazenteiro
para o conveniente enquadramento do eleitorado. Para o efeito utilizam estruturas falsamente
apartidárias ou infiltram-se em movimentos ou grupos sociais, se não para os controlar, para os
destruir como aconteceu com o Forum Social Português, anos atrás. Como dissemos em outra
ocasião, entre o PC e o BE há uma diferença de atuação no que respeita a movimentos sociais. O
PC, em regra, cria esses “movimentos” como o atrás referido MTD, que ativa ou desativa de
acordo com as circunstâncias, desinteressando-se dos movimentos sociais. Estes, em princípio,
interessam mais ao BE, com a vida complicada pela presença histórica da CGTP e do enorme
quadro de funcionários do PC/CGTP, com mais raízes e meios para o controlo social. Sendo o BE
um partido essencialmente eleitoral, sofre de um deficit de enraizamento popular local, o que o
torna sedento de protagonismo em movimentos sociais, com objetivos de controlo ou, ostracismo
quando não controláveis (Pagan13, por exemplo).
Desde o início, no Rossio (no caso de Lisboa mas, também em outros locais) os grupos partidários
de uma chamada esquerda apareceram com propósitos evidentes de controlo. Um desses grupos,
animado pela manifestação de 15 outubro de 2011, até se decidiu a sair do BE - depois de anos de
indecisão - e construir o novel MAS que irá apresentar-se com uma candidatura à recolha de
subsídios do Estado, num próximo pleito eleitoral. Outro grupo, bem mais obscuro e cavernoso foi
o finado M12M, capitaneado por uma dita cineasta Raquel Freire, entretanto chamada à
comissão organizativa do Congresso do Alterne, às ordens do Carvalho da Silva, como antes ao
13
http://grazia-tanta.blogspot.pt/2012/01/amiseria-da-esquerda-que-anda-por-ai.html
GRAZIA.TANTA@GMAIL.COM 3-11-2012 13
14. comité central da IAC, tutelada pelo mesmo mandarim. Um terceiro grupo tem sido o dos
Precários Inflexíveis (PI) – entretanto institucionalizado e rebatizado Associação de Combate à
Precariedade, dominado pela seita trotskista PSR, uma das fundadoras e controleiras da estrutura
do BE.
Estas seitas, infiltraram-se nos grupos saídos da réplica portuguesa do 15M espanhol e
procuraram impor as suas lógicas de “controlo das massas” tão caras aos vetustos e fragmentados
leninismos ou trotskismos. As suas práticas promoveram uma forte desmobilização organizativa
dos jovens e dos menos jovens, sem experiência política e plenos de boa fé na construção de uma
desejável unidade contra o sistema agressor e caduco que se conhece. Essa situação tem sido
mais grave em Lisboa, onde estão instaladas as sedes partidárias, o foco infeccioso da deputação
e o verdadeiro poder de estado.
Apesar dessas lutas, presentes desde sempre, foi possível avançar na criação do 15O e de eventos
em março (Activar) e maio (Primavera Global). Apesar das lutas entre os grupos trotskistas – o
M12M afastou-se destas lides14 e evidenciou o seu caráter provocatório – foi possível, nessa
grande diversidade de gente, construir algo de interessante, em comum.
Em setembro, os infantes do BE mais envolvidos no movimento nascido em maio de 2011
convenceram algumas pessoas ingénuas a constituir um clube mais ou menos restrito às
“sensibilidades” convenientes (leia-se, tolerante com o triângulo da ineficácia, CGTP/PC/BE e as
suas táticas) rompendo com a abertura indispensável para a manutenção da genuinidade destes
movimentos de indignados e occupy. Para isso contribuiu, certamente, o desejo dos pajens do BE,
de deixar fora os seus irmãos inimigos do MAS ou da Rubra.
Os grupos fechados, com controlo partidário, empapados nas suas ideologias jurássicas e de
lógicas leninistas, não estão interessados na discussão política aberta, no confronto de opiniões
pois, por axioma, têm sempre razão e nada têm a aprender com terceiros; mas gostam sempre de
se rodear de uma corte de “compagnons de route” para se etiquetarem de unitários.
Criou-se então o grupo “Que se lixe a Troika” como real correia de transmissão da lógica do BE15,
este, lançado numa corrida eleitoral que pode surgir a curto prazo, fulcral para refundar o partido
como muleta do PS ou como um género de PS (reconstruido) e melhorar as finanças depois do
desaire de 2011. Vejamos agora, alguns elementos do sua curta carreira:
• A manifestação de 15 setembro em Lisboa foi o que se conhece e isso animou o grupo
“Que se lixe a Troika” – que esperava apenas uns escassos milhares de pessoas - a tentar
continuar na mesma senda desvirtuadora. Nesse mesmo dia da sua estreia pública,
rapidamente arrumaram a trouxa na Praça de Espanha, depois de uma arenga de
circunstância. Não lhes passou pela cabeça animar e gerar uma continuidade para as
dezenas de milhar de pessoas presentes; dar-lhes voz, incentivá-las a agruparem-se, a
discutir assuntos, à desobediência criativa e propensa à auto-confiança e à auto-
organização. Nada disso. Isso seria ultrapassar o seu papel de controleiros por conta do
poder sindical e político; aliás, nem teriam capacidade para controlar toda aquela massa
14
http://grazia-tanta.blogspot.pt/2012/01/os-fascistas-e-os-comportamentos.html
Os membros ou ex-membros do M12M que já se havia mostrado um género de guarda suiça
do Carvalho da Silva sairam do 15 O no dia 16 de outubro de 2011 e adotaram o procedimento
típico do PC, de afastamento dos grupos e movimentos sociais
15
Ao todo, nesse grupo central do “Que se lixe a Troika” há, pelo menos metade de pessoas do
BE, dos PI, chefes do IAC, caciques ou simples subscritores do Congresso do Alterne.
GRAZIA.TANTA@GMAIL.COM 3-11-2012 14
15. de gente e esse susto, era a última coisa por onde quereriam passar. Para eles, o centro
da ação política faz-se na AR e a rua só tem o direito de mandar bitaites para os ungidos e
privilegiados que zelam, paternalmente, pelos interesses da canalha, depois de satisfeitos
os interesses “nacionais” que é como quem diz, da Troika e do capital luso, supremo
criador de postos de trabalho e do nosso (??) Estado;
• Nesse dia 15 de setembro, não fora o apelo escrito por alguém no placard dos “Que se
lixe a Troika”, para as pessoas se encaminharem para S. Bento e prosseguir o protesto, a
multidão teria ficado na Praça de Espanha a olhar para a fuga a sete pés da camioneta do
som posta ao serviço do grupinho pelo prestável e “desinteressado” BE. Enfim, foi uma
primeira demonstração pública do reacionarismo deste grupo fechado de ungidos;
• No quadro da dispersão, desalento e desconfiança que predomina, ninguém pareceu
muito interessado numa comemoração de unidade do aniversário do 15 outubro. Nem
aqueles que se apossaram da marca 15O, nem entre os “Que se lixe a Troika”. A
concentração junto da AR de dia 15 de outubro último até acabaria por ter mais
relevância - ainda que no estafado modelo da presença em S. Bento e legitimação
implícita do poder PSD/PS e da AR – do que o evento criado pelo “Que se lixe a Troika”,
dois dias antes;
• Cabe sublinhar a propósito que a sucessão de manifestações e concentrações, sem
perspetivas de maior diversificação e criatividade, molesta pouco o sistema, permitindo a
concentração do aparelho repressivo, enquanto os mandarins sublinham, hora a hora, a
legitimidade democrática dos protestos; essa menção deles é uma prova que consideram
os protestos como uma concessão sua e, não como um direito. Por outro lado, promove o
cansaço e o afastamento de quantos não apreciam levar porrada da polícia, apesar desta
se ter mantido muito cordata, nos últimos tempos, para não acirrar ânimos e ainda
porque o comportamento típico dos manifestantes não tem a fúria de outras latitudes.
Fazer fogueiras ou mesmo queimar um sofá velho, permite, contudo, contemplar a beleza
única do fogo;
• Voltemos ao nosso grupinho. Paralelamente a uma comemoração do 15 de outubro
decorriam as tentativas de proceder a uma caçarolada integrada na manifestação
internacionalista “Global Noise”, coisa que não interessou particularmente o grupo “Que
se lixe a Troika” onde predominam pessoas mais vocacionadas para eventos “sérios” bem
inseridos na lógica institucional do triângulo da ineficácia, CGTP/PC/BE;
• O evento pensado pelos “Que se lixe a Troika” foi uma versão de “Rock in Rio”, só com
artistas lusos, cuja situação económica não é famosa, à semelhança da cultura do casal
Passos/Relvas. Nada temos contra a presença de artistas em eventos políticos, antes pelo
contrário, embora possamos gostar mais de A e nada de B, como é normal;
• Porém, sabemos bem a diferença entre evento político popular com o apoio de artistas e
festival popular sarapintado de uma ou outra referência política, sendo este último, o
caso do convívio na Praça de Espanha, resultado da fusão entre precariedade laboral e a
menoridade política e intelectual dos organizadores. Num acontecimento político, a
louvável presença de artistas não é o objetivo mas, um instrumento de mobilização e,
como não percebe isso, o pessoal do “Que se lixe a Troika” promoveu um festival de
música com demasiados cantores pimba, sem curar da qualidade ou do conteúdo das
suas mensagens, da sua real adequação a um evento que se pretendia de cariz político
GRAZIA.TANTA@GMAIL.COM 3-11-2012 15
16. para promover a auto-confiança num povo que sofre. Por exemplo, aceitaram a presença
de Mário Mata que nunca se dispôs a atuar em Coimbra mas, que veio solícito para Lisboa
em vésperas da apresentação do seu novo disco, dia 25 de outubro, conforme consta(va)
da sua página no Facebook; certamente, uma coincidência. Para encherem a Praça de
Espanha com uma distração, melhor seria terem convidado Toni Carreira ou Paulo de
Carvalho trazendo este consigo o confrade Passos, um português que quer que se lixem
as eleições mas, não a Troika;
• O próprio nome “Que se lixe a Troika” é revelador das teses da esquerda do sistema.
Enquanto o PS zurze o governo para poupar a suserania da Troika - com quem está
comprometido desde 2011 - no “Que se lixe a Troika” carrega-se na Troika, como se os
banqueiros, as empresas do regime, o partido-estado estivessem inocentes da redução de
rendimentos e direitos. Dentro do sua análise canhestra, patrioteira, parece pouparem a
classe dominante lusa, como que ilibando-a de responsabilidades, transmitindo uma
imagem nacionalista, favorecendo ideias caras para a extrema direita. E, percebe-se que
querem eleições e não bater muito no PS, em consonância aliás com o que se passou no
Concílio do Alterne.
• No grupo fechado que controla o “Que se lixe a Troika” surgiu um assessor do António
Costa, presidente da autarquia lisboeta, que manifestou óbvios intuitos de cobrar
dividendos das facilidades burocráticas oferecidas, tentando impor uma declaração
própria a apresentar no palco da Praça de Espanha. É verdade que teve a oposição
generalizada dos outros membros do grupo restrito das sensibilidades convenientes para
o BE, mas... Como é evidente, esta chantagem não seria possível num grupo aberto onde,
provavelmente o mandarim nem sequer se assomaria;
• Assim sendo, pergunta-se: Quem introduziu esse Rui Franco16 no grupo? Como se trata de
um grupo fechado, onde só se participa por convite e cujas reuniões não têm horário ou
local conhecido, alguém terá convidado o mandarim. E esperamos que alguém esclareça,
qual a independência do “Que se lixe a Troika” para se apresentar tão próxima de Costa.
Pode-se mostrar contestação em dias de sol e estar na cama com o poder político quando
chove? Repercutem a fixação do BE em ligações com o PS, daqueles que tanto pugnaram
por uma lista conjunta PS/BE, mesmo depois do evidente desastre da coligação na
Câmara de Lisboa e do episódio triste do “Zé que faz falta”?
• António Costa, que é bem mais esperto que eles, semeia para colher brevemente, depois
de ter domesticado a Roseta. O fruto será o apoio da nova direção do BE para os projetos
futuros (presidenciais ou de governo) de Costa? A liquidação do BE como partido, com a
ocupação de um espaço vazio chamado ala esquerda do PS? No congresso do Alterne lá
estiveram todos, esses e alguma gente do PS, com pendor para acreditar ou beneficiar de
uma unidade da “esquerda”. Quem, no grupo fechado “Que se lixe a Troika” espera ser
chamado para escudeiro do Costa?
• A presença de um agente infiltrado da direita faz parte do espírito dos movimentos anti-
sistema ou é uma total corrupção do “Que se lixe a Troika”, a sua inserção no sistema
político que nos oprime? Vamos, naturalmente, insistindo nesse esclarecimento e
estaremos atentos aos próximos eventos controlados por eles ou, promovidos sem
16
Será este Franco familiar de um tal Vasco Franco, mandarim, que foi vereador da Câmara de Lisboa nos
tempos de João Soares, com uma carreira posterior de gestor bem pago?
GRAZIA.TANTA@GMAIL.COM 3-11-2012 16
17. abertura, nem horizontalidade, como plataforma política de gente à procura de tacho,
nestes tempos difíceis;
• Voltando aos eventos de meados de outubro, os “Que se lixe a Troika” não tinham grande
interesse no “Global Noise” e muito mais na chamada de atenções sobre o evento com a
sua marca, procurando limitar a adesão aos eventos integrados naquele programa
internacional. Revelaram-se assim distanciados de quem não está interessado na unidade
com a esquerda do sistema cleptocrático. E, por isso, para dar um ar de graça,
apresentaram dois tímidos momentos de referência ao “Global Noise”, um de barulho,
outro da leitura de um manifesto a que ninguém terá dado importância;
• Na realidade, os “Que se lixe a Troika” demarcaram-se bem do evento internacionalista.
Enquanto em todas as cidades onde o “Global Noise” se efetuou, houve manifestações,
desfiles, marchas, caçaroladas de várias dimensões, o grupo “Que se lixe a Troika”
limitou-se a um festival musical pretensamente popular. É mais uma das originalidades da
esquerda de plástico; outra, poderá ser a de ter parido uma IAC que é a única da Europa
que se recusa a propor a suspensão do pagamento da dívida, pedinchando apenas uma
reestruturação da dívida;
• No passado dia 31, em mais uma concentração junto da AR, nos moldes habituais, foi
notória a demarcação da CGTP e do “Que se lixe a Troika” face aos manifestantes. Os
gorilas da primeira formavam um cordão à frente da polícia, para impedir esta de actos
provocatórios que pudessem surgir dos manifestantes (!); nada que provoque espanto
dadas a tradicional boa relação entre a CGTP e a polícia. Por seu turno, os “Que se lixe a
Troika” estiveram lá, discursaram, tal como o Arménio mas, quando este rapidamente
deu o ordem de destroçar às suas tropas, os infantes do BE sob a sigla “Que se lixe a
Troika” saíram também para o jantar.
Como sempre temos dito, atenção! Enquanto a Troika e os seus agentes locais procedem ao
assalto à mão armada da multidão, a esquerda do sistema, tenta distrair-nos para ganhar uns
lugares na AR e tornar-se respeitável para o capital, como referimos acima, a propósito do
conclave do Alterne. Para o capital, a esquerda do sistema perde a respeitabilidade quando falha
no controlo social; e se falha nisto, deixa de correr dinheiro público ou privado para os partidos e
seus mandarins políticos ou sindicais. Para cumprir serviço, nestes tempos difíceis, a esquerda do
sistema tudo fará para que a luta se não radicalize, para que todo o protesto ou manifestação se
efetue sob o controlo dos seus centuriões; e, se necessário, chamarão a polícia para o seu lado.
Em torno da greve geral e da estadia da Merkel – para a qual os “Que se lixe a Troika” se
apressaram a convocar uma marcha até Belém para interromper o sono de Cavaco – é possível
que haja problemas. A defesa do capitalismo não está somente nos banqueiros e no governo!
A desvirtuação do movimento horizontal e democrático nascido em meados de 2011, corre o risco
de confundir democracia e radicalidade anti-sistémica com grupos ou ONG partidarizados e
fechados, interessados em seguidores e não em atrair pessoas livres e pensantes para a vida
política.
Este e outros textos em: http://grazia-tanta.blogspot.com/
http://pt.scribd.com/people/documents/2821310?page=1
http://www.slideshare.net/durgarrai/documents
GRAZIA.TANTA@GMAIL.COM 3-11-2012 17